MARCADORES FENOTÍPICOS PRESENTES EM CÉLULAS

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Pereira et al., 2016
Submitted: 01-05-16
Corrected version: 05-06-16
Accepted in: 10-06-16
Marcadores Fenotípicos Presentes em Células
Mononucleraes do Sangue Periférico de um Indivíduo
considerado Contato Intradomiciliar: Estudo de Caso
Lorena Bruna Pereira de Oliveira1, Pedro Henrique Ferreira Marçal1*,
Lúcia Alves de Oliveira Fraga2
1 - Universidade Vale do Rio Doce – Univale; Universidade Federal de Juiz de Fora.
2 - Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF. *Autor Correspondente: [email protected]
Resumo: A hanseníase é uma doença infecto contagiosa, causada pelo Mycobacterium leprae. A
imunofenotipagem é utilizada para auxiliar no diagnóstico e compreensão dos mecanismos imunológicos de
inúmeras doenças, inclusive da hanseníase. Atualmente, representa uma das maiores aplicações da citometria
de fluxo. Este trabalho teve como objetivo identificar marcadores fenotípicos na superfície de linfócitos de
sangue total de um indivíduo contato intradomiciliar, bem como pacientes de hanseníase. No estudo foram
observados os seguintes percentuais de população de linfócitos do sangue periférico do indivíduo contato
intradomiciliar: CD3+CD4+ (30,25%), CD3+CD8+ (27,86%), CD14+ (12,21%), CD19+ (16,7%) e CD56+
(2,05%). Foram também avaliados os percentuais de populações de linfócitos do sangue periférico de
pacientes com as formas clínicas paucibacilar e multibacilar, bem como de indivíduos sadios considerados
controles negativos. Não foram realizadas análises estatísticas das variáveis utilizadas neste trabalho, uma
vez que o número de participantes foi reduzido por se tratar de um estudo de caso. A avaliação de parâmetros
imunológicos neste estudo auxiliará na compreensão dos mecanismos imunes associados à maior ou menor
susceptibilidade à infecção pelo M. leprae em projetos futuros.
Palavras-Chave: imunofenotipagem, hanseníase e contato intradomiciliar.
Abstract (Phenotypic of cells from a household contact: a case study) Leprosy is a contagious
infectious disease caused by Mycobacterium leprae. Immunophenotyping is currently one of the major
applications of flow cytometry, and it isused to aid the diagnosis and understanding of the immunological
mechanisms of many diseases, among them leprosy. This work aimed to identify phenotypic markers on the
surface of lymphocytes from whole blood of an household contact individual and leprosy patients. In the
study noted the following percentages of the population of peripheral blood lymphocytes of the household
contact individual: CD3 + CD4 + (30,25%), CD3 + CD8 + (27,86%), CD14 + (12,21%), CD19 + (16, 7%)
and CD56+ (2,05%). We also evaluated the percentages of lymphocyte populations from peripheral blood
of patients with paucibacillary and multibacillary clinical forms, as well as healthy individuals as negative
control. No statistical analysis was conducted of the variables used in this work, since the number of
participants was reduced because it is a case study. Evaluation of immunological parameters in this study
will assist in understanding the immune mechanisms associated with higher or lower susceptibility to
infection with M. leprae in future projects.
Keywords: immunophenotyping, leprosy and household contact.
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Journal of Applied Pharmaceutical Sciences – JAPHAC, 2016; 3(2): 5-14.
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Pereira et al., 2016
Introdução
A hanseníase é uma doença infecciosa
crônica que afeta principalmente a pele e nervos
periféricos 11. A rota de transmissão da hanseníase
ainda não está definitivamente comprovada, mas
acredita-se que seja através das vias respiratórias,
embora não seja descartada a possibilidade de
infecção via soluções de continuidade na pele. Os
tecidos
primeiramente
infectados
pelo
Mycobacterium leprae são sítios superficiais da
pele e nervo devido à sua preferência por baixas
temperaturas. Porém, órgãos internos podem ser
afetados quando a enfermidade não é controlada 6.
Os indivíduos infectados podem progredir
para a cura espontânea ou evoluírem para um
amplo espectro patológico que é determinado
pelos múltiplos elementos da resposta imune
celular e humoral 6. As características
imunológicas das formas espectrais da hanseníase
incluem: tuberculóide (T), indeterminada (I),
dimorfa (D) e virchowiana (V). A manifestação
inicial da doença é denominada como uma forma
clínica indeterminada (I), onde a resposta do
hospedeiro é insuficientemente diferenciada para
permitir a classificação. Os indivíduos com a
forma tuberculóide/paucibacilar (PB) apresentam
baixos títulos de anticorpos para o Mycobacterium
leprae e forte resposta imune celular específica
(RIC) do tipo Th1 caracterizada por produção de
interferon gama (IFN-γ). Esta forma caracteriza-se
por ser localizada, poucos bacilos e lesões
limitadas com até cinco lesões no corpo.
Indivíduos com a forma virchowiana/multibacilar
(MB) se encontram no pólo de extrema
suscetibilidade ao M. leprae, no qual a
proliferação disseminada do bacilo resulta em
lesões de pele, difusamente distribuídas,
associadas a uma potente resposta imune humoral
com produção de níveis elevados de anticorpos
anti-M. Leprae. A manifestação clínica dimorfa,
como o próprio nome sugere apresenta resposta
imune indeterminada com relação à imunidade
celular e humoral. De um lado, a resposta celular
apresenta um papel protetor enquanto a resposta
humoral parece permitir a proliferação bacteriana,
sendo um fator de susceptibilidade bem
esclarecido 10. Entretanto, são poucos os estudos
que investigam o perfil fenotípico de populações e
subpopulações celulares, pela técnica de
imunofenotipagem, na hanseníase 14.
Com relação à transmissão dessa doença,
a investigação adequada dos indivíduos
considerados contatos contribui para a interrupção
dessa cadeia, pois trata precocemente os casos
diagnosticados, evitando a disseminação do bacilo
e a instalação de incapacidades, pois estas podem
limitar a produtividade do indivíduo e gerar a
marginalização social 10. Dessa forma, a alta
incidência da doença, observada entre os
indivíduos
considerados
contatos
intradomiciliares, indica que a vigilância dos
contatos é uma medida importante em um
contexto de alta endemicidade 13.
A literatura também aponta que a
presença da hanseníase em menores de quinze
anos é utilizada habitualmente como um indicador
do nível de transmissão ativa da doença 7. Diante
desse quadro, medidas de prevenção e controle,
além do tratamento eficaz dos casos, são
absolutamente necessárias 13. Para fins
operacionais, deve-se considerar como contato
intradomiciliar toda e qualquer pessoa que resida
ou tenha residido nos últimos cinco anos com o
paciente 14.
A técnica de imunofenotipagem, através
da citometria de fluxo foi escolhida para a
realização deste estudo, devido o interesse em
avaliar as células mononucleares circulantes do
sangue periférico do indivíduo considerado
contato intradomiciliar juntamente com os
pacientes. A imunofenotipagem é atualmente uma
das maiores aplicações da citometria de fluxo e
consiste na identificação de populações de células
distintas através dos diferentes antígenos e/ou
moléculas de superfície, marcadas com anticorpos
conjugados com fluorocromos específicos. Esta
técnica possibilita a análise das células
mononucleares do sangue periférico em pacientes
com hanseníase e nos indivíduos considerados
contatos intradomiciliares 20.
Existem valores de referência para cada
marcador molecular de interesse. Esses valores
são estabelecidos com base na percentagem
apresentada por indivíduos saudáveis. A técnica
da imunofenotipagem permite quantificar redução
ou aumento no número desses marcadores,
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Pereira et al., 2016
indicando assim uma situação de anormalidade
17,16
.
Na pesquisa imunológica de doenças
causadas por bactérias de crescimento lento, como
a hanseníase, o uso de métodos que envolvem
citometria de fluxo aumenta de forma
extraordinária a velocidade da obtenção de
resultados sem perda de sensibilidade 17.
O citômetro de fluxo possui um
computador acoplado, o qual recebe os sinais
(dispersões frontal, lateral e intensidade de
fluorescência emitida pelo fluorocormo) que
posteriormente serão convertidos em dados
digitais para serem representados através de
gráficos monoparamétricos que analisa somente
um parâmetro (histogramas) e biparamétricos que
analisa mais de um parâmetro 19. As células da
amostra em suspensão são marcadas com
anticorpos monoclonais fluorescentes específicos
para detecção de moléculas de superfície e são
introduzidas numa câmara de fluxo vibratória. O
fluxo de células atravessa a câmara na presença de
uma solução tampão (Sheath fluid), sendo que 500
a 4.000 células ou quaisquer outras partículas
passam em fila simples por segundo. O fluxo é
iluminado por laser de argônio (azul), que tem
uma energia de luz incidente de 488nm. Cada
célula é avaliada com relação ao tamanho
(dispersor de luz anterior), granulosidade
(dispersor de 90°) e intensidade de fluorescência
(anticorpos marcados com fluorocromo) 20.
De acordo com Orfão e Buitrago (1995),
a interação das células ou das partículas com o
feixe luminoso origina sinais que vão ser
alcançados por detectores adequados. A
informação obtida por meio do sensor eletrônico
pode agrupar-se em dois tipos fundamentais: a
que é originada pela dispersão da luz e a que está
relacionada com a emissão de luz por
fluorocromos presentes na célula ou na partícula,
ao serem excitados pela fonte luminosa. A
dispersão da luz é um processo físico em que uma
célula interage com a luz incidente e muda a
direção da mesma. As características celulares que
contribuem para a dispersão da luz são o tamanho
celular, a membrana celular, o núcleo e o material
granular do interior da célula.
A luz não se dispersa de igual forma em
todas as direções. A luz que dispersa para frente,
forward scatter (FSC), é uma medida do tamanho
relativo da célula, enquanto a luz que é dispersa
em ângulo reto, side scatter (SSC), depende da
complexidade interna da célula. Essas duas
dispersões permitem a classificação dos leucócitos
em linfócitos, monócitos e granulócitos 15. A
fluorescência é indicada como a emissão de
energia luminosa pelos compostos fluorescentes
que se encontram ligados aos anticorpos
monoclonais. Estes compostos absorvem energia,
fazendo com que os elétrons passem a um nível
energético superior. No momento em que esse
elétron regressa ao seu estado de repouso, emite
um fóton e libera energia. Os sinais vão depois ser
convertidos em dados digitais, sob o controle de
um programa de computador. Toda esta
tecnologia aumenta a sensibilidade e a
especificidade da identificação de moléculas de
superfície celular que atuam como marcadores
fenotípicos que podem ser associados às funções
celulares 17.
A imunofenotipagem é utilizada para
auxiliar no diagnóstico e compreensão dos
mecanismos imunológicos de inúmeras doenças,
dentre elas a hanseníase 17,16, doença infecto
contagiosa, causada pelo Mycobacterium leprae 3.
A imunofenotipagem foi utilizada neste
estudo para avaliar marcadores de superfície de
leucócitos de um indivíduo considerado contato
intradomiciliar, no sentido de verificar o grau de
risco de infecção em grupos familiares
apresentando casos de hanseníase.
Metodologia
Indivíduos Estudados
Nesse estudo foram avaliados nove
indivíduos, dois controles negativos, um contato
intradomiciliar, seis indivíduos casos de
hanseníase sendo um com recidiva. Os cinco
indivíduos casos de hanseníase são acompanhados
clinicamente pelo corpo técnico do Centro de
Referência em Doenças Endêmicas e Programas
Especiais (CREDEN-PES). O diagnóstico e a
classificação dos indivíduos com hanseníase
foram baseados em critérios clínicos, sendo
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utilizada a classificação operacional da
Organização Mundial de Saúde. Este estudo foi
aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da
Universidade Vale do Rio Doce e todos os
participantes assinaram termo de consentimento
livre e esclarecido.
Neste trabalho o contato intradomiciliar
foi a participante L.P, uma criança de sete anos,
neta da também participante J.M.F.C de 56 anos,
que é um caso paucibacilar com a forma clínica
tuberculóide. A paciente J.M.F.C compareceu a
uma unidade de saúde de forma espontânea,
queixando-se: “ de uma mancha no braço direito
próximo ao cotovelo, relatou também que o local
não coçava e não curava há aproximadamente seis
meses”.
A mesma desconhecia a doença
hanseníase ou alguém próximo a ela que teve a
enfermidade. Ela e a neta residem no mesmo
local. A paciente em questão foi diagnosticada no
dia 15/02/2011 e foi feito também no mesmo dia o
esquema terapêutico de poliquimioterapia
paucibacilar de seis meses. Os familiares da
paciente também foram submetidos à exame
dermato-neurológico por clínicos experientes,
para confirmar se haviam sintomas de hanseníase.
Imunofenotipagem
Os ensaios de imunofenotipagem de
células do sangue periférico foram realizados
adicionando-se 2μl do anticorpo monoclonal
marcado com o fluorocromo específico para o
receptor celular de interesse (CD3 FITC, CD4 PE,
CD8 PE, CD14 PERcP, CD19 FITC, CD56 PE)
em 100μl de sangue periférico total, incubado por
30 minutos. Em seguida, as amostras foram
submetidas à etapa de lise dos eritrócitos
utilizando 2ml de solução de lise comercial (Facs
Lysing Solution – Becton Dickinson) e
submetidas à centrifugação (400g, 10 minutos a
18°C), para descarte do sobrenadante. As
amostras foram lavadas 2 vezes com 2 ml de
tampão salina fosfato (PBS) 0,015M pH 7,4 e
posteriormente, fixadas com 300μl de solução
fixadora (10g/l de paraformaldeído, 1% de
cacodilato de sódio, 6,67 g/l de cloreto de sódio,
pH 7,2). Após um período de 15 minutos a 4°C, a
análise dos parâmetros fenotípicos das células
presentes e marcadas em cada tubo foi
determinada com o auxílio de um citômetro de
fluxo (Beckman Cuter XL-MCL) 2.
Obtenção de Dados no Citometro de Fluxo
As amostras foram analisadas em
citômetro de fluxo Beckman Coulter EPICS XLMCL. A aquisição dos dados e o estudo dos
resultados foram realizados utilizando-se o
software do equipamento denominado EXPO 32.
Foram adquiridos 30.000 eventos para o estudo
após a marcação in vitro. A identificação das
populações celulares de interesse foi feita através
de um sistema de computador acoplado ao
citômetro. As figuras 1 e 2 mostram de forma
esquemática a seqüência de procedimentos
necessários para o estudo dos dados dos fenótipos
celulares in vitro.
O primeiro passo consiste na identificação
da população de leucócitos em estudo, realçando
os linfócitos. A figura 1A apresenta um gráfico do
tipo pontual (dot plot) onde pode-se avaliar o
tamanho celular (FSC) versus a granulosidade
(SSC).
Após a seleção da região de interesse, a
mesma é analisada utilizando-se a intensidade de
fluorescência apresentada pelas células presentes
na região selecionada, utilizando-se gráficos de
fluorescência 1 (FL1- fluorescência verde obtida
pela marcação com isotiocianato de fluoresceína –
FITC) versus fluorescência 2 (fluorescência
laranja obtida pela marcação com ficoeritrina –
PE). A Figura 1B representa um perfil celular
obtido em um gráfico de fluorescência 1 (CD3FITC) versus fluorescência 2 (CD4-PE).
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Fig. 1: Análise de leucócitos do sangue periférico por citometria de fluxo.
Após a seleção da população de
linfócitos, o segundo passo consiste na
identificação da população de monócitos.
A figura 2, mostra a análise de
monócitos, que foi realizada com relação à
granulosidade (SSC) versus a fluorescência 2
(CD14 PERCP).
Fig. 2: Análise de monócitos do sangue periférico por citometria de fluxo.
Resultados
Os dados referentes à identificação dos
casos novos e do contato intradomiciliar que
fizeram parte desse estudo foram fornecidos
pelo SINAN (Sistema Nacional de Agravos de
Notificação) e prontuários clínicos cedidos
pelo CREDEN-PES. A tabela 1 indica a
classificação operacional e o tempo de
tratamento dos indivíduos participantes deste
estudo.
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Tabela 1 - Classificação Operacional da Hanseníase descrita no prontuário do CREDEN-PES
IB*= índice baciloscópico
Pode-se observar que todos os
pacientes selecionados para o estudo foram
recentemente tratados (1 a 3 meses). Além
disso, é importante notar que o índice
baciloscópico variou entre os participantes (0 a
2,5), sendo coerente com a literatura que relata
índice baciloscópico zero para os pacientes da
forma tuberculóide/paucibacilar.
O índice baciloscópico (IB) é a
estimativa do número de bacilos no esfregaço
que segue a escala logarítmica de Ridley 9.
Os gráficos a seguir mostram as
percentagens de células positivas para
populações de linfócitos no sangue periférico
dos indivíduos participantes deste estudo. De
acordo com os dados do gráfico 1, foi
observado uma diminuição no percentual de
linfócitos positivos (CD3+CD4+), do sangue
periférico do indivíduo considerado contato
intradomiciliar (PB) em relação aos casos que
apresentaram a forma clínica paucibaciliar, ao
caso com a forma recidiva, bem como um dos
indivíduos sadios (controle negativo 1). Podese observar que o percentual de linfócitos
CD3+CD4+
do
indivíduo
contato
intradomiciliar (30,25%) foi próximo a do
indivíduo multibacilar 1 (26,59%). Entretanto,
nota-se que o paciente multibacilar 1
apresentou o mesmo valor do indivíduo sadio
(controle negativo 2).
O gráfico 2, mostra que o indivíduo
contato intradomiciliar (PB1) apresentou uma
percentagem de linfócitos T CD3+CD8+
(27,86%) semelhante ao indivíduo controle
negativo 1 (28,99%). Foi possível notar que
todas as outras avaliações foram inferiores aos
casos relatados. O gráfico 3, apresenta uma
razão entre as percentagens de células positivas
para CD3+CD4+: CD3+CD8+ de acordo com
os resultados obtidos dos gráficos 1 e 2. Nesse
tipo de análise pode-se notar que as células do
contato (PB1) está bem semelhante com as dos
controles negativos 1 e 2. O percentual de
monócito CD14+ do indivíduo contato
intradomiciliar (PB1) representado no gráfico
4, foi de 12,21%, ficando próximos dos valores
apresentados pelo controle negativo (1)
13,76%. As demais percentagens foram
inferiores a 10%.
Com relação à percentagem de
linfócitos B (CD19+), apresentada no gráfico
5, observa-se um aumento dessas células no
sangue periférico do indivíduo contato
intradomiciliar (PB).
No gráfico 6, nota-se que o paciente
multibacilar 2 apresentou uma maior
percentagem de linfócitos CD56+ (22,38%),
enquanto que o indivíduo paucibacilar 1
apresentou um valor intermediário (15,83%).
Entretanto, o indivíduo contato intradomiciliar
(PB), bem como os pacientes paucibacilar 2,
paucibacilar 3 e o indivíduo controle negativo
1 apresentaram menor percentagem de células
CD56+.
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Gráficos: 1: Percentagem de células positivas para populações de linfócitos TCD3+CD4+; 2: Percentagem de células positivas para populações de linfócitos TCD3+CD8+; 3:
Razão entre as percentagem de células positivas para populações de linfócitos T CD3+CD4+:CD3+CD8+. Verde escuro: Paubacilar 1; Verde claro: Paubacilar 2; Azul escuro:
Multibacilar 1; Azul Claro: Multibacilar 2; Laranja: Recidiva; Vermelho: Contato (PB1); Roxo escuro: Controle negativo 1; Roxo claro: Controle negativo 2.
Gráficos: 4: Percentagem de células positivas para populações de Monócito CD14+; 5: Percentagem de células positivas para populações de linfócitos B CD19+;
6: Percentagem de células positivas para subpopulações de Linfócitos T CD56+; Verde escuro: Paubacilar 1; Verde claro: Paubacilar 2; Azul escuro: Multibacilar 1; Azul
Claro: Multibacilar 2; Laranja: Recidiva; Vermelho: Contato (PB1); Roxo escuro: Controle negativo 1; Roxo claro: Controle negativo 2.
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Discussão
Pode-se dizer que o indivíduo contato
intradomiciliar
(PB1)
apresentou
uma
distribuição de linfócitos, ora dentro de um
perfil de paciente multibacilar, ora dentro de
um perfil de indivíduo saudável. Considerando
que o individuo contato intradomiciliar (PB1)
não apresentava nenhuma sintomatologia da
doença, é possível encontrar valores de
marcadores imunológicos de superfície celular
próximas aos valores dos indivíduos sadios.
Através dos resultados pode-se
verificar uma diferença na taxa de
CD3+CD4+:CD3+CD8+ entre os indivíduos
participantes do estudo. O paciente
paucibacilar 1 apresentou uma taxa CD4:CD8
de 2,71%, o paciente paucibacilar 2 apresentou
4,82%,
interessantemente
o
paciente
multibacilar 1 apresentou 3,22%, o paciente
recidiva apresentou 3,52%, diferentemente o
contato intradomicilar (PB1) apresentou uma
razão de 1,09%, e os controles negativos 1 e 2
apresentaram 1,48% e 2,08% respectivamente.
Categorizando uma taxa de CD4:CD8 maior
que 2,5% para os indivíduos infectados e uma
taxa de CD4:CD8 menor que 2,5% para os
indivíduos não infectados. Essa taxa de
CD4:CD8 maior que 2,5% indica uma infecção
por microorganismos de via intracelular
obrigatório.
Por outro lado, pode-se observar um
aumento na percentagem de células de
linfócitos B (CD19+) no individuo considerado
contato intradomiciliar em relação a todos os
outros participantes do estudo. Foi interessante
notar que as percentagens de linfócitos CD56+
foram baixas, ao contrário do que ocorreu com
o linfócitos B. Além disso,os indivíduos
paucibacilar 2, paucibacilar 3 e o indivíduo
sadio apresentavam baixas percentagens de
linfócitos CD56+. Nesse caso, somente o
indivíduo multibacilar 2 apresentou um
aumento de CD56+ (22,38%) e valores
intermediários foram observados entre os
indivíduos da forma paucibacilar 1 e da forma
multibacilar 1. Considerando, que o presente
estudo, foi planejado para caracterizar um caso
de indivíduo contato intradomiciliar em
relação aos pacientes das formas paucibacilar,
multibacilar e indivíduos sadios, não se pode
realizar uma análise estatística dos dados.
Entretanto, sabe-se da importância em
caracterizar esse grupo de indivíduos contatos
intradomiciliar para garantir um melhor
controle da hanseníase.
Sabe-se que a maioria dos estudos
imunológicos em hanseníase são realizados
utilizando-se tecidos de pele ou de nervos e se
baseiam em análises imuno-istoquímicas para
a determinação do infiltrado celular e da
expressão de moléculas envolvidas no
processo de eliminação do agente infeccioso.
14
. Anticorpos monoclonais dirigidos contra
subpopulações de células T tem também
permitido a investigação do fenótipo de células
T in situ. Esses estudos indicam diferenças na
taxa CD4:CD8 nos pólos do espectro da
hanseníase. Os dados mostram que as lesões
tuberculóides exibem muito mais células
CD4+, com a relação CD4+/CD8+ de 1,9:1;
Em contraste, as lesões virchowianas exibem a
relação CD4+/CD8+ de 0,6:1. As taxas
CD4+/CD8+ nas lesões são independentes
daquelas encontradas no sangue dos pacientes,
sugerindo alguma migração seletiva para
dentro das lesões, proliferando nas mesmas 5.
Desta forma, foi necessário que as
células circulantes fossem avaliadas para
tornar
possível
a
comparação
da
imunofenotipagem entre células de contato
intradomiciliar e dos demais pacientes.
Tem sido relatado na literatura que a
hanseníase é uma enfermidade considerada de
adultos pelo longo período de incubação, mas
existem numerosos relatos de casos desta
doença em faixas etárias menores de quinze
anos. Esse fato ocorre devido à existência de
um aumento na cadeia de transmissão do
bacilo na comunidade, além de uma
deficiência na vigilância e no controle desta
doença 12. As crianças correm maior risco
quando existe a presença da hanseníase na
família ou quando um caso está próximo a elas
18,1
.
“Um controle rigoroso, envolvendo a
vigilância epidemiológica, deve ser mantido
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em crianças sob risco de contrair a hanseníase,
no sentido de detectar a doença mais
precocemente e evitar as conseqüências do
diagnóstico tardio e dos estigmas sociais” 4.
Existem alguns fatores que favorecem
a transmissão da hanseníase, como:
diagnóstico tardio dos casos novos, baixa
cobertura assistencial, abandono do tratamento
pelos pacientes, baixa taxa de controle dos
contatos, baixo nível de esclarecimento da
população sobre a doença, estigma e
preconceito que envolve a doença 8.
Dessa forma, acredita-se que o controle
dos indivíduos contatos de casos de hanseníase
deve constituir-se em uma das ações para
eliminar a doença.
Conclusão
Diante do exposto, e com relação a
outros estudos, conclui-se que a participação
da resposta imune está diretamente envolvida
no curso da infecção pelo Mycobacterium
leprae. São necessários novos estudos que
permitam um acompanhamento continuo desse
indivíduo considerado contato intradomicilar,
para verificar o desenvolvimento ou não da
enfermidade. Cabe destacar que a razão de
CD4:CD8 entre os indivíduos infectados foi
maior que 2,5% sendo coerente com os exames
clínicos realizados e demonstrando que os
mesmos estavam infectados por um
microrganismos intracelular obrigatório. Os
contatos intradomiciliares de pacientes com
hanseníase apresentam um risco maior de
adoecer e, o exame desse grupo representa a
melhor maneira de detectar precocemente a
doença. O diagnóstico da hanseníase é baseado
nas manifestações clínicas, no entanto, a
escassez de sinais iniciais ou sintomas, leva ao
atraso no diagnóstico correto e tratamento
apropriado. Cabe ressaltar que o diagnóstico
precoce leva ao tratamento nos estágios iniciais
da doença, o que reduz a transmissão e diminui
o número de pacientes com incapacidades.
Agradecimentos
Nossos agradecimentos à Dra Euzenir
Sarno,
Coordenadora
do
projeto
DECIT/2008/CNPq, pelo apoio financeiro, ao
corpo técnico do CREDEN-PES e aos
pacientes que foram essenciais para a
realização deste estudo.
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