DIATOMÁCEAS EPILÍTICAS, INDICADORAS DA

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DIATOMÁCEAS EPILÍTICAS, INDICADORAS DA QUALIDADE DA ÁGUA NO RIO
VACACAÍ, PASSO DO VERDE, SANTA MARIA, RS
(2012)*
DURIGON, Mariana1; OLIVEIRA, Maria, Angélica1; CASSOL, Ana Paula1; SILVA,
Juliana, Ferreira, da. 1; RECK, Liange1, DOMINGUES, André, Luis1, WOLFF,
Delmira, Beatriz2 ; JUNIOR, Jose, Alfredo, Souza, de, Souza3 .
Financiamento: Capes
*
Trabalho de Pesquisa; CAPES
PPG Agrobiologia, Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Ciências Naturais e Exatas, Av.
Roraima , N°1000, Bairro Camobi, Santa Maria, RS, Brasil.
2
PPG Engenharia civil. Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental/Centro de Tecnologia
Universidade Federal de Santa Maria
3
Curso de Ciências Biológicas Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Ciências Naturais e
Exatas
E-mail: [email protected]
1
RESUMO
Trabalhos limnológicos em ecossistemas lóticos são de extrema importância diante da
magnitude de sua deterioração. A ecologia e a qualidade das águas dos rios estão fundamentalmente
relacionadas com as atividades humanas e os seus impactos. Este estudo tem por objetivo descrever
a composição taxonômica de algas da classe Bacillariophyceae (diatomáceas) no Rio Vacacaí (RS),
e por meio das variáveis abióticas, enquadra-lo nas classes de uso estabelecidas na resolução do
CONAMA/2005. Foram encontrados 75 taxa. As espécies mais abundantes foram Eulimna mínima
(Grunow) Lange – Bertalot sensu lato, Cyclostephanus invisitatus, Nitzschia palea (kützing) W. Smith,
Geissleria schimiditiae, Cyclotella meneghiniana Kützing, Aulacoseira granulata (Ehrenberg)
Simonsen var. angustissima. A maior parte dos dados físicos e químicos enquadra-se na classe 2 do
CONAMA 357/05. A presença de diatomáceas altamente tolerantes a poluição orgânica pode ser um
indicativo de um comprometimento inicial da estabilidade desse ecossistema aquático
Palavras-chave: sistemas lóticos; Bacillariophyta; variáveis abióticas.
1. INTRODUÇÃO
A poluição das águas doces superficiais é um dos grandes problemas ambientais do
mundo. A manutenção de sua qualidade por meio de ações concretas que desacelerem sua
degradação devem ser uma preocupação atual. Os rios são vulneráveis às alterações de
suas bacias hidrográficas, ou seja, são influenciados pela entrada e saída de materiais e
energia existentes em seu entorno. A poluição atinge todo o curso do rio, desde a nascente
até a foz, o que pode, além de transmitir diversos tipos de doenças para o ser humano,
resultar em grande desequilíbrio ecológico, alterando a flora e a fauna do ambiente.
Organismos aquáticos integram fatores bióticos e abióticos em seu habitat e
fornecem informações da qualidade ambiental, as quais servem de respostas para investigar
potenciais fontes de poluição (LOWE; PAN, 1996). Dentre os organismos sensíveis as
mudanças na qualidade da água, os que formam o perifíton são frequentemente utilizados
como bioindicadores (FERNANDES; ESTEVES, 2003).
O perifíton é constituído por algas microscópicas, micróbios heterotróficos, fungos,
detritos orgânicos e minerais aderidos a um substrato na zona fótica dos ambientes
aquáticos, que suporta tanto processos autotróficos quanto heterotróficos. A maior parte da
biomassa neste biofilme, no entanto, está associada ao componente algal (Kostell et al.,
1999). Neste, as diatomáceas são eficientes colonizadoras e apresentam estruturas
especializadas em fixação como estratégias de adesão (ROUND, 1990).
A sensibilidade das diatomáceas perifíticas à eutrofização é frequentemente utilizada
em estudos ecológicos (STOERMER; SMOL, 1999). O crescimento populacional e a
composição da comunidade respondem sensivelmente a alterações do meio ambiente e
diretamente a mudanças em seu ecossistema, e como apresentam hábito séssil, não podem
migrar em condições adversas (STEVENSON, 1997). As diatomáceas, principalmente as
epilíticas, são mundialmente utilizadas para determinação da qualidade das águas
continentais, uma vez que alterações no ambiente onde se encontram podem causar
modificações tanto numéricas quanto associativas no conjunto de espécies que ali se
desenvolvem através do processo de maturação da comunidade (LOBO et al., 2002).
Em um estudo comparando resultados físico-químicos e levantamentos biológicos de
sistemas aquáticos que recebiam efluentes do setor agrícola, foi evidenciado que as
medidas abióticas revelaram menos efeitos da poluição do que os indicadores biológicos
(Camargo, 1994). Isto porque os métodos biológicos utilizados para o monitoramento da
qualidade da água apresentam a vantagem de fornecerem informações de efeitos
ambientais prolongados, ou seja, são capazes de refletir estados não mais existentes no
momento da verificação, porém, oriundos a partir do processo de maturação da comunidade
(Lobo et al., 2002).
Na União Européia, a Diretiva do Conselho das Águas que estabeleceu um plano de
ação quanto à política dos recursos hídricos, reconheceu o potencial do biomonitoramento,
e o adotou como o método-chave a ser usado para monitorar a qualidade da água em toda
a Europa, nesse sentido foi estimulada a utilização de diatomáceas e macrófitas aquáticas
como organismos bioindicadores (WALLEY et al., 2001).
No Rio Grande do Sul são escassos os estudos que abordam indicadores biológicos
para caracterizar ambientes lóticos que recebem aporte de água de sistemas de efluentes
industriais, urbanos e agrícolas.
Segundo a FEPAM o Rio Vacacaí nasce em São Gabriel, passa por Santa Maria e
deságua no Rio Jacuí. A atividade industrial desta bacia é pouco expressiva, entretanto o
solo é ocupado por latifúndios, caracterizando-se pela pecuária extensiva e agricultura. O
principal conflito de uso da região é gerado pela coincidência do cultivo de arroz irrigado
com a época de menor disponibilidade de água.
Diante da importância da água para a vida e a necessidade de preservá-la e da
magnitude dos efeitos da sua deterioração, torna-se importante monitorar a qualidade de
água de rios incluídos também indicadores biológicos como as algas diatomáceas.
2. OBJETIVOS
Este estudo tem por objetivo descrever a composição taxonômica de algas da classe
Bacillariophyceae (diatomáceas) no Rio Vacacaí (RS), e utilizar as variáveis abióticas para
caracterizar o ambiente, fornecendo assim, subsídios para o biomonitoramento da qualidade
da água.
3. METODOLOGIA
O estudo foi realizado em um ponto de amostragem situado no trecho médio do Rio
Vacacaí, na altura do distrito de Passo do Verde, na ponte da rodovia BR 392, localizado
nas regiões fisiográficas da Depressão Central e da Campanha do Rio Grande do Sul.
Foram realizadas doze coletas de junho de 2011à junho de 2012, para determinação das
seguintes variáveis ambientais: concentrações de oxigênio dissolvido, temperatura da água,
pH, condutividade elétrica, turbidez, demanda bioquímica de oxigênio (DBO5) e sólidos
suspensos, de acordo com APHA (2005). Os valores foram comparados com as classes de
usos, de acordo com a Resolução CONAMA nº 357/05 do Conselho Nacional de Meio
Ambiente.
Com relação às análises biológicas, também foram realizadas coletas no mesmo
período, de algas epilíticas para a identificação e contagem dos organismos do grupo das
diatomáceas (Classe Bacillariophyceae). Para as análises qualitativas e quantitativas, as
amostras foram raspadas de pedras de 10 a 20 cm de diâmetro e fixadas com formalina. O
material foi oxidado com peróxido de hidrogênio (Kelly, et al. 1998) e montado em lâminas
permanentes utilizando Naphrax como meio de montagem. Para estimar a abundância
relativa das espécies, os organismos encontrados sobre a lâmina permanente foram
identificados até espécie e contados até o mínimo de 600 valvas.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Com relação às características físicas e químicas da água, os valores foram
comparados com as classes de uso da água doce fixados pela Resolução CONAMA 357/05
e enquadrados em uma das quatro classes (classe 1, 2 , 3 e 4), sendo que as classes de
menores valores apresentam uma melhor qualidade da água. Observa-se que os valores de
pH ficaram entre 6,7 e 7,7 dentro dos limites fixados pela para as classes 2 e 3 (pH entre 6
e 9). Os valores de condutividade, na maioria dos pontos e campanhas, foram inferiores a
100 μs/cm. O oxigênio dissolvido com exceção dos meses de janeiro e fevereiro de 2012
teve sempre valores acima de 5 mg/L previsto para a classe 2 da resolução do CONAMA.
Com relação ao conteúdo orgânico avaliado pela demanda bioquímica de oxigênio, apenas
durante o mês de janeiro apresentou o valor mais alto (3,82 mg/L O2) enquadrando-se na
classe 2. Todos os demais meses os valores da DBO ficaram dentro do previsto para a
classe 1 desta resolução.
Com relação às características estéticas da água, observa-se que os valores de
turbidez e sólidos suspensos mostraram tendências semelhantes, os pontos ficaram dentro
dos limites fixados pela classe 2 da Resolução CONAMA 357/05.
A análise biológica revelou a presença de 75 taxons. A figura 1 apresenta as
espécies mais abundantes.
Ocorrência das espécies abundantes
24% = Eulimna mínima
4%
10% = Cyclostephanus
invisitatus
10%
5%
6%
24%
6% = Geissleria
schimiditiae
5% = Cyclotella
meneghiniana
4% = Sellaphora
pupula
Figura 1: Gráfico da ocorrência das espécies durante o período de estudo.
As espécies mais abundantes foram Eulimna minima (Grunow) Lange – Bertalot
sensu lato, Cyclostephanus invisitatus, Nitzschia palea (kützing) W. Smith, Geissleria
schimiditiae, Cyclotella meneghiniana Kützing, Aulacoseira granulata (Ehrenberg) Simonsen
var. angustissima.
Conforme Patrick & Roberts (1979) a espécie Cyclotella meneghiniana Kützing é
comum em uma grande variedade de hábitats, exceto em locais com elevada competição
intraespecífica, além disso, apresenta uma alta tolerância à poluição orgânica e uma
tolerância média à eutrofização (Lobo et al., 2004). Schneck et al.(2007) relataram a
abundância de Nitzschia palea em um córrego eutrófico impactado pela agricultura na
Região Sul do Brasil. Eulimna minima, Cyclostephanus invisitatus, Geissleria schimiditiae já
foram referida como espécie tolerante à poluição orgânica e eutrofização (Van Dam et al.,
1994; Salomoni, 2004).
5. CONCLUSÃO
A maior parte dos dados físicos e químicos enquadra-se na classe 2 do CONAMA
357/05. Segundo esta resolução nesta classe as águas podem ser destinadas ao
abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional, a proteção das
comunidades aquáticas, a recreação e contato primário como natação, para as atividades
de irrigação, aquicultura e atividades de pesca. A presença de diatomáceas altamente
tolerantes a poluição orgânica pode ser um indicativo de um comprometimento inicial da
estabilidade desse ecossistema aquático. Os resultados são preliminares e posteriormente
serão mais bem detalhados para uma melhor avaliação das interferências ambientais sobre
a comunidade perifítica de diatomáceas.
6. REFERÊNCIAS
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