E FARM. III Semana Interdisciplinar, X Seminário de Iniciação Científica e IV Semana da Família TRATAMENTO DO DIABETES MELLITUS TIPO 2 E HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA EM UMA ESF DE ITUMBIARA – GO. Jennifer Lorrayne Piedade *[email protected] 1 Graduando Teixeira*1 (IC), Athos Magno Martins1 (IC) ( a) em Farmácia Generalista pela Universidade Estadual de Goiás UnU - Itumbiara RESUMO A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e o Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) são doenças crônicas, que não tem cura, havendo a necessidade de tratamento contínuo, qualidade do serviço prestado e de informações concisas oferecidas pelos profissionais de saúde, a disciplina do paciente tratado também é de extrema importância. Estudos comprovam a correlação entre ambas as doenças, o que demanda maior atenção na escolha de uma terapia medicamentosa eficaz e segura. Este estudo foi realizado com o intuito de se conhecer a situação dos pacientes que são atendidos nas Estratégias de Saúde da Família (ESF), bem como avaliar o tratamento oferecido pelas unidades de saúde e compará-las, perante as atuais diretrizes terapêuticas de HAS e DM2. A metodologia utilizada compreende a aplicação de questionários em uma determinada parcela dos pacientes atendidos na ESF. Foi possível identificar alguns erros na terapia medicamentosa que podem elevar o risco de complicações a estes pacientes, principalmente em casos em que haja a ocorrência de HAS e DM2 ao mesmo tempo. Palavras Chave: Hipertensão, Diabetes, Tratamento INTRODUÇÃO O diabetes mellitus (DM) consiste em uma doença determinada por um quadro de distúrbios metabólicos que apresentam em comum a hiperglicemia como principal característica. A hiperglicemia é resultado do defeito na secreção de insulina ou da ação insatisfatória da mesma no organismo, decorrente de fatores variados (BRASIL, 2013). O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) caracterizado pela resistência à insulina e a deficiência relativa de produção de insulina pelo pâncreas (BRASIL, 2007). De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia a hipertensão arterial sistêmica (HAS) consiste em uma condição de disfunções metabólicas e multifatoriais relacionadas aos níveis elevados da pressão arterial (PA). Sendo associada frequentemente a alterações funcionais e/ou estruturais de órgãos como o coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos, o que gera um aumento do risco de problemas cardiovasculares fatais e não fatais (BRASIL, 2010). Nesse sentido, DM2 e HAS são constantemente associadas a outras doenças, principalmente a dislipidemia e obesidade, caracterizando um quadro de síndrome metabólica, cuja base é a resistência insulínica. Mas o que se tem observado é que há a possibilidade de uma expressar um fator de risco para a ocorrência da outra. O DM2 pode predispor a HAS através da hiperinsulinemia, um estímulo do sistema nervoso simpático que promove a vasoconstrição, a retenção de líquido e sódio nos rins, além de contribuir para a diminuição do lúmen dos vasos sanguíneos ao estimular o aumento da musculatura lisa na parede arterial, sendo todos esses fatores que aumentam a pressão arterial (FRAGA et al., 2012). O estudo realizado por Amaral & Perassolo (2012) aponta a preocupação diante da alta incidência simultânea de HAS e DM, pois devido a esse quadro clínico é comum encontrar pacientes que fazem o tratamento com anti-hipertensivos e antidiabéticos simultaneamente. Diante da extensa lista de fármacos utilizados no tratamento dessas doenças e ao fato de existir muitos casos em que o paciente realiza uma terapia “Interdisciplinaridade, Saberes e Práticas” Itumbiara, GO, Brasil – 06 a 09 de outubro de 2014. múltipla, o que aumenta o risco de haver uma interação medicamentosa entre eles. Há uma grande importância em realizar estudos nos quais se façam análises e comparações das combinações medicamentosas existentes, identificando o tratamento mais adequado. O presente estudo teve como propósito identificar pacientes de Estratégias de Saúde da Família (ESF) que apresentem simultaneamente DM2 e HAS e analisar o seu tratamento, comparando a terapia medicamentosa aplicada aos pacientes com as Diretrizes Terapêuticas determinadas pelos órgãos de saúde a fim de identificar possíveis prescrições inadequadas e apresentar as consequências deste fato. MATERIAIS E MÉTODOS O presente estudo foi realizado por meio da aplicação de questionário para os pacientes que possuem tanto hipertensão arterial sistêmica quanto Diabetes Mellitus Tipo 2, ou as duas doenças simultaneamente atendidos em uma Estratégia de Saúde da Família (ESF) situada no Bairro Dona Marolina na cidade de Itumbiara – GO. A aplicação de questionários foi realizada no período de fevereiro a abril de 2014 com o intuito de levantar informações quanto à realidade dos pacientes atendidos na ESF e as doenças que o paciente apresenta, se há ou não a coexistência de HAS e DM2, assim como, verificar os tipos de medicamentos utilizados por eles em seu tratamento. Foram obtidos apenas dados de cunho informativo sendo que a identidade do paciente se manteve preservada. RESULTADOS E DISCUSSÃO Apesar dos questionários terem sido aplicados preferencialmente a pacientes que apresentavam HAS e DM2 simultaneamente, houve uma pequena parcela que apresentava apenas uma das doenças. Cerca de 77,5% (N = 31) dos indivíduos apresentam HAS e DM2 simultaneamente, enquanto 22,5% (N = 9) apresentam somente HAS. Nas amostras obtidas não houve nenhum caso isolado em que o paciente apresentasse somente DM2. O restante, 9,7% dos pacientes relataram a manifestação da DM2 precedente à HAS. Um fator importante que pode ter influenciado na ocorrência de diabetes em pacientes hipertensos são os hábitos desses pacientes, a não adesão a terapia, por exemplo, ou até mesmo o tipo de medicação utilizada no tratamento da HAS. Algumas classes de medicamentos podem exercer atividade diabetogênica como, por exemplo, os inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) e os beta – bloqueadores. Os diuréticos são uma classe medicamentosa também muito utilizada no tratamento da HAS, mas que administrados em altas doses não proporcionam melhora dos níveis pressóricos e podem exercer efeitos diabetogênicos, portanto, requerem cautela ao serem prescritos em pacientes em situação de risco de desenvolver DM2 (SALLES & LIMA, 2008). Em estudos realizados sobre a correlação entre DM2 e HAS, ficou comprovado que há uma ligação estreita entre a hiperinsulinemia presente no DM2 e a hipertensão arterial, visto que a insulina é um hormônio com características antidiuréticas, afetando o sistema de equilíbrio entre a retenção e a eliminação de íons como sódio e potássio, podendo acarretar o acumulo maior de íons de sódio no meio intracelular. A regulação de concentração desses íons está diretamente ligada ao desenvolvimento da hipertensão (CRUZEIRA et al. 1998). Os medicamentos mais utilizados pelos pacientes no tratamento de DM2 são a Metformina e a Glibenclamida (Gráfico 1). “Interdisciplinaridade, Saberes e Práticas” Itumbiara, GO, Brasil – 06 a 09 de outubro de 2014. Gráfico 1. Fármacos utilizados no tratamento de DM2 em pacientes hipertensos Fármacos no tratamento de DM2 Metformina Glibenclamida Glimepirida 5% 5% Gliclazida Arcabose 2% 30% 58% . A metformina é o fármaco de primeira escolha no caso da DM2, pois realiza a redução da produção hepática de glicose e não provoca hipoglicemia, devido a sua menor ação sensibilizadora da ação insulínica. Por isso pode ser usada com segurança desde o início do tratamento. Já a glibenclamida é um fármaco hipoglicemiante e essa característica se deve ao fato de proporcionar o aumento na secreção de insulina. Havendo ressalvas sobre seu uso, já que o paciente está sujeito a picos de hipoglicemia (BRASIL, 2007). As principais classes utilizadas no tratamento da HAS foram diuréticos tiazídicos, bloqueadores do receptor de angiotensina (BRA), beta bloqueador (BB) e inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) (Tabela 1). Tabela 1. Porcentagem de medicamentos utilizados para o tratamento da HAS Princípio ativo 2 Hidroclorotiazida Losartana Potássica % 15,8 7,5 Propranolol 6 Atenolol Captopril AAS Anlodipino Clortalidona Alfametildopa Enlapril Furosemida Amilorida 5,3 5,3 4,5 4,2 2,2 2,2 1,5 0,7 0,7 As classes mais indicadas para esse tipo de tratamento são os IECA, importantes na redução do risco de infarto do miocárdio e outros eventos cardiovasculares em hipertensos com DM2 e diuréticos por reduzir os riscos de Acidente Vascular Cerebral (AVC) fatal e também promover a redução em 20% dos eventos cardiovasculares, porém sem proporcionar ações que reduzam a mortalidade em eventos coronarianos fatais e não fatais. Já os Betabloqueadores de primeira e segunda geração podem acarretar intolerância à glicose, induzindo ao aparecimento de novos casos de diabetes, hipertrigliceridemia e elevação de LDL com redução de HDL, podendo a ter seu efeito potencializado quando os betabloqueadores são utilizados em combinação com diuréticos (MARTINS & ARAÚJO, 2004). “Interdisciplinaridade, Saberes e Práticas” Itumbiara, GO, Brasil – 06 a 09 de outubro de 2014. CONCLUSÃO O estudo realizado proporcionou a visão atual da situação dos pacientes atendidos pelas Estratégias de Saúde da Família da cidade sobre a realidade do tratamento oferecido pela rede pública. Ao comparar as terapias aplicadas com as diretrizes, foi possível detectar interações medicamentosas importantes e desfavoráveis ao paciente, fato que poderia ser revisto entre a equipe de saúde da ESF. O sucesso da terapia depende de um estudo de caso de detalhista, para evitar interações medicamentos indesejadas, que possam prejudicar de alguma forma o controle paralelo das doenças, o acompanhamento do tratamento por um profissional capacitado também poderia contribuir de forma positiva para garantir melhor qualidade do tratamento oferecido pela rede pública. REFERÊNCIAS AMARAL D. M. D.; PERASSOLO, M. S. Possíveis interações medicamentosas entre os anti-hipertensivos e antidiabéticos em participantes do Grupo HIPERDIA de Parobé, RS (Uma análise teórica). Rev Ciênc Farm Básica Apl. Vol. 33 p. 99-105, 2012. Disponível em: <http://servbib.fcfar.unesp.br/seer/index.php/Cien_Farm/article/viewFile/1703/1703>. Acesso em: 20 mar. 2014. BRASIL, Sociedade Brasileira de Cardiologia / Sociedade Brasileira de Hipertensão / Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, 2010. Disponível em: < http://publicacoes.cardiol.br/consenso/2010/Diretriz_hipertensao_associados.pdf> Acesso em: 06 mai. 14 BRASIL, Sociedade Brasileira De Diabetes. Tratamento e acompanhamento do tratamento do Diabetes mellitus. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes, 2007. Disponível em : < http://www.anad.org.br/profissionais/images/diretrizes_SBD_2007.pdf > Acesso em: 28 mar. 2014. BRASIL, Ministério Da Saúde. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica. Diabetes mellitus. Caderno de atenção básica nº 36. Brasília – DF 2013. Disponível em: <http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/caderno_36.pdf>. Acesso em: 26 mar. 14 CRUZERA, A. B.; UTIMURA, R. ZALTZ, R. A hipertensão no diabete. HiperAtivo, Vol 5, p. 261-266 ,1998. Disponível em: <http://departamentos.cardiol.br/dha/revista/54/diabete.pdf>. Acesso em: 20 Mar. 2014. FRAGA, P. L.; SANTOS, B. J. M.; SEVERINO, B. N.S.; OLIVEIRA, M. R.S. FRANÇA, G. R. A interface entre o Diabetes Mellitus tipo II e a hipertensão arterial sistêmica: aspectos bioquímicos. Cadernos UniFOA, No. 20. P. 95 – 103, 2012 . Disponível em: < http://web.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/20/95-103.pdf > Acesso em: 20 mar. 14. MARTINS D.V.; ARAÚJO L. Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Sociedade Brasileira de Nefrologia. Diabetes Mellitus: Tratamento da Hipertensão Arterial. Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina, 2004. Disponível em: <http://www.projetodiretrizes.org.br/4_volume/12-tratament.pdf >Acesso em: 06 mai. 14. SALLES, J. E.; LIMA T. S. Tratamento medicamentoso das comorbidades metabólicas do paciente obeso. HAS e Síndrome metabólica. ABESO, 2008. Disponível em: < http://www.abeso.org.br/pagina/100/artigo+de+revisao.shtml> . Acesso em: 06 mai. 14. “Interdisciplinaridade, Saberes e Práticas” Itumbiara, GO, Brasil – 06 a 09 de outubro de 2014.