Migração temporária de Claro dos Poções-MG para Itupiranga-PA Cláudia Soares de Jesus Gildette Soares Fonseca Palavras chave: Migração; Temporária; Trabalho; Claro dos Poções; Economia. A configuração territorial do Brasil é resultante dos fluxos migratórios internos impulsionados, em geral, pela busca de melhores condições econômicas; dessa forma, a mobilidade populacional ocorreu e continua acontecendo conforme as ofertas de trabalho, (re)criando espaços de atração e repulsão. Neste contexto, esta pesquisa tem como objetivo conhecer a migração temporária de trabalhadores do município de Claro dos Poções-MG para Itupiranga-PA. Para tanto fizemos em levantamento bibliográfico, trabalhos de campo em que entrevistamos trinta e três dos quarenta e cinco migrantes, ou seja, 73% do universo e um representante do poder público de Claro dos Poções. O município de Claro dos PoçõesMG apresenta indicadores sociais e econômicos que refletem na necessidade da população de migrar em busca de trabalho. A partir dos dados obtidos na pesquisa, concluimos que os errantes que atuaram no Programa Luz para Todos – do Governo Federal em parceria com os governos estaduais e as concessonárias elétricas no caso do Pará , as Centrais Elétricas do Pará (CELPA) – em Itupiranga, são duas mulheres e quarenta e três homens, a maioria solteiros, na faixa etária de 21 a 30 anos, com baixa escolaridade. A principal causa da migração é a necessidade financeira e as dificuldades que implicaram no regresso estão relacionadas as condições de trabalhos precárias, as caracteristicas físicas de Itupiranga e principalmente a saudade dos familiares, amigos e do espaço de vivência. Doze dos trabalhadores ao retornarem migraram para outras áreas à procura de emprego, o que comprova a ineficência do poder público, uma vez que desconhece as migrações temporárias dos claropocenses, impossibilitando ações que solucionem tal fenômeno anualmente. Trabalho apresentado no XVII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em CaxambúMG – Brasil, de 20 a 24 de setembro de 2010”. Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. Migração temporária de Claro dos Poções-MG para Itupiranga-PA Cláudia Soares de Jesus Gildette Soares Fonseca 1 Introdução As migrações internas no Brasil refletem a dinâmica econômica do período colonial até a atualidade (2008). Os ciclos econômicos e o difícil processo de integração propiciaram fluxos migratórios estruturando espaços de atração e repulsão. Devemos considerar a importância desses movimentos internos que, além do processo de redistribuição da força de trabalho, exercem papel na integração social, cultural e econômica. Segundo Becker (1997, p.319), “a cada nova ordem política mundial correspondeu uma nova ordem econômica, com emergência de novos fluxos demográficos”. Fluxos que muitas vezes são temporários, pois este tipo de migração normalmente ocorre conforme as safras agrícolas e/ou em caso de construções de grande porte como hidrelétricas, programas desenvolvidos por governos de esfera federal e estadual. O migrante temporário geralmente possui baixo grau de escolaridade, reside em áreas em que existe pouca oferta de trabalho e por isso desloca-se em busca da sobrevivência, submetendo-se a trabalhos com baixa remuneração. Neste contexto insere-se o município de Claro dos Poções, pertencente à mesorregião norte mineira, onde todos os anos ocorrem migrações temporárias de claropocenses para outros municipíos, estados, e/ou outras regiões. Neste contexto, este estudo tem como objetivo principal conhecer a migração temporária de trabalhadores do município de Claro dos Poções-MG para Itupiranga-PA. Para tanto, utilizamos como procedimentos metodológicos pesquisa bibliográfica e documental, trabalhos de campo, em que entrevistamos trinta e três dos quarenta e cinco migrantes, ou seja, 73% do universo. Nossa pesquisa está estruturada em três eixos: no primeiro tratamos da dinâmica das migrações internas do Brasil, associando com a economia; em seguida, apresentamos as características do município de Claro dos Poções e dos migrantes temporários, e, por fim, caracterizamos os migrantes claropocenses que deslocaram para Itupiranga-PA, e os resultados do estudo. 2- A dinâmica das migrações internas do Brasil e a relação com a economia. A temática migração interna envolve vários domínios das Ciências Sociais e não deve ser estudada de forma estanque, pois reflete manifestações e transformações no âmbito social e econômico. Maximilien Sorre (1984, p.124) aponta que a migração é a “idéia de movimento, de mudança de lugar e de moradia”. No Brasil, a configuração territorial resulta de fluxos migratórios – dinâmica econômica – desde o período das grandes navegações, estendendo-se até a atualidade (2008). Neste contexto, iniciamos nossa discussão abordando o processo de ocupação européia e formação do Brasil a partir do Tratado de Tordesilhas – assinado em 1494 Trabalho apresentado no XVII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em CaxambúMG – Brasil, de 20 a 24 de setembro de 2010”. Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. limitando a possessão das terras portuguesas e espanholas – tal tratado foi, burlado gradualmente, (re)criando espaços com grande heterogeneidade, expandindo as fronteiras a oeste. A esse respeito Théry e Mello (2005, p.32) pontuam: [...] Tratado de Tordesilhas (que demarcou, em 1494, possessões espanholas e portuguesas) era limitado pelo meridiano que passa pela foz do rio Amazonas. Dois séculos e meio depois, as fronteiras atuais, quase três mil quilômetros a oeste da anterior, já eram atingidas na maior parte da sua extensão, e a força do sentimento nacional, forjado nesta conquista, permitiu superar todas as segmentações sociais e regionais. Os acontecimentos do referido período resultam das relações de poder da época, pois as pressões de outros povos, como franceses e holandeses forçaram Portugal a exercer domínio sobre o território1 “conquistado”, além de estendê-lo. Assim, podemos afirmar que a dimensão continental do Brasil resulta do dinamismo pioneiro, inicialmente dos portugueses e, posteriormente, dos “brasileiros” – resultante da miscigenação. A área delimitada pelo Tratado de Tordesilhas abrangia apenas a configuração dos estados do Nordeste, grande parte do Sudeste, o mínimo do Centro-Oeste, Sul e Norte2. A conquista de território ao longo dos séculos XVI, XVII, XVIII, XIX e XX ocorreu tanto no sentido de leste para oeste (3.440 Km), como de sul para norte (3.830 Km), transformando o Brasil no quinto país em extensão territorial do globo terrestre. Tendo em vista esta perspectiva de expansão territorial, podemos afirmar que a mobilidade populacional ocorreu em função dos eixos econômicos, inicialmente com o paubrasil, posteriormente, com a cultura da cana-de-açúcar, mineração, borracha, café. Nas palavras de Martins (1997, p.36). Desde muito tempo, ele vem sendo o país das “febres”: febre da cana-de-açúcar no século XVI e XVII (porque a Europa comprava o açúcar e isso interessava ao Rei de Portugal); febre da mineração no século XVIII; febre do café no século XIX e primeiras décadas do século XX e a febre da borracha de 1860 a 1910. As “febres” abordadas pelo autor são também denominadas de ciclos e “ilhas” econômicas. Para Furtado (1977), no período imperial brasileiro existiam cinco grandes regiões mercantis: o Nordeste açucareiro e algodoeiro, sendo o núcleo Recife; o pólo cafeeiro tendo o Rio de janeiro como centro; em Salvador a produção de açúcar e fumo, passando, em seguida, a ser eixo de cacau (final do século XIX); o Sul voltado para a pecuária e fabricação de charque; e, não menos importante, a Amazônia – exportadora de borracha (século XIX). Os contingentes de migrantes nas regiões variaram conforme a produtividade. Entretanto, de acordo com Théry e Mello (2005, p. 36), a compreensão da gênese do Brasil não deve ficar restrita apenas aos ciclos econômicos: Entendê-la pressupõe levar igualmente em conta diversos outros fatores, como o dinamismo dos bandeirantes, os esforços dos missionários, a paciente expansão dos pecuaristas e a tenaz vontade política e administrativa da Coroa portuguesa. Os autores estabelecem com clareza a importância da circulação dos bandeirantes, missionários e pecuaristas que formaram os caminhos do gado. Na faixa litorânea de Olinda 1 (...) superfície que os indivíduos de uma nação se deslocam. Ele tem sua verticalidade [...]. Ele vai além da superfície com terra, estendendo-se ao mar, quando este é compreendido nas águas territoriais de um país [...] enfim, o território [...] pode ser compreendido [...] pelas diferentes maneiras que a sociedade se utiliza para se apropriar e transformar a natureza (SPOSITO, 2004 p.112-113) 2 Consideramos a regionalização oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (Pernambuco) a São Sebastião do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro) destacava a extração do pau-brasil, adentrando um pouco para o interior a partir de São Jorge de Ihéus (Bahia), e o plantio de cana-de-açúcar concentrava-se no litoral; no entanto, em pontos disjuntos, a pecuária restringia apenas a áreas próximas a Salvador. Podemos inferir que a economia no território brasileiro no século XVI não possuía um perfil definido, mesmo porque os portugueses desconheciam as riquezas existentes na Colônia, uma vez que havia muita dificuldade para reconhecimento da área, ficando a população concentrada no litoral. No século XVII, o açúcar se consolidou como produto de exportação, favorecido pelo solo e clima do Nordeste. O Brasil Colônia passa a ser o primeiro no mundo na produção do açúcar, desta forma surge a necessidade de mão-de-obra. Inicia-se, então, o tráfico negreiro, que dura aproximadamente três séculos. A expansão da pecuária para o interior, foi, sem dúvida, o princípio básico para o controle político exercido por Portugal na Colônia, até mesmo a descoberta do ouro e a demarcação de rotas de circulação de produtos tiveram os pecuaristas como colaboradores diretos. No entender de Furtado (1977, p. 57): [...] a forma mesma como se realiza a acumulação de capital dentro da economia criatória induzia a uma permanente expansão – sempre que houvesse terras por ocupar – independentemente das condições de procura. A essas características se deve que a economia criatória se haja transformado num fator fundamental de penetração e ocupação do interior brasileiro. As palavras de Furtado (1977) evidenciam a importância da pecuária, a expansão demarcado pelo Tratado de Tordesilhas, estende-se à área espanhola. Segundo Théry e Mello (2005), a pecuária foi a principal responsável pela dilatação do território brasileiro, permanecendo após a decadência do ouro e favorecendo a formação de povoados, vilas e cidades. O período de 1580 a 1640 em que as coroas portuguesas e espanholas mantiveram unidas facilitou a anexação de grande parte da área Norte ao atual território do Brasil, além da ação efetiva dos missionários jesuítas. O Tratado de Madri (1750) – estabelecido para substituir o Tratado de Tordesilhas – redefiniu os domínios na América do Sul de Portugal e Espanha, o que representou a definição do território brasileiro, praticamente igual a vigente. De acordo com Mata (1980, p.813), a “descoberta de ouro em Minas Gerais e a extração da borracha na Amazônia atraíram consideráveis levas de migrantes – principalmente do Nordeste do País – a estas regiões”, o autor enfoca a relação migraçãoeconomia. No século XIX, as atividades econômicas por áreas eram: no Sul mate e pecuária; no Nordeste, cana, cacau, fumo, algodão, pecuária e extração de ouro e diamantes; no Sudeste, café, fumo, algodão, pecuária e extração de recursos minerais; no Centro-Oeste, mate, pecuária e extração de ouro e diamantes e, por último, o Norte, com extensa área de extração do látex e drogas do sertão, além de pequenas áreas de pecuária. Vale ressaltar que as grandes riquezas minerais do Norte até então eram desconhecidas. O cultivo do café criou uma nova área polarizadora, pois a agricultura deveria produzir algo que fosse tão lucrativo como o ouro na era da mineração. Neste contexto, o café que se destaca precisamente no Rio de Janeiro, expandiu para Minas Gerais e São Paulo, ou seja, região Sudeste, detentora de um número expressivo de população, desde o auge do ciclo do ouro - século XVII. O cultivo do café teve peculiaridades que devem ser mencionadas - a influência nas imigrações; o fim da escravidão; a substituição da mão-de-obra escrava pela assalariada (custeada pelos ricos barões do café e pelo governo de São Paulo). Muitos europeus vieram em busca do sonho de enriquecimento, no entanto encontraram péssimas condições de trabalho. Paralelamente a estes movimentos de entrada de imigrantes, por polarização econômica, ocorreram migrações internas, estimuladas pelos mesmos motivos. Conforme Camargo (1959), fatores repulsivos de um lado, e atrativos de outro, condicionam a realização do fenômeno, nas suas diversas formas, envolvendo múltiplos aspectos: demográficos, econômicos e sociais. Para Camargo (1959. p.3) Realmente, desde a Colônia e o Império, caracterizou-se a história econômicosocial brasileira por fluxos e refluxos de população, deslocando-se de região para região no encalço de oportunidades que afloravam com a eclosão de novas atividades promissoras de riqueza rápida e certa. No que se refere à abordagem das migrações internas podemos inferir que são deslocamentos dentro do Estado Nação3, podendo ocorrer no mesmo município, ou em municípios diferentes, intra-estadual (dentro do mesmo estado), inter-estaduais (entre estados), intra-regional (dentro da mesma região), inter-regionais (de uma região para outra) e diretamente ligadas a questões econômicas, políticas, religiosas e naturais. Neste contexto, o ciclo da borracha pode ser considerado muito significativo na leitura das migrações internas no Brasil, porque foi o primeiro grande fluxo interno do Nordeste para o Norte (THÉRY E MELLO, 2005). Os migrantes em sua maioria fugiam da prolongada seca de 1877 a 1880 e eram incentivados pela propaganda fantasiosa dos governos dos estados amazônicos a trabalharem na produção da borracha. No entender de Martins (1997, p. 43) “quando a sobrevivência dos habitantes de uma região é ameaçada, a tendência é procurarem outras regiões principalmente aquelas onde há promessa de vida melhor”. Os nordestinos acreditavam que na região Norte encontrariam melhores oportunidades, uma vez que a região era abundante em água e a extração do látex absorveria a mão-de-obra. Para Théry e Mello, (2005, p. 40): “Mais de um milhão de nordestinos vieram, assim, instalar-se na Amazônia, e muitos ficaram após o desmoronamento do sistema da borracha”. Com o declínio da produção da borracha, a miséria generalizou-se rapidamente, nordestinos sem condições de regressarem a região de origem e sem conhecimento do que realmente estava ocorrendo, foram obrigados a exercer trabalho escravo e/ou sobreviver da caça e da pesca regredindo à forma mais primitiva da economia de subsistência. Percebemos que a principal causa na migração nordeste / norte foi natural (seca) relacionada com os aspectos econômicos enfim, nem sempre temos apenas um fator que promova a migração. No século XX, a economia brasileira abandona os “ciclos”, os “pólos” econômicos isolados e inicia na década de 1940, a integração, que posteriormente foi lema do período da ditadura militar: “integrar para não entregar”. Para Mata (1980), a falta de integração territorial fez com que a entrada de estrangeiros até 1920 fosse superior às migrações internas. É valido mencionar que até não ocorreu de fato uma integração por completo, devido à grande extensão territorial e à heterogeneidade em todos os setores (econômicos, políticos, culturais...), além das dificuldades que os governos têm para estabelecer políticas públicas que a viabilize A “integração”, ainda que parcial, propiciou o desenvolvimento de várias atividades econômicas no Brasil, porém com resquícios dos ciclos. Podemos assim apontar: concentração da população na faixa litorânea; vazio demográfico no Norte; o crescimento econômico do Estado de São Paulo; uma acentuada concentração de renda em determinadas regiões em detrimento de outras, ou seja, um país em que a má distribuição de renda possui 3 O Estado-Nação [...] essencialmente formado de três elementos: 1) o território; 2) um povo; 3) a soberania. A utilização do território pelo povo cria o espaço. As relações entre o povo e seu espaço e as relações entre os diversos territórios nacionais são reguladas pela função da soberania. (SANTOS, 1996, P. 189 -190) raízes coloniais, permanecendo as migrações internas normalmente pela busca de melhores condições sociais. Encerramos esta seção ratificando que os fluxos migratórios internos no Brasil foram determinados pela economia, sendo responsáveis pela configuração territorial. As mobilidades internas representam à busca de melhores condições econômicas em áreas que apresentam uma melhor dinâmica nos moldes do capitalismo (áreas de atração populacional). Na seqüência, apresentamos as características do município em que estão inseridos os nossos agentes da pesquisa, o espaço de repulsão populacional, e os migrantes temporários de Claro dos Poções. 3. Claro dos Poções-MG: espaço de dispersão populacional Procuramos neste tópico retratar o município de Claro dos Poções quanto aos aspectos físicos e econômicos, para melhor compreensão dos fatores que propiciam as migrações temporárias da área. O Município de Claro dos Poções está situado na mesorregião4 do Norte de Minas Gerais, conforme Divisão da Região de Planejamento e na microrregião de Montes Claros, com uma área de 720,23 Km². Limita geograficamente com os municípios de Coração de Jesus (norte), Francisco Dumont (sul), Montes Claros e Engenheiro Navarro (leste) e Jequitaí e São João da Lagoa (oeste). O marco da cidade está localizado nas coordenadas geográficas: 17º4’46’’ “latitude sul e 44º12’30” de longitude oeste, distante da capital mineira - Belo Horizonte - 462 Km e da cidade de Montes Claros 79 Km, o acesso a estas é pela BR 365. Claro dos Poções teve seu processo de ocupação e formação associados à pecuária, tendo em vista que serviu como “caminho do gado” no período de ocupação das entradas e bandeiras na região norte de Minas Gerais. A origem da cidade está diretamente relacionada às características físicas da região, fator responsável também pelo nome recebido, por volta de 1900, quando foi descoberto nas proximidades do atual município de Coração de Jesus, um local desprovido de vegetação, com espelhos d’água, onde os animais gostavam de refugiarem, conforme o parecer de Santos ( 2005, p 26): Nas confluências das fazendas Santo Antônio, Cachoeira e São José (Mocambinho) havia um local onde a vegetação era escassa, mas com a existência de poços nos rios, conservando grande volume de água por todo período das secas, o que servia de atração para o gado. A área tornou-se conhecida pelos fazendeiros que buscavam os rebanhos nos “claros” ou “poções”, e posteriormente, em terras cedidas por vários fazendeiros, foram construídos uma capela e um cemitério, dando inicio ao povoamento da área. A emancipação política de Claro dos Poções ocorreu em 30 de dezembro de 1962 - Lei nº 2.764, quando desmembrou-se do município de Jequitaí. Segundo informações obtidas da população do próprio município, a emancipação esteve associada à solicitação de construção de uma escola, ou seja, melhoria educacional, o não atendimento do pedido levou a comunidade a se mobilizar para alcançar emancipação política. No dia 1º de março de 1963, houve a primeira sessão solene de instalação do município; entretanto, a documentação para a 4 Na mesorregião do norte de Minas Gerais há sete microrregiões – Bocaiúva, Grão Mogol, Janaúba, Pirapora, Salinas e Montes Claros. O município de Claro dos Poções pertence à microregião de Montes Claros, como Brasília de Minas, Campo Azul, Capitão Enéas, Mirabela, Coração de Jesus, Francisco Sá, Glaucilândia, Ibiracatu, Japonvar, Juramento, Lontra, Luislândia, Patis, Ponto Chique, São João da Lagoa, São João da Ponte, São João do Pacui, Ubaí, Varzelândia e Verdelândia. emancipação política só foi registrada em Cartório no dia 03 de março de 1963 esta última fixada como data de comemoração do aniversário da cidade. O Mapa 1 espacializa o município de Claro dos Poções na mesorregião do nortemineiro. Mapa 1: Minas Gerais com destaque para o norte e para Claro dos Poções Fonte: Geominas, 2008. Org. JESUS, C.S, 2008. Quanto às características físicas do município, podemos afirmar que está inserido na bacia hidrográfica do Rio São Francisco, conta com os principais recursos hídricos o Rio São Lamberto e do Rio Traíras, que nascem ao norte do município, além de vários córregos. Os recursos hídricos e as grutas existentes no município podem ser explorados para o turismo, em função da beleza que atrai visitantes no decorrer do ano – contudo não há aproveitamento pela sociedade claropocense. O clima do município é tropical subúmido, com temperaturas elevadas, caracterizado principalmente por ter duas estações bem definidas, verão quente e chuvoso, inverno seco e relativamente frio. As temperaturas médias anuais de Claro dos Poções ficam em torno de 23º C, ao passo que o índice pluviométrico anual é 1.100 mm (CARVALHO et al, 1998). De acordo com Fonseca (2004), Claro dos Poções está inserido em duas unidades geomorfológicas – a Serra do Espinhaço, composta de quartzitos e responsável pelas maiores altitudes; e o Chapadão, formado sobre uma camada quase horizontal do grupo Bambuí. O relevo pertencente à depressão san-franciscana apresenta predominantemente planoondulado, a altimetria varia até 1.012 metros - próximos à nascente do córrego Lajinha, a 575 metros, na intercessão dos rios São Lamberto e Jequitaí; a sede municipal fica a 632 metros de altitude. Em razão da natureza das rochas, os solos apresentam textura média arenosa, 60%, e argiloso, 40%, com tipos predominantes de latossolo vermelho-escuros e amarelos. A vegetação característica da região é o cerrado, que envolve um mosaico de tipos vegetacionais. (FONSECA, 2004) No que concerne à população, segundo a contagem de 2007 do IBGE, Claro dos Poções tem uma população de 8131 habitantes, distribuída nos seis bairros da cidade: Vista Alegre, Mandacaru, Renascer, Nossa Senhora de Fátima, São Vicente e Centro; no distrito Vista Alegre; e nos povoados e comunidades. No que se refere aos indicadores sociais e econômicos de Claro dos Poções, optamos analisar os dados do Atlas de Desenvolvimento Humano do Instituto de Pesquisa Aplicada – IPEA (2000). Sobre a taxa de urbanização de Claro dos Poções de 1991, o IPEA (2000) aponta que era de 53,90%, passando para 61,72% em 2000 – crescimento de 14,52% indicador expressivo considerando o curto período. Podemos ponderar que a população está abandonando o campo em busca da área urbana, o que implica na necessidade de direcionar políticas de fixação do homem ao campo e maior investimentos na infra-estrutura da cidade. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - IDH-M, no mesmo período teve um acréscimo de 15,91% (IPEA 2000), ou seja, de 0,591 (1991) a 0,685 (2000); segundo o estudo, tal fato ocorreu em função do crescimento da taxa da educação, com 55,5%, seguida pela renda, com 27%, e pela longevidade, com 17%, no período em questão. É sabido que a universalização do ensino vem contribuindo para melhoria do IDH em todo o Brasil, assim como políticas de combate a fome e a melhoria na expectativa de vida. Os dados do IPEA (2000) de Claro dos Poções, pautados no Gini – indicador que mede o grau de distribuição da renda – variando de 0 a 100 – zero implica equanimidade – apresenta que a renda per capita do município em 1991 era de R$ 67,78 e passou para R$ 107,70 em 2000, aumento de 58,90%, que contribuiu para redução da pobreza em 25,81%; todavia, a desigualdade no período em análise cresceu, tendo em vista que apresentava 0,51 em 1991 e 0,52 em 2000. Consideramos que os indicadores do IPEA (2000) evidenciam uma melhoria na década de 1990, porém não solucionam um dos maiores problemas do município, a geração de postos de trabalho, que evitaria as migrações temporárias. Ousamos ponderar que o decréscimo da pobreza e a não redução da desigualdade resulta de políticas assistencialistas que muitos governos adotam. No que diz respeito à infraestrutura em pavimentação, saúde, educação, geração de postos de trabalho de Claro dos Poções, podemos afirmar, com base nas pesquisas de campo, que existe uma precariedade, pois não atende a demanda da população. Este fator impulsiona a mobilidade da população para Montes Claros, cidade pólo do Norte de Minas Gerais, assim como para outras regiões do Estado mineiro, outros estados e regiões. Notamos que a área Central apresenta ruas pavimentadas, praças, contudo a infraestrutura diminui nos demais bairros, percebemos ruas sem pavimentação, residências que utilizam como fonte alternativa de energia lenha, lamparinas; cisternas para abastecimento das casas, canteiros com cultivo de plantas medicinais, o que deixa explicito a intrínseca relação entre o meio urbano e rural. Pereira & Almeida (2004, p. 76) pontuam que “cidade é simultaneamente, um conjunto de objetos e relações e o lugar de existência das pessoas, constituindo não apenas um arranjo de objetos tecnicamente orientado, mas o espaço do cotidiano do vivido”. Concernente ao atendimento médico-hospitalar existe apenas um centro de saúde localizado na sede. O atendimento é direcionado a consultas; exames parasitológicos e coleta de sangue são enviados a Montes Claros para análise; eletrocardiogramas – ECG – são realizados na cidade e aferidos os resultados via on-line pelo sistema de telemedicina “Minas Telecárdio” desenvolvido pela Universidade Federal de Minas Gerias – UFMG – em parceria com a Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes; há também tratamento odontológico. No distrito de Vista Alegre há postos de atendimento médico diário e nas comunidades de Boa Sorte e Pouso Alto o atendimento é esporádico. Todos os casos de tratamentos médicos mais específico são encaminhados à Coração de Jesus e Montes Claros, o acesso ao atendimento de claropocenses nestas cidades e facilitado pelo Sistema Único de Saúde Fácil – SUSFACIL – e pelo Sistema Único de Saúde Municipal – SUSMUNICIPAL. O município conta também com atuação do Programa Saúde da Família – PSF – com 100% de cobertura. No tocante à apreciação das questões referentes à saúde, percebemos que a maior parte da população não tem acesso a rede de esgoto que é lançado em fossa séptica. No que diz respeito à limpeza urbana, esta é realizada pela Prefeitura Municipal, no distrito e na sede, em dois dias alternados na semana em cada bairro, sendo utilizado um caminhão / carroceria – próprio para o serviço – trator e caçamba como auxílio no transporte dos resíduos sólidos que são depositados em um lixão próximo da sede, nas comunidades a limpeza fica a cargo da população. Inferimos que um maior investimento no setor da saúde por parte dos gestores públicos, poderia reduzir os gastos com medicamentos, dando à população melhor qualidade de vida, inclusive ampliando a rede de esgoto e coletando o lixo mais efetivamente. A distribuição e tratamento da água da cidade Claro dos Poções é de responsabilidade da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA). A captação da água é feita em poços tubulares, porém ainda há algumas “cisternas” como fonte alternativa, na área rural existem também postos tubulares, “cisternas” e consumo da água de rios, ou seja, a água consumida não recebe tratamento. Quanto à educação, de acordo com dados fornecidos pela Secretaria de Educação Municipal, o município conta com seis escolas municipais, que atendem a demanda do ensino fundamental e duas escolas estaduais, que atendem o ensino fundamental e médio. É valido mencionarmos que encontra-se em fase de implantação a Escola de Tempo Integral, voltada para a educação básica, sua construção iniciou-se em julho de 2008, com previsão de completa efetivação no ano de 2012. Para Moraes (2006, p. 47), a adoção de escolas em tempo integral constitui uma importante decisão por parte dos governos que a adotam, “quanto mais tempo as crianças puderem ficar nas escolas, mais longe ficarão das drogas e das marginalidades e melhor será seu desenvolvimento intelectual e moral”. Detectamos na nossa pesquisa que o poder público mantém convênio com duas instituições de ensino superior, a Universidade Presidente Antônio Carlos – UNIPAC – que ministra curso Normal Superior e a Universidade Luterana do Brasil – ULBRA – que utiliza o programa de Educação a Distância – EAD e oferta os cursos de Pedagogia e Administração de Empresas; entretanto, estudantes que pretendem fazer cursos técnicos ou ingressarem no ensino superior em instituições estadual e/ou federal fazem diariamente o trajeto pendular Claro dos Poções/Montes Claros, custeando as despesas do deslocamento. Interessante observarmos o vínculo existente com Montes Claros. Leite e Pereira (2008, p. 58) asseveram “[...] Montes Claros desempenha a função de centralizar o serviço de saúde, educação, suporte administrativo e serviços financeiros” tornando-se área receptora de migrantes clapocenses. Muitos jovens não têm condições financeiras de custear despesas do deslocamento diário, desta forma migram para Montes Claros, Belo Horizonte, Uberlândia, Lavras e outras cidades, onde estudam e trabalham. Existe um grupo de jovens que ficam à margem desse processo, mantendo-se no município onde exercem atividades ligadas ao comércio e a agropecuária ou migram temporariamente para regiões de Minas Gerais e/ou do Brasil, uma vez que as atividades econômicas municipais não atendem toda a mão-de-obra disponível. A geração de postos de trabalho para suprir toda a demanda, como já mencionamos, tem sido o principal problema do município, uma vez que a economia desde o início da ocupação esteve voltada para o setor agropecuário, predominantemente de subsistência - com comercialização esporádica do excedente, em geral pequeno. Existem dezessete associações comunitárias no município que exercem grande importância na produção coletiva de alimentos para subsistência das famílias associadas, bem como comercialização de parte dos produtos com socialização dos lucros obtidos. Entre essas está a Associação da Comunidade do Brejão, onde vivem cinqüenta famílias que se dedicam à produção de farinha. Em 2006 estas famílias participaram de cursos de formação profissional ministrados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR. A Comunidade investiu no plantio coletivo de mandioca em uma área de cinco hectares com produção de cem toneladas por ano. São fabricados, em média, 150 quilos de farinha vendidos na região, 30% da produção vão para Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB – (EMATER, 2008) No que concerne ao feijão, este é produzido apenas para subsistência, apesar de ser uma leguminosa adaptado às condições climáticas da área. A cana-de-açúcar é produzida para alimentação do rebanho e o restante processada em alambiques (cachaça), comercializada no mercado através de cooperativas organizadas pelos produtores. O milho está presente em quase todas as propriedades rurais, entretanto sem organização comercial. A laranja e o café são produtos para consumo dos pequenos produtores, no caso das associações a colheita é dividida entre os membros associados, em outras situações são vendidos nas feiras que acontecem em alguns domingos na cidade. A pecuária também é expressiva em Claro dos Poções. As atividades que mais absorvem mão-de-obra no município pertencem ao setor primário – agricultura familiar. No entanto, existe a renda proveniente dos aposentados e dos funcionários públicos estaduais e municipais, assim como dos estabelecimentos comerciais. Santos (2005, p.28) afirma. Atualmente, a economia do município é voltada para o setor agropecuário. Porém, sofre influência dos recursos advindos das rendas do funcionalismo público estadual e municipal, bem como do comércio varejista. Porém a influência maior do setor agropecuário. A ausência de dinâmica do mercado de trabalho claropocense ocasiona a supervalorização dos setores informais. O excesso de força de trabalho disponível no mercado pressiona o salário dos que estão empregados de forma que o crescimento da produtividade não signifique o crescimento do operariado, além da exploração dos empregados, isto é, prolongada jornada de trabalho não compatível com os salários, ou seja, a desvalorização do trabalhador assalariado, não somente no setor comercial, mas também no setor público municipal. O valor da mão de obra claropocense é relativamente baixo, o que instiga na população o desejo e/ou a necessidade de migrar em busca de melhores salários, mesmo aqueles que estão inseridos no mercado de trabalho. Em virtude disso, o município de Claro dos Poções pode ser caracterizado como dispersor de população, uma vez que a população desloca-se para regiões em busca de trabalho para a sobrevivência, desconsiderando muitas vezes as distâncias físicas e as diversidades regionais. Migrantes temporários passam de geração a geração o modo de vida, trabalhar conforme as safras, ou ainda de acordo com a demanda de trabalho, sendo a forma que os casados encontram para manter suas famílias e os jovens solteiros a oportunidade de receber um montante de capital na esperança de poder comprar veículos, construir casas, constituir uma família. 4 – O retrato dos migrantes temporários do município de Claro dos Poções Como aludimos, a oferta de trabalho no município de Claro dos Poções não atende à população, fato que corrobora para fluxos migratórios temporários. Migração temporária representa movimentos em que os indivíduos deslocam-se por um determinado período, normalmente para exercer atividades relacionadas às safras agrícolas e ou construções de grandes obras, como hidrelétricas, entre outras. Desta forma, é comum claropocenses migrarem anualmente para outras regiões em busca da sobrevivência, acreditando no sonho de bom salário, constituindo-se assim, em errantes5 temporários que nas palavras de Martins (1986, p.45) Migrar temporariamente é mais do que ir e vir - é viver em espaços geográficos diferentes, temporalidades dilaceradas pelas contradições sociais [...] ser e não ser ao mesmo tempo; sair quando está chegando, voltar quando está indo [...] É estar em dois lugares ao mesmo tempo, e não estar em nenhum. É, até mesmo, partir sempre e não chegar nunca. O migrante temporário além de viver em espaços geográficos distintos, leva e traz hábitos, costumes, culinária, valores. Neste processo alguns desenvolvem a cultura do trabalho sazonal repassada aos filhos, outros, com aversão, buscam insistentemente que a prole não tenha a mesma saga. Para Martins (1986, p. 49-50). É temporário, na verdade, aquele migrante que se considera a si mesmo “fora de casa”, “fora do lugar”, ausente, mesmo quando, em termos demográficos, tenha migrado definitivamente. É aquele que se considera fora do seu lugar, fora de suas relações sociais, e que no limite não considera dentro mesmo quando esta. Neste contexto de dispersão populacional trabalhadores assalariados que afastam do seu lugar de origem por vários dias, semanas ou meses conduzidos pelos “gatos” 6 para trabalhar conforme as safras da colheita do café, do corte de cana-de-açúcar no sul de Minas, ou mesmo aproveitam outras oportunidades de melhoria das condições de vida, como a “frente de trabalho” em Itupiranga - PA do Programa Luz para Todos desenvolvido pela Centrais Elétricas do Pará – CELPA. No município percebemos trabalhadores rurais que migram para outras áreas rurais no norte de Minas Gerais exercendo serviços braçais, complementando a renda familiar. Existem também jovens claropocenses que após a conclusão do ensino médio, migram temporariamente para Montes Claros, Uberlândia, Belo Horizonte, Viçosa, almejando o ingresso no ensino superior e trabalho para custear as próprias despesas, indo morar na cidade, retornando à terra natal no período de férias, das festas locais e feriados, (aqueles que vão para Montes Claros normalmente retornam todos os finais de semana). Constatamos casos de migrantes que não configura como temporários, deslocando-se para outros países, como Portugal e Estados Unidos, onde trabalham, vivem e retornam com menor freqüência. Em todos os casos supracitados de migração temporária existe o desejo de retornar à Claro dos Poções, contudo nem sempre é possível em função dos custos financeiros do deslocamento e a reduzida disponibilidade de folgas no trabalho o que impede a realização de regresso. Em alguns casos os obstáculos forçam muitos “chefes de famílias” a promoverem a migração de toda a família, ao invés do seu retorno. Finalizamos este tópico reafirmando que os migrantes temporários do município de Claro dos Poções saem em busca de capital para sua sobrevivência ou para estudarem, pois não encontram neste, trabalho que atenda a demanda, assim como cursos superiores gratuitos. Na seqüência abordamos a migração de claropocenses para Itupiranga no Pará. 5. Caracterização dos errantes temporários que migraram para Itupiranga-PA e os resultados da pesquisa. 5 6 Silva (1999), afirma que errantes são trabalhadores que vivem errando de um lugar a outro. Silva (1999, p. 107), considera “gato” como [...] o intermediário entre patrões e empregados. Os agentes da nossa pesquisa são quarenta e cinco trabalhadores claropocenses que se direcionaram à Itupiranga – localizada no estado do Pará, região Norte do Brasil – para atuarem no Programa Luz para Todos. O Programa Luz para Todos foi criado em 2004 pelo governo federal, tendo como parcerias os governos estaduais e as concessionárias de energia elétrica, no caso do Pará, Centrais Elétricas do Pará – CELPA. O objetivo do Programa é fazer com que todas as famílias brasileiras tenham acesso a energia elétrica até 2010. O Projeto é executado conforme priorização definida pelo comitê gestor estadual, representantes do governo federal, das concessionárias, do Ministério de Minas e Energia e de entidades representativas de setores da economia e dos trabalhadores. O Mapa 2 espacializa a localização do município de Claro dos Poções - MG em relação ao município de Itupiranga – PA. Mapa 2: Fluxo de migrantes de Claro dos Poções - MG a Itupiranga-PA Fonte: IBGE, 1994 Org: JESUS, C.S, 2008. Ao analisar o Mapa 2, podemos imaginar o quanto os migrantes viajaram para chegar a Itupiranga e o sentimento de desolação no percurso, 1778 Km - distância entre os municípios -, quatro dias de viagem, ou seja, 96 horas, com apenas três paradas para banho. Para Singer (1980, p.100) Não importando quão curto ou quão longo, fácil ou difícil, a verdade é que todo ato migratório implica num lugar de origem de destino e numa série de obstáculos intervenientes. Inclui-se nesta série como um dos obstáculos que estão sempre presentes, a distância do deslocamento. O autor pontua a distância como um obstáculo para os migrantes, poderíamos acrescentar neste processo a dor de deixar para trás filhos, esposas, mães, amigos, o lugar7 de vivência. 7 Conforme Yu Tuan ( 1983, p.83), “quando o espaço nos é familiar, torna-se lugar”. O município de Itupiranga-PA, pertencente à mesorregião do sudeste paraense e microrregião do Tucuruí (IPEA, 2000), caracteriza-se com um clima equatorial quente e úmido, com temperaturas médias elevadas (25º a 27º), chuvas abundantes bem distribuídas ao longo do ano e reduzida amplitude térmica, uma vez que está inserido relativamente próximo à linha do Equador, diferindo das características físicas de Claro dos Poções, fato que dificultou a adaptação dos trabalhadores e permanência na região. Os migrantes de Claro dos Poções foram para Itupiranga trabalhar na rede de eletrificação exercendo atividades de eletricista, ajudante de serviços gerais, abridor de buraco, motorista, operador de moto-serra e cozinheira. Deveriam permanecer no período de dezembro de 2007 até dezembro de 2009, contudo todos regressaram antes, por vários fatores que abordaremos em seguida. No decorrer dos trabalhos de campo, entrevistamos trinta e três dos migrantes que deslocaram para Itupiranga, ou seja, 73%. Não foi possível entrevistar 100% tendo em vista que doze deles, ao retornarem, migraram para outras regiões em busca de trabalho. Elaboramos um roteiro de entrevista para melhor caracterização dos agentes da pesquisa, quanto ao sexo, idade, escolaridade e estado civil, para onde migraram, as condições de trabalho, dos alojamentos e possíveis soluções para evitar as migrações temporárias claropocenses. No que se refere ao sexo dos pesquisados, são duas migrantes e quarenta e três homens. Podemos inferir que duas mulheres se propuseram a trabalhar no Programa Luz para Todos, sendo que uma não retornou, pois envolveu com o agenciador; a outra migrante não adaptou às condições de trabalho, retornando quatro meses após o deslocamento. A predominância de homem é comum em migração de deslocamento coletivo, longa distância e trabalho pesado. Isto se explica devido à diferença salarial oferecida às mulheres em relação aos homens, à violência, à discriminação e, até mesmo a função exercida pela mulher no local de origem: mãe, esposa, dona de casa fatores que dificultam o deslocamento. Os agentes da pesquisa estão em sua maioria na faixa etária de 21 a 30 anos (24); doze deles na faixa de 31 a 40 anos, apenas três com idade entre 19 e 20 anos e seis migrantes com idades superior a 40 anos. Os dados apontam que não temos menores de idade, como é comum na migração temporária do corte de cana e na colheita de café. Ao analisarmos o grau de escolaridade notamos que os migrantes apresentam poucos anos de estudo, uma vez que dezessete possuem ensino fundamental completo e oito não o concluíram. Quanto ao ensino médio, nove não completaram e onze concluíram. Procuramos analisar os resultados associando a faixa etária e a escolaridade e percebemos que os onze que concluíram o ensino médio estão na faixa etária de 21 a 30 anos. Ao relacionarmos as informações, podemos afirmar que os migrantes estão na faixa etária produtiva e que somente onze concluíram a educação básica, fato comum no sexo masculino, pois segundo o Ministério da Educação e Cultura –MEC - (2008) é comum no Brasil mulheres terem maior escolaridade. A baixa escolaridade condiciona trabalhadores a direcionarem para áreas com atividades que não exigem alta qualificação, serviços que requerem mais esforços físicos. Referente ao estado civil dos migrantes, prevalece os solteiros, trinta e nove, quatro casados e dois separados. Menezes (2002) diz que há uma predominância de solteiros na realização de trabalhos de longa distância e extensa duração, enquanto os casados optam por curta distância – este tipo de itinerário está relacionado com os papéis sociais masculinos de pai e marido. Entretanto, na falta de oportunidade, deslocam-se para locais mais distantes. Murray apud Menezes (2002) aponta que uma das conseqüências da migração sobre a comunidade de origem é a desintegração da família, pois a prolongada ausência do marido pode provocar a desestruturação conjugal. Quando indagamos aos migrantes se era a primeira vez que migravam, 100% responderam não, ou seja, já foram para outras áreas: Várzea da Palma, Francisco Dumont, Pirapora, Montes Claros, Belo Horizonte, Uberlândia, Ubaí, São Romão, São João do Pacuí, Serra do Cabral, Iraí de Minas, São Paulo. Notamos que os agentes migravam basicamente dentro de Minas Gerais, com exceção de São Paulo. Um migrante relatou: se eu nunca tivesse saído pra trabalhar em outros lugares eu não ia para o Pará porque é muito complicado sair da sua casa para viver em locais que você não conhece, mas desde os 17 anos sempre vou de um lugar a outro em busca de emprego. Pará é muito longe não aconselharia quem nunca trabalhou fora ir para lá. [sic] O migrante expressa a necessidade de “andar pelo mundo”8 à procura de emprego desde a juventude. Neste contexto, Singer (1980) apresenta que o conhecimento e familiaridade com a área de origem de certa forma privam ou causam insegurança no migrante a respeito da área de destino, uma vez que desconhecendo a nova área ou pelo menos não a conhecendo tanto quanto o local de origem, as vantagens e desvantagens passam a ser incertas. No que se refere às atividades exercidas nas áreas mencionadas pelos migrantes, em geral estavam associadas ao setor primário: corte de cana, colheita do café, transporte de mercadorias da área rural para urbana. Interrogamos os errantes como foram informados do emprego em Itupiranga. Todos foram comunicados por seis dos migrantes que atuavam no Programa Clarear, desenvolvido pela da Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG - que obtiveram informações do processo de seleção, sendo que as atividades a serem executadas eram basicamente as mesmas desenvolvidas na CEMIG. Desse modo, foram contratados através da parceria entre a empreiteira Engelminas e a Andrade Gutierrez para trabalharem no Programa Luz para Todos em Itupiranga – Pará. Solicitamos que discorressem sobre a situação trabalhista anterior ao deslocamento. Dos quarenta e cinco, vinte e cinco migrantes não estavam exercendo nenhuma atividade remunerada, os demais, mesmo empregados no comércio e prestação de serviços como pedreiro, eletricista, optaram pela migração, uma vez que teriam um melhor retorno salarial. De um lado observa-se a deficiência de fonte de trabalho do local de origem e baixos salários pagos caracterizam Claro dos Poções como dispersora de população, de outro uma região com oferta trabalhista. Nas palavras de Singer (1979, p.73). os fatores de expulsão definem as áreas de onde se originam os fluxos migratórios, mas são os fatores de atração que determinam a orientação destes fluxos e as áreas às quais se destinam. Entre os fatores de atração o mais importante é a demanda por força de trabalho entendida esta não apenas como a gerada pelas empresas industriais, mas também a que resulta da expansão de serviços tanto dos que são executados por empresas capitalistas. No Brasil é comum espaços que apresentam tais fatores, podendo inclusive uma área exercer atração e repulsão, dependendo da dinâmica econômica. Questionamos aos migrantes as razões que os levaram a deslocarem para um lugar tão distante. Alguns solteiros justificaram que migraram como estratégia de acumular capital para realizarem o sonho do casamento. A migração para Itupiranga foi vista como uma possibilidade de arrecadar recursos financeiros para os preparativos do casamento, como terminar a construção da casa, comprar mobília e pagar pela cerimônia. Para os casados e separados a decisão de migrar está relacionada ao fato de buscarem melhores condições de vida, pois estavam desempregados ou exercendo atividades com baixa remuneração. Para Menezes (2002, p 85), explica andar pelo mundo “significa procurar trabalhos em lugares distantes de sua terra natal, ou, em outros, termos, migrar” 8 Sorre apud Damiani (2008, p. 63) “o impulso migratório raramente é um fato simples; resume-se num acúmulo de necessidades, desejos, sofrimentos e esperanças”. Perguntamos sobre as dificuldades encontradas e sobre a assistência médicohospitalar em Itupiranga. Os relatos dos errantes enfatizam a condição ambiental que ensejava readaptação física, associada à precariedade de assistência médico-hospitalar. Muitos não se adaptaram ao clima da região ficando com saúde debilitada, além de não terem acesso a hospitais, uma vez que os atendimentos médicos eram distante do alojamento e restrito. Os migrantes têm expectativa de encontrar condições básicas no local de destino, vários migrantes queixaram-se que os acordos trabalhistas não estavam sendo cumpridos, conforme lhes tinham acenado. O migrante cita os empecilhos da permanência na frente de trabalho. A distância de casa, atraso de salário, as condições climáticas não favoreciam, pois o calor era intenso e com chuva as estradas como eram ruins, ficava ainda pior levando a correr grande perigo, a insegurança nos fez desistir. (sic) Segundo os migrantes, as estradas até o local de trabalho ofereciam risco devido à estrutura física inadequada e ao elevado índice pluviométrico da região. Interessante notar que apesar das dificuldades mencionadas, quando questionamos sobre os motivos que os levaram a desistir do emprego em Itupiranga e retornar a Claro dos Poções eles apresentaram a saudade da família, parentes, dos amigos e da cidade como fator predominante. Desse modo, podemos afirmar que existe uma forte relação de identidade com o município. O sentimento de integração é denominado topofilia”[...] o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico [...]” (YU FU TUAN 1980, P. 106), neste aspecto a pessoa constitui o vínculo de pertencimento, de afetividade. No que tange ao alojamento dos migrantes, eram duas casas com quartos para cinco, cozinha sala com televisão e apenas um banheiro. As mulheres ficavam em locais separados. A percepção dos migrantes sobre o alojamento apresenta divergência: Eram condições viáveis de moradia, local alugado pela firma com boas instalações e local bem cuidado localizado dentro da cidade, boa alimentação dormitório bom. (sic) casa com pouco conforto, esgoto no meio das ruas a céu aberto, muito inseto. (sic) Enquanto alguns restringiram as características da habitação, propriamente dita, outros apresentaram aspectos do meio onde estavam inseridos. Não tivemos oportunidade de conhecer os alojamentos onde ficaram os agentes do nosso estudo, porém afirmamos que o alojamento deveria ser arejado, amplo e limpo com o mínimo de conforto para os trabalhadores repousarem. As interações dos trabalhadores no espaço do alojamento são de grande importância, pois o grupo estabelece e procura manter costumes da terra natal como maneira de auxiliar a adaptação. Além de manterem ajuda mútua, dividindo inquietações e alegrias de modo que não ficam submissos a realidade. Os migrantes disseram que a situação domiciliar se torna melhor, graças aos ótimos companheiros. Haesbaert (2006, p. 40) A força da identidade entre muitos grupos migrantes é um dos principais fatores responsáveis pela coesão mantida pelo grupo, mesmo longe de seu território de origem. Isto faz com que muitos, ao contrário do discurso corrente da desterritorialização, acabem se envolvendo em processos claros de reterritorialização, ou seja, de recomposição de seus territórios em outras bases, territórios estes recriados por meio da amalgama proporcionado pela força das redes mantidas no interior da dinâmica migratória. Haesbaert (2006) aponta as fortes relações interpessoais que são criadas pelos migrantes. Ao analisarmos os tipos de atividades exercidas e a distância da terra natal, surgiu a necessidade de estimar os salários recebidos. A média salarial era de dois a três salários mínimos, sendo que apenas o encarregado geral recebia o valor de três salários. Sabendo da complexidade, do número de variáveis que circundam a realidade do migrante (distância da terra natal, ambiente alheio, condições climáticas diversas), cabe questionarmos se o salário recebido era compatível com as funções exercidas. Silva (1999, p. 75), explica que: (...) além dos elementos necessários à reprodução físicas dos trabalhadores, é preciso levar em conta os elementos históricos e sociais. Tais elementos históricos não podem ser relativos apenas aos aspectos políticos da classe trabalhadora, mas também aos elementos subjetivos. A pergunta seria, então, a seguinte: quanto vale este trabalhador? No que diz respeito ao período de folgas para visitas a Claro dos Poções, cada migrante poderia deslocar-se após três meses de serviço prestado, sendo que as despesas eram custeadas pela empresa, porém passível de alteração. Os migrantes acabavam adequando suas folgas ao calendário de festas da cidade de origem. Devemos considerar que eventos sociais pertencentes à tradição municipal exercem papel de integração entre a população migrante e a que ficou, a exemplo da cultura claropocense temos a Festa de Bom Jesus. De acordo com Menezes & Silva (1999, p. 83) “a festa não é somente o momento de reencontro daqueles que partiram como também representa o momento de recriação de relações de sociabilidade”. A Festa de Bom Jesus é também um símbolo em que tempo e espaço articulam. Neste período aumenta a chegada de ônibus na cidade de Claro dos Poções trazendo migrantes temporários ou aqueles que estão longe da terra natal. Há de se considerar ainda a repercussão na dinâmica da economia, pois os migrantes investem parte do capital adquirido no comércio local. As diferenças climáticas entre Claro dos Poções e Itupiranga, a saudade dos familiares, amigos e do lugar fizeram com que os migrantes optassem pelo regresso, mesmo na incerteza de ingressarem no mercado de trabalho. No bojo destas inflexões, relacionamos o tempo de estadia em Itupiranga à atual situação trabalhista dos membros integrantes. Quanto ao tempo de permanência no trabalho temporário quatro trabalhadores ficaram dois meses; nove trabalhadores três meses; treze ficaram sete meses; doze ficaram nove meses; seis permaneceram onze meses e apenas uma mulher permaneceu em Itupiranga. Um tempo relativamente curto se considerarmos o período previsto em contrato – dois anos. Eles desistiam do emprego geralmente em grupo, fato que está intrinsecamente relacionado aos fatores envolvidos no regresso. Referente à atual situação empregatícia dos migrantes, dos quarenta e cinco apenas 20% voltaram certos de uma outra atividade remunerada em Claro dos Poções, destes, três estão em atividades que exerciam antes do deslocamento, relacionadas ao comércio. Doze migraram para outras regiões temporariamente, e os demais não estão realizando nenhuma atividade. Os migrantes apontaram possíveis ações que consideram a solução ou pelo menos uma forma de minimizar a “fuga” de claropocenses. Nas palavras dos migrantes: Deveriam criar um campo de trabalho em nosso município, ou seja, construir empresas, indústrias, e outro.(sic) Mais empenho dos mais favorecidos, financeiramente e politicamente para investimento na cidade. (sic) Emprego, pois, um cidadão bem empregado consegue tudo o que precisa para alcançar uma excelente qualidade de vida. É tudo o que busca aquele que sai de sua casa, é isso e não só para ele mais para sua família é viver bem que todos queremos. (sic) Percebemos que para os migrantes é preciso que haja um aumento na geração de emprego no município, visando manter o claropocense no lugar de origem. Encerramos esta seção pontuando que os trabalhadores migrantes claropocenses se deslocam para vários lugares em busca de melhoria de vida, não levando em consideração os fatores que funcionariam como empecilhos como a distância física e trabalhos pesados. Enfrentaram a jornada tendo em vista a diferença de remuneração recebida em Claro dos Poções, um salário mínimo, e a que foi proposta para o trabalho em Itupiranga, até três salários mínimos, todavia as dificuldades impelidas forçaram o retorno à terra natal. 6. Considerações finais As migrações internas temporárias implicam sempre em retorno ao espaço de vivência com certa periodicidade. O errante temporário resulta da necessidade de deslocar, instigado quase sempre pelo desemprego, sofrimento, condições sócio-econômicas deficitárias. A migração é percebida como uma possibilidade de solucionar problemas pertencentes ao espaço de vivência, visando adquirir capital suficiente para comprar alimentos, bens duráveis, investir em suas residências para melhorar a convivência com a família. Neste contexto é que está inserida parte dos brasileiros desde o período colonial, a constância de mobilidade de uma região a outra com objetivo de superar dificuldades de áreas onde há uma problemática social-econômica operante, em direção àquelas que acenam possibilidades de crescimento individual e/ou coletivo – gerando movimentos da economia e da população. As migrações internas não são apenas resultantes de desequilíbrios internos, sociais ou demográficos, mas precipuamente como fator de organização espacial de uma sociedade. As migrações temporárias dos claropocenses não são recentes é um processo que perdura desde a ocupação e formação do município. Constatamos que dos quarenta e cinco migrantes pesquisados que se deslocaram para Itupiranga, no Estado do Pará, para atuarem no Programa Luz para Todos, quarenta e três são homens e duas mulheres. Ao identificarmos as condições de trabalho dos errantes, notamos a complexidade desta variável. Nem sempre as pretensões dos migrantes em relação a área de destino são alcançadas, levando muitos, ou, nesse caso, todos, a desistirem antes do período previsto. As diferenças climáticas e dificuldades encontradas foram tão evidentes que propiciaram o regresso a Claro dos Poções antes de alcançarem os objetivos pretendidos. As causas da migração para um local tão distante (1778 km) estão relacionadas à reduzida oferta de trabalhos que não atende a demanda da população claropocense, ou seja, a busca por melhores condições de vida. Apesar das dificuldades em termos de infraestrutura em que vivem os claropocenses, existe um sentimento de pertencimento do local, pois os migrantes guardam o sonho de deslocarem para conseguir capital e, investirem na cidade. O trabalho pelo Programa Luz para Todos não ofereceu suporte para a permanência dos trabalhadores claropocenses em Itupiranga, tendo em vista que as combinações seladas com os migrantes não estavam sendo cumpridas, era comum atraso no pagamento da mão de obra e a omissão em pagar horas extras trabalhadas. Ademais, as condições físicas - alto índice pluviométrico e elevadas temperaturas sacrificaram a saúde dos claropocenses, além disso a assistência médico-hospitalar era precária, o trajeto serviço / alojamento configurava em perigo com estradas de difícil trânsito. O retorno dos migrantes implicou em novos rumos migratórios, uma vez que doze direcionaram para outras áreas em busca de emprego. Enquanto houver ineficácia em atrair investimentos para geração de emprego no município, Claro dos Poções continuará repelindo população. E as conseqüências são clarividentes tais como redução do crescimento populacional, alteração na composição da estrutura etária da população, uma vez que a população "flutuante" é composta predominantemente por jovens e adultos, fator que pode favorecer a existência de maior proporção de idosos e carência de mão-de-obra específica. Existe apenas o projeto de plantação de oleaginosas para fabricação do Biodíesel, que se encontra em desenvolvimento, voltado para os pequenos produtores rurais, que objetiva fixar o homem no campo. Portanto, a ausência de políticas públicas que favoreçam a permanência de claropocenses na terra natal tem propiciado um espaço de repulsão populacional em Claro dos Poções. 7. Referências BECKER, Bertha K. & EGLER, Cláudio A. G. Brasil: uma nova potência regional na economia – mundo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. 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