A CONTRIBUIÇÃO DOS GREGOS À CIÊNCIA LINGÜÍSTICA Primeiros a se interessar pela linguagem como manifestação da vida humana. O homem sempre buscou respostas para perguntas que ele mesmo vem se fazendo: o que são as palavras e para que servem; por que, como e para que o ser humano fala; por que existem línguas diferentes; por que há diferenças entre o modo de falar de pequenos grupos, etc. Essa curiosidade levou ao surgimento de investigações lingüísticas em vários centros de civilização, cada qual com suas descobertas e contribuições, para a constituição da ciência da linguagem. A Lingüística só adquiriu status de ciência, a partir do século XIX. O que se fazia antes, eram apenas estudos assistemáticos e irregulares de alguns fatos da linguagem, numa perspectiva exclusivamente normativa ou prescritiva ou sob a forma especulações, misturadas com estudos de Filologia, a respeito da origem da linguagem. Primeira conquista lingüística: Aproximadamente em 1000 a.C. - alfabeto para o grego Fonte das formas de escrita mais Pedra angular da amplamente erudição lingüística difundidas no da Grécia mundo de hoje Desenvolvimento e uso da escrita Grámmata: aquele que entendia do uso das letras Techné Grammatiké: arte de ler e escrever Desde o século V, com Sócrates, Platão e Aristóteles já se pode encontrar observações sobre a linguagem, mas apenas com os estóicos é que os estudos lingüísticos passam a constituir um campo de estudos separado, dentro do vasto campo da Filosofia. Estoicos: gregos partidários do estoicismo (designação comum às doutrinas dos filósofos gregos, seguidores de Zenão, caracterizadas sobretudo pela consideração do problema moral, que constitui a ataraxia – estado em que a alma, pelo equilíbrio e pela moderação na escolha dos prazeres sensíveis e espirituais, atinge o ideal supremo da felicidade – o ideal do sábio). AS CONTRIBUIÇÕES DOS FILÓSOFOS 1. Platão: Primeiro a dedicar-se às investigações sobre os fenômenos da linguagem (Crátilo). Procedeu a uma divisão fundamental da frase em dois componentes: um nominal (ónoma) e outro verbal (rhema). O Crátilo e a Natureza dos Nomes (Fragmento) O texto apresenta uma discussão a respeito do diálogo platônico “Crátilo: sobre a justeza dos nomes”. Nesse diálogo, Sócrates discute com Hermógenes e Crátilo a respeito da origem dos nomes. Se para o primeiro, o nome é o resultado de uma convenção, para Crátilo, os nomes fazem parte da natureza dos objetos. Reflete-se nas falas dos dois contendores, guiados por Sócrates, o interesse filosófico dos gregos pela linguagem que se perguntavam se seria o nome resultado de uma convenção, ou um produto da natureza. Sem apresentar uma resposta definitiva para a questão, a discussão que se encaminha no diálogo a respeito da linguagem e do conhecimento responde por sua importância e atualidade, como entendem estudiosos do tema. 2. Protágoras Definiu os diferentes tipos de frase, atribuindo-lhes determinado valor semântico genérico, que são desejo, pergunta, declaração e ordem. Reconheceu a categoria nominal do gênero (masculino / feminino). 3. Aristóteles Manteve a divisão da frase em dois componentes, mas acrescentou uma terceira classe de componente sintático, a dos syndesmoi, que compreendia o que mais tarde se chamou conjunção, artigo e pronome, a qual incluía, possivelmente, as preposições, embora isso não esteja claro nos exemplos citados. Para Aristóteles, a frase (lógos) é mais abrangente que a palavra no nível semântico, pois, ao contrário das palavras isoladas, ela afirma ou nega um predicado, ou faz uma declaração existencial. Em oposição a ónoma definiu rhema como portador de uma referência temporal e como representante do predicado. Reconheceu a categoria de gênero dos nomes, fazendo um levantamento de algumas terminações que serviam tipicamente para marcá-la. A indicação de tempo, apontada por Aristóteles, é apenas um dos valores das formas verbais do grego, que compreendem duas dimensões semânticas: a) A referência temporal; b) A oposição entre ação acabada e inacabada ou contínua. Aspecto Tempo incompleto completo Presente Passado Presente Perfeito Exemplos: 1. Pedro estuda em São Paulo. 2. Pedro estudou em São Paulo. 3. Pedro estudava em São Paulo. 4. Quando cessou o fornecimento de energia elétrica, Pedro já estudara. Imperfeito Mais-queperfeito Ação não concluída, ainda em curso. Ação concluída, terminada no passado. Ação não concluída, ainda em curso, no passado. Ação concluída, terminada no passado, anterior a outra também concluída no passado DIVISÃO DAS CLASSES GRAMATICAIS, SEGUNDO ARISTÓTELES Ónoma (nome): parte do discurso que possui flexão de caso e que significa pessoa ou coisa; rhema (verbo): parte do discurso sem flexão de caso, mas flexionada em tempo, pessoa e número, que significa atividade ou processo executado ou experimentado; metoché (particípio): parte do discurso que compartilha as características do verbo e do nome; árthron (artigo): parte do discurso que possui flexão de caso e que vem antes ou depois dos nomes; antonymía (pronome): parte do discurso que se pode substituir por um nome e que leva a marca de pessoa; próthesis (preposição): parte do discurso que se coloca antes de outras palavras no domínio da composição ou da sintaxe; epírrhema (advérbio): parte do discurso que não flexão e que modifica ou acompanha o verbo; sýndesmos (conjunção): parte do discurso que funciona como elemento de ligação e que ajuda na interpretação do enunciado. 4. Os estóicos 1. a lingüística conquistou espaço definitivo dentro do contexto da filosofia, com obras mais específicas e sistematicamente organizadas; 2. formalizaram a distinção entre forma e sentido; 3. trataram, em separado, a fonética, a gramática e a etimologia; 4. desenvolveram progressivamente a teoria e terminologia gramaticais. ___________________________________________________ Além das indagações filosóficas e lógicas outra motivação se fazia sentir, em relação aos interesses dos antigos sobre a linguagem : o estudo do estilo literário, pois, primeiramente, houve uma preocupação com a gramática e a pronúncia “corretas”, que eram as do grego clássico. AS CONTROVÉRSIAS DOS GREGOS Desde o início, as questões de linguagem, tendo sempre por base o grego, foram tratadas em termos de duas controvérsias: a discussão entre os defensores da natureza (phýsis) e os partidários do princípio da convenção (nómos ou thésis); o debate entre analogistas e anomalistas. As regularidades que os analogistas procuravam eram as dos paradigmas formais ( por exemplo, as palavras de mesma categoria gramatical tinham idênticas terminações, como em “salvamento” e “discernimento” ); a fala humana e a nossa própria compreensão de como ela funciona estariam sob o domínio do princípio da regularidade Buscavam ainda descobrir regularidades entre forma e significado, tentando mostrar que palavras comparáveis quanto à forma deveriam ter também significados comparáveis ou “análogos” e vice-versa. Esses estudos levaram à descoberta dos padrões regulares das línguas, que foram deduzidos dessa analogia, sem a qual os paradigmas de diferentes classes e subclasses de palavras (inicialmente declinações e conjugações em latim) não poderiam ter sido definidos. Na opinião dos anomalistas, estariam sob o domínio do princípio da irregularidade ou anomalia: tratavam das irregularidades (o que não segue um padrão); Demonstraram notável compreensão da estrutura semântica da linguagem, ao rejeitar a equação “uma palavra, um significado”, revelando que os significados das palavras não existem isoladamente e podem variar de acordo com o contexto em que são empregadas. De uma maneira geral, o debate gira em torno da importância da ordem da regularidade (analogia) e das irregularidades (anomalias) - a língua possui maior número de regularidades ou de irregularidades? - primeiro do grego e depois, por implicação das línguas em geral. estóicos Aristóteles 1. Controvérsia natureza/convenção 2. Controvérsia analogia / anomalia Aristóteles estóicos Rejeitaram a equação “uma palavra, um significado” – variação de acordo com o contexto. Gregos – três estudos principais: etimologia/ fonética (pronúncia)/ gramática Pouco conseguiram Mais progressos – definição da sílaba como unidade estrutural. Muitos progressos: classes de palavras e outros Primeira gramática da língua grega (a.C.) Techné Grammatiké – Dionísio de Trácia Influência dos estóicos. Sua obra permaneceu como obra básica, durante 13 séculos (oito classes de palavras – nome, verbo, particípio, artigo, pronome, preposição, advérbio e conjunção) Naquela época, a descrição gramatical teve como base a palavra e o paradigma e não se chegou a desenvolver uma teoria do morfema. menor elemento significativo individualizado num enunciado, que não pode se dividir em unidades menores, para um outro nível de análise: o dos fonemas. Inatingível = in + ating + í + vel Cantamos = cant + a + mos