Como os morcegos ouvem uma fruta

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Como os morcegos ouvem uma fruta
Quando vamos abrir uma porta nosso cérebro usa a visão para orientar nossos movimentos. Os olhos se fixam na
maçaneta e os centros motores do cérebro ativam diferentes músculo de modo que nosso corpo se movimente em
direção à porta e a mão toque a maçaneta. Mas como será que os morcegos usam a informação fornecidas pelo seu
sonar para voar no escuro em direção a um alvo? O que foi descoberto é que o método é diferente do que
utilizamos para nos movimentar orientados pela visão.
O estudo foi feito com uma espécie de morcego que se alimenta de frutas. Este morcego emite a cada 100
milissegundos dois pulsos sonoros. Estes sons, que são ouvidos por nós como se fossem “clicks”, são emitidos
pela boca em direção ao espaço que se localiza na frente do animal. Eles refletem nos objetos e são captados pelos
ouvidos. Com base no eco captado pelos ouvidos o morcego determina a posição dos objetos.
Para estudar como o morcego direciona o sonar ao tentar se aproximar de um objeto (do mesmo modo que
direcionamos nosso olhar em direção à maçaneta), foi construída uma sala totalmente escura com dezenas de
microfones instalados nas paredes laterais, no teto e no piso. Além dos microfones as paredes continham
detectores de radiação infravermelha. No interior da sala foi colocado um galho de árvore com uma fruta. O
morcego, com um aparelho que emitia ondas de infravermelho preso ao corpo, era solto na sala escura e
imediatamente voava até o galho e comia a fruta. Durante este vôo até a fruta a posição do morcego a cada
centésimo de segundo era calculada por um computador que utilizava a informação captada pelos detectores de
infravermelho. Alem de saber a posição exata do morcego a cada instante, os microfones nas paredes detectavam
todos os sons emitidos pelo sonar do animal. Como haviam microfones por todas as paredes, o computador
também calculava em que direção o morcego havia emitido cada “click” durante o vôo.
O resultado destas medidas pode ser representado em uma linha que mostra o caminho percorrido pelo morcego e
pequenas flechas indicando, em cada ponto da linha, a direção em que o morcego estava emitindo seus sinais de
sonar. Se estes mesmos dados fossem coletados para uma pessoa se dirigindo para uma porta o que obteríamos
seria uma linha reta do movimento em direção à porta e pequenas setas indicando a cada momento que os olhos da
pessoa estariam dirigidos em direção à maçaneta.
No caso dos morcegos, o que os cientistas observaram, é que eles voam inicialmente em curva emitindo sons em
todas as direções. Logo em seguida - ao localizarem a fruta - o vôo segue reto em direção à fruta até que eles
pousem no galho. Mas a grande descoberta é que durante o vôo reto em direção a fruta o sonar não fica apontado
(emitindo “clicks”) diretamente para a fruta mas aponta em um momento para a esquerda da fruta e em seguida
para a direita da fruta, alternando um “click” para cada lado da fruta. É como se, ao nos dirigirmos para a
maçaneta, nunca olhássemos diretamente para ela, mas alternadamente para um ponto a sua esquerda e para um
ponto a sua direita.
Os cientistas acreditam que este método otimiza a informação fornecida pelo sonar. A razão é simples. Se os sonar
estivesse diretamente focado na fruta no momento que um dado “click” fosse emitido, caso o eco do “click”
seguinte fosse mais fraco, o cérebro poderia interpretar esta diminuição na intensidade do eco de duas maneiras:
“a fruta ficou mais a direita - tenho que corrigir o vôo para a esquerda” ou a “fruta ficou mais a esquerda - tenho
que voar mais para a direita”. Mas como o cérebro do morcego “sabe”que o “click” numero um estava a esquerda
do alvo, se o “click” numero três, que também deveria estar a esquerda, ficar mais forte isto significa que o alvo se
aproximou da direção do sinal, o que remove a ambigüidade na interpretação do sinal de sonar, aumentando sua
eficiência.
Estes resultados demonstram que o morcego usa o sonar de maneira diferente de como usamos a visão. Mas talvez
o mais importante é que estes resultado mostram como é difícil (talvez até impossível) para nós humanos
imaginarmos o que passa pela mente de um morcego enquanto ele voa no escuro “ouvindo” (seria esta a palavra
correta?) a fruta que deseja comer.
Mais informações: Optimal localization by pointing off axis. Science vol. 327 pag. 701 2010
Fernando Reinach ([email protected])
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