O conceito de desenvolvimento sustentável visto pela filosofia

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VI Encontro Nacional da Anppas
18 a 21 de setembro de 2012
Belém – PA – Brasil
O conceito de desenvolvimento sustentável visto pela filosofia
contemporânea
Luiz Manoel Lopes(UFC- Cariri)
Professor Adjunto de Filosofia do Campus Cariri
lluizmanoel@hotmail; [email protected]
Tema: O conceito de desenvolvimento sustentável visto pela filosofia contemporânea
INTRODUÇÂO
O presente trabalho trata de expor a importância do conceito de desenvolvimento sustentável face à
filosofia contemporânea indicando como através dessas apreciações podem ser ministradas aulas que
problematizam e criticam o descaso para com o meio ambiente e com a cultura. Neste sentido, a
exposição filosófica deste conceito possui uma intenção: contribuir para novos tipos de sociabilidades
sustentáveis, sendo a educação a fonte propagadora para a criação destas sociedades futuras. A
atualidade exige muitas considerações sobre o que vem acontecendo à humanidade e seu modo de
proceder em relação à natureza. Não podemos deixar de lado determinados conceitos que são
veiculados, na maioria dos encontros e colóquios, sobre a devastação que assola o planeta. O que somos
atualmente e qual a nossa postura neste presente? As respostas são inúmeras e dentre elas podemos,
sem dúvida, afirmar que somos ocidentais e que possuímos o discernimento de nos situarmos após o
esclarecimento, sendo este compreendido como um tempo, uma época, em que o homem passou a ter
atitudes reflexivas. O homem teria saído de sua minoridade passando à autonomia de refletir a partir de
seu próprio entendimento. No entanto, qual é a autonomia que o homem possui diante das situações
em que assistimos ao desparecimento de mananciais e reservas florestais? O tom desta indagação
incide diretamente sobre a preocupação com o meio ambiente e leva a inúmeros questionamentos,
porém a crescente onda de violência solicita-nos um exercício mais intenso de pensamento. Ao
tratarmos de pensamento, na maioria das vezes, deixamos de levar em conta que a preocupação dos
pensadores, desde o início da filosofia, sempre girou sobre o que os gregos denominaram de physis.
Tudo o que é passível de crescimento é comprendido como physis. Os antigos filósofos gregos se
espantavam com tudo, tudo causava espanto e admiração. Todavia, não se deve deixar de lado, que a
physis não se resumia somente ao que consideramos natureza – como aquilo que é verde e sem a
presença do homem – physis é tudo que se desenvolve. Os gregos queriam saber o seguinte: o que
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assegura a unidade destes processos? Os mesmos passam por várias fases, no entanto, uma unidade se
mantém. No decorrer das considerações destes filósofos, inúmeros modos de pensar foram aparecendo
para tentar designar o que mantinha a coesão dos elementos e partes das coisas que apresentavam
sinais de mudanças. Algo pode mudar de fases sem deixar de ser algo, portanto uma unidade
provavelmente mantém o desenvolvimento dessas mudanças.
Ora, estas conclusões aparecem
indicando que tudo que é percebido pelos nossos sentidos é imediatamente pensado. No entanto, não é
assim que as coisas funcionam quando se trata de pensar filosoficamente; ao falarmos de mundo, não o
estamos percebendo em sua totalidade; do mesmo modo, ao falarmos de natureza não a apercebemos
também em sua totalidade. Neste sentido, faz-se necessário atentar para a educação através de
conceitos. A educação sustentável implica em termos noções filosóficas que remetam diretamente aos
conceitos. A filosofia contemporânea é de grande valia por pautar-se em problematizações que
envolvem a criação de conceitos sem perder o contato com as criações de funções e agregados sensíveis
concernentes aos afazeres científicos e artísticos. A educação sustentável requer a compreensão de
novos conceitos como diferença, acontecimentos, territórios, temporalidade e outros. Deste modo, as
apreciações filosóficas sobre o conceito de desenvolvimento sustentável devem fazer parte de todas as
ações que digam respeitos á propagação deste conceito. A tessitura deste trabalho é aproximar as
discussões filosóficas das referentes à sustentabilidade.
OBJETIVO
Aproximar as discussões da filosofia contemporânea com aquelas concernentes à sustentabilidade,
gestão social e ao fomento à economia solidária. Visa-se assim apresentar primeiramente como os
filósofos antigos pensavam o universo como um ser vivo e, em seguida expor como os pensadores
contemporâneos se aproximam desta idéia ao pensarem de outra maneira a relação entre povo e terra.
METODOLOGIA
Os caminhos e passos destas problematizações supracitados serão conduzidos através discursos
filosóficos que, de certo modo, desfazem o nosso modo habitual de pensar. A discussão buscará
recursos na filosofia da diferença de Gilles Deleuze e, sobretudo em seu livro Lógica do Sentido em que
aparecem questões sobre os conceitos de substância e acidente. A hierarquia entre a substância e o
acidente a afirma que a primeira possui mais ser do que o segundo. Quando pensamos em
desenvolvimento sustentável sempre pensamos no verde, acontece que no posicionamento filosófico
arcaico o verde sempre foi visto como algo que teria menos sustentabilidade doque a substância em que
estivesse localizado, grosso modo: numa árvore verde. A árvore teria muito mais substancialidade do
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que o verde, este seria um mero acidente e jamais poderia existir fora de algo que o sustentasse, no
caso, a á arvore sustentaria o verde. O livro Lógica do Sentido começa, em sua primeira série de
paradoxos: “Do puro devir”, citando Lewis Carroll e os paradoxos que aparecem em “Alice no país das
maravilhas”; em seguida encaminha-se para a parte propriamente filosófica, onde remete-se a Platão
para tratar da dualidade do limite e do ilimitado contida no Filebo. Os paradoxos em relação à
linguagem começam a aparecer, sendo o Crátilo também citado. Na segunda série de paradoxos: “Do
sentido”, através da distinção entre corpos e incorporais, os estóicos serão apresentados. Os estóicos,
diz Deleuze, são amantes dos paradoxos e estes são os incorporais, os efeitos de superfícies que
possuem uma natureza diferente da dos corpos. Os corpos possuem limites em seus contornos, ações e
paixões que emanam de suas profundidades. Já os incorporais são ilimitados, impassíveis, efeitos que
acontecem na superfície dos corpos. Os acontecimentos têm suas diferenças para com os estados de
coisas, justamente por não apresentarem as características das coisas; não existem, mas antes
subsistem ou insistem nas coisas. Os acontecimentos ocorrem às coisas e são expressos pelas
proposições.
A partir da segunda série de paradoxos, Deleuze começa a apontar para a reversão que os estóicos
operam na filosofia. De inicio, poderíamos dizer que essa reversão tem em vista dois filósofos: Platão e
Aristóteles. Em relação a Platão, estabelece-se a seguinte diferença: a Idéia platônica deixa de ser um
modelo, uma causa exemplar, para constituir-se como um efeito de superfície; os estóicos consideram
efeitos todo o tipo de idealidades, ou seja, os exprimíveis: não as coisas, mas aquilo que se pensa e se
diz sobre elas. Os corpos, com suas tensões e limites, têm as características da substância. A diferença
para com Aristóteles dá-se justamente em relação às categorias que se reportam à substância. É nesse
sentido que podemos constatar a inovação estóica; o acidente em Aristóteles se diz como ser no outro,
ou seja, sem a substância não seriam; donde se conclui que possuiriam hierarquicamente um nível
inferior à substância. Os estóicos, segundo Deleuze, apoiado em Emile Bréhier e Victor Goldschimdt,
revertem esse procedimento por apontarem para os corpos como possuidores de ser, o que impede que
existam graus hierárquicos no interior de sua substancialidade. Tomemos como exemplo uma árvore
verde: para Aristóteles essa árvore seria uma substância, por ele denominada o ser em si; o acidente
verde possuiria um grau inferior ao da substância árvore por existir em função dela. Desse modo, os
estóicos revertem Aristóteles por dizerem que a árvore e o verde possuem ser, mas que o verdejar é um
acontecimento na superfície da árvore verde. A hierarquia em relação ao Ser é destituída em prol de
outra relação que envolve os corpos e os incorporais (os acontecimentos, os ventos. O termo mais alto,
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diz Deleuze, não é mais o Ser, mas Alguma Coisa, que envolve os corpos e os incorporais. Os filósofos
antigos são importantes para a compreensão da natureza como ser vivo. Os antigos diriam o verdejar,
um acontecimento, ao mesmo tempo no passado e futuro. O conceito de sustentabilidade implica a
determinação do futuro.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A filosofia antiga, como sabemos, é um forte pilar para a compreensão dos diversos temas que
percorrem a história da filosofia. O nosso trabalho procurará também demonstrar a sua importância
para o ensino filosófico. Donde, podermos dizer que o estudo da lógica dos estóicos servirá de
pedagogia para a compreensão, por exemplo, da diferença entre a lógica dos termos e a lógica das
proposições. Torna-se oportuno afirmar que o termo lógica foi forjado pelos estóicos; antes deles, o
modo correto e coerente de raciocinar era o que Aristóteles chamava de analítica. Os estóicos admitem
que no limite dos corpos e das coisas ocorrem efeitos de superfície. É no plano da física que se
encontram os corpos com seus limites e tensões internas. Os corpos são causas uns para os outros de
certos efeitos de superfície. O plano da lógica diz respeito aos incorporais, aos acontecimentos e aos
laços dos efeitos entre si. A importância que Deleuze dá ao sentido, como acontecimento incorporal —
que não possui as características de uma coisa e nem de um estado de coisas — permite-lhe considerar
que os estóicos tratam positivamente aquilo que Platão chamava de simulacro. O que seria essa
positividade? Platão dava o nome de simulacro a tudo aquilo que se furtava à Idéia. Os estóicos
concebem que, no limite dos corpos, dão-se os acontecimentos; os quais são expressos pela proposição.
Os simulacros platônicos sobem à superfície e tornam-se sentido. Não podemos deixar de observar a
importância desse ponto, uma vez que o sentido torna-se objeto de uma filosofia. Os incorporais
estóicos dividem-se em quatro modos: o exprimível, o vazio, o lugar e o tempo. O exprimível é tratado
com um estatuto “positivo”, ou seja, é o que nos permite falar dos acontecimentos que ocorrem no
mundo, envolvendo as coisas e os estados de coisas.
O estatuto do sentido, a partir da filosofia estóica, tem no exprimível, no lekton, seu ponto de partida.
Deleuze, na Lógica do sentido, procura mostrar os filósofos que tratam o sentido de modo direto,
fazendo-o aparecer na fronteira entre as proposições e as coisas. Pela via dos incorporais, ele acredita
que temos um novo modo de pensar a lógica, sobretudo pelo fato do princípio de não-contradição não
atingir os incorporais. (Desde Aristóteles, esse princípio fundamenta e garante a verdade das premissas
e, conseqüentemente, permite observar se de premissas verdadeiras seguem-se necessariamente
conclusões verdadeiras; ou seja, a prova da validade dos argumentos). Nesse livro, ele também
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estabelece uma relação entre o sentido e o tempo, destacando a dimensão presente — que pertence
aos corpos, o reino de Cronos; e o tempo dos incorporais, denominado Aion. Na linguagem, o
substantivo e os verbos apareceriam relacionados respectivamente a essas dimensões do tempo.
Os resultados dessas apresentações foram altamente positivos, estas constatações foram observadas
quando as mesmas foram apresentadas em eventos que tinham como proposta discutir filosofia e
sustentabilidade nas escolas de ensino médio na região Cariri Cearense.
CONCLUSÃO
O presente trabalho afirma a importância do ensino da filosofia através dos conceitos de diferença e
temporalidade. A visada deste trabalho é aquela de contribuir para novas formas de sociabilidades. A
elaboração de ações de extensão, que possibilitem a ampliação dessas discussões entre os cidadãos, é
tônica deste trabalho. Neste sentido, pensar a sustentabilidade através dos conceitos de diferença e
temporalidade é de grande valia para a educação das gerações futuras no sentido de encaminhá-las
para a preservação ambiental e dos valores culturais.
REFERÊNCIAS
CRAIA, E. A problemática ontológica em Deleuze, Cascavel, Edunioeste, 2000.
DELEUZE, G. Logique du sens. Paris: Les éditions de Minuit, 1969.
________ . Lógica do sentido. São Paulo: Perspectiva, 1974.
________. O que é a filosofia? Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.
CHACON, Suely. S.
O Sertanejo e o Caminho das Águas: Políticas públicas, modernidade e
sustentabilidade no Semi-árido. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 2007.
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