Práticas avaliativas: reflexões

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Práticas avaliativas: reflexões
Jane Aparecida Gonçalves de Souza - UFJF1
Resumo:
A avaliação deve ser contínua, formativa, na perspectiva do desenvolvimento integral do aluno.
No processo educacional, quando falamos em avaliação podemos identificar três tipos: avaliação
de aprendizagem que envolve os mecanismos de conhecimento do processo ensino aprendizagem para posterior tomada de decisão quanto aos resultados encontrados. Avaliação
sistêmica ou educacional, relacionada às questões das políticas públicas em educação, e avaliação
institucional, que diz respeito à avaliação de uma instituição em si, tanto dos aspectos inerentes,
como nas redes de relações externa com a própria aprendizagem. É preponderante o papel do
docente na definição das técnicas e instrumentos de avaliação, para que de forma válida e
confiável possibilite uma comprovação pública e fundamental para a auto-avaliação do educando
de suas capacidades e competências, contextualizando-as não somente diante do espaço de
trabalho, mas também de toda a sociedade. A avaliação é parte integrante do processo
ensino/aprendizagem e ganhou na atualidade espaço muito amplo nos processos de ensino. Requer
preparo técnico e grande capacidade de observação dos profissionais envolvidos.
Introdução
Avaliar vem do latim a + valere, que significa atribuir valor e mérito ao objeto
em estudo. Portanto, avaliar é atribuir um juízo de valor sobre a propriedade de um processo para
a aferição da qualidade do seu resultado, porém, a compreensão da avaliação do processo
ensino/aprendizagem tem sido pautada pela lógica da mensuração, isto é, associa-se o ato avaliar
ao de medir os conhecimentos adquiridos pelos alunos.
Avaliação é um termo geral que diz respeito a um conjunto de ações voltadas
para o estudo sistemático de um fenômeno, uma situação, um processo, um evento, uma pessoa,
visando a emitir um juízo valorativo. Segundo
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o Dicionário Aurélio, avaliar significa:
Pedagoga pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Mestranda em Ciências Sociais – UFJF, Orientador Professor
Doutor Eduardo Magrone.
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“determinar o valor ou valia de; apreciar o merecimento de;reconhecer a força de; fazer idéia
de; estimar; ajuizar; calcular”
Neste sentido podemos afirmar que a avaliação supõe uma coleta de dados e
informações através de diferentes instrumentos de verificação, para saber se os objetivos foram
atingidos ou não.
O elemento chave da definição de avaliação implica julgamento, apreciação,
valoração, e qualquer ato que implique julgar, valorar, implica de que quem o pratica tenha uma
norma ou padrão que permita atribuir um dos valores possíveis a essa realidade.
Ainda que avaliar implique alguma espécie de medição, a avaliação é muito
mais ampla que a medição ou qualificação, ela não é um processo parcial nem linear.
Podemos perceber dois tipos de avaliação uma informal e outra formal ou
sistemática. A avaliação informal é aquela que realizamos diariamente de acordo com nossas
necessidades, possibilidades e desejos, estamos sempre fazendo escolhas ou tomando decisões.
A avaliação sistemática ou formal é aquela que exige objetivos bem definidos,
critérios selecionados e está direcionada para um processo ou um resultado de uma situação
específica e deve levar em conta o contexto em que esta inserida.
De acordo com Conde 2005, a avaliação, além de avaliar, pode detectar
obstáculos e propor mudanças. A avaliação pode ser antes do inicio ( ex-ante), formativa ex post
(durante o processo), ou integrativa (antes e depois).
Transformar a prática avaliativa significa questionar a educação desde as suas
concepções, seus fundamentos, sua organização, suas normas burocráticas. Significa mudanças
conceituais, redefinição de conteúdos, das funções docentes, entre outras.
O que propomos é uma reestruturação interna na escola quanto à sua
forma de avaliar. A avaliação pode ser contínua, formativa, na perspectiva do desenvolvimento
integral do aluno. Para isto é importante estabelecer um diagnóstico correto para cada aluno e
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identificar as possíveis causas de seus fracassos ou dificuldades visando uma maior qualificação e
não somente uma quantificação da aprendizagem.
A avaliação, dada a sua propriedade de elemento estrutural dos processos
educacionais contemporâneos, assume uma condição estratégica que pode vir a possibilitar a
democratização desses processos e, em conseqüência, da própria sociedade ou, ao contrário,
contribuir ativamente para perpetuar as formas de dominação social ainda hoje presentes. Esta
condição de vital importância política da avaliação não se restringe ao âmbito exclusivamente
escolar da educação, mas também e com igual intensidade àquelas outras esferas em que se
desenvolvem práticas de ensino e aprendizagem.
Assim sendo, a avaliação não pode ser entendida como um conjunto de ações
que são um fim em si mesmo. Ela deve ser considerada como parte fundamental de todo o
processo educacional, servindo ao desenvolvimento das capacidades dos educandos.
Desta forma avaliar a educação é testar a eficácia de um direito a
educação,ninguém discorda que o direito a educação é fundamental. O direito a uma formação
geral que capacite o indivíduo a viver completamente na sociedade, as oportunidades que a
sociedade oferece a cada momento.
A avaliação possibilitar aos educandos condições de autonomia e promover a
auto-avaliação, a fim de que o aluno empreenda papéis ativos no desenvolvimento de seu
conhecimento, tornando-se também sujeito histórico de sua formação. O aprender é parte do
direito a educação, ao avaliar estamos verificando se este direito é eficaz, se de fato este direito é
garantido a todos.
É preponderante o papel do docente na definição das técnicas e instrumentos de
avaliação, para que de forma válida e confiável possibilite uma comprovação pública e
fundamental para a auto-avaliação do educando de suas capacidades e competências,
contextualizando-as não somente diante do espaço de trabalho, mas também de toda a sociedade.
No processo educacional, quando falamos em avaliação podemos identificar
três tipos: avaliação de aprendizagem que envolve os mecanismos de conhecimento do processo
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ensino - aprendizagem para posterior tomada de decisão quanto aos resultados encontrados.
Avaliação sistêmica ou educacional, relacionada às questões das políticas públicas em educação,
e avaliação institucional, que diz respeito à avaliação de uma instituição em si, tanto dos aspectos
inerentes, como nas redes de relações externa com a própria aprendizagem, à qual propusemos a
estudar.
Quanto mais precisos forem os instrumentos a serem aplicados, maior a
probabilidade de relativização do subjetivismo inerente a qualquer avaliador. Assim, a utilização
de matrizes de especificação, provas escritas – com questões objetivas e subjetivas – provas de
execução e lista de verificação.
A principal função da avaliação é a diagnóstica por permitir detectar,
diariamente, os pontos de conflitos geradores do fracasso escolar. Esses pontos detectados devem
ser utilizados pelo professor como referenciais para as mudanças nas ações pedagógicas,
objetivando um melhor desempenho do aluno.
A avaliação tem também, a função classificatória, visando à promoção escolar
do aluno ou ao levantamento de indicadores quanto ao status quo do indivíduo, num determinado
momento, quando este é submetido a testes, provas e exames de caráter específico ou
multidisciplinar.
1.1 Avaliação de aprendizagem
Sobre esta questão vários autores, no decorrer dos anos, vêm proporcionando
contribuições. A avaliação da aprendizagem é a primeira forma de avaliação educacional que
vem sendo estudada.
A ênfase na atribuição de notas (medida) na avaliação tem provocado alguns
desvios, dentre os quais o de lhe dar um caráter meramente comercial, contabilístico,
desconsiderando seu aspecto educacional de orientação do aluno.
Conforme diz LUCKESI (1984), as notas são comumente usadas para
fundamentar necessidades de classificação de alunos, dentro de um continuum de posições, onde
a maior ênfase é dada à comparação de desempenhos e não aos objetivos instrucionais que se
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deseja atingir. O aluno é classificado como inferior, médio ou superior quanto ao seu
desempenho e muitas vezes fica preso a esse estigma, não conseguindo desvelar seu potencial.
Esse caráter, puramente comercial, algumas vezes permeia a relação de pais e
filhos. GOLDBERG (1980) relata que, se as notas dos filhos são excelentes, os pais oferecem
presentes que podem aliciar comportamentos, fazendo com que o aluno, em vez de estudar para
aprender, estude para sair-se bem na prova.
A associação que limita o ato de avaliar ao de atribuir uma nota leva a um
desvio bastante comum: reduzir a avaliação à mera atividade de elaborar e aplicar instrumentos
de medida. Nessa perspectiva, há o grande perigo de se direcionar a aprendizagem apenas para o
domínio de conteúdos de uma prova final.
GOLDBERG(1980) aponta, ainda, o problema de se considerar a avaliação
como aplicação de uma prova final. Segundo a autora, muitos professores esquecem que é natural
e espontâneo considerar, na avaliação, outros recursos, tais como trabalhos diários, observações e
registros, enfim, todas as atividades que permitem inferir desempenhos.
Gadotti (1990) diz que a avaliação é essencial à educação, inerente e
indissociável enquanto concebida como problematização, questionamento, reflexão, sobre a ação.
A avaliação se faz necessária para que possamos refletir, questionar e transformar nossas ações.
A forma como se avalia, segundo Luckesi (2002), é crucial para a concretização
do projeto educacional. É ela que sinaliza aos alunos o que o professor e a escola valorizam.
1.2 Avaliação da aprendizagem nas pedagogias diretivas
Dentro deste grupo, encontramos uma tendência que marcou a educação no
Brasil nos últimos 50 anos, mostrando-se ora conservadora ora renovada.
Esta tendência busca o preparo do indivíduo para o desempenho de papeis
sociais, de acordo com as aptidões individuais; os indivíduos precisam aprender a adaptarem-se
aos valores e às normas vigentes na sociedade de classes e, defendem a idéia de igualdade de
oportunidades, sem contudo abordarem a desigualdade de condições.
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A preocupação desta tendência é o produto do trabalho do aluno, elas
reproduzem a matéria dada, são dicotomizadas, preocupam-se com os conteúdos, as vezes
podendo ser utilizada pelo professor como forma de obter disciplina.
Os principais autores que defendem esta tendência são:
Friedrich que defende a metodologia de aulas – expositivas: comparações, exercícios, lições
de casa.
Snyderes Busca levar o aluno ao contato com as grandes realizações da humanidade.
A avaliação da aprendizagem nesta tendência é apegada aos livros didáticos; a
avaliação é vista como um instrumento de hierarquização e classificação.
Este modelo classificatório de avaliação, onde os alunos são considerados
aprovados ou não aprovados, pode demonstrar uma concepção de sociedade excludente adotada
pela escola. O resultado da avaliação é considerado, mas este resultado não revela o que o aluno
aprendeu realmente.
Esta tendência acaba cristalizando uma atitude de submissão e obediência,
solidificando o conceito de “educação bancária” apresentado por Paulo Freire, onde o professor é
o único a ensinar e aluno o único a aprender.
1.3 Avaliação de aprendizagem nas pedagogias não-diretivas
As pedagogias não diretivas parte da análise crítica das realidades sociais que
sustentam as finalidades sócio-políticas da educação.
Nesta tendência, a avaliação é voltada para a qualidade e não quantidade; é
voltada ao processo e não ao produto, apresenta a importância da avaliação mútua.
Alguns autores que defendem esta tendência são:
Jonh Dewey que acredita que o aprendizado se dá através da pesquisa individual,
Paulo Freire dá ênfase ao não formal
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Freinet importância ao saber do próprio aluno, temas extraídos da vida cotidiana do aluno
Tragtemberg defende a relação horizontal entre professores e alunos, ambos são sujeitos
no ato de conhecer.
O aluno deixa de ser visto como depósito de conhecimento, tomando posse do
seu direito de fazer parte do processo de aprendizagem.
As avaliações que propiciam esta construção do conhecimento são aquelas em
que o professor é o mediador, onde não há uma única resposta certa, onde se considera as
diferentes formas de cultura.
Enfim o aluno é visto como parte do processo e não como objeto deste. Segundo
Dalmas, (1995, p. 106 – 107):
“Avaliação é essencial para a consecução do processo. Além do mais, é ela
quem situa o grupo. Sem ela não se saberá para onde o grupo está se
dirigindo, serão navegantes sem rumo...Ela faz com que o grupo ou
pessoa localize, confronte o resultado e determine a continuidade do
processo, com ou sem modificações no conteúdo ou na programação.
A avaliação deveria ser assumida por todos como um instrumento de
compreensão do estágio de aprendizagem em que se encontra o aluno. Assim, avaliação não seria
apenas um instrumento para aprovação e reprovação, mas um instrumento de diagnóstico de sua
situação, para ser usado em prol da aprendizagem do aluno. Desta forma, a avaliação transmutase para um instrumento de democratização do ensino.
Lima (1996) afirma que, para a avaliação servir para democratização de ensino,
devemos modificar a sua utilização de classificatória para diagnóstica. Ou seja, a avaliação
deverá ser assumida como um instrumento de compreensão do estágio de aprendizagem em que
se encontra o aluno, tendo em vista o avanço no seu processo de desenvolvimento cognitivo.
Deste modo, a avaliação seria um instrumento de diagnóstico da situação do aluno, tendo em
vista a definição de encaminhamentos adequados para sua aprendizagem.
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1.4 Paulo Freire e a educação
Segundo Freire, a educação trata da ação cultural para a emancipação. A
educação é vista como um aspecto da relação entre a crítica e o domínio, a escola deve ser
instituições que distribuem o conhecimento de maneira objetiva e neutra.
O homem e a mulher são os únicos seres capazes de aprender com alegria e
esperança, na convicção de que a mudança é possível. Aprender é uma descoberta criadora, com
abertura ao risco e a aventura do ser, pois ensinando se aprende e aprendendo se ensina.
Para Freire, a educação é ideológica, mas dialogante e atentiva, para que se
possa estabelecer a autêntica comunicação da aprendizagem, entre gente, com alma, sentimentos
e emoções, desejos e sonhos.
A sua pedagogia é "fundada na ética, no respeito à dignidade e a própria
autonomia do educando" (p.11). E é "vigilante contra todas as práticas de desumanização" (p.12).
É necessário que "o saber-fazer da auto reflexão crítica e o saber-ser da sabedoria exercitada
ajudem a evitar a” degradação humana “e o discurso fatalista da globalização", como ele tão bem
diz.
A educação, para este autor, é representada pelo modelo bancário que reproduz
as relações de poder que dominam a atual sociedade. vivemos em uma sociedade dividida em
classes, sendo que os privilégios de uns, impedem que a maioria, usufrua dos bens produzidos e,
coloca como um desses bens produzidos e necessários para concretizar o vocação humana de ser
mais, a educação, da qual é excluída grande parte da população do Terceiro Mundo. Refere-se
então a dois tipos de pedagogia: a pedagogia dos dominantes, onde a educação existe como
prática da dominação, e a pedagogia do oprimido, que precisa ser realizada, na qual a educação
surgiria como prática da liberdade.
Freire aponta a importância de reconhecer e respeitar o conhecimento e a
identidade dos grupos e indivíduos marginalizados.
Para atender a esta mudança de paradigma educacional, a avaliação desempenha
um papel muito importante. Num primeiro momento, ela deve conhecer melhor o aluno, suas
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competências curriculares, estilo de aprendizagem, seus interesses. Podemos chamar este
processo de avaliação inicial.
Depois, é necessário constatar o que está sendo aprendido, através do
recolhimento de informações, de forma continua e com diversos procedimentos metodológicos.
Com estes dados, deve-se adequar o processo de ensino aos alunos como grupo
e aqueles que apresentam dificuldades. Para Paulo Freire, a própria pedagogia é "oprimida",
subordinada a fins alheios à sua natureza. Não existe "educação para a paz", "educação para o
desenvolvimento" ou para qualquer outra coisa. A verdadeira educação é a educação tout court,
sem adjetivos.
O professor não deve determinar o que aluno deve fazer com o conhecimento
recebido. O indivíduo livre faz o que quiser com os conhecimentos adquiridos, sem dar ouvidos a
doutrinadores. A educação não tem como objetivo principal a transformação social. A educação é
essencialmente a aquisição da autonomia pelo indivíduo, é um fim em si mesma, com a qual o
indivíduo pode elevar-se, libertar-se: só quem é capaz de pensar por conta própria sabe o
caminho a seguir; logo, só as pessoas educadas são livres.
1.,5 Perrenoud e Avaliação
O modelo educacional proposto por Perrenoud é baseado num ciclo de
avaliação de três anos, ou seja, em vez de um ano, a criança tem três para desenvolver as
competências estabelecidas para aquela faixa etária. Assim, segundo o sociólogo, o aluno tem
muito mais chances de não ser reprovado se não adquirir uma determinada habilidade em um
ano, já que tem mais tempo para amadurecer e aprender.
Segundo o autor este modelo de avaliação mais eficiente será capaz de
identificar as dificuldades do aprendizado. Outro benefício de adotar este modelo de ensino é ter
mais tempo para agir e corrigir. Como sublinha Perrenoud (2000) no cotidiano das escolas as
práticas de avaliação produzem efeitos perversos de reprodução das desigualdades sociais, hoje
não tanto pela nomeação dos subalternos como incapazes, mas por simplesmente ignorá-los,
desconsiderando suas experiências de vida e condenando-os a um mutismo permanente.
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Segundo este autor (1993), a avaliação da aprendizagem, no novo paradigma, é
um processo mediador na construção do currículo e se encontra intimamente relacionada à gestão
da aprendizagem dos alunos. Uma vez que:
“...desde que a escola existe, pedagogos se revoltam contra as notas e
querem colocar a avaliação mais a servido do aluno do que do sistema.
Essas evidências são incessantemente redescobertas, a cada geração crêse que “nada mais será como antes”. O que não impede a seguinte de
seguir o mesmo caminho e de sofrer as mesmas desilusões”. (1999, p.10):
Como evidencia o autor, a dificuldade em mudar o modelo de avaliação está no
próprio modelo de ensino e não apenas na avaliação. Ele alerta que modificar as escalas de
notação, as tabelas, as médias, tudo isso é muito fácil, mas essas mudanças não afetam o modelo
radical como o sistema ensino funciona. O que realmente é importante é criar um novo modelo de
avaliação, que seja mais formativa, menos seletiva, mudando-se, assim, todo o modelo de
avaliação e conseqüentemente a escola como um todo.
Até o momento atual, a própria escola não mudou, os modelos didáticos
evoluíram, porém a maneira como o aluno era impulsionado para um novo estágio continuou a
mesma. A avaliação, de uma maneira cruel, avalia pessoas diferentes de maneiras iguais.
Para que o modelo de avaliação pudesse ser modificado, seria necessário
adequar todo o sistema de ensino, onde pessoas diferentes deveriam ser ensinadas e avaliadas de
maneiras distintas, pois números não definem pessoas, conhecimento sim.
1.6 Dewey e a escola progressista
Para Dewey, o conhecimento é uma atividade dirigida que não tem um fim em
si mesmo, mas está dirigido para a experiência. As idéias são hipóteses de ação e são verdadeiras
quando funcionam como orientadoras dessa ação.
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A educação tem como finalidade
propiciar à criança condições para que
resolva por si própria os seus problemas, e não as tradicionais idéias de formar a criança de
acordo com modelos prévios, ou mesmo orientá-la para uma ação futura.
Tendo o conceito de experiência como fator central de seus pressupostos,
chega à conclusão de que a escola não pode ser uma preparação para a vida, mas sim, a própria
vida. Assim, para ele, vida-experiência e aprendizagem estão unidas, de tal forma que a função da
escola encontra-se em possibilitar uma reconstrução permanente feita pela criança da experiência.
Dewey acredita que o espírito de iniciativa e independência levam à
autonomia e ao autogoverno, que são virtudes de uma sociedade realmente democrática, em
oposição ao ensino tradicional que valoriza a obediência.
Para ele, a educação, é uma necessidade social, os indivíduos precisam ser
educados para que se assegure a continuidade social, transmitindo suas crenças, idéias e
conhecimentos. Ele não defende o ensino profissionalizante, mas vê a escola voltada aos reais
interesses dos alunos, valorizando sua curiosidade natural.
A educação progressiva consiste justamente no crescimento constante da vida, à
medida que aumentamos o conteúdo da experiência e o controle que exercemos sobre ela.
Para Dewey a escola deveria preparar a criança para participar na vida da
comunidade, acreditou que a educação deveria agir de tal forma que proporcionasse uma abertura
entre a experiência de educar e as necessidades, participando do processo democraticamente.
Em Democracia e Educação, John Dewey fala de três significados de
‘interesse’ - interesse enquanto uma característica das pessoas; um estado psicológico de questões
relacionadas a sentimentos e preferências; interesse enquanto uma característica de objetos onde
podemos dizer, de alguns objetos que são pesados ou leves, enquanto de outros podemos dizer
que são interessantes ou desinteressantes; interesse no sentido de uma relação que existe entre
alguma pessoa e um objeto.
Para Dewey, ao elaborar um currículo, um educador sábio deve tramar um
percurso através dos diferentes significados, escolhendo entre eles, procurando o equilíbrio e as
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condições mais favoráveis. Escolhendo o primeiro perde-se qualquer pretensão de rigor enquanto
se escolhemos o segundo podemos criar um sistema que seja inerte. A tarefa educacional,
novamente, é encontrar um equilíbrio que respeite os diferentes significados.
Assim sendo, o processo de ensino-aprendizagem esta baseado numa
compreensão de que o saber é constituído por conhecimentos e vivências que se entrelaçam de
forma dinâmica; que alunos e professores são detentores de experiências próprias e que são
aproveitadas no processo e a aprendizagem é essencialmente coletiva, assim como é coletiva a
produção do conhecimento.
1.7 Avaliação de aprendizagem e o poder
Um outro dado que não podemos deixar de abordar é a relação da avaliação com
o poder segundo Lima 1996:
“A avaliação se transformou numa poderosa arma para o exercício de
poder sobre as crianças e os jovens, ela vem discutir como as provas e os
testes passaram a dominar o processo de avaliação num primeiro
momento e atualmente, chegando a significar o próprio processo
pedagógico. Os objetivos da escola são as provas e testes, e, assim, tendo
perdido o sentido educativo, a escola perde o controle sobre a disciplina
passando a utilizar-se das provas e testes como instrumento de controle e
poder disciplinar”.[
De acordo com Luckesi (1999), a avaliação que se pratica na escola é a
avaliação da culpa. Aponta, ainda, que as notas são usadas para fundamentar necessidades de
classificação de alunos, onde são comparados desempenhos e não objetivos que se deseja atingir.
Os currículos de nossas escolas têm sido propostos para atender a massificação
do ensino. O planejamento e feito para muitas turmas de alunos numa hierarquia de séries, por
idades, um currículo massificado.
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Segundo Perrenoud (2000), normalmente, define-se o fracasso escolar como a
conseqüência de dificuldades de aprendizagem e como expressão de uma “falta objetiva” de
conhecimentos e de competências. Está visão, impede a compreensão de que ele resulta de
formas e de normas de excelência que foram instituídas pela escola, cuja execução revela
algumas arbitrariedades. As formas de excelência que a escola valoriza, se tornam critérios e
categorias que incidem sobre a aprovação ou reprovação do aluno.
Continua Perrenoud (2000), as classificações escolares refletem às vezes,
desigualdades de competências muito efêmeras, logo não se pode acreditar na avaliação da
escola.
1.8 As avaliações e os dois modelos de tendências: Algumas considerações
No modelo diretivo, o alvo é a promoção dos alunos, a preocupação gira em
torno das notas. Não importa como elas serão alcançadas e nem por qual caminho o aluno passou.
É comum serem utilizadas como instrumentos de poder, ameaça. O Foco são nas provas e às
vezes são utilizadas como objeto de pressão psicológica sobre os alunos.
Com isto as provas são utilizadas como um fator negativo de motivação. Os
alunos estudam pela ameaça da prova, não pelo que a aprendizagem pode lhes trazer de
proveitoso e prazeroso. Estimula o desenvolvimento da submissão e de hábitos de
comportamento físico tenso.
As instituições estão centradas nos resultados das provas e nos exames. O
sistema social se contenta com as notas, pois estas são suficientes para os quadros estatísticos.
No modelo não diretivo o alvo é o aluno, a aprendizagem. A avaliação é vista
como um instrumento de auxilio para saber quais objetivos foram atingidos, quais ainda faltam e
quais as interferências que o professor poderá utilizar para auxiliar os alunos.
A avaliação não é mais um objeto de certificação da consecução de objetivos,
mas é um instrumento de diagnóstico e acompanhamento do processo de aprendizagem.
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As instituições de ensino estão preocupadas com a qualidade, dando ênfase a
inclusão social do aluno.
De acordo com Gadotti (1990) sabemos que a avaliação é essencial à educação,
inerente e indissociável concebida como problematização, questionamento, reflexão, sobre a
ação. Ela se faz necessária para que possamos refletir questionar e transformar nossas ações.
A avaliação é um parâmetro para o professor sobre o seu trabalho. Identificando
como está o desenvolvimento do aluno. Na verdade, a avaliação não é do aluno, mas do
professor. O professor precisa da avaliação como um guia de suas ações educativas. A avaliação
em seu sentido mais comum é um referencial. Mas não é a única forma de avaliar o trabalho do
professor.
O educador deve refletir diariamente em seu dia-a-dia para que a educação e a
construção do conhecimento seja eficaz. Pensar naquilo que foi e não foi eficaz e o que poderia
ter sido feito em uma dada situação.
Toda avaliação é um diálogo entre professor e estudante, portanto um diálogo
entre ímpares. Toda forma de avaliação implica uma resposta por parte dos alunos em ternos de
consideração de si e de contra-avaliação sobre o docente.
A avaliação é, portanto, fundamental para a formação da imagem de si e para
relação com o docente. Pois dado que a avaliação acontece no contexto da classe, a mesma tem
uma influência na imagem de si do estudante mediada pela imagem dos outros.
Nessa perspectiva, a avaliação ajuda o aluno a progredir na aprendizagem, e o
professor aperfeiçoar sua prática pedagógica.
A tomada de decisão é uma tomada de posição, isto é, um estar a favor ou
contra aquilo que foi julgado, sendo que isto implica em três possibilidades: continuar na
situação, introduzir modificações ou suprimir a situação ou objeto. Na avaliação da
aprendizagem, refere-se à decisão do que fazer com o aluno, quando a sua aprendizagem se
manifesta satisfatória ou insatisfatória. Ao se desrespeitar esta etapa, o ato de avaliar não
completará seu ciclo constitutivo.
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HOFFMANN (1993), entende avaliação como uma ação provocativa do
professor, desafiando o aluno a refletir sobre as experiências vividas, a formular e reformular
hipóteses, direcionando para um saber enriquecido.
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