Rinite em atletas - Revista de Medicina Desportiva

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Tema 3
Rev. Medicina Desportiva informa, 2012, 3 (2), pp. 17–21
Porque é o atleta é mais suscetível?
O exemplo da rinite do nadador!
Rinite do atleta: do
diagnóstico ao tratamento
em 6 questões!
Durante a prática desportiva é
frequente a ocorrência de sintomas nasais. Apesar da ativação do
sistema nervoso simpático induzir,
pela vasoconstrição dos sinusoides
do nariz, uma melhoria da eficiência
respiratória nasal, os atletas durante
a prática desportiva estão sujeitos
a diferentes fatores de risco que os
tornam mais suscetíveis a sintomas
respiratórios induzidos pelo exercício2. Na prática de desporto no exterior, com o aumento da ventilação e
da frequência respiratória durante a
atividade física, é maior a exposição
a aeroalergénios e a componentes
irritativos da poluição atmosférica1-3.
Nos nadadores deverá ser também
considerada a inalação de substâncias irritativas derivadas do cloro3.
O atleta desloca-se frequentemente
para a prática de provas desportivas,
nomeadamente ao mais alto nível
desportivo, como os Jogos Olímpicos3, sendo rapidamente submetido
a mudança súbita de ambiente, com
contacto com diferentes alergénios e diferentes níveis de poluição
ambiental. Esta problemática foi
amplamente discutida nos jogos
Olímpicos de Pequim4, onde se
verificou a necessidade de controlar
a elevada concentração de poluição
atmosférica de forma a permitir
prática desportiva segura. Metade
dos nossos atletas tinha queixas de
rinite!
O atleta também está sujeito a
diferentes estímulos físicos, como os
ambientes frios. Na prática de esqui
e na corrida de longa distância pode
apresentar sintomas de rinorreia e
congestão nasal (o chamado “nariz
Dra. Diana Silva1, Prof. Dr. Luís Delgado1,2, Dr. André Moreira1,2
1
Serviço de Imunoalergologia, Hospital São João
2
Serviço de Imunologia, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
Resumo Abstract
A rinite no atleta tem prevalência elevada, que pode chegar aos 48%, de acordo com os
critérios de diferentes estudos. Apesar de ser pouco valorizada é uma patologia que afeta
frequentemente o rendimento dos atletas, nomeadamente nos meios de alta competição.
Apresenta diversas etiologias, sendo frequentemente multifatorial, mediada por mecanismos alérgicos e não alérgicos. O diagnóstico baseia-se na associação de sintomas, sinais
específicos ao exame físico e resultados de exames complementares de diagnóstico. O
tratamento tem como base os corticoides tópicos nasais, e no caso da etiologia alérgica
também os anti-histamínicos. O diagnóstico e tratamento precoce permitem melhorar
significativamente a qualidade de vida do atleta e também por isso o seu desempenho.
The athlete’ rhinitis has a high prevalence that can reach 48%, according to several criteria of different studies. Although it is under considered it is a pathology that affects quite often the athlete’s
performance, especially at the high level competition. It has several etiologies, most of the times it
is multifactorial, and it is mediated by allergenic and non-allergenic mechanisms. The diagnosis is
based on the association of symptoms, specific signals on the physical exam and the results of the
diagnostic means. The treatment has the topic steroids as basic and, in the case of the allergenic etiology the anti-histaminics are also considered. The early diagnosis and treatment allow a significant
improvement on the quality of life of the athlete and also on his/her performance.
Palavras-chave Keywords
Rinite; Rinite Alérgica; Desporto; Atleta.
Rhinitis, allergic rhinitis, sports, athlete.
O que é a rinite? E quais são as
suas principais causas?
Rinite consiste na inflamação do
revestimento da mucosa nasal e
caracteriza-se pela presença de
um ou mais sintomas de congestão nasal, rinorreia anterior e/ou
posterior, esternuto e prurido nasal1.
A inflamação é mediada por mecanismos imunológicos com produção de Imunoglobulina E (IgE) após
contacto com um alergénio. Cerca de
30-50% dos doentes com rinite têm
causas não-alérgicas, mas podem
ter um padrão multifatorial em 44 a
87% dos casos1. A rinite tem diferentes origens etiológicas sendo que os
seus dois grandes grupos se dividem
em Rinite Alérgica e Rinite Não Alérgica (Tabela 1).
A Rinite Alérgica atinge 10-20%
das pessoas da população geral e
tem uma maior prevalência em atletas de alta competição2, sendo que
em vários estudos a sua prevalência
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neste grupo varia entre 13.3 a 48.6%
. Com o intuito de facilitar o seu
diagnóstico e tratamento foi estabelecida pelo grupo de trabalho Allergic
Rhinitis Impact on Asthma (ARIA) uma
classificação com base na frequência da sintomatologia e no impacto
sobre a qualidade de vida (Figura 1).
2
Rinite Alérgica
Intermitente
4 dias/semana
Ou
4 semanas/ano
Persistente
4 dias/semana
Ou
4 semanas/ano
Ligeira
Moderada – Grave
Sem alteração no sono
Um ou mais itens:
Não afeta as atividades de vida diária, desporto ou
lazer
Não interfere no trabalho ou desempenho escolar
Sem que perturbem a vida normal
Distúrbios do sono
Afeta as atividades de vida diária, desporto ou lazer
Interfere no desempenho no trabalho ou na escola
Sintomas perturbadores
Figura 1. Classificação da Rinite Alérgica (adaptado de Bousquet, J., et al., Allergic Rhinitis and its Impact on Asthma (ARIA) 2008 update)
Tabela 1. Causas de Rinite (adaptado de Bousquet, J., et al., Allergic Rhinitis
and its Impact on Asthma (ARIA) 2008 update).
1. Rinite Alérgica
2. Rinite Não Alérgica
• Rinite Vasomotora (contato com agente irritativo, ar frio, exercício, frequentemente por
um agente indeterminado)
• Rinite Gustativa (surge após ingestão de alimentos sólidos ou líquidos, nomeadamente
quentes e picantes)
• Rinite infeciosa (etiologia vírica é a mais frequente , mas pode também ter causa bacteriana)
3. Rinite Ocupacional
• Mediada por Imunoglobulina E (alergénios químicos e proteicos)
• Mecanismo Imune Indeterminado (sensibilização respiratória a determinado químico)
4. Síndromes de Rinite
• Secundária a alterações hormonais (gravidez ou ciclo menstrual)
• Secundária a fármacos
• Rinite medicamentosa (uso crónico de descongestionantes nasais)
Anti-inflamatórios não esteróides
Contracetivos orais
Anti-hipertensores
• Rinite atrófica
• Rinite associada a patologias inflamatórias/imunológicas
Infecção granulomatosa
Doença granulomatosa de Wegener
Sarcoidose
Granuloma da linha média
Síndrome de Churg-Strauss
Policondrite Recorrente
• Amiloidose
do esquiador”), apresentando total
resolução do problema após suspender a atividade desportiva. Os
corredores de longa distância, após
a corrida podem apresentar agravamento dos sintomas, com aumento
da secreção nasal a contrariar os
sintomas de vasoconstrição nasal
local que decorreram com o exercício3. Todos estes elementos contribuem para o aparecimento de sintomas de rinite no atleta e devem ser
reconhecidos os fatores de risco para
suscetibilidade a estes sintomas.
A rinite afeta o desempenho do
atleta? Sim!
A rinite tem um importante impacto
na qualidade de vida. A sensação
contínua de obstrução nasal e rinorreia dificulta o sono, a capacidade de
concentração. Num estudo em 145
atletas após instituído tratamento
para a rinite alérgica (com corticoide
nasal) foi verificada a melhoria
significativa da qualidade de vida5.
Apesar de não existir evidência
científica de uma associação direta
entre a doença e impacto negativo
no desempenho, pode-se facilmente
inferir a sua presença pela comprovada evidência de distúrbios do
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sono e concentração associado aos
sintomas de rinite6.
A rinite é um desafio diagnóstico?
O diagnóstico sustenta-se em três
pilares: os sintomas alérgicos, o
exame físico, geralmente suportados por exames complementares de
diagnóstico1.
A história clínica representa um
particular desafio no atleta, o qual
pode não apresentar os sintomas
típicos de obstrução nasal, rinorreia
anterior e esternutos, mas surgir
mascarada como um distúrbio do
sono ou fadiga. Assim, é essencial
estabelecer uma boa caraterização do padrão da sintomatologia,
cronicidade, sazonalidade, fatores
despoletadores, resposta à medicação e mesmo avaliação do impacto
na qualidade de vida7. A entrevista
seriada permite avaliar a evolução
da doença, a gravidade e a resposta
ao tratamento. Poderão ser usados
neste controlo questionários. Para
a população geral, encontra-se validado em Portugal o Control of Allergic
Rhinitis and Asthma Test (CARAT) ou
um questionário apropriado para
atletas como o Allergy Questionnaire
for Atheletes (AQUA).
No exame físico podem não surgir
alterações, principalmente quando
os sintomas são intermitentes, mas
deverá verificar-se a presença de
alguns sinais chaves, nomeadamente a descoloração da mucosa
nasal, edema e eritema da mucosa
ou escorrência nasal anterior e
posterior8. A exclusão de complicações infeciosas, sinusite ou otite
não deverá ser descurada no exame
objetivo.
Os exames complementares são
particularmente úteis no diagnóstico
da rinite alérgica. Podem ser usadas
medidas que confirmam atopia,
sendo o uso de testes cutâneos com
alergénios inalantes a mais eficaz.
Pode-se no caso de situações específicas, como o doente se encontrar
sob medicação anti-histamínica ou
apresentar dermografismo, optar-se pelo estudo dos valores no soro
de IgE específica e IgE Total, sendo
o valor da última inútil quando
obtido isoladamente1, 8. O uso de
estudo imagiológico, sendo o mais
adequado no estudo de patologia
sino-nasal a Tomografia Computadorizada, deverá ficar reservada para
excluir a presença de rinosinusite
crónica ou de complicações (quando
suspeitas), avaliar ausência de
resposta terapêutica ou para excluir
malformações ósseas ou lesões
decorrentes após trauma, principalmente nos praticantes de desporto
de contacto próximo1, 9.
Como tratar a rinite do atleta?
A abordagem da rinite deverá
empreender ações em quatro
vertentes: educação do atleta no
reconhecimento dos sintomas e no
reforço da adesão terapêutica; no
controlo da exposição ambiental; tratamento farmacológico e, no caso, da
rinite alérgica a opção da imunoterapia específica1, 10. Todas estas vertentes devem ter sempre ter em conta a
realidade do atleta, de forma a evitar
o efeito lateral da medicação no rendimento, cumprindo as regulamentações da Agência de Anti-Doping
Mundial (WADA) (Tabela 2)11.
A redução da exposição a alergénios ou a componentes nocivos será
talvez uma das tarefas mais difíceis
e por vezes impossível, visto a grande
maioria dos atletas praticar desporto
no exterior e lhes ser exigida a
prática nos mais variados locais e
épocas do ano. No caso dos atletas
com rinite alérgica, a minimização
do contacto com os ácaros do pó da
casa é possível, melhorando as medidas de limpeza, removendo carpetes,
lavando e arejando frequentemente
os lençóis e o quarto7. A exposição
por contacto ambiental sazonal será
mais difícil de evitar, mas pode ser
minimizada através da consulta dos
boletins polínicos, sendo que podem
adaptar-se a hora e os períodos
de treino de forma a minimizar o
contacto7. Existem medidas globais
na melhoria do controlo ambiental,
nomeadamente o uso de adequados
sistemas de ventilação em piscinas e
arenas de gelo e medidas de redução
da poluição ambiental2.
O tratamento farmacológico
deverá ser escolhido tendo em conta
a eficácia e a segurança. De acordo
com o tipo de rinite e a gravidade
dos sintomas as principais opções
terapêuticas são anti-histamínicos
H1 e corticoides nasais tópicos.
Tabela 2. Abordagem da rinite no atleta (adaptado de Delgado L, et al Rhinitis
and its impact on sports; Allergy and Clinical Immunology International, 2006 e
Greiner, A.N., et al., Allergic rhinitis; Lancet, 2011)
Reconhecimento e diagnóstico precoce da doença
Evitar a exposição a picos de alergénios e poluentes
Tratamento Farmacológico
Tratamento Tópico
Tratamento Sistémico
Corticosteroides Nasais
Beclometasona, budesonida,
fluticasona e mometasona
Anti-histamínicos
Anti-histamínicos 2.ª geração: bilastina, desloratadina,
ebastina, fexofenadina, levocetirizina, mizolastina e
rupatadina
Anti-histamínicos de 1.ª geração não recomendados
pelos efeitos laterais sedativos.
Tratamento anti-inflamatório
de base, resolução dos sintomas
nasais e conjuntivais em dias
Se usado incorretamente leva a
falha do tratamento.
Principal evento adverso é epistáxis (10-15%)
Anti-histamínicos
Azelastine, levocabastina
Tratamento sintomático. Eficaz
e seguro no tratamento da
rinite alérgica, prurido nasal,
espirros e rinorreia. Início de
ação em 15 min.
Cromonas
Ácido cromoglícico (cromoglicato de sódio)
Tratamento seguro eficaz nos
sintomas nasais, nomeadamente na rinorreia
Descongestionantes Nasais
Fenilefrina; oximetazolina; tramazolina; xilometazolina
Potentes vasoconstritores de
início de ação rápida (10min).
Uso continuado pode levar a
rinite medicamentosa e efeitos
adversos como irritação nasal e
aumento da rinorreia
Eficaz no tratamento dos sintomas nasais, com redução
dos sintomas conjuntivais. Início ação 1 h
O tratamento regular é mais eficaz que o tratamento
em SOS. Mesmo os de 2.ª geração podem causar sedação em alguns doentes
Corticosteroides
Hidrocortisona e prednisolona
Tratamento oral anti-inflamatório sistémico. Está
indicado o seu uso por curtos períodos, necessita de
justificação médica no caso dos atletas.
Antileucotrienos
Montelucaste e o Zafirlucaste
Atuam nos sintomas de obstrução, rinorreia e também
conjuntivais. Particular eficácia na rinite em doentes
com asma induzida pelo exercício.
Podem surgir efeitos laterais como cefaleias, sintomas
gastro-intestinais e Síndrome de Churg-Strauss
Descongestionantes sistémicos
Pseudoefedrina e efedrina
(encontrados em associação com medicação anti-histamínica ou analgésico).
Eficácia igual ao anti-histamínico isolado.
Efeitos laterais como hipertensão, insónias e agitação e
taquicardia, limitação do seu uso pela WADA–.
Escolher tratamentos que não interferem com a performance física
Usar as medicações de acordo com as regras da WADA
Excluir a presença de asma ou sintomas de asma induzida pelo exercício
WADA World Anti-Doping Agency
Revista de Medicina Desportiva informa Março 2012 · 19
Os anti-histamínicos atuam através do bloqueio dos recetores H1.
Permitem a redução dos sintomas
de prurido oral e nasal, rinorreia e
esternutos. São recomendados os de
segunda-geração, pois têm menos
efeitos laterais, nomeadamente
os efeitos anti-colinérgicos sedativos, alteração cognitiva, secura da
mucosa e alteração da regulação da
temperatura2, 6, 12. A via de administração mais frequente é oral,
podendo ser também aplicados
por via intra-nasal. O seu uso está
indicado nos sintomas intermitentes
e nos sintomas ligeiros, podendo ser
utilizados isoladamente ou associados a outras opções terapêuticas,
principalmente quando os sintomas
são persistentes ou moderados,
como corticoterapia nasal, descongestionantes ou mesmo com antagonistas dos leucotrienos1. Há autores
que aconselham evitar o uso de
anti-histamínicos durante o período
de competição6.
Os corticoides tópicos correspondem à terapêutica mais eficaz
no tratamento da rinite no atleta.
Permitem a redução de todos os sintomas nasais, bem como dos sintomas oculares1. De facto, a medicina
baseada na evidência comprova esta
eficácia, demonstrando a superioridade em relação às outras armas
terapêuticas, como anti-histamínicos
orais e tópicos12. Podem ser usados
de forma crónica e durante o período
de competição e estão indicados
nos atletas quando os sintomas são
persistentes ou intermitentes e de
gravidade moderada, havendo quem
considere o seu uso nos intermitentes ligeiros, mas esta última
opção não está representada nos
principais guias de referência da
medicina baseada na evidência de
2008 e 2010 da Allergic Rhinitis and
its Impact on Asthma (ARIA)1. O seu
uso tópico é permitido pela Agência
Antidoping Mundial (WADA11), sendo
o tratamento pela via oral, retal,
intramuscular e intravenoso sujeito
a restrições e, quando necessários, é
fundamental a comprovação da sua
necessidade terapêutica11.
Os descongestionantes nasais,
como a fenilefrina ou a efedrina,
atuam nos recetores adrenérgicos
permitindo reduzir a obstrução
nasal. São usados principalmente
de forma tópica por curtos períodos,
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em geral até 5 dias, devido ao efeito
lateral de induzirem, quando em uso
prolongado, rinite medicamentosa.
Estão indicados no tratamento em
associação13 com outros fármacos. A
administração por via oral deverá ser
evitada nos atletas de alta competição, pois a presença de concentrações acima de 150µg/ml de efedrina
e pseudoefedrina são proibidas11.
Os antagonistas dos recetores
dos leucotrienos são fármacos que
permitem inibir a atividade inflamatória dos leucotrienos e parecem
ser uma opção válida principalmente nos adultos com sintomas de
predomínio sazonal. Outras opções
terapêuticas menos utilizadas, mas
que podem ser necessárias em
casos refratários, são o cromoglicato
disódio ou o nedocromil, utilizados
por via intranasal ou ocular. Apesar
de terem um excelente perfil de
segurança exigem administrações
frequentes, o que dificulta a adesão
ao tratamento2, 9.
O brometo de ipatrópio intranasal,
pelo seu efeito inibidor da estimulação do sistema nervoso parassimpático, permite diminuir a escorrência
nasal. Apesar de não reduzir os
outros sintomas, poderá ser particularmente útil no caso do esquiador
de forma a contrariar os efeitos da
exposição ao ar frio14.
A lavagem nasal, usando uma
solução de cloreto de sódio, parece
ser de facto eficaz nos casos de
rinosinusite crónica, principalmente
quando em associação com corticoide inalado.
Nos casos de rinite alérgica um
algoritmo específico de abordagem
foi estabelecido pelo grupo ARIA
(Figura 2).
No caso da rinite alérgica a indução de tolerância pode ser possível
através da imunoterapia específica
ou chamadas vacinas de alergénios.
Este tratamento permite de facto
modificar a doença. Encontra-se
indicado nos doentes que têm evidência, através de testes cutâneos e
de IgE específicas, de sensibilização
a esse alergénio, cujos sintomas não
estão controlados com a terapêutica
farmacológica e quando não é possível evitar o contacto com o agente
despoletador. Este quadro clínico
coloca-se frequentemente no atleta
alérgico aos pólens que treina e tem
competições no exterior e cujos
sintomas mesmo após tratamento
farmacológico afetam o desempenho da sua atividade física1. A
imunoterapia pode ser administrada
via subcutânea ou sublingual e pode
ser efetuada para alergénios das
árvores, gramíneas, mas também
para ácaros do pó da casa1, 10, 13. Este
tratamento tem duração de pelo
menos 3 anos e exige a ida mínima
Rinite Alérgica
Sintomas Intermitentes
Ligeiros
Anti – H1 não sedativo
oral ou intranasal
e/ou
Descongestionantes
ou
ARLT
Sem prioridade
estabelecida
Excluir a presença de Asma
Sintomas Persistentes
Moderados – Graves
Ligeiros
Anti – H1 oral não sedativo oral ou intranasal
e/ou
Descongestionantes
ou
ARLT
ou
CCT intranasal
Sem prioridade estabelecida
Rever em 2-4 semanas
se rinite persistente
Melhora
Manter
mais 1 mês
Falha
Aumentar
a dose
Moderados – Graves
1.º CCT intranasal
2.º Anti – H1 oral ou ARLT
Rever em 2– 4 semanas
Melhora
Reduzir a
dose e
continuar
mais 1 mês
Não responde
Rever diagnóstico e
adesão ao tratamento
• Aumentar ou adicionar
corticoide inalado
• Se rinorreia associar
brometo de ipatrópio
• Se congestão nasal
associar
descongestionante ou
CCT oral
Anti – H1 anti histamínico H1; ARLT antagonista dos receptores dos leucotrienos; CCT corticosteróide.
Figura 2. Abordagem terapêutica da rinite alérgica (adaptado de Bousquet, J., et al.,
Allergic Rhinitis and its Impact on Asthma (ARIA) 2008 update)
mensal para administração do tratamento na via subcutânea e medicação diária no domicílio durante esse
período se sublingual, pelo que é
necessário discutir a adesão terapêutica previamente10, 13.
A Agência Mundial Antidopagem
(AMA) criou uma base de dados
em 2005, com o objetivo de simplificar o quotidiano dos vários parceiros desportivos (atletas, coordenadores, federações nacionais e
organismos internacionais). Tem
o nome de Anti-Doping Administration & Management System
(ADAMS). Surgiu no sentido de
melhor coordenar os procedimentos de antidopagem e facilitar
a implementação das medidas
descritas no Código Mundial de
Antidopagem. É um sistema mais
seguro e confidencial, nada comparado com o tradicional envio de
mails e de faxes. Por exemplo, os
laboratórios de antidopagem creditados pela AMA não têm acesso
à informação dos atletas e apenas
as entidades diretamente interessadas têm acesso aos dados. Para
além de rever e corrigir a informação enviada, existe ainda a
possibilidade de receber respostas
e informações das entidades reguladoras e o envio de documentos
digitalizados. O sistema permite
que a informação enviada possa
ser dirigida para outras entidades
relevantes, evitando-se a du-triplicação de envios. A “busca” e
impressão de relatórios também
são possíveis.
É de utilização gratuita e já existe
em várias línguas, mas a portuguesa não está ainda contemplada. Nesta base o utilizador, o
atleta ou outro, regista vários tipos
de informação como, por exemplo,
a submissão da Autorização para
a Utilização Terapêutica (AUT),
o preenchimento do Sistema de
Localização do Praticante Desportivo (as mensagens por via SMS
continuam a funcionar), os resultados laboratoriais dos produtos
biológicos colhidos aos atletas e a
indicação das violações ao código
antidopagem (casos de amostras
positivas). O planeamento da realização dos testes de controlo antidopagem e a gestão dos resultados
é outra das funções do sistema.
A comunicação entre as várias
entidades envolvidas no controlo
de antidopagem permitirá evitar a
duplicação de controlos e harmonizar as comunicações. É um
sistema interessante que necessita
de rápida implementação. BR
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A rinite aumenta o risco de asma
no atleta?
A rinite alérgica e a asma frequentemente coexistem no mesmo
doente. Pela semelhança dos seus
mecanismos fisiopatológicos
inflamatórios, do tipo eosinofílico,
por vezes considera-se que são a
mesma doença, mas com uma resposta sistémica à alergia em que a
magnitude da inflamação é diferente, causando diferentes respostas1. Esta associação é frequente
na população que pratica desporto
de alta competição, principalmente
na prática de endurance15 e também
nos atletas com uma maior predisposição para hipereatividade
brônquica. Na abordagem da história clínica no diagnóstico de rinite
devem sempre ser avaliados os
sintomas sugestivos de asma, bem
como da asma induzida pelo exercício, sendo por vezes necessário
para o diagnóstico a espirometria
após exercício ou com estimulação com metacolina. A abordagem
e o tratamento da rinite alérgica
melhoram a gravidade e o controlo
da asma1.
Conclusão
A rinite no atleta é uma patologia
comum, que afeta o seu desempenho e a sua qualidade de vida. O seu
controlo e tratamento é comprovadamente eficaz na melhoria da
doença e das suas consequências,
para além de nos atletas com asma
associada melhorar também o controlo desta patologia. Sendo facilmente tratável e controlável com
medicações seguras que não afetem
o rendimento, é obrigação de todos
os médicos que lidam com o atleta
de alta competição pesquisarem
estes sintomas e estarem à alerta
para esta doença.
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