Estoicismo helênico João Paulo Filgueiras1 Quando os antigos gregos foram conquistados por seus vizinhos macedônios suas cidades-estados começaram a entrar em decadência. A filosofia deixou de ser uma forma dialética de pensar livremente sobre o mundo e uma forma de vencer os argumentos dos rivais em discussões políticas. Agora o importante era refletir sobre o sentido da vida e encontrar formas de conviver com o sofrimento. O helenismo permitiu aos gregos conhecer melhor a cultura dos seus vizinhos do oriente. Um sincretismo entre as filosofias de vida epicurista e cínica com o conhecimento dos povos semitas deu origem ao estoicismo. Esta foi sem dúvida, a mais influente das filosofias do período. Os estóicos usaram o conhecimento dos antigos filósofos e especularam sobre aspectos da realidade, a diferença entre seu conhecimento e o da tradição socrática é que eles produziram um conhecimento dogmático – uma tradição semítica. Os pontos fortes de sua teoria foram entre outros, a sua resignação e indiferença diante do sofrimento; o universalismo e cosmopolitismo com que desconstruíram o “nacionalismo” das cidades estados gregas, já que seus principais representantes foram estrangeiros; a ideia de que embora se deva aceitar o destino, em casos em que a vida se torna insuportável se deve optar por um suicídio indolor; não fazia distinção entre as classes sociais, teve entre seus representantes de escravos ao imperador romano Marco Aurélio. Sua concepção do universo era muito avançado para o período e utilizava influências orientais, para criar uma concepção cíclica, comum aos povos antigos. Acreditavam que o universo era construído e destruído sistematicamente em períodos regulares de tempo. Esta concepção do cosmo é muito próxima à que a física atual usa nas teorias atuais, o Big Bang admite que o universo possa ser recriado após o seu final. Claro que atualmente a nossa concepção é muito mais sofisticada do que a dos estóicos. A filosofia estóica sobreviveu ao declínio da civilização helênica e foi adotada por membros da elite romana, e alguns a desafiaram e contestaram. A influência cresceu no fim do Império, pelos mesmos motivos que havia proliferado durante o declínio helênico, era uma forma de suportar a decadência de uma civilização envelhecida e doente que agonizava. Entre seus representantes romanos estão Sêneca, mestre de Nero, e o imperador Marco Aurélio. Foi também durante o período romano que os doutores da igreja, como Santo Agostinho, aplicaram alguns preceitos estóicos assim como o platonismo do período clássico na doutrina da igreja católica. Poucos trechos originais foram preservados dos filósofos helênicos, mas o seu conhecimento chegou aos nossos dias através da crítica dos pensadores romanos e cristãos, refletindo o período histórico em que foram inseridos. Muito do conhecimento dos antigos foi destruído durante as guerras da antiguidade e idade média, o que sobreviveu foi preservado pelos monges cristãos, muçulmanos e pelo Império Bizantino. Apesar disto, muitos filósofos, 1 É formado em História. pensadores e até mesmo blogueiros fazem citações a este movimento intelectual, o que é uma prova indelével de sua influência no mundo atual. Mesmo nos livros escolares do ensino médio e enciclopédias são frequentes referências a movimentos filosóficos do período helenístico, como o Cinismo que pregava indiferença aos costumes e às convenções sociais; Ceticismo que ensinava a duvidar de tudo; Epicurismo que pregava uma vida de prazeres regrados e estoicismo.