MOTIVAÇÃO: MITOS, CRENÇAS E MAL-ENTENDIDOS. CONDICIONAMENTO NÃO É MOTIVAÇÃO Existem pessoas que afirmam ser necessário aprender a motivar os outros, enquanto, por outro lado, acredita-se não ser jamais possível motivar quem quer que seja. Essas duas maneiras diferentes de pensar ilustram a crença de que podem existir duas diferentes maneiras de justificar as ações humanas. No primeiro caso, supõe-se que a força que dá energia ao comportamento motivado esteja fora da pessoa, originando-se dos estímulos externos. No segundo, subjaz a crença de que as ações humanas são espontâneas e gratuitas, uma vez que acontecem ou deixam de acontecer de acordo com a energia interior, capaz de levar cada um à ação. Em 1904, Pavlov divulga suas descobertas a respeito do "Reflexo Condicionado". Aliando a comida a um estímulo externo representado pelo som de uma campainha, Pavlov conseguiu que o cão do seu experimento salivasse mediante apenas esse estímulo externo, sem que lhe fosse apresentada a comida. Portanto, o comportamento de salivar, ao ser ouvido o som, foi estruturado pela metodologia do condicionamento clássico. Outro nome importante que segue a linha experimental é o de Edward Lee Thorndike que, por volta de 1911, também propõe uma teoria sobre condicionamento conhecida como "Lei do Efeito". Trabalhando com gatos famintos colocados no interior de uma caixa especial, Thorndike refere-se à estruturação de comportamentos específicos ligados ao oferecimento de recompensas externas a determinadas ações. Toda vez que o animal ultrapassasse a porta que o levava a um reservatório de alimento, era assim gratificado pelo mesmo. Segundo a lei do efeito, a personalidade deve ser concebida como fruto da aprendizagem que segue a via dos ensaios e erros. A gratificação dos ensaios bem-sucedidos faz com que os sujeitos do experimento incorporem tais comportamentos ao seu sistema de hábitos. Para as concepções experimentais, também chamadas de behavioristas, fica bem claro que, para haver qualquer forma de resposta do indivíduo ao estímulo ao qual foi submetido há que se condicionar o comportamento respondente a uma modificação ambiental e que por isso está necessariamente fora do indivíduo. Para Org. Sist. e Métodos I Aula nº 10 1 os grandes representantes da teoria behaviorista, como Watson, por exemplo, a estimulação do meio ambiente é que leva o organismo a exibir uma reação comportamental. Por isso, deve haver necessariamente ligação entre Estímulo e Resposta. Essa ligação necessária entre estímulo e resposta é que garante a total previsibilidade do comportamento humano como resultado final dos seus estudos. Essa previsibilidade propõe que, dado o estímulo, será possível conhecer qual será a resposta que lhe corresponde e, observando-se um dado comportamento, é possível inferir qual seja o estímulo ao qual o organismo esteja sujeito. Desenvolvendo as suas atividades de pesquisa dentro de laboratórios, onde todas as variáveis comportamentalistas do experimento acreditavam que eram controladas, chegariam à os elaboração psicólogos de leis comportamentais tão exatas quando àquelas promulgadas pelas ciências exatas. Essa noção de previsibilidade do comportamento humano foi imediatamente aceita, especialmente pela maioria dos psicólogos norte-americanos. Em especial, aqueles que estavam ligados a organizações empresariais os divulgaram com entusiasmo, pois ofereciam grande simplicidade de compreensão do comportamento humano, garantindo, sobretudo, resultados comportamentais a curto prazo, que eram totalmente passíveis de controle por parte dos experimentadores. Mais recentemente, Skinner (1071), considerado como um dos mais importantes representantes do behaviorismo, retoma o conceito de condicionamento clássico de Pavlov e aquele de recompensa proposto por Thorndike, dando um passo além com a sua teoria conhecida como "Condicionamento Operante". Tal linha de interpretação do comportamento previa que, sob situação experimental, o animal deveria operar algum dispositivo existente no meio ambiente para que fosse premiado com o alimento imediatamente após a sua ação. Trabalhando com ratos e pombos em laboratórios, os seus experimentos eram feitos sob condições de controle absoluto sobre as variáveis sob as quais os animais estavam sendo estudados. Assim, Skinner observa que toda vez que os animais recebiam a gratificação em alimento por terem bicado ou acionado certo dispositivo, voltavam a repetir esse mesmo comportamento que os gratificara, nascendo dessa constatação o conceito de Reforço Positivo. De maneira inversa, punindo com um choque elétrico o comportamento que antes havia sido premiado, Org. Sist. e Métodos I Aula nº 10 2 o animal passa a rarear esse tipo de comportamento respondente de acionar o dispositivo, constatação esta que Skinner denomina de Reforço Negativo. Tais conceitos são centrais à teoria do condicionamento operante, tendo sido imediatamente estendidos à análise de todo e qualquer tipo de comportamento. Segundo as premissas do Condicionamento Operante, Skinner qualificou de reforço positivo todo evento, representado pelo alimento que vem imediatamente após a ação, de abaixar uma alavanca e que aumenta a freqüência dessa ação até que ela seja naturalmente incorporada ao sistema de hábitos do ser que está sob condições de experimentação. Inversamente, a teoria qualifica como esforço negativo a punição, choque elétrico, que vem após o mesmo comportamento de acionar a alavanca, diminuindo assim a freqüência dessa ação até extingui-Ia completamente, sendo por isso banida do sistema de hábitos. Skinner havia construído em seu laboratório uma verdadeira linha de montagem de comportamentos inéditos. Como decorrência dessas descobertas, surge um novo conceito de aprendizagem que permite aos animais armazenarem em sua memória, chamada por Skinner de repertório psíquico, as circunstâncias daqueles eventos que foram condicionados a conseqüências agradáveis. Da mesma forma, são também armazenadas nesse mesmo repertório psíquico situações vivenciadas pelos animais que tiveram como resultado características negativas representadas pelas punições. Segundo a teoria do condicionamento operante, à semelhança daquilo que se passa com os animais submetidos a experimentos nos laboratórios, a personalidade do homem é também susceptível de ser igualmente modelada, seguindo uma programação previamente estabelecida onde haja rigoroso controle das variáveis extrínsecas. É possível, dessa forma, levar as pessoas a exibirem qualquer tipo de comportamento; basta que quem controla seu processo de aprendizagem manipule as variáveis ambientais de tal forma que consiga reforçar positivamente os comportamentos que se quer estruturar, bem como reforce negativamente comportamentos indesejáveis que deverão ser banidos do repertório psíquico. Assim, o comportamento humano é totalmente previsível; basta que sejam planejadas as recompensas e punições, dependendo daqueles parâmetros comportamentais que se programa atingir. Org. Sist. e Métodos I Aula nº 10 3 Por meio do condicionamento, é possível levar as pessoas a fazerem aquilo que se planeja que façam, independentemente da sua própria vontade. No seu livro, cujo título em inglês é Beyond freedom and dignity (Além da liberdade e dignidade) e cujo título em português é O mito à liberdade, o autor refere-se a esses dois temas como se fossem simples condicionantes extrínsecos: "A liberdade é um problema suscitado pelas conseqüências adversas do comportamento, mas a dignidade diz respeito ao reforço positivo. Para o condicionamento operante, portanto, o ambiente é o grande formador da personalidade que passa a ser tãosomente o resultado e a conseqüência da ação das variáveis nele contidas. CONDICIONAMENTO E EFICIÊNCIA Todos aqueles que seguem a linha behaviorista para explicar o comportamento humano são também considerados como pertencentes à escola comportamentalista para a qual, conforme explicam Milhollan e Forisha (1972:17), o ser humano é considerado como “um organismo passivo, governado por estímulos fornecidos pelo ambiente exterior. O homem pode ser manipulado, o que significa que seu comportamento pode ser controlado através do planejamento adequado de um conjunto específico de estímulos ambientais. Ainda mais, as leis que governam os homens são fundamentalmente idênticas às leis universais que governam os fenômenos naturais". Para os teóricos comportamentalistas, é perfeitamente possível motivar o comportamento humano: basta que exista algo fora de cada um que o esteja constantemente impulsionando ou retendo. Neste caso, a impressão geral é a de que haja necessidade de se estar constantemente precisando empurrar ou puxar as pessoas para que elas se ponham em movimento. Caso esses agentes externos desapareçam, as pessoas param, pois a fonte da sua energia está fora delas; elas se movimentam, portanto, como resultado da ação das forças desses agentes sobre elas. Esse fenômeno aqui descrito como - reação ou movimento - tem sido utilizado por um grande número de teorias administrativas com o objetivo precípuo de descrever o comportamento motivacional. Há um perigo, até certo ponto preocupante, em se reduzir ao mesmo denominador comum tais comportamentos condicionados com outros tipos de ações dos seres vivos. Quando se assume, por exemplo, que seja possível motivar as pessoas, está-se confundindo motivação com condicionamento. Uma vez que se fala em condicionamento, está-se sabendo Org. Sist. e Métodos I Aula nº 10 4 que, quando as forças condicionantes desaparecerem, sejam elas reforçadores positivos ou negativos, essas pessoas param, precisando de novos estímulos para que voltem a movimentar-se nesta mesma ou em qualquer outra direção. Não se pretende com isso atribuir qualquer conotação de valor ou menos positiva quanto ao condicionamento comportamental. O grande desafio é usá-lo de forma a evitar os seus efeitos colaterais negativos. Para tanto, há que se levar em conta que: - Ao condicionar as pessoas com recompensas pelo trabalho feito, surge uma reação imediata positiva. Essa reação positiva parece ter curta duração, persistindo algumas vezes até a segunda ou terceira premiação no máximo. Após esse período, recompensas que foram até então consideradas como prêmios passam a fazer parte daquilo que se julga obrigação por parte de quem distribui a premiação. - Essa premiação sofre o efeito de sua transitoriedade. O bem representado pela premiação precisa ser substituído por outro mais valioso. Para conseguir o mesmo efeito, que se tinha no início do programa, a premiação terá que ser sempre maior, podendo acarretar altos custos, caso se queira dar continuidade ao sistema de premiação por desempenho. - A quebra de continuidade de qualquer programa de premiação é mais problemática do que sua implantação. Quando as pessoas se percebem não fazendo mais jus a um direito anterior que julgam ter adquirido, vêem-se diante de circunstâncias que geram grande insatisfação. O clima negativo é de tal forma desagradável nesse momento que se pensa ter sido melhor não ter instituído. Quando as pessoas não se sentem mais premiadas, muito naturalmente se julgarão punidas. - Uma sensação de injustiça e íneqüídade passa a fazer parte da predisposição atitudinal daqueles que não foram premiados. É difícil e complicado conseguir encontrar critérios tão objetivos que permitam aos pretendentes da premiação sentirem segurança a respeito daquilo que em seu comportamento foi premiado, ou de que falha da sua parte redundou em merecimento de punição. Problemas e reclamações passam não só a ser numerosos, como também serão de difícil solução. Org. Sist. e Métodos I Aula nº 10 5 As organizações deveriam cotejar bem as conseqüências das suas campanhas de premiação por desempenho antes de iniciá-las, porque, depois que já fazem parte do dia-a-dia da vida do empregado, modifica-las para remediar injustiças ou sentimentos negativos é bastante problemática. O hábito de confundir fenômenos comportamentais diferentes foi, de certa forma, sacramentado por Maslow e McGregor quando, por volta da década de 50, divulgaram a pirâmide das necessidades, hierarquizando em pé de igualdade as necessidades básicas, de segurança e sociais, que são fatores extrínsecos, com aquelas qualificadas de auto-estima e auto-realização, que são intrínsecas. Embora não tenham estabelecido o seu modelo como uma lei comportamental, infelizmente os seus leitores assim o entenderam, acreditando que a pirâmide das necessidades pudesse ser rebatida sobre a pirâmide organizacional, explicando como se podem motivar seus vários níveis hierárquicos. Herzberg faz essa importante diferença quando distingue fatores de motivação e de higiene, sendo que os primeiros estão ligados ao próprio indivíduo e ao seu trabalho e os segundos às características que estão fora do indivíduo, fazendo parte apenas do ambiente de trabalho. Os fatores de higiene dizem respeito a como as pessoas são tratadas para que a sua insatisfação seja mantida em grau mínimo, já os fatores de motivação dizem respeito ao uso que se faz da energia motivacional interna de cada um. Como pretende o próprio Hezberg, os fatores de higiene dizem respeito a como as pessoas são tratadas pela organização e os fatores motivacionais estão ligados ao uso que a organização faz da energia motivacional de cada colaborador. Embora seja muito freqüente ouvir da maioria das pessoas que fatores extrínsecos, tais como dinheiro e segurança, motivam as pessoas para o trabalho, isso não deixa de ser um erro grosseiro que, no geral, dificulta o reconhecimento daquilo que realmente leva as pessoas a se comportarem e também a conseguirem manter esse esforço comportamental até que os objetivos motivacionais sejam atingidos. As empresas, no geral, têm desperdiçado muito tempo e dinheiro na tentativa de oferecer recompensas e benefícios, acreditando que com isso estejam motivando o seu pessoal. Os fatores que estão fora das pessoas só podem ser entendidos como reforçadores de comportamento e, enquanto tal, o seu efeito pode Org. Sist. e Métodos I Aula nº 10 6 ser intenso, no início; todavia, é fugaz e desaparece a médio e longo prazo. Erram aqueles que consideram que tais elementos extrínsecos tenham o condão de aumentar a satisfação motivacional, garantindo, ao mesmo tempo, a estabilidade e a durabilidade dessa satisfação. O mito de que o salário motiva fez com que novos métodos de retribuição salarial fossem elaborados dentro de uma preocupação de elevada sofisticação técnica. Acreditou-se que, assim procedendo, seria resolvida a maior parte dos problemas motivacionais dentro das empresas. Não obstante todos esses esforços, a satisfação motivacional para o trabalho continuou em crise. A resposta ou reação dada por aqueles que foram atingidos pelas novas políticas de premiação e compensação não foi aquela que se esperava. Devido à crença de que as recompensas tangíveis motivam, muitas empresas passaram a planejar ou contratar programas de concessão de bônus e prêmios. Essas empresas têm-se entusiasmado com as melhoras de produtividade a curtíssimo prazo; todavia, já se está verificando que, a médio e longo prazos, ela não se mantém, além de também parecerem estar-se constituindo em uma indesejável fonte de insatisfação. Kohn (1993:11) analisa claramente esse impasse quando ressalta que: "infelizmente, a maior parte dos executivos acredita que o problema resida nas particularidades do seu programa, e assim inventam novas variações sobre o mesmo tema behaviorista. lncontáveis consultores vivem prodigamente de inventar ainda mais formas de calcular prêmios, por exemplo. Outros convencem os empregados de que os incentivos grupais são a melhor maneira de resolver o problema ou que seja necessário recompensar a qualidade e não a quantidade. Todos esses reparos erraram o alvo. Tentar corrigir o problema revendo o programa de pagamento por desempenho faz tanto sentido quanto tratar o alcoolismo substituindo a vodca por gim". Com isso, o autor adverte que quanto mais o dinheiro estiver ligado ao desempenho, maior será o estrago que ele conseguirá fazer. Sendo considerados ineficazes em produzir mudanças duradouras de comportamento e atitudes, tais programas de recompensas conseguem apenas a submissão temporária dos empregados a esse sistema behaviorista de reconhecimento. Levantar a ineficácia da premiação contingente ao desempenho foi feito há muito mais tempo, como é caso de McGregor (1973:15). Para ele, o empresário pergunta muitas vezes. "Por que o pessoal não é mais produtivo? Pagamos bons Org. Sist. e Métodos I Aula nº 10 7 salários, damos boas condições de trabalho, temos excelentes vantagens adicionais e emprego estável. Mesmo assim o pessoal não parece estar disposto a despender mais do que o esforço mínimo." É interessante notar que esse aspecto da posição do autor raríssimas vezes é mencionado por aqueles que leram ou comentaram as suas obras, caso se compare tal fato com a freqüência em que a pirâmide das necessidades é divulgada. A explicação só pode apontar para a significativa dificuldade que os administradores demonstram em aceitar que os seus atos condicionantes sobre os subordinados em nada se assemelham com a verdadeira preocupação em trabalhar com subordinados realmente motivados. Esse tipo de fé nos condicionantes extrínsecos, por exemplo, permite diferenciar o chefe do líder eficaz. O chefe que mais caracteristicamente utiliza o poder do seu cargo para controlar os subordinados usa freqüentemente prêmios e punições, estando sempre atento a estratégias que lhe permitam utilizar-se dos recursos do meio ambiente a fim de conseguir, como ele mesmo diz, "motivar" os seus subordinados. Já o líder eficaz evita tal prática, estando mais atento em conseguir que os seus seguidores não percam a sua motivação, e isso significa valorizar as forças motivacionais em ebulição existentes no interior de cada um deles. Administradores, gerentes e dirigentes, de forma geral, costumeiramente evidenciam grande desapontamento quando percebem que os seus esforços em melhorar as condições do ambiente de trabalho dentro das organizações em nada contribuem para aumentar a satisfação motivacional daqueles que nelas trabalham. Para esses executivos, é inquietante descobrir que as vultosas somas de dinheiro gastas com os seus complicados planos de retribuição ao trabalho executado nada têm a ver com o aumento da satisfação motivacional e o conseqüente envolvimento das pessoas aos planos organizacionais (MeGregor, 1973:11). Assim sendo, os dirigentes de empresas sentem-se desiludidos quando percebem que programas concebidos com a finalidade de remunerar de forma especial aqueles que tenham apresentado um desempenho acima da média, conforme se conseguiu apurar pelos resultados obtidos na avaliação do desempenho no trabalho, se foram bem aceitos de início porque pareciam logicamente corretos, perderam rapidamente a sua força com o passar do tempo. Isso ficou evidente assim que as pessoas agraciadas pelos prêmios ou regalias Org. Sist. e Métodos I Aula nº 10 8 extras acabaram assumindo em bem pouco tempo que tudo isso não passaria de simples rotina e representaria praticamente uma obrigação da empresa. Quando em oportunidades subseqüentes os premiados não receberam aquilo que acreditavam já ter direito, baseando-se no tratamento anteriormente recebido pela empresa, mostraram claramente o seu desagrado com relação a ela por estarem sentindo que, de certa forma, foram punidos. É interessante notar que, embora muitos autores já tivessem denunciado o efeito perverso do condicionamento em administração há bastante tempo, como o fez Drucker (1977:314) ao ponderar que é precisamente o crescente nível de expectativas materiais que torna a cenoura das recompensas materiais cada vez menos eficaz como força de motivação e como instrumento administrativo, muitos talvez tenham lido os seus livros, mas não conseguiram gravar a sua mensagem. Para ele, o resultado crescente da demanda por recompensas materiais está rapidamente destruindo a utilidade delas como incentivo e como instrumento administrativo. Isso acontece, segundo o autor, porque muitos não levaram em conta o inesperado apetite econômico e a potência efêmera das recompensas materiais. Como aponta Drucker, quanto mais uma necessidade primária é satisfeita, maior tem que ser o incremento de gratificação adicional para produzir a mesma satisfação. Talvez, premidos pelo desespero que nasce da impotência em se conseguir motivar pessoas, muitos dos que adotaram essa política administrativa não tenham examinado suficientemente os seus efeitos negativos a médio e longo prazos. Muito interessante é relembrar que o próprio Fayol, no início do século passado, em 1907, também já havia denunciado as dificuldades de se retribuir o esforço dos trabalhadores, usando como recompensa a participação nos lucros. Conforme propõe: "A idéia de fazer os operários participarem dos lucros é muito sedutora. Parece que é daí que surgirá o acordo entre o capital e o trabalho. Mas a fórmula prática desse acordo não foi ainda encontrada. A participação dos operários nos lucros tem esbarrado, na grande empresa, com dificuldades insuperáveis de aplicação. (...) Pode-se concluir, destarte, imediatamente que o problema é difícil, senão impossível" (Fayol, 1994:53). Portanto, essas dificuldades não são novas e ainda se espera de forma ingênua poder usá-las sem problemas. Org. Sist. e Métodos I Aula nº 10 9 Finalmente, cabe lembrar que a pessoa condicionada é simplesmente eficiente, isto é, pode ser comparada com o bom soldado que faz tudo certo (Bennis, 1996:88-89), conforme ordens superiores, deixa-se controlar por acontecimentos que estão fora dela. O eficiente é geralmente uma cópia, não apresenta interesse em mudar a rotina. Se, por um lado, não pode ser dispensado porque não comete erros em relação à descrição do seu cargo, por outro, está preparado também para adaptar-se perfeitamente ao status quo, perpetuando, assim, a maneira com que as coisas sempre foram feitas. Suas chances de tornarse um líder eficaz são praticamente nulas. MOTIVAÇÃO OU PREDISPOSIÇÃO INTERIOR As pessoas também se comportam e agem no meio ambiente por iniciativa própria, sem que nada fora delas as tenha levado a isso. Saber reconhecer a diferença entre aqueles que estão motivados a atender às suas necessidades interiores e aqueles que estão condicionados pela busca a fatores presentes no meio ambiente é de grande importância quando se quer evitar enganos perigosos. Oferecer fatores de satisfação extrínsecos para pessoas intrinsecamente motivadas pode não fazer sentido nenhum, e até mesmo, em alguns casos, representa uma estratégia que certamente precipita significativo rebaixamento da satisfação motivacional. Como diz Handy (1978:27): "Se pudéssemos compreender, e então prever os modos como os indivíduos são motivados, poderíamos influenciá-los, alterando os componentes desse processo de motivação. Tal compreensão poderia, certamente, levar à obtenção de grande poder, uma vez que permitiria o controle do comportamento sem as armadilhas visíveis e impopulares do controle. Os primeiros trabalhos sobre motivação demonstraram preocupação em encontrar os modos pelos quais o indivíduo poderia ser motivado e aplicar mais do seu esforço e talento a serviço do seu empregador. É mera questão de justiça acrescentarmos que muitos desses teóricos também se preocupavam em descobrir uma resposta que fosse coerente com a dignidade e independência essenciais ao indivíduo. Talvez devêssemos sentir alívio quanto ao fato de que não foi encontrada qualquer fórmula garantida de motivação." Isso quer dizer que muitos enfoques teóricos ressaltam que não se pode motivar as pessoas, porque a fonte da energia que move o comportamento motivacional vem do mundo interior delas, sendo inerente às suas Org. Sist. e Métodos I Aula nº 10 10 características de personalidade. Da mesma forma que estudos e pesquisas foram feitos a fim de se entender como condicionar os seres vivos, muito se tem trabalhado cientificamente para ser possível desvendar aquilo que parece ser um invisível gerador de energia comportamental e que recebe o nome de motivação. Os estudos desenvolvidos por Konrad Lorenz, etologista e merecedor do prêmio Nobel de Medicina em 1973, lançam novas luzes sobre o caráter eminentemente interior da motivação. Como etologista, Lorenz observava o comportamento dos seres vivos em seu habitat natural, diferentemente dos experimentalistas que faziam as suas observações em laboratórios onde todas as variáveis eram controladas artificialmente. Esse tipo de observação é menos limitado e, embora mais trabalhoso, tem como vantagem chegar o mais próximo possível das características naturais do comportamento dos seres vivos. Em sua observação sobre o comportamento de diferentes espécies animais, havia um interesse particular com relação aos comportamentos espontâneos empreendidos pelos seres vivos sem que nenhum estímulo fora deles os levasse a isso. Esses comportamentos foram caracterizados como "atos instintivos". Em seus trabalhos publicados em 1969, sugere que não apenas os animais, mas também os seres humanos, sirvam-se dos atos instintivos como forma de adaptação ao meio ambiente. Para Lorenz, esse processo de adaptação comportamental tende necessariamente à utilização de um tipo de energia interna que gera certa espécie de tensão cuja função é conduzir o ser que busca adaptação a uma seqüência predeterminada de comportamentos. Sendo tais comportamentos espontâneos, a sua principal meta é buscar aquilo que denominou de "esquema produtor" e que deve ter a propriedade de aplacar a tensão existente pelo fato de representarem ameaças ao equilíbrio homeostático dos seres vivos. Como se sabe, esse equilíbrio é indispensável no processo de trocas com o meio ambiente para que o organismo se mantenha vivo. Entre numerosas observações feitas sobre o comportamento instintivo dos animais, destaca-se uma que é particularmente significativa quanto à compreensão daquilo que Lorenz denomina de ato instintivo. Na observação de certa espécie de periquitos foi possível descobrir que, quando a fêmea, de cor verde, está dentro da gaiola, ao se soltar o macho no mesmo ambiente, ele vai espontaneamente até a Org. Sist. e Métodos I Aula nº 10 11 fêmea e exibe o comportamento típico do cio, encostando-se e agradando a sua fêmea. A observação posterior do mesmo evento contou com a substituição da fêmea por uma bola verde e pendurada no teto da gaiola. Novamente, solta-se o macho, e como se lá estivesse a sua fêmea, este exibe o comportamento típico do cio. Isso sugere, que os três traços: ser esfera, ter cor verde e estar suspensa têm significado especial para o macho. Ao repetir a observação, substituiu-se a esfera, colocando em seu lugar um cubo verde pendurado. Novamente, o macho é colocado dentro da gaiola; todavia, desta vez ele não exibe o ato instintivo próprio do cio. O mesmo se dá quando é colocada uma bola branca pendurada ou quando foi colocada uma bola verde não mais suspensa, e sim deixada no chão da gaiola. Tudo se passa como se o periquito estivesse naturalmente buscando algo que tivesse aquelas e não outras características. Portanto, todos os outros traços do meio ambiente desaparecem, não sendo sequer percebidos pelo animal. Examinando as proposições da Teoria dos Instintos de Lorenz, fica claro que o comportamento instintivo do periquito só se dará quando os três traços pertencentes à caracterização de ser esfera, ter a cor verde e estar suspensa estiverem presentes ao mesmo tempo. Nesse momento, o ato instintivo ocorrerá desde que haja, é lógico, uma carência interna a ser suprida. Como diz o autor da teoria dos instintos, o ser vivo é portador de um estado anímico de carência suficientemente forte para disparar um comportamento de busca rumo a algo que pode existir no meio ambiente e que possua os três traços ao mesmo tempo. É a carência interna que valoriza o esquema produtor que está fora e não o inverso. Com base nas suas observações, o autor enfatiza ser incorreto referir-se a instinto de forma ampla e inespecífica. Ele adota a nomenclatura que se refere a atos instintivos ocorridos quando a necessidade não atendida se encontra com o seu esquema produtor e cujas características foram predeterminadas pelo tipo de estado de carência interna que está menos satisfeita. Isso equivale a dizer que, se não houver a necessidade, ou se faltar o esquema produtor, não se dará o ato instintivo. Transpondo tais conceitos para o campo da motivação, é-se levado a abandonar a abordagem mais ampla e casual sobre o assunto. É necessário ser mais específico e tentar compreender como se dão os atos motivacioniais que Org. Sist. e Métodos I Aula nº 10 12 guardam estrita semelhança com os atos instintivos. A conduta motivacional deve ser entendida como um conjunto de aspectos contingentes. Esses elementos são necessariamente: uma carência ou necessidade interna, um comportamento de busca e o oferecimento do fator de satisfação. Tais fatores, por sua vez, são delineados com base no tipo de carência interna. Caso um desses elementos esteja ausente, não se dará o ato motivacional. Como no ato instintivo, aqui também há uma necessidade não atendida, um comportamento que se dirige a alguma coisa que seja especificamente complementar a essa necessidade e um estado posterior de satisfação tão logo se dê o encontro dela com o seu correspondente fator de satisfação. Esses estados de carência interiores são, como afirmam os etologistas, próprios a cada espécie, permitindo reconhecê-la nos demais grupos de seres vivos. Fica bem claro que não se consegue colocar necessidades no interior de alguém. É por isso que se considera como inadequado e principalmente incorreto afirmar que se consiga motivar quem quer que seja. Podem existir necessidades das quais o indivíduo não tem consciência, mas isso não significa que, quando despertadas pela visão do fator de satisfação, tenham sido criadas por algum artifício exterior. A maior parte das teorias atuais que consideram a motivação como uma predisposição interior para a ação tem as suas raízes nos conceitos que priorizam as necessidades como fontes de energia, capazes de dinamizar o comportamento motivacional. Tais enfoques estão mais preocupados em descobrir as origens das forças motivacionais, o que significa conhecer especialmente "de que maneira" os seres vivos se comportam. Aquilo que mais importa, a partir daí, é desvendar como se dá a psicodinâmica da motivação. Tal preocupação é bem ilustrada pelo enfoque fenomenológico da motivação, como afirmam Milhollan & Forisha (1972:17) que consideram o homem essencialmente livre e fonte dos seus próprios atos. Para eles, o ponto focal dessa liberdade é a própria consciência humana que é a conseqüência de um mundo interno do ser. A idéia central a essa crença é de que cada homem vive uma realidade subjetiva, própria a ele, privada e pessoal, cheia de sentimentos, emoções e percepções que não pertencem senão a si mesmo e que, portanto, a ele é dado-orientar-se na direção que considere como melhor. Quando se trata de Org. Sist. e Métodos I Aula nº 10 13 motivação, parece indispensável levar em consideração que o ser humano, diferentemente dos animais, não exibe comportamentos orientados apenas por estímulos impostos pelo meio ambiente. Outras variáveis de grande importância estão em jogo, sendo simplista demais não levá-las em conta. As necessidades não saciadas têm importante papel a desempenhar no contexto chamado de ato motivacional. Archer (1980), por exemplo, chega a propor que elas sejam exatamente sinônimo de motivação e que a sua satisfação é oposta à motivação. As necessidades interiores devem ser comparadas àquilo que se denomina de desejos ou expectativas, que tanto podem ter a sua origem nas carências de ordem física, como psicológica. Buscando suprir as suas carências, cada indivíduo entra em ação, exibindo o seu comportamento de busca rumo a um fator que possa saciá-las. Para quem tem sede, a água é considerada como fator de satisfação, da mesma forma que, para quem está insatisfeito com a rotina de trabalho, o desafio representa um complemento importante. A motivação assim conceituada desempenha o seu papel como fonte de energia comportamental. No contexto organizacional, a motivação representa um processo que implica a vontade de efetuar um trabalho, ou atingir um objetivo; portanto, os atos motivacionais determinam, ao mesmo tempo, a direção e a intensidade dos comportamentos. Como as pessoas consagram mais tempo às atividades para as quais estão mais motivadas, pode-se concluir que, em última análise, a motivação esteja fortemente relacionada com o tipo de distribuição do tempo que cada um faz a respeito das suas várias atividades diárias (Lévy-Leboyer, 1994:40). É bem por isso que, quando alguém está realmente motivado por algum trabalho, o tempo parece passar rápido demais. Outra característica importante da pessoa motivada por determinada atividade é que ela espera ser reconhecida por sua capacidade ao desenvolvê-la. Isso lhe confere uma reputação que lhe dá acesso a um mundo melhor, revitalizando o seu potencial criativo. O desejo de trabalhar em tal direção é um tipo de necessidade de ordem afetiva que continuamente está colocado sob o império dos valores que as pessoas guardam no seu interior para colimarem o destino a que almejam. Goleman (1995:21) ressalta que todas as emoções são, em essência, impulsos para agir, planos instantâneos para lidar com a vida que a evolução nos infundiu. A própria raiz da palavra emoção é emovere, "mover" em latim, mais o prefixo "e-", Org. Sist. e Métodos I Aula nº 10 14 para denotar "afastar-se", indicando que uma tendência a agir está implícita em toda emoção. Em realidade, torna-se difícil dissociar motivação e emoção, pois elas não se acham em compartimentos estanques dentro da vida psíquica. Para esse autor (1995:46), emoção e motivação estão ligadas a um tipo de função intelectual específica representada pelo talento ou capacidade de motivar-se e persistir diante das frustrações; controlar impulsos e adiar a satisfação; regular o próprio estado de espírito e impedir que a aflição invada a capacidade de pensar; criar empatia e esperar. Isso leva a admitir que a motivação pode ser entendida principalmente como um estado natural de cada um. A ausência de necessidades é que coloca o ser humano diante da sua própria fraqueza enquanto tal. Não existem momentos de total ausência motivacional. Cada um, de uma forma ou de outra, tem sempre um tipo de necessidade a ser suprida. Provavelmente, raríssimas sejam as oportunidade nas quais cada um se sinta plenamente satisfeito. MOTIVAÇÃO E EFICÁCIA A compreensão de que a motivação implica predisposição interna e inerente ao ser humano inverte a ordem habitual que se tem assumido quanto ao velho paradigma da administração das pessoas. Uma nova formulação da diretriz administrativa das pessoas pressupõe que elas sejam naturalmente ativas. Portanto, a grande preocupação não deve ser aquela que visa buscar algum recurso que possa motivar as pessoas no trabalho. Dirigir pessoas motivadas significa orientar-se, principalmente, no sentido da busca de estratégias capazes de evitar a desmotivação daqueles que já chegaram à empresa motivados. Como resultado do aprofundamento desse tipo de enfoque, hoje muito se tem investigado a respeito da auto-motivação, bem como da autoliderança. O grande desafio, atualmente, é trabalhar no sentido de reduzir a ruptura entre as expectativas humanas e os grandes projetos organizacionais. Como as pessoas não se deixam manipular, embora aparentemente continuem a reagir, mostrando grande movimentação, já foi possível descobrir que a energia pessoal investida em tais situações condicionantes diminui gradativamente, levando o empregado a produzir cada vez menos, pois, de acordo com as pesquisas de Deci (1995), a ênfase absoluta da motivação extrínseca faz evaporar a motivação Org. Sist. e Métodos I Aula nº 10 15 intrínseca. À medida que o tempo passa, a satisfação pessoal diminui, arrastando para níveis muito baixos os sentimentos de auto-estima e auto-realização. É dessa maneira que se está bloqueando o potencial de motivação das pessoas, negando a elas a possibilidade de se colocarem, por iniciativa própria, em ação pelo uso das suas habilidades, conhecimentos e expectativas pessoais que são aspectos de significativa relevância dentro do processo motivacional. Antes de mais nada, cada indivíduo normalmente busca, por meio do seu trabalho, uma oportunidade de realizar as suas potencialidades, criando com isso uma indispensável ligação com a comunidade na qual vive. O trabalho só pode ser considerado como uma necessidade própria ao homem normal, pois é por meio dele que se consegue reconhecer o próprio valor e, conseqüentemente, equilibrar expectativas e sentimentos de auto-estima. E, à medida que esse trabalho satisfaz às necessidades de auto-desenvolvimento, a motivação fortifica-se cada vez mais. Trata-se da estratégia mediante a qual a energia interior é reforçada e ampliada, permitindo que cada qual possa dar vazão aos apelos da sua motivação intrínseca. Nessas circunstâncias, para melhor manejar o conceito de motivação, um bom ponto de partida é ligá-lo ao sentido que as pessoas dão ao seu trabalho. Torna-se particularmente difícil, senão até mesmo impossível, experimentar qualquer tipo de satisfação motivacional quando se está ligado a um trabalho que não tem ou não faz o menor sentido. Alguns pesquisadores, como Maccoby (1988:49), por exemplo, assinalam que o trabalho representa o referencial que reata o homem ao mundo da realidade e assim fornece os indícios necessários que se precisa para conhecer as expectativas, as idéias e as visões pessoais que fazem sentido para cada um. Isso, sem dúvida, ajuda também a disciplinar talentos, bem como facilita redirecionar aqueles impulsos que já fazem parte das características de cada um. Só então há condições de delinear com mais clareza o conceito de motivação como aquilo que liga o desejo natural das pessoas de se engajarem em atividades de trabalho, mas agora o fazem pelo prazer que elas proporcionam, tendo em vista a satisfação interior que podem oferecer. Trabalhar com pessoas motivadas exige muita sensibilidade para que seja possível detectar as diferentes necessidades de cada um dos diferentes indivíduos, bem como levar em conta a variabilidade entre os estados de carência que podem ocorrer internamente a um mesmo sujeito. Lévy-Leboyer (1994:134), numa recente Org. Sist. e Métodos I Aula nº 10 16 revisão da sua obra A crise das motivações, propõe claramente que "a motivação não é nem uma qualidade individual, nem uma característica do trabalho. Não existem indivíduos que estejam sempre motivados nem tarefas igualmente motivadoras para todos. Na realidade, a motivação é bem mais do que um composto estático. Trata-se de um processo que é ao mesmo tempo função dos indivíduos e da atividade específica que desenvolvem. É por isso que a força, a direção e a própria existência da motivação estarão estreitamente ligadas à maneira pessoal pela qual cada um percebe, compreende e avalia sua própria situação no trabalho, e certamente não à percepção daqueles que estão fora dela como os tecnocratas, os administradores e os psicólogos". Com isso, a autora descarta muitos enfoques ingênuos e superficiais a respeito da motivação humana. Não há dúvida de que o grande diferencial nos resultados obtidos pelo condicionamento e pela motivação intrínseca é de que, neste último caso, a pessoa não se restringe ao desempenho puramente eficiente das tarefas que compõem o seu cargo, mas é facilmente reconhecida como alguém eficaz, que resolve problemas, isto é, que faz a coisa certa. Além disso, o motivado gera a própria energia e não depende de ninguém mais para continuar se comportando. A satisfação vem da realização da atividade em si, sendo que aqui não faz nenhum sentido oferecer prêmios pelo desempenho. A fonte realimentadora da sua energia é endógena e autogratificante. O hábito de lidar com números e pesquisas estatísticas faz com que os administradores estejam mais propensos a tratar o problema da motivação como se ele fosse quantificável. Tal perspectiva leva a generalizações grosseiras, uma vez que a cada momento se modifica a configuração do grupo de necessidades que comandam o comportamento. A sensibilidade interpessoal na percepção do outro é o principal ingrediente dos novos paradigmas para administrar pessoas. Em primeiro lugar, quem quer conhecer o outro precisa conhecer-se em profundidade, pois isso reajusta as distorções da realidade. Em segundo lugar é indispensável que cada observador use sua sensibilidade interpessoal de maneira a não projetar as suas próprias características motivacionais sobre aquele que é alvo da sua percepção. Autores como Meyer (1978:14) que se dedicaram ao estudo dos processos de desmotivação afirmam que esse processo pode durar três ou quatro meses, Org. Sist. e Métodos I Aula nº 10 17 dependendo essa duração da escala de valores de cada um. Segundo a autora, "a grande maioria das pessoas chega ao trabalho já motivada. Mas, freqüentemente, por causa da falta de cuidado e negligência, o empregado se vê levado a caminho da desmotivação". Na coleta de dados que fez, não há um tipo de cargo ou um nível hierárquico em que tal fenômeno ocorra mais freqüentemente, mas o empregado é levado a isso por pessoas com as quais convive e principalmente por aqueles de quem depende e que são, no geral, seus supervisores. Fica claro, no trabalho da autora que tudo teve origem na distorção perceptiva desses supervisares. A motivação concebida como algo interior às pessoas passa a exigir líderes com grande sensibilidade interpessoal, não chefes que conheçam todos os serviços que devem desempenhar os seus subordinados, mas principalmente pessoas que se importem em conhecer em profundidade o seu seguidor. ESTILOS DE COMPORTAMENTO MOTIVACIONAL Estudos feitos pelas ciências comportamentais mostram que, ao se levar em consideração as diferentes tipologias oferecidas por elas, torna-se possível caracterizar quatro orientações básicas de comportamento motivacional. Os fatores de satisfação perseguidos pelas pessoas, em geral, encaixam-se dentro de quatro referenciais diferentes que são: Participar. é o organizador do comportamento motivacional das pessoas que se preocupam especialmente com o próprio desenvolvimento pessoal para poder fazer jus às responsabilidades que lhes foram colocadas sobre os ombros. Elas têm uma atitude de grande cooperação e são reconhecidas como formadoras de talentos. Facilmente se põem em ação quando ouvem a frase: Preciso da sua ajuda. Agir. este estilo de comportamento motivacional se guia pela importância que dá aos desafios. Cheias de energia pessoal, essas pessoas agitam-se mais e são mais rápidas que a média das pessoas com as quais trabalha. No geral, esperam que sejam solicitadas a entrar em ação por meio da frase que lhe faz mais sentido: Sei que você é capaz. Manter. é o organizador comportamental daqueles que se motivam especialmente por desempenhar atividades que demandem análise, lógica, Org. Sist. e Métodos I Aula nº 10 18 organização. Trata-se de alguém que tem os pés no chão e a cabeça acima dos ombros. Sensibiliza-se quando é solicitado a desenvolver cuidadosamente um trabalho. Conciliar. caracteriza aquele que tem grande habilidade de interação pessoal, sendo otimista e encorajando os demais a verem lados diferentes do problema que estão vivendo. Sendo diplomatas e valorizando sobretudo a harmonia no convívio, sente-se especialmente motivado em situação nas quais é solicitado a vender uma idéia. As pessoas possuem esses quatro orientadores de comportamento motivacional. Aquilo que as diferencia entre si é a ênfase com que se utilizam dessas quatro diretrizes. Esse composto de estilos depende da valorização que cada um dá aos diferentes fatores de satisfação motivacional que estejam disponíveis. A compreensão mais ampla daquilo que foi definido como motivação não será conseguida senão dentro da medida em que se esteja atento com relação à dimensão de ordem interior ou intrínseca, devendo ser, por isso, um fenômeno comportamental qualitativamente diferente das ações condicionadas por estímulos externos. Esse entendimento vai influenciar necessariamente o caráter típico da filosofia administrativa que se assume com relação ao elemento humano dentro das organizações. Não se consegue motivar quem quer que seja; as pessoas são condicionáveis, mas a motivação nasce no interior de cada um. A única coisa que se pode fazer para manter pessoas motivadas é conhecer suas necessidades e oferecer fatores de satisfação de tais necessidades. O desconhecimento desse aspecto irá fazer com que paradoxalmente se consiga desmotivar as pessoas. Portanto, a grande preocupação não reside em adotar estratégias que motivem as pessoas, mas principalmente criar um ambiente de trabalho no qual o trabalhador mantenha o tônus motivacional que tinha em seu primeiro dia de trabalho. RESUMO Assim como muitos outros conceitos em psicologia é, sem dúvida, curioso perceber como cada um tem opinião formada a respeito do que seja motivação. De certa forma, todos parecem saber muito a respeito desse assunto, tomando por Org. Sist. e Métodos I Aula nº 10 19 base opiniões pessoais e crenças já cristalizadas de como agir para motivar as pessoas, bem como de quais sejam os fatores a considerar como os mais importantes para se conseguir chegar a níveis de maior satisfação motivacional. Não parece, portanto, que, sob o domínio das especulações puramente intelectuais e interpretações abstratas do comportamento humano, o fenômeno da motivação ofereça tanta complexidade. Tomando por base os conceitos defendidos por leigos no assunto é que se conta atualmente com tantos mitos e tabus a respeito daquilo que realmente possa ser a motivação. O mais interessante é notar que, na maioria dos casos, já não se duvida que tais julgamentos possam conter algum erro perigoso. Assim sendo, tais suposições foram sendo inquestionavelmente incorporadas ao acervo da sabedoria popular e atualmente fazem parte de um conjunto de premissas tidas como verdade científica. A confusão que se faz, misturando fenômenos heterogêneos a respeito das ações motivacionais é a causa das grandes dúvidas que se tem ao se procurar, na prática, responder a tantas indagações quando o objetivo é planejar alguma estratégia realmente eficaz para se conseguir levar as pessoas a maiores níveis de satisfação motivacional seja em que campo for. Assim, a motivação tem sido confundida com tipos de comportamentos que em nada se assemelham àqueles conceitos cientificamente aceitos sobre a motivação humana. Até hoje, por exemplo, aceitam-se condicionamento, extrínseca. como também Portanto, sinônimo concebido especialmente de por motivação muitas dentro das situações teorias como organizações, típicas de motivação acredita-se firmemente que, para conseguir que o subordinado faça alguma coisa, basta que sejam feitas a ele promessas de prêmio por desempenhos acima do normal e de punição por comportamentos inadequados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERGAMINI, C. e outros Psicodinâmica da Vida Organizacional – Motivação e Liderança trabalho. 2. ed. São Paulo : Atlas, 1997. Org. Sist. e Métodos I Aula nº 10 20