chá verde na prevenção do câncer

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Programa de Pós Graduação em Nutrição Clínica
Jana Grenteski
CHÁ VERDE NA PREVENÇÃO DO CÂNCER
Curitiba
2010
Programa de Pós Graduação em Nutrição Clínica
Jana Grenteski
CHÁ VERDE NA PREVENÇÃO DO CÂNCER
Monografia
apresentada
como
exigência do Programa de Pós Graduação
em Nutrição Clínica do Ganep Nutrição
Humana, como pré-requisito para obtenção
do Título de Especialista em Nutrição
Clínica.
Orientador: Dr. Dan Linetzky Waitzberg
Curitiba
2010
2
"Que seu remédio seja seu alimento,
e que seu alimento seja seu remédio"...
Hipócrates
3
Agradecimentos
Ao Dr. Dan Linetzky Waitzberg pelo exemplo de vida;
A nutricionista Graziela Ravacci pelos conselhos e orientações no desenvolvimento
deste trabalho;
A minha família pelo amor, dedicação e amparo incondicionais;
A todos que direta ou indiretamente contribuíram para mais esta conquista em minha
carreira....
... Muito obrigada!
4
Resumo
O chá verde é uma das bebidas mais populares do mundo, perdendo somente
para a água, e seu consumo habitual tem sido associado com benefícios para a saúde
humana, devido a sua propriedade antioxidante que pode modular processos
bioquímicos e fisiológicos, levando a menor incidência de câncer e doenças
cardiovasculares. Os estudos em animais demonstraram uma ampla atividade de
prevenção de câncer em diferentes órgãos. Resultados de estudos em humanos, porém,
não são consistentes. As diferenças entre os estudos em modelos animais e humanos
podem ser relacionadas ao fato de que as doses de chá usados em estudos em animais
são geralmente mais elevados do que as consumidas por seres humanos, além disso, as
condições experimentais em estudos com animais são geralmente otimizadas para a
detecção de um efeito protetor. Embora, os resultados observados em estudos até o
momento sejam promissores, os resultados controversos e inconsistentes exigem
maiores estudos para a sua aplicação na prática clínica.
Palavras chaves: chá verde; antioxidante; prevenção de câncer.
5
Abstract
Green tea is one of the most popular beverages in the world, second only to
water, and their usual consumption has been associated with benefits for human health
because of its antioxidant properties that can modulate biochemical and physiological
processes, leading to lower incidence of cancer and cardiovascular disease. Animal
studies have shown a broad activity for the prevention of cancer in different organs.
Results of studies in humans, however, are not consistent. The differences between
animal and human studies may be related to the fact that the doses of tea used in animal
studies are generally higher than that consumed by humans and that the experimental
conditions in animal studies are usually optimized for detection of a protective effect.
Although the results observed in studies to date are promising, the controversial and
inconsistent results require further studies for its application in clinical practice.
Key words: green tea, antioxidant, prevention of cancer.
6
Lista de Ilustrações
Figura 1. Estrutura das catequinas encontradas no chá verde.
Tabela 1. Resultados de estudos encontrados por Yang.
Tabela 2. Resultados de estudos com humanos encontrados por Yang.
7
Sumário
Resumo ............................................................................................................................. 5
Abstract............................................................................................................................. 6
Lista de Ilustrações ........................................................................................................... 7
1. Introdução ..................................................................................................................... 9
2. Objetivos..................................................................................................................... 10
3. Método ........................................................................................................................ 11
4. Chá Verde ................................................................................................................... 12
4.1 Composição .......................................................................................................... 13
4.2 Qualidade .............................................................................................................. 14
4.3 A prevenção .......................................................................................................... 15
5. Câncer ......................................................................................................................... 16
6. A prevenção do câncer e o efeito antioxidante do chá verde ..................................... 19
6.1 Câncer de pulmão ................................................................................................. 20
6.2 Câncer de aparelho digestivo ................................................................................ 20
6.3 Câncer de mama .................................................................................................... 21
6.4 Câncer de próstata ................................................................................................. 21
6.5 Estudos sobre o chá verde e o câncer humano ...................................................... 22
7. Conclusão ................................................................................................................... 23
8. Referências ................................................................................................................. 25
8
1. Introdução
O chá verde é uma das bebidas mais populares do mundo, perdendo somente
para a água, e seu consumo habitual tem sido associado com benefícios para a saúde
humana. Devido a sua propriedade antioxidante, o chá verde pode modular processos
bioquímicos e fisiológicos, diminuindo a incidência de câncer e doenças
cardiovasculares.
A grande curiosidade em torno do chá verde, tanto por parte da população em
geral como por parte dos pesquisadores, resultou nos últimos anos na publicação de
inúmeros estudos relacionados ao chá verde.
Sabe-se que o principal polifenol componente do chá é a (-)-epigalocatequina-3galato (EGCG) sendo a ela atribuído o efeito anticarcinogênico. As evidencias, em
estudos epidemiológicos, indicam que o consumo de chá verde está inversamente
relacionado à incidência de câncer de mama, próstata e gastrointestinal.
Embora, os resultados observados em estudos até o momento sejam promissores,
os resultados controversos e inconsistentes exigem maiores estudos para a sua aplicação
na prática clínica.
9
2. Objetivos
Objetivo geral:
• Através da literatura publicada até o momento, verificar as propriedades da
atividade anticarcinogênica do chá verde.
Objetivos específicos:
• Verificar a eficácia do chá verde na prevenção do câncer;
• Mostrar os benefícios do consumo habitual do chá verde;
• Apresentar dados da literatura em relação ao uso do chá verde;
• Elucidar a dose necessária para que os benefícios do chá verde sejam alcançados
pela população.
10
3. Método
O presente estudo é uma revisão literária do que já foi publicado em pesquisas
realizadas com o chá verde e seus componentes na prevenção do câncer.
Para a obtenção dos dados foram pesquisados diversos bancos eletrônicos para
identificar os estudos publicados relacionados ao tema. As bases de dados foram:
PubMed, Cochrane Library Issue e Scielo. Os termos de pesquisa utilizados foram: “chá
verde”, “catequinas”, “Camellia sinensis”, “ tea polyphenols”, “green tea polyphenols
câncer”, “epigalocatequina (EGCG)”, “chá verde e prevenção câncer”, “green tea”,
“green tea and prevention cancer”. Além de artigos científicos, algumas bibliografias se
fizeram necessárias para um melhor entendimento do tema abordado. As buscas foram
realizadas no período entre julho de 2009 e fevereiro de 2010. Nenhuma restrição de
linguagem foi aplicada, mas textos em português são escassos, portando a maioria dos
artigos pesquisados foram em inglês.
Foram encontrados:
• 3542 estudos com as palavras chá verde ou green tea;
• 537 estudos com as palavras chaves chá verde e prevenção câncer ou green tea
and prevetion cancer;
• 75 estudos com as palavras chaves Camellia sinensis;
• 225 estudos com a palavra chave EGCG e prevenção câncer ou EGCG and
prevention cancer;
• nenhum estudo relacionado ao câncer com a palavra catequinas;
• 1472 estudos com as palavras tea polyphenols;
• 420 estudos com as palavras green tea polyphenols cancer;
No momento da pesquisa, vários estudos foram encontrados em mais de uma
pesquisa, levando a duplicidade, devido à combinação de palavras chaves.
Para o desenvolvimento do presente trabalho foram escolhidos artigos de revisão
publicados ano de 1993 até o ano de 2010.
11
4. Chá Verde
O consumo de chá verde faz parte da tradição oriental há mais de cinco mil anos
e está associado com a prevenção e tratamento de várias doenças, entre elas o câncer.
As folhas da planta foram usadas pela primeira vez para fins medicinais e depois como
bebida popular em todo o mundo. Nos países asiáticos, onde beber chá é um antigo
fenômeno cultural, estudos epidemiológicos mostram menor incidência de certos
cânceres. Nos últimos anos, o chá verde tem recebido grande atenção dos pesquisadores
e da população em geral, devido as seus possíveis efeitos benéficos a saúde (JIANPING
et al, 2008; CLEMENT, 2009).
O chá é uma das bebidas mais consumidas no mundo, perdendo somente para a
água. O chá verde é feito a partir da infusão de folhas de Camellia sinensis. Além do
chá verde, outros três tipos de chá são produzidos das folhas de Camellia sinensis: o chá
preto, o chá verde e o chá oolong, a diferença entre eles esta na forma de processamento
das folhas após a colheita. O chá verde tem as folhas aquecidas e secas, resultando na
inativação de alguns componentes oxidativos e outras enzimas. Este processo permite a
preservação dos polifenóis. O chá preto tem as folhas maceradas e passam por um
processo de fermentação, gerando substâncias como as teoflavinas que dão a cor
vermelha ou alaranjada e o sabor característico do chá preto. O chá branco é elaborado a
partir do broto da Camellia sinensis e não passa por esse processo de aquecimento,
assegurando uma concentração maior dos princípios ativos. O chá Oolong também
deriva da mesma planta, mas seus benefícios são menos evidentes. É feito apenas da
parte tenra das folhas e passa por um processo rápido de fermentação. Este é o que
mantém maiores concentrações das benéficas catequinas. Em conjunto, os quatro tipos
de chá constituem a bebida mais consumida no mundo (WAITZBERG et al., 2009;
LIMA et al. 2009; YANG et al., 2007).
Estudos sugerem que o chá verde tem efeito protetor contra diversos tipos de
câncer e doenças cardiovasculares (YANG & WANG, 1993; HIGDON & FREI, 2003),
possui propriedade antialérgica (SHIOKAZI et al., 1997), antirosclerótica (MIURA et
AL., 1994), e antibacteriana (HAMILTON-MILLER, 1995), além de ser rico em
12
minerais e vitamina K (MANFREDINI et al. 2004). Por essas razões o chá é
considerado um alimento funcional que, se consumido no cotidiano, pode trazer
inúmeros benefícios para a saúde humana.
4.1 Composição
Uma das razões que torna o chá verde interessante para estudo é o fato de se
conhecer as substâncias presentes em sua constituição.
Na fabricação do chá verde, as folhas de chá não passam pelo processo de fermentação,
somente pela secagem, evitando assim que seus polifenóis sejam oxidados. A
composição do chá varia com o clima, a estação, as praticas de cultura, a variedade e a
idade das folhas.
A atividade anticarcinogênica do chá é atribuída a seus polifenóis. Essas
substâncias pertencem a um grupo de flavonóides e recebem essa denominação, pois
contem em sua estrutura química anéis fenólicos, conforme fig. 1.
Figura 1. Estrutura das catequinas encontradas no chá verde.
13
Na Camellia sinensis, esses polifenóis são denominados catequinas e são
classificados
nos
subgrupos:
catequina
simples
(C),
epicatequina
(EC),
galatoepicatequina (ECG), epigalocatequina (EGC), galatoepigalocatequina (EGCG) e
galocatequinagalato (GCG). As catequinas são as principais substâncias presentes no
chá, elas neutralizam os radicais livres, que são grandes responsáveis por provocar
danos ao DNA que podem começar o desenvolvimento de câncer.
No chá verde, estão presentes além das catequinas, outros compostos orgânicos,
tais como cafeína e aminoácidos. Na fabricação do chá verde, as enzimas são inativadas
imediatamente após a colheita das folhas. Portanto, a composição de polifenóis no chá
verde tende a ser semelhante a das folhas frescas.
4.2 Qualidade
A qualidade do chá verde é fortemente influenciada pelos componentes
orgânicos e inorgânicos das folhas jovens e dos brotos, que funcionam como
precursores e são alterados durante a sua transformação (aquecimento) em substâncias
que determinam o sabor (LIMA et al., 2009; WAITZBERG et al., 2009).
A cor, o sabor e o aroma do chá verde estão direta ou indiretamente associados
às catequinas, portanto, são os principais compostos que definem a qualidade do chá
verde. O sabor adstringente e amargo do chá verde é devido principalmente a esses
polifenóis. Aminoácidos livres são responsáveis pelo frescor e pela doçura da infusão
do chá verde, além de contribuírem para formação de compostos voláteis responsáveis
pelo aroma por reagirem com catequinas e açúcares solúveis durante o aquecimento.
Dentre os alcalóides encontrados, destacam-se a cafeína por ser abundante e contribuir
para o efeito estimulante e sabor, enquanto as clorofilas e a quercetina contribuem para
coloração verde da infusão (LIMA et al., 2009).
14
4.3 Prevenção
Estudos realizados em animais, utilizando o chá verde ou suas catequinas
purificadas, mostraram inibição da formação e crescimento de tumores em diferentes
modelos animais, como pulmão, trato digestivo (boca, cólon intestino) e próstata
(YANG et al., 2007).
Esta inibição está associada à diminuição da proliferação celular, aumento da
morte celular (apoptose), e inibição da formação de novos vasos sanguíneos utilizados
pelo tumor em crescimento para obtenção de nutrientes (angiogênese).
Além de antioxidante, a catequina EGCG do chá verde é uma substância que, em
modelos animais, pode influenciar a atividade de vários receptores e moléculas de
sinalização, que também podem estar ligadas à geração de tumores.
Os famosos flavonóides também estão presentes no chá e possuem efeito
antioxidante, mas parece que as catequinas têm um papel mais importante na prevenção
tumoral justamente por este efeito adicional influenciar a atividade de algumas
proteínas.
Em humanos, alguns estudos de prevenção já vêm sendo feitos, e com resultados
promissores. Apesar destes estudos em laboratório, não há um estudo que deixe claro
que pessoas que tomam chá verde têm menos câncer. Estes estudos chamados
epidemiológicos não são muito controlados e mesmo pessoas que tomam chá podem ter
rotinas totalmente diferentes umas das outras, como variação na quantidade de chá
ingerido, algumas podendo ser fumantes outras não, consumo de álcool, etnia, entre
outros fatores difíceis de serem analisados. Mas os estudos que levam tudo isto em
conta mostram sim uma relação entre consumo de chá e menor aparecimento de
tumores.
15
5. Câncer
O câncer pode ser considerado uma doença das células corpóreas. Seu
desenvolvimento envolve lesão ao DNA celular, com o tempo, esta lesão se acumula.
Quando essas células lesadas escapam dos mecanismos, de controle de crescimento e
morte, é estabelecida uma neoplasia (MAHAN et al., 2002).
O termo comum câncer refere-se de forma ampla a todos os tipos de neoplasias
malignas, que podem se originar em tecidos epiteliais (carcinomas), tecidos conectivos
(sarcomas), células gliais do sistema nervoso central (gliomas) e tecidos linfóides e
hematopoiéticos (linfomas, meilomas e leucemias) (LONGO & NAVARRO, 2002).
O crescimento de uma neoplasia maligna geralmente invade o tecido
circundante, podendo, eventualmente, disseminar-se para tecidos distantes, um processo
conhecido como metástase. Quando ocorre em células em replicação, os padrões do
câncer são bem diferentes em crianças e adultos. No início da vida, cérebro, sistema
nervoso, ossos, músculos e tecido conjuntivo ainda estão em crescimento. Portanto, é
mais comum o envolvimento destes tecidos em lesões cancerosas em crianças que em
adultos. Por outro lado, os tumores comuns, em adultos, envolvem os revestimentos
epiteliais e são raros em crianças. Leucemias e linfomas, tumores do sistema
imunológico, ocorrem tanto em crianças como em adultos, embora a história natural da
doença seja diferente, dependendo de sua ocorrência no início ou no fim da vida (Food,
Nutrition, and Prevention of Cancer, 1997).
O estudo da dieta e nutrição tem relação tanto com as causas como com as
conseqüências do câncer. Presume-se que a carcinogênese seja um processo que
procede em continuidade, mas geralmente é descrito em três fases progressivas: início,
promoção e progressão do tumor. O início envolve uma transformação da célula
produzida pela interação de substâncias químicas, radiação ou vírus com o DNA celular.
A transformação ocorre rapidamente, mas a célula resultante permanece dormente por
um período variável até ser ativada por um agente promotor. Durante a promoção, as
células iniciadoras multiplicam-se formando um tumor isolado. A partir de então, ocorre
16
a progressão, levando eventualmente a uma neoplasia totalmente maligna com
capacidade de invadir tecidos e criar metástases.
O diagnóstico do câncer inclui avaliação tecidual (biópsia), marcadores séricos
(AFP, CEA, PSA, B-HCG, ETC.) e estadiamento (estabelecer estádios radiográfico,
cirúrgico ou T-N-M para tamanho do tumor, nódulos, metástases). Os objetivos do
tratamento podem incluir cura, terapia paliativa ou terapia adjuvante. A resposta é
documentada como completa, parcial, sem alteração, ou com progressão.
Algumas vezes, o doente com câncer depara-se com uma situação conhecida
como anorexia e o emagrecimento, dois fatores que o assustam e deprimem. O
emagrecimento prolongado pode levá-lo ao estado de caquexia nutricional, que se
caracteriza por anorexia, saciedade precoce, astenia acentuada e perda de peso, e
desnutrição. Tudo isso não é o resultado de uma simples inanição por diminuição de
aporte, mas vincula-se com os complexos processos metabólicos que se põem em
marcha. A malignidade é responsável pela iniciação da síndrome de caquexia e sua
reversão é obtida apenas quando se controla a doença (LONGO & NAVARRO, 2002).
Embora os mecanismos exatos sejam desconhecidos, a nutrição pode modificar
o processo carcinogênico em qualquer estágio, incluindo metabolismo carcinogênico,
celular e defesas do hospedeiro, diferenciação celular e crescimento do tumor. A própria
nutrição também é afetada de modo adverso, tanto pelo tumor como pelo tratamento
médico administrado, representando problemas especiais para o cuidado nutricional.
Sabe-se que o câncer se relaciona aos fatores ambientais, incluindo a dieta, então
muitos cânceres humanos são potencialmente passíveis de prevenção. A forte influência
dos fatores ambientais é facilmente observada nos estudos de migração entre culturas.
Esses estudos revelam que o padrão de ocorrência de muitos tipos de câncer altera-se
em conformidade com o padrão do país em que ocorre. Por exemplo, no Japão, a
mortalidade decorrente de câncer de mama e câncer de cólon é baixa e a mortalidade
proveniente e câncer de estomago é alta, enquanto o inverso é verdadeiro nos EUA,
enquadrando-se ao padrão similar de um novo país. A mudança coincide com as
diferenças na exposição ambiental, estilo de vida e dieta.
Inúmeros estudos avaliam o papel da dieta na etiologia do câncer procurando
identificar as relações entre a dieta de grupos populacionais e a incidência de cânceres
específicos. A total complexidade da dieta apresenta um difícil desafio ao se considerar
17
um estudo de suas relações com o câncer. Existem milhares de substâncias químicas,
algumas bem conhecidas, como o chá verde que será mais detalhado no decorrer do
trabalho.
A dieta contém tanto inibidores como intensificadores da carcinogênese. Muitos
tumores têm um período de latência longo, caso em que a dieta pode ser importante, no
momento de início ou promoção do câncer, e não no momento do diagnóstico.
18
6. A prevenção do câncer e o efeito antioxidante do chá verde
No processo natural de oxidação, o corpo humano produz radicais livres. Essas
moléculas podem causar danos as proteínas, lipídios e DNA, mas geralmente são
neutralizados por substâncias chamadas de antioxidantes e sistemas de enzimas
antioxidantes antes que eles possam causar danos às células. Várias doenças humanas
têm uma forte associação com o dano oxidativo nos tecidos, como câncer. O chá verde é
um importante antioxidante presente na dieta, e vem demonstrando resultados
animadores no papel de potencial protetor.
Di Chen tem sido sugerido que a atividade do proteassoma é essencial para a
proliferação de células tumorais, portanto a via de degradação tem sido considerada um
alvo importante para a prevenção do câncer. A via da ubiquitina-proteassoma controla a
formação das proteínas envolvidas em diversos processos celulares, como ciclo celular e
apoptose. Em condições normais, a via lisossomal degrada proteínas extracelulares
importadas para a célula por endocitose ou pinocitose, ao passo que o proteassoma
degrada as proteínas intracelulares. As células eucarióticas contêm pelo menos três
atividades catalíticas conhecidas: quimotripsina, tripsina e peptídeo peptidil glutamilhidrólise (PGPH); estudos têm relatado que a inibição da atividade da quimotropsina
esta associado com indução de apoptose em células cancerígenas. A epigalocatequina
(EGCG) tem inibido a atividade da quimotripsina na atividade do proteassoma in vitro e
in vivo, na fase G1 do crescimento celular do tumor (CHEN & DOU, 2008).
Numerosos estudos in vitro utilizando células cancerígenas e animais têm
demonstrado que extratos de chá verde inibem o crescimento celular e induzem a
apoptose pela modulação de vias de transdução de sinais intracelulares. No entanto,
quando são aplicados em estudos clínicos esses resultados nem sempre se comprovam
(CLEMENT, 2009).
A tabela abaixo resume os resultados de 120 estudos publicados desde o ano de
1991, em uma revisão de estudos na formação de tumores em diferentes órgãos (YANG
et al., 2007). Esses estudos demonstram que, em modelos animais, o chá verde e seus
componentes têm inibido a ação cancerígena em diversos órgãos como: pulmão, boca,
19
esôfago, estômago, intestino delgado, cólon, pele, próstata, mama, fígado, pâncreas e
bexiga.
Tabela 1. Resultados de estudos encontrados por Yang (YANG et al., 2007).
6.1 Câncer de pulmão
Nas revisões encontradas, Yang relatou que em ratos a administração de chá
verde durante as fases de iniciação ou de promoção mostrou uma significativa
diminuição de câncer, nos vários estudos analisados por este autor sugerem que o chá
pode ser agente de prevenção para todas as fases de desenvolvimento da carcinogênese
de pulmão (YANG et al., 2007).
6.2 Câncer de aparelho digestivo
Os efeitos inibitórios do chá contra o câncer no aparelho digestivo incluem
estudos relacionados à cavidade oral, ao esôfago, ao estômago, ao intestino delgado, ao
cólon e ao reto.
Sturgeon analisou o câncer de boca e faringe em um estudo com mulheres
japonesas e relata que houve uma tendência para diminuição do risco para as que
20
consomem mais de cinco xícaras de chá verde por dia, quando comparadas com aquelas
que bebem menos de um copo diário (STURGEON et al., 2008).
Os efeitos da preparação do chá na carcinogênese do cólon de ratos não tem sido
consistentes. Segundo Yang, a falta de um efeito consistente é surpreendente porque o
intestino é considerado um local promissor para a quimioprofilaxia com polifenóis, que
tem baixa biodisponibilidade sistêmica (YANG et al., 2007).
Em um estudo conduzido na China, foram examinados 133 casos de câncer
gástrico, e foi encontrada uma relação inversa entre o consumo de chá verde e o risco
tanto de câncer gástrico quanto de gastrite crônica, que pode levar ao câncer. Relações
dose-resposta foram observadas com uma diminuição do risco para ambas as doenças
com o número de anos e freqüência de consumo de chá. Assim, o chá verde pode ser
protetor contra o câncer de estomago e suas lesões pré-malignas (SETIAWAN et a.,
2001).
6.3 Câncer de mama
Na revisão de Yang, um total de 12 estudos foram analisados sobre o efeito do
chá sobre o câncer de mama, e 8 dos estudos mostraram efeitos inibitórios, a razão para
a falta da inibição nos 4 estudos restantes não esta clara, pode ser devido a fase em que
a doença se encontra. Sabe-se que pacientes na fase I e II com elevado consumo de chá
verde – mais de três xícaras por dia – mostram redução da recorrência do câncer de
mama (LIU et al., 2008; YANG et al., 2007).
6.4 Câncer de próstata
Os estudos apresentam uma tendência para a diminuição do risco de câncer de
próstata com o consumo de chá verde, em homens bebendo cinco ou mais xícaras de
chá comparados com os que bebem menos de uma xícara por dia. (LIU et al., 2008;
STURGEON et al., 2008). Não esta claro se os polifenóis do chá inibem a
21
carcinogênese da próstata por uma ação direta de polifenóis do chá que são
biodisponíveis ou por uma ação indireta, afetando o metabolismo ou a circulação de
soro (YANG et al., 2007).
6.5 Estudos sobre o chá verde e o câncer humano
A revisão da literatura indica que uma conclusão clara sobre a atividade de
prevenção de câncer pelo consumo de chá nos seres humanos não pode ser alcançado.
Isso é verdade mesmo para tipos específicos de câncer. Estudos realizados na Ásia,
onde o chá verde é consumido com freqüência, tendem a mostrar um efeito benéfico na
prevenção do câncer.
Tabela 2. Resultados de estudos com humanos encontrados por Yang (YANG et al., 2007).
22
7. Conclusão
Os estudos em animais demonstraram uma ampla atividade de prevenção de
câncer em diferentes órgãos. Resultados de estudos em humanos, porém, não são
consistentes. As diferenças entre animais e estudos em seres humanos podem ser
relacionadas ao fato de que as doses de chá usados em estudos em animais são
geralmente mais elevados do que aquele consumidos por seres humanos e que as
condições experimentais em estudos com animais são geralmente otimizados para a
detecção de um efeito protetor. Por outro lado, os resultados dos estudos
epidemiológicos são afetados pela falta de precisão na medição da quantidade do
consumo de chá, os diferentes fatores etiológicos do câncer em diferentes populações,
as diferenças individuais (como o polimorfismo genético), o estilo de vida associado ao
consumo de chá em diferentes culturas e outros fatores que pode interferir o estudo.
Para se obter resultados mais claros e precisos os estudos devem controlar a
quantidade do consumo de chá, conseguindo assim determinar a concentração de EGCG
consumida, os fatores etiológicos sendo mais conhecidos, consumo de bebida alcoólica
e tabaco, e também o polimorfismo genético. Grandes estudos sobre este tema se fazem
necessários para que se possam elucidar todas as dúvidas que cercam o consumo de chá
verde, iniciando pelo simples fato de quanto deve ser o consumo diário.
Mesmo que os resultados dos estudos sobre o chá verde e a prevenção do câncer
não são conclusivos até o presente momento, o chá pode ser usado para a prevenção de
câncer em alguns órgãos selecionados, visto que a atividade de funcionamento foi
demonstrada em estudos de intervenção humana, como no câncer de mama e de
próstata.
Apesar destes estudos em laboratório, não há um estudo que deixe claro que
pessoas que já vêm tomando chá verde têm menos câncer. Estes estudos chamados
epidemiológicos não são muito controlados e mesmo pessoas que tomam chá podem ter
rotinas totalmente diferentes umas das outras, como variação na quantidade de chá
ingerido, algumas podendo ser fumantes outras não, consumo de álcool, etnia, entre
outros fatores difíceis de serem analisados. Mas os estudos que levam tudo isto em
23
conta mostram sim uma relação entre consumo de chá e menor aparecimento de
tumores.
24
8. Referências
CHEN, D.; DOU, Q. P. Tea polyphenols ant their roles in cancer prevention ana
chemotherapy. Int. J. Mol. Sci 2008; 9: 1196-1206;
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