A depressão de BH e o mar de Minas – Revista Ecológico

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Sexta, 28 de março de 2014
A depressão de BH e o mar de Minas
"Eis que me vejo, então, debaixo desse calor colossal, já imaginando Luzia peladinha, fazendo topless na
praia belorizontal."
Antonio Barreto (*) [email protected]
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Na arte, a Igreja da Pampulha banhada pelo mar de Minas - Criação: Sanakan
Dia desses, pesquisando e imaginando como teria sido o território de Beagá na época dos dinossauros, acabei
topando com coisas interessantíssimas. Na verdade, eu tentava achar argumentos para explicar a expressão
“Baixo Belô” – que acabou virando título de um livro que lançaremos em breve, na coleção “BH de Cada Um” –
tão bem bolada pelos multimídias Sílvia Rubião e José Eduardo Gonçalves.
Pois bem. Coisa vai, coisa vem, de repente descubro que Belorizonte, além dos milhares de botecos alto-astrais
que pipocam por aí, possui também uma enorme “depressão”. E, como o assunto é longo, vou pespontá-lo
miudinho, em doses homeopáticas.
http://www.revistaecologico.com.br/materia.php?id=77&secao=1217&mat=1339
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Olha o que descobri: Depressão de Belo Horizonte é o nome que se dá – geologicamente falando – ao largo,
corcovejante, sinuoso e vasto vale que, partindo do ponto máximo da Serra do Curral (1.538 metros acima do
nível do mar) vai se espraiando de sul para norte, de leste para oeste e depois se estende numa sucessão de
morros e colinas pras bandas das serras do Taquaril, do Rola Moça e da Moeda. (Até aí, nada digno de nota.
Todo mundo já sabe disso. E, se não sabe, desconfia.)
Pelo norte, a Depressão também se derriba em costelas e mais costelas de morretes, outeiros e calvários, até
atingir os confins da Serra do Cipó, onde ganha a coluna vertebral do Espinhaço e parte, disparada, esticada,
para os sertões de Guimarães Rosa.
É aí que a coisa começa a ficar interessante...
Dizem, pois, que nesse espaço, no período paleoproterozoico, predominavam as rochas arqueanas (itabiritos,
dolomitos, quartzitos, xistos e filitos) que suportavam o peso dos aguaceiros e das tempestades tenebrosas. E,
pasme, caro leitor: isso tudo desabava sobre um oceano... O verdadeiro Mar de Minas!
É por isso, talvez, que sejamos tão mais orfãos do mar do que pensamos. Veja bem: aí começa o DNA sobejante
do homem ancestral de Lagoa Santa, descoberto no século XIX por Peter Lund. Mais: nessa região, coberta por
um oceano tranquilo, é que estavam ocultos os primeiros traços genéticos, as lembranças remanescentes de
Luzia, nossa ancestral comum. Luzia: primeira mulher brasileira, mineiríssima, descoberta em 1970 por uma
equipe de arqueólogos franco-brasileiros em outra gruta, a da Lapa Vermelha.
Eis que me vejo, então, debaixo desse calor colossal (faz 37 graus enquanto cometo essas mal tecladas linhas), já
imaginando Luzia: peladinha, fazendo topless na praia belorizontal. Olha lá, olha lá... Lá vem Luzia queimadinha
de sol. Moça de 20 anos, olhos arredondados, nariz largo, baixinha (um metro e meio), sestrosa e faceira. Eis a
patricinha (morena, peluda e sem tatuagens, claro!) que já vislumbrava por aqui (há 12 mil anos, na idade da
Pedra Polida) as belezas cretáceas deixadas pelo paleomar de Minas.
Segundo o ilustre professor Cástor Cartelle, paleontólogo da Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUC
Minas), essa região calcária (de sedimentos ricos em carbonato de cálcio e magnésio: o mesmo que aparece
nas grutas) é proveniente do fundo do mar que aqui havia, há dois bilhões de anos.
“Certamente era um mar interno, rasteiro, não muito profundo. E era quente, mais ou menos como o Caribe. Quer
dizer, o Caribe era aqui” – diz o mestre.
Caramba! – me espanto com ele. Mas tem mais...
Na Depressão de Belo Horizonte, há 500 milhões de anos, o mar regrediu, se foi. No entanto, as pedras e as
algas de seu fundo ficaram. Começou então o processo de formação das cavernas. A rocha calcária foi dissolvida
pela água da chuva, das tempestades, das enchentes, dos rios e dos terremotos...
Sim, já tivemos terremotos!
Assim, com milhões de anos de dissolução dos maciços rochosos calcários, formaram-se então as cavidades que
conhecemos como “cavernas” ou “grutas”.
Putzgrila! Só agora entendo por que o amigo José Bento Teixeira de Salles (que acaba de passar para o andar de
cima e a quem dedico essas garatujas) chamava os frequentadores da Gruta Metrópole (o bar onde ele fazia
ponto) de trogloditas.
Só agora entendo porque há tantas grutas espalhadas pela noite de Belô... Coisa de mineiro. E isso é mesmo
cavernoso, muito cavernoso.
Mais cavernoso que a primeira performance poética de que se tem notícia na cidade: um nu artístico masculino,
tramado numa mesa de boteco, por um escritor famosíssimo – e na década de 1920! Pasmem!
Mas isso é assunto para o nosso próximo olhar poético sobre a cidade. Aguardo vocês, mês que vem, neste
mesmo bat-canal, na mesma bat-lua cheia – e na companhia de Luzia, nossa primeira, morena e arqueozoica
BBB. Tim-tim! E até lá!
LEIA TAMBÉM:
De Lucy a Luzia
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