entendendo o que significa o risco brasil

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ENTENDENDO O QUE SIGNIFICA O RISCO BRASIL
Manchete dos jornais( jun 2002 ) " Risco Brasil chegou aos 1.770 pontos, atrás apenas da Argentina, com
5.942 pontos"
Qual o significado disto ? É um número que mede o nível de desconfiança ou risco dos mercados financeiros em
relação aos países emergentes, calculado pelo banco de investimentos americano JP Morgan( índice Embi+ ) e
abrange 21 países: México, Argentina, Nigéria, Venezuela, Colômbia, Rússia, Turquia, Ucrânia, Peru, Filipinas,
Panamá, Polônia, Malásia, Coréia do Sul, Bulgária, Qatar, Equador, África do Sul, Marrocos e Egito e Brasil. No caso
brasileiro , tem como base um conjunto de títulos que circulam no mercado secundário da dívida externa brasileira,
com destaque um título do governo, o " C-Bond".
índice EMBI - Emerging Markets Bonds Índex, ou Índice de Títulos dos Mercados Emergentes - ITME - grupo
em que o Brasil esta incluido.
O nível de risco de um país mostra a certeza ou falta de certeza, que os investidores internacionais têm de que um
país vá honrar seus compromissos. Quanto mais alto for este número, maior será a possibilidade deste país vir a dar
um calote na dívida. Isto afasta os investidores, logo o país terá de oferecer juros mais altos para convencer os
investidores a comprar seus títulos - é um prêmio pelo risco. Com esse número ( 1.770 pontos ) para os investidores
estrangeiros o Brasil tornou-se o segundo país mais arriscado do mundo.
Os investidores internacionais utilizam os títulos do tesouro americano como aplicação de referência, por ser o mais
seguro do mundo, logo 1.770 pontos para os títulos do Brasil, significam na prática, que para os investidores
internacionais os títulos emitidos pelo Brasil, só compensaria os riscos, se negociados a uma taxa de 17,7 pontos
acima de um título do tesouro americano.
O título americano de 30 anos ( T - Bond ) fechou a última sexta ( 21/06/02), com juros de 5,3% ao ano, logo o título
equivalente brasileiro para ser negociado no mercado internacional teria de pagar juros de no mínimo 23% ( 5,3 +
17,7=23 ) ao ano, em dólar, naturalmente.
Pode-se também avaliar o risco de uma país, também pelo preço do título ( do país ) no mercado privado. O título da
dívida externa brasileira mais negociado é o C-Bond, vamos imaginar um título no valor de US$ 1 milhão, com
vencimento em 15 anos e taxa de juros de 13% ao ano. Na prática significa tomar dinheiro emprestado, com a
promessa de pagar em 15 anos, pagando a cada ano, juros de 13% .
Mas, o dono deste título desconfia que estão diminuindo as suas chances de receber no prazo ,não só os juros
anuais, mas também o seu US$ 1 milhão. Para reduzir seu prejuízo ele se desfaz deste título no mercado privado
internacional.
Por sua vez , o comprador do papel, sabendo o risco que corre, só compra se houver um deságio
(desconto ) por conta do risco que irá correr. É exatamente isto que estava ocorrendo no mercado privado
internacional nesta sexta ( 21/06/02 ). Aquele título de US$ 1 milhão da dívida brasileira estava sendo negociado por
US$ 558 mil.
Agora vamos aos cálculos:
título --> US$ 1 milhão --> juros 13% aa --> US$ 130mil por ano.
Negociado --> por US$ 558 mil, ao final do prazo quem comprou o título receberá os US$ 130mil /ano, sobre os
US$ 558 mil, logo (130/558)*100=23%, é de quanto será o rendimento em números redondos, que corresponde aos
17,7 pontos acima do título americano de 5,3%( 5,3 + 17,7=23%).
O risco da Argentina estava em 5.942 pontos ( 19/06/02) significando 59,42 + 5,3 = 64,72 % de juros sobre um título
da Argentina para compensar o risco do comprador.
O recorde do índice risco Brasil ocorreu na 1a semana de outubro de 2002, quando alcançou 2440 pontos.
Danos que a divulgação deste índice causa ao Brasil
Segundo o economista Roberto Macedo ( USP ), o índice acaba exagerando na visão que transmite das dificuldades
brasileiras.
Essa imagem manchada pelo índice causa grandes danos ao País, pois, além de seu impacto no mercado
financeiro, desestimula até mesmo investidores diretos , que viriam aqui com suas empresas para produzir e vender,
desenvolvendo atividades que, na realidade, muito pouco e indiretamente seriam afetadas pelo que se passa com
este índice.
Internamente também assusta investidores e consumidores, prejudicando a atividade produtiva.
Com a divulgação do índice, o preço do dólar sofre uma elevação, fato que provoca o aumento da dívida pública
interna, pois boa parte desta dívida é indexada ao dólar, aumentando ainda mais o prejuízo.
SARDENBERG, Carlos A. Não há risco de calote. De onde vem o medo ?. O Estado de São Paulo, 24 de jun. 2002, p.B2.
MACEDO, Roberto. O JP Morgan e seus estragos. O Estado de São Paulo, 5 de dezembro de 2002, p.A2.
Folha dinheiro. Folha de São Paulo, 15 de jun. 2002, p.B1
---------------------- Folha de São Paulo, 26 de jun 2002, p.B1
Para saber mais sobre economia - www.sardenberg.com.br
Produto Interno Bruto (PIB)
É tudo que se produz no país, de parafusos a serviços – desde que tenha valor
econômico. Uma semana de férias, por exemplo, é lazer para você, mas faturamento para
o hotel, a companhia aérea, o restaurante – em resumo é serviço, cujo valor econômico
faz parte do que se produziu no país.
Portanto, o PIB é uma medida da riqueza nacional – as variações indicam se, num dado
período, a economia está produzindo mais ou menos – numa palavra, se a economia está
crescendo – vendendo mais coisas e gerando mais empregos – ou andando para trás.
O PIB brasileiro hoje passa um pouco de R$ 1 trilhão – e isso quer dizer que tudo que se
produz aqui vale um trilhão de reais.
Por isso, não pense que é pouca coisa quando se discute se o PIB vai crescer mais ou
menos 1%.
1% de um trilhão de reais dá 10 bilhões de reais. Já pensou quanta gente precisa
trabalhar para produzir coisas no valor de 10 bilhões?
Outra referência importante. Para um país como o Brasil, emergente, o bom seria um
crescimento de 5% do PIB, por um longo período de anos. Isso aproximaria dos países
mais desenvolvidos.
Faz tempo que o país não atinge essa meta de crescimento. Não vai atingir neste ano,
embora o resultado de 2000, perto de 4%, seja muito melhor que o de anos anteriores.
Ou seja, estamos melhorando, mas ainda não chegamos lá.
RISCO-BRASIL
Julio Cezar Tozzo Mendes Pereira *
O "risco-Brasil" é um indicador financeiro cada vez mais
difundido pelos meios de comunicação, visto o interesse
despertado no mercado em geral. Entretanto, quem não
atua no mercado financeiro ou não tem atividades
comerciais com o exterior pode estar pouco familiarizado
com o significado do índice.
Então, o que é risco-Brasil?
Risco-Brasil é a diferença entre a taxa de rendimento dos
títulos do Tesouro norte-americano (US Treasuries) e a
taxa de rendimento proporcionado pelos títulos emitidos,
no exterior, pelo Tesouro Nacional. A diferença entre as
taxas (spread) indica o grau de confiança dos credores
internacionais quanto ao risco de crédito do Tesouro
brasileiro. Quanto maior o spread, maior a desconfiança
de que o Brasil irá honrar seus compromissos no exterior.
Por outro lado, quanto menor a diferença, maior a
credibilidade na capacidade de pagamento do País. No quadro abaixo, pode-se visualizar a estrutura temporal das taxas de juros dos governos americano e
brasileiro, bem como a diferença entre elas - o risco-Brasil. A curva de juros (yield curve) é formada pelas taxas de retorno dos principais títulos, ou seja, de maior
liquidez, em cada faixa de prazo.
Os títulos emitidos pelo Tesouro norte-americano são utilizados como referência (benchmark) para se medir o spread, pois são considerados, no mercado, como
livres de risco. Ninguém até hoje ousou duvidar da capacidade de pagamento daquele governo. Porém, momentos de tensão e conflitos, como o que
presenciamos recentemente no Oriente Médio e o crescente déficit do Tesouro norte-americano, aliado a uma fase de tímido crescimento daquela economia, têm
levado alguns especialistas a lançarem suas considerações contra tal conceito admitido como absoluto.
O risco-Brasil é divulgado sob a forma de pontos-base (basis point ou bp). Por exemplo, para o prazo de cinco anos, conforme demonstrado abaixo, o risco é de
725 pontos-base.
Taxa de rendimento do título brasileiro: 10,00%
Taxa de rendimento do título americano: (-) 2,75%
Risco-Brasil 7,25% ou 725 pontos-base
(1% eqüivale a 100 pontos-base)
Outro conceito a se ter em mente é que a taxa de rendimento (taxa de referência + spread) move-se em sentido inverso ao preço (valor presente) de um ativo.
Assim, se o preço sobe, a taxa de rendimento cai, e vice-versa.
O que se encontra mais comumente anunciado pela imprensa é o risco-Brasil medido pelo spread entre a taxa de rendimento paga pelo "C-Bond" (título brasileiro
mais negociado no mercado internacional) e a taxa de rendimento oferecida pelo título do Tesouro norte-americano de mesmo prazo de vencimento. No entanto,
considerar apenas o C-Bond significa ponderar um único ponto na estrutura temporal e, desta forma, deixa-se de avaliar o comportamento do risco brasileiro de
curto e de longo prazos. O C-Bond vence em 15/04/2014, ou seja, daqui a 11 anos.
Outra forma de medir o risco-Brasil, porém de pouco acesso ao público não-especializado, é através do indicador divulgado pelo Banco J.P. Morgan Chase
denominado EMBI+ Brasil (Emerging Markets Bond Index Plus Brasil). O índice é obtido pela ponderação dos spreads de uma cesta de títulos da dívida externa
pública brasileira de diversos prazos, incluído o C-Bond. Assim, considera-se esse conceito mais apropriado para resumir em um único número a idéia de riscoBrasil.
A difusão do risco-Brasil nos meios de comunicação e o acompanhamento diário desse indicador pelo mercado são resultados do significativo grau de abertura
que atingiu a economia brasileira.
O processo de globalização financeira, que se intensificou bastante na década passada, proporcionou a um número maior de empresas brasileiras acesso ao
mercado financeiro internacional. Até aquele período, a República, as empresas estatais e um grupo bastante seleto de grandes corporações conseguiam captar
recursos no exterior para financiar as suas atividades e investimentos. A atuação de boa parte do nosso empresariado e dos especialistas em finanças estava
restrita apenas ao mercado financeiro doméstico e ao acompanhamento atento das taxas de juros e indicadores da economia nacional.
Para se ter uma noção dos benefícios alcançados, as principais corporações brasileiras, em anos recentes, conseguiram realizar captações de recursos pelo
prazo de até 10 anos, através do lançamento de títulos no mercado internacional de capitais. O Tesouro Nacional, no mesmo período, realizou emissão com
prazo de 40 anos. Enquanto isso, no mercado nacional, o prazo máximo que uma debênture ou título público consegue alcançar é por volta de cinco anos.
Importante também considerar que, em certos momentos, é menos oneroso captar recursos no exterior do que no País, pois com o Tesouro Nacional
consumindo boa parte da poupança interna, os recursos restantes na economia tornam-se caros.
O risco-Brasil é sensibilizado diariamente pelo comportamento do mercado internacional, pela divulgação de índices macroeconômicos brasileiros e pelo
ambiente político nacional. Além disso, a avaliação qualitativa de risco (rating), feita pelas principais agências de classificação de risco, como Standard & Poor's e
Moody's, tem influência significativa no patamar de risco quantitativo de um país ou empresa.
Um ambiente tenso e de incertezas faz com que o mercado passe a cobrar uma taxa de juros maior pelos recursos. No ano passado, a indefinição na eleição
presidencial só encerrada com a realização do segundo turno em que saiu vitorioso um partido de oposição, fez com que o risco país atingisse patamar bastante
alto. Em setembro de 2002, registrou-se quase 2.450 pontos-base de risco, segundo o EMBI+ Brasil.
A posse do presidente da República, os compromissos assumidos pelo novo governo com o superávit fiscal, redução na relação Dívida Pública/PIB e respeito
aos contratos, foram eventos responsáveis, em grande parte, pela forte redução do risco-Brasil. Além desses fatores, deve-se considerar que os investidores
externos, dispondo de restritas oportunidades de investimentos rentáveis, passaram a sentir-se atraídos e confortáveis em aplicar parcela de seus recursos em
ativos brasileiros. Essa falta de alternativas de investimento deve-se ao atual ambiente geopolítico mundial, ao fraco crescimento econômico das grandes
potências, e à desconfiança do mercado nas empresas americanas, em razão dos escândalos contábeis.
O risco-Brasil (EMBI+ Brasil), no início de julho de 2003, encontrava-se no nível de 770 pontos-base. A significativa redução de 1.680 pontos-base, representa
uma economia formidável no custo de captação do Tesouro Nacional e das empresas brasileiras. No entanto, deve-se atentar para o fato de que o risco-Brasil ou
soberano é o risco do Tesouro Nacional. A maior parte das corporações capta recursos com um spread superior a esse índice. O tamanho desse diferencial
depende da credibilidade da empresa e do seu grau de inserção no mercado internacional.
Nos próximos meses, deve-se dedicar atenção redobrada ao ambiente político, baseado na apreciação pelo Congresso Nacional das propostas de reforma
tributária e previdenciária. Esta variável é que deverá ter maior peso de influência sobre o risco-Brasil, salvo a ocorrência de eventos inesperados que acabem
por dominar a atenção do mercado.
* Julio Cezar Tozzo Mendes Pereira é gerente de divisão da Diretoria Internacional/Gerência de Finanças Internacionais do BB
Fonte: www.bb.br
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