DISTRIBUIÇÃO DE DIATOÁCEAS EM SEDIMENTOS SUPERFICIAIS DE LAGOS DO NORDESTE VISANDO A ELABORAÇÃO DE MODELOS DE FUNÇÃO DE TRANSFÊNCIA PARA APLICAÇÃO EM ESTUDOS PALEOAMBIENTAIS. Rodrigo da Rocha Machado1; Ana Luiza Spadano Albuquerque1; Doriedson Ferreira Gomes1,3; Bruno Jean Turcq1,2; Abdelfettah Sifeddine2; Denise de Campos Bicudo4 1 Programa de Pós-Graduação em Geoquímica, UFF ([email protected]); 2 Institut de Recherche pour le Developpement-IRD/França ; 3Depto. de Botânica – UFBa ; 4 Instituto de Botânica - SP Abstract. Accurate reconstructions of regional climate changes are needed in order to understand the response of ecosystems to climatic changes and to assess global circulation models on a regional scale. Among the numerous proxies used to paleoenvironmental reconstruction, diatoms assemblage (Bacillariophyceae) has been very useful, especially because of its good preservation in the sediments, as well as, the lower ecological tolerance demonstrated for many species. Quantitative inferences of environmental changes based on diatoms assemblage has been used in different places, but its success depends on the elaboration of a transfer functions model. This work has as propose collect surface sediments in ca. of 50 different lakes in northeastern Brazil, with simultaneous measurements of physical and chemical parameters (depth, pH, conductivity, salinity, temperature, dissolved oxygen), as well as, water sampling to nutrient analyses. The diatoms presents in the surface sediments will be identified always that possible to the specific level. The generated matrix data will be treated using numerical models to elaborate a ponderate ecological optimum and tolerance for each identified species. The transfer function will be elaborated using the variation of relative abundances of diatoms species, which should be validated with confront between diatom-inferred data and empirical observation. Palavras-chave: Diatomáceas; Função de Transferência; Nordeste. 1. Introdução O uso de diatomáceas como bioindicadores de mudanças ambientais teve início no final do Séc. XVIII (Stoermer e Smol, 1999). Características como alto grau de sensibilidade específica as mudanças das condições ambientais, sua considerável abundância em diversos tipos de sistemas (águas doces lênticas, lóticas, estuários, águas marinhas e hipersalinas) e alto potencial de preservação das frústulas em sedimentos, confere as diatomáceas qualificações que as destacam como “proxy”. Por tais características, é possível apontar as diatomáceas como um dos mais utilizados “proxies” para reconstituir mudanças paleoambientais (Polyakova e Stein, 2004; Korhola et al, 2002; Sylvestre et al, 1999; Valiranta et al; 2003). No entanto, o uso integrado das assembléias de diatomáceas com ferramentas matemáticas, como por exemplo em funções de transferências, têm possibilitado não apenas o uso das diatomáceas para reconstituição das mudanças relativas dos ambientais, como também mensurar o grau de alteração e as taxas das alterações ambientais (Bigler e Roland, 2003; Sawai et al., 2004; Battarbee et al., 2005). Reid (2005), estudando 53 lagos na Nova Zelândia com o objetivo de verificar as relações entre as assembléias de diatomáceas, a qualidade da água e a produtividade primária, mostrou que as mais fortes correlações observadas foram entre as espécies de diatomáceas, os teores de clorofila a, de fósforo total, o fosfato dissolvido reativo, a concentração de íons e o pH. Porém o autor indicou uma necessidade de se realizar uma investigação mais cuidadosa, no sentido de entender melhor as relações ecológicas entre as diatomáceas com níveis de nutrientes, uma vez que diversos fatores tais como a luminosidade também podem ser relacionados com a produtividade e a assimilação destes nutrientes. O uso das diatomáceas como indicadoras de mudanças paleoambientais no Brasil é ainda limitado (Fürstenberger, 2002; Gomes, 2002; Nascimento, 2003; Sylvestre et al., 1999) e restrito as descrições das mudanças relativas do ambiente estudado. Neste sentido, este estudo pretende contribuir para melhorar o entendimento das relações ecológicas e do espectro de tolerâncias ambientais específicas das diatomáceas da região Nordeste do Brasil, como uma ferramenta de construir uma base de dados para formatação de modelos de função de transferência, que permita a quantificação das mudanças ambientais. sedimentos superficiais (camada nefelóide) em cerca de 2 pontos de cada sistema aquático (região limnética e litoral), além da coleta de fragmentos de macrófitas marginais para análise do perifíton, naqueles ambientes com extensas formações de bancos macrofíticos marginais. Complementarmente serão realizadas medidas in situ das condições físico-químicas em perfis verticais na coluna d ´água (profundidade máxima, temperatura, condutividade, oxigênio, pH, salinidade), além da coleta de água (fundo e superfície) para análise dos principais nutrientes (nitrogênio total dissolvido, nitrogênio total, fosfato, fósforo total e teores de sílica). As amostras de sedimentos serão coletadas através de mergulho em apnéia, ou quando a profundidade não permitir, os sedimentos serão coletados com auxilio de uma minidraga de Eckman. As condições físicoquímicas serão medidas com auxílio de uma sonda Hidrolab QUANTA que possibilita medidas simultâneas dos parâmetros estudados em perfis verticais. A coleta de água será realizada com auxílio de uma mini-garrafa de van Dorn. Ainda em campo, as amostras serão filtradas com membranas 0,22 µm e fixadas com formol. 3. Técnicas de Laboratório 2. Planejamento Amostral Este estudo pretende coletar amostras de sedimentos superficiais em pelo menos 50 sistemas aquáticos da região Nordeste, as quais devem cobrir um amplo espectro de condições ambientais. Desta forma, a primeira parte do planejamento será baseada na consulta de mapas e imagens de satélite da região que possibilitará a seleção dos ambientes a serem coletados, os quais serão georeferenciados e catalogados em termos de caracterítiscas morfométricas e de suas relação área da bacia/área do lago. Após a seleção dos ambientes, estes serão visitados em um mesmo período do ano (janeiro 2006) para coleta de Em laboratório, as amostras de sedimentos serão oxidadas com peróxido de hidrogênio a quente 80ºC para a retirada da matéria orgânica associada (Gasse, 1992). Após a oxidação, serão realizados testes com o uso de centrifugação ou decantação, de forma que o atingir tanto a integridade das frústulas, como também não produzir artefatos de seleção por tamanho em amostras heterogêneas. O material remanescente será montado em lâminas permanentes com Naprax, e as diatomáceas presentes serão identificadas ao microscópio ótico, em magnificação de até 1000x, com auxílio da bibliografia e apoio da Dra. Denise de Campos Bicudo (Instituto Botânico – SP). As lâminas estudadas e as espécies identificadas serão fotomicrografadas e farão parte do acervo de referência do Museu de Paleontologia e Micropaleontologia da UFF. As amostras de água (pré-filtradas em campo e fixadas com formol) serão analisadas nos laboratório de hidrogeoquímica do Departamento de Geoquímica da UFF, através dos métodos para análise de nitrogênio e fósforo total de acordo com Grasshoff (1983). 4. Análise e Aplicação dos Dados Após a coleta de dados, identificação das diatomáceas a nível específico (sempre que possível), a matriz de dados obtidos será trabalhado no sentido de traçar faixas de tolerânica ecológicas das espécies encontradas, em relação a todas as variáveis ambientais mensuradas (Figura 1). 100 90 80 70 Abundância % 60 50 40 % 30 20 10 0 0,01 1 10 25 100 Salinidade medida sp 1 sp 2 sp 3 sp 4 sp 5 Figura 1: Exemplo da análise dos limites de distribuição e tolerância das espécies identificadas para a variável salinidade. Após esta análise inicial serão utilizados métodos matemáticos para se determinar as médias e os desvios padrões ponderados para cada espécie identificada, segundo as equações sugerida por Ter Braak e van Dam (1989) e por Gianini (2003): n n i =1 i =1 ûk = ∑ YikXi / ∑ Yik Eq. (1) Onde: ûk = ótimo ecológico da espécie; Yik = a abundância da espécie k no lago i; Xi = o valor da variável ambiental no lago i ^ ^ n 1/ 2 2 n t k = ∑ yik xi − uk / ∑ yik Eq. (2) i =1 i =1 Onde: = tolerância da espécie; Yik = a abundância da espécie k no lago i; Xi = o valor da variável ambiental no lago i; ûk = ótimo ecológico da espécie Após esta primeira avaliação serão realizadas análises estatísticas multi-variadas (PCA, “Cluster”, Análise Canônica) que permitam identificar os parâmetros controladores das abundâncias das diferentes espécies de diatomáceas, bem como identificar graus de similaridade ou dissimilaridades entre as diferentes assembléias de cada ambiente. Por fim, pretende-se elaborar modelos (equações matemáticas) que relacionem as abundâncias das diferentes espécies estudadas e as variáveis ambientais encontradas como chaves (ou controladoras), os quais deverão ser validados através do confronto entre os resultados dos modelos (valores inferidos) e das variáveis mensuradas. A partir daí, este estudo pretende servir de base para as quantificações das mudanças paleoambientais dos lagos do nordeste, no escopo do subprojeto Paleohidrologia do Nordeste Brasileiro (PHNE), o qual é parte integrante do Projeto PALEOTROPICA da cooperação internacional entre o CNPq e o IRD-França. 5. Considerações Finais As diatomáceas são, portanto uma valiosa ferramenta em estudos geoquímicos e paleoambientais, apresentando um enorme potencial para elaboração de modelos quantitativos. Apesar destes modelos de função de transferência estarem sendo aplicados com sucesso em diversas partes do mundo, o Brasil ainda necessita de um esforço no sentido de caracterizar melhor a distribuição espacial das diatomáceas, a nível específico, correlacionando suas abundâncias com informações ambientais, visando a elaboração de funções de transferência para nossos ambientes. 6. Referências BATTARBEE RW; MACKAY AW; JEWSON DH; RYVES DB and STURM M. 2005. Differential dissolution of Lake Baikal diatoms: correction factors and implications for palaeoclimatic reconstruction . Global and Planetary Change 46: 75-86. BIGLER C and ROLAND I. H. 2003 Diatoms as quantitative indicators of July temperature: a validation attempt at century-scale with meteorological data from northern Sweden Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, 189: 147-160. FÜRSTENBERGER CB and BICUDO CM. 2002. 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