11/4/2014 A depressão de BH e o mar de Minas - Revista Ecológico Quem Somos Assine Expediente Anuncie Prêmio Hugo Werneck Hiram Firmino Consultoria Fale Conosco Notícias Matérias Edições Anteriores Blogs Vídeos Eventos > Edições Anteriores > A vida que goteja > OLHAR POÉTICO Sexta, 28 de março de 2014 A depressão de BH e o mar de Minas "Eis que me vejo, então, debaixo desse calor colossal, já imaginando Luzia peladinha, fazendo topless na praia belorizontal." Antonio Barreto (*) [email protected] Share Share Share Share More 3 Na arte, a Igreja da Pampulha banhada pelo mar de Minas - Criação: Sanakan Dia desses, pesquisando e imaginando como teria sido o território de Beagá na época dos dinossauros, acabei topando com coisas interessantíssimas. Na verdade, eu tentava achar argumentos para explicar a expressão “Baixo Belô” – que acabou virando título de um livro que lançaremos em breve, na coleção “BH de Cada Um” – tão bem bolada pelos multimídias Sílvia Rubião e José Eduardo Gonçalves. Pois bem. Coisa vai, coisa vem, de repente descubro que Belorizonte, além dos milhares de botecos alto-astrais que pipocam por aí, possui também uma enorme “depressão”. E, como o assunto é longo, vou pespontá-lo miudinho, em doses homeopáticas. http://www.revistaecologico.com.br/materia.php?id=77&secao=1217&mat=1339 1/5 11/4/2014 A depressão de BH e o mar de Minas - Revista Ecológico Olha o que descobri: Depressão de Belo Horizonte é o nome que se dá – geologicamente falando – ao largo, corcovejante, sinuoso e vasto vale que, partindo do ponto máximo da Serra do Curral (1.538 metros acima do nível do mar) vai se espraiando de sul para norte, de leste para oeste e depois se estende numa sucessão de morros e colinas pras bandas das serras do Taquaril, do Rola Moça e da Moeda. (Até aí, nada digno de nota. Todo mundo já sabe disso. E, se não sabe, desconfia.) Pelo norte, a Depressão também se derriba em costelas e mais costelas de morretes, outeiros e calvários, até atingir os confins da Serra do Cipó, onde ganha a coluna vertebral do Espinhaço e parte, disparada, esticada, para os sertões de Guimarães Rosa. É aí que a coisa começa a ficar interessante... Dizem, pois, que nesse espaço, no período paleoproterozoico, predominavam as rochas arqueanas (itabiritos, dolomitos, quartzitos, xistos e filitos) que suportavam o peso dos aguaceiros e das tempestades tenebrosas. E, pasme, caro leitor: isso tudo desabava sobre um oceano... O verdadeiro Mar de Minas! É por isso, talvez, que sejamos tão mais orfãos do mar do que pensamos. Veja bem: aí começa o DNA sobejante do homem ancestral de Lagoa Santa, descoberto no século XIX por Peter Lund. Mais: nessa região, coberta por um oceano tranquilo, é que estavam ocultos os primeiros traços genéticos, as lembranças remanescentes de Luzia, nossa ancestral comum. Luzia: primeira mulher brasileira, mineiríssima, descoberta em 1970 por uma equipe de arqueólogos franco-brasileiros em outra gruta, a da Lapa Vermelha. Eis que me vejo, então, debaixo desse calor colossal (faz 37 graus enquanto cometo essas mal tecladas linhas), já imaginando Luzia: peladinha, fazendo topless na praia belorizontal. Olha lá, olha lá... Lá vem Luzia queimadinha de sol. Moça de 20 anos, olhos arredondados, nariz largo, baixinha (um metro e meio), sestrosa e faceira. Eis a patricinha (morena, peluda e sem tatuagens, claro!) que já vislumbrava por aqui (há 12 mil anos, na idade da Pedra Polida) as belezas cretáceas deixadas pelo paleomar de Minas. Segundo o ilustre professor Cástor Cartelle, paleontólogo da Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUC Minas), essa região calcária (de sedimentos ricos em carbonato de cálcio e magnésio: o mesmo que aparece nas grutas) é proveniente do fundo do mar que aqui havia, há dois bilhões de anos. “Certamente era um mar interno, rasteiro, não muito profundo. E era quente, mais ou menos como o Caribe. Quer dizer, o Caribe era aqui” – diz o mestre. Caramba! – me espanto com ele. Mas tem mais... Na Depressão de Belo Horizonte, há 500 milhões de anos, o mar regrediu, se foi. No entanto, as pedras e as algas de seu fundo ficaram. Começou então o processo de formação das cavernas. A rocha calcária foi dissolvida pela água da chuva, das tempestades, das enchentes, dos rios e dos terremotos... Sim, já tivemos terremotos! Assim, com milhões de anos de dissolução dos maciços rochosos calcários, formaram-se então as cavidades que conhecemos como “cavernas” ou “grutas”. Putzgrila! Só agora entendo por que o amigo José Bento Teixeira de Salles (que acaba de passar para o andar de cima e a quem dedico essas garatujas) chamava os frequentadores da Gruta Metrópole (o bar onde ele fazia ponto) de trogloditas. Só agora entendo porque há tantas grutas espalhadas pela noite de Belô... Coisa de mineiro. E isso é mesmo cavernoso, muito cavernoso. Mais cavernoso que a primeira performance poética de que se tem notícia na cidade: um nu artístico masculino, tramado numa mesa de boteco, por um escritor famosíssimo – e na década de 1920! Pasmem! Mas isso é assunto para o nosso próximo olhar poético sobre a cidade. Aguardo vocês, mês que vem, neste mesmo bat-canal, na mesma bat-lua cheia – e na companhia de Luzia, nossa primeira, morena e arqueozoica BBB. Tim-tim! E até lá! LEIA TAMBÉM: De Lucy a Luzia http://www.revistaecologico.com.br/materia.php?id=77&secao=1217&mat=1339 2/5 11/4/2014 A depressão de BH e o mar de Minas - Revista Ecológico Compartilhe Share Share Share Share More 3 Comentários Nenhum comentario cadastrado Escreva um novo comentário Nome Email Comentário Digite o texto da imagem Introduza o texto Enviar comentário Outras matérias desta edição CARTA DO EDITOR O medo hídrico ESPECIAL ÁGUA 2014 Muito sal, pouca água ESPECIAL ÁGUA 2014 Faça as pazes com o hidromêtro ESPECIAL ÁGUA 2014 Sede e escuridão ESPECIAL ÁGUA 2014 Os golfinhos da Amazônia em perigo http://www.revistaecologico.com.br/materia.php?id=77&secao=1217&mat=1339 3/5 11/4/2014 A depressão de BH e o mar de Minas - Revista Ecológico ESPECIAL ÁGUA 2014 As lições da água ESPECIAL ÁGUA 2014 Saber hídrico CONVERSAMENTOS A ética da beleza OLHAR POÉTICO A depressão de BH e o mar de Minas OLHAR EXTERIOR Flores e vespas da Conchinchina Ver todas matérias Navegação Notícias Matérias Edições Anteriores Blogs Vídeos Eventos Quem Somos Assine Expediente Anuncie Prêmio Hugo Werneck Hiram Firmino Consultoria Fale Conosco Rua Jacques Luciano, 276 Sagrada Família 31030-320 Belo Horizonte - MG Redes sociais http://www.revistaecologico.com.br/materia.php?id=77&secao=1217&mat=1339 4/5 11/4/2014 Facebook Revista Ecológico Revista Ecológico A depressão de BH e o mar de Minas - Revista Ecológico Twitter Revista Ecológico Canal Revista Ecológico Google Plus Tel: 31 3481-7755 Parceiros ©2011 Revista Ecológico - Todos os direitos reservados. http://www.revistaecologico.com.br/materia.php?id=77&secao=1217&mat=1339 5/5