Universidade Estadual do Centro Oeste

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Sob um olhar arentiano do início ao fim da tradição.
Maria do Rocio Monteiro – Unicentro
Orientador Prof. Dr. Augusto Bach
O presente trabalho tem como objetivo fazer um recorte da obra de Hannah Arendt,
“Entre passado e Futuro”, onde a autora examina o início e o fim da Tradição. Segundo ela, o
início se dá quando o Filósofo abandona a Política, e o fim, quando ele repudia a Filosofia
para realizá-la na Política. Aqui, Arendt toma como exemplo a Atenas de Platão e
Aristóteles, determinando que é nessa estrutura política que se situa a sociedade idealista
e utópica de Karl Marx.
Se Arendt, no seu ensaio “Entre o Passado e o Futuro”, determina que o início da
Tradição se deu com Platão no mito da caverna, é também através dessa alegoria que se
pauta a elaboração desse trabalho.
Caracterizando o pensamento arentiano, se faz importante esclarecer o abismo
que se formou entre Filosofia e Política historicamente. Esse ponto foi marcado com o
julgamento e condenação de Sócrates, esses dois elementos compõem um todo para a
história do pensamento político. Foi quando Platão, desencantou-se com a vida na Pólis,
duvidando do seu mestre quanto ao poder da persuasão, Peithein, persuadir, princípio
este, fundamental do pensamento socrático e que deveria tê-lo livrado da condenação,
pois a persuasão era a forma especificamente política de falar, sem o uso da violência, e
para isso, valiam-se da retórica.
Aqui, Arendt se reporta ao mito da caverna, pois Platão diz no livro VII da República
que a condição dos homens no mundo é semelhante à dos escravos presos a uma caverna,
percebendo somente sombras, sendo a Filosofia a saída da caverna, da observação das
coisas reais, do princípio da vida, de sua cogniscibilidade, e o retorno à mesma é a tentativa
de libertação do senso comum. É justamente neste ponto que o problema veio à tona, o da
Filosofia e Política, ou o começo da Tradição e seu fim, com o início da época Moderna. Para
Arendt, nada é mais substancial do que aquilo que é visto e entendido pela primeira vez,
bem como quando chega ao seu final, compreende-se o problema em toda a sua
amplitude, foi desta forma que o fim da Tradição causou uma epifania que nos fez
compreender essa trajetória histórica.
Tendo Platão se desiludido com o julgamento de Sócrates porque deduziu que este
fracassou em sua defesa perante a Pólis, mostrando que a mesma não era lugar seguro para
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o filósofo, porque não estava mais vinculada à importância da verdade. Foi sem dúvida,
essa conclusão a que Platão tirou do julgamento de Sócrates, porque se a Pólis não sabe o
que é bom para si, logo não saberá o que é bom para o filósofo. Nesse contexto Arendt dá
início a Tradição.
Para não se distanciar do que levou Platão a se decepcionar com a Pólis, faz-se
necessário uma breve reflexão acerca da Verdade, que é o oposto da opinião, pois a
Verdade é uma forma de falar especificamente filosófica, através da persuasão, usando a
retórica, que é a arte de persuadir. Foi justamente aqui que segundo Platão, Sócrates errou,
usou sua argumentação de forma dialética, quando deveria usar a retórica, por isso foi
incapaz de persuadir seus juízes. Sócrates usou de sua doxa, que significa não só opinião,
mas também glória e fama, ponto que se relaciona com o domínio político, onde a esfera
pública permite se valer da doxa, o que para os gregos era um privilégio, e quando isso foi
perdido por Sócrates, Platão deixou de lado a Política para se valer da Filosofia
contemplativa. E nesse contexto que segundo Hannah Arendt se inicia a Tradição e o seu
fim, quando o filósofo abandona a filosofia para praticá-la na Política.
Marx se afasta do cenário filosófico alemão, concentrando seus esforços para
compreender o homem movido por necessidades materiais, lançou sua base para explicar
a sua sociedade utópica e seu papel transformador, isso acendeu a chama do debate
político onde a desigualdade social de sua época prevalecia, é justamente aí que Arendt se
vale do mito da caverna, onde Platão exclue o senso comum do saber filosófico que
segundo ela, Marx funda a sua sociedade, porque para ele, é no senso comum que o
homem concentra sua força e faz valer a política.
Essa analogia feita por Arendt, da Pólis de Platão e Aristóteles, toma uma dimensão
essencial para a concepção de cidadão em Marx, cidadão livre, com tempo de lazer,
fundamental na sociedade e na sua ideologia política. A Atenas de Marx é utópica, pois é
sabido que o cidadão da Pólis só é assim denominado porque não ocupava seu tempo com
trabalho braçal, esse trabalhador não era denominado cidadão.
Embora, segundo Arendt, Marx tenha tentado retirar o ideal de estrutura da sua
sociedade, pautado no exemplo grego de Platão e Aristóteles, o idealista regurgitou essa
filosofia grega em detrimento da contemplação e tentou alimentar-se do que seria possível
o ingresso do senso comum em uma sociedade apolítica e sem governo, provocando um
abalo sistêmico nos alicerces da Tradição, segundo Arendt, ao chegar ao seu fim. Karl Marx
se lançou contradizendo toda uma filosofia profundamente enrraizada na História, fez com
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que a Tradição explodisse em justificativas para continuar firme no seu púlpito, ele fez uma
leitura diacrônica para essa conclusão. Se valeu de uma estrutura de governo, idealizando
sua sociedade, e da Política para fundamentar sua utopia mais desvairada, fazendo uma
confusão em seus próprios pensamentos que o deixaram sem amarras no fim da Tradição.
Como se uma violência glorificada fosse o melhor que a sociedade pudesse realizar para se
livrar dos grilhões de uma violência inglória.
Mas o que nos traz realmente esse início da Tradição e o fim dela é quando a
filosofia deixa de ser contemplativa e passa a ser política. Para Arendt, é desastroso o
resultado que se chega quando se pretende definir historicamente suas teorias e suas
conseqüências práticas, sendo que a conseqüência prática do início da tradição ao seu fim,
é a absorção conceitual de uma filosofia abandonada por aqueles que a criaram em prol de
uma conseqüência lógica historicamente verificada, reconhecendo explicitamente como
único critério válido, de um conhecimento de mundo, que nem o próprio historiador se deu
conta ou teve a coragem de olhar para frente para determinar o curso plausível da História.
A conclusão que se chega do pensamento arentiano sobre “A Tradição e a Época
Moderna”, ressalta-se três momentos importantes. O primeiro é aquele em que remete a
Platão, no mito da caverna. Essa passagem foi de extrema importância para a compreensão
do inicio da Tradição, onde ela pontuou dificuldades avaliativas no seu procedimento
narrativo, porque a compreensão da História em seu início se dá através de uma ampla
autonomia de conhecimento da mesma. Um segundo momento, é quando Arendt fala de
Karl Marx, filósofo, idealista utópico, o qual segundo ela, embora não estivesse de acordo,
deixou perceber em suas nuances bem elaboradas, um fim para sua própria sociedade
apolítica. Esse foi um fim prescrito pelo próprio Marx, provou-se um erro de combinações
desastrosas, ao idealizar sua sociedade paralela à Pólis grega, outra época, outro contexto.
E por último, as considerações feitas por Arendt, sua narrativa e seus comentários acerca
da Filosofia e da Política, fez com que a Tradição, aquela que esqueceu de que pensar e agir
são uma coisa só, que são o alicerce da nossa Historia Filosófica, ponto primordial do
pensamento arentiano e do qual se valeu esse trabalho para explicar o início e o fim da
Tradição.
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Bibliografia
ARENDT, Hannah. A Dignidade da Política. Relume Dumará, Editora da URFJ, 1992.
________. Entre o Passado e o Futuro - Debates, Política. 6º ed. São Paulo: Perspctiva,
2009.
BACH, Augusto. Julgar é preciso... (Considerações sobre o pensamento de Hannah Arendt)
Cadernos de Ética e Filosofia Política, nº 09,2/2006
Marx, Durkheim e Weber. Um toque de Clássicos, 2ºed, 2003
PLATÃO, A República. Martin Claire, 2006
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