ANÁLISE DO PROCESSO DE INTERAÇÃO SOCIAL DIANTE DE FATORES AMBIENTAIS AVERSIVOS (RUÍDOS) EM GRUPOS DE SUJEITOS EXPERIMENTAIS Pedro Vasconcelos Corrêa¹, Fernanda Costa de Oliveira¹; Fátima Queiroga²; Valéria de Oliveira²; Pedro de Tárique Crispin³ ¹Bolsistas PIBIC/UNIR/CNPq; ²Professoras do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Rondônia. ²Apoio estatístico. 1. INTRODUÇÃO A interação social é o processo no qual os organismos interagem entre si e constroem relações sociais que indicam estados emocionais do organismo (SKINNER, 1991; TODOROV & MOREIRA, 2004; DURAN, 1993; TODOROV, 2007; ARGYLE, 1976). Segundo Todorov (2007), o processo de interação abrange o social onde se incorpora aprendizagens que permitem o relacionamento com o ambiente. Determinados eventos ambientais por não constarem no repertório comportamental do organismo tornamse aversivos (SKINNER, 1989). Os eventos aversivos promovem desequilíbrio no organismo quando este necessita responder a alguma demanda que ultrapassa sua capacidade adaptativa, podendo gerar o estress (LIPP, 2001). Tais como a poluição sonora que produzida no decorrer das interações sociais, proporciona grande impacto ambiental atuando diretamente na qualidade de vida (FREITAS, 2006; CARMO, 1999; PIMENTELSOUZA, 2000). Nesse contexto, a poluição sonora é constituída pelos ruídos capazes de produzir incômodo ao bem-estar ou malefícios à saúde, e se torna um problema mundial, que afeta a saúde (FREITAS, 2006; CARMO, 1999; PIMENTEL-SOUZA, 1992a; LACERDA et al, 2005). Atualmente verificam-se diversas transformações na cidade de Porto Velho, capital do estado de Rondônia, decorrentes do atual momento econômico brasileiro, no qual diversas obras governamentais de infra-estrutura são implantadas na Amazônia Ocidental brasileira, promovendo mudanças na dinâmica de interação dos seus habitantes com o ambiente, tornando-os aversivos por não constarem no repertório comportamental dos sujeitos. Desse modo essa pesquisa teve como principal objetivo analisar o processo de interação social diante de fatores ambientais aversivos (ruído) em grupos de sujeitos experimentais. 2. METODOLOGIA 2.1 SUJEITOS EXPERIMENTAIS Utilizamos 16 (n=16) Rattus novergicus, da linhagem Wistar, distribuídos em quatro grupos designados como grupos I, grupo II, grupo III e grupo IV. O grupo I composto por quatro ratos machos e o grupo II composto por quatro ratas fêmeas, denominados de grupo controle. O grupo III composto por quatro ratos machos e o grupo IV composto por quatro ratas fêmeas, denominados de grupo experimental. Para maior fidedignidade na comparação dos resultados os sujeitos iniciaram as sessões experimentais com 90 dias (3 meses), peso entre 200 e 300g, procurando-se garantir assim, uma distribuição relativamente eqüitativa entre os grupos 2.2 PROCEDIMENTOS E MATERIAL As sessões experimentais foram divididas em dois momentos. No primeiro, os sujeitos experimentais separados em quatro grupos (I, II, III, e IV), colocados em 4 gaiolas e observados por 30 minutos, cada gaiola medindo (45 cm x 21 cm; e altura 34 cm). Após esta etapa os sujeitos do grupo experimental percorreram individualmente um labirinto, expostos a ruídos caracterizando poluição sonora (80 decibéis) selecionados nas principais Avenidas de Porto Velho (RO) em horário de tráfego intenso. Para a criação desse ambiente, utilizamos um aparelho de som marca Philco MSP-200. Os sujeitos dos grupos I e II grupo de controle também passaram individualmente pelo mesmo labirinto, no entanto não foram expostos à poluição sonora (ruídos aversivos). No segundo momento, ao final do percurso foram observados comportamentos diferenciados, sobre a influência da poluição sonora (ruídos) como agente stressor. 2.3 COLETA DE DADOS E ANÁLISE Inicialmente utilizamos a técnica de Registro Contínuo Cursivos por possibilitar um registro comportamental na seqüencia temporal que ocorrem (HALL, 1975). Posteriormente, utilizamos a técnica de Registro de Eventos a qual se caracteriza por ser uma contagem da freqüência de eventos na medida em que eles ocorrem (FAGUNDES, 2004). Os dados quantitativos foram analisados com uso do teste de Chi-Square, utilizado no caso de comparação qualitativa de freqüências observadas. 2.1 PESQUISA EXPERIMENTAL COM PRINCÍPIOS DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO A análise comportamental e a análise experimental do comportamento abordam o comportamento de operante sobre o ambiente, de forma que as conseqüências de determinada ação possui a característica de aumentar ou extinguir determinada resposta (SKINNER, 2006). Desta forma, para Skinner (1989) as conseqüências do comportamento podem retroagir sobre o organismo de forma a possibilitar ou não que determinados comportamentos seja mantido ou extinto pelo sujeito. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os grupos de sujeitos experimentais mostraram significativas alterações em determinadas classes comportamentais que indicam estados de estress. O resultado observados em relação à categoria comportamental de alerta (Chi-Square = 15, 64 > p = 0,0001 df = 1) indica que no grupo de sujeitos machos ocorreu uma diferença significativa entre freqüência observada e esperada no grupo experimental e no grupo controle. Sendo que no grupo de sujeitos experimentais a freqüência de comportamento de alerta foi de 27,00% e no grupo controle foi de 24,50% dados expostos no gráfico 1. Gráfico 1. Percentil da freqüência do comportamento de alerta no grupo de sujeitos experimentais machos. Gráfico 2. Percentil da freqüência do comportamento de alerta no grupo de sujeitos experimentais fêmeas. No grupo de sujeitos experimentais fêmeas, a freqüência de comportamento de alerta indicou uma diferença significativa entre freqüência esperada e freqüência observada nos grupos de sujeitos experimentais e grupo controle (Chi-Square = 15, 64 > p = 0,0001 df = 1). No gráfico 2 pode-se observar o percentil de 27,00% no grupo experimental e 24, 81% no grupo controle, indicando uma diferença significativa na freqüência dos grupos. Para Pimentel-Souza (1997), diante de um barulho excessivo, o corpo ativa o sistema nervoso, o cérebro passa a atuar mais aceleradamente e os músculos entram em atividades mais intensas. Assim, o cérebro acaba se tornando sensível aos estímulos rompendo o mecanismo de controle hormonal, o que influencia o estado de saúde do organismo em diversas funções, verificadas por exemplos no aumento da freqüência de comportamentos exploratórios, ou mesmo que indiquem estados de alerta do organismo. Segundo Cancelliero, Costa & Silva (2005) estudos com ratos submetidos a uma situação estressora, indicam que ratos estressados aumentam a freqüência com que ocorrem comportamentos de alerta. O resultado obtido no decorrer dos experimentos em relação à categoria comportamental definida como agressão no grupo de sujeitos experimentais machos indica que ouve uma diferença significativa nas freqüências observadas e esperadas entre o grupo experimental e o grupo controle (Chi-Square = 155, 1909 > p = 0, 000000 com df = 1). A percentagem da comparação da freqüência dos grupos está exporta no gráfico 3. Gráfico 3. Percentil do comportamento de agressão no grupo de sujeitos experimentais macho. A freqüência de ocorrência deste comportamento observada no grupo experimental foi de 80% e a freqüência observada no grupo controle foi de 20%. Diferentemente do grupo experimental de sujeitos machos, o grupo experimental de fêmeas não apresentou comportamentos de agressão no qual a freqüência desse comportamento foi zero. Segundo Beristaín (1998), o stress e a agressividade aparecem como principal efeito produzido pela exposição ao ruído. Quando a exposição aos ruídos é prolongada essa pode promover conseqüências comportamentais para o indivíduo como a agressividade (Lipp, 2003). Segundo Cancelliero, Costa & Silva (2005), estudos endocrinológicos sugerem que os organismos apresentam adaptações seqüenciais quando expostos à condições indutoras de estress, desenvolvendo reações e sintomas de instabilidade. Essa instabilidade por sua vez pode ser notada no grupo de sujeitos experimentais machos os quais manifestaram maior quantidade de classes comportamentais em seqüência, as quais ocorriam primeiramente com a aproximação a outros sujeitos no grupo e terminava gradativamente em comportamentos de agressão. 4. CONSIDERAÇÕES As interações sociais que ocorrem em um ambiente aversivo promovem estress no organismo o qual ocorre quando este necessita responder a demandas que ultrapassem a sua capacidade adaptativa (LIPP, 2001). Desse modo, o processo de interação abrange o social onde os organismos incorporam diversas aprendizagens que permitem o relacionamento equilibrado com o ambiente e as diversas variáveis que o compõem (TODOROVE, 2007; ARGYLE, 1979; DURAN, 1993; ARANHA, 1993; LYRA & MOURA, 2000). Assim, os reflexos da influência dos ruídos na saúde ocorrem considerando a relação homem-ambiente, principalmente em um contexto social no qual as transformações possuem conseqüências que ocorrem rápido demais para que as pessoas possam atribuir significados. REFERÊNCIAS ARANHA, M. S. F. A Interação Social e o desenvolvimento Humano. Temas em Psicologia, nº 3, p.19-26, 1993. ARGYLE, M. A interação social: relações interpessoais e comportamento social. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1976. BERISTÁIN, S. El ruido es un serio contaminante. 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