Artigo de Revisão Mobilização precoce em pacientes na unidade de terapia intensiva (UTI) Mobilization early in patients in the intensive care unit (ICU) Weltton Pedreira Urt1, Giulliano Gardenghi2 Resumo Introdução: Na Unidade de Terapia intensiva (UTI), por atender uma clientela diferenciada, hemodinamicamente instável, com prognóstico grave e com alto risco de morte, fatores como imobilidade e a fraqueza muscular são um dos muitos problemas encontrados nesses pacientes, sendo estas inerentes, geralmente, à ventilação prolongada e a restrição ao leito. O papel do fisioterapeuta diante de tal quadro se mostra fundamental quando o assunto é a mobilização precoce na UTI, propiciando a manutenção da amplitude do movimento, evitando grandes retrações musculares entre outros benefícios, reduzindo assim as complicações inerentes à imobilidade. Objetivo: O objetivo deste estudo foi revisar a literatura cientifica sobre a mobilização precoce de paciente crítico na Unidade de Terapia Intensiva. Metodologia: Para a realização deste estudo foi realizada a revisão da literatura, utilizando bibliografias disponíveis, entre 2007 a 2014, através de artigos científicos sobre o assunto disponibilizado nas bases de dados eletrônico SCIELO, LILACS, e GOOGLE ACADÊMICO, na web. Resultados e conclusões: A imobilidade no leito constitui uma das mais preocupantes fontes de complicações para o paciente na Unidade de Terapia Intensiva. Na literatura científica recente observa-se essa preocupação, associada com a necessidade do fisioterapeuta intervir através da mobilização precoce do paciente no leito. A realização de exercícios passivos e ativos, mudança de decúbito e ortostatismo foram identificadas como formas eficazes dessa mobilização, preconizado por vários autores com uma forma de reabilitação do paciente crítico, proporcionando também a redução no tempo de 1 internação. Conclui-se, através deste estudo, que os pacientes submetidos à mobilização precoce de forma segura e viável têm benefícios frente às enfermidades, de modo a proporcionar a independência funcional e melhorar a qualidade de vida do paciente. Descritores: Unidade de Terapia Intensiva, mobilização precoce, fisioterapia. Abstract Introduction: In the intensive care unit (ICU), for taking a differentiated clientele, hemodynamically unstable, with serious prognosis and a high risk of death, factors such as immobility and muscular weakness are one of the many problems encountered in these patients, these being inherent, usually, to prolonged ventilation and the restriction to the bed. The role of the physiotherapist in front of such a framework is essential when it comes to the early mobilization in the ICU, allowing the maintenance of range of motion, avoiding large muscular retractions among other benefits, thereby reducing the complications inherent in immobility. Objective: The objective of this study was to review the scientific literature on the early mobilization of critical patient in the intensive care unit. Methodology: To carry out this study was conducted to review of the literature, using bibliographies available between 2007 to 2014, through scientific articles on the subject available in electronic databases, SCIELO, LILACS, and GOOGLE SCHOLAR, on the web. Results and conclusions: immobility in bed is one of the most disturbing sources of complications for the patient in the intensive care unit. In recent scientific literature noted this concern, associated with the need of the physiotherapist to intervene through the early mobilization of the patient in bed. The passive and active exercises, and decubitus orthostatic change have been identified as effective ways of mobilizing, advocated by various authors with a way of rehabilitating the critical patient, providing also the reduction in length of stay. It is concluded, through this study, patients undergoing early mobilization safely and viable have benefits against the disease, so as to provide the functional independence and improve the quality of life of the patient. 2 Keywords: Intensive Care Unit, early mobilization, physiotherapy. 1. Fisioterapeuta – Pós-graduando em Fisioterapia Cardiopulmonar e Terapia Intensiva – CEAFi Cuiabá – MT 2. Fisioterapeuta, Doutor em Ciências pela FMUSP, Coordenador Científico do Serviço de Fisioterapia do Hospital ENCORE/GO, Coordenador Científico do CEAFI Pós-graduação/GO e Coordenador do Curso de Pós-graduação em Fisioterapia Hospitalar do Hospital e Maternidade São Cristóvão – São Paulo/SP Introdução Em uma unidade hospitalar, a assistência promovida pelos profissionais da saúde tem como objetivo terapêutico recuperar a condição clínica dos pacientes, de modo que eles possam retornar à realidade em que se inserem com qualidade de vida. Contudo, pacientes críticos, caracterizados por se encontrarem instáveis hemodinamicamente, com prognóstico grave, e com alto risco de morte, representam outra realidade, na qual a meta da assistência está centrada na manutenção da vida, muitas vezes sem estimativa de tempo para a alta hospitalar1. A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é um ambiente de alta complexidade, composto por uma equipe multiprofissional e interdisciplinar, e cuja destinação é proporcionar a internação de pacientes com instabilidade clínica e com potencial de gravidade, cuja recuperação depende de inúmeros fatores, inerentes ou não à condição basal1. Na unidade de terapia intensiva (UTI), é muito comum os pacientes permanecerem restritos ao leito, acarretando inatividade, imobilidade e disfunção severa do sistema osteomioarticular. Essas alterações atuam como fatores predisponentes para polineuropatia e/ou miopatia do doente crítico, acarretando aumento de duas a cinco vezes no tempo de permanência da ventilação mecânica e no desmame ventilatório1,2. 3 A imobilidade, descondicionamento físico e fraqueza muscular são problemas usualmente encontrados em pacientes sob Ventilação Mecânica. Essas complicações inerentes à ventilação prolongada são de origens variadas, associadas geralmente à idade e as doenças crônicas, como insuficiência cardíaca congestiva, diabetes mellitus e doença pulmonar obstrutiva crônica1,2 . A imobilidade em pacientes hospitalizados tem impacto negativo em vários sistemas orgânicos, com os pulmões, o sistema cardiovascular, a pele, os músculos, os ossos, entre outros. As complicações pulmonares são as mais prejudiciais e se apresentam na forma de atelectasia, hipoxemia, embolia pulmonar e pneumonia, 3 causando aumento do tempo de internação e à mortalidade . Vários são os fatores que podem contribuir para o quadro de imobilidade, sendo os principais: idade avançada, diabetes mellitus, anormalidades metabólicas, hiponatremia, hiperuremia, hiperglicemia, uso prolongado de medicações (como corticoides, sedativos e bloqueadores neuromusculares), disfunção em dois ou mais órgãos, ventilação mecânica, elevado tempo de permanência na UTI e imobilismo3. A mobilização precoce na UTI tem como objetivo manter a amplitude de movimento articular, prevenir ou minimizar grandes retrações musculares e manter ou aumentar a força muscular e a função física do paciente reduzindo a complicações acima citadas, sendo consideradas como elemento fundamental na maioria das condutas de assistência da fisioterapia em pacientes internados em uma UTI, incluindo uma variedade de exercícios terapêuticos que previnem fraquezas musculares, deformidades e ainda reduzem a utilização de recursos de assistência durante a hospitalização4. O estudo do presente tema justifica-se na importância da mobilização precoce no tocante a recuperação precoce do paciente internado na UTI, diminuindo o tempo de internação bem como a redução dos gastos empregados no tratamento desse paciente, principalmente quando se avalia o desgaste físico, mental, social e psicológico dos envolvidos nessa assistência. O objetivo deste trabalho foi revisar através da revisão da literatura cientifica sobre a mobilização precoce no leito, descrevendo alguns métodos mais utilizados para prevenir as complicações relacionadas à imobilidade. Vários são estes 4 métodos, contudo é necessário que o fisioterapeuta saiba reconhecer o momento apropriado de modo a não oferecer riscos ao paciente. Material e Métodos Para a realização deste trabalho foi realizado um levantamento dos artigos científicos disponíveis sobre o tema, através da revisão da bibliografia, realizando uma análise sobre os aspectos inerentes da imobilização do paciente em uma Unidade de Terapia Intensiva e sobre os aspectos importantes da mobilização precoce. Para tal, foram realizadas pesquisas nas publicações científicas disponibilizadas pela internet, no período de 2007 a 2014, através de sites de publicações científicas sobre o tema, disponibilizados na web. As palavras chaves utilizadas foram mobilização precoce em uti, fisioterapia motora em pacientes críticos, fisioterapia e ventilação mecânica. A pesquisa da literatura, foi realizada nas bases de dados eletrônicas SCIELO, LILACS, GOOGLE ACADÊMICO. Resultados e Discussão O repouso no leito, no passado, era frequentemente prescrito pelos médicos como benéfico para a estabilização clínica do paciente crítico. O que se observa atualmente é que a imobilidade pode dificultar na recuperação de doenças críticas, devido às alterações sistêmicas associadas a ela, como doença tromboembólica, atelectasias, úlceras de pressão, contraturas, alteração das fibras musculares de contração lenta para contração rápida, atrofia e fraqueza muscular e esquelética; além disso, pode afetar os barorreceptores, que contribuem para a hipotensão postural e taquicardia5. Assim, imobilidade surge, inclusive com maior significância nos músculos respiratórios, pelo fato de o ventilador mecânico assumir uma proporção maior do trabalho respiratório, reduzindo o trabalho exercido pela ventilação espontânea. Isso resulta na ausência completa ou parcial da ativação neural e da mecânica muscular, reduzindo assim, a capacidade que o diafragma tem de gerar força. Tal atrofia tornase perceptível em maior extensão nos músculos respiratórios do que nos periféricos, apesar destes também estarem inativos. Esse comprometimento da função muscular respiratória contribui para intolerância aos exercícios, dispneia e hipercapnia1,5. 5 Analisando fisiopatologicamente os fatores importantes da imobilidade tem-se que mecanismos importantes, como a utilização de fármacos como corticoides, relaxantes musculares e antibióticos desnutrição e situações catabólicas, agem sinergicamente para promover a perda de massa muscular significativa no doente criticamente enfermo. O repouso prolongado associado ao doente crítico leva à diminuição da síntese de proteína muscular, aumento da urina, excreção de nitrogênio (catabolismo muscular) e diminuição da massa muscular, principalmente de membros inferiores6. A fraqueza muscular do paciente crítico apresenta-se de forma difusa e simétrica, acometendo a musculatura estriada esquelética apendicular e axial. Os grupos musculares proximais geralmente encontram-se mais afetados que os músculos distais, com variável envolvimento dos reflexos tendinosos profundos e da inervação sensório-motora. A polineuropatia do paciente crítico é bastante incidente em pacientes de unidade de terapia intensiva (UTI) submetidos à VM por mais de 7 dias, acometendo 25,3% dos pacientes. Tal constatação é preocupante devido ao fato da neuropatia ser responsável por prolongar o tempo de VM e a permanência do sujeito na UTI 2,3,4. A imobilidade prolongada, além dos fatores físicos e orgânicos também pode alterar também o estado emocional do paciente, independente da patologia que o levou ao decúbito prolongado, podendo apresentar confusão, ansiedade, apatia, depressão, labilidade emocional, isolamento social entre outros. O desuso, como no repouso, inatividade ou imobilização de membros ou corpo e a perda de inervação nas doenças ou injúrias promovem um declínio na massa muscular, força e endurance. Com a total imobilidade, a massa muscular pode reduzir pela metade em menos de duas semanas, e associada à sepse, declinar até 1,5 kg ao dia4. A fraqueza é caracterizada pela atrofia das fibras musculares tipo II e miopatia do filamento grosso, reconhecida como patologia periférica neuromuscular adquirida na UTI, que lesa basicamente o axônio, gerando sinais de acometimento do 2° neurônio motor7. 6 Para cada semana de imobilização completa no leito um paciente pode perder de 10 a 20% (dez a vinte por cento) de seu nível inicial de força muscular. Por volta de quatro semanas, 50% (cinquenta por cento) da força inicial pode estar perdida. A debilidade generalizada é uma complicação comum em pacientes internados em unidade de terapia intensiva (UTI). Com uma incidência de aproximadamente 30% a 60% dos pacientes internados na UTI2,7. A atrofia por desuso e a perda de inervação encontrada em algumas doenças promovem um declínio musculoesquelético nas na massa alterações muscular, das fibras acometendo de miosina, o sistema provocadas primordialmente pelo estresse oxidativo, a diminuição da síntese proteica e o aumento da proteólise. A atividade muscular tem uma ação importante em desempenhar um papel anti-inflamatório, benéfico em doenças graves, como a síndrome da disfunção respiratória aguda (SDRA) e a sepse. Em contrapartida, apenas 05 dias de repouso no leito em indivíduos saudáveis podem ser suficientes para o desenvolvimento do aumento da resistência à insulina e à disfunção 1 vascular . Portanto como forma eficaz de reduzir os efeitos da imobilidade no leito, relacionado a patologia ou não, está a mobilização precoce no leito. O termo mobilização se refere a uma atividade física suficiente para provocar efeitos fisiológicos agudos como otimizar o transporte de oxigênio através do aumento da relação ventilação-perfusão (V/Q), aumento dos volumes pulmonares, redução do trabalho respiratório, minimização do trabalho cardíaco e aumento do clearance mucociliar8. Quando se fala em "precoce", refere-se ao conceito de que as atividades de mobilização começam imediatamente após a estabilização das alterações fisiológicas importantes, e não apenas após a liberação da ventilação mecânica ou alta da UTI7,8. A mobilização precoce reduz o tempo para desmame da ventilação precoce e auxilia na recuperação funcional, sendo realizada através de atividades terapêuticas progressivas, tais como exercícios motores no leito, sedestação a beira do leito, 7 transferência para a cadeira, ortostatismo e deambulação. É uma intervenção simples em pacientes com instabilidade neurológica e cardiorrespiratória1,2,4. O exercício terapêutico é considerado um elemento central na maioria dos planos de assistência da fisioterapia, com a finalidade de aprimorar a funcionalidade física e reduzir incapacidades. Inclui uma ampla gama de atividades que previnem complicações como encurtamentos, fraquezas musculares e deformidades osteoarticulares e reduzem a utilização dos recursos da assistência de saúde durante a hospitalização ou após uma cirurgia. Estes exercícios aprimoram ou preservam a função física ou o estado de saúde dos indivíduos sadios e previnem ou minimizam as suas futuras deficiências, a perda funcional ou a incapacidade3,4,6. A mobilização de doentes tem como finalidade, entre outros, provocar no indivíduo resposta a nível respiratório e cardiovascular, por isso, é imprescindível considerar a segurança do doente antes do tratamento ser instituído9. Vários são os fatores benéficos associados a mobilização precoce, como melhorar o transporte de oxigênio, redução dos efeitos do imobilismo e do repouso. A mobilização precoce também diminui a incidência de tromboembolismo e de trombose venosa profunda (TVP). Permiti uma melhor oxigenação e nutrição dos órgãos internos5. Apesar dos efeitos benéficos relacionados à mobilização precoce em pacientes internados em UTI, é importante avaliar alguns fatores de segurança antes da realização dessas atividades nesse ambiente. Os principais fatores de segurança que devem ser abordados são: fatores intrínsecos ao paciente, como antecedentes médicos do paciente, reservas cardiovascular e respiratória; e fatores extrínsecos ao paciente, como acesso vascular no paciente, ambiente e equipe5,6,7,8. É importante ressaltar que o conhecimento da história clínica anterior e atual indica de que forma a reserva respiratória e cardiovascular do doente pode ser limitante da atividade e que sinais e sintomas devem ser monitorizados durante a mobilização. Fatores relacionados à história passada de disfunções cardiovasculares respiratórias, medicamentos que possam afetar a mobilização e o nível funcional dos 8 pacientes antes da internação, bem como a investigação sobre a reserva cardiovascular, onde deve ser observada a frequência cardíaca (FC) de repouso menor que 50% da FC máxima predita para a idade, variação na pressão arterial menor que 20%, eletrocardiogramas em alterações e ausência de outras doenças cardíacas. Com relação à reserva respiratória, o paciente deve apresentar uma relação PaO2/FiO2maior que 300, SpO2 maior que 90%, padrão respiratório confortável e a ventilação deve ser continuada durante a atividade. É importante ressaltar que não é necessário que o paciente apresente todos os critérios respiratórios e circulatórios para realizar a mobilização, devendo ser levada em consideração a avaliação global do paciente e os riscos e benefícios da mobilização para o paciente5. De acordo com a Força Tarefa da European Respiratory Society and European Society of Intensive Care Medicine ficou estabelecido uma sequência de atividades de maneira hierárquica para mobilização na UTI, baseada na intensidade de cada conduta: mudança de decúbitos e posicionamento funcional, mobilização passiva exercícios ativo-assistidos e ativos, uso de cicloergômetros na cama; sentar na borda da cama; ortostatismo, caminhada estática, transferência da cama para poltrona, exercícios na poltrona e caminhada. A força tarefa ainda preconiza que essas condutas são de exclusividade do fisioterapeuta6,10. Quando se refere à mobilização precoce no leito, várias são as técnicas apresentadas por vários autores, sendo que todas elas convergem para um ponto em comum: a rápida recuperação do paciente. Uma das modalidades está a cinesioterapia precoce na UTI, que tem sido apontada como segura e viável, podendo ser efetuada de maneira passiva ou ativa de acordo com a interação do paciente, estabilidade hemodinâmica, nível de suporte ventilatório, fração inspirada de oxigênio (FiO2) e resposta do paciente ao tratamento8. No rol das atividades que podem ser desenvolvidas na mobilização precoce inclui atividades terapêuticas progressivas, tais como exercícios de mobilidade no leito, sentado na beira do leito, em ortostase, transferência para uma poltrona e deambulação3, 5, 6, 7, 8,9. 9 Os exercícios passivos, ativo-assistidos e resistidos visam manter a movimentação da articulação, o comprimento do tecido muscular, da força e da função muscular e diminuir o risco de tromboembolismo11. Para pacientes lesados medular, a utilização de cintas abdominais melhora a capacidade vital e otimiza os exercícios respiratórios. A ventilação mecânica não invasiva (VNI) pode ser utilizada durante os exercícios para maior tolerância aos mesmos. Para pacientes recém-desmamados da ventilação mecânica, os exercícios com membros superiores aumentam os efeitos da fisioterapia respiratória para endurance e tolerância a dispneia5. O movimento passivo dos membros pode ser nocivo para alguns pacientes comatosos, podendo haver aumento da pressão intracraniana. Entretanto os movimentos passivos apresentam o benefício adicional de aumentar o volume corrente no paciente que não está sob suporte ventilatório, visto que provê estimulação aferente para o centro respiratório via músculos periféricos e receptores articulares11. Utilizada por muitos fisioterapeutas, a mobilização precoce deve ser aplicada diariamente nos pacientes críticos internados em UTI, tanto naqueles estáveis, que se encontram acamados e inconscientes (sob VM), quanto naqueles conscientes e que realizam a marcha independente11,12. O III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica, traz a fisioterapia no pacientes sob ventilação mecânica e estabelece os seguintes procedimento, relacionando-os com a respectiva justificativa e tais procedimentos receberam seus respectivos graus de recomendação baseado na literatura cientifica sobre o assunto11. A abordagem realizada para classificar o nível de evidência dos estudos para decisões sobre o tratamento é hierárquica e está amparada no desenho dos estudos (sua metodologia). Assim, são esses níveis de evidência científica que guiam os graus de recomendação de um determinado tratamento ou procedimento: quanto maior o nível, mais forte a idéia de que pode ser adotado com segurança e benefício do paciente. O grau de recomendação está distribuído de A a D, um modelo hierárquico, onde A possui o maior valor13. 10 A: Estudos experimentais ou observacionais de maior consistência , (metanálises ou ensaios clínicos randomizados) B: Estudos experimentais ou observacionais de menos consistência (outros ensaios clínicos não-randomizados ou estudos observacionais ou estudos caso-controle), C: Relatos ou séries de casos (estudos não-controlados), D: Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais13 A utilização do grau de recomendação associado à citação bibliográfica no texto tem como objetivos principais: conferir transparência à procedência das informações, estimular a busca de evidência científica de maior força, introduzir uma forma didática e simples de auxiliar a avaliação crítica do leitor, que arca com a responsabilidade da decisão frente ao paciente que orienta13. • Exercícios Passivos - Recomendação: B. Apesar da ausência de dados demonstram a importância da utilização do exercício passivo para evitar deformações articulares e encurtamento muscular em pacientes sob ventilação mecânica, recomendamos sua aplicação nos pacientes intubados na UTI. O imobilismo causa diversas complicações ao paciente de UTI e, portanto, deve-se buscar preveni-las. As evidências sobre benefícios dos exercícios passivos para prevenir alterações músculos-esqueléticas nos pacientes de UTI são limitadas. Posteriormente, verificou-se que além de não ser benéfico, poderia determinar complicações graves em diversos sistemas orgânicos, como úlceras de decúbito, perda de força muscular, tromboembolismo, osteoporose e pneumonia. Os pacientes de UTI e especialmente os idosos são considerados com maior risco para desenvolver as complicações da síndrome da imobilidade3,4,5,11,12,14. • Exercícios Ativos – Recomendação: C. Recomendamos a realização de exercícios ativos, mesmo em pacientes em ventilação mecânica, sem contra indicações e capazes de executá-lo, com o objetivo de diminuir a sensação de dispnéia, aumentar a tolerância ao exercício, reduzir a rigidez e dores musculares preservando a amplitude articular. Há benefícios do uso de exercícios ativos de membros em pacientes de UTI sob desmame e recém-desmamados da ventilação mecânica. Um estudo realizado em pacientes em pós-operatório de cirurgias gastrointestinais e cardiovasculares abordaram programas multiprofissionais que 11 incorporaram a mobilização precoce como parte do tratamento. O resultado do programa resultou na diminuição da morbidade e do tempo de internação. Recentemente, um estudo prospectivo, controlado e randomizado avaliou em 66 de 228 pacientes admitidos 03 UTIs que tinham mais que 48h e menos que 96h de VM. Avaliou os efeitos do treino precoce em pacientes recuperando da insuficiência respiratória aguda. A intervenção consistia em treino de membros superiores e fisioterapia global comparada com somente fisioterapia global. Concluíram que o treino de membros superiores era praticável em pacientes recentemente desmamados e que pode realçar os efeitos da fisioterapia global sendo que a função dos músculos inspiratórios foi relacionada com a melhora da capacidade de exercícios. Outro estudo mais recente, porém fisiológico, prospectivo e controlado teve o objetivo de avaliar os efeitos do treino de membros superiores com e sem o suporte ventilatório em pacientes com DPOC e desmame difícil. Encontraram um aumento da tolerância do exercício quando os pacientes realizaram durante o suporte ventilatório3,4,5,6,9,11,15,16. • Decúbito elevado e Sedestação - Recomendação: B. O decúbito elevado (superior a 30º) pode reduzir a ocorrência de pneumonia associada à ventilação mecânica. Sentar no leito ou na poltrona pode aperfeiçoar a troca gasosa e o conforto do paciente. Sentar o paciente no leito ou na poltrona pode ser uma conduta importante e deve ser realizado o mais precocemente possível, mesmo quando o paciente estiver em ventilação mecânica invasiva, mas em condições estáveis no período de desmame. Um estudo comparando pré e pós-operatório de cirurgia torácica revelou que, sentar o paciente no leito a 30° melhora a troca gasosa e reduz o estado hipermetabólico ocasionado pela cirurgia. Uma revisão de ensaios clínicos controlados em pacientes em pós-operatório avaliou a função pulmonar nas posturas supino, sentado, decúbito lateral e em posição ortostática, e apontou uma melhora da função nas posições supina e sentada em comparação com a posição supina5,6,11. • Ortostatismo - Recomendação: D. A posição ortostática como recurso terapêutico pode ser adotada de forma ativa ou passiva para estimulação motora, melhora da troca gasosa e estado de alerta. Deve utilizada restritamente a pacientes crônicos estáveis clinicamente sob ventilação mecânica prolongada em desmame 12 difícil. A adoção da postura ortostática com assistência da prancha ortostática é recomendada para reintroduzir os pacientes à posição vertical, quando estes são incapazes de se levantar ou mobilizar com segurança mesmo com considerável assistência. O uso da postura ortostática na UTI tem sido encorajado como uma técnica para minimizar os efeitos adversos da imobilização prolongada, como hipotensão ortostática, consome de oxigênio reduzido, estase venosa, redução dos volumes pulmonares, prejuízo nas trocas gasosas, atrofia muscular, contraturas musculares, aderências articulares e úlcera de decúbito. Apesar da falta de ensaios clínicos avaliando o impacto no prognóstico dos pacientes críticos, a posição ortostática foi incluída como modalidade de tratamento em recente consenso por fisioterapeutas ingleses que trabalham em UTI. As hipóteses benéficas da postura ortostática incluem influências no controle autonômico do sistema cardiovascular, facilitação da ventilação e troca gasosa, facilitação do estado de alerta, estimulação vestibular e facilitação da resposta postural antigravitacional. Os principais benefícios relatados dessa intervenção são melhorar a função musculoesquelética e estimular o nível de consciência. Entretanto, existem disparidades quanto às contraindicações para adotar a posição ortostática nos pacientes de UTI. Esse estudo apontou, ainda, para a necessidade da padronização dessa intervenção, com o objetivo de aperfeiçoar a segurança do paciente e obter melhores resultados. A prancha ortostática deve ser considerada como mais um recurso fisioterapêutico a ser explorado em UTI, principalmente em pacientes crônicos incapazes de cooperação voluntária, mas clinicamente estáveis com quadro de desmame difícil. Ainda não foi estudado, até o presente momento, se os benefícios fisiológicos descritos com essa técnica podem influenciar o prognóstico dos pacientes críticos de forma positiva3,4,6,7,9,11,17. A fisioterapia motora demonstrou ser uma terapia segura e viável, que pode minimizar os efeitos deletérios da imobilização prolongada no leito2,4,5,6,9,10,11,18. Ressalta-se, por sua vez que o fisioterapeuta é o profissional responsável pela implantação do plano de mobilização, prescrição de exercícios e pela progressão deste plano em conjunto com a equipe. A mobilização precoce inclui atividades cinesioterapêuticas progressivas, tais como, mobilização passiva, alongamento muscular e treinamento de força muscular, porém, o incremento 13 prematuro de atividades como sedestação à beira leito, ortostatismo passivo ou ativo, transferências e deambulação, culminam na base para a recuperação funcional do paciente na UTI 3,12,19,20,21. Conclusão A mobilização dos pacientes críticos restritos ao leito, associada a um posicionamento preventivo de contraturas musculares e de perda da amplitude de movimento articular na UTI, pode ser considerada um mecanismo de reabilitação precoce com importantes efeitos acerca das várias etapas do transporte de oxigênio, da manutenção da força muscular e da mobilidade articular, melhora da função pulmonar e o desempenho do sistema respiratório. Tudo isso poderá facilitar o desmame da VM, reduzir o tempo de permanência na UTI e, consequentemente, a permanência hospitalar, além de promover melhora na qualidade de vida após a alta hospitalar. Por fim, torna-se imprescindível a padronização dos recursos para o processo de decisão clínica e educação, e a definição mais detalhada do perfil do profissional fisioterapeuta na UTI. 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