Monografia EVERTON DIDOLICH

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO
RIO GRANDE DO SUL
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS, CONTÁBEIS,
ECONOMICAS E DA COMUNICAÇÃO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM CONTROLADORIA E
GESTÃO EMPRESARIAL
A CRISE MUNDIAL DE 2007/08 E OS
CENÁRIOS ECONÔMICOS PARA IJUÍ ENTRE 2012 E 2014
EVERTON FONSECA DIDOLICH
ORIENTADOR: PROF. DR. ARGEMIRO LUIS BRUM
Ijuí (RS)
2012
1
EVERTON FONSECA DIDOLICH
A CRISE MUNDIAL DE 2007/08 E OS
CENÁRIOS ECONÔMICOS PARA IJUÍ ENTRE 2012 E 2014
Trabalho de conclusão de curso apresentado
no Curso de Pós-graduação Lato Sensu em
Controladoria e Gestão Empresarial do
Departamento de Ciências Administrativas,
Contábeis, Econômicas e da Comunicação da
Universidade Regional do Noroeste do Estado
do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ) como
requisito para obtenção do título de
Especialista.
Orientador: Prof. Dr. Argemiro Luis Brum
Ijuí (RS), fevereiro de 2012
2
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me dado força e coragem para enfrentar essa caminhada e todos os
percalços dessa trajetória.
À família, pelo apoio e dedicação que demonstraram no decorrer do curso e no dia-adia.
À minha namorada, pelo amor e por ter compreendido minhas ausências.
À Unijuí, aos colegas e professores do Curso de Pós-graduação Lato Sensu em
Controladoria e Gestão Empresarial, pelo ensinamento e amizade e, em especial, ao professor
orientador Prof. Dr. Argemiro Luis Brum, por ter acreditado que esta empreitada seria
possível, pela sabedoria e pelo conhecimento transmitidos, que possibilitaram a construção
desse trabalho.
3
RESUMO
O presente trabalho apresenta um estudo dos efeitos que a crise econômico-financeira de
2007/08 gerou na economia do município de Ijuí (RS), bem como os aspectos que originaram
a crise e a interpretação dos resultados macroeconômicos do município, dentre os quais o PIB,
PIB per capita, PIB valor adicionado, balança comercial e balança orçamentária. Estes
resultados foram subsídios para a análise e elaboração dos cenários econômicos para a
economia ijuiense no horizonte 2012-2014.
Palavras-chave: Crise econômico-financeira. Crescimento econômico. Cenários econômicos.
4
ABSTRACT
This paper presents a study of the effects that the economic and financial crisis of 2007/08
generated in the economy of the city of Ijuí (RS), as well as areas where the crisis originated
and interpretation of the macroeconomic results of the city, among which the GDP GDP per
capita, GDP value added, trade balance and budget balance. These results were useful in
analyzing and preparing the economic scenarios for the economy ijuiense the horizon 20122014.
Keywords: Economic and financial crisis. Economic growth. Economic scenarios.
5
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Divisão territorial do RS em 1912, com destaque para Ijuí ...................................... 13
Figura 2: Mapa da divisão territorial do RS com destaque para Ijuí........................................ 15
Figura 3: Mapa estratégico do Rio Grande do Sul (Agenda 2020) .......................................... 40
6
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Taxa de juros norte-americana % (FED) Funds e Regra de Taylor ....................... 26
Gráfico 2: Perspectivas para economia mundial (1980-2016) ................................................. 33
Gráfico 3: Perspectivas de crescimento econômico por país (2012)........................................ 34
Gráfico 4: Perspectivas de crescimento econômico por país (2013)........................................ 34
Gráfico 5: Perspectivas de crescimento econômico por país (2014)........................................ 35
Gráfico 6: PIBpm de Ijuí .......................................................................................................... 45
Gráfico 7: PIB Per capita de Ijuí .............................................................................................. 46
Gráfico 8: PIB (Valor Adicionado 2009) de Ijuí...................................................................... 46
Gráfico 9: Variação percentual do PIB de Ijuí ......................................................................... 47
Gráfico 10: Balanço Orçamentário de Ijuí. Receitas x Despesas ............................................. 49
Gráfico 11: Balança Comercial de Ijuí – RS ............................................................................ 50
Gráfico 12: Média mensal da cotação do Dólar ....................................................................... 50
7
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Área territorial de Ijuí ............................................................................................... 15
Tabela 2: Resultados de gestão – 2007/2008............................................................................ 41
Tabela 3: PIB 2009 – Municípios com maior e menor crescimento vs RS.............................. 48
Tabela 4: Cenários Econômicos para o município de Ijuí entre 2012/2014............................. 52
8
LISTA DE ANEXOS
Anexo I: PIBpm e PIB per capita de Ijuí (2003 – 2009) .......................................................... 60
Anexo II: Variação (%) do PIB de Ijuí..................................................................................... 61
Anexo III: PIB valor adicionado (2006 – 2009)....................................................................... 62
Anexo IV: Balanço Orçamentário de Ijuí (2008 – 2011) ......................................................... 63
Anexo V: Balança Comercial de Ijuí (2005 – 2011) ................................................................ 64
Anexo VI: Média mensal da cotação do Dólar Comercial para Venda.................................... 65
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 11
1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO.............................................................................. 12
1.1 Área de Conhecimento Contemplada ................................................................................. 12
1.2 Caracterização .................................................................................................................... 12
1.3 Problematização do Tema .................................................................................................. 16
1.4 Objetivos............................................................................................................................. 16
1.4.1 Objetivo Geral ................................................................................................................. 16
1.4.2 Objetivos específicos....................................................................................................... 16
1.5 Justificativa......................................................................................................................... 17
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................................. 19
2.1 Ciclos Econômicos ............................................................................................................. 19
2.2 Globalização Econômica .................................................................................................... 21
2.3 Principais Crises Econômicas do Século XX ..................................................................... 23
2.4 Aspectos da Atual Crise Econômico-financeira de 2007/2008 .......................................... 25
2.5 Tendência para a Economia Mundial ................................................................................. 31
2.6 Tendências para a Economia Brasileira.............................................................................. 37
2.7 Tendências para a Economia do Rio Grande do Sul .......................................................... 39
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................................... 42
3.1 Classificação da Pesquisa ................................................................................................... 42
3.2 Desenho da Pesquisa .......................................................................................................... 43
3.3 Coleta de Dados.................................................................................................................. 43
3.4 Análise e Interpretação dos Dados ..................................................................................... 43
10
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................. 45
4.1 Cenários Econômicos para Ijuí........................................................................................... 51
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 54
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 57
ANEXOS .................................................................................................................................. 59
11
INTRODUÇÃO
O presente aborda o tema “A crise mundial de 2007/08 e os cenários econômicos para
ijuí entre 2012 e 2014”, em que foram analisados os possíveis efeitos da crise econômicofinanceira ocorrida em 2007/08 na economia do município de Ijuí-RS.
O trabalho está estruturado em quarto capítulos. O primeiro capítulo aborda a
contextualização do estudo, onde é analisada a crise econômico-financeira mundial e os
respectivos efeitos para a economia ijuiense, com o intuito de definir a situação atual da
economia do município de Ijuí. Nesse sentido, o estudo visa levantar os principais resultados,
principalmente da economia do município de Ijuí-RS, para, a partir desses dados e com a
utilização de um modelo, elaborar cenários econômicos para o período de 2012-2014 para a
economia ijuiense. Ainda, caracteriza o município de Ijuí, expõe o problema, os objetivos e a
justificativa do trabalho.
O segundo capítulo faz uma breve revisão bibliográfica, que define a atual situação da
economia mundial, a brasileira, a do estado do Rio Grande do Sul e a de Ijuí. Em
complemento à contextualização da economia, apresenta-se o modelo que foi adotado para a
elaboração dos cenários econômicos para os próximos anos.
O terceiro capítulo apresenta a metodologia utilizada para a elaboração do estudo, com
a descrição da classificação da pesquisa, do desenho da pesquisa, da coleta de dados e do
plano de análise e interpretação dos dados.
Por fim, o quarto capítulo analisa os resultados da pesquisa e o quadro comparativo
dos prováveis cenários para a economia ijuiense para os próximos anos. Finaliza-se com a
conclusão da pesquisa e com a bibliografia utilizada para elaboração do estudo.
12
1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO
Este capítulo traz uma breve contextualização do tema, buscando definir a amplitude
do objeto em análise.
1.1 Área de Conhecimento Contemplada
Com a globalização, há desequilíbrios na economia em âmbito mundial. A partir de
2007/08, a economia brasileira sentiu fortemente esse desequilíbrio econômico devido à crise
ocorrida nos EUA, pois sofre influência do que ocorre neste país. No entanto, alguns países
sofrem menos os efeitos da crise, como o caso do grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).
Assim, dentre as economias emergentes, o Brasil é um dos países que melhor consegue
enfrentar a atual crise, porém existem efeitos importantes da mesma sobre sua economia.
Esta pesquisa visa estudar tais efeitos em uma dimensão microeconômica, ou seja, a
partir da economia do município de Ijuí-RS. Para tanto, buscou-se construir alguns cenários
econômicos para o período 2012-2014 à luz das implicações causadas pela crise mundial de
2007/08.
1.2 Caracterização
O atual município de Ijuí não existia até a segunda metade do século XIX, quando o
Governo da Província mandou abrir uma picada costeando o Rio Conceição, para reduzir o
trajeto entre Cruz Alta e Santo Ângelo. Os primeiros moradores foram os peões, responsáveis
pela limpeza da mata, em sua maioria famílias indígenas, e, posteriormente, pelos imigrantes
afro-brasileiros, luso-brasileiros e descendentes de imigrantes europeus que se instalaram na
região, principalmente famílias de origem italiana. Essa grande miscigenação de etnias se
perpetua até hoje e caracteriza Ijuí como “Terras das Culturas Diversificadas”.
A colônia de Ijuhy (que na língua Guarani significa “Rio das Águas Claras” ou “Rio
das Águas Divinas”) foi inaugurada em 19 de outubro de 1980 com 18 etnias entre seus
povos. A política adotada para o governo atrair novas colônias foi oferecer 1.000 lotes, de 25
hectares cada, além das subvenções despendidas aos colonos, para que pudessem cumprir
com seus compromissos, além de gerar excedentes para o crescimento regional. Surgiu, então,
13
o comerciante na cidade, que, aliado à construção da estrada de ferro, em 19 de outubro de
1911, impulsionou ainda mais o intercâmbio de mercadoria na região (IJUÍ, 2009).
Por Decreto, de 30 de janeiro de 1912, foi criado o município de Ijuhy, em 2 de
fevereiro de 1912. O mapa a seguir representa a localização territorial do município.
Figura 1: Divisão territorial do RS em 1912, com destaque para Ijuí
Fonte: Ijuí (2009).
Ijuí apresentou duas etapas na estrutura da sua cadeia produtiva. Com um modelo de
policultura de subsistência, no início de sua colonização, o município iniciou um modelo de
produção agrícola baseada na produção de trigo-soja, a partir dos anos 60. Somente a partir de
1972, por meio de incentivos governamentais e dos lucros crescentes, a monocultura da soja
passou a ser a principal cultura da região, modelo este que se estende até os dias atuais. Além
disso, outros fatores foram importantes para o desenvolvimento da economia local:
- 1911: Estrada de ferro (intensificação das transações de mercadorias);
- 1917: Iluminação elétrica (Rua do Comércio);
- 1923: Inauguração de Usina própria (Rio Potiribú);
- 1948: em 5 de outubro entrou em funcionamento uma turbina a vapor;
14
- 1951: em 10 de setembro o grupo Diesel;
- 1959: entrou em funcionamento o 1° grupo gerador na usina de Passo de Ajuricaba;
- 1976: entrou em funcionamento o 2° grupo gerador na usina de Passo de Ajuricaba
(IJUÍ, 2009).
Com os respectivos avanços, que, em sua maioria, foram no setor de automação
energética, o município se desenvolveu regionalmente e hoje é capaz de produzir quase toda a
energia que consome, além deste setor ser de domínio do Poder Público Municipal.
Com relação à disposição territorial, o município de Ijuí passou por mudanças assim
como todo o território do estado. Em 1912, o estado foi dividido em 68 municípios e, em
decorrência do processo de expansão, devido à colonização e à emancipação, o Rio Grande do
Sul, conta, hoje, com 496 municípios. Desde a emancipação, em 1912, até hoje, Ijuí passou
por diversas emancipações:
- 1961: Emancipação de Catuípe;
- 1965: Emancipação de Ajuricaba;
- 1992: Emancipação de Coronel Barros;
- 2001: Emancipação de Bozano e Boa Vista do Cadeado (IJUÍ, 2009).
Durante esse período, o território de Ijuí teve sua área territorial reduzida. Contava
com 0,711% da área do estado, que foi reduzida para 0,245%, como pode ser visualizado na
tabela 1.
15
Tabela 1: Área territorial de Ijuí
ANO
1912
1961
1965
1992
2001
ÁREA (Kms²)
2002
1971
1053
904
689
% NO RS
0,711
0,700
0,374
0,321
0,245
Fonte: Ijuí (2009, p. 22).
Após a redistribuição dos municípios no estado, Ijuí ficou com as seguintes
dimensões:
Figura 2: Mapa da divisão territorial do RS com destaque para Ijuí
Fonte: Ijuí (2009, p. 24).
16
Atualmente, Ijuí apresenta as seguintes características:
- Área: 689,1 km²;
- População: 78920 hab.;
- Densidade Demográfica: 114,5 hab/km²;
- PIBpm (2008): R$ 1.432.481;
- PIB per capita (2008): R$ 18.039;
- Exportações Totais (2008): US FOB 9.781.399 (FEE, 2012).
1.3 Problematização do Tema
Em decorrência da instabilidade econômica dos Estados Unidos, ocasionadas pelo
ciclo de concessões de crédito que resultaram na famosa crise do subprime, eclodida em 2007,
a economia mundial entrou em recesso em determinados momentos, nestes últimos cinco
anos. Para muitos, essa foi a maior crise dos últimos 80 anos, desde a crise de 1929. Nesse
sentido, questiona-se: “Quais são os efeitos dessa crise sobre a economia de Ijuí-RS? Quais
os cenários que se apresentam para a economia de Ijuí-RS, no período de 2012/14, à luz dos
efeitos provocados pela crise mundial iniciada em 2007/08?”
1.4 Objetivos
1.4.1 Objetivo Geral
Analisar os efeitos da crise econômico-financeira de 2007/08 e as consequências sobre
a economia ijuiense com vistas à construção de cenários econômicos para o triênio 20122014.
1.4.2 Objetivos Específicos
a) Construir um referencial teórico que indique a evolução recente da economia mundial
e nacional;
b) Definir as principais debilidades e as potencialidades que influem no desenvolvimento
da economia de Ijuí, a partir da crise;
c) Elaborar cenários para a economia ijuiense para os próximos três anos (2012-14);
17
d) Formular um quadro comparativo dos cenários econômicos.
1.5 Justificativa
Os ciclos econômicos são uma variação periódica de altos e baixos no comportamento
da economia de um ou mais países, podendo assumir características mundiais. Segundo
Shumpeter (1939), os ciclos econômicos podem ser divididos em quatro fases: boom,
recessão, depressão e recuperação. Nos anos que antecederam à crise atual, a economia
mundial atravessou o período de boom econômico, impulsionada pela especulação dos
mercados acionários. Esse período pelo qual passou a economia mundial foi conhecido como
“Grande Moderação”, onde o Produto Interno Bruto (PIB) estadunidense viu reduzida sua
volatilidade a partir de 1983. Com isso, muitos consideraram que a economia mundial
atravessava um período de estabilidade e que estaria mais resistente aos desequilíbrios
econômicos inerentes ao processo de seu avanço, numa lógica cada vez mais regida pelo
mercado e o liberalismo econômico.
Esse processo ocorreu nos últimos anos da década de 1980 e toda a década de 1990.
Todavia, em 2001, os primeiros sinais de problemas na engrenagem começaram a surgir. A
crise das empresas “pontocom”, ligadas aos negócios via internet, mostraram que o mundo
estava cada vez mais especulativo, em detrimento da produção. Para não frear a economia, o
governo dos EUA reduziu os juros e estimulou o consumo junto ao setor imobiliário. Os
empréstimos foram facilitados até mesmo para pessoas e empresas inadimplentes. Esse fato
gerou, em 2007/08, a crise do subprime, que foi o estopim da crise mundial na medida em que
provocou a quebra de muitas empresas na economia real, a começar pelo Banco Lehman
Brothers. Isso provocou a perda de confiança na solidez do sistema financeiro dos EUA e,
como consequência, pelo seu “efeito cascata”, no sistema financeiro mundial, em particular
europeu.
Esse assunto, de tanta relevância, é estudado exaustivamente pela maioria dos
pesquisadores, mas com destaque para a amplitude global. Mas, e os efeitos nas pequenas
economias municipais brasileiras? Esta pesquisa teve a pretensão de trazer alguns aspectos
dos efeitos desta crise econômico-financeira nesta dimensão microeconômica, tomando como
referência a economia do município de Ijuí (RS).
18
Para tanto, foram elaborados cenários econômicos para a economia ijuiense no período
2012-2014, a fim de que os mesmos sirvam de instrumento de análise do quadro local. Os
cenários econômicos são um instrumento de análise que podem servir de base para a tomada
de decisão dos principais agentes econômicos de uma dada economia. Além disso, o estudo
permite o levantamento de um referencial teórico sobre os efeitos da crise numa economia
local. Por fim, este Trabalho de Conclusão de Curso tem uma importância pessoal, servindo
de auxílio para a tomada de decisões que o cargo de analista financeiro do Instituto de
Previdência dos Servidores Públicos do Município de Ijuí (PREVIJUÍ) exige do acadêmico.
19
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Para o estudo relacionado aos efeitos da crise econômico-financeira, é de extrema
importância o entendimento de suas características, bem como o processo de desenvolvimento
dos ciclos econômicos e seus aspectos fundamentais, que exemplificam o processo de
desenvolvimento e a consequente recessão. Esses e outros elementos que norteiam os estudos
sobre a crise financeira são abordados nesse capítulo.
2.1 Ciclos Econômicos
Ao analisar as crises econômicas e as depressões dos negócios, uma das tendências
que se tem é explicar por acontecimentos, como guerras, erros políticos, problemas sociais
etc., e com razão, pois para cada ciclo de depressão apresentam-se características peculiares
que podem servir de parâmetro para explicar a crise. Como exemplo, pode-se citar o ataque
terrorista, ocorrido nos EUA, em 2001; a guerra no Afeganistão ou a deflação política de
muitos países, entre outros acontecimentos.
Fatores como esses podem influenciar nos resultados econômicos. No entanto, não
explicam os ciclos econômicos. Mesmo com a ausência de todas as variáveis externas, ainda
assim ter-se-iam as variações econômicas, pois a própria economia caracterizaria os ciclos
econômicos. Nesse sentido, os períodos de depressão seriam mais suaves, mas existiriam, em
decorrência do efeito dos ciclos econômicos.
É importante conhecer os fatos antes de tentar explicá-los, portanto, analisar os
elementos externos e a organização dos ciclos econômicos é essencial para interpretá-los.
Durante o século XX, muitas pesquisas foram dedicadas à caracterização empírica do ciclo de
negócios. Exemplo importante deste trabalho foi de Burns e Mitchell (1946, p. 43), que
definem os ciclos como:
Ciclos de negócios são um tipo de flutuação encontrada na atividade agregada
econômico das nações que organizam o seu trabalho, principalmente em empresas:
um ciclo consiste em expansões ocorrendo em aproximadamente ao mesmo tempo
em muitas atividades econômicas, seguida por recessões semelhante geral, as
contrações, e recuperação que se fundem em fase de expansão do ciclo seguinte;
essa seqüência de mudanças é recorrente, mas não periódicos, em ciclos de negócios
duração variam de mais de um ano para dez ou 12 anos, não são divisíveis em ciclos
mais curtos de caráter semelhante.
20
Burns e Mitchell (1946) destacam cinco pontos principais sobre um ciclo econômico:
1.
Os ciclos econômicos são flutuações da atividade econômica agregada e não de
uma variável específica;
2.
Há expansões e contrações da atividade econômica;
3.
As variáveis econômicas mostram co-movimentos – e eles apresentam padrões
regulares e previsíveis ao longo do ciclo econômico;
4.
O ciclo econômico é recorrente, mas não periódico;
5.
O ciclo econômico é persistente.
Schumpeter (1984) vai além. Insere a importância dos empresários audaciosos, que
são responsáveis pelas atividades de inovação que ocorrem em determinado período. Esse
processo de inovação é responsável para período de expansão necessário para o boom
econômico após o período de depressão. Nesse sentido, esse processo não é continuo e sofre
descontinuidade temporal, fazendo com que a economia se desenvolva através de períodos de
expansão e de depressão. Segundo o autor,
Essas revoluções não são permanentes, num sentido estrito: ocorrem em explorações
discretas, separadas por períodos de calma relativa. O processo, como um todo, no
entanto, jamais para, no sentido de que há sempre uma revolução ou absorção dos
resultados da revolução, ambos formando o que é conhecido como ciclos
econômicos (SCHUMPETER, 1984, p. 93).
Desta forma, os ciclos econômicos são divididos em períodos de expansões e
contrações, mais precisamente em quatro fases: boom econômico, recessão, depressão e
recuperação. As flutuações originárias do ímpeto do capitalismo em sempre manter as
transformações na economia, e o movimento de inovação, impulsionam a avanços
econômicos, sendo esta a essência do capitalismo. As inovações oriundas das empresas
capitalistas e a concorrência do capitalismo geram o crescimento econômico, movimento este
que tem o seu auge (boom econômico) e os posteriores períodos de recessão ou depressão da
economia, devido aos limites da cadeia produtiva, financeira, estagnação das inovações ou
políticas, reduzindo assim, o consumo e gerando um processo de estabilização econômica a
ponto de equilíbrio original da economia local.
21
2.2 Globalização Econômica
A globalização é um fenômeno que ocorre em escala mundial, e se verifica cada vez
mais pelas políticas liberais adotadas por diversos governos. Esse processo consiste em uma
integração de caráter econômico, social, cultural e político entre diferentes países. A
globalização aproximou o mundo na distância geográfica, cultural e econômica. Proporcionou
aos meios de transporte mais avanços, tornou os meios de comunicação instantâneos e fez a
economia expandir, aproximando cada vez mais os países e entrelaçando as suas relações.
Gonçalves et al (1998, p. 43) definem globalização da seguinte forma:
[...] a interação de três processos distintos, que tem ocorrido ao longo dos últimos
anos, e que afetam as dimensões financeira, produtivo-real, comercial e tecnológica
das relações econômicas internacionais. Estes processos são: a expansão
extraordinária dos fluxos internacionais de bens, serviços e capitais; o acirramento
da concorrência nos mercados internacionais; e a maior integração entre os sistemas
econômicos nacionais.
Assim, três fatores são preponderantes para a globalização. O primeiro é o
desenvolvimento tecnológico, diretamente associado à revolução da informática e das
telecomunicações. Esse processo está diretamente ligado à redução dos custos operacionais e
dos custos de transações, dinamizando tanto a cadeia produtiva quanto a financeira, e se
tornando um elemento importante para a agilidade na coleta de dados e informações do
desenvolvimento e tendência do mercado. Outro fator refere-se às políticas liberais, que
geraram a ascensão das relações comerciais entre as diversas econômicas, mas que tiveram
consequências importantes no endividamento externo dos países, fator que obrigou os países a
reestruturarem suas políticas fiscais, para estabilizarem suas economias diante das
instabilidades das taxas de juros e cambiais.
O último conjunto de fatores é de ordem sistêmica e estrutural. As economias
capitalistas maduras têm dificuldades de expansão da esfera produtiva-real, pois suas
economias domésticas já desenvolvidas apresentam dificuldades de crescimento, enquanto as
oportunidades de investimentos em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento
apresentam-se mais atraentes, em virtude dos custos de produção mais baixos e de incentivos
econômicos.
22
O liberalismo financeiro é uma das consequências do processo de globalização. A
abertura comercial facilita o direcionamento das poupanças para as mais diversas economias.
Hoje, com o mercado de capitais globalizado, os investidores podem flutuar as suas
aplicações para as economias que geram os melhores rendimentos, além de intensificar o
comércio exterior. Esse processo reduz o custo dos tomadores de empréstimos como também
as tarifas comerciais, favorecendo o investimento (fator preponderante para o crescimento
econômico) e elevando a produção mundial.
O estágio mais avançado do capitalismo está diretamente ligado à globalização. Esse
estreitamento entre as economias mundiais geram efeitos exponenciais a todos os setores.
Com a expansão da economia, diversos países podem ser beneficiados. A globalização já não
é mais questão de opção, é inevitável para qualquer país que pretenda o pleno
desenvolvimento econômico, e que queira fazer parte da integração mundial que está
acontecendo, para não sofrer prejuízo ou discriminação, por não acompanhar os movimentos
internacionais. Assim, diante da crescente busca por novos mercados, e demais parâmetros
adotados mundialmente, diversos efeitos econômicos emergiram. Desta forma, as
predisposições às flutuações econômicas deixam vulneráveis os países à volatilidade dos
fluxos internacionais, conforme salienta Jones (1995, p. 7):
A vulnerabilidade externa significa uma baixa capacidade de resistência das
economias nacionais frente a fatores desestabilizadores ou choques externos. A
vulnerabilidade tem duas dimensões igualmente importantes. A primeira envolve as
opções de resposta com os instrumentos de política disponíveis; e a segunda
incorpora os custos de enfrentamento ou de ajuste frente aos eventos externos.
A importância e as dimensões que a globalização tomou são uma realidade, sendo
primordial para a essência do capitalismo. Mas, o processo de globalização ainda é um
paradigma para os condutores das políticas econômicas, pois ao mesmo tempo que é essencial
para o crescimento econômico, gera uma vulnerabilidade ainda incontrolável. Políticas
monetárias e fiscais são ainda mais importantes para efeitos de estabilização econômica, mas
insuficientes. Nessa nova era, o capitalismo precisa remover obstáculos estruturais e definir
melhor o sistema financeiro mundial, a fim de definir o melhor mecanismo que projete ou
minimize os efeitos gerados pelas crises financeiras mundiais, que, atualmente, afetam todos
os países.
23
2.3 Principais Crises Econômicas do Século XX
As crises econômico/financeiras são uma condicionante natural dos ciclos
econômicos. A falta de liquidez de uma economia é o fator preponderante para os desajustes
econômicos, que são gerados pelo pessimismo dos agentes econômicos. Dentro dos ciclos
econômicos, existem os períodos em que as expectativas de expansão são maximizados pela
elevação da demanda por determinados ativos, baseados nas expectativas futuras. Essa
tendência gera as bolhas especulativas, que são a elevação da demanda por certos ativos te tal
forma que elevam seus preços, além das variações reais do mercado. Esse movimento é o
último estágio para a deflagração das crises econômicas, onde essa fase de depressão é
observada por Schumpeter (1959). Segundo o autor, “Interrompe a abastança, chega-se a
depressão, como bem explicita ainda SPIETHOFF: é superprodução dos bens de produção,
que se relacionam, por um lado, com o capital existente e, por outro, com a demanda efetiva”.
(1959, p. 280).
Os desajustes gerados pelo boom econômico geram os “efeitos domino” dentro da
economia, desestabilizando não só o sistema financeiro como a economia-real. Entre os
períodos de crise, destacam-se, conforme o Estadão (2012):
1929 – Quebra da Bolsa de Nova York: em outubro de 1929, as ações de Wall Street
começaram a acumular sucessivas e violentas quedas. Até 1932, as ações no mercado
americano perderam 90% de seu valor e um terço da população estava desempregada. Foi a
maior crise financeira da história dos EUA. Até hoje economistas teorizam a respeito das reais
causas da quebra da bolsa. O maior efeito sobre o Brasil foi a queda do preço do café, um dos
principais produtos de exportação do país.
1973 – Crise do Petróleo: com a Guerra do Yom Kippur, a Organização dos países
Árabes Exportadores de Petróleo decide cancelar a exportação de petróleo para países que
apoiaram Israel no conflito com o Egito e a Síria. Como resultado, os preços dos produtos
dispararam e atingiram a casa dos US$ 12, em 1974, quatro vezes mais do que no ano
anterior. Para o Brasil, o efeito mais forte foi a desaceleração do crescimento, iniciado com o
“milagre econômico”: de 9% para 4,6%, em 1978.
1979 – Segunda crise do Petróleo: em meio à Revolução Iraniana, Ayatollah
Khomeini assumiu o poder do país e passou a controlar a produção de petróleo, causando uma
segunda disparada nos preços do produto – potencializada pelos temores de racionamento
24
energético nos EUA. O valor do barril chegou perto dos US$ 40, o pico da década. No Brasil,
houve aumento no custo dos combustíveis e racionamento. A dívida do país inchou com os
crescentes custos da importação do petróleo. Além disso, o aumento dos juros nos EUA
contribuiu para elevar ainda mais a dívida.
1982 – Moratória Mexicana: o México atolou-se em uma crise que culminou com a
surpreendente moratória do governo mexicano, em agosto de 1982. Mais de 40 países
recorreram ao FMI, incluindo o Brasil, que viu a retração de seu PIB em 5% e a inflação
ultrapassar os 200%.
1987 – Queda histórica do índice Down Jones: em 19 de outubro de 1987, o índice
Down Jones sofreu a maior queda de sua historia em um único dia: 22,6%. A combinação de
temores com os empréstimos bancários, a desaceleração da economia e a desvalorização da
moeda americana injetou pânico nos mercados americanos e o temor se alastrou pela Europa e
pelo Japão. O Brasil quebrou novamente, suspendendo o pagamento da divida. Na ocasião,
como na atual crise, o Federal Reserve System (FED) e outros BCs do mundo rapidamente
intervieram, baixando taxas de juros. Na prática, foi a primeira crise que demonstrou o
potencial de rápido contágio do pânico num mercado financeiro globalizado.
1997 – Crise da Ásia: em 1997, um rápido processo de fuga de capitais e
desvalorização cambial entre os chamados Tigres Asiáticos – Tailândia, Malásia, Coréia do
Sul, Hong Kong, Indonésia e Filipinas – espalha medo nos mercados internacionais, em
grande parte pela surpresa de ver mercados suspostamente sólidos e confiáveis sucumbirem a
uma crise financeira. O mercado dos emergentes foi afetado, pela primeira vez, mas o Brasil
conseguiu passar.
1998 – Crise da Rússia: com a crise asiática, o preço das commodities caiu em todo
mundo e a Rússia, cuja economia depende largamente de exportação de commodities, como
gás natural e petróleo, declarou calote de sua divida externa privada de curto prazo. A
manobra acendeu a luz de alerta entre os investidores, que passaram a evitar mercados
emergentes. Após ter passado quase sem sentir os efeitos da crise da Ásia, o Brasil foi
afetado, enfrentando forte fuga de dólares. O governo reagiu, elevando a taxa de juros, que
chegou ao pico de 45% no inicio de 1999, e desvalorizando o Real, que até então mantinha a
paridade com o dólar.
2001 – Ataques terroristas: A semana mais violenta na história das bolsas do EUA, por
qualquer indicador financeiro. A queda de 1370 pontos no índice Down Jones foi uma das
piores do século, com os investidores perdendo mais de 8 trilhões de dólares, ou 10% do valor
25
total do mercado de ações. Uma recessão moderada atingiu os Estados Unidos, e surgiram as
primeiras advertências sobre os riscos no mercado imobiliário.
2008 – Crise imobiliária nos EUA: a crise que afetou o mercado financeiro nos EUA e
arrastou os negócios no mundo teve origem nas hipotecas americanas. Com o baixo juro e as
boas condições de financiamento, muitas pessoas compraram imóveis e se endividaram. O
juro subiu, a economia desaqueceu e a inadimplência aumentou. Os bancos que emprestaram
dinheiro começaram a mostrar o rombo. Além disso, o preço dos imóveis caiu. Pagando uma
prestação mais alta e com o valor do bem menor, os norte-americanos reduziram o consumo.
Às portas da recessão, os EUA anunciaram a maior reforma do sistema de regulamentação
financeira desde 1929. O plano mudou a forma como o governo regulamenta milhares de
negócios.
A “Grande Depressão”, de 1929, e a crise do “Subprime”, de 2008, tiveram suas
origens na falta de liquidez e a especulação do mercado durante os períodos de euforia. As
consequências que as respectivas crises geraram na economia foram diversas, entre elas:
perdas patrimoniais, quebra de instituições financeiras, cessação de pagamentos, controle de
capitais e a recessão ou depressão por longos períodos.
Em contrapartida, as medidas adotadas para a regularização da economia sempre
dependeram de auxílios externos. Os países (desenvolvidos) e os menos afetados nas
respectivas crises, e o FMI sempre foram cruciais para a re-estabilização econômica mundial
em movimento complementar aos ciclos econômicos.
2.4 Aspectos da Atual Crise Econômico-financeira de 2007/2008
A opção Greenspan pode ser a melhor forma de caracterizar a origem da atual crise
financeira. Enquanto William McChesney Martin, o mais renomado presidente do Federal
Reserve, por dezoito anos, adotava a linha de liberar o crédito em períodos difíceis, mas
sempre atento a re-estabelecer o crédito antes que as expansões voltassem a crescer, a opção
Greenspan foi contrária a essa política. Assim, foi o período em que o presidente do Federal
Reserve em questão, Alan Greesnpan (1987-2006), contrário às indicações de McChesney em
controlar as políticas monetárias expansionistas, iniciou os cortes dos juros no final de 2000,
quando começou a crise das empresas ponto-com, onde as taxas de juros, que eram de 6,5%
26
a.a., em dezembro de 2000, passaram para 3,5% a.a., em agosto de 2001 (MORAIS;
HINGEL, 2009). Desta forma, o FED intervinha na economia ao sinal de crise.
Morris (2009, p. 122) explica como ficou conhecido o período da “opção Greenspan”
e suas consequências:
Essa é a “opção Greenspan” não imporá o que dê errado, o Fed vai salvá-lo criando
dinheiro barato em quantidade suficiente para tirá-lo de suas dificuldade.
Mas há limites práticos para essa atuação. Só houve um presidente do Fed que
permaneceu no cargo por um período de taxas de juro negativas mais longo que o de
Greenspan. Foi Arthur Burns, que estabeleceu o duvidoso recorde de 37 meses
durante os anos Nixon-Ford-Carter, de 1974 a 1977. Mas sabemos como essa
historia terminou. Foram precisos Paul Volcker, uma recessão feia e uma década de
taxas de juro muito elevadas para consertar os estragos.
Com o adendo dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, a política monetária
expansionista adotada pelo FED persistiu. Após os ataques, os juros foram reduzidos de 3,5%
a.a para 1,75% a.a., em dezembro de 2001. Mas, o movimento de cortes da taxa de juros e a
manutenção das baixas taxas foram sustentadas até maio de 2004, contrariando McChesney e
a Regra de Taylor, que é uma regra para políticas macroeconômicas, onde Taylor considera a
taxa de juros de equilíbrio, inflação, PIB e outros fatores para definir a tendência para a taxa
de juros. Segundo a regra de Taylor, as taxas já deveriam ser elevadas a partir de dezembro de
2001 (MORRIS, 2009, MORAIS; HINGEL, 2009), como se pode analisar no gráfico a seguir:
Gráfico 1: Taxa de juros norte-americana % (FED Funds e Regra de Taylor)
Fonte: Portugal et al (2009, p. 27).
27
A opção Greenspan ficou caracterizada na economia norte-americana pela semelhança
entre a crise dos portfólios1 nos anos 1987 com a crise do subprime, e, lógico, devido às
políticas monetárias adotadas nos dois períodos. Devido à baixa capitalização dos bancos no
período, os reguladores das principais economias começaram a exigir regras mais duras para a
concessão de crédito. Assim, os bancos começaram as securitizações de suas obrigações
hipotecárias de garantidas (CMO – collateralized mortage obligations). Essas securitizações
visavam transformar as obrigações a receber dos bancos em ativos financeiros, com o intuito
de serem garantias bancárias contra a inadimplência das hipotecas feitas.
Como esses ativos não eram muito atraentes no mercado financeiro, foram
considerados de risco intermediário. Os bancos se valeram de alguns artifícios para atraírem
novos investidores. Morris (2009, p. 86) explica como era feita essa maquiagem desses
títulos:
As hipotecas eram transferidas para um trust, exatamente como em um repasse, mas
depois eram divididas horizontalmente em três segmentos, ou tranches, com títulos
diferentes em cada segmento. O truque era que os títulos da tranche superior, que
representavam, digamos, 70% do valor vendido, tinham prioridade para receber
todos os fluxos de caixa. Como é inconcebível que 30% de um portfólio de
hipotecas normal possa ficar inadimplente, os títulos dessa tranche obtinham uma
classificação AAA, supersegura, e pagavam rendimentos proporcionalmente baixos.
A segunda tranche em geral incluía os 20% de hipotecas seguintes e era vendida
com um rendimento um pouco maior, enquanto a terceira tranche, cobria os últimos
10%, era a primeira a absorver todas as perdas, mas podia pagar rendimentos muito
atraentes.
Esse novo sistema de securitização deu aporte financeiro e liquidez ao mercado,
elevando a independência do sistema financeiro. Desta forma, as securitizações trouxeram
maior diversificação do sistema financeiro com grande penetração no mercado e melhores
alternativas de prazos nas operações, assim como o controle mais eficiente de riscos para os
emprestadores de capital.
Posteriormente, os bancos começaram a se capitalizar através desses novos títulos,
além de começar a securitização das obrigações de empréstimo garantido (Collateralizes Loan
Obligations - CLO) e as obrigações de dívida garantida (Collateralized Debt Obligations CDO) e vendendo esses ativos a investidores externos. Desta forma, recebiam boas comissões
1
O seguro de portfólio fazia parte de uma cesta de tecnologias de transação e proteção que Wall Street estava
introduzindo para atender melhor a megainvestidores. O segredo dos portfólios era o uso de matemática
avançada para diversificação da carteira, tentando dessa maneira minimizar os riscos de mercado dos
megainvestidores.
28
através de empréstimos gerados sem custos. Em outras palavras, os bancos criaram o
mecanismo de se obter dinheiro sem custo, o que gerou as bolhas inflacionárias através da
alavancagem do mercado financeiro. Dessa forma, pode-se definir como as principais origens
para a crise financeira que se iniciou em meados de 2000:
• produtos financeiros complexos;
• a crise das empresas ponto-com, conhecida como bolha da internet;
• política monetária excessivamente expansionista;
• ataques terroristas de 11 de setembro de 2001;
• bolha imobiliária.
Os novos produtos financeiros complexos foram determinantes para a ocorrência da
crise econômico-financeira que se instalou nos EUA. As securitizações das obrigações a
receber transformando-as em ativos financeiros foi um importante mecanismo de
alavancagem para o sistema financeiro, ainda mais nos moldes em que foi estruturado e a
facilidade para a criação de dinheiro que foi permitida aos bancos americanos. Em
concernência às securitizações, os novos produtos financeiros foram e são importantíssimos
para o mercado financeiro, pois podem estruturar os ativos da forma que lhe for pertinente
para atrair novos investidores, como no caso das Collateralized Mortage Obligations (CMO),
onde essas novas tecnologias deixaram esses ativos provenientes das hipotecas atraentes para
todos tipos de investidores, desde os moderados aos arrojados.
A crise das empresas ponto-com ou bolha da internet foi um esteio para a instauração
da crise econômico-financeira. Essa crise foi ocasionada pelas fortes altas dos preços das
ações de empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), que eram empresas
ligadas à internet. Entre 1998-1999, os avanços tecnológicos e os juros baixos tornaram as
ações das empresas muito atrativas no mercado financeiro, e, a partir desse período, um
processo especulativo avassalador estourou os preços das empresas ponto-com. Essa
tendência teve seu pico em 2000, quando a Nasdaq2 subiu quase o dobro em apenas um ano,
em detrimento das altas das empresas ponto-com.
2
NASDAQ (National Association of Securities Dealers Automated Quotations) é a bolsa de valores eletrônica,
caracteriza-se por compreender na sua maioria empresas ligadas a alta tecnologia em eletrônica, informática,
telecomunicação
e
biotecnologia
(WIKIPÉDIA,
NASDAR.
Disponível
em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/NASDAQ>. Acesso em: 12 jan. 2012.
29
A bolha da internet começou a estourar a partir do momento em que a Microsoft
começou a ser investigada por monopólio do mercado e a ordem de venda de dólares por
parte de grandes empresas de tecnologia (IBM, DELL, CISCO). O enquadramento da
Microsoft como monopolista do mercado desregulou-o das empresas de tecnologia, e a venda
maciça de dólares pelas grandes empresas do setor desencadeou uma crise de confiança no
mercado. O mercado financeiro entrou em colapso nesse período, gerando uma reação de
venda das ações dessas empresas. Em 10 de março de 2000, o índice Nasdaq atingiu 5.050
pontos, e, em apenas cinco dias, caiu 9%, para 4580 pontos, em 15 de março de 2000
(MORRIS, 2009).
Conforme Morris (2009), devido à desaceleração da economia norte-americana nesse
período, o FED iniciou, em janeiro de 2001, uma nova política monetária. Reduziu a taxa de
juros em 1% (de 6,5%, em dezembro de 2000, para 5,5% em janeiro 2001). Essa nova política
expansionista teve um agravante, em 11 de setembro de 2001, período em que a economia dos
EUA ainda não mostrava fortes indícios de recuperação. Os ataques suicidas, coordenados
pela Al-Qaeda, em que foram sequestrados dois aviões com o intuito de destruírem o World
Trade Center, foi um novo baque para a economia norte-americana nesse período.
Após esse acontecimento, o FED agiu rapidamente tentando equilibrar a economia do
país, reduzindo em mais 1% os juros nos dois meses seguintes, chegando a 2%. A intenção do
FED era estimular o consumo e os investimentos, para gerar uma rápida recuperação na
economia do país. Entre dezembro de 2001 a junho de 2003, as taxas de juros chegaram a 1%,
baixas, inclusive para os padrões norte-americanos, mas esse não foi a principal causador da
crise subsequente nos EUA, pois o fator que realmente originou a futura bolha imobiliária foi
a manutenção desses juros por um longo período, mais precisamente entre 2001 e 2005. O
mais agravante, segundo Morris (2009), foi manter as taxas a irrisórios 1% durante 12 meses
(jun./03 a jun./04).
Portugal et al (2009, p. 26) explicam o ocorrido e os efeitos dessa política.
A redução agressiva de juros é um elemento importante para combater as crises
econômicas. Contudo, os juros não devem ficar “muito baixos por muito tempo”,
sob pena de produzirem bolhas na economia. E as evidencias são de que, de fato,
houve um forte relaxamento da postura do FED quanto à sua política monetária no
período que precedeu o boom imobiliário.
30
Assim, estava montado o cenário ideal para a formação de uma nova bolha na
economia através da postura do Banco Central dos Estados Unidos. Segundo Merril Lynch3,
em 2005, metade do crescimento do PIB norte-americano era decorrência do mercado
imobiliário, inclusive novos empregos foram gerados pela construção civil ou estavam
relacionados ao setor imobiliário. A bolha imobiliária de 2000 estava diretamente ligada aos
empréstimos habitacionais, que eram fáceis de serem obtidos. Taxas de 1% eram
relativamente irrisórias em relação aos ganhos pertinentes a qualquer investimento. No caso
imobiliário, era o mais atraente, devido envolver a maior classe econômica, a dos pobres, que
tinha pretensões de adquirir casa própria, e com taxas de juros muito baixas.
Com o desejo capitalista de obtenção de lucros, os bancos reformularam o processo de
novos empréstimos para poder abocanhar a maior fatia do novo mercado imobiliário, além de
incentivarem o processo de refinanciamento devido aos baixos juros. Através dessas novas
práticas, essa crise ficou conhecida como a “Crise do Subprime”, que é a designação dos
clientes secundários, onde prime representa os clientes preferenciais dos bancos. Morris
(2009, p. 115) explica como isso procedeu:
A classificação de credito automatizada acelerou a avaliação dos candidatos. A
redução da documentação exigida arrebanho novos tomadores de empréstimos. O
monitoramento dos desempenho dos avaliadores pressionou-os a adequarem as
avaliações às metas de concessão de hipoteca dos bancos. Softwares de avaliação
automatizada do histórico dos candidatos permitiram a adoção de coeficiente
empréstimos/renda muito mais altos. Houve uma proliferação de novos “produtos
habilitadores” – um artifício para aumentar a disponibilidade de residências para
famílias com pouco recursos -, na maioria apoiados fortemente por representantes
comunitários. Tais produtos incluíam modalidades de hipotecas com taxas variáveis,
para criar empréstimos para financiar a expectativa de taxas em queda constantes;
empréstimos para financiar a entrada e despesas de contrato para compradores sem
poupança; ênfase em empréstimos subprime, ou seja, produtos com taxas de juro e
comissões mais altas para tomadores que não atendiam às exigências tradicionais
para concessão de credito. Os emprestadores também acolhiam com alegria os
flippers – pessoas que compravam casas com o único propósito de revende-las mais
ou menos um ano depois. Em 2005, 40% dos imóveis residenciais eram comprados
ou como investimentos ou como segunda casa.
O problema para esse “avançado sistema de modelos matemáticos” que foi criado para
agilizar as liberações de crédito é que não previa um fator básico dos ciclos econômicos, a
recuperação da economia. A partir do momento que a economia norte-americana apresentou
sinais de recuperação os demais indicadores foram influenciados por esse novo estágio. O
3
Banco norte-americano de investimentos e provedor de outros serviços financeiros.
31
aquecimento do setor imobiliário e o pós-crise da internet começaram a inflacionar a
economia, forçando o FED a elevar as taxas de juros.
Portugal et al (2009, p. 33) explicam o efeito da alta inflacionária e a mudança na
política monetária entre junho de 2004 e junho de 2006:
Neste período, a taxa saiu de 1% a.a. e atingiu 5,25% a.a. Coincidentemente, o
período d reset das taxas dos financiamentos imobiliários estava se aproximando.
Com sua chegada, as parcelas dos financiamentos imobiliários que cabiam no
orçamento dos mutuários passaram a se distanciar daquele planejamento financeiro
realizado nos anos anteriores, tornando-os inadimplentes. O brutal aumento da
inadimplência resultou em elevação de proporção semelhante nas execuções,
levando os preços das residências a caírem, na medida em que a oferta de moradias à
venda no país crescia exponencialmente.
Mais uma crise se instaurou na economia norte-americana e também mundialmente.
Pela premissa do mundo globalizado que elimina fronteiras e expande as opções de
investimento e pelas novas engenharias do sistema financeiro, foi criado um volumoso
(altíssimo volume de hipotecas nos EUA), atraente (bons rendimentos) e maquiado (devido às
novas técnicas do sistema financeiro, esses fundos com ativos lastreados às hipotecas que
seriam de alto risco passaram a ser classificados de baixo risco) grupo de ativos financeiros,
que se alastraram por todo o mercado financeiro.
Assim, pode-se concluir que a crise econômica norte-americana que se propagou por
todo o mundo está intrinsecamente associada às novas tecnologias geradas para a expansão do
sistema financeiro. A quebra do tradicional banco de investimento Lehman Brothers culminou
com o domínio que levou à falência diversas instituições financeiras norte-americanas e
outras pelo mundo afora. Somente as intervenções dos estados foram capazes de sustentar a
economia mundial e evitar uma quebra ainda maior do sistema financeiro mundial e ter se
tornado a maior crise econômico-financeira da história.
2.5 Tendência para a Economia Mundial
A economia mundial se encontra em um novo estágio de perigo, um período de
incertezas em que vários fatores serão preponderantes para o desenvolvimento da economia
como um todo. O terremoto no Japão, o caminhar vagaroso dos Estados Unidos e das
economias avançadas como um todo e os efeitos dos distúrbios financeiros na União Europeia
32
são indícios dos riscos de baixa na economia mundial. Esses são os maiores obstáculos que o
sistema financeiro terá que superar para gerar uma nova tendência de crescimento econômico
mundial.
Um dos problemas para a correção da instabilidade nas economias avançadas e o
processo de transição das políticas fiscal e monetária é o papel do estado nesse período de
crise. O estado tem uma responsabilidade maior no auxílio ao setor privado para incentivar a
voltar a assumir um papel mais relevante na economia. No entanto, precisa agir de forma
equilibrada para não cometer erros do passado de não intervir nos momentos precisos,
liberando ou retraindo incentivos financeiros para o mercado.
Na zona do euro, a questão principal é equacionar as dívidas dos países em crise que
buscam se reestruturar. No caso dos estados, terão que intervir através de ações financeiras,
para que as economias mais desestabilizadas possam readequar suas dívidas e retomar suas
economias, finanças, produção e desenvolvimento. Um dos fatores mais importantes nesse
momento é a venda maciça de ativos de grande risco. Essas modalidades de investimentos
desacertadas já foram vistas recentemente na economia mundial, e já se sabe suas
consequências. Os títulos de alto risco são perigosos devido às securitizações, que, através das
tecnologias avançadas, são capazes de maquiar e criar qualquer tipo de ativo, além de terem
uma divisão peculiar dos seus riscos, que estão subdivididos entre diversas partes do sistema
financeiro, tendo sempre consequências globais, tanto de crescimento quanto de perdas.
Com relação à economia estadunidense, alguns fatores de riscos devem ser observados
nos próximos períodos. A economia norte-americana vem apresentando resfriamento da
atividade econômica, inclusive o mercado imobiliário vem tendo dificuldades para alcançar
novos estágios de expansão. Os impasses com relação às políticas fiscais podem gerar
deterioração do sistema financeiro do país, pois a necessidade de aquecimento da economia
esbarra na necessidade de redução da dívida pública norte-americana. Desta forma, a
recuperação econômica do país deve ser menos eficiente e mais longínqua.
Em contrapartida, as economias emergentes vêm sustentando o crescimento
econômico mundial. Mas, as tendências de crescimento dos países em desenvolvimento
passam por duas premissas: o superaquecimento e a capacidade de sustentar a diminuição do
consumo dos países desenvolvidos. Entre as economias emergentes, o longo período de
33
crescimento econômico mostra indícios de superaquecimento econômico, fator que deve ser
bem observado pelos órgãos reguladores desses países no sentido de minimizar os efeitos
inflacionários que são gerados nesse período de expansão. Além disso, outro elemento
importante para as economias em desenvolvimento é a capacidade de absorver a diminuição
da demanda dos países desenvolvidos, tendência que pode reduzir drasticamente as transações
com essas economias e acarretar o esfriamento da economia interna do país.
No gráfico 2, o International Monetary Fund (FMI) apresenta as perspectivas para a
economia nos próximos anos:
Gráfico 2: Perspectivas para economia mundial (1980-2016)
Fonte: FMI (2012).
34
Nos três gráficos a seguir, o FMI apresenta a perspectiva de variação anual do
crescimento entre as economias mundiais entre 2012 e 2014:
Gráfico 3: Perspectivas de crescimento econômico por país (2012)
Fonte: FMI (2012).
Gráfico 4: Perspectivas de crescimento econômico por país (2013)
Fonte: FMI (2012).
35
Gráfico 5: Perspectivas de crescimento econômico por país (2014)
Fonte: FMI (2012).
Assim, as tendências para o período em que se segue são de uma recuperação lenta
para a economia mundial. As projeções para 2012 dão conta de um crescimento de 4% no
âmbito mundial, enquanto que as economias emergentes e as economias avançadas devem
crescer 6% e 2%, respectivamente. O FMI elenca as dificuldades pelas quais a economia
mundial vai ter que enfrentar para obter o reequilíbrio da economia mais rapidamente:
Dado o ritmo lento de reequilíbrio da demanda global, preços elevados das matériasprimas e perspectivas modestas de crescimento das economias avançadas, as taxas
de juros de longo prazo para entidades soberanas são susceptíveis de permanecer
baixas. Isto pode promover a assunção de riscos em outras economias, episódios
anteriores de reciclagem em massa de dinheiro são raramente livres de acidentes
financeiro. De fato, em algumas economias avançadas e em algumas economias
emergentes apresentam sinais de risco excessivo: a expansão do crédito de grande
porte, booms de habitação e influxo abundante de investimentos do mercado
Financeiros. De modo mais geral, a crise financeira trouxe à tona em primeiro lugar
a extraordinária vulnerabilidade do sistema financeiro mundial a transtornos dos
mercados de financiamento do mercado (FMI, 2012).
36
O FMI apresenta o quadro com as perspectivas para o crescimento econômico nos
próximos anos:
Quadro 1: Resumo do cenário econômico mundial a médio prazo
Fonte: FMI (2012).
Por fim, pode-se dizer que para o processo homogêneo do crescimento econômico
mundial para os próximos anos é preciso que as autoridades europeias contenham a crise
periférica da zona do euro e que as autoridades estadunidenses encontrem o equilíbrio
prudente entre o respaldo da economia e a consolidação fiscal a médio prazo, através de
políticas de resposta mais firmes e concretas para o mercado, respaldando o crescimento
econômico e diminuindo a volatilidade dos mercados financeiros mundiais.
37
2.6 Tendências para a Economia Brasileira
No decorrer das últimas duas décadas, o país iniciou um processo de amadurecimento
macroeconômico da sua economia. O ponto crucial para a mudança de curso da economia
brasileira foi a criação do Plano Real, o maior e mais eficiente plano de estabilização da
economia brasileira. Com a inflação que ultrapassava os 700% ao ano, nenhuma economia
mundial poderia apresentar um crescimento retilíneo e equilibrado, por isso as reformas
econômicas e monetárias estabelecidas com o novo plano foram essenciais para o país chegar
aos patamares atuais de crescimento e desenvolvimento econômico.
As reformas econômicas e monetárias e o Plano Real alçaram a economia brasileira a
um novo patamar de crescimento. Essa estabilização da economia, aliada ao cenário global
favorável, resultaram em excelente crescimento econômico do país na ultima década. Mas, a
recente crise econômico-financeira de confiança diminui o ímpeto da economia brasileira. Em
contrapartida, a crise encontrou um país melhor estruturado economicamente, capaz de
suportar as quedas mundiais e se manter em crescimento.
Um novo ciclo econômico se vislumbrou para a economia mundial e brasileira, e, no
caso do Brasil, esse novo ciclo está diretamente associado às consequências das políticas
monetárias, como explicam Barros e Giambiagi (2009, p. 5):
A ameaça deflacionista gerou respostas governamentais que terão conseqüências de
médio e longo prazo. São respostas providenciais de expansão monetária e fiscal
contra o risco de depressão, mas que geram duvidas quanto ao futuro, suscitando
controvérsias sobre a possibilidade de um longo período de estagnação, sob ameaça
de pressões inflacionárias mais adiante. A confiança tende a se restaurar
gradualmente, mas os estoques, inclusive os de Mao de obra, tendem a ser
calibrados em todos os países para um novo patamar de crescimento global mais
modesto nos próximos anos.
As políticas monetárias estarão sobre uma linha tênue entre a recessão econômica
(com tendências de baixa inflacionária) ou expansão (com tendências de alta inflacionária).
Assim, são necessárias políticas monetárias ajustadas aos patamares econômicos do país, para
que a manutenção do crescimento econômico não se torne uma futura bolha inflacionária
como a ocorrida nos EUA, mas que também não signifiquem a estagnação do país, pois, por
mais longo que seja o processo de ajuste, a economia sempre alcançará o seu equilíbrio, e é
38
nesse momento que as governanças públicas e corporativas terão que estar mais disciplinadas
para não desregularem a economia.
Em torno da crise econômico-financeira, o Brasil está devidamente estruturado para
atingir um novo patamar perante a economia mundial. O amadurecimento econômico gerou
significavas melhoras na produtividade, maior acesso à educação e culminou com um
processo mais consistente de inclusão social.
Segundo Barros e Giambiagi (2009), duas mudanças estruturais são importantes para o
país se consolidar entre as economias emergentes e ter maior representatividade no futuro: o
fim das restrições externas e a incorporação de novos segmentos sociais no mercado de
consumo.
As relações de troca comerciais brasileiras (evolução dos preços de exportação em
relação à dos preços das importações) poderão seguir favoráveis nos próximos anos,
e a tese de que a demanda por commodities seguira crescente parece consistente. O
motivo disso é a elevada complementaridade entre a economia brasileira e a chinesa.
[...] Junte-se a isso o advento do pré-sal, que catapultará a produção de petróleo e
gás do Brasil a um status inédito de grande exportador de energia. [...] Em resumo,
em se confirmando nossa hipótese de uma economia inserida globalmente no plano
dos investimentos externos e do comercio exterior, não há razoes para se supor que
o balanço de pagamentos, ou ainda que as pressões cambiais possam se tornar
elementos de restrição ao crescimento como foram no passado.
O segundo ponto que merece ser destacado, como tema que traduz uma mudança
estrutural de “alta grandeza” na economia brasileira, é o fato de o Brasil ter
construído nos últimos anos uma das maiores redes de proteção social do mundo
emergente. Com base em programas sociais diversificados – Bolsa Família, ampla
base de aposentadoria clássica, aposentadoria rural, seguro-desemprego etc.. – e com
os aumentos significativos do salário-mínimo, passou-se a considerar a economia
brasileira um case de inclusão social, que abre perspectivas favoráveis ao
desenvolvimento de um mercado potencial de consumo (BARROS; GIAMBIAGI,
2009, p. 15).
Em suma, a economia brasileira apresenta fortes indícios de manutenção do
crescimento para os próximos anos. Com as reformas políticas, fiscais e monetárias, a
economia brasileira atingiu patamares jamais alcançados de estabilização e a confirmação do
amadurecimento dos gestores da economia local. Associado ao amadurecimento da economia,
o desenvolvimento e a diminuição das restrições externas são um propulsor à solidificação do
Brasil como uma economia pujante no atual cenário mundial. Por fim, pode-se concluir que as
tendências para os cenários econômicos da economia brasileira são de manutenção do
crescimento, mesmo que em menor escala dos anos anteriores à crise, mas maiores que as
taxas mundiais.
39
2.7 Tendências para a Economia do Rio Grande do Sul
Os impactos da recente crise internacional refletiram na economia do estado do Rio
Grande do Sul no último trimestre de 2008. Observa-se que esse ciclo pode ser mais longo,
pois o estado é dependente dos fatores externos para consolidar os sinais de recuperação, já
que a renda externa é essencial para as exportações gaúchas se manterem elevadas. Outro
fator
ressonante
para
a
recuperação
do
estado
é
a
eventualidade
(variações
climáticas/estiagem), que podem afetar um dos principais setores e um dos maiores
exportadores do estado, a produção primária.
Camarano (2009, p. 269) explicita quais os possíveis cenários para a economia
gaúcha:
[...] o mais provável é uma retração do produto e do emprego no estado –
respectivamente, de -0,86% para o PIB e -1,03% para o emprego – apenas com os
impactos negativos da crise internacional sobre a demanda de exportações do Rio
Grande do Sul. Este cenário pode se agravar se fatores internos forem somados à
redução da renda mundial, notadamente a estiagem que afeta o estado. Além disso, é
fundamental termos presentes as condições do comercio internacional e a
possibilidade de uma guinada protecionista nas principais economias, o que
certamente agravaria as projeções feitas no cenário acima.
O período atual pode-se caracterizar como uma importante oportunidade de mudança
na estrutura da pauta de exportações do estado. A cadeia produtiva do estado é vinculada a
produtos sensíveis às variações de renda, como o setor coureiro-calçadista, e fortalecer alguns
setores menos sensíveis a essas variações, como o setor de alimentos e bebidas. Outro ramo
forte da indústria gaúcha é o setor metal-mecânico, o qual também é muito volátil às
variações externas, e pode representar uma dificuldade na recuperação do estado.
Um dos fatores de destaque da economia gaúcha está ligado ao amadurecimento
político do estado. Os fortes choques fiscais, implementados recentemente, reestruturaram as
finanças e a economia do estado, diminuindo o déficit orçamentário do estado e possibilitando
uma nova política de investimentos públicos, que não ocorriam desde a década de 90. É
preciso salientar que os investimentos públicos não são determinantes na produção do estado,
mas as condições favoráveis atuais na situação fiscal do estado podem dar uma contribuição
efetiva no sentido de minimizar os impactos da crise.
40
Marco para a reestruturação da economia gaúcha foi o lançamento da “Agenda
Estratégica para o Rio Grande do Sul – 2020”. Essa agenda foi baseada no método Balanced
Scorecard (BSC), criado por Robert S. Kaplan e David P. Norton, que é um método de
planejamento e gestão de estratégias, sendo que a maior virtude do BSC é sua capacidade de
gerar metas que esteja de acordo com as condições da organização (CAMARANO, 2009). De
acordo com esse método, a Agenda 2020 (2012) propõe o seguinte mapa para o estado:
Figura 3: Mapa estratégico do Rio Grande do Sul (Agenda 2020)
Fonte: Agenda 2020 (2012).
Desta forma, o estado planeja o desenvolvimento sustentável a longo prazo, sendo
necessária a manutenção dessas metas para serem alcançados os objetivos. A maior
dificuldade está relacionada ao esforço na realização do cronograma a longo prazo, pois há
41
necessidade de apoio técnico, institucional e financeiro do Programa Gaúcho de Qualidade e
Produtividade (PGQP). A partir das novas metas estabelecidas e os órgãos envolvidos na
realização dessas metas, o estado obteve rápida reversão na situação fiscal, como pode ser
observado na tabela 2:
Tabela 2: Resultados de gestão – 2007/2008
Frente
Meta
Aumento de Receitas (GMR, PAC inteligente R$ 400 milhões
Realizado 2007
R$ 622 milhões
entre outros)
Redução de Despesas (Custeio, GMD, Fazendo R$ 303 milhões
R$ 327 milhões
Mais com Menos, ROP)
Frente
Meta
Aumento de Receitas (GMR, PAC inteligente R$ 900 milhões
Realizado 2008
R$ 1.996 milhões
entre outros)
Redução de Despesas (Custeio, GMD, Fazendo R$ 226 milhões
R$ 244 milhões
Mais com Menos, ROP)
Fonte: Secretária-Geral de Governo e Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade
(PGQP), 2012.
Assim, pode-se dizer que o desenvolvimento da economia gaúcha está envolto a um
processo de manutenção das metas estabelecidas a curto, médio e longo prazo. É preciso
salientar ainda que a diminuição do volume de investimento público em termos de receita
corrente líquida, no decorrer das últimas duas décadas, deteriorou demasiadamente a
infraestrutura do estado, sendo um limitador para a economia gaúcha alcançar patamares mais
avançados de crescimento econômico. Mas, esse processo de renovação da capacidade
intelectual da gestão pública local e as novas condições econômicas do Rio Grande do Sul
formam cenários de desenvolvimento econômico da região.
Por fim, ressalta-se que o estado do Rio Grande do Sul não está livre das variações
externas ou das flutuações da economia mundial. Assim, é necessária a interpretação das
tendências mundiais para que sejam adotadas as políticas fiscais ou monetárias adequadas,
além da análise das melhores oportunidades de mercado.
42
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Neste capítulo, apresenta-se a metodologia utilizada no desenvolvimento da pesquisa.
3.1 Classificação da Pesquisa
A metodologia adotada teve por base cinco métodos de pesquisa: pesquisa aplicada,
exploratória, explicativa, quantitativa e bibliográfica.
•
Do ponto de vista de sua natureza: foi feitas pesquisa aplicada, que se caracteriza por ser
uma ferramenta de análise e interpretação da atual situação da economia do município de
Ijuí – RS, podendo servir de parâmetro para a tomada de decisões com relação às
variações econômicas locais.
•
Do ponto de vista de seus objetivos: a pesquisa tem dois objetivos: exploratória e
explicativa. Através da pesquisa exploratória, foram estudados os efeitos que a crise
econômico-financeira de 2007/08 representou para a economia ijuiense. Para isso, foram
feitos levantamentos bibliográficos e análise de exemplos que visam à compreensão.
Utilizou-se a pesquisa explicativa para definir as conseqüências que a crise gerou na
economia local. Já o método observacional foi utilizado na elaboração dos cenários
econômicos para Ijuí – RS, através das tendências que se observam dos resultados da
economia do município.
•
Quanto à forma de abordagem do problema: a pesquisa é qualitativa, pois aborda a
dinâmica da economia mundial e suas consequências na economia local, através dos
efeitos da crise mundial, onde o processo e o seu significado são o foco principal da
abordagem.
•
Do ponto de vista dos procedimentos técnicos: baseia-se em pesquisa bibliográfica, onde
se utilizou material publicado sobre a atual crise econômico-financeira e materiais que
expressam os resultados econômicos do município em questão (VIEIRA, 2010).
43
3.2 Coleta de Dados
A coleta de dados foi feita por meio de observação de dados primários da economia do
município de Ijuí – RS, de forma sistemática, onde foram coletados os principais indicadores
econômicos locais, PIB (agricultura, indústria e serviços), comércio exterior (exportações e
importações), renda, finanças públicas (receitas e despesas). A coleta de dados foi efetivada
em vários meios. Utilizou-se, predominantemente, a busca de dados disponíveis em fontes
oficiais na Internet, IBGE, sites do governo, ComexData, FEE e Prefeitura Municipal de Ijuí.
3.3 Análise e Interpretação dos Dados
A análise segue a seguinte ordem:
1.
Utilização de modelo para elaboração dos cenários econômicos:
Diagnose: é um instrumento que visa conhecer os acontecimentos anteriores para
interpretação e projeção do futuro, e, em especial, identificar as tendências estruturantes. As
tendências estruturantes são divididas em dois aspectos: a) um temporal, que está relacionado
ao período em que ocorreram os fatos; b) outro no sentido de espaço, que define toda a lógica
onde estão acontecendo os fatos (SOUZA, 2008).
Segundo Souza (2008, p. 21), através do estudo do sistema econômico, é possível
observar pistas para gerar os cenários econômicos:
Inicialmente, a principal dictomia a ser considerada é a espaço-temporal. É preciso
uma localização espacial. É necessário que o lugar seja explicitado através de
mapas, de limites e fronteiras de modo que, ainda que se preserve as diversas
ligações entre o subsistema considerado e seu contexto, o local especifico seja
suficientemente determinado. [...] Após isto, é preciso uma localização histórica, ou
seja, temporal no sentido de estabelecer o vinculo entre as variáveis que
determinaram a realidade regional.
Depois, pode-se partir para os dados demográficos em seus aspectos estáticos e
dinâmicos.
Após isto, pode-ser listar o que se entende lato sensu (em sentido amplo) como
infra-estrutura. Tais dados são em geral compilados e de fácil manuseio. Deve-se
notar que de modo mais restrito, infra-estrutura abrange outro aspectos comumente
classificados como pertencentes a informações ditas econômicas.
Após, definida e estruturada as condições atuais, pode-se ter pensar perspectivas desde
o presente até o futuro pela Prognose, que, segundo Souza (2008, p. 23),
44
[...] pode ser interpretada, de maneira simples, como sendo o rumo provável dos
acontecimentos, ou antes, a trajetória mais provável do sistema, se foram mantidas
todas as condições atuais livre, sem uma intervenção intencional e sistemática a
partir de um centro com poder suficiente para alterar a conjuntura e/ou a estrutura e
formar uma nova trajetória do sistema.
Desta forma, se tem os cenários econômicos construídos para o futuro da economia do
município de Ijuí – RS, quais sejam:
a) preparação dos dados para análise e contextualização do ambiente macroeconômico
do município de Ijuí;
b) interpretação do desempenho econômico do município para definição dos cenários
econômicos para 2012/14;
c) parecer e inferências sobre as tendências para Ijuí 2012/14.
45
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A economia do município de Ijuí-RS atravessa com mais facilidade a crise econômicofinanceira dos últimos anos, devido a vários fatores, pois, como a estrutura das relações
comerciais regionais, baixa dependência do mercado externo e amadurecimento dos agentes
econômicos locais. Com PIB, Ijuí tem uma das economias mais representativas na produção
do estado, com um PIB de R$ 1,49 bi, em 2009, resultado que o situa o município na 24ª
maior economia do Rio Grande do Sul (FEE, 2012).
No gráfico 6, é possível verificar que o município consegue manter o crescimento
econômico, mesmo durante períodos de crise.
Gráfico 6: PIBpm de Ijuí
Fonte: Dados da pesquisa, elaborados a partir dos dados da FEE (2012).
Outros dados importantes da economia ijuiense são o PIB per capita e o PIB (Valor
Adicionado). O PIB per capita mensura o valor médio para cada habitante, com relação ao
PIB. Ijuí apresenta um PIB per capita em crescimento nos últimos anos, em função da
estagnação da população do município. Todavia, sua classificação dentro do Estado cai para o
133° lugar entre os 496 municípios gaúchos. Um fator importante para a sustentação da
economia local diante da crise econômico-financeira é a forma como está estruturada a
economia de Ijuí. Através do valor adicionado do PIB, pode-se verificar que,
46
economicamente, Ijuí tem como base de sua economia o setor de serviços, o que representa
uma economia interna muito forte, sendo elemento importante para a explicação dos bons
resultados do município neste período. Nos gráficos a seguir, pode-se visualizar esses
resultados:
Gráfico 7: PIB Per capita de Ijuí
Fonte: Dados da pesquisa, elaborados a partir dos dados da FEE (2012).
Gráfico 8: PIB (Valor Adicionado 2009) de Ijuí
Fonte: Dados da pesquisa, elaborados a partir dos dados da FEE (2012).
47
Assim, pode-se destacar que a economia ijuiense está amparada pela sua demanda
interna, tendência aliada à manutenção das projeções de crescimento econômico do Rio
Grande do Sul e do Brasil. Isso fortalece a perspectiva dos bons resultados econômicos de
Ijuí, no período. Através da variação do crescimento da produção do município, pode-se
constatar que a tendência da manutenção do crescimento econômico do Brasil e do Rio
Grande do Sul, mesmo que em ritmo mais lento para os próximos anos, influi positivamente
em Ijuí, como se pode ver no gráfico 9:
Gráfico 9: Variação percentual do PIB de Ijuí
Fonte: Dados da pesquisa, elaborados a partir dos dados da FEE (2012).
O gráfico 8 e 9 permitem duas constatações. Em primeiro lugar, o forte impacto do
setor primário na economia local, mesmo o município tendo importante participação dos
serviços em sua economia. A seca de 2005 derrubou o PIB local para níveis negativos. Em
segundo lugar, embora o município não tenha uma relação direta com os efeitos da crise
mundial, o recuo relativamente importante de seu PIB em 2008 e 2009 demonstra que o
município foi atingido pela crise internacional, na esteira de suas consequências sobre as
economias do país e do Rio Grande do Sul.
Outro indicador importante é o comparativo do valor adicionado do PIB entre o Rio
Grande do Sul e os municípios que obtiveram os melhores e os piores crescimentos. A tabela
seguinte exemplifica a situação do estado e deixa implícita as tendências para Ijuí, onde a
48
estrutura econômica local está associada à estrutura apresentada pelo Estado, com o setor
agropecuário menos participativo, indústria moderada e setor de serviços com mais de 2/3 da
produção total do estado, semelhante aos resultados obtidos pelo município de Ijuí.
Este crescimento paulatino de Ijuí, em comparação a outros municípios que vêm
apresentando crescimento superior a 10% a.a, mostra-se em decorrência da melhor divisão
das cadeias produtivas locais, pois nos municípios com maior crescimento dentro do Rio
Grande do Sul a participação por setor fica, em média, de 30% para cada setor. Por fim, outro
indicador relevante está ligado ao setor agropecuário. Apesar desse setor estar muito ligado ao
mercado externo, onde os preços das commodities subiram significativamente durante a crise,
os municípios que têm sua produção baseada no respectivo setor apresentaram os piores
resultados, devido à sua dependência externa.
Tabela 3: PIB 2009 – Municípios com maior e menor crescimento vs RS
Participação por Setor (2008)
Agropecuária
Indústria
Serviços
PIB Per
%
Capita
Participação
(2008)
no PIB do RS
(2009)
Rio Grande
10,52%
26,54%
62,94%
R$ 18.377,73
100%
32,90%
32,74%
34,36%
R$ 19.451,08
0,68%
51,88%
9,22%
38,90%
R$ 20.541,85
0,29%
do Sul
10 maiores
crescimentos
10 menores
crescimentos
Fonte: FEE (2012, p. 14).
Esta situação deixa antever que os municípios gaúchos, Ijuí entre eles, sofrem um freio
econômico muito maior quando tem frustrações de sua safras agrícolas do que propriamente
da crise econômico-financeira de 2007/08.
Por outro lado, o município de Ijuí vem consolidando uma nova etapa na
administração pública. O amadurecimento dos gestores da economia municipal é perceptível,
49
e um desses indicadores são os resultados obtidos no balanço orçamentário do município.
Entre 2008 e 2011, o saldo do balanço orçamentário vem aumentando gradativamente.
Enquanto em 2008 as receitas eram 2,6% maiores que as despesas, em 2011 essa diferença
subiu para 5,54%. No gráfico 10, pode-se analisar o bom desempenho das finanças públicas
de Ijuí nos últimos anos.
Gráfico 10: Balanço Orçamentário de Ijuí. Receitas x Despesas
Fonte: Dados da pesquisa, a partir dos dados do site do município (2012).
No caso de Ijuí, uma das principais consequências desse amadurecimento da
administração fica explícita nos resultados obtidos no balanço comercial. Nos gráficos
seguintes, é possível verificar a estabilização da econômia local e as condições de
enfrentamento diante da crise econômico-financeira.
50
Gráfico 11: Balança Comercial de Ijuí – RS
Fonte: Dados da pesquisa, a partir dos dados do MDIC (2012).
Gráfico 12: Média mensal da cotação do Dólar
Fonte: Dados da pesquisa, a partir dos dados do site do município (2012).
Os resultados obtidos na balança comercial do município de Ijuí evidenciam o efeito
da sobrevalorização do Real no período da crise, além dos efeitos da própria crise. Entre 2005
e 2008, no período pré-crise, o superávit comercial esteve diretamente ligado ao aquecimento
econômico mundial, subindo de R$ 215.346 mil para R$ 5.114.598 milhões, respectivamente.
Outra tendência se inicia com a crise econômico-financeira a partir de 2008. O município
51
apresenta um déficit crescente na balança comercial entre 2009 e 2011, com um forte
crescimento das importações ijuienses, 294% em três anos. Mas, sem dúvida, o
comportamento cambial no país foi decisivo para o resultado da balança comercial ijuiense.
4.1 Cenários Econômicos para Ijuí
Nesse contexto, três cenários parecem ser possíveis ao município de Ijuí, no horizonte
2012-2014. Conforme a tabela a seguir, o primeiro deles (cenário 1) indica crescimento
generalizado da economia mundial. Esse cenário está vinculado a três premissas externas que
podem impulsionar a economia mundial: a) o equilíbrio econômico interno dos EUA e o
consequente crescimento econômico do país; b) a reestruturação de países em crise na União
Europeia como Grécia, Espanha, Portugal, Itália entre outros países, readequando suas
políticas fiscais; e c) a expansão econômica do Brasil a níveis mais elevados com outros
países do chamado grupo dos BRICS, resultando no crescimento econômico de Ijuí acima da
média.
O cenário 2 está vinculado à manutenção das condições estruturais atuais. Esse cenário
está relacionado à tendência de lenta recuperação dos EUA e União Europeia, e a tendência
da diminuição do crescimento econômico dos países em desenvolvimento econômico,
principalmente junto aos BRICS, fato que colocaria a economia brasileira num ritmo
semelhante ao de 2011, ou seja, menos aquecido e seletivo, com influência direta na economia
de Ijuí.
Já o cenário 3 vislumbra a piora da crise econômica mundial, com efeitos diretos no
Brasil e no município de Ijuí, fato que reduz a performance potencial dos indicadores
econômicos escolhidos.
Enfim, qualquer que seja o cenário oriundo da crise econômico-financeira mundial, o
município de Ijuí irá, necessariamente, sofrer um impacto negativo em sua economia devido a
forte seca que se abateu na região Noroeste gaúcha no verão 2011/12. Os prejuízos no
agronegócio local trarão efeitos mais nefastos e imediatos ao município do que até mesmo os
efeitos da crise mundial, podendo os mesmos durarem muitos anos, a julgar pelos exemplos
passados.
52
Tabela 4: Cenários Econômicos para o Município de Ijuí entre 2012/2014
Ijuí
Variável
Política Econômica
Política Fiscal
Fatores
Condicionantes
Redução
Política Monetária
Manutenção da taxa
na casa de um digito
Investimentos em
Infra-Estrutura
Ampliação
dos
investimentos,
principalmente
privados
Expansão do credito a
consumidor, para o
aumento da produção
Nível de Emprego
Catástrofes naturais
Projeção Crescimento
Balança
Orçamentária
Balança
Comercial
Aprimoramento com
superávit nominal
Forte contensão das
despesas
Política Tributária
Crédito
PIB
Cenário 1 –
Crescimento da
economia mundial
Aumento do nível de
emprego através do
crescimento e dos
incentivos
econômicos
Não ocorram
Cenário 2 –
Manutenção das
condições
estruturais
Aprimoramento com
superávit nominal
Manutenção
das
despesas e projeções
de cortes
Manutenção
das
elevadas taxas, e
excelente viés de
crescimento
Redução das taxas
para um
digito
período curto
Manutenção
dos
investimentos, com
forte
participação
estatal
Manutenção
ao
elevado
credito
habitacional e ao
consumidor
Lento aumento do
nível de emprego
Não ocorram
Cenário 3 –
Elevação da crise
econômica
Aprimoramento com
superávit primário
Aumento
das
despesas
Aumento
tributária
da
carga
Mudança da política
de redução dos juros
Diminuição
dos
investimentos,
principalmente
privados
Diminuição do credito
ao consumidor
Tendência de redução
do nível de emprego e
aumento do nível de
incertezas
Possam ocorram
14,50%
9,50%
3,50%
Projeção crescimento
13,50%
8,50%
2,00%
Variação
receita/despesas
Exportações
6,00%
5,00%
2,50%
16,50%
6,00%
-5,00%
Importações
8,00%
3,50%
-2,00%
Fonte: Dados da pesquisa, 2011.
Desta forma, os três cenários ficam devidamente associados a um fator preponderante.
O cenário 3 está diretamente ligado às variações climáticas, a qual se vislumbra a ser a
principal, ocorrendo prejuízos e diminuição da produção agrícola, em 2012. De forma geral, o
cenário 2 tem o maior número de condicionantes necessários para sua ocorrência, devido ao
bom período da economia do município de Ijuí, por isso é o cenário mais propício a ocorrer
53
no período de 2012 a 2014. Já o cenário 1, o mais entusiasta, a possibilidade de ocorrência é
mais remota, pois a tendência é de que a reestruturação da economia norte-americana e da
união européia sejam mais lentas, não devendo influenciar na melhora das condições
econômicas brasileira, ou que possam refletir em Ijuí.
54
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho buscou verificar os efeitos da crise econômico-financeira mundial,
iniciada em 2007 e 2008, na economia do município de Ijuí (RS). A partir da consolidação da
atual situação da economia mundial e local, a pesquisa elaborou três cenários econômicos
para o município de Ijuí no horizonte 2012-2014.
Durante a pesquisa, algumas peculiaridades foram apresentadas e serviram como
subsídio para a elaboração dos cenários econômicos. Em um primeiro momento, vislumbrouse que a estrutura econômica da economia brasileira está fortalecida internamente,
característica que sustenta a manutenção de um crescimento econômico interno, mesmo no
período de crise. Assim, e considerando a interação do município com a economia nacional,
observa-se a possibilidade de manutenção do crescimento econômico para o município de Ijuí
devido à sua estrutura econômica estar baseada no setor de serviços, o qual não enfrenta
muitas variáveis externas que possam inibir o crescimento econômico. Na verdade, nota-se
que a economia do município sente muito mais o impacto de uma crise de produção em seu
setor primário (devido às secas, por exemplo) do que propriamente os efeitos da crise
econômico-financeira mundial. Obviamente, ajuda nesse sentido a reação do governo federal
em apoiar o consumo nacional via subsídios, crédito forte e redução de impostos.
Outro indicador que sustenta a tese da manutenção do crescimento econômico do
município para o período 2012-2014 é o amadurecimento da esfera governamental. A
evolução da administração levou a algumas reformas estruturais que fortaleceram a economia
interna, e os resultados no balanço orçamentário comprovam a melhora na saúde financeira do
município nos últimos anos. Entre 2008 e 2011, as receitas do município cresceram mais de
35%, subindo de R$ 128.532.136,86 para R$ 174.318.188,02 no período. Mas, o principal
resultado obtido é o distanciamento entre as receitas publicas e as despesas, já que em 2008 a
55
diferença era de 2,6%, e, em 2011, essa diferença subiu para 5,54%, confirmando que não só
as receitas estão crescendo, mas também os gastos estão bem mais controlados, talvez pela
própria reação à crise mundial.
Por fim, um indicador da baixa relevância que as variações externas geram na
economia municipal é a balança comercial de Ijuí. As transações comerciais com o restante do
mundo representam em torno de 1% do PIB do munícipio, pouco representativas para a
economia local.
Mesmo assim, dois fatores relativos às transações externas merecem destaque. O
primeiro é a gradativa evolução das exportações do município nos últimos anos, passando de
US$ 2.149.653, em 2009, para US$ 10.052.074, em 2011. Em contrapartida, o resultado na
balança comercial vem se apresentando deficitário no período, comprovando que a economia
local continuou relativamente aquecida no período de crise.
Com relação à ocorrência dos cenários é possível que, em uma ordem cronológica, o
cenário 3 venha a se consolidar em 2012, muito mais pelos efeitos da seca na região Noroeste
gaúcha do que propriamente pela continuidade da crise mundial, embora esta última possa ser
potencializada pelos prejuízos causados pelo clima ao agronegócio local. Essa realidade pode
ocasionar a redução do crescimento econômico municipal, semelhante ao ocorrido em 2005.
Para o período 2013-2014, a tendência é que o cenário 2 esteja mais presente, embora com
reflexos mais agudos do que os inicialmente previsto, pois os efeitos da seca do verão
2011/12 continuarão ainda presentes. Mesmo assim, espera-se que a estrutura econômica do
município esteja mais fortalecida, aliada à tendência de a economia mundial iniciar,
finalmente, um novo ciclo de crescimento pós-crise. Em isso ocorrendo, talvez se consiga
consolidar o cenário 1 ao final de 2014, desde que a economia externa consiga se reestruturar
e o Brasil disso se aproveite para retomar um crescimento mais robusto do que o verificado
entre 2011 e 2013.
Enfim, o estudo encontrou limites na disponibilidade dos dados macroeconômicos.
Houve dificuldades na obtenção dos principais indicadores econômicos municipais, como o
PIB por exemplo. Os mesmos estavam desatualizados! Por outro lado, os indicadores
socioeconômicos, como o índice de emprego, não estavam acessíveis ao público em geral. Em
56
contrapartida, os dados da administração pública são de fácil acesso, estando atualizados no
site da prefeitura municipal.
57
REFERÊNCIAS
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58
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em: 12 jan. 2012.
59
ANEXOS
60
ANEXO I
PIBPM E PIB PER CAPITA DE IJUÍ (2003 – 2009)
PIB / PIB per capita (R$ mil)
Ano
PIBpm
PIB per capita
2003
932578
11985
2004
967815
12345
2005
953138
12067
2006
1044031
13120
2007
1231563
16049
2008
1378281
17356
2009
1491003
18703
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da FEE (2012).
61
ANEXO II
VARIAÇÃO (%) DO PIB DE IJUÍ
Variação (%) do PIB de Ijuí
Ano
PIBpm
Var. (%)
2003
932578
2004
967815
3,78%
2005
953138
-1,52%
2006
1044031
9,54%
2007
1231563
17,96%
2008
1378281
11,91%
2009
1491003
8,18%
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da FEE (2012).
62
ANEXO III
PIB VALOR ADICIONADO (2006 – 2009)
PIB (Valor Adicionado)
VA Agropecuária
VA Indústria
VA Serviços
PIBpm
2009
91.531
202.348
1.197.124
1.491.003
PIB (Valor Adicionado)
VA Agropecuária
VA Indústria
VA Serviços
PIBpm
2008
104.593
165.638
1.108.050
1.378.281
PIB (Valor Adicionado)
VA Agropecuária
VA Indústria
VA Serviços
PIBpm
2007
88.737
173.670
969.156
1.231.563
PIB (Valor Adicionado)
VA Agropecuária
VA Indústria
VA Serviços
PIBpm
2006
60.187
151.210
832.634
1.044.031
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da FEE (2012).
63
ANEXO IV
BALANÇO ORÇAMENTÁRIO DE IJUÍ (2008 – 2011)
Balanço Orçamentário
Receitas
Despesas
Resultado
2009
142.320.616,33
138.157.852,63
4.162.763,70
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da Prefeitura de Ijuí (2012).
64
ANEXO V
BALANÇA COMERCIAL DE IJUÍ (2005 – 2011)
Ano
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
Exportação
Valor (US$)
1.348.880
5.070.290
5.753.598
9.781.399
2.149.653
4.369.273
10.052.074
Importação
Saldo
Valor (US$)
Valor (US$)
1.133.534
215.346
2.342.615
2.727.675
4.117.675
1.635.923
4.666.801
5.114.598
3.230.150
-1.080.497
4.689.003
-319.730
12.731.715
-2.679.641
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do MDIC (2012).
65
ANEXO VI
MÉDIA MENSAL DA COTAÇÃO DO DÓLAR COMERCIAL PARA VENDA
Dólar
Em Real ( R$ )
2005
Janeiro
2,693
Fevereiro 2,598
Março
2,705
Abril
2,579
Maio
2,452
Junho
2,413
Julho
2,374
Agosto
2,361
Setembro 2,294
Outubro
2,257
Novembro 2,21
Dezembro 2,283
2006
2,274
2,162
2,152
2,129
2,204
2,248
2,189
2,156
2,169
2,148
2,158
2,15
2007
2,139
2,096
2,089
2,033
1,982
1,932
1,882
1,966
1,9
1,801
1,77
1,787
2008
1,774
1,728
1,708
1,689
1,661
1,619
1,591
1,612
1,8
2,173
2,266
2,398
2009
2,307
2,313
2,314
2,206
2,061
1,958
1,93
1,845
1,82
1,738
1,726
1,751
2010
1,778
1,842
1,786
1,757
1,813
1,807
1,77
1,76
1,719
1,684
1,713
1,695
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Banco Central (2012).
2011
1,675
1,668
1,659
1,586
1,614
1,587
1,564
1,597
1,75
1,773
1,791
1,837
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