Migração temporária de Claro dos Poções-MG para Itupiranga-PA•

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Migração temporária de Claro dos Poções-MG para Itupiranga-PA
Cláudia Soares de Jesus
Gildette Soares Fonseca
Palavras chave: Migração; Temporária; Trabalho; Claro dos Poções; Economia.
A configuração territorial do Brasil é resultante dos fluxos migratórios internos
impulsionados, em geral, pela busca de melhores condições econômicas; dessa forma, a
mobilidade populacional ocorreu e continua acontecendo conforme as ofertas de trabalho,
(re)criando espaços de atração e repulsão. Neste contexto, esta pesquisa tem como objetivo
conhecer a migração temporária de trabalhadores do município de Claro dos Poções-MG
para Itupiranga-PA. Para tanto fizemos em levantamento bibliográfico, trabalhos de campo
em que entrevistamos trinta e três dos quarenta e cinco migrantes, ou seja, 73% do universo e
um representante do poder público de Claro dos Poções. O município de Claro dos PoçõesMG apresenta indicadores sociais e econômicos que refletem na necessidade da população de
migrar em busca de trabalho. A partir dos dados obtidos na pesquisa, concluimos que os
errantes que atuaram no Programa Luz para Todos – do Governo Federal em parceria com os
governos estaduais e as concessonárias elétricas no caso do Pará , as Centrais Elétricas do
Pará (CELPA) – em Itupiranga, são duas mulheres e quarenta e três homens, a maioria
solteiros, na faixa etária de 21 a 30 anos, com baixa escolaridade. A principal causa da
migração é a necessidade financeira e as dificuldades que implicaram no regresso estão
relacionadas as condições de trabalhos precárias, as caracteristicas físicas de Itupiranga e
principalmente a saudade dos familiares, amigos e do espaço de vivência. Doze dos
trabalhadores ao retornarem migraram para outras áreas à procura de emprego, o que
comprova a ineficência do poder público, uma vez que desconhece as migrações temporárias
dos claropocenses, impossibilitando ações que solucionem tal fenômeno anualmente.

Trabalho apresentado no XVII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em CaxambúMG – Brasil, de 20 a 24 de setembro de 2010”.
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Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES.

Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES.
Migração temporária de Claro dos Poções-MG para Itupiranga-PA
Cláudia Soares de Jesus
Gildette Soares Fonseca
1 Introdução
As migrações internas no Brasil refletem a dinâmica econômica do período
colonial até a atualidade (2008). Os ciclos econômicos e o difícil processo de integração
propiciaram fluxos migratórios estruturando espaços de atração e repulsão. Devemos
considerar a importância desses movimentos internos que, além do processo de redistribuição
da força de trabalho, exercem papel na integração social, cultural e econômica. Segundo
Becker (1997, p.319), “a cada nova ordem política mundial correspondeu uma nova ordem
econômica, com emergência de novos fluxos demográficos”.
Fluxos que muitas vezes são temporários, pois este tipo de migração normalmente
ocorre conforme as safras agrícolas e/ou em caso de construções de grande porte como
hidrelétricas, programas desenvolvidos por governos de esfera federal e estadual. O migrante
temporário geralmente possui baixo grau de escolaridade, reside em áreas em que existe
pouca oferta de trabalho e por isso desloca-se em busca da sobrevivência, submetendo-se a
trabalhos com baixa remuneração. Neste contexto insere-se o município de Claro dos Poções,
pertencente à mesorregião norte mineira, onde todos os anos ocorrem migrações temporárias
de claropocenses para outros municipíos, estados, e/ou outras regiões.
Neste contexto, este estudo tem como objetivo principal conhecer a migração
temporária de trabalhadores do município de Claro dos Poções-MG para Itupiranga-PA. Para
tanto, utilizamos como procedimentos metodológicos pesquisa bibliográfica e documental,
trabalhos de campo, em que entrevistamos trinta e três dos quarenta e cinco migrantes, ou
seja, 73% do universo.
Nossa pesquisa está estruturada em três eixos: no primeiro tratamos da dinâmica
das migrações internas do Brasil, associando com a economia; em seguida, apresentamos as
características do município de Claro dos Poções e dos migrantes temporários, e, por fim,
caracterizamos os migrantes claropocenses que deslocaram para Itupiranga-PA, e os
resultados do estudo.
2- A dinâmica das migrações internas do Brasil e a relação com a economia.
A temática migração interna envolve vários domínios das Ciências Sociais e não
deve ser estudada de forma estanque, pois reflete manifestações e transformações no âmbito
social e econômico. Maximilien Sorre (1984, p.124) aponta que a migração é a “idéia de
movimento, de mudança de lugar e de moradia”. No Brasil, a configuração territorial resulta
de fluxos migratórios – dinâmica econômica – desde o período das grandes navegações,
estendendo-se até a atualidade (2008).
Neste contexto, iniciamos nossa discussão abordando o processo de ocupação
européia e formação do Brasil a partir do Tratado de Tordesilhas – assinado em 1494
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Trabalho apresentado no XVII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em CaxambúMG – Brasil, de 20 a 24 de setembro de 2010”.
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Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES
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Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES.
limitando a possessão das terras portuguesas e espanholas – tal tratado foi, burlado
gradualmente, (re)criando espaços com grande heterogeneidade, expandindo as fronteiras a
oeste. A esse respeito Théry e Mello (2005, p.32) pontuam:
[...] Tratado de Tordesilhas (que demarcou, em 1494, possessões espanholas e
portuguesas) era limitado pelo meridiano que passa pela foz do rio Amazonas.
Dois séculos e meio depois, as fronteiras atuais, quase três mil quilômetros a oeste
da anterior, já eram atingidas na maior parte da sua extensão, e a força do
sentimento nacional, forjado nesta conquista, permitiu superar todas as
segmentações sociais e regionais.
Os acontecimentos do referido período resultam das relações de poder da época,
pois as pressões de outros povos, como franceses e holandeses forçaram Portugal a exercer
domínio sobre o território1 “conquistado”, além de estendê-lo. Assim, podemos afirmar que a
dimensão continental do Brasil resulta do dinamismo pioneiro, inicialmente dos portugueses
e, posteriormente, dos “brasileiros” – resultante da miscigenação.
A área delimitada pelo Tratado de Tordesilhas abrangia apenas a configuração dos
estados do Nordeste, grande parte do Sudeste, o mínimo do Centro-Oeste, Sul e Norte2. A
conquista de território ao longo dos séculos XVI, XVII, XVIII, XIX e XX ocorreu tanto no
sentido de leste para oeste (3.440 Km), como de sul para norte (3.830 Km), transformando o
Brasil no quinto país em extensão territorial do globo terrestre.
Tendo em vista esta perspectiva de expansão territorial, podemos afirmar que a
mobilidade populacional ocorreu em função dos eixos econômicos, inicialmente com o paubrasil, posteriormente, com a cultura da cana-de-açúcar, mineração, borracha, café. Nas
palavras de Martins (1997, p.36).
Desde muito tempo, ele vem sendo o país das “febres”: febre da cana-de-açúcar no
século XVI e XVII (porque a Europa comprava o açúcar e isso interessava ao Rei
de Portugal); febre da mineração no século XVIII; febre do café no século XIX e
primeiras décadas do século XX e a febre da borracha de 1860 a 1910.
As “febres” abordadas pelo autor são também denominadas de ciclos e “ilhas”
econômicas. Para Furtado (1977), no período imperial brasileiro existiam cinco grandes
regiões mercantis: o Nordeste açucareiro e algodoeiro, sendo o núcleo Recife; o pólo cafeeiro
tendo o Rio de janeiro como centro; em Salvador a produção de açúcar e fumo, passando, em
seguida, a ser eixo de cacau (final do século XIX); o Sul voltado para a pecuária e fabricação
de charque; e, não menos importante, a Amazônia – exportadora de borracha (século XIX).
Os contingentes de migrantes nas regiões variaram conforme a produtividade. Entretanto, de
acordo com Théry e Mello (2005, p. 36), a compreensão da gênese do Brasil não deve ficar
restrita apenas aos ciclos econômicos:
Entendê-la pressupõe levar igualmente em conta diversos outros fatores, como o
dinamismo dos bandeirantes, os esforços dos missionários, a paciente expansão
dos pecuaristas e a tenaz vontade política e administrativa da Coroa portuguesa.
Os autores estabelecem com clareza a importância da circulação dos bandeirantes,
missionários e pecuaristas que formaram os caminhos do gado. Na faixa litorânea de Olinda
1
(...) superfície que os indivíduos de uma nação se deslocam. Ele tem sua verticalidade [...]. Ele vai além da
superfície com terra, estendendo-se ao mar, quando este é compreendido nas águas territoriais de um país [...]
enfim, o território [...] pode ser compreendido [...] pelas diferentes maneiras que a sociedade se utiliza para se
apropriar e transformar a natureza (SPOSITO, 2004 p.112-113)
2
Consideramos a regionalização oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
(Pernambuco) a São Sebastião do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro) destacava a extração do
pau-brasil, adentrando um pouco para o interior a partir de São Jorge de Ihéus (Bahia), e o
plantio de cana-de-açúcar concentrava-se no litoral; no entanto, em pontos disjuntos, a
pecuária restringia apenas a áreas próximas a Salvador. Podemos inferir que a economia no
território brasileiro no século XVI não possuía um perfil definido, mesmo porque os
portugueses desconheciam as riquezas existentes na Colônia, uma vez que havia muita
dificuldade para reconhecimento da área, ficando a população concentrada no litoral.
No século XVII, o açúcar se consolidou como produto de exportação, favorecido
pelo solo e clima do Nordeste. O Brasil Colônia passa a ser o primeiro no mundo na produção
do açúcar, desta forma surge a necessidade de mão-de-obra. Inicia-se, então, o tráfico
negreiro, que dura aproximadamente três séculos. A expansão da pecuária para o interior,
foi, sem dúvida, o princípio básico para o controle político exercido por Portugal na Colônia,
até mesmo a descoberta do ouro e a demarcação de rotas de circulação de produtos tiveram os
pecuaristas como colaboradores diretos. No entender de Furtado (1977, p. 57):
[...] a forma mesma como se realiza a acumulação de capital dentro da economia
criatória induzia a uma permanente expansão – sempre que houvesse terras por
ocupar – independentemente das condições de procura. A essas características se
deve que a economia criatória se haja transformado num fator fundamental de
penetração e ocupação do interior brasileiro.
As palavras de Furtado (1977) evidenciam a importância da pecuária, a expansão
demarcado pelo Tratado de Tordesilhas, estende-se à área espanhola. Segundo Théry e Mello
(2005), a pecuária foi a principal responsável pela dilatação do território brasileiro,
permanecendo após a decadência do ouro e favorecendo a formação de povoados, vilas e
cidades.
O período de 1580 a 1640 em que as coroas portuguesas e espanholas mantiveram
unidas facilitou a anexação de grande parte da área Norte ao atual território do Brasil, além
da ação efetiva dos missionários jesuítas. O Tratado de Madri (1750) – estabelecido para
substituir o Tratado de Tordesilhas – redefiniu os domínios na América do Sul de Portugal e
Espanha, o que representou a definição do território brasileiro, praticamente igual a vigente.
De acordo com Mata (1980, p.813), a “descoberta de ouro em Minas Gerais e a
extração da borracha na Amazônia atraíram consideráveis levas de migrantes –
principalmente do Nordeste do País – a estas regiões”, o autor enfoca a relação migraçãoeconomia. No século XIX, as atividades econômicas por áreas eram: no Sul mate e pecuária;
no Nordeste, cana, cacau, fumo, algodão, pecuária e extração de ouro e diamantes; no
Sudeste, café, fumo, algodão, pecuária e extração de recursos minerais; no Centro-Oeste,
mate, pecuária e extração de ouro e diamantes e, por último, o Norte, com extensa área de
extração do látex e drogas do sertão, além de pequenas áreas de pecuária. Vale ressaltar que
as grandes riquezas minerais do Norte até então eram desconhecidas.
O cultivo do café criou uma nova área polarizadora, pois a agricultura deveria
produzir algo que fosse tão lucrativo como o ouro na era da mineração. Neste contexto, o café
que se destaca precisamente no Rio de Janeiro, expandiu para Minas Gerais e São Paulo, ou
seja, região Sudeste, detentora de um número expressivo de população, desde o auge do ciclo
do ouro - século XVII. O cultivo do café teve peculiaridades que devem ser mencionadas - a
influência nas imigrações; o fim da escravidão; a substituição da mão-de-obra escrava pela
assalariada (custeada pelos ricos barões do café e pelo governo de São Paulo). Muitos
europeus vieram em busca do sonho de enriquecimento, no entanto encontraram péssimas
condições de trabalho.
Paralelamente a estes movimentos de entrada de imigrantes, por polarização
econômica, ocorreram migrações internas, estimuladas pelos mesmos motivos. Conforme
Camargo (1959), fatores repulsivos de um lado, e atrativos de outro, condicionam a
realização do fenômeno, nas suas diversas formas, envolvendo múltiplos aspectos:
demográficos, econômicos e sociais. Para Camargo (1959. p.3)
Realmente, desde a Colônia e o Império, caracterizou-se a história econômicosocial brasileira por fluxos e refluxos de população, deslocando-se de região para
região no encalço de oportunidades que afloravam com a eclosão de novas
atividades promissoras de riqueza rápida e certa.
No que se refere à abordagem das migrações internas podemos inferir que são
deslocamentos dentro do Estado Nação3, podendo ocorrer no mesmo município, ou em
municípios diferentes, intra-estadual (dentro do mesmo estado), inter-estaduais (entre
estados), intra-regional (dentro da mesma região), inter-regionais (de uma região para outra) e
diretamente ligadas a questões econômicas, políticas, religiosas e naturais.
Neste contexto, o ciclo da borracha pode ser considerado muito significativo na
leitura das migrações internas no Brasil, porque foi o primeiro grande fluxo interno do
Nordeste para o Norte (THÉRY E MELLO, 2005). Os migrantes em sua maioria fugiam da
prolongada seca de 1877 a 1880 e eram incentivados pela propaganda fantasiosa dos
governos dos estados amazônicos a trabalharem na produção da borracha. No entender de
Martins (1997, p. 43) “quando a sobrevivência dos habitantes de uma região é ameaçada, a
tendência é procurarem outras regiões principalmente aquelas onde há promessa de vida
melhor”. Os nordestinos acreditavam que na região Norte encontrariam melhores
oportunidades, uma vez que a região era abundante em água e a extração do látex absorveria
a mão-de-obra.
Para Théry e Mello, (2005, p. 40): “Mais de um milhão de nordestinos vieram,
assim, instalar-se na Amazônia, e muitos ficaram após o desmoronamento do sistema da
borracha”. Com o declínio da produção da borracha, a miséria generalizou-se rapidamente,
nordestinos sem condições de regressarem a região de origem e sem conhecimento do que
realmente estava ocorrendo, foram obrigados a exercer trabalho escravo e/ou sobreviver da
caça e da pesca regredindo à forma mais primitiva da economia de subsistência. Percebemos
que a principal causa na migração nordeste / norte foi natural (seca) relacionada com os
aspectos econômicos enfim, nem sempre temos apenas um fator que promova a migração.
No século XX, a economia brasileira abandona os “ciclos”, os “pólos”
econômicos isolados e inicia na década de 1940, a integração, que posteriormente foi lema do
período da ditadura militar: “integrar para não entregar”. Para Mata (1980), a falta de
integração territorial fez com que a entrada de estrangeiros até 1920 fosse superior às
migrações internas. É valido mencionar que até não ocorreu de fato uma integração por
completo, devido à grande extensão territorial e à heterogeneidade em todos os setores
(econômicos, políticos, culturais...), além das dificuldades que os governos têm para
estabelecer políticas públicas que a viabilize
A “integração”, ainda que parcial, propiciou o desenvolvimento de várias
atividades econômicas no Brasil, porém com resquícios dos ciclos. Podemos assim apontar:
concentração da população na faixa litorânea; vazio demográfico no Norte; o crescimento
econômico do Estado de São Paulo; uma acentuada concentração de renda em determinadas
regiões em detrimento de outras, ou seja, um país em que a má distribuição de renda possui
3
O Estado-Nação [...] essencialmente formado de três elementos: 1) o território; 2) um povo; 3) a soberania. A
utilização do território pelo povo cria o espaço. As relações entre o povo e seu espaço e as relações entre os
diversos territórios nacionais são reguladas pela função da soberania. (SANTOS, 1996, P. 189 -190)
raízes coloniais, permanecendo as migrações internas normalmente pela busca de melhores
condições sociais.
Encerramos esta seção ratificando que os fluxos migratórios internos no Brasil
foram determinados pela economia, sendo responsáveis pela configuração territorial. As
mobilidades internas representam à busca de melhores condições econômicas em áreas que
apresentam uma melhor dinâmica nos moldes do capitalismo (áreas de atração populacional).
Na seqüência, apresentamos as características do município em que estão inseridos os nossos
agentes da pesquisa, o espaço de repulsão populacional, e os migrantes temporários de Claro
dos Poções.
3. Claro dos Poções-MG: espaço de dispersão populacional
Procuramos neste tópico retratar o município de Claro dos Poções quanto aos
aspectos físicos e econômicos, para melhor compreensão dos fatores que propiciam as
migrações temporárias da área.
O Município de Claro dos Poções está situado na mesorregião4 do Norte de Minas
Gerais, conforme Divisão da Região de Planejamento e na microrregião de Montes Claros,
com uma área de 720,23 Km². Limita geograficamente com os municípios de Coração de
Jesus (norte), Francisco Dumont (sul), Montes Claros e Engenheiro Navarro (leste) e Jequitaí
e São João da Lagoa (oeste). O marco da cidade está localizado nas coordenadas geográficas:
17º4’46’’ “latitude sul e 44º12’30” de longitude oeste, distante da capital mineira - Belo
Horizonte - 462 Km e da cidade de Montes Claros 79 Km, o acesso a estas é pela BR 365.
Claro dos Poções teve seu processo de ocupação e formação associados à pecuária,
tendo em vista que serviu como “caminho do gado” no período de ocupação das entradas e
bandeiras na região norte de Minas Gerais. A origem da cidade está diretamente relacionada
às características físicas da região, fator responsável também pelo nome recebido, por volta
de 1900, quando foi descoberto nas proximidades do atual município de Coração de Jesus,
um local desprovido de vegetação, com espelhos d’água, onde os animais gostavam de
refugiarem, conforme o parecer de Santos ( 2005, p 26):
Nas confluências das fazendas Santo Antônio, Cachoeira e São José (Mocambinho)
havia um local onde a vegetação era escassa, mas com a existência de poços nos
rios, conservando grande volume de água por todo período das secas, o que servia
de atração para o gado.
A área tornou-se conhecida pelos fazendeiros que buscavam os rebanhos nos
“claros” ou “poções”, e posteriormente, em terras cedidas por vários fazendeiros, foram
construídos uma capela e um cemitério, dando inicio ao povoamento da área.
A emancipação política de Claro dos Poções ocorreu em 30 de dezembro de 1962
- Lei nº 2.764, quando desmembrou-se do município de Jequitaí. Segundo informações
obtidas da população do próprio município, a emancipação esteve associada à solicitação de
construção de uma escola, ou seja, melhoria educacional, o não atendimento do pedido levou
a comunidade a se mobilizar para alcançar emancipação política. No dia 1º de março de 1963,
houve a primeira sessão solene de instalação do município; entretanto, a documentação para a
4
Na mesorregião do norte de Minas Gerais há sete microrregiões – Bocaiúva, Grão Mogol, Janaúba, Pirapora,
Salinas e Montes Claros. O município de Claro dos Poções pertence à microregião de Montes Claros, como
Brasília de Minas, Campo Azul, Capitão Enéas, Mirabela, Coração de Jesus, Francisco Sá, Glaucilândia,
Ibiracatu, Japonvar, Juramento, Lontra, Luislândia, Patis, Ponto Chique, São João da Lagoa, São João da Ponte,
São João do Pacui, Ubaí, Varzelândia e Verdelândia.
emancipação política só foi registrada em Cartório no dia 03 de março de 1963 esta última
fixada como data de comemoração do aniversário da cidade.
O Mapa 1 espacializa o município de Claro dos Poções na mesorregião do nortemineiro.
Mapa 1: Minas Gerais com destaque para o norte e para Claro dos Poções
Fonte: Geominas, 2008. Org. JESUS, C.S, 2008.
Quanto às características físicas do município, podemos afirmar que está inserido
na bacia hidrográfica do Rio São Francisco, conta com os principais recursos hídricos o Rio
São Lamberto e do Rio Traíras, que nascem ao norte do município, além de vários córregos.
Os recursos hídricos e as grutas existentes no município podem ser explorados para o
turismo, em função da beleza que atrai visitantes no decorrer do ano – contudo não há
aproveitamento pela sociedade claropocense. O clima do município é tropical subúmido, com
temperaturas elevadas, caracterizado principalmente por ter duas estações bem definidas,
verão quente e chuvoso, inverno seco e relativamente frio. As temperaturas médias anuais de
Claro dos Poções ficam em torno de 23º C, ao passo que o índice pluviométrico anual é 1.100
mm (CARVALHO et al, 1998).
De acordo com Fonseca (2004), Claro dos Poções está inserido em duas unidades
geomorfológicas – a Serra do Espinhaço, composta de quartzitos e responsável pelas maiores
altitudes; e o Chapadão, formado sobre uma camada quase horizontal do grupo Bambuí. O
relevo pertencente à depressão san-franciscana apresenta predominantemente planoondulado, a altimetria varia até 1.012 metros - próximos à nascente do córrego Lajinha, a 575
metros, na intercessão dos rios São Lamberto e Jequitaí; a sede municipal fica a 632 metros
de altitude. Em razão da natureza das rochas, os solos apresentam textura média arenosa,
60%, e argiloso, 40%, com tipos predominantes de latossolo vermelho-escuros e amarelos. A
vegetação característica da região é o cerrado, que envolve um mosaico de tipos
vegetacionais. (FONSECA, 2004)
No que concerne à população, segundo a contagem de 2007 do IBGE, Claro dos
Poções tem uma população de 8131 habitantes, distribuída nos seis bairros da cidade: Vista
Alegre, Mandacaru, Renascer, Nossa Senhora de Fátima, São Vicente e Centro; no distrito
Vista Alegre; e nos povoados e comunidades.
No que se refere aos indicadores sociais e econômicos de Claro dos Poções,
optamos analisar os dados do Atlas de Desenvolvimento Humano do Instituto de Pesquisa
Aplicada – IPEA (2000). Sobre a taxa de urbanização de Claro dos Poções de 1991, o IPEA
(2000) aponta que era de 53,90%, passando para 61,72% em 2000 – crescimento de 14,52% indicador expressivo considerando o curto período. Podemos ponderar que a população está
abandonando o campo em busca da área urbana, o que implica na necessidade de direcionar
políticas de fixação do homem ao campo e maior investimentos na infra-estrutura da cidade.
O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - IDH-M, no mesmo período
teve um acréscimo de 15,91% (IPEA 2000), ou seja, de 0,591 (1991) a 0,685 (2000); segundo
o estudo, tal fato ocorreu em função do crescimento da taxa da educação, com 55,5%,
seguida pela renda, com 27%, e pela longevidade, com 17%, no período em questão. É sabido
que a universalização do ensino vem contribuindo para melhoria do IDH em todo o Brasil,
assim como políticas de combate a fome e a melhoria na expectativa de vida.
Os dados do IPEA (2000) de Claro dos Poções, pautados no Gini – indicador que
mede o grau de distribuição da renda – variando de 0 a 100 – zero implica equanimidade –
apresenta que a renda per capita do município em 1991 era de R$ 67,78 e passou para R$
107,70 em 2000, aumento de 58,90%, que contribuiu para redução da pobreza em 25,81%;
todavia, a desigualdade no período em análise cresceu, tendo em vista que apresentava 0,51
em 1991 e 0,52 em 2000. Consideramos que os indicadores do IPEA (2000) evidenciam uma
melhoria na década de 1990, porém não solucionam um dos maiores problemas do
município, a geração de postos de trabalho, que evitaria as migrações temporárias. Ousamos
ponderar que o decréscimo da pobreza e a não redução da desigualdade resulta de políticas
assistencialistas que muitos governos adotam.
No que diz respeito à infraestrutura em pavimentação, saúde, educação, geração
de postos de trabalho de Claro dos Poções, podemos afirmar, com base nas pesquisas de
campo, que existe uma precariedade, pois não atende a demanda da população. Este fator
impulsiona a mobilidade da população para Montes Claros, cidade pólo do Norte de Minas
Gerais, assim como para outras regiões do Estado mineiro, outros estados e regiões.
Notamos que a área Central apresenta ruas pavimentadas, praças, contudo a
infraestrutura diminui nos demais bairros, percebemos ruas sem pavimentação, residências
que utilizam como fonte alternativa de energia lenha, lamparinas; cisternas para
abastecimento das casas, canteiros com cultivo de plantas medicinais, o que deixa explicito a
intrínseca relação entre o meio urbano e rural. Pereira & Almeida (2004, p. 76) pontuam que
“cidade é simultaneamente, um conjunto de objetos e relações e o lugar de existência das
pessoas, constituindo não apenas um arranjo de objetos tecnicamente orientado, mas o espaço
do cotidiano do vivido”.
Concernente ao atendimento médico-hospitalar existe apenas um centro de saúde
localizado na sede. O atendimento é direcionado a consultas; exames parasitológicos e coleta
de sangue são enviados a Montes Claros para análise; eletrocardiogramas – ECG – são
realizados na cidade e aferidos os resultados via on-line pelo sistema de telemedicina “Minas
Telecárdio” desenvolvido pela Universidade Federal de Minas Gerias – UFMG – em parceria
com a Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes; há também tratamento
odontológico. No distrito de Vista Alegre há postos de atendimento médico diário e nas
comunidades de Boa Sorte e Pouso Alto o atendimento é esporádico. Todos os casos de
tratamentos médicos mais específico são encaminhados à Coração de Jesus e Montes Claros,
o acesso ao atendimento de claropocenses nestas cidades e facilitado pelo Sistema Único de
Saúde Fácil – SUSFACIL – e pelo Sistema Único de Saúde Municipal – SUSMUNICIPAL.
O município conta também com atuação do Programa Saúde da Família – PSF – com 100%
de cobertura. No tocante à apreciação das questões referentes à saúde, percebemos que a
maior parte da população não tem acesso a rede de esgoto que é lançado em fossa séptica.
No que diz respeito à limpeza urbana, esta é realizada pela Prefeitura Municipal,
no distrito e na sede, em dois dias alternados na semana em cada bairro, sendo utilizado um
caminhão / carroceria – próprio para o serviço – trator e caçamba como auxílio no transporte
dos resíduos sólidos que são depositados em um lixão próximo da sede, nas comunidades a
limpeza fica a cargo da população. Inferimos que um maior investimento no setor da saúde
por parte dos gestores públicos, poderia reduzir os gastos com medicamentos, dando à
população melhor qualidade de vida, inclusive ampliando a rede de esgoto e coletando o lixo
mais efetivamente.
A distribuição e tratamento da água da cidade Claro dos Poções é de
responsabilidade da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA). A captação da
água é feita em poços tubulares, porém ainda há algumas “cisternas” como fonte alternativa,
na área rural existem também postos tubulares, “cisternas” e consumo da água de rios, ou
seja, a água consumida não recebe tratamento.
Quanto à educação, de acordo com dados fornecidos pela Secretaria de Educação
Municipal, o município conta com seis escolas municipais, que atendem a demanda do ensino
fundamental e duas escolas estaduais, que atendem o ensino fundamental e médio. É valido
mencionarmos que encontra-se em fase de implantação a Escola de Tempo Integral, voltada
para a educação básica, sua construção iniciou-se em julho de 2008, com previsão de
completa efetivação no ano de 2012. Para Moraes (2006, p. 47), a adoção de escolas em
tempo integral constitui uma importante decisão por parte dos governos que a adotam,
“quanto mais tempo as crianças puderem ficar nas escolas, mais longe ficarão das drogas e
das marginalidades e melhor será seu desenvolvimento intelectual e moral”.
Detectamos na nossa pesquisa que o poder público mantém convênio com duas
instituições de ensino superior, a Universidade Presidente Antônio Carlos – UNIPAC – que
ministra curso Normal Superior e a Universidade Luterana do Brasil – ULBRA – que utiliza
o programa de Educação a Distância – EAD e oferta os cursos de Pedagogia e Administração
de Empresas; entretanto, estudantes que pretendem fazer cursos técnicos ou ingressarem no
ensino superior em instituições estadual e/ou federal fazem diariamente o trajeto pendular
Claro dos Poções/Montes Claros, custeando as despesas do deslocamento.
Interessante observarmos o vínculo existente com Montes Claros. Leite e Pereira
(2008, p. 58) asseveram “[...] Montes Claros desempenha a função de centralizar o serviço de
saúde, educação, suporte administrativo e serviços financeiros” tornando-se área receptora de
migrantes clapocenses.
Muitos jovens não têm condições financeiras de custear despesas do deslocamento
diário, desta forma migram para Montes Claros, Belo Horizonte, Uberlândia, Lavras e outras
cidades, onde estudam e trabalham. Existe um grupo de jovens que ficam à margem desse
processo, mantendo-se no município onde exercem atividades ligadas ao comércio e a
agropecuária ou migram temporariamente para regiões de Minas Gerais e/ou do Brasil, uma
vez que as atividades econômicas municipais não atendem toda a mão-de-obra disponível.
A geração de postos de trabalho para suprir toda a demanda, como já
mencionamos, tem sido o principal problema do município, uma vez que a economia desde o
início da ocupação esteve voltada para o setor agropecuário, predominantemente de
subsistência - com comercialização esporádica do excedente, em geral pequeno.
Existem dezessete associações comunitárias no município que exercem grande
importância na produção coletiva de alimentos para subsistência das famílias associadas, bem
como comercialização de parte dos produtos com socialização dos lucros obtidos. Entre
essas está a Associação da Comunidade do Brejão, onde vivem cinqüenta famílias que se
dedicam à produção de farinha. Em 2006 estas famílias participaram de cursos de formação
profissional ministrados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR. A
Comunidade investiu no plantio coletivo de mandioca em uma área de cinco hectares com
produção de cem toneladas por ano. São fabricados, em média, 150 quilos de farinha
vendidos na região, 30% da produção vão para Companhia Nacional de Abastecimento –
CONAB – (EMATER, 2008)
No que concerne ao feijão, este é produzido apenas para subsistência, apesar de
ser uma leguminosa adaptado às condições climáticas da área. A cana-de-açúcar é produzida
para alimentação do rebanho e o restante processada em alambiques (cachaça),
comercializada no mercado através de cooperativas organizadas pelos produtores. O milho
está presente em quase todas as propriedades rurais, entretanto sem organização comercial.
A laranja e o café são produtos para consumo dos pequenos produtores, no caso das
associações a colheita é dividida entre os membros associados, em outras situações são
vendidos nas feiras que acontecem em alguns domingos na cidade. A pecuária também é
expressiva em Claro dos Poções.
As atividades que mais absorvem mão-de-obra no município pertencem ao setor
primário – agricultura familiar. No entanto, existe a renda proveniente dos aposentados e dos
funcionários públicos estaduais e municipais, assim como dos estabelecimentos comerciais.
Santos (2005, p.28) afirma.
Atualmente, a economia do município é voltada para o setor agropecuário. Porém,
sofre influência dos recursos advindos das rendas do funcionalismo público
estadual e municipal, bem como do comércio varejista. Porém a influência maior
do setor agropecuário.
A ausência de dinâmica do mercado de trabalho claropocense ocasiona a
supervalorização dos setores informais. O excesso de força de trabalho disponível no
mercado pressiona o salário dos que estão empregados de forma que o crescimento da
produtividade não signifique o crescimento do operariado, além da exploração dos
empregados, isto é, prolongada jornada de trabalho não compatível com os salários, ou seja, a
desvalorização do trabalhador assalariado, não somente no setor comercial, mas também no
setor público municipal. O valor da mão de obra claropocense é relativamente baixo, o que
instiga na população o desejo e/ou a necessidade de migrar em busca de melhores salários,
mesmo aqueles que estão inseridos no mercado de trabalho.
Em virtude disso, o município de Claro dos Poções pode ser caracterizado como
dispersor de população, uma vez que a população desloca-se para regiões em busca de
trabalho para a sobrevivência, desconsiderando muitas vezes as distâncias físicas e as
diversidades regionais. Migrantes temporários passam de geração a geração o modo de vida,
trabalhar conforme as safras, ou ainda de acordo com a demanda de trabalho, sendo a forma
que os casados encontram para manter suas famílias e os jovens solteiros a oportunidade de
receber um montante de capital na esperança de poder comprar veículos, construir casas,
constituir uma família.
4 – O retrato dos migrantes temporários do município de Claro dos Poções
Como aludimos, a oferta de trabalho no município de Claro dos Poções não atende
à população, fato que corrobora para fluxos migratórios temporários. Migração temporária
representa movimentos em que os indivíduos deslocam-se por um determinado período,
normalmente para exercer atividades relacionadas às safras agrícolas e ou construções de
grandes obras, como hidrelétricas, entre outras. Desta forma, é comum claropocenses
migrarem anualmente para outras regiões em busca da sobrevivência, acreditando no sonho
de bom salário, constituindo-se assim, em errantes5 temporários que nas palavras de Martins
(1986, p.45)
Migrar temporariamente é mais do que ir e vir - é viver em espaços geográficos
diferentes, temporalidades dilaceradas pelas contradições sociais [...] ser e não ser
ao mesmo tempo; sair quando está chegando, voltar quando está indo [...] É estar
em dois lugares ao mesmo tempo, e não estar em nenhum. É, até mesmo, partir
sempre e não chegar nunca.
O migrante temporário além de viver em espaços geográficos distintos, leva e traz
hábitos, costumes, culinária, valores. Neste processo alguns desenvolvem a cultura do
trabalho sazonal repassada aos filhos, outros, com aversão, buscam insistentemente que a
prole não tenha a mesma saga. Para Martins (1986, p. 49-50).
É temporário, na verdade, aquele migrante que se considera a si mesmo “fora de
casa”, “fora do lugar”, ausente, mesmo quando, em termos demográficos, tenha
migrado definitivamente. É aquele que se considera fora do seu lugar, fora de suas
relações sociais, e que no limite não considera dentro mesmo quando esta.
Neste contexto de dispersão populacional trabalhadores assalariados que afastam
do seu lugar de origem por vários dias, semanas ou meses conduzidos pelos “gatos” 6 para
trabalhar conforme as safras da colheita do café, do corte de cana-de-açúcar no sul de Minas,
ou mesmo aproveitam outras oportunidades de melhoria das condições de vida, como a
“frente de trabalho” em Itupiranga - PA do Programa Luz para Todos desenvolvido pela
Centrais Elétricas do Pará – CELPA. No município percebemos trabalhadores rurais que
migram para outras áreas rurais no norte de Minas Gerais exercendo serviços braçais,
complementando a renda familiar.
Existem também jovens claropocenses que após a conclusão do ensino médio,
migram temporariamente para Montes Claros, Uberlândia, Belo Horizonte, Viçosa,
almejando o ingresso no ensino superior e trabalho para custear as próprias despesas, indo
morar na cidade, retornando à terra natal no período de férias, das festas locais e feriados,
(aqueles que vão para Montes Claros normalmente retornam todos os finais de semana).
Constatamos casos de migrantes que não configura como temporários, deslocando-se para
outros países, como Portugal e Estados Unidos, onde trabalham, vivem e retornam com
menor freqüência.
Em todos os casos supracitados de migração temporária existe o desejo de
retornar à Claro dos Poções, contudo nem sempre é possível em função dos custos
financeiros do deslocamento e a reduzida disponibilidade de folgas no trabalho o que impede
a realização de regresso. Em alguns casos os obstáculos forçam muitos “chefes de famílias” a
promoverem a migração de toda a família, ao invés do seu retorno.
Finalizamos este tópico reafirmando que os migrantes temporários do município
de Claro dos Poções saem em busca de capital para sua sobrevivência ou para estudarem,
pois não encontram neste, trabalho que atenda a demanda, assim como cursos superiores
gratuitos. Na seqüência abordamos a migração de claropocenses para Itupiranga no Pará.
5. Caracterização dos errantes temporários que migraram para Itupiranga-PA e os
resultados da pesquisa.
5
6
Silva (1999), afirma que errantes são trabalhadores que vivem errando de um lugar a outro.
Silva (1999, p. 107), considera “gato” como [...] o intermediário entre patrões e empregados.
Os agentes da nossa pesquisa são quarenta e cinco trabalhadores claropocenses
que se direcionaram à Itupiranga – localizada no estado do Pará, região Norte do Brasil –
para atuarem no Programa Luz para Todos. O Programa Luz para Todos foi criado em 2004
pelo governo federal, tendo como parcerias os governos estaduais e as concessionárias de
energia elétrica, no caso do Pará, Centrais Elétricas do Pará – CELPA. O objetivo do
Programa é fazer com que todas as famílias brasileiras tenham acesso a energia elétrica até
2010. O Projeto é executado conforme priorização definida pelo comitê gestor estadual,
representantes do governo federal, das concessionárias, do Ministério de Minas e Energia e
de entidades representativas de setores da economia e dos trabalhadores.
O Mapa 2 espacializa a localização do município de Claro dos Poções - MG em
relação ao município de Itupiranga – PA.
Mapa 2: Fluxo de migrantes de Claro dos Poções - MG a Itupiranga-PA
Fonte: IBGE, 1994 Org: JESUS, C.S, 2008.
Ao analisar o Mapa 2, podemos imaginar o quanto os migrantes viajaram para
chegar a Itupiranga e o sentimento de desolação no percurso, 1778 Km - distância entre os
municípios -, quatro dias de viagem, ou seja, 96 horas, com apenas três paradas para banho.
Para Singer (1980, p.100)
Não importando quão curto ou quão longo, fácil ou difícil, a verdade é que todo ato
migratório implica num lugar de origem de destino e numa série de obstáculos
intervenientes. Inclui-se nesta série como um dos obstáculos que estão sempre
presentes, a distância do deslocamento.
O autor pontua a distância como um obstáculo para os migrantes, poderíamos
acrescentar neste processo a dor de deixar para trás filhos, esposas, mães, amigos, o lugar7 de
vivência.
7
Conforme Yu Tuan ( 1983, p.83), “quando o espaço nos é familiar, torna-se lugar”.
O município de Itupiranga-PA, pertencente à mesorregião do sudeste paraense e
microrregião do Tucuruí (IPEA, 2000), caracteriza-se com um clima equatorial quente e
úmido, com temperaturas médias elevadas (25º a 27º), chuvas abundantes bem distribuídas ao
longo do ano e reduzida amplitude térmica, uma vez que está inserido relativamente próximo
à linha do Equador, diferindo das características físicas de Claro dos Poções, fato que
dificultou a adaptação dos trabalhadores e permanência na região.
Os migrantes de Claro dos Poções foram para Itupiranga trabalhar na rede de
eletrificação exercendo atividades de eletricista, ajudante de serviços gerais, abridor de
buraco, motorista, operador de moto-serra e cozinheira. Deveriam permanecer no período de
dezembro de 2007 até dezembro de 2009, contudo todos regressaram antes, por vários fatores
que abordaremos em seguida.
No decorrer dos trabalhos de campo, entrevistamos trinta e três dos migrantes que
deslocaram para Itupiranga, ou seja, 73%. Não foi possível entrevistar 100% tendo em vista
que doze deles, ao retornarem, migraram para outras regiões em busca de trabalho.
Elaboramos um roteiro de entrevista para melhor caracterização dos agentes da pesquisa,
quanto ao sexo, idade, escolaridade e estado civil, para onde migraram, as condições de
trabalho, dos alojamentos e possíveis soluções para evitar as migrações temporárias
claropocenses.
No que se refere ao sexo dos pesquisados, são duas migrantes e quarenta e três
homens. Podemos inferir que duas mulheres se propuseram a trabalhar no Programa Luz para
Todos, sendo que uma não retornou, pois envolveu com o agenciador; a outra migrante não
adaptou às condições de trabalho, retornando quatro meses após o deslocamento. A
predominância de homem é comum em migração de deslocamento coletivo, longa distância e
trabalho pesado. Isto se explica devido à diferença salarial oferecida às mulheres em relação
aos homens, à violência, à discriminação e, até mesmo a função exercida pela mulher no local
de origem: mãe, esposa, dona de casa fatores que dificultam o deslocamento.
Os agentes da pesquisa estão em sua maioria na faixa etária de 21 a 30 anos (24);
doze deles na faixa de 31 a 40 anos, apenas três com idade entre 19 e 20 anos e seis migrantes
com idades superior a 40 anos. Os dados apontam que não temos menores de idade, como é
comum na migração temporária do corte de cana e na colheita de café.
Ao analisarmos o grau de escolaridade notamos que os migrantes apresentam
poucos anos de estudo, uma vez que dezessete possuem ensino fundamental completo e oito
não o concluíram. Quanto ao ensino médio, nove não completaram e onze concluíram.
Procuramos analisar os resultados associando a faixa etária e a escolaridade e percebemos
que os onze que concluíram o ensino médio estão na faixa etária de 21 a 30 anos.
Ao relacionarmos as informações, podemos afirmar que os migrantes estão na
faixa etária produtiva e que somente onze concluíram a educação básica, fato comum no sexo
masculino, pois segundo o Ministério da Educação e Cultura –MEC - (2008) é comum no
Brasil mulheres terem maior escolaridade. A baixa escolaridade condiciona trabalhadores a
direcionarem para áreas com atividades que não exigem alta qualificação, serviços que
requerem mais esforços físicos.
Referente ao estado civil dos migrantes, prevalece os solteiros, trinta e nove,
quatro casados e dois separados. Menezes (2002) diz que há uma predominância de solteiros
na realização de trabalhos de longa distância e extensa duração, enquanto os casados optam
por curta distância – este tipo de itinerário está relacionado com os papéis sociais masculinos
de pai e marido. Entretanto, na falta de oportunidade, deslocam-se para locais mais distantes.
Murray apud Menezes (2002) aponta que uma das conseqüências da migração sobre a
comunidade de origem é a desintegração da família, pois a prolongada ausência do marido
pode provocar a desestruturação conjugal.
Quando indagamos aos migrantes se era a primeira vez que migravam, 100%
responderam não, ou seja, já foram para outras áreas: Várzea da Palma, Francisco Dumont,
Pirapora, Montes Claros, Belo Horizonte, Uberlândia, Ubaí, São Romão, São João do Pacuí,
Serra do Cabral, Iraí de Minas, São Paulo. Notamos que os agentes migravam basicamente
dentro de Minas Gerais, com exceção de São Paulo. Um migrante relatou:
se eu nunca tivesse saído pra trabalhar em outros lugares eu não ia para o Pará
porque é muito complicado sair da sua casa para viver em locais que você não
conhece, mas desde os 17 anos sempre vou de um lugar a outro em busca de
emprego. Pará é muito longe não aconselharia quem nunca trabalhou fora ir para
lá. [sic]
O migrante expressa a necessidade de “andar pelo mundo”8 à procura de emprego
desde a juventude. Neste contexto, Singer (1980) apresenta que o conhecimento e
familiaridade com a área de origem de certa forma privam ou causam insegurança no
migrante a respeito da área de destino, uma vez que desconhecendo a nova área ou pelo
menos não a conhecendo tanto quanto o local de origem, as vantagens e desvantagens passam
a ser incertas. No que se refere às atividades exercidas nas áreas mencionadas pelos
migrantes, em geral estavam associadas ao setor primário: corte de cana, colheita do café,
transporte de mercadorias da área rural para urbana.
Interrogamos os errantes como foram informados do emprego em Itupiranga.
Todos foram comunicados por seis dos migrantes que atuavam no Programa Clarear,
desenvolvido pela da Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG - que obtiveram
informações do processo de seleção, sendo que as atividades a serem executadas eram
basicamente as mesmas desenvolvidas na CEMIG. Desse modo, foram contratados através da
parceria entre a empreiteira Engelminas e a Andrade Gutierrez para trabalharem no Programa
Luz para Todos em Itupiranga – Pará.
Solicitamos que discorressem sobre a situação trabalhista anterior ao
deslocamento. Dos quarenta e cinco, vinte e cinco migrantes não estavam exercendo
nenhuma atividade remunerada, os demais, mesmo empregados no comércio e prestação de
serviços como pedreiro, eletricista, optaram pela migração, uma vez que teriam um melhor
retorno salarial. De um lado observa-se a deficiência de fonte de trabalho do local de origem
e baixos salários pagos caracterizam Claro dos Poções como dispersora de população, de
outro uma região com oferta trabalhista. Nas palavras de Singer (1979, p.73).
os fatores de expulsão definem as áreas de onde se originam os fluxos migratórios,
mas são os fatores de atração que determinam a orientação destes fluxos e as áreas
às quais se destinam. Entre os fatores de atração o mais importante é a demanda
por força de trabalho entendida esta não apenas como a gerada pelas empresas
industriais, mas também a que resulta da expansão de serviços tanto dos que são
executados por empresas capitalistas.
No Brasil é comum espaços que apresentam tais fatores, podendo inclusive uma
área exercer atração e repulsão, dependendo da dinâmica econômica.
Questionamos aos migrantes as razões que os levaram a deslocarem para um lugar
tão distante. Alguns solteiros justificaram que migraram como estratégia de acumular capital
para realizarem o sonho do casamento. A migração para Itupiranga foi vista como uma
possibilidade de arrecadar recursos financeiros para os preparativos do casamento, como
terminar a construção da casa, comprar mobília e pagar pela cerimônia. Para os casados e
separados a decisão de migrar está relacionada ao fato de buscarem melhores condições de
vida, pois estavam desempregados ou exercendo atividades com baixa remuneração. Para
Menezes (2002, p 85), explica andar pelo mundo “significa procurar trabalhos em lugares distantes
de sua terra natal, ou, em outros, termos, migrar”
8
Sorre apud Damiani (2008, p. 63) “o impulso migratório raramente é um fato simples;
resume-se num acúmulo de necessidades, desejos, sofrimentos e esperanças”.
Perguntamos sobre as dificuldades encontradas e sobre a assistência médicohospitalar em Itupiranga. Os relatos dos errantes enfatizam a condição ambiental que
ensejava readaptação física, associada à precariedade de assistência médico-hospitalar.
Muitos não se adaptaram ao clima da região ficando com saúde debilitada, além de não terem
acesso a hospitais, uma vez que os atendimentos médicos eram distante do alojamento e
restrito. Os migrantes têm expectativa de encontrar condições básicas no local de destino,
vários migrantes queixaram-se que os acordos trabalhistas não estavam sendo cumpridos,
conforme lhes tinham acenado. O migrante cita os empecilhos da permanência na frente de
trabalho.
A distância de casa, atraso de salário, as condições climáticas não favoreciam,
pois o calor era intenso e com chuva as estradas como eram ruins, ficava ainda
pior levando a correr grande perigo, a insegurança nos fez desistir. (sic)
Segundo os migrantes, as estradas até o local de trabalho ofereciam risco devido à
estrutura física inadequada e ao elevado índice pluviométrico da região. Interessante notar
que apesar das dificuldades mencionadas, quando questionamos sobre os motivos que os
levaram a desistir do emprego em Itupiranga e retornar a Claro dos Poções eles apresentaram
a saudade da família, parentes, dos amigos e da cidade como fator predominante. Desse
modo, podemos afirmar que existe uma forte relação de identidade com o município. O
sentimento de integração é denominado topofilia”[...] o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou
ambiente físico [...]” (YU FU TUAN 1980, P. 106), neste aspecto a pessoa constitui o vínculo
de pertencimento, de afetividade.
No que tange ao alojamento dos migrantes, eram duas casas com quartos para cinco,
cozinha sala com televisão e apenas um banheiro. As mulheres ficavam em locais separados.
A percepção dos migrantes sobre o alojamento apresenta divergência:
Eram condições viáveis de moradia, local alugado pela firma com boas
instalações e local bem cuidado localizado dentro da cidade, boa alimentação
dormitório bom. (sic)
casa com pouco conforto, esgoto no meio das ruas a céu aberto, muito inseto. (sic)
Enquanto alguns restringiram as características da habitação, propriamente dita,
outros apresentaram aspectos do meio onde estavam inseridos. Não tivemos oportunidade de
conhecer os alojamentos onde ficaram os agentes do nosso estudo, porém afirmamos que o
alojamento deveria ser arejado, amplo e limpo com o mínimo de conforto para os
trabalhadores repousarem.
As interações dos trabalhadores no espaço do alojamento são de grande
importância, pois o grupo estabelece e procura manter costumes da terra natal como maneira
de auxiliar a adaptação. Além de manterem ajuda mútua, dividindo inquietações e alegrias de
modo que não ficam submissos a realidade. Os migrantes disseram que a situação domiciliar
se torna melhor, graças aos ótimos companheiros. Haesbaert (2006, p. 40)
A força da identidade entre muitos grupos migrantes é um dos principais fatores
responsáveis pela coesão mantida pelo grupo, mesmo longe de seu território de
origem. Isto faz com que muitos, ao contrário do discurso corrente da
desterritorialização, acabem se envolvendo em processos claros de
reterritorialização, ou seja, de recomposição de seus territórios em outras bases,
territórios estes recriados por meio da amalgama proporcionado pela força das
redes mantidas no interior da dinâmica migratória.
Haesbaert (2006) aponta as fortes relações interpessoais que são criadas pelos
migrantes. Ao analisarmos os tipos de atividades exercidas e a distância da terra natal, surgiu
a necessidade de estimar os salários recebidos. A média salarial era de dois a três salários
mínimos, sendo que apenas o encarregado geral recebia o valor de três salários. Sabendo da
complexidade, do número de variáveis que circundam a realidade do migrante (distância da
terra natal, ambiente alheio, condições climáticas diversas), cabe questionarmos se o salário
recebido era compatível com as funções exercidas. Silva (1999, p. 75), explica que:
(...) além dos elementos necessários à reprodução físicas dos trabalhadores, é
preciso levar em conta os elementos históricos e sociais. Tais elementos históricos
não podem ser relativos apenas aos aspectos políticos da classe trabalhadora, mas
também aos elementos subjetivos. A pergunta seria, então, a seguinte: quanto vale
este trabalhador?
No que diz respeito ao período de folgas para visitas a Claro dos Poções, cada
migrante poderia deslocar-se após três meses de serviço prestado, sendo que as despesas eram
custeadas pela empresa, porém passível de alteração. Os migrantes acabavam adequando suas
folgas ao calendário de festas da cidade de origem. Devemos considerar que eventos sociais
pertencentes à tradição municipal exercem papel de integração entre a população migrante e a
que ficou, a exemplo da cultura claropocense temos a Festa de Bom Jesus. De acordo com
Menezes & Silva (1999, p. 83) “a festa não é somente o momento de reencontro daqueles que
partiram como também representa o momento de recriação de relações de sociabilidade”.
A Festa de Bom Jesus é também um símbolo em que tempo e espaço
articulam. Neste período aumenta a chegada de ônibus na cidade de Claro dos Poções
trazendo migrantes temporários ou aqueles que estão longe da terra natal. Há de se considerar
ainda a repercussão na dinâmica da economia, pois os migrantes investem parte do capital
adquirido no comércio local.
As diferenças climáticas entre Claro dos Poções e Itupiranga, a saudade dos
familiares, amigos e do lugar fizeram com que os migrantes optassem pelo regresso, mesmo
na incerteza de ingressarem no mercado de trabalho. No bojo destas inflexões, relacionamos
o tempo de estadia em Itupiranga à atual situação trabalhista dos membros integrantes.
Quanto ao tempo de permanência no trabalho temporário quatro trabalhadores ficaram dois
meses; nove trabalhadores três meses; treze ficaram sete meses; doze ficaram nove meses;
seis permaneceram onze meses e apenas uma mulher permaneceu em Itupiranga. Um tempo
relativamente curto se considerarmos o período previsto em contrato – dois anos. Eles
desistiam do emprego geralmente em grupo, fato que está intrinsecamente relacionado aos
fatores envolvidos no regresso.
Referente à atual situação empregatícia dos migrantes, dos quarenta e cinco
apenas 20% voltaram certos de uma outra atividade remunerada em Claro dos Poções, destes,
três estão em atividades que exerciam antes do deslocamento, relacionadas ao comércio.
Doze migraram para outras regiões temporariamente, e os demais não estão realizando
nenhuma atividade.
Os migrantes apontaram possíveis ações que consideram a solução ou pelo menos
uma forma de minimizar a “fuga” de claropocenses. Nas palavras dos migrantes:
Deveriam criar um campo de trabalho em nosso município, ou seja, construir
empresas, indústrias, e outro.(sic)
Mais empenho dos mais favorecidos, financeiramente e politicamente para
investimento na cidade. (sic)
Emprego, pois, um cidadão bem empregado consegue tudo o que precisa para
alcançar uma excelente qualidade de vida. É tudo o que busca aquele que sai de
sua casa, é isso e não só para ele mais para sua família é viver bem que todos
queremos. (sic)
Percebemos que para os migrantes é preciso que haja um aumento na geração de
emprego no município, visando manter o claropocense no lugar de origem.
Encerramos esta seção pontuando que os trabalhadores migrantes claropocenses
se deslocam para vários lugares em busca de melhoria de vida, não levando em consideração
os fatores que funcionariam como empecilhos como a distância física e trabalhos pesados.
Enfrentaram a jornada tendo em vista a diferença de remuneração recebida em Claro dos
Poções, um salário mínimo, e a que foi proposta para o trabalho em Itupiranga, até três
salários mínimos, todavia as dificuldades impelidas forçaram o retorno à terra natal.
6. Considerações finais
As migrações internas temporárias implicam sempre em retorno ao espaço de
vivência com certa periodicidade. O errante temporário resulta da necessidade de deslocar,
instigado quase sempre pelo desemprego, sofrimento, condições sócio-econômicas
deficitárias. A migração é percebida como uma possibilidade de solucionar problemas
pertencentes ao espaço de vivência, visando adquirir capital suficiente para comprar
alimentos, bens duráveis, investir em suas residências para melhorar a convivência com a
família.
Neste contexto é que está inserida parte dos brasileiros desde o período colonial, a
constância de mobilidade de uma região a outra com objetivo de superar dificuldades de áreas
onde há uma problemática social-econômica operante, em direção àquelas que acenam
possibilidades de crescimento individual e/ou coletivo – gerando movimentos da economia e
da população. As migrações internas não são apenas resultantes de desequilíbrios internos,
sociais ou demográficos, mas precipuamente como fator de organização espacial de uma
sociedade.
As migrações temporárias dos claropocenses não são recentes é um processo que
perdura desde a ocupação e formação do município. Constatamos que dos quarenta e cinco
migrantes pesquisados que se deslocaram para Itupiranga, no Estado do Pará, para atuarem
no Programa Luz para Todos, quarenta e três são homens e duas mulheres.
Ao identificarmos as condições de trabalho dos errantes, notamos a complexidade
desta variável. Nem sempre as pretensões dos migrantes em relação a área de destino são
alcançadas, levando muitos, ou, nesse caso, todos, a desistirem antes do período previsto. As
diferenças climáticas e dificuldades encontradas foram tão evidentes que propiciaram o
regresso a Claro dos Poções antes de alcançarem os objetivos pretendidos.
As causas da migração para um local tão distante (1778 km) estão relacionadas à
reduzida oferta de trabalhos que não atende a demanda da população claropocense, ou seja, a
busca por melhores condições de vida. Apesar das dificuldades em termos de infraestrutura
em que vivem os claropocenses, existe um sentimento de pertencimento do local, pois os
migrantes guardam o sonho de deslocarem para conseguir capital e, investirem na cidade.
O trabalho pelo Programa Luz para Todos não ofereceu suporte para a
permanência dos trabalhadores claropocenses em Itupiranga, tendo em vista que as
combinações seladas com os migrantes não estavam sendo cumpridas, era comum atraso no
pagamento da mão de obra e a omissão em pagar horas extras trabalhadas. Ademais, as
condições físicas - alto índice pluviométrico e elevadas temperaturas sacrificaram a saúde dos
claropocenses, além disso a assistência médico-hospitalar era precária, o trajeto serviço /
alojamento configurava em perigo com estradas de difícil trânsito.
O retorno dos migrantes implicou em novos rumos migratórios, uma vez que
doze direcionaram para outras áreas em busca de emprego. Enquanto houver ineficácia em
atrair investimentos para geração de emprego no município, Claro dos Poções continuará
repelindo população. E as conseqüências são clarividentes tais como redução do crescimento
populacional, alteração na composição da estrutura etária da população, uma vez que a
população "flutuante" é composta predominantemente por jovens e adultos, fator que pode
favorecer a existência de maior proporção de idosos e carência de mão-de-obra específica.
Existe apenas o projeto de plantação de oleaginosas para fabricação do Biodíesel,
que se encontra em desenvolvimento, voltado para os pequenos produtores rurais, que
objetiva fixar o homem no campo. Portanto, a ausência de políticas públicas que favoreçam a
permanência de claropocenses na terra natal tem propiciado um espaço de repulsão
populacional em Claro dos Poções.
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