Tratamento cirúrgico pode interromper ou reduzir crises em 80% dos pacientes de epilepsia Em alguns tipos de difícil controle, observa academia brasileira de neurologia Procedimento pode ser a alternativa nos casos em que medicamentos não foram eficazes Caracterizado pelo mau funcionamento transitório de um grupo de neurônios, a Epilepsia atinge atualmente cerca de 2% da população nos países em desenvolvimento. Com maior incidência entre crianças e pessoas acima de 60 anos, o diagnóstico, por sua vez, é fundamentalmente baseado no histórico clínico do paciente, ou seja, o que é relatado pelo indivíduo e familiares. De acordo com análises do Departamento de Epilepsia da Academia Brasileira de Neurologia, o processo cirúrgico é uma alternativa eficaz para alguns dos casos de Epilepsia. Estima-se, no entanto, que cerca de 30% dos pacientes de Epilepsia não respondam de maneira positiva ao tratamento medicamentoso. Nessas ocasiões, após uma série de novos exames e tentativas alternativas de tratamento, o paciente pode ter sua candidatura considerada ao tratamento cirúrgico. “O tratamento cirúrgico é uma realidade para 15 a 20% dos pacientes com epilepsia e idealmente consiste no reconhecimento e identificação da área cerebral geradora de crises epilépticas, através dos exames, e sua retirada, através de uma cirurgia”, destaca Dr. Luciano de Paola, coordenador do Departamento de Epilepsia da Academia Brasileira de Neurologia. Ou seja, o procedimento cirúrgico é destinado a pacientes que utilizaram sem sucesso vários medicamentos e após estudos em centros especializados tiveram idealmente apenas uma área identificada como responsável pelas crises. “Esta área pode então ser retirada cirurgicamente com segurança e os resultados esperados nestas condições, dependendo do tipo de epilepsia, podem chegar a sucesso absoluto em 80 ou 90% dos pacientes”, explica De Paola. Apesar de não possuir cura, é sabido que a doença pode ser tratada através do uso de medicamentos antiepiléticos ou anticonvulsivantes, encontrados no Brasil. Aponta-se que as crises sofram uma significativa diminuição após iniciado o tratamento. A resposta ao tratamento medicamentoso é considerada boa, com resolução das crises em quase 70% dos pacientes adequadamente tratados. Estes são os casos mais simples e em geral respondem bem ao uso de uma única droga antiepiléptica adequadamente prescrita. O que é a Epilepsia? Epilepsia é definida pelo mau funcionamento de um grupo de neurônios e quando envolve os dois hemisférios cerebrais determina uma convulsão, conhecida popularmente como ataque epiléptico, cursando com perda de consciência, queda, tremores dos braços e pernas, mordedura de língua, cianose e em alguns casos perda de urina. Dr. Luciano de Paola explica que essas crises podem ocorrer em períodos variáveis, com intervalos de dias, semanas, meses ou até mesmo anos. E, em casos mais graves, as crises podem acontecer diariamente ou várias vezes em um só dia. Contribuem como facilitadores para o desencadeamento de crises fatores como: febre, algumas drogas e medicamentos e álcool. “Além dos tumores, malformações cerebrais as crises podem ser originadas a partir de lesões causadas por traumatismos cranianos infecções, alterações metabólicas e lesões vasculares entre outras causas, como, por exemplo, na epilepsia geneticamente determinada”, explicou o neurologista. O diagnóstico, segundo Dr. Luciano, vai além da história clínica do indivíduo. “Por vezes é necessária a realização de estudos complementares (exames). Os mais comuns são exames de imagem, do tipo tomografia computadorizada ou ressonância magnética e eletrencefalograma”. A vida do paciente O tratamento com resultados positivos são essenciais para a qualidade de vida desses pacientes. Ainda hoje, os danos causados pela doença são muitos. Dr. Luciano explica que os prejuízos são sentidos pelos indivíduos no mercado de trabalho, nos relacionamentos e em atividades como direção e até mesmo esportes. Pacientes com epilepsia estão sujeitos, também, a alterações comportamentais como depressão e transtornos de ansiedade. O tratamento, seja através de medicamentos ou cirurgia, interrompe ou reduz os quadros. “A instrução e esclarecimento da população sobre esta desordem neurológica comum é essencial para redução do estigma e incremento ao apoio e suporte as pessoas que vivem com este problema”, defende o neurologista da ABN.