Requalificação da edificação – Retrofit

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Requalificação da edificação – Retrofit
dezembro/2014
Requalificação da edificação – Retrofit
Keila Pinho Sousa – [email protected]
MBA Gerenciamento de obras, Tecnologia & Qualidade da Construção.
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Goiânia, GO, 19 de Maio de 2014.
Resumo
A realidade das cidade e a preocupação recente com a sustentabilidade e eficiência dos
edifícios acaba por criar alternativas para requalificar edifícios existentes.Este é um tema
recorrente no setor da construção civil,com investimentos técnicos,científicos e financeiros.O
retrofit ,termo arquitetônico,que apresenta-se como instrumento para customatização de um
edifício existente e que acaba sendo muito utilizado como ferramenta de marketing para
algumas obras,deve levar em consideração parâmetros específicos para o desenvolvimento
de projetos e também a preocupação de custo para estudo de viabilidade,já que o
reaproveitamento de estruturas pré-existentes podem gerar surpresas pela falta de projetos
e/ou as built da edificação em intervenção.Identificar as melhores práticas e metódos
aplicados para um retrofit arquitetônico,com tecnologia que possam conferir eficiência ao
edifício é o objetivo deste trabalho.Análise das melhores formas de trabalhar quando se trata
de aproveitamento de edificações existentes levam a abordar o assunto de forma a quebrar
paradigmas,ainda mais com a adoção no cotidiano dos projetistas de conceitos sustentáveis.
Como procedimento metodológico realizou-se a contextualização sobre o assunto em
bibliografia e normas técnicas,apresentando também um exemplo de autoria própria de
Retrofit.
Palavras-chave: Edifício.Eficiência.Retrofit.Reaproveitamento.Sustentabilidade.
1.Introdução
Reformas e reabilitações de edifícios são práticas comuns e hoje contam com tecnologias para
atualizações de um elemento ou do espaço, podendo torná-los eficientes e também
sustentáveis. O retrofit, segmento que nos Estados Unidos e na Europa é uma prática
avançada, já contam com metodologias desenvolvidas para a forma de projetar. O interesse
por conceitos e métodos para a realização de reabilitação e reformas nasceu da busca por
ferramentas que conferissem tanto a fase de projeto quanto á de obra, métodos a serem
considerados, facilitando tomadas de decisões por todas as partes envolvidas num processo de
Retrofit, que envolve custos e tecnologias construtivas, além de conhecimento
multidisciplinar e experiência dos profissionais envolvidos. Soluções de tecnologia
sustentável conferem atualizações com benefícios a serem considerados.
O trabalho é apoiado em pesquisa bibliográfica no intuito de compreender as melhores
metodologias, ferramentas e procedimentos técnicos, com abordagem para a área
arquitetônica. Artigos científicos nacionais, entrevistas e revistas foram consultados. Para
verificar a viabilidade do Retrofit, foi traçado um panorama de projetos executados,
selecionado um exemplo no exterior, a experiência em retrofit do WalMart e um caso de
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edificação comercial em Goiânia, consistindo em revitalização de edifício projetado
originalmente para abrigar uma academia de Dança,com adaptação do uso, passando a abrigar
um restaurante, sem envolvimento de restauro de patrimônio histórico.
A abordagem integrada torna o Retrofit mais do que uma simples reforma e é esta visão que
se procura discutir ao longo deste trabalho, com recomendações para facilitar e auxiliar a
atividade em futuros projetos e empreendimentos.
2.Abordagem histórica,cultural e econômica
O cenário atual das grandes cidades para a construção de novos edifícios é de poucos terrenos
livres. Uma das soluções para as demandas do mercado é a renovação de edifícios, onde estes
ganham uma nova vida e podem atingir altos padrões tecnológicos e de qualidade. Interesses
do empreendedor em substituição de sistemas prediais ineficientes, mudança de uso do
imóvel, revitalização de prédios abandonados ou estruturas inacabadas, constituem o amplo
campo de aplicação do retrofit.
Na prática, não existe o passado. o que existe ainda hoje e não morreu é o presente
histórico. O que você tem que salvar: aliás, salvar não, preservar – são certas
características típicas de um tempo que pertence ainda à humanidade (BARDI,
2009, p.170).
Existe também o processo de esvaziamento dos edifícios que pode ser por sua degradação,
por sua obsolescência funcional e até por sua obsolescência energética, principalmente em
função das atuais exigências de sustentabilidade ambiental. Como forma de reverter esse
processo, processos de intervenções podem ser feitas, de diversas formas e aspectos,
conhecidos em seu conjunto como reabilitação.
Atrelado ao boom imobiliário, o mercado de retrofit vem crescendo nos grandes
centros urbanos do País, onde as áreas para novos empreendimentos estão cada vez
mais escassas e caras. Disputados pelos investidores do setor imobiliário, esses
edifícios antigos, depois de modernizados, oferecem, além de localização
privilegiada, retorno do investimento após um período curto de obra. (MOURA,
2008,p.30)
As boas práticas de construções sustentáveis são muito utilizadas para novas edificações. Ao
requalificar edifícios existentes, conceitos sustentáveis podem ser atribuídos, conferindo-lhes
qualidades e conforto. Outro aspecto importante a ser abordado é que a recuperação de
edificações existentes reduz custos em relação a uma nova e no caso de edifícios históricos,
conferem condições de uso ou novos usos com facilidades não previstas.
Para Dias et al. (2007) o patrimônio construído é um “capital concentrado” que
possui um potencial de reabilitação, reciclagem e reutilização que não pode ser
deixado de lado.Afirma ainda que manter o existente é mais importante que
construir o novo, pois os custos sociais da conservação e da reutilização são menores
que os da transformação e substituição de estruturas urbanas. Esta solução
arquitetônica de reabilitação de edifícios pode ser considerada em duas situações
distintas, quando a recuperação reduz custo em comparação com uma construção
nova, ou no caso de uma edificação histórica, cria condições para novas funções e
facilita seu uso.(CARVALHO,2010,p.1-2 )
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O termo retrofit foi utilizado primeiramente na indústria aeronáutica, referindo-se a adaptação
de novos equipamentos e modernos equipamentos nas aeronaves existentes. Depois o termo
passou a ser utilizados em outras indústrias e também na da construção civil.
Em países europeus, entre os quais França, Itália, Noruega, Reino Unido e Suécia,
importantes investimentos visando à recuperação de edifícios e de seu entorno têm
sido realizados desde a década de 70. Nesses países, os recursos destinados à
reabilitação equiparam-se aos destinados a construções novas .(JESUS,2011,p.58)
Nos Estados Unidos e Europa, a prática do retrofit no mercado dos processos construtivos
ganhou destaque no final década de 90, com a legislação proibindo que o rico acervo
arquitetônico pudesse ser substituído, colaborando com a prática e crescimento deste campo
de atuação, favorecendo a preservação do patrimônio arquitetônico, utilização de edifícios
abandonados e revitalização não só de edifícios, mas também de áreas degradadas.
Vários fatores colaboram para a um retrofit, tais como: aproveitamento da infraestrutura
existente, localização e valorização da área, impacto na paisagem urbana, preservação do
patrimônio histórico e cultural, sustentabilidade ambiental, economia nos processos
construtivos.
Muito conhecidas são as revitalizações de grandes áreas urbanas, como Porto Madero em
Buenos Aires, que na década de 90 sofreu intervenções tanto nos edifícios como na estrutura
urbana, tendo como consequência a revitalização de toda a área degradada anteriormente num
complexo multifuncional, voltado para o turismo, comércio e residencial. Houve investimento
estrangeiro que reabilitou a paisagem urbana e recuperou armazéns que se transformaram em
elegantes residências, escritórios, hotéis de luxo e restaurantes. No Brasil, temos como
exemplo Vale do Anhangabaú que na década de 80 foi revitalizada de acordo com projeto
finalista de um concurso realizado pela Prefeitura de São Paulo e recentemente sofreu um
Retrofit de iluminação do que promoveu melhoria no nível de iluminância e não demandou
um alto investimento, já que as lâmpadas adotadas se adaptaram ao sistema já existente,
dispensando a troca de postes, reatores e luminárias. Novos estudos foram apresentados em
novo Concurso em 2011 com propostas para revitalizar a área com implantação de bares e
cafés no calçadão e espaço para show embaixo do Viaduto do Chá.
Nesta última década, alguns edifícios considerados patrimônio cultural foram
restaurados ou recuperados com esse novo conceito de reforma. Entre tantos, estão a
Bolsa de Mercadorias & Futuros, a Estação Júlio Prestes, o DOPS (Departamento de
Ordem Política e Social), a Sala São Paulo (na Estação Julio Prestes), a Pinacoteca
do Estado (na Estação da Luz) e outras edificações tão significativas quanto essas,
espalhadas pelo Brasil.(SANCHEZ,2004,pag.1)
O retrofit figura como uma ferramenta importante na atualização de edifícios existentes e
também na adoção de conceitos de sustentabilidade e em longo prazo existirá um equilíbrio
entre projetos com estes conceitos, com a adoção na prática dos projetos e na indústria da
Construção civil para novos empreendimentos. Alterações e novas legislações para encorajar
o desenvolvimento sustentável é o gatilho para mudança de paradigmas nos conceitos de
projetos sustentáveis e também é um fator a contribuir para a tomada de decisão dos
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empreendedores. Quando o conceito de sustentabilidade foi apresentado ao mundo, há quinze
anos, o eixo central dos projetos era a redução no uso de energia, com a ética ambiental
atritando com o orçamento. Ganhos financeiros com conceitos ambientais crescem de
importância e os benefícios ambientais como a redução da emissão de Carbono e melhoria da
qualidade do ar vêm em segundo plano, o eixo principal continua sendo o fator econômico. O
principal agente de mercado é o incentivo do poder público local como agente econômico e
fomentador do processo da indústria da Construção Civil. Os governos têm a capacidade e as
ferramentas para incentivar as mudanças do uso de conceitos sustentáveis com leis de
incentivo e são estes os grandes atrativos para os empreendedores, que permanecem nas
linhas das exigências e os incentivos são determinantes para o mercado e a geração de
empregos. Os especialistas no assunto esperam um crescimento na área de retrofit e qualidade
ambiental com aporte de recursos, melhorando as atividades de recursos humanos com
preenchimento da lacuna do conhecimento para esta área.
No Brasil, o sistema de avaliação mais difundido é o americano Leadership in
Energy and Environmental Design (LEED) seguido pelo AQUA, que é uma
adaptação do francês Haute Qualité Environnementale (HQE). Em ambos os
sistemas o edifício é considerado sustentável se alcançar um determinado número de
pontos de um check-list padrão. Vale ressaltar que no Brasil, vários edifícios novos
têm sido projetados e construídos visando à certificação, mas para edificações
históricas ainda não se tem conhecimento de nenhum tipo de ação nesta direção.
Apesar da preocupação crescente com o aumento da eficiência dos edifícios novos,
os edifícios antigos e tombados não recebem a mesma atenção, ainda que a simples
preservação desse patrimônio construído já promova a sustentabilidade nos aspectos
cultural, econômico e ambiental.(CARVALHO,2010,p.1-2 )
As diretrizes chaves que influenciam as tomadas de decisão para investimento em Retrofit
variam de acordo com o tipo da obra e características econômicas do empreendedor. Como
resultado algumas estratégias são mais eficientes que outras quando se tenta influenciar as
decisões para esta atividade com todos os envolvidos.
3. Conceitos
“O retrofit, como é chamada a técnica de recuperação de edificações, é a busca pela
eficiência do edifício e a adaptação às necessidades dos usuários, dentro das limitações físicas
de sua estrutura.” (ESTEVES E LOMARDO, 2009). As alterações em edifícios existentes
podem resultar na melhora da eficiência energética, redução do consumo de água, melhora no
conforto e a qualidade dos espaços em termos de luz natural, qualidade do ar, diminuição do
barulho, alterações que beneficie o bem estar do usuário. A construção e equipamento devem
ter qualidades para conferir estes atributos.
A primeira discussão sobre retrofit diz respeito à sua definição, surgindo dessa
forma alguns questionamentos: os diferentes tipos de intervenção num edifício
acabado são todos considerados como retrofit? Quando se fala em renovação, fala-se
em retrofit? Qual a diferença entre renovação, retrofit e reabilitação? As operações
de restauro coincidem com alguma dessas? Buscando conceituar esses termos para
facilitar a explicação do objeto deste artigo, adotam-se,baseado em bibliografia
francesa e suíça (Choay, 1992 e Koelliker et al, 1999), as seguintes definições:
reabilitação: ação de restabelecer o empreendimento ao seu estado de origem,
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utilizando tecnologias disponíveis, restabelecendo seu valor venal e prolongando sua
vida útil, mas não necessariamente incorporando novas tecnologias;
renovação: ação de restabelecer o empreendimento ao "novo" por "profundas"
transformações que tornam o empreendimento em melhor estado e com "novo"
aspecto, incorporando modernas tecnologias. A renovação, diferente da restauração,
é sinônimo de perda de características históricas;
restauro: ação de restabelecer o edifício ao estado original, buscando salvaguardar
tanto a obra de arte quanto o testemunho histórico. As operações de restauro são
geralmente feitas em edifícios tombados como patrimônio histórico e devem
obedecer às regras específicas ditadas em documentos como a Carta de Veneza de
maio de 1964.(OLIVEIRA,2008,p.1)
As reabilitações acontecem porque o edifício já não atende a algumas exigências de
desempenho, de durabilidade, de segurança, de uso ou outros. Utilização de conceitos de
sustentabilidade em reabilitações podem não alcançar o mesmo desempenho que em novas
obras. Condições de conforto satisfatório estão ligadas a fase de projeto, onde já são pensadas
soluções para atender tais premissas. Na obra pronta, medidas serão tomadas para melhorar as
condições de conforto.
A norma de desempenho brasileira (NBR 157575-1) define retrofit como
remodelação ou atualização do edifício ou de sistemas, pela incorporação de novas
tecnologias e conceitos, o qual, normalmente visa valorização do imóvel, mudança
de uso, aumento da vida útil e melhoria da eficiência operacional e energética.(
OLIVEIRA,2008,p.1)
“Para a melhor compreensão e entendimento do leitor, Vale (2006) conceituou algumas
definições relacionadas ao retrofit. Por períodos e épocas surgem novas expressões para
substituir uma velha, que saiu de moda ou já foi usada demais, ficando ultrapassada.”
(MORAES E QUELHAS, 2011)
Diagnóstico: Descrição do problema patológico incluindo sintomas,
causas,mecanismo e caracterização da gravidade do problema;
Conservação: De caráter sistêmico, corresponde a um conjunto de açõe destinadas
ao prolongamento do desempenho da edificação, auxiliando assim, o processo de
controle da construção;
Manutenção: Conjunto de ações com o objetivo de reduzir a velocidade de
deterioração dos materiais e de partes das edificações. Esta pode ser subdividida em:
manutenção preventiva (ideal) e na manutenção corretiva;
Profilaxia: Forma de organização, através da listagem de todos os materiais e
procedimentos necessários, visando à correção de anomalias existente;
Reforma: Intervenção que consiste na restituição do imóvel à sua condiçãoriginal;
Reparos: Intervenções pontuais em patologias localizadas;
Reconstrução: Renovação total ou parcial das edificações desativadas ou destinadas
à reabilitação.
Recuperação: Compreende a correção das patologias de modo a reconduzir a
edificação a seu estado de equilíbrio;
Reabilitação: Ações com o objetivo de recuperar e beneficiar edificações, por meio
de mecanismos de atualização tecnológica;
Restauração: Corresponde a um conjunto de ações desenvolvidas de modo a
recuperar a imagem, a concepção original ou o momento áureo da história da
edificação em questão. A expressão tem sua utilização no que se refere a
intervenções em obras de arte.
Terapia: Procedimento que visa às especificações para recuperação e eliminação dos
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problemas patológicos das edificações.(MORAES E QUELHAS,2011,p.6-7)
Podemos definir o retrofit como a intervenção para uma benfeitoria, com adaptações atuais à
época de execução. É a transformação do velho em novo, com adaptações tecnológicas e
conceitos de sustentabilidade. Existe um amplo campo para aplicabilidade do processo de
retrofit, que se justifica pelo aproveitamento da infraestrutura existente e localização,
paisagem urbana, preservação do patrimônio histórico ou cultural, economia no processo de
demolição/reconstrução total da edificação, sustentabilidade ambiental e déficit habitacional.
O processo do retrofit tem o sentido de renovação e o estudo de viabilidade se destaca em
importância para o sucesso do empreendimento. O objeto a ser requalificado com métodos
que podem customizar adaptar e/ou modificar a ocupação, deve ter definido o conceito do
projeto, analisado a viabilidade comercial da proposta e com verificação da vocação da área
de ocupação. Feito isto, deve ser analisado os critérios de aproveitamento de materiais e de
sistemas e quais melhorias serão implantadas e os custos envolvidos.
4. Metodologia para um Retrofit
“ O processo de produção de um empreendimento de reabilitação é bastante distinto do de um
edifício novo, demandando o desenvolvimento de novos parâmetros tecnológicos, de gestão e
de custos.” (JESUS E BARROS,2011). As maneiras de execução das tarefas não são
diferentes e sim as condições de trabalho e o planejamento das etapas. Também podem
ocorrer imprevistos e para minimizá-los, um bom levantamento e projetos bem coordenados
são fundamentais. “Ainda, no processo de renovação e/ou reabilitação deve-se analisar a
viabilidade técnico econômica dessas operações. Para tanto, quanto menos for necessário
interferir nas fundações e na estrutura do edifício, maior a probabilidade de que essas
operações sejam viáveis.”(OLIVEIRA,THOMAZ E MELHADO,2008)
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Figura 1 – Comparativo entre obra tradicional e Retrofit
Fonte: Nakamura (2011)
Deve ser realizado um minucioso levantamento de dados relacionado a edificação e no caso
de edifícios históricos,também devem ser levantadas elementos artísticos e de dados que
fazem parte de seu acervo.Riscos e dificuldades para reabilitar uma edificação estão
associadas a desconhecimento técnico das características da obra e a falta de diagnóstico das
condições físicas.
Além dos custos envolvidos, os aspectos construtivos também são relevantes na
produção dos sistemas prediais. Ao contrário de uma obra nova, em que a produção
dos sistemas prediais usualmente é compatibilizada com os demais subsistemas, na
reabilitação a estrutura está pronta e muito da vedação vertical pode ser
aproveitada.(JESUS E BARROS,2010,p.2)
Com o aproveitamento das vedações verticais e a alocação das instalações segundo um novo
layout,pode ocorrer inúmeros cortes e isto pode gerar o aumento dos custos dos
revestimentos. “É evidente, portanto, que os serviços relativos aos sistemas prediais têm
grande interação seja com a estrutura, seja com as vedações, o que confirma sua relevância
em todas as fases do empreendimento.” (JESUS E BARROS, 2010)
Vários fatores justificam o uso do processo do retrofit destacando-se:
-Aproveitamento da infra·estrutura existente no entorno e da sua localização;
-Impacto na paisagem urbana;
-Preservação do patrimônio histórico e cultural;
-Déficit habitacional e a sustentabilidade ambiental;
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-Mais econômica e eficiente do que a
reconstrução.(MORAES E QUELHAS,2011,p.7)
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demolição
seguida
de
uma
Para um bom início de projeto e de obra, um bom relacionamento deve ser desenvolvido entre
projetistas, construtores e empreendedores. Há passos claros que podem contribuir para
construir este relacionamento de confiança. Segui-los podem levar a discussões produtivas e
aprovação dos estudos e custos do retrofit. Deve-se entender todas as necessidades, para o
progresso ser alcançado cada parte precisa entender os outros desejos e necessidades em
termos de melhorar o desempenho ambiental e utilizar recursos e tecnologias sustentáveis.
Envolver-se o mais cedo possível: retrofit não pode acontecer sem consentimento de ambas às
partes; portanto, os proprietários precisam apresentar suas ideias e objetivos. Enquanto as
reuniões podem ser facilitadas por gerentes da obra ou de projeto é preferível que
representantes dos proprietários se envolvam diretamente. Raciocínio claro, articulado e
desejo de retrofit funciona: os envolvidos no processo precisam compreender claramente os
benefícios. Os projetos mais bem-sucedidos foram onde o resultado tem sido focado na
redução de custos operacionais e não apenas em benefícios ambientais. Concordar com
objetivos escolhidos já que na maioria dos casos, os empreendedores vão financiar parte ou a
totalidade do custo do retrofit. Eles devem primeiro concordar as metas do projeto, um
mecanismo para tratar preocupações de financiamento e os critérios de avaliação. Assegurar a
transparência do projeto: todo o processo deve ser transparente e ambas as partes devem estar
de acordo.
Devem-se analisar as técnicas construtivas e métodos a serem utilizados de maneira a não
gerar desperdícios de materiais e de mão de obra. Questionar, investigar, pesquisar são os prérequisitos para o desenvolvimento de um Retrofit. Vantagens e desvantagens devem ser
levantadas, assim como custos envolvidos.
Geralmente o retrofit é uma situação considerada quando a reforma tem custos menores em
relação a uma construção nova e também quando conferem recursos tecnológicos a uma
construção antiga ou até mesmo histórica. O tempo de retorno do capital investido é levado
em consideração, terminologia conhecida como payback,que mostra o período necessário para
recuperar os investimentos.
Segundo McGrall-HIII Construction ,o WalMart tem investido na área de retrofit e eficiência
energética nas suas construções nos Estados Unidos.Seus esforços são para que entre três mil
prédios, novos e existentes tenham incorporados técnicas de construção sustentável como
meta para os últimos quatro anos.Seus esforços são focados em energia,economia de água e
conservação de recursos.Mesmo declarando queda de vendas nas suas lojas nos Estados
Unidos,ainda que no exterior não,o compromisso se mantém mesmo na recessão americana.O
objetivo e a meta ao longo dos anos demonstraram que estes melhoramentos podem trazer
uma boa imagem para os negócios, para um varejista como o WalMart ,mesmo em recessão.
Dos projetos de construção do WalMart acompanhados por um estudo especializado, 15% são
de novos prédios, 4% ampliações e 81% de retrofit, demonstrando a importância da melhora
da eficiência energética em edifícios existentes para a empresa. O número de novas lojas e
ampliações no período de 2009 e 2010 se manteve relativamente estável, mas este nível teve
um decréscimo significativo comparado com os projetos que começaram em 2008. Em
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contrapartida, os projetos de renovação tem crescido de forma estável durante o mesmo
período.Este padrão é consistente com o aumento em trabalhos de renovação e diminuição de
novos prédios entre a indústria da construção civil não residencial em geral desde o começo
da recessão americana,refletindo num amplo impulso para focar no melhoramento de
edificações em resposta a economia em declínio.
Figura 2 – WalMart projetos
Fonte: McGrall-HIII Construction (2011)
As principais tecnologias utilizadas nos projetos de retrofit do WalMart são: 1.eficiência
energética: Utilização de dispositivos ,lâmpadas e dimmers, que diminuem o consumo de
energia.Utilizado tanto nos projetos de renovação quanto em novas lojas.Diferente da
iluminação,outras tecnologias são empregadas mais frequentemente para aumentar a
performance dos novos edifícios do que nas reformas de prédios existentes,como refrigeração
de alta eficiência,tanque de água quente,antecâmaras e claraboias; 2.Energia renovável :
painéis solares e energia eólica são instalados por empresas que fornecem painéis,instalações
e tecnologia em troca da venda de energia mais barata do que o ofertado no mercado, graças a
parceria destas com o WalMart ; 3.Água :investimento em conservação e manejo da
água,com implantação de dispositivos de economia de água com descargas de menor fluxo.
Como auxilio na metodologia de desenvolvimento de projetos e avaliação dos investimentos,
perguntas e questionamentos são sempre necessários. O Histórico do edifício tem um papel
fundamental para o Retrofit, sendo necessário levantamento métrico da edificação, que é
traduzido em plantas originais, cortes e fachadas, levantamentos cadastrais das instalações
existentes (elétrica, hidráulica e sanitária), e quando se trata de edifício histórico, também é
necessário o levantamento dos elementos artísticos pertencentes àquela edificação, pois faz
parte de seu acervo e de sua história. É fundamental contar com um levantamento fiel das
condições do imóvel e com um conjunto de projetos bem coordenados. Segue quadro resumo
com informações de investigações necessárias quanto se fala de um Retrofit.
Devem-se verificar limitações e restrições que possam existir impostas por diversas razões.
Muitas vezes existem restrições em se trabalhar com projeto de outra autoria ou divergência
em relação a legislação atual e a do momento do antigo projeto.Outro ponto de suma
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importância é o levantamento estrutural ,já que podem existir limitações da antiga estrutura
ou o novo projeto e a distribuição de cargas podem impactar na estrutura em função da nova
distribuição dos espaços.
Figura 3 – Questões para elaboração de questionário
Fonte: Moraes e Quelhas (2011)
5. Caracterização empreendimento analisado
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A partir de um exemplo de projeto de Retrofit de um edifício originalmente na área de
Educação e Esporte para uso do Setor Comercial, especificamente para um Restaurante, onde
foi trabalhada nova organização dos espaços, espera-se evidenciar a importância dos
processos e métodos verificados no partido do projeto, na organização de fluxos e
funcionamentos relativos ao novo uso.
A escolha da área para implantação do restaurante levou em consideração a localização, Setor
Oeste, área residencial adensada com boa infraestrutura. Esta é uma questão relativa ao
Retrofit, com a escolha de áreas bem localizadas. Outro fator que pesou para a escolha da
reforma foi o prazo para início do funcionamento do restaurante e o aproveitamento de
edificação existente mostrou-se viável devido ao uso original da edificação, Escola de Dança,
composto de três grandes salões e conjunto de banheiros para atendimento dos alunos, com
área construída de 394 m². Após a realização do levantamento técnico da edificação e
consulta as legislações vigentes na cidade de Goiânia, alguns parâmetros foram adotados para
o estudo da proposta. Os sanitários seriam locados na mesma área dos vestiários dos alunos,
aproveitando algumas instalações hidráulicas, principalmente o encaminhamento vindo da
caixa d’água. Também houve a necessidade de aumento da área construída para atendimento
do programa de necessidades.
Figura 4 - Planta modificativo projeto Casa da Esfiha
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Fonte:O autor (2012)
Acréscimos foram pensados para as áreas de salão de atendimento, funcionando como
varandas, dispensando a utilização de vedações. A alocação inteligente do espaço que seria
utilizado pelos funcionários e equipamentos também foi uma preocupação, com cuidado com
os fluxos dos serviços de atendimento das mesas e serviços de delivery. Considerações que
pesaram para o partido foi não alterar o local existente da caixa d’água e estrutura envolvida
nesta área que representaria um aumento de custo.Também foi preservado o átrio central da
escola que passou a ser o espaço para caixa e hall dos sanitários públicos.Houve também uma
preocupação com acessibilidade e neste fato, o uso original da edificação contribuiu para as
medidas adotadas,sendo a intervenção maior nos sanitários com a criação de Box PCD.A
reorganização dos espaços ocorreu de forma a privilegiar o fluxo do trabalho com ganho de
produtividade. As áreas de iluminação foram aumentadas com criação de grandes janelas para
beneficiar a iluminação natural, algo deficiente na construção original.
Figura 5 – Planta Layout Cada da Esfiha
Fonte: O autor (2012)
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Houve preocupação com a melhor utilização do espaço disponível procurando maior
produtividade, com fluxo de serviço mais racional e boas condições de trabalho, facilitando a
comunicação e apoio das atividades que se interligam e reduzindo movimentação. Com a
proposta de acréscimos de área, o restaurante ficou com área de 557m²,tendo um aumento de
163 m² na sua área total de ocupação.
Para as atividades da obra houveram as seguintes intervenções:
Demolição- Aconteceram atividades de remoção de alvenaria, de acabamentos de pisos e
paredes, esquadrias e vidros. Bacias sanitárias e bancadas também foram removidas.
Terraplenagem - Houve a necessidade de nivelar o terreno no espaço destinado ao jardim
interno e a varanda externa. Também aconteceram cortes do terreno para encaminhamento de
tubulação de gás, inexistente originalmente.
Canteiro de obras – Ocupou um dos salões e com o avanço da obra, houve alterações na sua
locação.
Estrutura-Necessidade de reforço com as aberturas criadas e demolições de paredes para
integração de ambientes.
Fechamentos- Houve situações de aproveitamento de vedações e também criação de novas
paredes, utilizou-se bloco de concreto, técnica utilizada originalmente e também gesso
acartonado para alguns ambientes internos.
Iluminação- Com aumento das aberturas e tendo como fechamento vidros, aumentou-se a
iluminação natural dos salões de atendimento ao público. Também se acrescentou varandas
para o público, que tem aproveitamento de luz natural e ventilação. No átrio central, a
claraboia existente foi revitalizada, com troca da telha transparente por painel de
policarbonato translúcido e instalação de pergolado ripado de madeira para diminuir a
incidência da radiação solar. Todas as lâmpadas e luminárias foram trocadas, com utilização
de lâmpadas econômicas.
Revestimentos internos- Todos os revestimentos das áreas molhadas existentes foram
trocados, além da utilização destes nas novas áreas molhadas criadas.Todo o piso também foi
removido e substituído por novos revestimentos.Nas áreas externas foi utilizado Pedra
Portuguesa que tem a característica de ser 25% drenante (permeável).
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Figura 6 – Fachadas Casa da Esfiha
Fonte: O autor (2012)
Janelas e vidros- O projeto contemplou a substituição dos vidros e das esquadrias e uma
caixilharia foi especialmente desenhada para hall de acesso do restaurante.
Cobertura- Foi aproveitada a cobertura existente e nas áreas de acréscimo utilizou-se telha
metálica com tratamento termo-acústica. Na claraboia, a telha translúcida foi substituída por
policarbonato de vidro.
Forros - Os forros de gesso dos salões de atendimento ao público foram aproveitados. Novo
forro foi criado para os sanitários públicos e cozinha.
Pintura-Todo o edifício foi pintado novamente.
Fachadas- Pintura externa nova, criação das varandas e acesso do empreendimento.
Paisagismo-Nos canteiros existentes foram aproveitadas as plantas que lá estavam e novas
mudas foram adquiridas, tanto para a área externa quanto interna do edifício. Para a varanda,
localizada na fachada oeste, foram escolhidas árvores para sombrear a área no período da
tarde.
Sistema hidráulico e ar condicionado – Novas instalações de água e esgoto para a cozinha e
vestiários, renovação de parte do sistema de água dos sanitários públicos. Instalação de
equipamentos de ar condicionado e cortina de ar nos salões de atendimento ao público.
Sistema Elétrico - Substituição de todo o cabeamento de elétrica e telefonia, instalação de
novas caixas de distribuição capazes de suportar a maior quantidade de cabos para os
equipamentos necessários. Criação de rede de dados.
Foi identificado oportunidades de redução de custos e de tempo de obra, que também consiste
num fator de economia. A modernização das instalações dos sistemas elétricos conferiu
segurança para o desenvolvimento das atividades planejadas.
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6. Conclusão
A qualidade nas edificações são características que transmitem conforto e segurança aos
usuários. Requalificá-las vem sendo prática no mercado da Construção Civil e a realização do
trabalho demonstrou que este processo e as suas etapas na fase de concepção e construção
levam a criação de metodologias para devolver ou criar nas edificações estas qualidades.
Com apresentação de referências nacionais e internacionais, propõe-se levar a reflexão sobre
as necessidades dos investimentos técnico, científicos e financeiros necessários para o
crescimento deste mercado, principalmente quando se comparado com as práticas do mercado
no exterior, cujo desenvolvimento de conceitos de sustentabilidade aplicados à melhoria da
eficiência das edificações contam com apoio e incentivo dos governos mais do que se vê na
realidade brasileira.
A breve abordagem da discussão teórica sobre o Retrofit, com a aplicabilidade de conceitos
para a nossa realidade, tende a facilitar a compreensão das etapas necessárias para a aplicação
de novas tecnologias que estão sendo implantadas e que acabam sendo características
importantes quando se falam de aproveitamento de uma edificação.
Espera-se a compreensão que o processo do Retrofit utiliza de conceitos de sustentabilidade
de baixo impacto ambiental, que podem ser aprimorados. A incorporação plena de aspectos
ambientais envolvem parâmetros estéticos e técnicos a ser trabalhado de forma coesa e
harmônica.
A ideia central foi tentar esclarecer as várias faces do Retrofit. Conceitos e tecnologias que
são apresentadas ao mercado do novo são e sempre serão o desafio para os projetistas na
adaptação e reabilitação do espaço pré-concebido. Este processo de mudança e renovação é o
grande desafio para qual os arquitetos e engenheiros envolvidos devem procurar compreender
e fundamentar suas decisões.
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