CONTRATRANSFERÊNCIA

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Capítulo 15 – Contratransferência
No capítulo XII, foram descritas a teoria e as manifestações transferenciais do paciente
no decorrer de uma experiência de tratamento. O oposto destas são aquelas reações
que o terapeuta desenvolve pelo paciente durante o processo, conhecidas como
contratransferência.
A transferência foi definida como aquela parte da relação paciente-terapeuta que ocorre
em nível inconsciente na mente do paciente, tendo sido distinguida de elementos mais
conscientes das reações totais do paciente ao terapeuta. A contratransferência é
baseada nas forças inconscientes do terapeuta, de acordo com as quais o mesmo
reage ao paciente de maneira, em algum grau, inadequada, à realidade presente da
relação terapêutica, sendo deslocamento de relações e experiências primitivas de sua
própria vida.
Nos capítulos II e III, o papel das forças inconscientes na vida mental normal foi
desenvolvido. Estes fatores também são verdadeiros para o psicoterapeuta. Ele passou
pelas diversas vicissitudes do desenvolvimento individual e específico para a espécie e,
como todo ser humano, possuirá resíduos de conflitos psíquicos inconscientes desde a
infância.
Muitos psicoterapeutas são atraídos para o campo da psiquiatria em virtude de seu
próprio interesse nos fenômenos psicológicos e emocionais e têm mais aptidão para a
introspecção e compreensão parciais de seus próprios processos emocionais que o
indivíduo com seus interesses em outras esferas. Freqüentemente é a compreensão de
seus próprios conflitos emocionais não resolvidos que
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estimula uma pessoa a penetrar neste campo, algumas vezes na esperança de
encontrar a solução para seus problemas pessoais através do trabalho com pacientes.
Quando apropriadamente integrada ou resolvida, tal experiência pessoal com o conflito
emocional torna o terapeuta mais sensível e respeitoso para com a enfermidade e as
perturbações do paciente e, conseqüentemente, isto o torna um trabalhador mais
experimentado.
Embora a resolução dos conflitos pessoais possa tornar o terapeuta mais sensível e
habilidoso, sua incompreendida persistência pode pôr em perigo ou interferir no
sucesso da função terapêutica. O ego do terapeuta também explora o ambiente,
procurando objetos que possam servir à gratificação dos derivados do impulso
inconsciente ou das defesas e a contratransferência pode bloquear ou interferir no
processo terapêutico, se o terapeuta fizer uso inconsciente de seu paciente como tal
objeto. Outras vezes, o paciente pode ser usado, consciente ou inconscientemente,
pelo terapeuta, em seu relacionamento com os colegas. Em tais ocasiões, o paciente
pode tornar-se uma tonte de orgulho e prazer, ou de vergonha e crítica, podendo o
terapeuta reagir emocionalmente ao paciente nesta base.
Deve ser feita uma diferenciação entre os elementos conscientes nas reações do
terapeuta ao paciente, daqueles que são inconscientes. Um terapeuta em interação
com um paciente, pode, às vezes, experimentar sentimentos de irritação, impaciência,
aborrecimento, prazer, satisfação, curiosidade, preocupação, incerteza, confiança,
simpatia, sucesso, etc. Quando essas reações emocionais são proporcionais e
apropriadas ao material ou ao comportamento do paciente, e são conscientes para o
terapeuta, não sendo diretamente motivados pelas interações terapêuticas, elas são
melhor consideradas como contra-reações. De fato, o terapeuta pode fazer uso eficaz
de suas próprias contra-reações sob forma de dados não-verbais, mostrando o impacto
que o paciente provoca em outras pessoas.
Usando as observações de suas reações emocionais conscientes como guia, o
terapeuta pode, muitas vezes, detectar os significados latentes por trás da comunicação
ou do comportamento do paciente. Por exemplo, caso sinta-se desamparado e
bloqueado em seus esforços terapêuticos, pode fazer outras observações para
determinar se o desejo latente do paciente é frustrar a terapia. Sentindo prazer e
satisfação, pode começar a pensar se o desejo transferencial do paciente é de agradar
e receber a aprovação do terapeuta. Ao sentir-se irritado e aborrecido, pode perguntarse se o paciente não estará procurando provocar uma agressão. Com todos os dados
de empatia e introspecção, o terapeuta deve decidir conscientemente a maneira de
usar esse material, conservando a estratégia global e a situação tática imediata.
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O termo contratransferência é reservado, geralmente, para as reações inconscientes do
terapeuta em relação ao paciente, resultando no uso do paciente como objeto da
transferência do terapeuta. Algumas vezes a existência e a natureza da reação
contratransferencial pode ser totalmente inconsciente, enquanto, outras vezes, apenas
alguns elementos assim permanecem. Porém, como na transferência, a
contratransferência inclui elementos dos impulsos e derivados, do superego e/ou das
funções de adaptação ou defesa do ego.
Manifestações
De maneira análoga às reações transferenciais, as manifestações de contratransferência são múltiplas e variadas, já que qualquer elemento ou aspecto dos
processos mentais do terapeuta pode ser catexizado pelo deslocamento
contratransferencial. As manifestações são limitadas apenas pelas vicissitudes da vida
mental inconsciente do terapeuta e belos diversos modos derivados em que estão
integradas.
A — REAÇÕES GENERALIZADAS
O grupo geral das reações de contratransferência, envolvendo quantidade de diferentes
pacientes, pode incluir derivados como a necessidade do terapeuta de sentir-se
indispensável e de ter outras pessoas dependendo dele, ou a necessidade de ser
omnisciente; ou um desejo de controlar e manipular as pessoas e suas vidas. Podem
envolver, sobretudo, certos grupos de pacientes, no caso de um terapeuta que trabalha
mais à vontade, apenas com mulheres; ou um terapeuta que não consegue tratar
pacientes com determinados tipos de conflitos ou perturbações específicas.
Algumas vezes, um terapeuta pode usar seus pacientes para gratificar impulsos
inconscientes como voyerismo e curiosidade, e ficar particularmente ativo e ansioso
para descobrir os segredos mais íntimos, as fantasias e os pormenores do
comportamento; outras vezes pode ter uma formação reativa contra essa curiosidade e
ficar relutante ou incapaz de extrair essa informação. Alguns terapeutas podem
gratificar impulsos inconscientes de agressão, inflingindo aos pacientes sofrimento
desnecessário, desconforto ou frustração; outros, nessas circunstâncias, podem sentir
ansiedade, senco incapazes de manter um ótimo de frustração terapêutica aos desejos
transferenciais. Alguns terapeutas podem,
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repetidamente, ser manipulados e controlados por seus pacientes e serem puxados
para uma atividade excessiva ou indevida.
Algumas vezes, os terapeutas podem ter necessidades masoquistas inconscientes, que
o levam a encorajar seus pacientes a fazerem exigências excessivas e, então, tentar
satisfazê-las com o sacrifício de sua própria vida pessoal. As reações de
contratransferência podem fazer com que o terapeuta sempre se envolva com os
pacientes mais enfermos, que tenham o mais pobre prognóstico e, então, tentar “fazer o
impossível”, enquanto, em outros terapeutas, esses pacientes podem provocar reação
contratransferencial de desesperança e evitação. Um terapeuta pode selecionar
inconscientemente os pacientes, baseado em reações de contra-transferência,
envolvendo, por exemplo, certas entidades diagnósticas, o sexo do paciente, grupos de
idade específica, atratividade física, inteligência, etc. Alguns terapeutas escolherão
apenas pacentes qe se tornarão extremamente dependentes, enquanto outros podem
evitar esses pacientes, escolhendo apenas aqueles que se martêm distantes e
indiferentes e que permaneçam independentes do vínculo terapêutico. Alguns
terapeutas podem, inconscientemente, agir de maneira a provocar intensa, e por vezes
inadequada, regressão em todos os pacientes, enquanto outros podem agir de maneira
o suprimir e evitar qualquer desenvolvimento de reações transferenciais em seus
pacientes, qualquer dos casos sugerindo a operação de forças de contratransferência.
B — REAÇÕES ESPECÍFICAS
O outro grupo de reações de contratransferência implica as reações inconscientes do
terapeuta a um paciente em particular, no qual associações específicas ligam algum
elemento no material ou no comportamento do paciente, aos conflitos não resolvidos do
terapeuta.
Pode acontecer um paciente manifestar conflitos muito semelhantes aos do terapeuta,
caso em que as atitudes e interações deste seriam influenciadas por suas próprias
atitudes frente às perturbações inconscientes. Algumas vezes, isto pode impedi-lo da
reconhecer ou de compreender completamente os conflitos apresentados, com receio
de reconhecer também os significados inconscientes de seus próprios conflitos. Outras
vezes, pode induzi-lo a projetar seus próprios conflitos inconscientes em qualquer
material apresentado pelo paciente que permita tal defesa. Por exemplo, um terapeuta
com conflitos inconscientes sobre sua própria agressividade pode enfatizar as
diferentes manifestações de agressão do paciente em proporção e extensão indevida;
ou um terapeuta com impulsos homossexuais latentes pode interpretar conflitos
homossexuais em um paciente em particular, fora de proporção de seu significado
atual.
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Algumas vezes, as experiências de vida de um paciente podem ser muito semelhantes
às do terapeuta, o que pode estimular seus conflitos não resolvidos; ou uma atitude ou
comportamento específico do paciente pode provocar uma reação moralista no
terapeuta, prejudicando sua habilidade para ser eficientemente objetivo em seu papel
terapêutico. Algumas vezes, as características do paciente, ou seu comportamento,
podem ser especificamente associados a determinados objetos do passado do
terapeuta, provocando, desse modo, respostas inconscientes mais apropriadas àquele
objeto.
Algumas reações de contratransferência são encobertas e se torna difícil para o
terapeuta reconhecê-las. Por exemplo, a superidentificação com o paciente pode ser
manifestada por perda relativa da objetividade ou urna tendência a ficar de lado do
paciente, contra os objetos de seu meio ambiente, com o sentimento de serem hostis,
pouco cooperativos ou frustrantes. A reação oposta, de aumentar a distância emocional
do paciente, ficando assim incapacitado para usar a si próprio como instrumento de
percepção, pode também ser urna manifestação de contratransferência. A omissão de
plena atenção ao paciente pode ser, às vezes, um reflexo dos problemas presentes do
terapeuta, mas pode ser, também, manifestação de uma necessidade
contratransferencial do terapeuta em conservar distância do paciente.
A “fantasia de Pigmalião” pela qual o terapeuta tenta moldar o paciente de maneira
idealizada é, habitualmente, o resultado do uso do paciente para seus próprios
propósitos inconscientes. A superambição terapêutica e a colocação de objetivos
irrealmente elevados para o paciente, assim como a falta de ambição terapêutica e a
colocação de objetivos inadequadamente restritos e limitados, podem estar
influenciadas pelas reações de contratransferência. Estas podem, também, influenciar a
seleção da modalidade do tratamento, quanto à escolha da psicoterapia de apoio, ou
dirigida ao insight, tratamento por droga, hospitalização, eletrochoque, hipnose, etc.
Outra manifestação de contratransferência pode ser certa dificuldade para a
compreensão ou integração do material apresentado pelo paciente, especialmente
quando tal dificuldade é persistente. Alguns terapeutas têm problemas quanto a permitir
ao paciente crescer como indivíduo independente e viver sua própria vida por padrões
ou valores diferentes dos seus. Muitas vezes, isto se torna um problema ao término do
tratamento. De modo análogo aos pais de um adolescente, ou de um jovem adulto, o
tarapeuta tem, às vezes, dificuldade em permitir que o paciente cresça e estabeleça
uma existência independente e pode ter necessidade inconsciente de estar apontando,
ininterruptamente, os persistentes conflitos neuróticos que não foram completamente
resolvidos, conservando o paciente em tratamento por um tempo desnecessariamente
longo.
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Essas iIustrações de possivais reações de contratransferência, gerais ou específicas,
podem ser indefinidamente elaboradas, mas o que se quer acentuar é o tipo de impacto
exercido pelas reações inconscientes de contratransferência. O uso inconsciente das
defesas do ego pelo teraputa resulta, muitas vezes, em repressão, racionalização,
deslocamento e outras manobras defensivas, para explicar ou justificar essas reações,
da modo que elas, freqüentemente, não são reconhecidas conscientemente como
manifestações de contratransferência.
Nos primórdios da história da teoria e da terapia psicanalítica, pensava-se que as
reações de contratransferência deveriam ser eliminadas, que elas conduziriam a
inevitáveis e significativas perturbações ou rupturas no processo terapêutico. A
experiência clínica e os estudos mais aprofundados, contudo, indicaram que é
provavelmente impossível eliminá-las completamente e que continuarão a ocorrer,
mesmo nos mais amadurecidos e experientes terapeutas.
Desse modo, o problema para o terapeuta é a aceitação da contratransferência como
um fenômeno que deve ser compreendido no processo terapêutico e trabalhado de
modo a minimizar seus efeitos disruptivos. Por esta razão, é necessário que o terapeuta
compreenda a si próprio e suas reações e respostas, a fim de poder controlar os
fenômenos de contratransferência que surgirão inevitavelmente. A ocorrência das
reações de contratransferância é mais freqüente e manifesta em terapeutas
inexperientes e, quanto mais familiarizado este for com seus processos mentais préconscientes e inconscientes, mais tais reações poderão ser minimizadas e controladas,
se não eliminadas.
Os sinais de contratransferência
Embora a natureza especifica da reação de contratransferência seja muito variável e
deva ser trabalhada individualmente a cada instante, há uma quantidade de
manifestações não específicas que são facilmente reconhecíveis. Provavelmente, o
sinal mais comum de contratransferência é um significativo bloqueio, persistente ou
periódico, para a compreensão do paciente e seus conflitos. O terapeuta pode também
notar coisas como sentir ansiedade durante a sessão ou, depois desta terminada, ao
considerar o material. Essa ansiedade às vezes pode ser acompanhada ou substituida
pelo desenvolvimento de outro sintoma neurótico, geralmente de natureza passageira.
Outros sinais podem incluir sentimento de culpa ou intensa reação emocional ao
paciente, como cólera, ciúme, preocupação ou simpatia excessiva, excitação sexual ou
amor.
Atos sintomáticos secundários, lapsos verbais, equívocos no horário marcado, erro na
conta, etc., geralmente indicam mobilização de conflitos inconscientes em relação ao
paciente. Pode haver, também, preocupação consciente com o
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paciente, além do razoável interesse terapêutico. Discutir ou descrever, repetidamente,
o paciente com outras pessoas, sonho ou fantasias com e paciente, ansiosa ou
desagradável antecipação de sua próxinia visita, são sinais úteis para sugerir a
existência de uma reação contratransferencial. Depois de o terapeuta ter estabelecido
uma estrutura particular e um procedimento rotineiro para cada paciente, o afastamento
desse esquema deve ser pequisado como possivelmente relativo à contratransferênia.
O manejo da contratransferência
No manejo das reações de contratransferência, o primeiro problema é o
reconhecimento pelo terapeuta, de sua existência e a tentativa de identificação tão
específica quanto possível. Isto implica contínuo processo de auto-avaliação e
introspecção de parte do terapeuta, à medida que interage com o paciente, e contínua
vigilância à possível ocorrência de ditos fenômenos. Exige também conhecimento dos
diversos exemplos que possam indicar a existência dessa reação e a vontade do
terapeuta em aceitar, sem excessiva humilhação, a ocorrência da reação
contratransferencial em si próprio. Na tentativa de identifcar os detalhes de um conflito
de contratransferência, é essencial que o terapeuta aplique em si próprio os mesmos
modelos de honesta e sincera auto-avaliação que espera de seu paciente. O terapeuta
só poderá trazer ao conhecimento consciente um conflito contratransferencial, depois
de haver dominado suas próprias resistências.
Nas ocasiões em que o terapeuta, depois de razoáveis esforços para introspecção e
auto-avaliação, ainda não está apto para reconhecer ou identificar as reações de
contratransferência, ou nas ocasiões em que parece haver persistente e não resolvida
resposta contratransferencial, é muitas vezes proveitoso consultar
um colega. Em virtude do distanciamento da situação imediata e da maior objetividade
este poderá estar em melhor posição para ajudar o terapeuta a identificar algumas das
forças contratransferenciais.
Nas situações em que esta pareça intratável, reiterada ou experiência
significativamente generalizada, que interfere na capacidade de execução das funções
do terapeuta, este deve considerar uma psicoterapia pessoal, para tentar lidar mais
esclarecidamente e resolver tais contratransferências.
Enquanto isso, ao lidar com o paciente, em face de contínua reação
contratransferencial é mais prudente que o terapeuta diminua sua atividade e
intervenções até que tenha restabelecido seu próprio controle e equilíbrio emocional,
reduzindo, desse modo, a contaminação da situação terapêutica. Quando o terapeuta
está sob a pressão de suas próprias reações emocionais ao paciente, elas irão colorir e
influenciar, inevitavelmente, a escolha das palavras, o tom de voz e
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a maneira de apresentar essas intervenções, conduzindo a subseqüentes complicações
ou dificuldades no tratamento.
Se o terapeuta tem conhecimento de persistente atitude contratransferencial, algumas
vezes é possível compensá-la de modo decididamente consciente e controlado. Por
exemplo, um terapeuta com tendência a ser ambicioso por seus pacientes, pode ser
capaz de controlar isto de maneira consciente e colocar limitações mais realísticas para
si como para o paciente. Um terapeuta que está ciente de uma não-neutralizada
curiosidade sexual voyeurística, que tende a intervir quando é mencionado um material
sexual, pode ser conscientemente capaz de compensar tal tendência através do
controle e de esforços conscientes para intervir igualmente em outras áreas. Um
terapeuta que sinta inibição ou necessidade defensiva de evitar estas explorações
pode, igualmente, compensar isto por meio de esforços conscientes na direção oposta.
A ênfase deve estar na vontade do terapeuta em aceitar a ocorrência da
contratransferência sem culpa ou vergonha excessivas, e na honestidade de sua autoavaliação, na tentativa de identificar e compreender essas reações. Como o paciente
em tratamento, o terapeuta deve tentar usar essa compreensâo e conhecimento
recentemente adquiridos, para mudar suas reações e seu comportamento na presente
situação. Se o terapeuta não quiser encarar os problemas de sua realidade psicológica,
dificilmente poderá exigir que seus pacientes o façam.
Algumas escolas de psicoterapia chegam ao ponto de encorajar o terapeuta a
manifestar suas reações contratransferenciais e sentimentos opostos, de maneira
franca e direta ao paciente, na suposição de que isto encorajará a honestidade no
paciente e tornará a comunicação entre terapeuta e paciente mais íntima e eficaz.
Alguns terapeutas acreditam que podem usar a situação terapêutica para seu próprio
tratamento e maior desenvolvimento como indivíduo.
Algumas vezes, esse comportamento chega a ser inclusive um acting-out do próprio
terapeuta com o paciente, como no caso de sedução sexual manifesta ou de ativa
participação pessoal na vida social e extraterapêutica do paciente.
Em oposição, contudo, há o argumento de, se o terapeuta está necessitando de
tratamento, deve fazer os necessários arranjos para colocar-se na posição de paciente
com alguém que seja terapeuticamente objetivo, em lugar de usar o paciente para este
propósito. Além disso, quando usa a situação a favor de si próprio, está se afastando da
posição de terapeuta e se volta para o paciente em busca de ajuda; ou coloca-se numa
posição vis-à-vis com o paciente, mais semelhante ,a uma relação não-terapêutica,
entre amigos ou conhecidos. Embora haja algumas vezes por este caminho
significativas alterações em ambos os participantes, em virtude do relacionamento e
das interações entre os dois, esta não é mais uma situação terapêutica estruturada e
estável e as dinâmicas da relação são, desse modo, significativamente alteradas.
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Esta situação é diferente em relacionamento de apoio quando, em virtude de uma
decisão consciente, fundamentada nas necessidades terapêuticas do paciente, o
terapeuta pode revelar certos aspectos de si próprio ou de sua personalidade e
reações, numa tentativa de aumentar os objetivos táticos imediatos do tratamento. A
principal diferença é de o objetivo tático ser o bem-estar do paciente e não do terapeuta
e a intervenção tem em mira encontrar uma necessidade particular, como favorecer a
identificação ou reforçar uma defesa. Em tal situação, o terapeuta não está tentando
exprimir e revelar respostas emocionais de contra-transferência, mas sim servir de
modelo para emular o paciente em sua luta para estabelecer um equilíbrio dinâmico
mais confortável.
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