1 Práticas avaliativas: reflexões Jane Aparecida Gonçalves de Souza - UFJF1 Resumo: A avaliação deve ser contínua, formativa, na perspectiva do desenvolvimento integral do aluno. No processo educacional, quando falamos em avaliação podemos identificar três tipos: avaliação de aprendizagem que envolve os mecanismos de conhecimento do processo ensino aprendizagem para posterior tomada de decisão quanto aos resultados encontrados. Avaliação sistêmica ou educacional, relacionada às questões das políticas públicas em educação, e avaliação institucional, que diz respeito à avaliação de uma instituição em si, tanto dos aspectos inerentes, como nas redes de relações externa com a própria aprendizagem. É preponderante o papel do docente na definição das técnicas e instrumentos de avaliação, para que de forma válida e confiável possibilite uma comprovação pública e fundamental para a auto-avaliação do educando de suas capacidades e competências, contextualizando-as não somente diante do espaço de trabalho, mas também de toda a sociedade. A avaliação é parte integrante do processo ensino/aprendizagem e ganhou na atualidade espaço muito amplo nos processos de ensino. Requer preparo técnico e grande capacidade de observação dos profissionais envolvidos. Introdução Avaliar vem do latim a + valere, que significa atribuir valor e mérito ao objeto em estudo. Portanto, avaliar é atribuir um juízo de valor sobre a propriedade de um processo para a aferição da qualidade do seu resultado, porém, a compreensão da avaliação do processo ensino/aprendizagem tem sido pautada pela lógica da mensuração, isto é, associa-se o ato avaliar ao de medir os conhecimentos adquiridos pelos alunos. Avaliação é um termo geral que diz respeito a um conjunto de ações voltadas para o estudo sistemático de um fenômeno, uma situação, um processo, um evento, uma pessoa, visando a emitir um juízo valorativo. Segundo 1 o Dicionário Aurélio, avaliar significa: Pedagoga pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Mestranda em Ciências Sociais – UFJF, Orientador Professor Doutor Eduardo Magrone. 2 “determinar o valor ou valia de; apreciar o merecimento de;reconhecer a força de; fazer idéia de; estimar; ajuizar; calcular” Neste sentido podemos afirmar que a avaliação supõe uma coleta de dados e informações através de diferentes instrumentos de verificação, para saber se os objetivos foram atingidos ou não. O elemento chave da definição de avaliação implica julgamento, apreciação, valoração, e qualquer ato que implique julgar, valorar, implica de que quem o pratica tenha uma norma ou padrão que permita atribuir um dos valores possíveis a essa realidade. Ainda que avaliar implique alguma espécie de medição, a avaliação é muito mais ampla que a medição ou qualificação, ela não é um processo parcial nem linear. Podemos perceber dois tipos de avaliação uma informal e outra formal ou sistemática. A avaliação informal é aquela que realizamos diariamente de acordo com nossas necessidades, possibilidades e desejos, estamos sempre fazendo escolhas ou tomando decisões. A avaliação sistemática ou formal é aquela que exige objetivos bem definidos, critérios selecionados e está direcionada para um processo ou um resultado de uma situação específica e deve levar em conta o contexto em que esta inserida. De acordo com Conde 2005, a avaliação, além de avaliar, pode detectar obstáculos e propor mudanças. A avaliação pode ser antes do inicio ( ex-ante), formativa ex post (durante o processo), ou integrativa (antes e depois). Transformar a prática avaliativa significa questionar a educação desde as suas concepções, seus fundamentos, sua organização, suas normas burocráticas. Significa mudanças conceituais, redefinição de conteúdos, das funções docentes, entre outras. O que propomos é uma reestruturação interna na escola quanto à sua forma de avaliar. A avaliação pode ser contínua, formativa, na perspectiva do desenvolvimento integral do aluno. Para isto é importante estabelecer um diagnóstico correto para cada aluno e 3 identificar as possíveis causas de seus fracassos ou dificuldades visando uma maior qualificação e não somente uma quantificação da aprendizagem. A avaliação, dada a sua propriedade de elemento estrutural dos processos educacionais contemporâneos, assume uma condição estratégica que pode vir a possibilitar a democratização desses processos e, em conseqüência, da própria sociedade ou, ao contrário, contribuir ativamente para perpetuar as formas de dominação social ainda hoje presentes. Esta condição de vital importância política da avaliação não se restringe ao âmbito exclusivamente escolar da educação, mas também e com igual intensidade àquelas outras esferas em que se desenvolvem práticas de ensino e aprendizagem. Assim sendo, a avaliação não pode ser entendida como um conjunto de ações que são um fim em si mesmo. Ela deve ser considerada como parte fundamental de todo o processo educacional, servindo ao desenvolvimento das capacidades dos educandos. Desta forma avaliar a educação é testar a eficácia de um direito a educação,ninguém discorda que o direito a educação é fundamental. O direito a uma formação geral que capacite o indivíduo a viver completamente na sociedade, as oportunidades que a sociedade oferece a cada momento. A avaliação possibilitar aos educandos condições de autonomia e promover a auto-avaliação, a fim de que o aluno empreenda papéis ativos no desenvolvimento de seu conhecimento, tornando-se também sujeito histórico de sua formação. O aprender é parte do direito a educação, ao avaliar estamos verificando se este direito é eficaz, se de fato este direito é garantido a todos. É preponderante o papel do docente na definição das técnicas e instrumentos de avaliação, para que de forma válida e confiável possibilite uma comprovação pública e fundamental para a auto-avaliação do educando de suas capacidades e competências, contextualizando-as não somente diante do espaço de trabalho, mas também de toda a sociedade. No processo educacional, quando falamos em avaliação podemos identificar três tipos: avaliação de aprendizagem que envolve os mecanismos de conhecimento do processo 4 ensino - aprendizagem para posterior tomada de decisão quanto aos resultados encontrados. Avaliação sistêmica ou educacional, relacionada às questões das políticas públicas em educação, e avaliação institucional, que diz respeito à avaliação de uma instituição em si, tanto dos aspectos inerentes, como nas redes de relações externa com a própria aprendizagem, à qual propusemos a estudar. Quanto mais precisos forem os instrumentos a serem aplicados, maior a probabilidade de relativização do subjetivismo inerente a qualquer avaliador. Assim, a utilização de matrizes de especificação, provas escritas – com questões objetivas e subjetivas – provas de execução e lista de verificação. A principal função da avaliação é a diagnóstica por permitir detectar, diariamente, os pontos de conflitos geradores do fracasso escolar. Esses pontos detectados devem ser utilizados pelo professor como referenciais para as mudanças nas ações pedagógicas, objetivando um melhor desempenho do aluno. A avaliação tem também, a função classificatória, visando à promoção escolar do aluno ou ao levantamento de indicadores quanto ao status quo do indivíduo, num determinado momento, quando este é submetido a testes, provas e exames de caráter específico ou multidisciplinar. 1.1 Avaliação de aprendizagem Sobre esta questão vários autores, no decorrer dos anos, vêm proporcionando contribuições. A avaliação da aprendizagem é a primeira forma de avaliação educacional que vem sendo estudada. A ênfase na atribuição de notas (medida) na avaliação tem provocado alguns desvios, dentre os quais o de lhe dar um caráter meramente comercial, contabilístico, desconsiderando seu aspecto educacional de orientação do aluno. Conforme diz LUCKESI (1984), as notas são comumente usadas para fundamentar necessidades de classificação de alunos, dentro de um continuum de posições, onde a maior ênfase é dada à comparação de desempenhos e não aos objetivos instrucionais que se 5 deseja atingir. O aluno é classificado como inferior, médio ou superior quanto ao seu desempenho e muitas vezes fica preso a esse estigma, não conseguindo desvelar seu potencial. Esse caráter, puramente comercial, algumas vezes permeia a relação de pais e filhos. GOLDBERG (1980) relata que, se as notas dos filhos são excelentes, os pais oferecem presentes que podem aliciar comportamentos, fazendo com que o aluno, em vez de estudar para aprender, estude para sair-se bem na prova. A associação que limita o ato de avaliar ao de atribuir uma nota leva a um desvio bastante comum: reduzir a avaliação à mera atividade de elaborar e aplicar instrumentos de medida. Nessa perspectiva, há o grande perigo de se direcionar a aprendizagem apenas para o domínio de conteúdos de uma prova final. GOLDBERG(1980) aponta, ainda, o problema de se considerar a avaliação como aplicação de uma prova final. Segundo a autora, muitos professores esquecem que é natural e espontâneo considerar, na avaliação, outros recursos, tais como trabalhos diários, observações e registros, enfim, todas as atividades que permitem inferir desempenhos. Gadotti (1990) diz que a avaliação é essencial à educação, inerente e indissociável enquanto concebida como problematização, questionamento, reflexão, sobre a ação. A avaliação se faz necessária para que possamos refletir, questionar e transformar nossas ações. A forma como se avalia, segundo Luckesi (2002), é crucial para a concretização do projeto educacional. É ela que sinaliza aos alunos o que o professor e a escola valorizam. 1.2 Avaliação da aprendizagem nas pedagogias diretivas Dentro deste grupo, encontramos uma tendência que marcou a educação no Brasil nos últimos 50 anos, mostrando-se ora conservadora ora renovada. Esta tendência busca o preparo do indivíduo para o desempenho de papeis sociais, de acordo com as aptidões individuais; os indivíduos precisam aprender a adaptarem-se aos valores e às normas vigentes na sociedade de classes e, defendem a idéia de igualdade de oportunidades, sem contudo abordarem a desigualdade de condições. 6 A preocupação desta tendência é o produto do trabalho do aluno, elas reproduzem a matéria dada, são dicotomizadas, preocupam-se com os conteúdos, as vezes podendo ser utilizada pelo professor como forma de obter disciplina. Os principais autores que defendem esta tendência são: Friedrich que defende a metodologia de aulas – expositivas: comparações, exercícios, lições de casa. Snyderes Busca levar o aluno ao contato com as grandes realizações da humanidade. A avaliação da aprendizagem nesta tendência é apegada aos livros didáticos; a avaliação é vista como um instrumento de hierarquização e classificação. Este modelo classificatório de avaliação, onde os alunos são considerados aprovados ou não aprovados, pode demonstrar uma concepção de sociedade excludente adotada pela escola. O resultado da avaliação é considerado, mas este resultado não revela o que o aluno aprendeu realmente. Esta tendência acaba cristalizando uma atitude de submissão e obediência, solidificando o conceito de “educação bancária” apresentado por Paulo Freire, onde o professor é o único a ensinar e aluno o único a aprender. 1.3 Avaliação de aprendizagem nas pedagogias não-diretivas As pedagogias não diretivas parte da análise crítica das realidades sociais que sustentam as finalidades sócio-políticas da educação. Nesta tendência, a avaliação é voltada para a qualidade e não quantidade; é voltada ao processo e não ao produto, apresenta a importância da avaliação mútua. Alguns autores que defendem esta tendência são: Jonh Dewey que acredita que o aprendizado se dá através da pesquisa individual, Paulo Freire dá ênfase ao não formal 7 Freinet importância ao saber do próprio aluno, temas extraídos da vida cotidiana do aluno Tragtemberg defende a relação horizontal entre professores e alunos, ambos são sujeitos no ato de conhecer. O aluno deixa de ser visto como depósito de conhecimento, tomando posse do seu direito de fazer parte do processo de aprendizagem. As avaliações que propiciam esta construção do conhecimento são aquelas em que o professor é o mediador, onde não há uma única resposta certa, onde se considera as diferentes formas de cultura. Enfim o aluno é visto como parte do processo e não como objeto deste. Segundo Dalmas, (1995, p. 106 – 107): “Avaliação é essencial para a consecução do processo. Além do mais, é ela quem situa o grupo. Sem ela não se saberá para onde o grupo está se dirigindo, serão navegantes sem rumo...Ela faz com que o grupo ou pessoa localize, confronte o resultado e determine a continuidade do processo, com ou sem modificações no conteúdo ou na programação. A avaliação deveria ser assumida por todos como um instrumento de compreensão do estágio de aprendizagem em que se encontra o aluno. Assim, avaliação não seria apenas um instrumento para aprovação e reprovação, mas um instrumento de diagnóstico de sua situação, para ser usado em prol da aprendizagem do aluno. Desta forma, a avaliação transmutase para um instrumento de democratização do ensino. Lima (1996) afirma que, para a avaliação servir para democratização de ensino, devemos modificar a sua utilização de classificatória para diagnóstica. Ou seja, a avaliação deverá ser assumida como um instrumento de compreensão do estágio de aprendizagem em que se encontra o aluno, tendo em vista o avanço no seu processo de desenvolvimento cognitivo. Deste modo, a avaliação seria um instrumento de diagnóstico da situação do aluno, tendo em vista a definição de encaminhamentos adequados para sua aprendizagem. 8 1.4 Paulo Freire e a educação Segundo Freire, a educação trata da ação cultural para a emancipação. A educação é vista como um aspecto da relação entre a crítica e o domínio, a escola deve ser instituições que distribuem o conhecimento de maneira objetiva e neutra. O homem e a mulher são os únicos seres capazes de aprender com alegria e esperança, na convicção de que a mudança é possível. Aprender é uma descoberta criadora, com abertura ao risco e a aventura do ser, pois ensinando se aprende e aprendendo se ensina. Para Freire, a educação é ideológica, mas dialogante e atentiva, para que se possa estabelecer a autêntica comunicação da aprendizagem, entre gente, com alma, sentimentos e emoções, desejos e sonhos. A sua pedagogia é "fundada na ética, no respeito à dignidade e a própria autonomia do educando" (p.11). E é "vigilante contra todas as práticas de desumanização" (p.12). É necessário que "o saber-fazer da auto reflexão crítica e o saber-ser da sabedoria exercitada ajudem a evitar a” degradação humana “e o discurso fatalista da globalização", como ele tão bem diz. A educação, para este autor, é representada pelo modelo bancário que reproduz as relações de poder que dominam a atual sociedade. vivemos em uma sociedade dividida em classes, sendo que os privilégios de uns, impedem que a maioria, usufrua dos bens produzidos e, coloca como um desses bens produzidos e necessários para concretizar o vocação humana de ser mais, a educação, da qual é excluída grande parte da população do Terceiro Mundo. Refere-se então a dois tipos de pedagogia: a pedagogia dos dominantes, onde a educação existe como prática da dominação, e a pedagogia do oprimido, que precisa ser realizada, na qual a educação surgiria como prática da liberdade. Freire aponta a importância de reconhecer e respeitar o conhecimento e a identidade dos grupos e indivíduos marginalizados. Para atender a esta mudança de paradigma educacional, a avaliação desempenha um papel muito importante. Num primeiro momento, ela deve conhecer melhor o aluno, suas 9 competências curriculares, estilo de aprendizagem, seus interesses. Podemos chamar este processo de avaliação inicial. Depois, é necessário constatar o que está sendo aprendido, através do recolhimento de informações, de forma continua e com diversos procedimentos metodológicos. Com estes dados, deve-se adequar o processo de ensino aos alunos como grupo e aqueles que apresentam dificuldades. Para Paulo Freire, a própria pedagogia é "oprimida", subordinada a fins alheios à sua natureza. Não existe "educação para a paz", "educação para o desenvolvimento" ou para qualquer outra coisa. A verdadeira educação é a educação tout court, sem adjetivos. O professor não deve determinar o que aluno deve fazer com o conhecimento recebido. O indivíduo livre faz o que quiser com os conhecimentos adquiridos, sem dar ouvidos a doutrinadores. A educação não tem como objetivo principal a transformação social. A educação é essencialmente a aquisição da autonomia pelo indivíduo, é um fim em si mesma, com a qual o indivíduo pode elevar-se, libertar-se: só quem é capaz de pensar por conta própria sabe o caminho a seguir; logo, só as pessoas educadas são livres. 1.,5 Perrenoud e Avaliação O modelo educacional proposto por Perrenoud é baseado num ciclo de avaliação de três anos, ou seja, em vez de um ano, a criança tem três para desenvolver as competências estabelecidas para aquela faixa etária. Assim, segundo o sociólogo, o aluno tem muito mais chances de não ser reprovado se não adquirir uma determinada habilidade em um ano, já que tem mais tempo para amadurecer e aprender. Segundo o autor este modelo de avaliação mais eficiente será capaz de identificar as dificuldades do aprendizado. Outro benefício de adotar este modelo de ensino é ter mais tempo para agir e corrigir. Como sublinha Perrenoud (2000) no cotidiano das escolas as práticas de avaliação produzem efeitos perversos de reprodução das desigualdades sociais, hoje não tanto pela nomeação dos subalternos como incapazes, mas por simplesmente ignorá-los, desconsiderando suas experiências de vida e condenando-os a um mutismo permanente. 10 Segundo este autor (1993), a avaliação da aprendizagem, no novo paradigma, é um processo mediador na construção do currículo e se encontra intimamente relacionada à gestão da aprendizagem dos alunos. Uma vez que: “...desde que a escola existe, pedagogos se revoltam contra as notas e querem colocar a avaliação mais a servido do aluno do que do sistema. Essas evidências são incessantemente redescobertas, a cada geração crêse que “nada mais será como antes”. O que não impede a seguinte de seguir o mesmo caminho e de sofrer as mesmas desilusões”. (1999, p.10): Como evidencia o autor, a dificuldade em mudar o modelo de avaliação está no próprio modelo de ensino e não apenas na avaliação. Ele alerta que modificar as escalas de notação, as tabelas, as médias, tudo isso é muito fácil, mas essas mudanças não afetam o modelo radical como o sistema ensino funciona. O que realmente é importante é criar um novo modelo de avaliação, que seja mais formativa, menos seletiva, mudando-se, assim, todo o modelo de avaliação e conseqüentemente a escola como um todo. Até o momento atual, a própria escola não mudou, os modelos didáticos evoluíram, porém a maneira como o aluno era impulsionado para um novo estágio continuou a mesma. A avaliação, de uma maneira cruel, avalia pessoas diferentes de maneiras iguais. Para que o modelo de avaliação pudesse ser modificado, seria necessário adequar todo o sistema de ensino, onde pessoas diferentes deveriam ser ensinadas e avaliadas de maneiras distintas, pois números não definem pessoas, conhecimento sim. 1.6 Dewey e a escola progressista Para Dewey, o conhecimento é uma atividade dirigida que não tem um fim em si mesmo, mas está dirigido para a experiência. As idéias são hipóteses de ação e são verdadeiras quando funcionam como orientadoras dessa ação. 11 A educação tem como finalidade propiciar à criança condições para que resolva por si própria os seus problemas, e não as tradicionais idéias de formar a criança de acordo com modelos prévios, ou mesmo orientá-la para uma ação futura. Tendo o conceito de experiência como fator central de seus pressupostos, chega à conclusão de que a escola não pode ser uma preparação para a vida, mas sim, a própria vida. Assim, para ele, vida-experiência e aprendizagem estão unidas, de tal forma que a função da escola encontra-se em possibilitar uma reconstrução permanente feita pela criança da experiência. Dewey acredita que o espírito de iniciativa e independência levam à autonomia e ao autogoverno, que são virtudes de uma sociedade realmente democrática, em oposição ao ensino tradicional que valoriza a obediência. Para ele, a educação, é uma necessidade social, os indivíduos precisam ser educados para que se assegure a continuidade social, transmitindo suas crenças, idéias e conhecimentos. Ele não defende o ensino profissionalizante, mas vê a escola voltada aos reais interesses dos alunos, valorizando sua curiosidade natural. A educação progressiva consiste justamente no crescimento constante da vida, à medida que aumentamos o conteúdo da experiência e o controle que exercemos sobre ela. Para Dewey a escola deveria preparar a criança para participar na vida da comunidade, acreditou que a educação deveria agir de tal forma que proporcionasse uma abertura entre a experiência de educar e as necessidades, participando do processo democraticamente. Em Democracia e Educação, John Dewey fala de três significados de ‘interesse’ - interesse enquanto uma característica das pessoas; um estado psicológico de questões relacionadas a sentimentos e preferências; interesse enquanto uma característica de objetos onde podemos dizer, de alguns objetos que são pesados ou leves, enquanto de outros podemos dizer que são interessantes ou desinteressantes; interesse no sentido de uma relação que existe entre alguma pessoa e um objeto. Para Dewey, ao elaborar um currículo, um educador sábio deve tramar um percurso através dos diferentes significados, escolhendo entre eles, procurando o equilíbrio e as 12 condições mais favoráveis. Escolhendo o primeiro perde-se qualquer pretensão de rigor enquanto se escolhemos o segundo podemos criar um sistema que seja inerte. A tarefa educacional, novamente, é encontrar um equilíbrio que respeite os diferentes significados. Assim sendo, o processo de ensino-aprendizagem esta baseado numa compreensão de que o saber é constituído por conhecimentos e vivências que se entrelaçam de forma dinâmica; que alunos e professores são detentores de experiências próprias e que são aproveitadas no processo e a aprendizagem é essencialmente coletiva, assim como é coletiva a produção do conhecimento. 1.7 Avaliação de aprendizagem e o poder Um outro dado que não podemos deixar de abordar é a relação da avaliação com o poder segundo Lima 1996: “A avaliação se transformou numa poderosa arma para o exercício de poder sobre as crianças e os jovens, ela vem discutir como as provas e os testes passaram a dominar o processo de avaliação num primeiro momento e atualmente, chegando a significar o próprio processo pedagógico. Os objetivos da escola são as provas e testes, e, assim, tendo perdido o sentido educativo, a escola perde o controle sobre a disciplina passando a utilizar-se das provas e testes como instrumento de controle e poder disciplinar”.[ De acordo com Luckesi (1999), a avaliação que se pratica na escola é a avaliação da culpa. Aponta, ainda, que as notas são usadas para fundamentar necessidades de classificação de alunos, onde são comparados desempenhos e não objetivos que se deseja atingir. Os currículos de nossas escolas têm sido propostos para atender a massificação do ensino. O planejamento e feito para muitas turmas de alunos numa hierarquia de séries, por idades, um currículo massificado. 13 Segundo Perrenoud (2000), normalmente, define-se o fracasso escolar como a conseqüência de dificuldades de aprendizagem e como expressão de uma “falta objetiva” de conhecimentos e de competências. Está visão, impede a compreensão de que ele resulta de formas e de normas de excelência que foram instituídas pela escola, cuja execução revela algumas arbitrariedades. As formas de excelência que a escola valoriza, se tornam critérios e categorias que incidem sobre a aprovação ou reprovação do aluno. Continua Perrenoud (2000), as classificações escolares refletem às vezes, desigualdades de competências muito efêmeras, logo não se pode acreditar na avaliação da escola. 1.8 As avaliações e os dois modelos de tendências: Algumas considerações No modelo diretivo, o alvo é a promoção dos alunos, a preocupação gira em torno das notas. Não importa como elas serão alcançadas e nem por qual caminho o aluno passou. É comum serem utilizadas como instrumentos de poder, ameaça. O Foco são nas provas e às vezes são utilizadas como objeto de pressão psicológica sobre os alunos. Com isto as provas são utilizadas como um fator negativo de motivação. Os alunos estudam pela ameaça da prova, não pelo que a aprendizagem pode lhes trazer de proveitoso e prazeroso. Estimula o desenvolvimento da submissão e de hábitos de comportamento físico tenso. As instituições estão centradas nos resultados das provas e nos exames. O sistema social se contenta com as notas, pois estas são suficientes para os quadros estatísticos. No modelo não diretivo o alvo é o aluno, a aprendizagem. A avaliação é vista como um instrumento de auxilio para saber quais objetivos foram atingidos, quais ainda faltam e quais as interferências que o professor poderá utilizar para auxiliar os alunos. A avaliação não é mais um objeto de certificação da consecução de objetivos, mas é um instrumento de diagnóstico e acompanhamento do processo de aprendizagem. 14 As instituições de ensino estão preocupadas com a qualidade, dando ênfase a inclusão social do aluno. De acordo com Gadotti (1990) sabemos que a avaliação é essencial à educação, inerente e indissociável concebida como problematização, questionamento, reflexão, sobre a ação. Ela se faz necessária para que possamos refletir questionar e transformar nossas ações. A avaliação é um parâmetro para o professor sobre o seu trabalho. Identificando como está o desenvolvimento do aluno. Na verdade, a avaliação não é do aluno, mas do professor. O professor precisa da avaliação como um guia de suas ações educativas. A avaliação em seu sentido mais comum é um referencial. Mas não é a única forma de avaliar o trabalho do professor. O educador deve refletir diariamente em seu dia-a-dia para que a educação e a construção do conhecimento seja eficaz. Pensar naquilo que foi e não foi eficaz e o que poderia ter sido feito em uma dada situação. Toda avaliação é um diálogo entre professor e estudante, portanto um diálogo entre ímpares. Toda forma de avaliação implica uma resposta por parte dos alunos em ternos de consideração de si e de contra-avaliação sobre o docente. A avaliação é, portanto, fundamental para a formação da imagem de si e para relação com o docente. Pois dado que a avaliação acontece no contexto da classe, a mesma tem uma influência na imagem de si do estudante mediada pela imagem dos outros. Nessa perspectiva, a avaliação ajuda o aluno a progredir na aprendizagem, e o professor aperfeiçoar sua prática pedagógica. A tomada de decisão é uma tomada de posição, isto é, um estar a favor ou contra aquilo que foi julgado, sendo que isto implica em três possibilidades: continuar na situação, introduzir modificações ou suprimir a situação ou objeto. Na avaliação da aprendizagem, refere-se à decisão do que fazer com o aluno, quando a sua aprendizagem se manifesta satisfatória ou insatisfatória. Ao se desrespeitar esta etapa, o ato de avaliar não completará seu ciclo constitutivo. 15 HOFFMANN (1993), entende avaliação como uma ação provocativa do professor, desafiando o aluno a refletir sobre as experiências vividas, a formular e reformular hipóteses, direcionando para um saber enriquecido. Referências Bibliográficas CURY, Carlos Roberto Jamil. Lei de Diretrizes e Bases e perspectivas da educação Nacional. Revista Brasileira de Educação ANPED.São Paulo, n. 8, mai, jun, jul, ago, Anpae: 1998. DALMAS, ângelo. Planejamento participativo na escola: elaboração , acompanhamento e avaliação; 3 ed. Petrópolis: Vozes, 1995. DEWEY, John. Democracia e Educação. São Paulo, Melhoramentos, 1974. FREIRE, Paulo Pedagogia do Oprimido. 10. ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. FREIRE, Paulo Pedagogia da Autonomia. GOLDBERG, M.A. Avaliação educacional; medo e poder. Educação e Avaliação. São Paulo, Cortez 1(1):96-117, 1980. LIMA. Adriana de Oliveira. 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