28 MINISTÉRIO DA SAÚDE FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA DEPARTAMENTO DE EPIDEMIOLOGIA E MÉTODOS QUANTITATIVOS EM SAÚDE Luis Gonzaga de Moura Junior QUALIDADE DE VIDA E CÂNCER DE MAMA: UMA COMPARAÇÃO ENTRE MULHERES COM E SEM LINFEDEMA Rio de Janeiro 2007 1 Luis Gonzaga de Moura Junior QUALIDADE DE VIDA E CÂNCER DE MAMA: UMA COMPARAÇÃO ENTRE MULHERES COM E SEM LINFEDEMA Dissertação apresentada à Escola Nacional de Saúde Pública, como requisito parcial à obtenção do grau de mestre em saúde pública, subárea epidemiologia Orientadora: Profa. Dra. Inês Echenique Mattos Banca Examinadora: Profa. Dra. Inês Echenique Mattos Profa. Dra. Rosalina Jorge Koifman Profa. Dra. Anke Bergmann Rio de Janeiro 2007 2 RESUMO No Brasil, o câncer de mama é a segunda localização de câncer mais incidente na população feminina. Nos últimos anos, tem aumentado a sobrevida livre de doença, despertando o interesse em investigar a qualidade de vida de pacientes tratadas. O objetivo deste estudo é avaliar a qualidade de vida em uma coorte de mulheres submetidas a tratamento cirúrgico para câncer de mama, para verificar possíveis diferenças derivadas do desenvolvimento de linfedema de membro superior. A população de estudo foi constituída por 549 mulheres oriundas de uma coorte constituída em 2001, para estudar a incidência de linfedema. Todas as participantes realizaram exame físico com fisioterapeuta, para caracterização da presença de linfedema. A definição dos casos de linfedema teve como base a perimetria dos membros superiores. As participantes foram entrevistadas para coleta de dados sócio-demográficos, sendo aplicado o questionário de qualidade de vida EORTC QLQ C-30 e o módulo BR-23. Informações sobre as características do tratamento e demais variáveis clínicas foram obtidas nos prontuários médicos. Os escores de qualidade de vida das pacientes foram agregados e transformados em valores em uma escala de 0 a 100 pontos. Para cada item do questionário foram calculadas medidas de tendência central e dispersão. Foram verificadas possíveis diferenças de qualidade de vida entre mulheres com e sem linfedema. A magnitude das associações entre as variáveis foi explorada através de razões de prevalência e se analisou diferenças entre os escores médios dos itens do questionário entre as mulheres com e sem essa patologia. A média de qualidade de vida global foi de 75,2 pontos e a mediana de 75,0; entre mulheres com linfedema, estes valores corresponderam a 72,4 e 86,7, respectivamente. Estudos adicionais devem ser realizados, utilizando questionários que contemplem questões voltadas para a vida social das pacientes, uma vez que esse parece ser um dos principais problemas encontrados em relação à qualidade de vida. 3 ABSTRACT In Brazil, breast cancer is the second most common cancer among women. In recent years, there has been an increase in progression-free survival of the disease, raising interest in the quality of life of patients treated for it. The objective of this study was to evaluate the quality of life in a cohort of women who received surgical treatment for breast cancer in order to verify any possible differences arising from the development of lymphedema of the upper extremities. The study population consisted of 549 women from a cohort formed in 2001 for the purpose of studying the incidence of lymphedema. All participants underwent a physical exam with a physiotherapist to check for the presence of lymphedema. The perimetry of the upper extremities was used as a base for defining cases of lymphedema. Participants were interviewed to collect sociodemographic data, using the EORTC QLQ C-30 questionnaire about quality of life and the BR23 module. Information about the type of treatment and other clinical variables was obtained from medical records. The quality of life scores of the patients were aggregated and transformed into values on a 0–100 point scale. Measures of central tendency and dispersion were calculated for each item on the questionnaire. Possible differences between the quality of life for women with and without lymphedema were verified. Prevalence ratios were used to explore the magnitude of associations between the different variables, and differences in the average scores for the individual questions between women with and without this pathology were analyzed. The average global quality of life was 75.2 points, with a median of 75.0; for women with lymphedema, these values were 72.4 and 86.7, respectively. Additional studies are needed that use instruments oriented towards the social life of the patients, since this seems to be one of the principal areas in which they experience problems with quality of life. 4 LISTA DE QUADROS E TABELAS QUADRO 1 – Características gerais do estudo revisados.............................................................21 QUADRO 2 – Variáveis relacionadas à queda da qualidade de vida nos estudos revisados.........24 QUADRO 3 – Fatores que influenciaram a qualidade de vida das pacientes................................28 QUADRO 4 – População de estudo...............................................................................................38 ARTIGO TABELA 1 – Distribuição das características sócio-demográficas e clínicas das mulheres tratadas para câncer de mama, segundo presença ou ausência de linfedema de membro superior.............53 TABELA 2 – Médias e medianas dos escores de qualidade de vida na população de estudo e entre as pacientes com e sem linfedema de membro superior........................................................55 TABELA 3 – Prevalência de escores de qualidade de vida e das sub-escalas do questionário EORTC QLQ C-30 e BR-23 inferiores a 75 pontos em mulheres com linfedema e razões de prevalência entre grupos com e sem linfedema..............................................................................57 TABELA 4 – Razão de prevalência bruta de escore de qualidade de vida global inferior a 75 pontos entre mulheres com e sem linfedema de razões de prevalência ajustadas para variáveis estado conjugal, profissão e realização de radioterapia..................................................................59 5 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 6 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................. 7 2.1 EPIDEMIOLOGIA DO LINFEDEMA ............................................................................ 7 2.2 QUALIDADE DE VIDA E LIFEDEMA ....................................................................... 11 2.3 QUALIDADE DE VIDA EM MULHERES TRATADAS PARA CÂNCER DE MAMA.......................................................................................................................................13 3 3 JUSTIFICATIVA ................................................................................................................. 29 4 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 30 4.1 OBJETIVOS GERAIS .................................................................................................... 30 4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................... 30 5 METODOLOGIA................................................................................................................ 31 5.1 POPULAÇÃO DE ESTUDO ......................................................................................... 31 5.2 COLETA DE DADOS.................................................................................................... 32 5.3 VARIÁVEIS DO ESTUDO ........................................................................................... 33 5.3.1 Variáveis coletadas na entrevista com as pacientes ............................................ 33 5.3.2 Variáveis coletadas nos prontuários médicos das pacientes .............................. 34 5.3.3 Variáveis coletadas a partir do exame fisioterapêutico ..................................... 34 5.3.4 Questionário de qualidade de vida ....................................................................... 35 5.4 ANÁLISE DE DADOS .................................................................................................. 36 6 ARTIGO ............................................................................................................................... 39 RESUMO........................................................................................................................................40 ABSTRACT...................................................................................................................................41 INTRODUÇÃO..............................................................................................................................42 MATERIAIS E MÉTODOS...........................................................................................................43 ANÁLISE ESTATÍSTICA.............................................................................................................44 RESULTADOS..............................................................................................................................45 DISCUSSÃO..................................................................................................................................46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................................50 7 CONCLUSÃO...................................................................................................................60 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................61 ANEXO A - Questionário de coleta de dados sócio demográficos................................................66 ANEXO B - Instrumento de coleta de dados da avaliação física...................................................67 ANEXO C - Instrumento de coleta de dados do tratamento..........................................................68 ANEXO D - Questionário EORTC QLQ C-30..............................................................................69 ANEXO E - Questionário BR-23...................................................................................................71 6 1 INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, o aumento da ocorrência de doenças crônico-degenerativas na população mundial tem se configurado como um importante problema de saúde pública e, entre elas, se destacam as neoplasias, não só devido ao número de casos diagnosticados a cada ano, mas também ao investimento financeiro necessário para equacionar questões relacionadas ao diagnóstico e tratamento (Molina et al, 2003). O câncer de mama é uma das principais causas de morte por neoplasias em mulheres brasileiras, sendo a segunda localização de câncer mais incidente na população feminina e aquela que apresenta maior mortalidade (MS/INCA, 2007). O câncer de mama apresenta um bom prognóstico, quando detectado em estágios iniciais. Segundo Mendonça et al (2004), a sobrevida geral em cinco anos, das pacientes que deram entrada no Instituto Nacional do Câncer no período de maio de 1995 e julho de 1996, foi de 75%, variando entre 64% e 84%. No Brasil, o grande número de casos ainda diagnosticados em estágios mais avançados, que precisam, muitas vezes, de tratamentos mais agressivos, aponta para a necessidade de conhecer de modo mais aprofundado as possíveis complicações pós-tratamento e sua repercussão na qualidade de vida das sobreviventes. O linfedema constitui-se na principal e, funcionalmente, mais incapacitante complicação do tratamento para câncer de mama (Petrek et al, 2000). Os problemas físicos e emocionais associados ao linfedema têm despertado o crescente interesse em investigar a qualidade de vida de pacientes submetidas a tratamento oncológico para câncer de mama que desenvolveram esta patologia. 7 2 2.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA EPIDEMIOLOGIA DO LINFEDEMA O linfedema pode ser definido como uma doença crônica originada pelo acometimento da capacidade de transporte do sistema linfático, resultando em edema, excesso de proteína no espaço intersticial, e em estágios avançados, inflamação e alterações irreversíveis como fibrose e excesso de tecido adiposo (Brorson et al, 2000). Consiste em uma patologia crônica, incapacitante e progressiva, que predispõe ao desenvolvimento de linfangiossarcoma (Síndrome de Stewart Treves), além de tornar o membro susceptível a infecções secundárias (linfangites e erisipelas) (Azurdia et al, 1999). Em relação às alterações físicas e motoras, o linfedema pode ocasionar alterações posturais, sobrecarga da musculatura do ombro, alteração do ritmo escapular, quadro de compressão neurológica (Camargo e Marx, 2000), hipomobilidade ou imobilidade do membro superior afetado (Rampaul et al, 2003) e dor (Harris et al, 2001). Petrek et al (2000) descrevem que a aparição do edema de braço pode ser psicologicamente mais impactante do que a convivência com a mastectomia, pois esta pode ser facilmente escondida, enquanto o braço ou a mão desfigurados se tornam uma lembrança permanente do câncer de mama, além de causarem curiosidade nas pessoas a sua volta. Segundo Hinrich et al (2004), o aparecimento do linfedema pode gerar ansiedade, depressão e problemas de adaptação. Tobin et al (1993), relatam que o aparecimento do linfedema afeta a vida profissional, doméstica, social e sexual das pacientes que ele acomete, comprometendo sua qualidade de vida. Mulheres com linfedema têm menor interesse em manter relações familiares, são menos ativas socialmente e possuem poucos objetivos a respeito de sua carreira e trabalho, além de se sentirem desamparadas e sem controle (Ververs et al, 2001). A prevalência do linfedema varia de acordo com os diversos estudos, dependendo do tempo transcorrido entre a cirurgia e a aferição do membro, do método diagnóstico e do ponto de corte empregado (Badger et al 2004). Ainda não existe consenso, na literatura mundial, sobre a melhor forma de se estabelecer o diagnóstico do linfedema. Entre os métodos objetivos, têm sido particularmente empregados a perimetria dos membros superiores e a volumetria, através da 8 mensuração do volume de água deslocada. Os métodos subjetivos consistem na auto-referência pela paciente, em resposta a algum tipo de questionamento (relato de edema e/ou de sintomas sugestivos de edema) e o relato em prontuário (Bergmann et al, 2004). Deo et al (2004), em estudo com 300 mulheres que se submeteram a tratamento cirúrgico para câncer de mama e à linfadenectomia axilar, detectaram uma prevalência de linfedema de 33,5%, utilizando como método diagnóstico a circunferência em cinco pontos distintos dos membros superiores, com um ponto de corte de 3cm de diferença na comparação entre os pontos em ambos os braços, com um tempo médio de seguimento de 2,5 anos. Em estudo seccional, Ozaslan e Kuru (2004), envolvendo 240 mulheres submetidas a mastectomia e esvaziamento axilar completo, com acompanhamento médio de 30 meses, encontraram prevalência de 28%, utilizando o método da perimetria, com ponto de corte de 2,0 cm. Edwards (2000) investigou 201 mulheres, no período de 1994 a 1996, utilizando critérios diagnósticos subjetivos (relato das pacientes) e objetivos (técnica do deslocamento do volume de água, com ponto de corte em 10%), encontrando, respectivamente 23,4% e 11% de prevalência, com base nas duas abordagens selecionadas. Engel et al (2003), em estudo seccional realizado através de entrevistas anuais com 990 mulheres durante cinco anos, verificaram, no primeiro ano, uma prevalência de problemas no membro superior de 47% e de 38%, no quinto ano, utilizando questionário com sintomas subjetivos de diagnóstico onde era feita alusão tanto a sintomas referentes ao edema de braço quanto a limitação do arco de movimento. Os autores concluíram que, apesar da prevalência diminuir com o avançar do tempo, a morbidade residual ainda é grande, na maioria das pacientes. O estudo realizado por Halaska et al (2007), para identificar o melhor método diagnóstico para detecção do linfedema, com 146 pacientes acompanhadas nos primeiros 18 meses após o tratamento cirúrgico, encontrou prevalência de 11% de casos de linfedema. Maclean et al (2008), em estudo realizado no Canadá, investigaram a prevalência de linfedema em 347 mulheres que se apresentavam entre 6 meses e um ano de cirurgia e verificaram que 12% das pacientes desenvolveram linfedema de membro superior. Bergmann et al (2004), em estudo realizado no Rio de Janeiro, em uma população de 394 mulheres submetidas a tratamento cirúrgico para câncer de mama, entre abril e agosto de 2000, observaram uma prevalência variando entre 11,5 e 30,7%, dependendo dos diferentes métodos e 9 pontos de corte empregados no diagnóstico. Segundo os autores, a perimetria, considerando-se como padrão ouro o volume estimado em 200 ml e com ponto de corte de 2,5 centímetros foi o método que apresentou a melhor relação sensibilidade / especificidade (S = 0,74; E = 0,98). Alguns estudos têm sido publicados na literatura científica, acerca dos fatores possivelmente associados ao desenvolvimento do linfedema pós-tratamento para câncer de mama, porém seus resultados, com freqüência, se contrapõem, em função das diferentes variáveis analisadas e dos critérios clínicos utilizados em suas definições. Edwards (2000) encontrou associação positiva entre tipo de cirurgia para câncer de mama e o aparecimento do linfedema, com maior risco para as pacientes que realizaram cirurgias radicais. A extensão da cirurgia axilar foi relatada como importante fator de risco para linfedema em estudos de Liljegren e Holmberg (1997) e Meskee et al (2008). Meric et al (2002) fazem referência também a cirurgia conservadora como importante fator prognóstico para o desenvolvimento do linfedema, porém somente quando associada à radioterapia axilar. A quimioterapia foi referida como fator de risco no estudo de Meskee et al (2008), onde os autores encontraram um risco duas vezes maior de desenvolver linfedema de membro superior entre as mulheres submetidas a terapia sistêmica (OR 2,17 IC 95% 1,42 – 3,32). A associação entre radioterapia e linfedema foi observada em vários estudos. Ververs et al (2001), encontraram um risco 3,57 vezes maior de linfedema entre pacientes submetidas à radioterapia (IC 95% - 1,66 – 7,69). Kwan et al (2002), em estudo sobre qualidade de vida de pacientes com câncer de mama obtiveram um valor três vezes maior (p<0,001). Bergmann (2000) em estudo com uma coorte de mulheres brasileiras também encontrou associação entre radioterapia e linfedema (OR 1,76; IC 95% 1,15 – 2,70). Outros autores encontraram resultados similares (Deo et al, 2004; Ozaslan et al, 2004; Powell et al, 2003; Hinrichs et al 2004). Bergmann (2000) encontrou um risco 2,53 vezes maior de desenvolver linfedema entre pacientes obesas (IC 95% 1,43 – 4,50). Meskee et al (2008) identificou o Índice de Massa Corporal elevado como um fator de risco para linfedema (OR 2,48 IC 95% 1,05 – 5,84). Outros autores como Beulac et al (2002), Ozaslan et al 2004, Deo et al (2004) e Edwards (2000) também observaram uma associação positiva entre essas duas variáveis. No estudo de Edwards (2000), o tipo de cirurgia, independente da abordagem axilar, apresentou uma relação direta com a incidência de linfedema (2= 11,06 e p =0,05). Este resultado não foi verificado em outros estudos (Kwan et al, 2002; Deo et al, 2004; Ververs et al, 10 2001; Ozaslan et al, 2004; Powell 2003; Hinrich et al, 2004; Bergmann, 2000; Beulac et al, 2002). A idade ao diagnóstico, a menopausa e o lado dominante não apresentaram associação com o linfedema pós-cirurgia para câncer de mama em estudos realizados por Edwards (2000), Ververs et al (2001), Kwan et al (2002), Deo et al (2004), Ozaslan et al (2004), Bergmann (2000), Powell (2003), Hinrichs et al (2004), Beulac et al (2002). O estadiamento avançado da doença esteve associado significativamente ao linfedema (p= 0,001) no estudo de Deo et al (2004). Edwards (2000) também demonstrou relação entre o estadio do tumor e a incidência de linfedema (r = 0.17; p = 0.03). Goffmann (2004) e Edwards (2000) encontraram relação entre o tamanho do tumor e linfedema (p=0,002 e p=0, 003, respectivamente). Yap (2003), encontrou risco 4,44 vezes maior de linfedema (IC 1,55 – 17,72) para pacientes submetidas à linfadenectomia axilar em relação àquelas não submetidas a esse procedimento. Kwan et al (2002) (OR 3,3; p = 0,001) e Edwards (2000) (p = 0,002), também encontraram associação positiva entre a cirurgia axilar e linfedema. Deo et al (2004) e Meskee et al (2008) encontraram, em pacientes com maior número de co-morbidades, um risco aumentado para o desenvolvimento do linfedema (p<0,001). A infecção do membro superior homolateral à cirurgia pode representar importante fator de risco de desenvolvimento do linfedema. Ao analisar essa variável, Bergmann (2000) encontrou razão de prevalência de 2,41 (IC 95% 1,58 – 3,69). Meric et al (2002) e Petrek et al (2000), em seus estudos, também observaram associações positivas (p=0,002 e p=0, 001, respectivamente). O exercício físico e a amplitude de movimento parecem estar associados à preservação da condição do membro. Bergmann (2000) encontrou associação entre a diminuição da amplitude global da mobilidade (OR 1,76; IC 95% 1,14 – 2,71) e da rotação externa e abdução (OR 1,71; IC 95% 1,15 – 2,53). A técnica cirúrgica do linfonodo sentinela, menos agressiva e mutilante para as pacientes, parece estar associada à diminuição do risco de desenvolver linfedema, em relação à técnica de esvaziamento axilar (Swenson et al, 2002), 11 2.2 QUALIDADE DE VIDA E LINFEDEMA Saúde define qualidade de vida como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (OMS, 2004). Qualidade de vida se refere, portanto, à apreciação dos pacientes e sua satisfação com o nível de funcionamento, comparado com o que ele percebe como sendo possível ou ideal. A avaliação da qualidade de vida engloba aspectos físicos, psicológicos, sociais, sexuais e funcionais variando, entre os diversos autores, quanto à nomenclatura adotada para cada um destes itens (Sales et al, 2001). A qualidade de vida pode ser vista, também, como um conceito global que busca captar e analisar informações individuais, em seus mais diversos aspectos (físicos, sócio–culturais, psicológicos, entre outros), para a construção de um indicador populacional (Minayo, 2000; Sales et al, 2001). No campo da saúde, procurou-se vincular a qualidade de vida à sua expressão ligada à saúde (QVLS), obtendo-se, a partir desta, um conceito mais reduzido de qualidade de vida. A QVLS é definida como o valor atribuído à vida, ponderado pelas deteriorações funcionais; as percepções e condições sociais que são induzidas pela doença, agravos; tratamento e a organização política e econômica do sistema assistencial (Auquier et al, 1997, apud Minayo, 2000). A versão inglesa do conceito QVLS, em Gianchello (1996, apud Minayo, 2000), é similar: consiste, segundo o autor, no valor atribuído à duração da vida, quando modificada pela percepção de limitações físicas, psicológicas, funções sociais e de oportunidades influenciadas pela doença, tratamento e outros agravos, tornando-se o principal indicador para a pesquisa avaliativa sobre o resultado de intervenções (Gianchello, 1996, apud Minayo, 2000). Nos últimos anos, o número crescente de casos de câncer de mama e o aumento da sobrevida das mulheres submetidas a tratamento cirúrgico para essa neoplasia têm levado a um interesse em estudar a qualidade de vida destas pacientes, visando analisar o impacto desta patologia em sua vida. Segundo Beaulac et al (2002) a evolução das técnicas de detecção precoce e o progresso nas tecnologias para tratamento do câncer de mama poderiam proporcionar 12 sobrevidas de cinco anos de 77% em mulheres com doença regional e de 96% com doença local. Para possibilitar a análise da qualidade de vida de pacientes com câncer de mama, existem diversos instrumentos descritos na literatura internacional e que abordam diferentes âmbitos da vida pessoal e social das pacientes. A Organização Européia para Pesquisa e Tratamento do Câncer (EORTC) criou o questionário EORTC QLQ -C30, que corresponde a evolução do EORTC QLQ –C36, de 1987. O EORTC QLQ C-30 está em vigor desde 1997 e, atualmente, encontra-se na terceira versão. Este questionário já foi traduzido e validado em 49 países, sendo até hoje utilizado em mais de três mil estudos ao redor do mundo (EORTC, 2005). O EORTC QLQ - C30 aborda cinco escalas funcionais diferentes (física, emocional, cognitiva, social e funcionalidade geral, a mensuração global da qualidade de vida e dos sintomas associados como dor, fadiga, diarréia e constipação (EORTC, 2001). Outro instrumento utilizado é o SF – 36, que é um questionário reduzido, contendo 36 perguntas e oito escalas de bem-estar e condições de saúde (Ware, 2005). As escalas se dividem em atividade física, condição física, condição emocional, dores corporais, vitalidade, saúde mental, funcionamento (relacionamento) social e saúde em geral (Velanovich et al, 1999). O SF – 36 já foi utilizado em mais de quatro mil artigos científicos em todo o mundo, sendo utilizado não apenas para estudos de câncer, como também para outras patologias (Ware, 2005). Um terceiro instrumento utilizado para avaliar a qualidade de vida em pacientes tratadas para câncer de mama é o questionário FACT-B (Functional Assessment of Cancer Therapy). O FACT – B é um questionário multidimensional, já bem validado como instrumento para medir qualidade de vida em pacientes com câncer de mama (Brady et al, 1997). Sua última versão contém cinco sub-escalas, cujo propósito é mensurar o bem-estar físico, social, emocional e funcional das pacientes, acompanhando as características específicas de cada uma (Coster et al, 2001). Uma variação do questionário FACT-B, com a inclusão de mais quatro itens, foi validada por Coster et al (2001). Estes quatro itens estão relacionados aos efeitos da morbidade do braço nas pacientes com linfedema e esse questionário, denominado de FACT – B + 4 tem sido utilizado para aferir a qualidade de vida em pacientes com linfedema, não estando ainda validado na língua portuguesa. Outros questionários, menos utilizados, também estão descritos na literatura. Ridner 13 (2005), utilizou três questionários para avaliar a qualidade de vida de mulheres que foram tratadas para câncer de mama com e sem linfedema de membro superior, além do FACT-B foram utilizados os questionários ULL (Upper Limb Lymophedema) e WCLS (Wesley Clinic Lymphedema Scale). Schultz et al (2005), também avaliando mulheres que foram tratadas para câncer de mama utilizou como referência para aferir a qualidade de vida o questionário Menopausal Quality of life Scores (MQOL). Outros questionários que foram utilizados como instrumento para mensurar a qualidade de vida de pacientes com câncer foram o Nothingham Health Profile (Sitzia e Sobrido, 1997) e Breast Cancer Treatment Outcomes (Krishnnan et al, 2001). 2.3 QUALIDADE DE VIDA EM MULHERES TRATADAS PARA CÂNCER DE MAMA Para o levantamento bibliográfico deste estudo, foram efetuadas buscas nos bancos de dados informatizados LILACS (www.bireme.br) e PUBMED (www.pubmed.com). Através do campo descritor de assunto, utilizando as palavras-chave quality of life, breast neoplasms e lymphedema, foram selecionados artigos publicados em inglês ou português, que exibissem no seu resumo, pelo menos uma dessas palavras. Para a busca de artigos científicos que abordassem a qualidade de vida em mulheres tratadas cirurgicamente para câncer de mama e portadoras de linfedema, considerou-se o período de publicação entre janeiro de 1995 a janeiro de 2007, uma vez que se antecipava um número limitado de publicações sobre o tema. Para artigos científicos que abordassem a qualidade de vida em mulheres pós-tratamento cirúrgico para câncer de mama, com ou sem linfedema, o período de publicação estabelecido para a busca foi entre janeiro de 2000 e janeiro de 2007. Não foram incluídos artigos de revisão. A revisão incluiu vinte e quatro artigos que abordam a qualidade de vida de mulheres submetidas a tratamento cirúrgico para câncer de mama, com o linfedema, aparecendo como uma das variáveis analisadas. No Quadro 1, são apresentadas as principais características dos artigos científicos analisados. Nove tipos diferentes de questionário foram utilizados nos estudos revisados, sendo que, em um deles, não há relato detalhado sobre o questionário utilizado. 14 Sete estudos utilizaram o questionário EORTC – QLQ – C30 (Kwan et al, 2002; Engel et al, 2003a; Engel et al, 2003b; Kerr et al, 2003; Engel et al, 2004; Janz et al, 2005; Fehlauer et al, 2005) um estudo utilizou o questionário Breast Cancer Treatment Outcome Scale (BCTOS) (Krishnann et al, 2001). Os questionários Nottingham Health Profile (Sitzia & Sobrido, 1997), foi utilizado em apenas um estudo, enquanto o Medical Outcome Scale - Health Survey SF – 36 (MOS-SF 36) foi utilizado em quatro estudos selecionados (Velanovich et al, 1999, Ganz et al, 2002; Ganz et al, 2003; Conde et al, 2005). Voodg et al (2003), Weiss e Spray (2002) e Kuehn et al (2000) utilizaram questionários desenhados especificamente para os seus estudos. O questionário FACT – B, assim como o MOS SF-36, foi utilizado em cinco estudos (Tomayconza, 1999; Coster et al, 2001; Beulac et al, 2002; Ridner, 2005 e Avis et al, 2005), sendo que o estudo de Coster teve o objetivo de validar o Questionário denominado FACT – B + 4 (com quatro questões referentes à condição do membro superior homolateral a cirurgia, visando avaliar o impacto da morbidade do braço no lado operado). Os três estudos de Engel et al, realizados em 2003 e 2004, utilizaram o mesmo banco de dados e o mesmo questionário, para analisar questões distintas. A média de idade das pacientes analisadas nos diferentes estudos variou entre 44 e 66 anos. Doze estudos não fazem alusão à idade média. Diversas variáveis foram analisadas nos estudos revisados, sendo a presença de linfedema e a avaliação do arco de movimento as duas avaliadas com maior freqüência em sua possível relação com a qualidade de vida (Quadro 2). Quatro estudos avaliaram a qualidade de vida por um período de cinco anos (Kerr et al, 2003; Engel et al, 2003a; Engel et al, 2003b). Engel et al, 2004) e os demais realizaram uma única avaliação no grupo de mulheres com linfedema. Nos estudos analisados, foi verificada uma queda consideravelmente importante na qualidade de vida das pacientes que desenvolveram linfedema, ainda que a quantificação dessa piora não seja uniforme em todos eles. Nove estudos verificaram, com base na pontuação final dos questionários utilizados, uma menor graduação nos escores do grupo de mulheres com linfedema, em comparação com aquelas que não apresentavam essa morbidade (Sitzia & Sobrido, 1997; Velanovich 1999; Szymanski, 1999; Kuehn et al,2000; Coster et al, 2001; Krishnnan et al, 2001; Beulac et al, 2002; Casso et al, 2004; Schultz et al, 2004; Ridner, 2005). O questionário de Sitzia e Sobrido (1997) tem, no 15 entanto, uma abordagem diferente dos demais, pois a população estudada se encontrava em processo de tratamento para o linfedema, enquanto nos outros estudos, não há menção a este tipo de tratamento. Apenas dois estudos observaram resultados estatisticamente significativos para a referência de uma preocupação cosmética por parte das mulheres estudadas (Kuehn et al, 2000; Krishnnan et a, 2001). O estudo de Kuehn não apresenta o questionário utilizado, enquanto o de Krishnnan utilizou, como população de estudo, uma sub-amostra de um estudo de maiores proporções realizado por Stanton et al (2001) sobre qualidade de vida em pacientes com câncer de mama. Todavia, apesar desta sub-escala do questionário (preocupação cosmética) ter mostrado resultados estatisticamente significativos, o escore total dos estudos não mostrou significância estatística (Quadro 3). Na análise da qualidade de vida referente a “fatores funcionais” foram agrupadas variáveis relacionadas a atividades domésticas, laborais e de lazer, além de sintomas que podem interferir no dia a dia das pacientes, como a ocorrência de dores no corpo. Oito estudos encontraram declínio da qualidade de vida e na sub-escala “fatores funcionais” da população com linfedema em relação a sem linfedema. Esta, por sinal, foi a subescala que mais se mostrou relacionada à perda da qualidade de vida, estando presente, com resultados estatisticamente significativos, em oito dos quinze estudos analisados (Sitzia & Sobrido, 1997; Velanovich et al, 1999; Krishnnan et al, 2001; Beulac et al, 2002; Voodg et al, 2003; Kerr et al, 2003; Engel et al, 2003a; Engel et al, 2003b) (Quadro 3). Entre os oito estudos acima referidos, apenas três utilizaram o mesmo questionário (Kerr et al, 2003; Engel et al, 2003a e Engel et al, 2003b). Mesmo assim, seis deles observaram menor pontuação no escore final, indicando uma pior qualidade de vida para a população com linfedema em relação à população sem linfedema; apenas os estudos de Voodg et al,(2003) e o de Kwan et al, (2002) não referiram esta diminuição no escore total. O questionário da EORTC apresentou resultados relevantes em relação à sub-escala dos “fatores sociais”. Três estudos que lançaram mão deste questionário encontraram resultados positivos para essa sub-escala, sendo que os dois estudos de Engel (2003a; 2003b), tiveram um período de seguimento de cinco anos. O estudo de Coster et al (2001) foi o único estudo que, mesmo não utilizando o questionário da EORTC, apresentou resultados positivos e estatisticamente significativos nesta sub-escala. O estudo de Beulac et al (2002), que utilizou o 16 questionário FACT-B, não observou relevância desta sub-escala na qualidade de vida das mulheres estudadas. Seis estudos observaram uma diminuição na condição física de pacientes com linfedema (Sitzia & Sobrido, 1997; Beulac et al, 2002; Kwan et al, 2002; Engel et al, 2003a; Engel et al, 2003b; Casso et al, 2004). Destes seis estudos, apenas o de Kwan et al (2002) não verificou diferenças entre o escore total do questionário para pacientes com e sem linfedema (Quadro 3). Estes resultados apontam que a condição física poderia ser um importante fator de influência na qualidade de vida, uma vez que mesmo com a utilização de três tipos diferentes de questionários de avaliação da qualidade de vida, essa sub-escala apresentou resultados estatisticamente significativos. O subitem com a segunda pior pontuação entre as mulheres com linfedema é aquele referente aos “fatores emocionais”. Seis estudos observaram um escore diminuído para esta subescala (Beulac et al, 2002; Kuehn et al, 2000; Velanovich et al, 1999; Krishnnan et al, 2001; Engel et al, 2003a; Engel et al, 2003b). É importante destacar que cinco desses seis estudos apontaram também para um menor escore na sub-escala “fatores funcionais” (Quadro 3). Nove entre os vinte e quatro estudos analisados nesta revisão observaram que as pacientes com linfedema apresentam uma qualidade de vida pior do que aquelas não afetadas por essa morbidade (Sitzia & Sobrido, 1997; Velanovich 1999; Szymanski, 1999; Kuehn et al,2000; Coster et al, 2001; Krishnnan et al, 2001; Beulac et al, 2002; Casso et al, 2004; Schultz et al, 2004; Ridner, 2005). A comparação dos estudos, embora limitada por fatores de desenho, aponta para o fato de que, independentemente da população selecionada, a qualidade de vida em mulheres com linfedema pós-tratamento para câncer de mama é pior do que a da população submetida a esse tratamento, porém sem linfedema. Mesmo assim, é necessária cautela na interpretação dos resultados, uma vez que diferentes instrumentos foram empregados com a finalidade de avaliar a qualidade de vida dessas mulheres. O estudo de Sitzia e Sobrido (1997) envolveu uma amostra pequena, com apenas 34 mulheres. Além disso, junto com o de Weiss e Spray (2002), é um dos únicos estudos onde as mulheres entrevistadas estavam em tratamento para linfedema, o que pode ter contribuído para diferenças nos resultados observados. Por exemplo, pode-se supor que a convivência temporária das pacientes com outras mulheres que apresentavam o mesmo problema e com os profissionais de saúde, devido ao tratamento, poderia contribuir para superestimar respostas negativas no item 17 “isolamento social” do questionário. Por outro lado, embora pouco mais de 60% da população de estudo fosse constituída por mulheres com linfedema pós-tratamento para câncer de mama, o restante incluía pacientes com linfedema primário e linfedema secundário a outras neoplasias, o que poderia ter contribuído para que os resultados do estudo não refletissem, de maneira adequada, a qualidade de vida das mulheres tratadas para câncer de mama. Um achado importante foi a verificação de que quanto maior o tempo decorrido desde a cirurgia, mais altos se apresentavam os escores relativos à “energia” (p<0,05) e à “dor” (p< 0,05), assim como os escores totais do questionário (p<0,01). É importante destacar que o NHP, questionário utilizado nesse estudo, apresenta limitações. Embora seja útil para análise do domínio físico das pacientes, é pouco abrangente em relação a questões referentes aos domínios psicológico e emocional. Velanovich et al (1999) encontraram, em seu estudo, um escore baixo para os fatores emocionais e funcionais. A amostra do estudo não foi estratificada quanto aos tipos de tratamento recebidos, o que prejudicou a análise dos resultados. Não foi mencionado se as mulheres com linfedema estavam, ou não, em tratamento para essa morbidade. Por outro lado, o MOS SF-36 é um questionário criado para utilização na população em geral, o que faz com que sejam negligenciados certos aspectos importantes que se referem à população de mulheres tratadas cirurgicamente para câncer de mama, como tipo de cirurgia, tratamentos realizados, entre outros. Três estudos buscaram identificar preditores ou indicadores de qualidade de vida em mulheres com linfedema secundário ao tratamento para câncer de mama (Engel et al, 2003b; Krishnnan et al, 2001; Voodg et al, 2003). No estudo de Krishnnan et al (2001), os critérios de seleção incluíram apenas mulheres com câncer em estágios iniciais, tratadas com cirurgia conservadora e radioterapia. Os autores utilizaram vários questionários para avaliar a qualidade de vida, correlacionando-os entre si para avaliar critérios subjetivos e objetivos. O estudo avaliou, porém, apenas questões referentes à saúde do indivíduo após o tratamento, deixando uma lacuna importante, ao não avaliar hábitos diários e relações sociais das pacientes, indicando que o mesmo buscou mais analisar as condições de saúde do que, propriamente, a qualidade de vida das mulheres. Voodg (2003) investigou pacientes tratadas cirurgicamente para câncer invasivo, com ou sem a realização de linfadenectomia axilar. Neste estudo, foram considerados como indicadores de qualidade de vida a redução do arco de movimento e a presença de linfedema, não sendo 18 observada relação entre a presença destes e a qualidade de vida das pacientes. Segundo o autor, estes parâmetros seriam importantes apenas para uma parcela da população, que seria aquela que foi submetida à linfadenectomia axilar. As diferentes características das populações de estudo nos dois trabalhos tornam difícil uma comparação entre os mesmos. A utilização de questionários próprios, desenvolvidos para utilização nos estudos, também limita as possibilidades de análise, uma vez que não são conhecidos os itens abordados nas entrevistas com as pacientes. Engel et al (2003b) trabalharam com uma população de estudo formada por 990 mulheres, sendo o único estudo transversal sobre qualidade de vida, que realizou entrevistas em mais de um ponto no tempo, durante 5 anos. O critério de seleção da população de estudo também foi o mais abrangente, sendo elegível toda a mulher submetida a tratamento cirúrgico para câncer de mama há no mínimo seis meses. Os autores observaram diferenças estatisticamente significativas no escore dos questionários para todos os cinco anos analisados. No entanto, algumas limitações do estudo precisam ser consideradas para sua interpretação. Em relação ao linfedema, os autores optaram por agrupar no item “problemas no braço” todas as pacientes que apresentavam limitação do arco de movimento e/ou linfedema, o que poderia ter levado a super-estimação do impacto do linfedema na qualidade de vida destas. Por outro lado, das 990 mulheres estudadas, quase 200 tinham mais de setenta anos de idade, o que poderia ter se traduzido em uma maior probabilidade de desenvolvimento de outras doenças, como, por exemplo, as de origem reumatológica, afetando o membro superior, e que influiriam nos escores totais dos questionários. Outra limitação seria o fato de que o relato de sintomas foi subjetivo, o que poderia ter ocasionado um grande número de indivíduos sintomáticos, quando da avaliação. Engel et al (2003a) em seu estudo, observaram a influência de fatores emocionais, físicos, sociais, funcionais, além de menor pontuação na qualidade de vida global para as pacientes com linfedema. Este estudo é parte da mesma investigação que originou o outro trabalho deste grupo, apresentando, assim, as mesmas limitações. Os autores observaram que o relato de problemas no membro superior homolateral à cirurgia diminui ao longo do tempo. Isso poderia estar relacionado à inclusão da limitação do arco de movimento nesse item, uma vez que esta tende a melhorar com o passar dos anos, devido ao tratamento, ou espontaneamente, ao contrário do linfedema que é uma patologia crônica. 19 Kuehn et al (2000), em seu estudo, agregaram a presença de linfedema em um item denominado de “morbidade do ombro e do braço”, junto com a limitação do arco de movimento e com a diminuição de força muscular. Os autores observaram que 29% das mulheres estudadas referiam esse item como sendo seu maior problema. Entretanto, não é possível conhecer quantas destas mulheres apresentavam linfedema. Um resultado relevante deste estudo foi à constatação de que o medo da recidiva da doença causa um importante impacto emocional nas pacientes, mostrando a importância do seu acompanhamento psicológico. Uma outra limitação do estudo de Kuehn consistiu na utilização de um questionário próprio, impedindo sua comparação com outros trabalhos. Weiss e Spray (2002) avaliaram a qualidade de vida dos pacientes com linfedema antes e após o tratamento com Terapia Física Complexa. Foram avaliados homens e mulheres que apresentavam linfedema, de etiologias diversas, tanto de membros inferiores quanto superiores. O questionário utilizado foi construído para esta população, não observando, por conseguinte, especificidades inerentes ao tratamento para câncer de mama. Os três estudos que utilizaram o questionário FACT-B (Beulac et al, 2002; Coster et al, 2001; Ridner, 2005) apresentaram algumas semelhanças. Nos estudos de Beulac et al, (2002) e Coster et al, (2001), foi observada uma diminuição significativa entre os escores da sub-escala “fatores físicos” entre as pacientes com e sem linfedema além de diminuição significativa no escore total do questionário. O estudo de Ridner (2005) não apresentou os resultados referentes as sub-escalas do questionário, limitando-se apenas a qualidade de vida. Beulac observou, ainda, um impacto do linfedema nas sub-escalas “fatores emocionais” e “fatores funcionais”, enquanto Coster observou essa relação apenas para “fatores sociais”. Nos três estudos o entrevistador solicitava às mulheres que respondessem as perguntas do questionário com base nos últimos sete dias. Alterações no humor e interferências nas relações pessoais poderiam alterar respostas, quando essas são referidas a um prazo curto. O estudo de Coster et al (2001), avaliou a qualidade de vida de pacientes com linfedema, utilizando, como grupo de comparação, pacientes que estavam no período pré-operatório, ou com um a três meses de pós-operatório. Nos períodos pré-operatório e pós-operatório recente, as mulheres podem estar bem mais sensíveis do que o usual, o que poderia ter introduzido erros na análise dos fatores psicológicos envolvidos. Além disso, é necessário considerar os efeitos dos diferentes tratamentos, como radioterapia e quimioterapia, a que as mulheres poderiam estar 20 submetidas nesse período. Em relação às pacientes com linfedema, a realização de tratamento para essa morbidade não foi avaliada. Essa variável poderia ter um papel importante sobre a qualidade de vida, uma vez que as mulheres com acompanhamento clínico podem vir a apresentar maior auto-estima. O estudo de Ridner (2005) utilizou ainda um questionário qualitativo, onde surgiram como temas emergentes o estresse psicológico, alteração da sensibilidade do membro superior, medo de machucar o braço entre outros. No estudo de Kwan et al, (2002), os prejuízos referentes na qualidade de vida foram relacionados aos fatores físicos e sociais. Os autores observaram uma pior qualidade de vida nas mulheres submetidas à linfadenectomia axilar e/ou à radioterapia. Casso et al, (2004), estudaram a qualidade de vida em mulheres entre 40 e 49 anos com tempo de seguimento pós operatório entre 5 e 10 anos de seguimento. Os autores agruparam na variável sintomas da mama as complicações referentes a dor, edema, parestesia e outros. Ao comparar a variável em relação a qualidade de vida observou-se que a qualidade de vida era menor nas pacientes que apresentavam sintomas da mama, sendo a dor o mais forte preditor da pior qualidade de vida, porém mesmo ao se retirar a categoria dor da variável esta continuou a ter significância estatística. Schultz et al, (2005), investigaram a relação entre sintomas da menopausa, alterações fisiológicas provocadas pelo tratamento do câncer de mama e complicações pós operatórias com a qualidade de vida das pacientes. Os resultados apresentaram uma pior qualidade de vida para as pacientes com linfedema de membro superior, no entanto não houve comprometimento da questão social das pacientes. É importante destacar que cinco entre seis estudos que observaram um escore baixo na sub-escala “fatores emocionais”, verificaram também valores baixos nos escores da sub-escala “fatores funcionais”, o que poderia estar indicando uma possível relação entre esses dois aspectos, no desempenho das atividades diárias. Entretanto, a relação entre as diferentes subescalas dos questionários não é claramente explicitada nos estudos analisados, e alguns questionário possuem sub-escalas que não estão presentes em outros, sendo necessária cautela na interpretação de possíveis associações entre elas, no contexto da qualidade de vida das mulheres submetidas a tratamento cirúrgico para câncer de mama. 21 QUADRO 1- Características Gerais dos Estudos Revisados Autor / Ano População do Estudo N Tempo entre cirurgia e aplicação do questionário Sitzia 1997 Pacientes com linfedema primário e secundário oriundos de tratamento oncológico 34 NR* 31 – 94 65 NHP1 Tomayconza 1999 Mulheres tratadas para câncer de mama 66 NR* Não relatou NR* FACT – B Velanovich 1999 Pacientes tratadas cirurgicamente para câncer de mama, com LFA ou não,com e sem a presença de linfedema. 101 6 meses a 4 anos 55,2 62,8 SF – 36 Kuehn 2000 Mulheres tratadas cirurgicamente para câncer de mama. 396 6 meses ou mais 22 – 86 56 PRÓPRIO Krishnnan 2001 Mulheres submetidas a tratamento conservador + Rt para câncer de mama. 54 9 meses a 18 anos 41 – 83 64,34 BCTOS Coster 2001 Grupo 1 – Mulheres operadas com mastectomia ou cirurgia conservadora ou linfonodo sentinela Grupo 2 - Mulheres com linfedema submetidas a lfa. 308 NR* 27 - 81 56,661,6 FACT - B + 4 Kwan 2002 Mulheres operadas para câncer de mama de mama. 744 2 a 7 anos NR* NR* EORTC QLQ C-30 Weiss e Spray 2002 Pacientes com linfedema em geral 36 NR* NR* NR* PRÓPRIO Ganz et al 2002a Pacientes tratadas para câncer de mama livres de doença 763 5 a 10 anos NR* 55,6 SF – 36 e LADDER OF LIFE SCALE Faixa Etária Idade Média Questionário utilizado 22 Continuação QUADRO 1- Características Gerais dos Estudos Revisados Autor / Ano População do Estudo N Tempo entre cirurgia e aplicação do questionário Beulac 2002 Mulheres tratadas para câncer de mama em estágio inicial. 151 1 a 4,8 anos 62,4 anos NR* FACT-B Ganz 2003 Mulheres tratadas para câncer de mama maiores de 65 anos aproximadamente 3 meses da cirurgia e mais duas vezes ao longo do ano 635 3 meses NR* NR* SF – 36 e CARES – SF Voodg 2003 Mulheres tratadas para câncer de mama 322 3 meses a 28 anos 26 – 88 anos 59 PRÓPRIO 990 6 meses a 5 anos < 50 anos, 50 - 69, 70 + NR* EORTC QLQ C-30 990 6 meses a 5 anos < 50 anos, 50 - 69, 70 + NR* EORTC QLQ C-30 990 6 meses a 5 anos NR NR* EORTC QLQ C-30 Engel 2003a Engel 2003b Kerr 2003 Pacientes tratadas cirurgicamente para câncer de mama, com esvaziamento axilar. Pacientes tratadas cirurgicamente para câncer de mama, com esvaziamento axilar. Pacientes tratadas cirurgicamente para câncer de mama, com esvaziamento axilar. Faixa Etária Idade Média Questionário utilizado Casso 2004 Mulheres tratadas para câncer de mama 216 5 a 10 anos 40 – 49 44,4 CARES – SF Engel 2004c Pacientes tratadas cirurgicamente para câncer de mama, com esvaziamento axilar. 990 6 meses a 5 anos NR* NR* EORTC QLQ C 30 Janz 2005 Mulheres tratadas para câncer de mama com estagio inicial de 0 – II 1357 NR* 27,9 – 79,9 60 EORTC QLQ C-30 Ridner 2005 Pacientes tratadas para câncer de mama com e sem linfedema 128 NR* 21 - 80 NR* FACT – B Mulheres ha longo tempo em acompanha mento tratadas para câncer de mama 291 NR* NR* 66 MQOL Schultz 2005 23 Continuação QUADRO 1- Características Gerais dos Estudos Revisados Autor / Ano População do Estudo N Tempo entre cirurgia e aplicação do questionário Avis 2005 Mulheres menores de 50 anos com estagio incial I e II 202 4 a 42 meses NR* 43,5 FACT – B Fehlauer 2005 Pacientes tratadas para câncer de mama 370 7 a 12 anos NR* NR* EORTC QLQ C-30 + BR 23 Conde 2005 Pacientes tratadas para câncer de mama 75 NR* NR* 53,1 SF – 36 2.3.1.1 * NR – não relatou Faixa Etária Idade Média Questionário utilizado 24 QUADRO 2 – Variáveis Relacionadas à Queda da Qualidade de Vida nos Estudos Revisados. Autor / Ano Idade Sitzia 1997 NR* Tomayconza, 1999 p<0,05 Índice de Limitação Massa do Arco de Linfedema Corpor Movimento al Volume Axilar Retirado na Cirurgia Condição Número de Cirurgi de Linfadenec- Quimio Linfonodos a menopaus tomia Axilar -terapia Retirados Radical a Radioterapia N** p < 0,005 p<0,01 N** N** N** N** N** N** N** N** N** N** N** N** N** N** N** p<0,05 N** Velanovich 1999 NR* N** N** NRV* N** N** N** N** N** N** N** Kuehn 2000 NR* N** p<0,001 NRV* N** N** N** p<0,001 N** N** N** Krishnnan 2001 NR* N** N** p < 0,001 N** N** N** N** N** N** N** Coster 2001 NR* N** N** p < 0,05 N** N** N** N** N** N** N** Kwan 2002 NR* N** N** p < 0,001 N** N** N** N** OR = 3,3 ; p<0,001 N** OR = 3,1 ; P < 0,001 Weiss e Spray 2002 NR* N** N** N** N** N** N** N** N** N** N** Ganz et al, 2002 p<0,02 N** N** N** N** N** N** N** N** p<0,005 N** Beulac et al, 2002 NR* p< 0,001 p = 0,001 p < 0,001 N** N** p = 0,02 N** N** N** N** Ganz et al, 2003 NR* N** N** N** N** N** N** N** N** N** N** Voodg 2003 NR* N** p = 0,04 NRV* N** N** N** p = 0,03 N** N** P = 0,005 Engel 2003b NR* N** p<0,001 p<0,001 N** p<0,001 N** N** N** N** N** Engel 2003a NR* N** p<0,001 p<0,001 N** p<0,001 N** N** N** N** N** 25 Continuação QUADRO 2 – Variáveis Relacionadas à Queda da Qualidade de Vida nos Estudos Revisados. Índice de Limitação Massa do Arco de Linfedema Corpor Movimento al Volume Axilar Retirado na Cirurgia Condição Número de Cirurgi de Linfadenec- Quimio Linfonodos a menopaus tomia Axilar -terapia Retirados Radical a Radioterapia Autor / Ano Idade Kerr et al, 2003 NR* N** N** N** N** N** N** N** N** N** N** Casso et al, 2004 NR* N** N** N** N** N** N** p<0,05 N** p<0,05 N** Engel et al, 2004 NR* N** N** N** N** N** N** N** N** N** Janz et al, 2005 p<0,00 1 N** N** N** N** N** N** N** p<0,001 N** Ridner, 2005 NR* N** N** N** N** N** N** N** N** N** Schultz et al, 2005 NR* N** N** p<0,003 N** N** N** N** N** N** N** Avis et al, 2005 p<0,01 N** N** N** N** N** p=0,07 N** N** N** N** Fehlauer et al, 2005 NR* N** N** N** N** N** N** N** N** N** N** Conde et al, 2005 NR* N** N** N** N** N** p<0,01 p=0,02 N** N** P<0,01 2.3.1.1 * NR – não relatou o valor. **N – não investigou a variável. N** N** N** 28 QUADRO 3 - Fatores que influenciaram a qualidade de vida das pacientes. Fatores Cosméticos Qualidade de vida global (p valor) <0,05 - < 0,01 - - - - - - 0,005 - 0,04 <0,001 - - - 0,025 - < 0,05 - - < 0,05 < 0,05 - - 0,09 < 0,01 0,07 - - < 0,001 - <0,03 <0,03 - <0,03 - <0,05 <0,001 <0,001 <0,02 - - - < 0,01 < 0,001 - < 0,001 - < 0,001 <0,05 <0,05 - - - - Voodg 2003 - - - NRV* - - Engel et al, 2003a <0,001 para todos os cinco anos <0,001 para todos os cinco anos <0,001 para todos os cinco anos - <0,001 para todos os cinco anos Engel et al,2003b < 0,05 para os cinco anos < 0,05 para os cinco anos - < 0,05 para os cinco anos 0,001 para o primeiro ano, 0,004 para o terceiro e 0,002 para o quarto ano - <0,001 para o primeiro e quarto anos Autor / Ano Sitzia e Sobrido, 1997 Tomayconza, 1999 Velanovich 1999 Kuehn 2000 Krishnnan 2001 Coster 2001 Kwan 2002 Weiss e Spray, 2002 Ganz et al, 2002 Beulac et al, 2002 Ganz et al, 2003 Kerr et al, 2003 Casso et al, 2004 Engel et al, 2004 Janz et al, 2005 Ridner, 2005 Schultz et al, 2005 Avis et al, 2005 Fehlauer et al, 2005 Conde et al, 2005 Fatores emocionais (p valor) Fatores físicos (p valor) - < 0,05 - <0,05 - < 0,01 <0,001 para todos os cinco anos < 0,05 para os cinco anos Fatores Fatores sociais funcionais (p valor) valor) < 0,05 para os cinco anos 0,001 para o primeiro e terceiro anos e 0,004 para o segundo ano (p 0,001 para os quatro anos - <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 - 0,01 - - - - - - - - - - - - - - - - - <0,01 - - - - - - - - - - - <0,01 - <0,01 - <0,01 - =0,006 - - - - - - 29 3 JUSTIFICATIVA No Brasil, muitos casos de câncer de mama ainda são diagnosticados em estágios avançados e podem necessitar de tratamentos mais agressivos o que eleva a probabilidade do desenvolvimento de complicações pós-tratamento, como o linfedema. Os problemas físicos e emocionais associados ao linfedema podem ter grande repercussão na qualidade de vida das mulheres tratadas para câncer de mama. Assim, a avaliação da qualidade de vida destas pacientes consiste em um aspecto importante para a melhora da assistência prestada a estas mulheres. 30 3 3.1 OBJETIVOS OBJETIVO GERAL Avaliar a qualidade de vida em uma coorte de mulheres submetidas a tratamento cirúrgico para câncer de mama entre 2001-2002, no Hospital do Câncer INCA 3 no Rio de Janeiro, no período de abril a setembro de 2006 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Avaliar a qualidade de vida das mulheres submetidas a tratamento cirúrgico para câncer de mama; Comparar a qualidade de vida das mulheres portadoras de linfedema com aquela das que não apresentam esta patologia; 31 4 METODOLOGIA Para cumprir os objetivos propostos, foi realizado um estudo observacional transversal em uma coorte de mulheres que receberam tratamento cirúrgico para neoplasia de mama no Hospital do Câncer III do Instituto Nacional do Câncer do Ministério da Saúde entre agosto de 2001 e novembro de 2002. As mulheres da coorte elegíveis para o estudo foram entrevistadas e submetidas a exame fisioterapêutico entre abril e setembro de 2006. 4.1 POPULAÇÃO DE ESTUDO A coorte inicial, de onde foram retiradas as mulheres que constituíram a população de estudo, foi formada para a realização de um estudo sobre incidência de linfedema em mulheres submetidas a tratamento cirúrgico para câncer de mama, no Hospital do Câncer III do Instituto Nacional de Câncer (INCA) (Bergmann,2006). Foram consideradas elegíveis para ingressar nessa coorte mulheres com câncer de mama, submetidas à cirurgia conservadora ou mastectomia, associada à linfadenectomia axilar (nível I, II ou III). Foram critérios de exclusão: realização de tratamento oncológico em outra instituição; câncer de mama contralateral prévio e câncer de mama bilateral sincrônico; linfedema e alteração funcional prévios de membros superiores; cirurgia paliativa com presença de metástases à distância; mulheres que não apresentassem condições de responder as perguntas. O recrutamento das pacientes foi realizado no período de abril a setembro de 2006, onde através de contato telefônico ou telegrama postal (para as pacientes cujos telefones não estavam atualizados), foram agendadas consultas de revisão anual, conforme protocolo institucional (Bergmann et al, 2006). As mulheres elegíveis foram abordadas no ambulatório de fisioterapia, ao comparecer para a consulta fisioterapêutica, sendo indagadas sobre seu interesse em participar do estudo após a consulta. Mediante a aceitação da paciente, foi entregue o termo de consentimento livre e 32 esclarecido, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto Nacional do Câncer, onde estas foram informadas dos objetivos e características do estudo. 4.2 COLETA DE DADOS Para coleta dos dados foi utilizado um instrumento construído para esse fim e previamente testado, composto por três partes (Anexos 1, 2 e 3). A primeira parte do instrumento aborda questões referentes às características sócio demográficas das pacientes (idade, estado civil, escolaridade, religião, renda familiar, profissão e retorno ao trabalho), referidas diretamente pelas pacientes. A segunda parte aborda tratamentos realizados (tipo de cirurgia, radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia, reconstrução mamária e consultas de apoio psicológico) para o tratamento do câncer e as seqüelas físicas (limitação do arco de movimento, parestesia em intercostobraquial, escapula alada, dor, linfedema de membro superior) relacionadas à terapêutica na data da última avaliação fisioterapêutica e obtidas do prontuário das pacientes. A terceira parte constitui o Questionário de Qualidade de Vida da Organização Européia de Pesquisa e Tratamento de Câncer (EORTC - QLQ C-30) e o módulo específico para câncer de mama BR-23. O EORTC QLQ - C30 aborda cinco escalas funcionais diferentes: física; emocional; cognitiva; social e funcionalidade geral, uma escala de mensuração global da qualidade de vida e outra escala para os sintomas associados a terapêutica como dor, fadiga, diarréia e constipação (Kerr et al, 2003). Este questionário encontra-se em sua terceira versão, tendo sido traduzido e validado em 49 países (EORTC, 2005). No Brasil, alguns autores já utilizaram este questionário para estudos sobre qualidade de vida em câncer de mama e câncer de cabeça e pescoço (Veloso, 2001). A utilização do questionário foi autorizada pela da Organização Européia de Pesquisa e Tratamento do Câncer (EORTC). 33 4.3 VARIÁVEIS DO ESTUDO 4.3.1 Variáveis coletadas na entrevista com as pacientes -Idade: considerada a idade na data da entrevista para o estudo, referenciada pelas pacientes. Posteriormente a variável foi classificada como idade até sessenta anos e idade maior ou igual a sessenta anos. -Estado civil: referido pelas pacientes na data da entrevista, e posteriormente classificado como mulheres que moravam com companheiro (casadas e união não formal) e mulheres que não possuíam companheiro (solteira / divorciada / viúva). -Escolaridade: referida pelas pacientes na data da entrevista, classificado posteriormente em até o primeiro grau completo e segundo grau incompleto e acima. -Profissão: foi indagada a profissão na data da entrevista, sendo classificada em do lar e aposentada, empregada doméstica, serviços e comércio, profissionais de saúde e educação e outros. -Renda familiar: foi considerado como renda familiar o relato da paciente acerca da renda mensal média das pessoas que residem em sua casa, sendo classificada em dois grupos: renda familiar até R$ 1000,00 e renda familiar acima de R$ 1000,00. -Religião: foi considerado o relato das pacientes na data da entrevista, sendo classificado como: pratica alguma religião e não tem religião. -Retorno ao trabalho: foi considerado como retorno ao trabalho quando a paciente que trabalhava previamente retornou para algum tipo de atividade laboral remunerada após o tratamento para câncer de mama, classificado como: retornaram ao trabalho e não retornaram ao trabalho. 34 4.3.2 Variáveis coletadas nos prontuários médicos das pacientes - Tipo de cirurgia: o tipo de cirurgia foi obtido através do relato cirúrgico em prontuário médico das pacientes, sendo classificado em cirurgias radicais e conservadoras. - Reconstrução mamária imediata ou tardia: o relato de cirurgias de reconstruções mamárias obtidas a partir do relatório médico em prontuário da instituição, sendo classificado em pacientes que realizaram reconstrução e pacientes que não realizaram. - Quimioterapia: Considerou-se como tratamento o relato em prontuário médico de realização de quimioterapia. - Radioterapia: foi definido através do relato em prontuário médico de realização de radioterapia, independente da região irradiada. - Hormonoterapia: foi definido através do relato em prontuário médico de realização passada ou ainda em curso de medicação específica. - Suporte psicológico: foi considerado o relato em prontuário médico de pelo menos uma consulta com psicólogo ou psiquiatra. - Tempo de seguimento: foi verificado o tempo (em meses) transcorrido entre a cirurgia e a data da entrevista de forma contínua. - Estadiamento tumoral: foi utilizada a classificação clínica TNM preconizada pela União Internacional contra o câncer (UICC) em 1989, sendo estratificada em estádio até IIA e estádios superiores ou iguais a IIB. 4.3.3 Variáveis coletadas a partir do exame fisioterapêutico - Restrição do arco de movimento: foram realizados testes bilaterais para todos os movimentos da articulação do ombro segundo protocolo institucional, sendo considerado como restrição do arco de movimento um ou mais movimentos que não atingiram a amplitude articular máxima no membro homolateral a cirurgia. 35 - Escápula alada: foram realizados testes segundo protocolo institucional, sendo classificada em presença ou ausência de escapula alada (Bergmann et al, 2006). - Lesão do nervo intercostobraquial: foi definido como qualquer alteração sensitiva relatada pela paciente, ao exame físico, no trajeto do nervo intercostobraquial (Bergmann et al, 2006). - Dor: foi definido como dor todo e qualquer processo álgico que a paciente apresentou no momento do exame físico, sendo classificado como presença ou ausência de dor. - Linfedema: Para definição dos casos de linfedema foi realizada perimetria no membro superior homolateral a cirurgia e no membro contralateral a cirurgia como meio de comparação. A perimetria foi obtida na prega cubital, 7cm e 14 cm acima desta e 7cm, 14cm, 21cm abaixo. Em seguida as medidas referentes a cada ponto foram plotadas na fórmula preconizada por Casley–Smith (1994). Esta fórmula é uma estimativa a partir das cinco medidas de circunferência, tratando cada segmento do membro como um par de circunferências (cone truncado). O volume do segmento foi dado por: V = h * (C² + Cc + c² ) / (π* 12), onde V é o volume do segmento do membro, C e c são as circunferências entre os pontos, e h a distância entre as circunferências (C,c) (Bergmann, 2000). O membro contralateral foi usado como controle, sendo considerados linfedema os volumes acima de 200 ml (Bergmann, et al, 2004). As pacientes que apresentavam linfedema de membro superior anterior a data do último exame físico foram consideradas como portadoras da patologia ainda que o resultado da volumetria fosse menor que 200 ml. Por ser essa uma condição crônica, considerou-se que o volume do membro, nessas pacientes, se encontrava sob controle, porém não curado. 4.3.4 Questionário de qualidade de vida O questionário EORTC é composto por 30 perguntas, divididas em três dimensões de análise: Condição global de saúde: duas questões em escala Likert de sete pontos (onde um corresponde a péssimo e 7 corresponde a ótimo); 36 Escalas funcionais: onde são avaliadas quatro dimensões (funcionamento físico, desempenho de papéis, funcionamento emocional, cognitivo e social), com quinze itens em escala Likert de quatro pontos (onde as respostas seguem o padrão não, um pouco, bastante e muito); Escala de sintomas: treze itens de avaliação, em escala Likert de quatro pontos (fadiga, dor, vômitos, insônia, náuseas, constipação, diarréia, perda de apetite, dispnéia e dificuldades financeiras). O questionário EORTC contém também um módulo específico para pacientes que tiveram câncer de mama (BR-23), constituído por vinte e três perguntas, divididas em dois grupos. O primeiro grupo contém questões relacionadas à imagem corporal, ao funcionamento e prazer sexuais e às perspectivas das pacientes para o futuro. O segundo grupo aborda sintomas secundários ao tratamento para câncer de mama, referentes à quimioterapia, sintomas na mama e no braço e queda de cabelo (respostas em escala Likert de quatro pontos). Todos os questionários foram aplicados por entrevistadores treinados. O questionário EORTC QLQ C – 30 está estruturado, originalmente, para ser auto respondido. Porém, como forma de padronização do método e considerando a baixa escolaridade da maioria da população entrevistada e a possível dificuldade de interpretação das perguntas, optou-se pela sua aplicação através de entrevista. Todos os entrevistadores foram treinados com vistas à padronização da coleta de dados. 4.4 ANÁLISE DOS DADOS A análise inicial contemplou as distribuições de freqüência das diferentes respostas aos itens do questionário e dos escores de desempenho global e nas diferentes dimensões. Os escores de desempenho global e nas diferentes dimensões para cada paciente foram calculados segundo as normas estabelecidas no manual do EORTC. Segundo o manual da EORTC escores elevados para as escalas funcionais (0 - 100) indicam melhor funcionalidade e escores elevados para as escalas de sintomas (100 - 0) representam maior impacto dos problemas, em nosso estudo a escala de sintomas foi revertida, como recomendado por Koller e Lorenz 37 (1998), de forma que resultados mais elevados significam, para todos os itens do questionário, melhores resultados. Os dados referentes aos escores em geral e de qualidade de vida foram categorizados em dois grupos: no primeiro grupo, foram incluídas as pacientes que alcançaram escore inferior a 75 pontos; no segundo grupo, foram incluídas aquelas que obtiveram escores entre 75 e 100 pontos. Considerou-se como ruins os escores obtidos pelo primeiro grupo e como bons, aqueles referentes ao segundo grupo. Foram investigadas possíveis associações entre os escores de desempenho e variáveis selecionadas, através do teste estatístico do Qui-quadrado e Teste Exato de Fisher. O teste de variâncias de Levigne e o teste T para duas amostras independentes foram utilizados para comparação entre as médias dos escores nas pacientes com e sem linfedema e entre as médias dos escores de pacientes com 24 meses ou mais de 24 meses transcorridos entre a cirurgia e o diagnóstico de linfedema. Foram calculadas razões de prevalência e seus respectivos intervalos de confiança de 95%. A população elegível para o estudo foi constituída por 1002 pacientes, sendo 882 mulheres sem linfedema e 120 mulheres com linfedema (Quadro 1). Foram excluídas desta população 235 mulheres (23,45%), sendo 39 com linfedema e 198 sem linfedema. Os principais motivos de exclusão foram: evolução para óbito que ocorreu em 123 pacientes (52,34%), seguido pelo desenvolvimento de metástases com 85 (36,17%) e por recidiva da doença com 14 (5,96%). Preencheram os critérios de inclusão 767 mulheres, que formaram a população de estudo. Destas, 686 não apresentavam linfedema até a data da avaliação fisioterapêutica e 81 apresentavam linfedema. Das pacientes que haviam tido diagnóstico de linfedema anterior ao início do estudo, 3 se recusaram a participar do estudo, ocorreram 12 perdas e 66 pacientes foram entrevistadas. Entre as pacientes sem diagnóstico de linfedema antes do início do estudo, 30 se recusaram a participar, ocorreram 173 perdas e 483 foram entrevistadas, sendo que neste grupo, 53 tiveram diagnostico de linfedema na consulta. A população de estudo ficou constituída por 549 pacientes, sendo 430 do grupo sem diagnóstico prévio de linfedema e 119 pacientes pertencentes ao grupo de mulheres com diagnóstico de linfedema (Quadro 4). 38 QUADRO 4: População de estudo Coorte inicial de 1002 pacientes 39 exclusões 3 recusas 120 pacientes com linfedema 81 pacientes 882 pacientes sem linfedema 198 exclusões 30 recusas 684 pacientes 12 perdas 171 perdas 66 pacientes entrevistadas com linfedema 483 pacientes sem linfedema entrevistadas 53 pacientes desenvolveram linfedema 119 pacientes entrevistadas com linfedema 430 pacientes entrevistadas sem linfedema 39 5 ARTIGO QUALIDADE DE VIDA E CÂNCER DE MAMA: UMA COMPARAÇÃO ENTRE MULHERES COM E SEM LINFEDEMA Autores: Luis Gonzaga de Moura Junior Inês Echenique Mattos 40 RESUMO: No Brasil, o câncer de mama é a segunda localização de câncer mais incidente na população feminina. Nos últimos anos, tem aumentado a sobrevida livre de doença., despertando o interesse em investigar a qualidade de vida de pacientes tratadas. O objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade de vida de mulheres submetidas a tratamento cirúrgico para câncer de mama e verificar possíveis diferenças derivadas do desenvolvimento de linfedema de membro superior. A população de estudo foi constituída por 549 mulheres submetidas a exame físico por fisioterapeuta. A definição dos casos de linfedema foi realizada através da perimetria. As participantes foram entrevistadas para coleta de dados sócio-demográficos, sendo aplicado o questionário de qualidade de vida EORTC QLQ C-30 e o módulo BR-23. Informações sobre as características do tratamento e demais variáveis clínicas foram obtidas nos prontuários médicos. Os escores de qualidade de vida das pacientes foram agregados e transformados em valores em uma escala de 0 a 100 pontos. Para cada item do questionário foram calculadas medidas de tendência central e dispersão. Foram analisadas possíveis associações entre presença de linfedema e baixo desempenho nas escalas do questionário, através de razões de prevalência. A média de qualidade de vida global foi de 75,2 pontos e a mediana de 75,0. Entre as escalas funcionais do EORTC, o funcionamento social apresentou a média mais elevada, seguida pelo funcionamento geral. As escalas de funcionamento emocional e cognitivo foram as que apresentaram o pior desempenho, com médias, respectivamente, de 58,1 e 65,9. Nas escalas de sintomas do BR-23 destaca-se o item imagem corporal com a menor média de pontuação de todo o questionário. O grupo de pacientes com linfedema teve uma pontuação média de qualidade de vida menor em relação ao grupo sem a patologia. Mulheres com linfedema tiveram maior probabilidade de apresentar escore de qualidade de vida global menor que 75,0 do que aquelas sem essa patologia. Observou-se também maior prevalência de escores baixos para funcionamento cognitivo e emocional entre estas. As pacientes que desenvolveram linfedema apresentaram probabilidade duas vezes maior de apresentar escore baixo no item sintomas do braço homolateral à cirurgia. 41 ABSTRACT: Breast cancer is the second most common cancer among women in Brazil. In recent years, there has been an increase in progression-free survival of the disease, raising interest in the quality of life of patients treated for it. The objective of this study was to evaluate the quality of life of women who received surgical treatment for breast cancer and to verify any possible differences arising from the development of lymphedema of the upper extremities. The study population consisted of 549 women, who received a physical exam performed by a physiotherapist. Cases were defined using perimetry. Participants were interviewed to collect socio-demographic data, using the EORTC QLQ C-30 quality of life and the BR-23 module. Information about the type of treatment and other clinical variables was obtained from medical records. The scores of quality of life were aggregated and transformed into values on a 0–100 point scale. Central tendency and dispersion measures were calculated for each question. The study evaluated the possible association between presence of lymphedema and low scores on the questionnaire, through prevalence ratios. The average global quality of life for all participants was 75.2 points, and the median was 75.0. The EORTC’s functional scales showed the highest overall average for social functioning, followed by general functioning. The participants’ lowest scores were for the emotional and cognitive functioning scales with averages of 58.1 and 65.9, respectively. With regard to the BR-23 symptoms scale, it is noteworthy that body image had the lowest average score for the questionnaire as a whole. The group of patients with lymphedema had a lower average score for quality of life than the group without this pathology. Women with lymphedema had a higher probability of having a global quality of life score lower than 75.0 than those without this pathology. These women also yielded a higher prevalence of lower scores for cognitive and emotional functioning. Patients who developed lymhedema had twice the probability of having a lower score on the item for symptoms related to the homolateral arm after surgery than those who do not. 42 INTRODUÇÃO O câncer de mama é uma das principais causas de morte por neoplasias em mulheres brasileiras, sendo a segunda localização de câncer mais incidente na população feminina (MS/INCA, 2006). No Brasil, os grandes números de casos diagnosticados em estágios mais avançados, ainda, precisam, muitas vezes, de tratamentos mais agressivos. Essa situação aponta para a necessidade de conhecer de modo mais aprofundado possíveis complicações que surjam após o tratamento e sua repercussão na qualidade de vida das sobreviventes. O linfedema caracteriza-se principalmente e funcionalmente, a complicação mais incapacitante do tratamento para câncer de mama (Petrek et al,2000). Os problemas físicos e emocionais associados ao linfedema têm despertado o crescente interesse em investigar a qualidade de vida de pacientes submetidas a tratamento oncológico para câncer de mama que desenvolveram esta patologia. Além disso, as necessidades médicas e psicossociais específicas das sobreviventes precisaram ser avaliadas, buscando-se otimizar os cuidados pós-tratamento (Mols et al, 2005). Entretanto, são poucos os estudos que, no Brasil, investigaram a qualidade de vida em pacientes acometidas por câncer de mama que desenvolveram linfedema de membro superior. A Organização Mundial de Saúde (2006) define qualidade de vida como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. No campo da saúde, a qualidade de vida é definida como o valor atribuído à vida, ponderado pelas deteriorações funcionais; as percepções e condições sociais que são induzidas pela doença e agravos; tratamento; a organização política; e a econômica do sistema assistencial. (Auquier et al, 1997 apud Minayo, 2000) O objetivo deste estudo é avaliar a qualidade de vida em um grupo de mulheres submetidas a tratamento cirúrgico para câncer de mama, verificando possíveis diferenças derivadas do desenvolvimento de linfedema. 43 MATERIAL E MÉTODOS A população de estudo originou-se de uma coorte de 1002 pacientes tratadas para câncer de mama, em acompanhamento em hospital de referência para câncer, constituída no período 2001-2002, com o objetivo de estimar a incidência de linfedema (Bergmann, 2005). Entre janeiro e março de 2006, foi efetuada uma revisão dos prontuários médicos destas mulheres, a fim obter informações sobre óbito ou recorrência da doença, bem como, critérios de exclusão para o presente estudo. Após a revisão, foram identificadas 767 pacientes que foram contatadas por telefone ou via telegrama, no período de abril a setembro de 2006, para a realização de uma reavaliação física no setor de fisioterapia. Destas, 185 não atenderam a convocação, 13 foram excluídas (1 por fratura no membro superior homolateral à cirurgia e 12 por não apresentarem condições de responder ao questionário) e 33 se recusaram a participar do estudo. A população de estudo ficou constituída por 549 mulheres que foram examinadas e entrevistadas. A realização deste estudo foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Instituo Nacional do Câncer. O exame físico efetuado pelo fisioterapeuta seguiu as normas definidas em protocolo institucional (Bergmann, et al, 2006). Para definição dos casos de linfedema foi realizada perimetria no membro superior homolateral a cirurgia e no membro contralateral a cirurgia como meio de comparação. A perimetria foi obtida na prega cubital, 7 cm e 14 cm acima desta e 7cm, 14cm, 21cm abaixo. As medidas referentes a cada ponto foram aplicadas na fórmula preconizada por Casley–Smith (1994). O membro contralateral foi usado como controle, sendo considerados linfedema os volumes acima de 200 ml (Bergmann, et al, 2004). Foram, também, identificadas outras complicações físicas relacionadas ao tratamento como limitação do arco de movimento, parestesia em nervo intercostobraquial (ICB), escápula alada e dor. Após a consulta, as pacientes foram abordadas quanto ao interesse em participar do estudo e mediante aceitação foi fornecido o termo de consentimento livre e esclarecido. Foi efetuada uma breve entrevista para a coleta de informações sobre características sócio-demográficas e, a seguir, foi aplicado o questionário de qualidade de vida da Organização Européia de Pesquisa e Tratamento do Câncer (EORTC QLQ C-30) e o módulo específico para câncer de mama (BR23). O EORTC QLQ-C30 aborda cinco escalas funcionais (físico, funcional, cognitivo, emocional e social), uma escala de qualidade de vida e uma escala de sintomas. O módulo BR-23 incorpora duas escalas funcionais (imagem corporal e sexual), e três escalas de sintomas (mama, 44 braço e efeitos da quimioterapia) (Montazeri, et al, 2000). Informações sobre as características do tratamento e demais variáveis clínicas foram obtidas nos prontuários médicos das pacientes. ANÁLISE ESTATÍSTICA Procurou-se explorar as possíveis relações entre características sócio-demográficas e clínicas e presença de linfedema, classificando a população de estudo em dois grupos, segundo presença ou ausência dessa patologia. Nesta análise foi empregado o teste X² (qui- quadrado), considerando como estatisticamente significativo p valor ≤ 0,05. Os escores de qualidade de vida das pacientes foram agregados e transformados em valores em uma escala de 0 a 100 pontos, segundo o manual da EORTC (2001). Os escores dos itens em que a menor pontuação representava melhor status foram revertidos, possibilitando padronizar todos os escores de forma que pontuações mais próximas de 100,0 indicassem melhor qualidade de vida ou menor interferência de problemas na vida das pacientes. (Koller & Lorenz, 1998) Para cada item componente do questionário foram calculados a média e o desvio-padrão, primeiro quartil, mediana e terceiro quartil. Buscou-se investigar a existência de diferenças entre os escores médios de cada item do questionário de qualidade de vida entre as mulheres portadoras de linfedema e aquelas sem esta patologia. Para tanto, inicialmente, foram avaliadas diferenças entre as médias dos escores nos dois grupos de pacientes, através do teste de variâncias de Levigne e do teste T para duas amostras independentes, considerando p valor ≤ 0,05. A população de estudo foi estratificada em dois grupos, com base na mediana do escore de qualidade de vida global; no primeiro grupo foram incluídas as pacientes com escores entre 0,00 e 74,99; no segundo grupo, aquelas com escores entre 75,00 e 100,00. Foram analisadas possíveis associações entre presença de linfedema e baixo desempenho nas diferentes escalas do questionário de qualidade de vida, sendo calculadas razões de prevalência e seus respectivos intervalos de confiança a 95%. A seguir, examinou-se a possibilidade de presença de confundimento na associação entre linfedema e qualidade de vida, considerando variáveis sóciodemográficas e clínicas que apresentaram associação com linfedema. O programa SPSS (versão 11.0) foi utilizado para a realização das análises estatísticas. 45 RESULTADOS As mulheres portadoras de linfedema não diferiram daquelas sem essa complicação, em relação à idade, escolaridade, renda familiar, retorno ao trabalho e religião. Observou-se, entretanto, maior proporção de mulheres que relatavam não ter profissão, assim como de mulheres sem companheiro entre as portadoras de linfedema. Entre as variáveis clínicas, foi observada diferença estatisticamente significativa em relação à reconstrução imediata da mama e a realização de radioterapia (Tabela 1). As médias e as medianas dos escores de qualidade de vida e das subescalas dos questionários para o conjunto da população de estudo e para as mulheres sem e com linfedema são apresentadas na Tabela 2. A média de qualidade de vida global foi de 75,2 pontos e a mediana foi de 75,0. Entre as escalas funcionais do EORTC, a escala de funcionamento social apresentou a média mais elevada com 89,9 pontos e mediana de 100,0, sendo que, no primeiro quartil já foi alcançado o escore máximo. A escala de funcionamento geral, também, alcançou pontuação mais elevada do que a média da qualidade de vida, com 76,8 pontos e mediana de 100,0. As escalas de funcionamento emocional e de funcionamento cognitivo do EORTC foram as que apresentaram o pior desempenho, com médias, respectivamente, de 58,1 e 65,9. As medianas dessas duas escalas apresentaram valores similares (66,7), porém a pontuação máxima para funcionamento cognitivo foi alcançada ainda no terceiro quartil, o que não ocorreu com o funcionamento emocional. Entre as escalas de função do BR-23, destaca-se o item imagem corporal com a menor média de pontuação de todo o questionário (22,2 pontos), sendo que, para 75% das mulheres entrevistadas, a pontuação desse item foi de até 33,0 pontos. O item referente aos sintomas do braço, da escala de sintomas do BR-23, que se refere à presença de dor, sensação de inchaço ou dificuldade para erguer o braço, apresentou pontuação média de 78,5 pontos. Pode-se observar que o grupo de pacientes portadoras de linfedema teve uma pontuação média de qualidade de vida global menor em relação ao grupo sem linfedema, embora essa diferença não tenha sido estatisticamente significativa. Em relação às escalas funcionais do EORTC, a média dos escores das pacientes com linfedema foi sempre menor, porém essa diferença, também, não teve significância estatística. Em relação às escalas funcionais do BR -23, o grupo sem linfedema apresentou escores médios mais altos, sendo essa diferença estatisticamente significativa. Entre as escalas de sintomas do 46 BR-23, os escores médios do item sintomas do braço entre as mulheres com linfedema foram menores do que os obtidos pelas mulheres sem essa patologia, apresentando diferença estatisticamente significativa (67,98 vs 81,41). Na tabela 3, observa-se que mulheres com linfedema têm maior probabilidade de apresentar escore de qualidade de vida global menor do que a mediana do conjunto da população de estudo (75,0), em relação aquelas sem o linfedema. Em relação às escalas do EORTC, verifica-se maior prevalência de escores menores que 75,0 para funcionamento cognitivo e funcionamento emocional entre as mulheres com linfedema; embora o intervalo de confiança de ambos tenha incluído a unidade, o limite inferior dos dois é bastante próximo do 1,0. Em relação à escala de sintomas do EORTC, dispnéia e insônia apresentaram maior freqüência de pontuação abaixo de 75,0 entre as mulheres com linfedema, embora esses resultados não tenham alcançado significância estatística. Na análise dos quesitos do BR-23, pode-se observar, entre as escalas funcionais, maior prevalência de escore baixo no item imagem corporal entre as mulheres com linfedema, em comparação com mulheres sem essa complicação, com um intervalo de confiança limítrofe. As pacientes com linfedema tiveram probabilidade duas vezes maior de apresentar escore baixo no item sintomas do braço homolateral à cirurgia, em comparação com as mulheres sem linfedema. Na Tabela 4, encontram-se as Razões de Prevalências bruta e ajustadas entre linfedema e qualidade de vida. A magnitude da associação entre linfedema e qualidade de vida manteve-se praticamente similar, quando ajustada por cada uma das potenciais variáveis de confundimento consideradas, ocorrendo, porém, perda da significância estatística. O ajuste simultâneo pelas três variáveis implicou em redução da magnitude da associação em estudo. DISCUSSÃO O interesse pela qualidade de vida de pacientes com câncer de mama vem crescendo entre os profissionais de saúde envolvidos nos processos de tratamento ou reabilitação. A busca de uma melhor qualidade de vida dessas pacientes, em nosso país, implica em uma maior compreensão dos aspectos relacionados às complicações decorrentes do tratamento de casos diagnosticados em estádios mais avançados, sendo o linfedema de membro superior a principal alteração observada. 47 Neste estudo, foi observado escore médio de qualidade de vida geral de 75,2 pontos entre as mulheres estudadas. Os escores altos observados poderiam, em parte, ser atribuídos ao período de tempo transcorrido desde o tratamento inicial até a ocasião da entrevista, já que o tempo médio entre a cirurgia e a avaliação da qualidade de vida foi, em média, de 4 anos. Nesse intervalo de tempo, as mulheres tiveram mais tempo para lidar com a situação de stress, decorrente do diagnóstico de câncer e, além disso, não estavam mais sujeitas aos efeitos da radioterapia e da quimioterapia. Os estudos de Avis et al (2005), Kuehn et al (2000) e Ganz et al (2002) encontraram resultados semelhantes a este estudo. Fehlauer et al (2005), comparando mulheres com tempo de cirurgia de sete e quinze anos, encontraram melhor qualidade de vida entre as pacientes com maior tempo pós-cirúrgico. Tomayconza (1999) verificou pior qualidade de vida nas pacientes que foram avaliadas nos primeiros cinco anos de tratamento. Alguns estudos têm demonstrado que as pacientes que desenvolvem linfedema referem pior qualidade de vida, em comparação com aquelas que não apresentam essa complicação (Sitzia & Sobrido, 1997; Velanovich e Szymanski, 1999; Kuehn et al, 2000; Coster et al, 2001; Krishnnan et al, 2001; Beulac et al, 2002; Casso et al, 2004; Schultz et al, 2005; Ridner, 2005). Este estudo mostra que nas mulheres portadoras de linfedema, o escore médio de qualidade de vida foi de 72,4 pontos e, entre aquelas sem linfedema, esse valor correspondeu a 75,9, embora essa diferença não tenha se mostrado estatisticamente significativa. Em outra investigação sobre a qualidade de vida em pacientes tratadas para câncer de mama, utilizando o mesmo questionário, não foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre os escores de qualidade de vida de pacientes com e sem linfedema (Kwan et al, 2002). Krishnnan et al (2001), utilizando o questionário Breast Cancer Treatment Outcome Scale (BCTOS), também, não encontraram diferenças estatisticamente significativas entre os escores médios dos dois grupos. Kuehn et al (2000), utilizando um questionário próprio, observaram melhor qualidade de vida nas pacientes sem linfedema. Entre as escalas de funcionamento do EORTC, o item funcionamento social foi aquele que apresentou escores médios mais altos entre o conjunto das pacientes, com uma média de 89,9 pontos. Resultado semelhante foi observado em outro estudo, realizado em nosso país (Conde et al 2005), embora os autores tenham utilizado outro questionário, denominado de Medical 48 Outcome Scale – Short Form - 36 (MOS - SF – 36). Esse questionário utiliza escores de 0 a 100 pontos, sendo observado, para a mesma escala, um valor médio de 75,8 pontos. Ganz et al (2002), em estudo com mulheres com tempo de seguimento médio póscirúrgico de 6,3 anos, encontraram um escore médio de 87,9 pontos para esta escala de funcionamento, também utilizando o questionário SF-36. Engel et al (2004), comparando a evolução dos escores de funcionamento social, durante os quatro primeiros anos pós-tratamento, observaram que à medida em que avança o tempo transcorrido desde a cirurgia, aumenta o escore de funcionamento social. A escala de funcionamento emocional foi aquela que teve maior peso na qualidade de vida das mulheres de nosso estudo. Em seu estudo, Engel et al (2004) encontraram média de 66,3 pontos para essa escala, em pacientes avaliadas durante quatro anos seguidos. Os autores observaram que, assim como aconteceu com o funcionamento social, houve uma evolução para melhor dos escores, do primeiro para o quarto ano, o que poderia estar indicando que o peso desses fatores emocionais sobre a qualidade de vida diminui com o passar do tempo. As pacientes com linfedema obtiveram escores médios inferiores aos das pacientes sem linfedema, nas escalas física, funcional, social, emocional e cognitiva; essas diferenças, no entanto, não se mostraram estatisticamente significativas. Estes achados são concordantes com aqueles do estudo de Schultz et al (2005). Em outro estudo com pacientes portadoras de linfedema, Kwan et al (2002) encontraram diferenças estatisticamente significativas entre os escores das escalas física, emocional, cognitiva e social. Beulac et al (2002), não encontraram diferenças entre os escores relativos a fatores emocionais, mas as escalas física e funcional se mostraram positivamente associadas à pior qualidade de vida em mulheres com linfedema. Velanovich & Szymanski (1999), avaliando pacientes tratadas para câncer de mama, encontraram escores médios mais baixos de saúde mental entre as portadoras de linfedema, não sendo observadas diferenças estatisticamente significativas entre os escores dos itens físico, geral e social. Ridner (2005) encontrou escores médios mais baixos para stress emocional entre as pacientes com linfedema. A imagem corporal foi o item do questionário BR-23 que apresentou escore médio mais baixo neste estudo. Janz et al (2005) encontraram médias de 68 a 82 pontos, dependendo do tipo de cirurgia realizada. A comparação com outros estudos não foi possível, devido ao fato destes não apresentarem os valores dos escores médios observados nesse item. 49 Conforme esperado, as pacientes portadoras de linfedema, neste estudo, apresentaram maior prevalência de escores baixos no quesito problemas do braço do BR -23 do que aquelas sem a patologia. As pacientes que receberam tratamento para linfedema experimentam, em geral, sintomatologia consistente com alteração da sensibilidade do membro afetado, perda de confiança no seu corpo, diminuição da atividade física, fadiga e estresse psicológico (Ridner, 2005). Enquanto, neste estudo, as pacientes com linfedema apresentaram maior freqüência de realização de radioterapia, o que, segundo Kwan et al (2002) estaria relacionado a uma probabilidade três vezes maior de desenvolvimento de sintomatologia no membro superior. Os problemas associados ao braço parecem ser um dos principais fatores motivadores da percepção de pior qualidade de vida em mulheres tratadas para câncer de mama (Engel et al, 2003). No seu estudo, esses autores referem que as pacientes que apresentavam esses problemas tinham probabilidade quatro vezes maior de ter baixos escores de qualidade de vida, em relação às mulheres que não os apresentavam. A associação entre problemas no braço e qualidade de vida, também, foi observada por Kwan et al (2002), Casso et al (2004) e Kuehn et al (2000). No estudo de Engel et al (2003), mulheres que referiam problemas no braço tiveram os escores físicos mais baixos e maior sintomatologia associada à dor e à fadiga, sendo levantada pelos autores a possibilidade de que esses sintomas sejam responsáveis pelos escores baixos entre as pacientes com linfedema. Segundo Sitzia & Sobrido (1997), após o tratamento para os problemas do braço, ocorre uma evolução positiva nos escores dos diferentes itens, principalmente mobilidade física e a diminuição da dor. Em relação aos diferentes estudos utilizados para comparação com nossos achados, algumas considerações devem ser efetuadas. Os critérios de diagnóstico de linfedema apresentam variações importantes entre os estudos, não havendo, portanto, uniformidade nas definições de casos utilizadas em cada pesquisa. Segundo Kuehn et al (2000), os sintomas avaliados subjetivamente tendem a receber graduação mais severa do que aqueles avaliados objetivamente. Neste estudo, efetuamos a mensuração direta do volume do membro, para determinar a presença de linfedema, porém, em outros, o relato das pacientes de sensação de inchaço foi considerado para esse diagnóstico. Outro ponto a ser salientado é o fato de que, nos estudos de Engel et al, (2003) e Kuehn et al (2000), os problemas no braço foram agrupados em uma variável única, não havendo, possibilidade de diferenciar, exclusivamente, os efeitos do linfedema, no resultado final dos escores de qualidade de vida. 50 Os achados deste estudo devem ser considerados à luz de suas limitações, entre elas, o seu caráter transversal que dificulta o estabelecimento da seqüência temporal entre a exposição e o desfecho qualidade de vida. No entanto, o grupo de mulheres estudado, devido aos critérios de inclusão na coorte inicial, consiste em um grupo diferenciado, em relação ao conjunto de mulheres tratadas para câncer de mama. Outra questão, consiste no fato de que este grupo apresentava um seguimento médio de quatro anos após a cirurgia, por ocasião da aplicação do questionário de qualidade de vida, o que pode acarretar diferenças em relação a grupos de pacientes cuja cirurgia transcorreu há menos tempo. Os resultados desse estudo sugerem que pacientes com linfedema têm maior probabilidade de referir pior qualidade de vida no período pós-operatório do que aquelas sem linfedema. Outras complicações pós-operatórias, como a limitação do arco de movimento, a presença de escápula alada, dor e parestesia na região do nervo ICB foram identificadas como possíveis fatores que poderiam contribuir para a pior qualidade de vida dessas pacientes. Este é um dos primeiros estudos brasileiros que avaliou a qualidade de vida de mulheres em mulheres com linfedema, permanecendo um amplo campo a ser explorado em estudos adicionais. Entre os diferentes aspectos a serem investigados, destaca-se as diferentes abordagens terapêuticas das complicações associadas ao tratamento de casos de câncer de mama em estágios avançados e a influência de questões sociais sobre a qualidade de vida desse grupo de pacientes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. AVIS, Nancy E. et al. Quality of life among younger women with breast cancer. Journal of Clinical Oncology. V. 23, n. 15, p. 3322 – 3330, 2005. 2. BEAULAC, SM. et al. Lymphedema and quality of life in survivors of early – stage breast cancer. Archieves of Surgery. V. 137, p. 1253 – 1257, 2002. 3. BERGMANN, A. et al. Diagnóstico do linfedema. Análise dos métodos empregados na avaliação do membro superior após linfadenectomia axilar para tratamento do câncer de mama. Revista Brasileira de Cancerologia. 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A magnitude da associação entre linfedema e qualidade de vida mantevese praticamente similar, quando ajustada por estado conjugal, ocupação e realização de radioterapia, ocorrendo, porém, perda da significância estatística. O ajuste simultâneo por essas três variáveis implicou em redução da magnitude da associação em estudo. As pacientes com linfedema apresentaram maior sintomatologia associada ao membro superior homolateral à cirurgia. Na comparação entre os grupos de mulheres com e sem linfedema de membros superior, as pacientes com essa patologia apresentaram média dos escores sempre inferiores a do grupo de pacientes sem a complicação, embora essas diferenças não tenham se mostrado estatisticamente significativas. Os resultados observados foram concordantes com os de outros estudos que analisaram a qualidade de vida em pacientes com câncer de mama. Este foi um dos primeiros estudos no Brasil que buscou avaliar qualidade de vida entre pacientes tratadas para câncer de mama com e sem linfedema. Outros estudos abordando a qualidade de vida dessas pacientes são importantes para o maior conhecimento dessa questão. 61 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. AVIS, Nancy E. et al. Quality of life among younger women with breast cancer. Journal of Clinical Oncology. V.23, n. 15, p. 3322 – 3330, 2005. 2. AZURDIA, RM et al. Chronic lymphoedema and angiosarcom. Clinical Dermatology.V. 24, n. 4, p. 270 – 272, 1999. 3. BADGER, C. et al. Physical therapies for reducing and controlling lymphoedema of the limbs. The Cochrane Library. V. 4, 2004. 4. BEAULAC, SM. et al. Lymphedema and quality of life in survivors of early – stage breast cancer. Archieves of Surgery.V. 137, p. 1253 – 1257, 2002. 5. BERGMANN, A. Prevalência de linfedema em mulheres submetidas a tratamento cirúrgico para câncer de mama. 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