Obesidade, açúcar e guerras da propaganda Embo ra na última década a in vestigaçã o cardiovascular tenha conhecido um crescimento exponencial, que se traduz num melhor conhecimento das alterações moleculares associadas à insuficiência cardíaca, este au mento de informação não te ve o resultado esperado na prática clínica, visto que esta doença ainda apresenta um prognóstico sombrio, constituindo presentemente umas das principais causas de morte no mundo industrializado. A insuficiência cardíaca é assim um problema de saúde pública com elevados índices anuais de morbi-mortalidade, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento. O tratamento clínic o co m inib idore s da e nzima de conve rsão da angiotensina (ECA) e betabloqueadores, melhorou o prognóstico dos pacientes sintomáticos, mas o tratamento farmacológico apresenta grandes limitações, sendo o número de pacientes refractários muito alto. As células estaminais, adultas e embrionárias, são extremamente promissoras em terapias regenerativas de corações d oentes. Tra balhos muito recentes la nçam luz sobre e ve ntos a nível molecular e celular* que pe rmitirão num fu turo próximo alarga r estas terapias. Mas enq uan to essa s técnica s não estã o disp oníveis a p r e v e n ç ã o é a m e l h o r « t e r a p i a ». O s u p l e m e n t o d a N a t u r e d e 1 4 d e Dezembro de 2006, Obesidade e diabetes (acesso livre), é devotado à «d o e n ç a » d o s é c u l o , a o b e s i d a d e . D e f a c t o , a o b e s i d a d e i m p l i c a uma panóplia de doenças crónicas, como a que é abordada especialmente neste suplemento da Nature, a diabetes tipo II, mas tem associadas igualmente outras disfunções metabólicas e, especialmente, doenças cardiovasculares, como reiteram a American Heart Assoc iation (AHA) e a Orga nização Mundial de Saúde. Aliás, em Novembro de 2006, os ministros da saúde da UE reuniram-se em Istambul para discutir formas de combater a obesidade. O acúcar é normalmente apontado como um dos principais culpados pela obesidade, pelo que não é de espantar que existam inúmeras alternativas doces ao acúcar, por exemplo, sacarina, aspartame, frutose, sucralose, lactose, maltodextrina, ciclamato, acesulfame-k, sorbitol, steviosídeo, manitol, dextrose ou neohesperidina. Assim como não é de espantar que a concorrência neste campo seja feroz... Dos Estad os Unidos che ga -nos a notícia de u ma gue rra publicitária entre dois gigantes dos edulcorantes artificiais, a Merisant (que comercializa aspartame sob as marcas comerciais Equal e Nutra Sweet - o equivalente em Po rtu gal será o Ca nderel) e a McNeil Nutritionals (que comercializa sucralose com o nome Splenda). A Merisant processou a McNeil por causa da campanha p ublicitária desta última que inclui a frase «feito de acúcar, pelo q u e s a b e a a ç ú c a r ». Claro que o problema da Merisant é não poder usar o equivalente na sua propaganda porque não teria o mesmo efeito dizer que o aspartame é feito de ácido aspártico e fenilalanina... Mas no cerne da questão está o facto de que o aspartame, que já foi lider incontestado do mercado dos adoçantes artificiais, tem vindo a perder terreno para a sucralose, que neste momento detém 62% do mercado norte-americano. O j ulgame nto da co ntrove rsa frase, que segundo a Merisa nt i n d u z o s c o m p r a d o r e s a p e n s a r q u e s u c r a l o s e é m a i s «n a t u r a l » q u e os concorrentes, contará com a presença de químicos que defenderão a causa de ambos os lados, mas na realidade para mim opinião que mais químicos partilham comigo - ambas as companhias ( e muitas mais, não apenas na indústria alimentar) dever-se-iam sentar no banco dos réus por explorarem a iliteracia científica, neste caso química, do público em geral na promoção dos seus produtos. Como escreve Joshua Finkelstein, editor da Nature, se rá interessante seguir e ste julgame nto, espec ialmente porque a decisão final estará a cargo do júri e suponho que será um júri vulgar de Lineu, isto é, os jurados não serão escolhidos pela sua literacia científica. *Por exemplo, a Cell de De zembro de 2006 desc re ve dua s descobertas revolucionárias neste campo. Uma equipa de cientistas do Ma ssachusetts Ge ne ral Hospital e da Harva rd Medical School em Boston, liderada por Kenneth Chien, identificou células estaminais embrionárias em ratos que se podem transformar nos vários tipos de células que constituem o coração, cardiomiócitos, células endoteliais vasculares e células musculares lisas, isto é, são percursoras não apenas das células que constituem o músculo cardíaco mas igualmente de todo o tipo de células cardíacas. Os cardiomiócitos são células altamente diferenciadas que param a sua multiplicação logo após os primeiros anos de vida. A morte dos cardiomiócitos, por exemplo como consequência de um enfarte do miocárdio, origina uma fibrose tissular, que dependendo da extensão pode levar a insuficiência cardíaca. Como afirmo u Chien, «Este estu do docume nta um paradigma para a cardio gé nese, em q ue se mostra que a dive rsificação das l inha gens de cél ulas mu sculares e endoteliais de rivam de u ma dec isão a nível de uma única célula, a cé lula multipotente isl1+ q u e é u m a c é l u l a p r o g e n i t o r a c a r d i o v a s c u l a r ». No segundo artigo, a equipa liderada por Stuart Orkin do Ho ward Hu ghe s Institute em Chevy Chase, Md., isolou células de um embrião de rato que expressam um gene cardíaco específico, o Nkx2.5+. Estas células diferenciam-se espontaneamente em cardiomiócitos e células do sistema de condução cardíaco - que conduzem os impulsos eléctricos que permitem os batimentos do coração. Os cientista s ve rifica ram que algumas destas células - que expressam um segundo gene, o c-kit e a que chamaram ckit+Nkx2.5+ - se transformavam em células musculares lisas. A descoberta destas células mãe específicas para tecidos ca rdíac os é extremame nte p romissora p orque a regene ração usand o células estaminais embrionárias totipotentes tem riscos associados à possibilidade de crescimento descontrolado com formação de teratomas, um tipo de tumor. Fonte: Blog De Rerum Natura Data: Abril de 2007 Au tor: Palmira F. da Silva