FATORES DE RISCO DA SÍNDROME DE BURNOUT EM ENFERMEIROS DURANTE O EXERCÍCIO PROFISSIONAL Naila Teles Cruz∗ Poliana Tanajura Lima** RESUMO A Síndrome de Burnout é um transtorno adaptativo crônico que acomete a equipe de saúde no exercício de sua profissão. Sendo definida como esgotamento profissional, uma Síndrome psicológica decorrente da tensão emocional crônica no trabalho, no qual ocorre o desenvolvimento de imagens negativas de si mesmo, de atitudes desfavoráveis referente ao trabalho e uma perda de interesse em relação aos clientes/pacientes. O objetivo desse estudo é analisar os fatores de risco da Síndrome de Burnout. A metodologia utilizada foi exclusivamente a pesquisa bibliográfica. Os resultados dessa revisão de literatura nos levam a afirmar que o Burnout é um problema individual e social e está relacionado ao cansaço físico e mental do profissional e na ausência de personalização do trabalho, possuindo uma prevalência maior nos profissionais encarregados de cuidar de outras pessoas, trabalhadores que possuem intensa e constante contato interpessoal, assim como a enfermagem. Palavras- chave: Síndrome de Burnout; enfermeiros; trabalho. ∗ Bacharel em Enfermagem pelo Centro Universitário Jorge Amado- UNIJORGE. Pós-graduanda em Enfermagem do Trabalho pela Atualiza Pós-Graduação.E-mail: [email protected] **Bacharel em Enfermagem pela Universidade Católica do Salvador- UCSAL. Pós-graduanda em Enfermagem do Trabalho pela Atualiza Pós-Graduação.E-mail: [email protected] 2 1 INTRODUÇÃO No capitalismo contemporâneo, marcado pela acumulação flexível, contempla-se a revolução dos conceitos de tempo e distância, da comunicação, da produção e dos nossos modos de vida, especialmente devido à expansão da informática e da microeletrônica no mundo do trabalho. A reestruturação produtiva, como resposta à atual crise de acumulação do capital mundial, é uma realidade adotada em diversos países, inclusive o Brasil (MUROFUSE, N.T.; ABRANCHES, S.S.; NAPOLEÃO, A.A.; 2005). As mudanças tecnológicas, introduzidas no processo produtivo, possibilitaram às empresas o aumento da produtividade e, conseqüentemente, dos lucros, e trouxeram impactos á saúde do trabalhador, com manifestações tanto na esfera do seu físico quanto no psíquico. O surgimento de novas enfermidades relacionadas ás mudanças introduzidas no mundo do trabalho é apontado nas produções científicas, nas últimas décadas (MUROFUSE, N.T.; ABRANCHES, S.S.; NAPOLEÃO, A.A.; 2005) Dessa maneira, a enfermagem, como prática social, não ficou isenta às novidades introduzidas no mundo do trabalho em geral. Assim, entende-se (Stacciarini, J.M.R.; Tróccoli, B.T.; 2001) que estudar a manifestação do estresse ocupacional entre enfermeiros permite compreender e elucidar alguns problemas, tais como a insatisfação profissional, a produtividade do trabalho, o absenteísmo, os acidentes de trabalho e algumas doenças ocupacionais, além de permitir a proposição de intervenções e busca de soluções. Outra perspectiva de estudo das conseqüências ao psíquico dos trabalhadores, geradas pelas mudanças implementadas, resulta no surgimento do termo Burnout, designando aquilo que deixou de funcionar por exaustão energética, expresso por meio de um sentimento de fracasso e exaustão, causados por um excessivo desgaste de energia e recursos que acomete, geralmente, os profissionais que trabalham em contato com pessoas (CARLOTTO, M.S.; GOBBI, M.D.; 2003). Síndrome de Burnout é um transtorno adaptativo crônico que acomete a equipe de saúde no exercício de sua profissão. E esse profissional compartilha com o paciente/família, sua dor, angústia, depressão, medo. Esses agentes estressores ocupacionais, quando persistem podem levar a Síndrome de Burnout, considerando como uma resposta emocional a situações de estresse em função de intensas relações no trabalho. A síndrome é entendida como um processo constituído por três dimensões: Exaustão Emocional (EE); Despersonalização (DE) e reduzida Realização Profissional (rRP). 3 Assim, o interesse pela temática surgiu a partir do conhecimento de alguns fatores de risco da Síndrome de Burnout e por observar que a enfermagem é a categoria mais susceptível a desenvolver tal doença. A enfermagem foi classificada pela Health Education Authority como a quarta profissão mais estressante, no setor público, que vem tentando profissionalmente firmar-se para obter maior reconhecimento social (MUROFUSE, N.T.; ABRANCHES, S.S.; NAPOLEÃO, A.A. apud ORTIZ, G.C.M.; 1991). Segundo estimativa da OMS (Organização Mundial de Saúde), os transtornos mentais menores acometem cerca de 30% dos trabalhadores ocupados, e os transtornos mentais graves, cerca de 5 a 10% (Ministério da Saúde). No Brasil, a lei nº 3.048/99 reconhece a Síndrome de Burnout como doença do trabalho, síndrome entendida como “sensação de estar acabado” (CID-0, Z 073). Assim, essa revisão de literatura pretende colaborar para o direcionamento dos profissionais de saúde na prevenção dos fatores de risco da Síndrome de Burnout em enfermeiros durante seu exercício profissional. Neste trabalho foram utilizados como fontes bibliográficas livros textos de referência temática, monografias disponíveis no acervo da atualiza, artigos científicos disponíveis online no site da biblioteca virtual em saúde publicada nos últimos 10 anos no idioma português e inglês, a partir dos descritores (DECS) – Síndrome de Burnout; enfermagem; stress; depressão; exaustão; profissionais de saúde; enfermeiros; fatores de risco e exercício profissional. Após o levantamento dos dados, foi realizada leitura exploratória dos resumos, e aplicados os critérios de inclusão. Diante do material selecionado realizamos uma análise de conteúdo temático e a partir desta identificadas as categorias para a discussão. 2 Conceituando a Síndrome de Burnout A década de 90 foi marcada no campo da saúde do trabalhador pelo aumento da incidência das Lesões por esforços repetitivos/Doenças osteomusculares (LER/DORT), atualmente ainda é considerada um problema, e é responsável por um grande número dos afastamentos notificados no INSS, no entanto, o século XXI acrescenta a esses dados um crescimento dos transtornos mentais comuns, provavelmente devido às relações de trabalho serem cada dia mais cercadas por um maior número de fatores de estresse ocupacional. 4 Murofuse, Abranches e Napoleão (2005) citam que em documento da Comissão das Comunidades Européias, as enfermidades consideradas emergentes, como estresse, a depressão e a ansiedade, são responsáveis por 18% dos problemas de saúde associados ao trabalho, o que implica em duas semanas ou mais de ausência laboral, cita ainda que dados dos Estados Unidos e Canadá, não diferem muito dos dados estatísticos da comunidade européia, sendo que o estresse mental sozinho responde por 11% das recomendações Compensation Insurance 1985. No Brasil, dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) sobre a concessão de benefícios por incapacidade para o trabalho superior a 15 dias e de aposentadoria por invalidez, por incapacidade definitiva para o trabalho, mostram que os transtornos mentais, com destaque para o alcoolismo crônico, ocupam o terceiro lugar entre as causas dessas ocorrências (BRASIL, 2001). E estudos mostram que o desequilíbrio na saúde do profissional pode levá-lo a se ausentar do trabalho (absenteísmo), gerando licenças por auxílio-doença e a necessidade, por parte da organização, de reposição de funcionários, transferências, novas contratações, novo treinamento, entre outras despesas. A qualidade dos serviços prestados e o nível de produção fatalmente são afetados, assim como a lucratividade (Moreno-Jimenez, 2000; Schaufeli, 1999c). Mais recentemente, a Associação Nacional de Médicos do Trabalho (ANAMT) divulga a seguinte notícia em meio eletrônico: “Fenômeno mundial, o aumento na incidência de transtorno mental tem sido um fator de preocupação e ocupado a agenda da área médica e do INSS, do Ministério da Previdência Social. A doença está na terceira posição do ranking das principais causas de requerimentos de auxílio doença no INSS” (ANAMT, 2008). No que diz respeito à Síndrome de Burnout, não há dados estatísticos registrados nos acompanhamentos de auxílio doença na Previdência Social, mas estudos realizados no Brasil mostram que categorias profissionais como médicos, enfermeiros, assistentes sociais, professores, bancários, agentes penitenciários e policiais, apresentam alta incidência dessa síndrome. A Síndrome de Burnout passou a fazer parte do mundo laboral, ao tempo que começou a explicar grande parte das conseqüências do impacto das atividades ocupacionais para o trabalhador e para as organizações. Falar em Burnout é falar de desesperança, em perda da capacidade de modificar circunstâncias, é falar da impotência diante do que parece irreversível, imutável (COSTA, 2002). Acredita-se que Herbert J. Freundenberger em 1974 foi o primeiro a utilizar esta denominação burnout em seu artigo Staff Burn- out, alertando a comunidade científica dos problemas a que os profissionais de saúde estão expostos em relação ao seu trabalho. Schaufeli e Ezmann (1999), aponta que a adoção deste vocabulário 5 já havia ocorrido em 1969 por Brandley, onde o autor propõe uma nova estrutura organizacional a fim de conter o fenômeno psicológico que acomete trabalhadores assistenciais. De acordo com a ótica de diversos especialistas e pesquisadores sobre a Síndrome de Burnout, há várias definições, tais como: Para Papadatou, Anagnostopoulos e Monos (1994) a Síndrome de Burnout é “uma condição variável, oscilando de baixos e altos graus de sentimentos estressantes experimentados”. Codó e Vasquez-Menezes (1999) definem Burnout como “a síndrome da desistência, pois o indivíduo deixa de investir no trabalho e nas relações afetivas que dele decorrem”. Trata-se de uma metáfora para significar aquilo ou aquele que chegou ao seu limite e, por falta de energia, não tem mais condições de desempenho físico ou mental. Para Cahen (1995) “Burnout é o resultado de um estresse extremo sem alívio”. Barni et al. (1996) dizem que “Burnout é essencialmente um processo caracterizado pela necessidade de equilíbrio entre recursos e demanda individual”. Catalan et al. (1996) afirmam que “Burnout é um termo frequentemente usado para descrever a experiência de profissionais da saúde lidando com situações estressantes”. Lautert (1997) diz: Síndrome de Burnout é uma junção de sintomas comumente associados com o estresse crônico em uma variedade de ocupações. Resulta de um prolongado processo de tentativas se suportar o estresse, culminando na exaustão dos recursos pessoais. Pode ser considerada uma interrupção no sentimento pessoal de domínio da ocupação ou auto-eficiência. Grunfeld e Tehelan (2000) dizem que: Burnout resulta do contato com pessoas em processo de sofrimento e é caracterizada por esgotamento físico e emocional, despersonalização e baixa produtividade, sendo fortemente associado à intenção de abandono no trabalho. 6 Person et al. (2000) afirmam que “Burnout é resultante da tensão na vida profissional de médicos e enfermeiros e está associado a esgotamento emocional, despersonalização e baixa realização pessoal”. Fializando, para Smrdel (2003): Síndrome de Burnout é um fenômeno complexo, que resulta da coinfluência de tensão no trabalho (relacionada tanto com a natureza do trabalho, como com sua organização) e personalidade subjacente, com conseqüências negativas tanto para o profissional como para o paciente. Embora apresentem alta prevalência entre a população trabalhadora, os distúrbios psíquicos, incluindo a síndrome de burnout, frequentemente deixam de ser reconhecidos. Contribuem para o fato, entre outros motivos, as características do distúrbio que podem ser confundidos com sintomas físicos e a complexidade de definir a associação entre tais distúrbios e o trabalho desenvolvido pelo trabalhador (GLINA et al, 2001). O silêncio epidemiológico é sem dúvida um dos fatores que contribuem para a falta de reconhecimento dos distúrbios, Glina et al. (2001) em estudo sobre a saúde mental e trabalho e a relação entre nexo casual e diagnóstico evidenciou que para a maioria dos casos analisados não houve emissão de CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) pelas empresas empregadoras, além disso, a problemática da demissão atingiu a maioria dos casos estudados, alguns tendo sido demitidos com o quadro clínico em atividade. 2.1 Síndrome de Burnout e o Exercício Profissional O trabalho é uma atividade que pode ocupar grande parcela do tempo de cada indivíduo e do seu convívio em sociedade. Dejours (1992) afirmava que o trabalho nem sempre possibilita realização profissional. Pode, ao contrário, causar problemas desde insatisfação até exaustão. O termo burnout foi utilizado originalmente para referir-se ao colapso ocorrido com os motores dos jatos e dos foguetes na década de 40, vem do inglês e indica “queimar até a exaustão” também conhecida como síndrome do esgotamento profissional, até essa denominação foram muitos os nomes utilizados para definir tal síndrome, Benevides; Pereira (2002) apud Gonzaléz (1995) e Portero e Ruiz (1998), em referência a desatenção dos cuidadores consigo mesmo, a denominou de Síndrome do Cuidador Descuidado, mais tarde, a chamava de Síndrome do Assistente Desassistido devido à mínima consideração e suporte aos trabalhadores de serviços de assistência. 7 Lorenz (2009) ao dissertar sobre o reconhecimento acadêmico da Síndrome de Burnout afirma que a síndrome tem sido descrita principalmente em profissionais que trabalham na prestação de cuidados a pessoas doentes, grupos sociais carentes e crianças, como exemplo, enfermeiros, médicos, assistentes sociais e professores, sendo que nas profissões em que a atividade é dispensar cuidados ou ensinar tem sido descrita a instalação de verdadeira intolerância, por parte dos trabalhadores, ao contato com aqueles que antes eram o seu alvo de atenção e dedicação, como se tivesse atingido um estado de saturação emocional. Atualmente sabe-se que a Síndrome não afeta apenas profissionais da área de saúde ou assistências, desde 1975 Freudenberger, citado em Benevides Pereira (2002) admitiu que a síndrome de burn out afeta também outros profissionais, além dos que trabalham diretamente na assistência aos demais, ainda que esses estejam mais susceptíveis a desenvolvê-la. Esta tendência de associar o burnout com uma síndrome que pode ocorrer com todos os trabalhadores, e não apenas os da área de saúde fazem com que algumas pessoas confundam a síndrome de burn out com o estresse, palavra aliás que se transformou em um sinônimo de qualquer tipo de alteração, em geral negativa, sentida pelo indivíduo, afinal é muito comum ouvir o jargão popular “não me estresse”, porém é necessário ter em mente que se trata de patologias distintas. A instalação da síndrome de burnout ocorre de forma lenta e gradual, inicialmente imperceptível pelo trabalhador, por vezes por ignorar a existência da doença ou ainda por atribuí-la ao estresse. Para Gil-Monte (1993) considera que, no primeiro momento, o indivíduo percebe a evidência de uma tensão, o stress. No segundo momento, aparecem sintomas de fadiga e esgotamento emocional, concomitantemente a um aumento do nível de ansiedade e, finalmente, o indivíduo desenvolve estratégias de defesa, que utiliza de maneira constante. Rosa e carlotto (2005) apud Rodriguez-Marín (1995) em um trabalho abordando a síndrome de burnout e satisfação no trabalho em profissionais de saúde aponta que uma das causas da incidência da síndrome nesses ainda esta relação interpessoal geralmente esteja acompanhada de sentimentos de tensão, ansiedade, medo e até mesmo de hostilidade encoberta. Para Carlotto e Câmara (2004) apud Maslach e Jackson (1986) a síndrome de burnout é multidimensional constituída por exaustão emocional (EE), desumanização ou despersonalização (DE) e reduzida realização pessoal no trabalho (rRP), definem essa denominação como uma concepção sócio psicológica, na concepção clínica a síndrome é caracterizada por um conjunto de sintomas (fadiga física e mental, falta de entusiasmo pelo trabalho e pela vida, sentimento de impotência e inutilidade, baixa auto-estima) podendo levar o profissional a depressão e até ao suicídio. A definição mais aceita atualmente sobre a síndrome de burnout fundamenta-se na perspectiva social-psicológica. Esta perspectiva 8 considera a síndrome como uma reação à tensão emocional crônica causada por se lidar excessivamente com pessoas. A despersonalização expressa no conceito aconteceria porque o sujeito, para se proteger dos sentimentos negativos que o acompanham isola-se evitando as relações interpessoais, desenvolvendo uma atitude fria e despersonalizada para com os clientes. Atribui aos outros as culpas das suas frustrações, desencantos e do seu comportamento laboral (SOUSA, 2008). A Síndrome de Burnout é uma condição relacionada à organização do trabalho, e está disposta no manual de doenças relacionadas ao trabalho (BRASIL, 2001) como parte do grupo V da CID 10 que se refere aos Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionado ao Trabalho, porém, está classificada sob o código Z 73.0 da CID 10 como problema que leva ao contato com serviços de saúde. Entender o burnout é uma experiência subjetiva do trabalhador que recebe influência direta do trabalho como condição para a determinação da síndrome, porém mesmo com o amparo legal, possível pelo reconhecimento da doença como relacionada ao trabalho, há uma grande dificuldade no diagnóstico dessa síndrome e por conseqüência, fazer valer os benefícios e direitos do trabalhador. Para Benevides-Pereira (2002), o trabalhador que atua em instituições hospitalares está exposto a diferentes estressores ocupacionais que afetam diretamente o seu bem estar. Cita como estressores as longas jornadas de trabalho, o número insuficiente de pessoal, a falta de reconhecimento profissional, a alta exposição do profissional a riscos químicos e físicos, assim como o contato constante com o sofrimento, a dor e muitas vezes a morte. O desempenho destes profissionais envolve uma série de atividades que necessitam forçadamente de um controle mental e emocional muito maior que em outras profissões. As organizações tem revelado grande preocupação à significação e a repercussão do trabalho sobre o trabalhador, e seus efeitos na instituição. O desequilíbrio na saúde profissional traz consequências na qualidade dos serviços prestados no nível de produção, afetando os lucros, na medida em que é imbutidos nos custos o absenteísmo, auxílio doenças, reposição de funcionários, transferência e novas contratações e treinamentos em decorrência de doenças de origem laboral com o estresse e o Burnout. Por isso as organizações têm investido em pesquisas e investigações na qualidade de vida do trabalhador (Maslach; leitter, 1999). 2.2 Fatores de risco da Síndrome de Burnout Os fatores de risco decorrentes das condições de trabalho estão associados com a ocorrência de acidentes do trabalho com trabalhadores de enfermagem sendo 9 importante valorizar o saber acumulado pelos trabalhadores de enfermagem acerca de seu trabalho, riscos presentes no cotidiano e as repercussões dos mesmos sobre sua saúde (LORENZ, 2009 apud BENATTI, 1997). Para Guimarães e Cardoso (2004) apud Maslach (2001) não existe acordo sobre a evolução da Síndrome de Burnout, porém acredita-se que há oito possíveis combinações de fatores para a evolução da síndrome, sendo a primeira fase a despersonalização, logo a reduzida realização pessoal e finalmente o esgotamento emocional. Uma segunda alternativa é que as dimensões se desenvolvem simultaneamente, mas de forma independente. Conforme Gil-Monte (1997), as características pessoais como idade, gênero, nível educacional, estado civil, filhos e personalidade podem interferir para o aparecimento da síndrome de burnout, esse último é considerado fator determinante. Guimarães e Cardoso (2004) definem burnout a partir da suposição de que existe uma tendência individual na sociedade moderna a incrementar a pressão e o estresse ocupacional, sobretudo nos serviços sociais. Benevides-Pereira (2002) apud Gil-Monte e Peiró (1997) afirma que as características pessoais não seriam em si mesmo desencadeantes do burnout, afirmação torna-se importante definir alguns termos que caracterizam personalidade, como hardiness ou personalidade resistente, lócus de controle, padrão de personalidade tipo A, variável do self – auto-estima, autoconfiança e auto eficácia, neuroticismo, sentido de coerência, motivação e idealismo. Nos últimos 20 anos a concepção de personalidade resistente emergiu como disposição de personalidade que aumenta o desempenho, a conduta, moral, força e saúde, atuando assim como um indicador negativo do estresse. As pesquisas mostram que os mecanismos da personalidade resistente podem preservar a saúde, aumentar o desempenho e promover mudanças na vida. Gil-Monte e Pieiró (1997) afirmam que pessoas com elevada auto-estima, autoconfiança e auto-eficácia, tem menores chances de serem acometidas pela síndrome, o mesmo ocorre com aqueles que têm um sentido de coerência que está relacionado com o posicionamento do indivíduo diante da vida. Paradoxalmente quanto maior a motivação e o idealismo no que se refere à profissão e possibilidade de realização, maior a possibilidade de vir a apresentar a síndrome. Benevides-Pereira (2002) apud Firth (2005) refere que outras características de personalidade facilitam o desenvolvimento do burnout, como que possuem alta expectativa, ou ainda que sejam insegurança, preocupação excessiva, que tenham dificuldade de delegar atividades aos demais ou de trabalhar em grupo. 10 Enfim, para a enumeração dos fatores de risco para o desenvolvimento do burnout, são levadas em consideração quatro dimensões: a organização, o indivíduo, o trabalho e a sociedade (World Health Organization, 1998). 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao fim deste estudo, podemos concluir que o indivíduo por ser único e ter características próprias, deve procurar seu próprio mecanismo de defesa das agressões sofridas no ambiente de trabalho, não perdendo de vista a importância de se manter sadio física e emocionalmente, para seu próprio benefício e para o daqueles que estão sob sua responsabilidade. Profissionais de saúde, em geral tão empenhados na arte de prevenir e curar doenças, nem sempre têm noção do seu próprio adoecer no trabalho. Os autores apresentados neste estudo revelam que o desconhecimento em relação a Síndrome de Burnout leva os profissionais a se culparem por não estarem desenvolvendo suas atividades diárias de modo satisfatório, acreditando estarem despreparados para o exercício da profissão. Com isso sofrem as conseqüências do estado prolongado do estresse, levando-o ao um ciclo vicioso que tente a incrementar a síndrome. Desta forma, esta investigação nos leva a afirmar que as organizações têm que ter interesse em investir e preservar a qualidade de vida de seus trabalhadores. Para mudanças positivas, as decisões nas instituições têm de ser baseadas em evidências científicas sobre a abordagem e o tratamento que mantenham a saúde mental para, só assim, alterarem as políticas de benefícios e os recursos humanos direcionados. Mais pesquisas sobre a síndrome de burnout devem se realizadas. Portanto, esta pesquisa nos mostra que, até mesmo os profissionais de saúde que desconhecem essa síndrome, acabam por não prescrever adequadamente o tratamento necessário ou têm dificuldade em diagnosticá-la, por não encontrar-se em alerta sobre as origens da doença. RISK FACTORS OF BURNOUT SYNDROME IN PROFESSIONAL NURSES DURING EXERCISE ABSTRACT Burnout syndrome is a chronic adaptive disorder that affects the health team in the 11 exercise of their profession. Defined as burnout, a psychological syndrome resulting from chronic emotional stress at work, in which occurs the development of negative images of yourself, unfavorable attitudes related to work and a loss of interest in relation to clients / patients. The objective of this study is to analyze the risk factors of burnout syndrome. The methodology was based solely on the research literature. The results of this literature review leads us to say that Burnout is an individual problem and is related to social and physical and mental fatigue and lack of professional customization work, having a higher prevalence of the professionals charged with caring for others, workers who have severe and constant interpersonal contact, as well as nursing. Keywords: Burnout Syndrome, nurses, work. REFERÊNCIA BARNI, S. et al. Oncostress: evaluation of burnout in Lombardy. Tumon.,v.82, p.8592, jan.-fev. 1996. CARLOTTO, M.S.; GOBBI, M.D. Síndrome de Burnout: um problema do indivíduo ou do seu contexto de trabalho. Canoas. Aletheia v.10, p. 103-114, jul.-dez. 1999. Disponível em: http://www.ulbra.br/psicologia/margob1.htm. Acesso em: 10 ago.2011. CATATON,J.et al.The psychological impacto f staff of caring for people with serions diseases. Journal of Psychosomatic Research.,v. 40, p.425-435, 1996. CODÓ, W; VASQUES-MENEZES. O que é Burnout?.In:BASTOS, M. F. Educação, carinho e trabalho. 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