DETERMINAÇÃO TERMOGRAVIMÉTRICA DE UMIDADE EM DIFERENTES APRESENTAÇÕES DEALCACHOFRA (Cynarascolymus) Emanuelle Ogg (IC Voluntária), Giseli Ducat (PQ), Maria Lurdes Felsner (Orientador) e-mail: [email protected] Universidade Estadual do Centro-Oeste/Departamento de Química/Guarapuava, PR. QUÍMICA. QUÍMICA ANALÍTICA Palavras-chave: CynarascolymusL., qualidade,termogravimetria. alcachofra, umidade, controle de Resumo: A análise termogravimétrica das diferentes apresentações de alcachofra (Cynarascolymus) apresentou um comportamento térmico complexo que se inicia com a eliminação de umidade, é seguida pela decomposição de compostos ativos, celulose e hemicelulose, decomposição da matéria orgânica e resulta nas cinzas acima de 500°C. Curvas de secagem termogravimétrica permitiram distinguir entre o término de eliminação de umidade e o início de reações de degradação. A comparação dos teores de umidade obtidos pela secagem em estufa e termogravimetria sugeriu que a aplicação do método convencional resulta em erros sistemáticos nesta análise. Portanto, a termogravimetriapoderia ser indicada como um método alternativo para a análise deste parâmetro físico-químico em produtos a base de alcachofra. Introdução A CynarascolymusL., cultivada no Brasil é conhecida popularmente como alcachofra, pertencente à família Asteraceae. Esta é oriunda do Mediterrâneo, sendo que seu cultivo se dá por sementes e está difundido mundialmente, já que é utilizada para fins medicinais e alimentícios (COSTA et al., 2009). Os principais componentes químicos presentes nas folhas da alcachofra são os ácidos fenólicos, flavonóides e sesquiterpenos. A cinarina, (ácido monocafeioilquínico) é dada como o princípio ativo da planta (BLUMENTHAL et al., 2000). Sua principal forma de comercialização é na forma desidratada, o que garante uma conservação do produto por um longo período de tempo.A qualidade de fitoterápicos tem sido avaliada por vários parâmetros físico-químicos, entre os quais se destaca a determinação de umidade por perda por dessecação. O teor de água residual presente nas drogasvegetais constitui um índice da qualidade de sua preparação e da garantia de sua conservação. A importância desta análise está ligadaà estabilidade microbiológica da matéria-prima vegetal,como expressão da sua suscetibilidade ao desenvolvimento de fungos e bactérias e à estabilidade química,representada, especialmente, pelos processos de hidrólise (COSTA et al., 2009). No entanto, quando métodos de secagem por dessecação são empregados não é possível diferenciar o teor de material volátil do teor residual de água presente nos fitoterápicos. Em vista disso, este trabalho propõe a determinação de umidade por termogravimetria a qual permite distinguir a eliminação das diferentes frações de água contida nas drogas vegetais. Materiais e métodos Amostragem As amostras de alcachofra (Cynarascolymus) em cápsulas (ACP001 e ACP002), de chás em embalagens plásticas (APC001, APC002e APC003), de chá em embalagem plástica a vácuo (APC004), de chá em sachês com proteção de papel (ACH001 e ACH002) e de comprimidos(ACM001)foram adquiridas no comércio local ou em Cooperativas localizadas nos Estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. As amostras foramarmazenadas em ambiente seco e arejado até a realização das análises. Determinação de Umidade por Secagem em Estufa A determinação de umidade por secagem em estufa foi realizada com massas de 3,0gem estufa mantida a 105 °C por 3 horas. A secagem foi continuada até se alcançar peso constante (diferença < 0,5 mg entre pesagens sucessivas). As análises foram realizadas em triplicata. Termogravimetria/Análise Térmica Diferencial As curvas TG foram obtidas em um equipamento TG/DTA, da marca Seiko Exstar modelo serie 6000, em atmosfera dinâmica de ar, vazão de 100 mLmin1 , em cadinhos de alumina de 50µL e razão de aquecimento de 10 °Cmin-1 entre a temperatura ambiente e 700 °C. Análise Estatística Para verificar se haviam diferenças nos teores de umidade determinados pelos métodos analíticos investigados foi aplicado umteste-tpara as diferenças médias dos teores de umidade obtidas de forma pareada, e calculados intervalos de confiança no nível de 95,0% de confiança. Toda a análise estatística dos dados foi realizada usando o pacote estatístico Minitab versão 16.2.2. Resultados e Discussão As curvas TG do perfil de degradação térmica para cada uma das diferentes apresentações da alcachofra mostraram comportamento similar ao apresentado na Figura 1-a.A decomposição térmica foi caracterizada pela eliminação de água e voláteis (umidade) entre a temperatura ambiente até 140 °C, degradação de componentes ativos, de celulose e de hemicelulose entre 140 e320 °C, oxidação da matéria orgânica a CO2 entre 320 a 500°C e obtenção de cinzas a partir de 500 °C. Para melhor compreender o processo de secagem termogravimétrico foram construídas curvas de secagem entre a temperatura ambiente e 250 °C como ilustrado na Figura 1-b. 18 100 16 14 80 12 Teor de agua (%) TG (% ) 60 40 10 8 6 4 20 2 0 0 0 100 200 300 400 500 Temperatura (°C) (a) 600 700 800 0 50 100 150 200 250 300 Temperatura (°C) (b) Figura 1. Curvas (a) TG da amostra de alcachofra em cápsula (ACP002) em atmosfera dinâmica de ar entre a temperatura ambiente e 700 °C e (b) de secagem termogravimétrica entre a temperatura ambiente e 250 °C. Na Tabela 1 são apresentadas as médias para os teores de umidade determinados por termogravimetria e por secagem em estufa para as diferentes apresentações da alcachofra investigadas. Tabela 1. Valores médios de umidade de diferentes apresentações de alcachofra determinados por secagem em estufa e por termogravimetria Amostra APC001 APC002 APC003 APC004 ACH001 ACH002 ACP001 ACP002 ACM001 Teor de Umidade (%) Termogravimetria Secagem em Estufa* 9,0 11,7 11,8 13,4 10,7 11,0 12,0 12,6 10,7 11,0 10,9 12,8 10,9 11,8 8,6 - *Para as amostras de alcachofra em cápsulas e em comprimidos não foram realizados ensaios de secagem em estufa devido à pequena quantidade de material Os resultados demonstraram que para a maioria dasamostras de alcachofra o método de secagem em estufa produz resultados superiores aos determinados pela termogravimetria. Como esta metodologia faz uso de temperatura e tempo constantes (105 °C por 3 horas) podem ter ocorrido reações de decomposição com produção de material volátil. Para verificar se as diferenças entre as metodologias são significativas foi aplicado um teste-t pareado no nível de 95,0% de confiança aos dados da Tabela 1.A análise do teste-t (tobservado = -3,05; p =0,028) sugeriu que o método de secagem em estufa produz teores de umidade sistematicamente mais altos do que os determinados pela termogravimetria. É reconhecido na literatura que embora os métodos de secagem em estufa sejam de baixo custo, podem levar a degradação da amostra com eliminação de outros voláteis além da água produzindo erros sistemáticos neste tipo de análise. Nas curvas de secagem termogravimétrica é possível distinguir o início das reações de degradação da planta, melhorando a precisão na determinação de umidade. Outra vantagem da termogravimetria em relação à estufa é a possibilidade de determinar o teor de umidade fazendo uso de pequenas massas de amostra, o que seria mais adequado para análise de fitoterápicos em cápsulas e em comprimidos. Conclusões Os resultados sugerem que a secagem em estufa embora seja recomendada pelas legislações existentes como método oficial em produtos a base de plantas não é adequada para a análise de umidade em diferentes apresentações de alcachofra. Portanto, outros métodos como a termogravimetria devem ser desenvolvidos. Esta técnica apresenta outras vantagens em relação à secagem em estufa como a análise de umidade utilizando pequenas massas de amostra e a possibilidade de avaliar a estabilidade térmica da droga vegetal em estudo. Agradecimentos A Finep, CAPES e Fundação Araucária pelo apoio financeiro. Referências BLUMENTHAL, M.; GOLDBERG, A.; BRINCKMANN, J., eds.; Herbal Medicine, American Botanical Council: Austin, 2000. COSTA, R.S.; OZELA, E.F.; BARBOSA, W.L.R.; PEREIRA, N.L.; SILVA JUNIOR, J.O.C. Caracterização física, química e físico-químicado extrato seco por nebulização (spray-drying)de Cynarascolymus L. (Asteraceae). Revista Brasileira de Farmácia, v. 90, n.3; p. 169-174, 2009.