importações de bens de capital e crescimento

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Tavares, Maria da Conceição. “Importações de Bens de Capital e Crescimento.” Rio de Janeiro: O
Globo, 17 de julho de1997.
Importações de Bens de Capital e Crescimento
Autor: Maria da Conceição Tavares
Publicado pelo jornal O Globo em 17/07/97
As importações de bens de capital tem crescido a um ritmo mais rápido que as importações
totais, embora, como estas, sua taxa de crescimento venha apresentando uma trajetória de
desaceleração progressiva depois do grande salto experimentado no biênio 1994/95. Em 1996
a taxa cai para 13,1% e deverá situar-se em torno a 9% em 1997, acumulando, ao longo
destes 4 anos, um expressivo crescimento de 160% .
Neste mesmo período, a taxa de investimento da economia praticamente não se modificou,
nem se alterou muito a participação do item máquinas e equipamentos na formação bruta de
capital fixo. Em consequência, o principal efeito deste aumento das importações - que não é
independente da política de sobrevalorização cambial, redução tarifária inconsequente e
encarecimento do financiamento interno, praticada pelo atual Governo - foi elevar
extraordinariamente o coeficiente importado da oferta global de máquinas e equipamentos,
que passou de cerca de 25% em 1993 a mais de 50% em 1996. Isto provocou uma crise sem
precedentes na indústria local de bens de capital, que é um setor crítico para o crescimento de
qualquer economia: depois de um 'boom' inicial no primeiro ano de vigência do Plano Real, a
produção cai estrepitosamente nos 12 meses seguintes (-22,1%) permanecendo praticamente
estagnada desde então.
O alardeado aumento de competitividade que o maior volume de importações de bens de
capital estaria proporcionando não é tão evidente. A produtividade da mão-de-obra na
indústria de transformação cresceu em média 5,6% anualmente no triênio 1994/96, mas a
comparação dos dados de produção, ocupação e penetração das importações sugere que este
crescimento reflete, em boa parte, reduções de custos derivadas da substituição de
componentes e insumos nacionais por importados e do corte de emprego decorrente da
reorganização administrativa das empresas. Por sinal, o produto por trabalhador na indústria
já vinha crescendo a taxas relativamente elevadas ainda durante o ciclo recessivo 1990/92,
quando as importações de bens de capital permaneceram praticamente constantes e o
emprego industrial desabou.
A contribuição das importações de bens de capital para a expansão das exportações é
igualmente difusa. Não só as exportações estão praticamente estagnadas - no segmento de
bens manufaturados inclusive diminuíram em 10% ,em termos de 'quantum', entre 1993 e
1996 - como a relação entre as exportações e a produção têm se mantido estável em todas as
categorias de bens, exceto na de bens de capital, onde apresenta um ligeiro incremento em
função, principalmente, da própria queda do nível produção do setor.
Em síntese, não existem evidências consistentes de que o aumento das importações de bens
de capital tenha contribuído efetivamente à expansão de novas capacidades produtivas e à
criação de condições potenciais para o reequilíbrio da balança comercial a médio prazo. Em
contrapartida, os estragos produzidos na indústria local de bens de capital e de componentes
eletroeletrônicos e de comunicações - indústrias essenciais para acompanhar o
desenvolvimento tecnológico contemporâneo - reduzidas a uma situação de meras
'montadoras', comprometem gravemente as possibilidades de desenvolvimento futuro do
país.
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