139 ANÁLISE GEOMORFOLÓGICA E DE USO DO SOLO DAS ZONAS DE NASCENTES, MUNICÍPIO DE ALFENAS - MG Gabriel Mikael Rodrigues Alves [email protected] Discente do Curso de Geografia – Universidade Feral de Alfenas – UNIFAL-MG Marta Felícia Marujo Ferreira - [email protected] Profa. Associada do Curso de Geografia - Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL-MG Introdução Nas últimas décadas, o sul de Minas Gerais, tem se deparado com o aumento da utilização dos recursos hídricos, ligado às atividades agropecuárias e à expansão das cidades. O uso acelerado do solo urbano e rural, trouxe grandes transformações em áreas de nascentes modificando a quantidade e qualidade de água drenada pelas bacias hidrográficas. Estas alterações se iniciam a partir da eliminação e/ou fragmentação das formações vegetais ribeirinhas, que acompanham os cursos d’água. A partir da década de 1950, a construção do reservatório de Furnas e a expansão da agricultura e da pecuária no município de Alfenas, contribuíram para a destruição de formações ribeirinhas, além da descaracterização da morfologia original. O objeto de análise deste trabalho é o município de Alfenas (Figura 1), que apresenta grande área territorial e teve maior exploração e crescimento no final do século XVIII. Esta expansão abrange áreas que compreende bacias hidrográficas e zonas de nascentes e de matas ciliares gerando degradação e impactos ambientais. Atualmente, o sítio urbano de Alfenas, em pleno desenvolvimento horizontal, avança sobre a rede hidrográfica, aumentando a vulnerabilidade e o risco de degradação dos principais mananciais. Desse modo, o presente estudo, em fase preliminar de desenvolvimento, tem como propósito a análise das zonas de nascentes partindo do pressuposto que, a degradação e má conservação destas zonas, no município de Alfenas, pode estar relacionada às mudanças do uso e ocupação do solo, que gera intensa dinâmica Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo geomorfológica conduzindo a alterações morfológicas e processos de erosão no entorno das nascentes e/ou acumulação de sedimentos no canal fluvial. A importância desse estudo se justifica pela necessidade de fomentar pesquisas relacionadas a questão hídrica, além de discutir problemas ligados a má conservação dos recursos hídricos da região sul-mineira. As nascentes são áreas de vital importância para uma bacia hidrográfica, visto que é o ponto inicial de toda rede hidrográfica, abarcando o início dos cursos fluviais, além de ser fonte de manutenção destas. Figura 1: Mapa de localização da área de estudo. Fonte: (ALVES, Gabriel, 2016. Objetivo Com a finalidade de ampliar os estudos na região do sul de Minas Gerais e no município de Alfenas, este trabalho tem como propósito analisar e caracterizar a vulnerabilidade das zonas de nascentes por meio da análise do uso e ocupação do solo e da análise geomorfológica. Fundamentação Teórica O processo de urbanização das cidades brasileiras mostra um quadro de alterações e problemas ambientais que são inerentes ao processo de uso e ocupação desordenado do solo urbano. A expansão das cidades em morfologias inadequadas, expõe a falta de conhecimento e descaso do poder público no que concerne ao planejamento urbano, interferindo sobretudo, na topografia dos terrenos e na indução de processos superficiais que abrangem deslizamentos, colapsos e movimentos de massa. Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 140 Dentre os problemas citados, é notório a indução de impactos diretos ligados a água. As bacias hidrográficas e suas zonas de nascentes, comumente ocupadas no processo de expansão urbana, leva ao desaparecimento e a impermeabilização dos primeiros cursos d’água, fundamentais na manutenção de todo o sistema hídrico, no caso a bacia hidrográfica. As modificações no entorno das nascentes por meio de inputs antrópicos, derivam de um processo histórico de ocupação do território, que induz em perturbações nos sistemas hídricos, verificados através da ausência de preservação no entorno de nascentes, da vegetação ripariana nas margens, do aumento de fluxo de sedimentos nos cursos d’água e em todo conjunto de fatores que interferem no ciclo hidrológico. Segundo a Lei Federal 4.771/65, alterada pela Lei 7.803/89 e a Medida Provisória nº 2.166-67, de 24 de agosto de 2001, Consideram-se de preservação permanente, pelo efeito de Lei, as áreas situadas nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados “olhos d’agua”, qualquer que seja a situação topográfica, devendo ter um raio mínimo de 50 (cinquenta) metros de largura (SMASP, 2009, p. 8). Em se tratando de sistemas ambientais físicos, a bacia hidrográfica se constitui em unidade geomorfológica constituída por um conjunto de subsistemas que se interagem formando um todo. De acordo com Espíndola (2003, p.1) “a bacia corresponde a uma unidade territorial natural, ou seja, uma determinada área da superfície terrestre, cujos limites são criados pelo próprio escoamento das águas da superfície, ao longo do tempo. Isso significa que a bacia é o resultado da interação da água e de outros recursos naturais como material de origem, topografia, vegetação e clima”. Áreas urbanas são interessantes para o estudo da ação dos processos exógenos justamente por serem locais de plena atividade humana e, portanto, estarem constantemente sendo remodeladas e desnaturalizadas. Os escoamentos hídricos, que prevalecem em áreas urbanas, tendem a apresentar velocidade muito maior do que os que ocorrem em áreas não afetadas ou pouco afetadas pelo homem. Essa velocidade adicional, aliado a quase nula percolação, gera um excedente hídrico considerável, que atravessa o sítio urbano rapidamente e que, quando não promove alagamentos, tende a originar em algum trecho do sistema fluvial, a sua jusante, problemas ambientais decorrentes das alterações antrópicas advindas de mudanças na geometria dos rios, como obras de retificações. No que tange as águas entende-se que medidas pequenas podem ter um efeito grandioso quando a inicativa é abraçada e apoiada pela sociedade, exemplos pequenos como casas que possuem equipamentos para captação de águas da chuva ou a própria conscientização quanto ao descarte correto de lixo, pode diminuir inúmeros problemas urbanos como as enchentes. Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 141 As áreas de nascentes devem ser protegidas não somente por sua importância frente aos recursos hídricos, mas também por muitas se encontrarem em áreas declivosas com maior propensão a ação erosiva e aos movimentos de massa, o que aliado a um uso do solo nocivo e características naturais não favoráveis a estabilidade, pode gerar respostas catastróficas. De maneira geral, os processos erosivos em zonas de nascentes manifesta-se em função de fatores como a declividade, tipo de solo e uso e ocupação do solo. As pressões antrópicas sobre estas áreas pode acelerar os processos gerando sedimentos que alojam-se no sopé das concavidades das cabeceiras de drenagem. Do ponto de vista geomorfológico, é importante caracterizar as cabeceiras de drenagem onde estão inseridas as nascentes. Segundo Coelho Netto (2003), Os canais erosivos das cabeceiras de drenagem drenam através da rede principal de canais fluviais, integrando os processos de encostas com os processos fluviais. Assim a rede interconectada de canais fluviais constitui-se na principal via de descarga da bacia de drenagem e, por isso, tornou-se um dos principais objetos de grande interesse hidrológico e geomorfológico (COELHO NETTO, 2003, p. 70) Materiais e Métodos Para alcançar os objetivos propostos realizou-se o levantamento e a revisão dos materiais bibliográficos e cartográficos. Para isso, são utilizadas cartas topográficas na escala 1:50.000, imagens de satélite Landsat 8 e imagens do Google Earth. Para a confecção dos mapas, os softwares ArcGis 10.2.1 e o SPRING estão sendo utilizados. Para a realização do mapa de uso do solo foram identificadas as seguintes classes de uso: mata nativa, pastagem, culturas agrícolas, eucalipto, área urbana, solo exposto. Este mapa foi gerado a partir de imagens de satélite Landsat 8. Posteriormente, a rede hidrográfica (bacias hidrográficas, áreas de nascentes) do município foi sobreposta a este mapa. A análise geomorfológica será realizada por meio da elaboração do mapa morfológico (classificação morfográfica) do município e mapa de declividades (morfométrica). A rede hidrográfica foi compilada das cartas topográficas 1:50.000, disponíveis no IBGE. Além disso, será realizada a identificação de processos erosivos lineares e movimentos de massa em cada zona de nascentes. Para esta etapa, serão utilizadas imagens do Google Earth. Resultados Preliminares Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 142 Este estudo, em fase de desenvolvimento, apresenta resultados parciais. Dentre as quatro etapas da pesquisa proposta (pesquisa teórica, trabalho de campo, análise dos dados e produção de resultados), até o presente momento, foi realizado parte de um levantamento bibliográfico sobre o tema. Foram feitas leituras e fichamentos de artigos encontrados em periódicos científicos, capítulos de livros e dissertações. Além disso, foi elaborado o mapa de uso do solo do município (Figura 2). Este mapa, mostra a distribuição espacial de seis categorias de uso: área urbana, pastagem, culturas agrícolas, eucalipto, solo exposto e matas nativas. Em todo município, os usos predominantes são a pastagem, culturas agrícolas e solo exposto. Verifica-se que a pastagem domina em grande parte do município, seguida de culturas agrícolas ao sul e sudeste e a nordeste e as superfícies de solo exposto ocorrem em pontos isolados do município, especialmente ao norte da área urbana de Alfenas. A rede hidrográfica sobreposta ao mapa de uso do solo revela a presença de canais de 1ª. ordem (nascentes) e zonas de nascentes (cabeceiras de drenagem de 2ª. ordem) em diferentes categorias de uso do solo. Grande parte destes canais, apresentam mata ciliar degradada, com parte da cobertura vegetal alterada. A pouca proteção do solo em áreas de nascentes, aliado ao predomínio das pastagens, promove a geração de processos geomorfológicos superficiais próximo às nascentes. Uma análise preliminar da ocorrência desses processos assinala a presença de movimentos lentos do solo (rastejo) em áreas de pastagens. Verifica-se que as pastagens se localizam em relevos de Colinas e Morros com encostas suaves. Nos declives mais acentuados das vertentes de Morros e Colinas aparecem feições erosivas lineares do tipo sulcos erosivos, evoluindo para ravinas. Em canais de 1ª. e de 2ª. ordem, é possível afirmar que a ocorrência de movimentos lentos (rastejo) e feições erosivas lineares pode provocar um aumento de materiais acumulados (colúvios, leques aluvionais) dentro dos canais fluviais, gerando grande vulnerabilidade dessas zonas de nascentes e das bacias hidrográficas que integram o município. Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 143 144 Figura 2: Mapa de uso do solo do município de Alfenas – MG. (Autor: ALVES, Gabriel, 2016) Considerações Finais A pesquisa proposta está em andamento e apresenta resultados preliminares. Serão realizados mapas temáticos (morfológico, declividades) para ampliar a análise geomorfológica das zonas de nascentes e trabalhos de campo para verificar as informações contidas nos mapas. Os processos geomorfológicos superficiais (movimentos de massa, feições erosivas lineares) serão identificados e uma análise de detalhe do canal fluvial (1ª. ordem) será efetuada com a finalidade de verificar o grau de vulnerabilidade ou de conservação das nascentes. Referências Bibliográficas COELHO NETTO, A. L. Evolução de Cabeceiras de Drenagem no Médio Vale do Rio Paraíba do Sul (SP/RJ): a Formação e o Crescimento da Rede de Canais sob Controle Estrutural. Revista Brasileira de Geomorfologia, Ano 4, Nº 2, 69-100, 2003. BRIGANTE, J; ESPÍNDOLA, E.L.G. Limnologia Fluvial: um estudo no rio MogiGuaçu. São Carlos: Rima, 278 p, 2003. Cadernos da Mata Ciliar/ Secretaria do Meio Ambiente do estado de São Paulo, nº1, 2009, p 8. Brigante, J., Espíndola, E.L.G. (orgs), Limnologia fluvial: um estudo no Rio MogiGuaçu. São Carlos: RiMa, 2003, p 255. Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo