2012 CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO Lato Sensu em MEDICINA DE EMERGÊNCIA E UTI - Terzius Síndrome da Bolha Azul de Borracha – (SBAB) The Blue Blubbe Nevo Sydrome – (BRBNS) Humberto Mizael Ribon Hospital Municipal de Americana-SP Síndrome da Bolha Azul de Borracha – (SBAB) The Blue Blubbe Nevo Sydrome – (BRBNS) Sd. Bean ============================================================= ------------------------------------------------------------------------------------------------------- Resumo A síndrome da bolha azul de borracha é uma enfermidade que se caracteriza por malformação vascular, acometendo vários órgãos, mas principalmente pele e sistema gastrointestinal. Manifesta-se clinicamente com nodulações venosas azuladas dolorosas, além de frequentes complicações como anemia ferropriva severa, devido a sangramentos intestinais ocultos, hematêmese, melena. O caso apresentado é de um paciente de 24 anos que deu entrada no pronto socorro com queixa dor abdominal e anemia grave e foi submetido a cirurgia de laparoscopia. Palavras-chaves: Malformação vascular, anemia, sangramento intestinal. ---------------------------------------------------------------------------Abstract The Blue Blubbe Nevo Sydrome is a disease which is characterized by vascular malformation, affecting various organs, but mainly the skin and the gastrointestinal system. It manifests clinically with painful nodules venous blue. In addition to frequent complications such as severe iron deficiency anemia due to occult intestinal bleeding, hematemesis, melena. The case is presented of a patient 24, who was admitted to the Emergency Room complaining abdominal pain and severe anemia and underwent laparoscopic surgery. Keywords: vascular malformation, anemia, intestinal bleeding. H.M.A-SP Página 1 A SBAB é uma enfermidade descrita pela primeira vez em 1860, por Gascoyen5. Ele descreve um paciente que morreu por asfixia por tumoração, que apresentava lesões na pele e nevo, semelhantes às encontradas no epitélio intestinal em necropsia5. Foi descrita novamente em 1958, por William Bennet5, que atribuiu o estado de anemia ferropriva a constantes sangramentos intestinais, devido à má formação vascular, segundo estudos realizado5. A síndrome se caracteriza por apresentar malformações venosas de aspecto nodular, azuladas, levemente deprimidas de alguns milímetros a vários centímetros, podendo ser múltiplas ou em alguns casos única, dependendo da localização5, 4. As regiões mais acometidas são na pele e trato gastrintestinal5, 4,2, mas pode manifestar-se em pulmão, rins, palato3, genitália1, cérebro, peritônio, bexiga, fígado, baço. Na pele, manifesta-se mais frequentemente no tronco, membros superiores e extremidades5. No trato gastrintestinal local mais comum é no intestino delgado e cólon distal, mas pode acometer todo intestino, como foi relatado na maioria dos casos estudados. A SBAB é uma enfermidade desconhecida, rara, com relato de pouco mais de 200 casos no mundo, que parece ser de herança autossômica dominante. Afeta os sexos igualmente, raro na raça negra5. O diagnostico normalmente é feito na infância, mas pode ocorrer em alguns casos tardiamente, devido à doença ser assintomática e desenvolver complicações somente na adolescência ou idade adulta. Na maioria das vezes, os pacientes procuram o sistema de saúde devido a uma anemia crônica, palidez, dor abdominal, melena, hematêmese, enterorragia5, 4,2. O diagnóstico é feito na maioria das vezes, caso haja suspeita, via endoscópica, por biópsia da lesão em trato gastrointestinal5, 3,2,1. Existe relato de caso de lesões biopsiadas no palato diretamente, esse tipo de lesão é mais comum em paciente portadores da doença na idade adulta sendo rara em crianças3. Ainda não possuímos informações suficientes para determinar qual melhor método ou local de escolha para a realização da biopsia. Os pacientes acometidos apresentam anemia ferropriva severa, necessitando muitas vezes de múltiplas transfusões e reposição de ferro constantemente, além de apresentarem distúrbios de coagulação e trombocitopenias5-4. Relato do Caso O paciente S.A.A, homem, pardo, de 24 anos, nascido no estado de Alagoas, morador de Cidade de Americana, deu entrado no P.S. com queixa de dor abdominal e episódios de melena. Paciente encontrava-se hipocorado ++/4++, afebril, eupnéico, normotenso, batimentos cardíacos normais, anictérico, acianótico, ausculta cardíaca e pulmonar normais. O abdômen era flácido, doloroso a palpação difusa, BD negativo. Ao toque retal sem melena ou sinais de sangramento. Apresentava também lesão em tronco semelhante a um hemangioma (fig. 1.1) e em pé direito (fig. 1.2) Exames de entrada, Leucócitos 10300, HB 7,5mg/dl HT 24% e microcitose, anisocitose, hipocromia, plaquetas de 393.000, Dosagem de ferro de 6µg/dl. H.M.A-SP Página 2 Na história pregressa o paciente relata internação há 10 anos no HC-SP, devido a problemas com anemia. Nessa internação foi feito diagnóstico da SBAB, através do exame clínico e achados endoscópicos mais biopsia. fig. 1.1 fig1.2 Discussão do caso Paciente ficou em observação sendo reavaliado diariamente. Foram solicitados novos exames nos quais observamos queda no HB para 7,1mg/dl. A anemia severa ferropriva e queda do Hb são citadas na maioria dos relatos5, 3,2. O paciente mantinha dor a abdominal e no terceiro dia de observação o paciente apresentou vômitos, distensão abdominal e piora clínica, na avaliação da equipe de cirurgia optou por fazer uma laparoscopia exploradora. Na cirurgia o paciente apresentou quadro de intussuscepção, hemorragia e obstrução intestinal. Foi feito ressecção de 30 cm de alça de delgado (fig1.3) com anastomose termino-terminal. Como descrito na maioria dos estudos5, 3,2, o intestino apresentava vários focos hemorrágicos e malformações vasculares azuladas. Foram realizadas várias transfusões sanguíneas devido ao quadro de hemorragia intra-abdominal, durante a cirurgia e pós-operatório na UTI, na qual permaneceu internado durante três dias, evoluiu sem intercorrências, recebe alta para H.M.A-SP Página 3 ala cirúrgica, aos cuidados da cirurgia geral. Evoluiu muito bem com sem problemas, aceitou dieta, e manteve a HB: 13.1mg/dl, HT 39%. fig. 1.3 Logo após receber de alta médica, o paciente apresentou pico hipertensivo de PA: 170 x 100 mmHG, mais confusão mental. Suspensa à alta, solicitado avaliação da Neurologia e tomografia de crânio (fig 2.1). A TC de crânio evidenciou quadro de sangramento intraparenquimatoso extenso fronteparietal à direita. Solicitado vaga UTI, foi admitido imediatamente, mantendo quadro de confusão mental, eupneico, SatO2 de 96% em ar ambiente, PA 140 x 90mmhg, afebril, sem mais alterações clínicas. Foi adotada conduta conservadora e solicitado Ressonância Nuclear Magnética (Fig. 2.2). Na RNM foi evidenciada má formação vascular - MAV e sangramento. Apesar de ser um local menos frequente para manifestação da síndrome, a causa da MAV foi supostamente atribuída a SBAB, mesmo incomum, o cérebro já foi citado como local de acometimento5,3. fig. 2.1 H.M.A-SP Página 4 fig. 2.2 Mantida conduta conservadora neurológica, o paciente permaneceu na UTI durante 15 dias, sem piora em nenhum momento do quadro neurológico. Durante internação o paciente contraiu pneumonia hospitalar, foi tratado com Tazocin®, evoluiu bem ao tratamento. Na alta da UTI o paciente não apresentava nenhuma alteração nos exames neurológico ou clínico. Ficou internado na ala cirúrgica durante doze dias sem qualquer intercorrência, foi dada alta hospitalar ao paciente, que faz acompanhamento ambulatorial rigoroso. Conclusão A SBAB é uma enfermidade ainda pouco conhecida por ser uma doença raríssima, com literatura escassa. Ainda não temos tratamento protocolado a seguir, apenas, como todos os estudos mostraram, tratamos as consequências, e tentamos evitar com consulta regulares maiores complicações. O paciente atualmente vive sem nenhum tipo de complicação; leva uma vida normal. Possui um filho do sexo masculino de sete meses de idade. A criança está em pesquisa da síndrome, por apresenta um hemangioma azulado em epitélio craniano. A observação e acompanhamento familiar serão importantes para confirmar a característica hereditária da doença5-3, logo ajudar em pesquisas e estudos futuros. H.M.A-SP Página 5 Referência Bibliográfica 1-Álvarez Múgica M., A. Monzón Jalón, Regadera Sejas FJ, González Álvarez RC, Fernández Gómez J.M ª., Rodríguez Robles L - Actas Urol Esp v.31 n.2 Madrid fevereiro 2007. 2-M. Muñoz-Navas, I. Fernández-Urien, E. Espinet, M. betes, C. Carretero e JC Subtil - Rev. esp. enferm. cavar. v.96 n.5 Madrid mayo 2004. 3-Thiago de Santana SantosI; Riedel FrotaII; Paulo Ricardo Saquete Martins-FilhoIII; Josuel Raimundo CavalcanteIV; Ronaldo de Carvalho RaimundoV; Emanuel Sávio de Souza AndradeVI An. Bras. Dermatol. vol.86 no.4 supl.1 Rio de Janeiro July/Aug. 2011. 4-Magaly Gemio Teixeira, Marcos Vinicius Perini; Carlos Frederico S. Marques; Angelita Habr-Gama; Desidério beijo; Joaquim J. Gama-Rodrigues - Rev. Hosp. Clin. vol. 58 no.2 São Paulo 2003. 5-RODRIGUES D et al. - Blue rubber bleb Síndrome do Nevo Rev.. Hosp. Clín. Fac. Med. S. Paulo 55 (1) :29-34, de 2000. - Rev. Hosp. Clin. vol. 55 n.1 São Paulo Jan. / fevereiro 2000. H.M.A-SP Página 6