espécies de passifloraceae ocorrentes na reserva biológica

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Anais 5º Simpósio de Gestão Ambiental e Biodiversidade (21 a 23 de junho 2016)
ESPÉCIES DE PASSIFLORACEAE OCORRENTES NA RESERVA BIOLÓGICA
UNIÃO – RJ
Natália Brandão Gonçalves Fernandes1; Michaele Alvim Milward-de-Azevedo2
(Instituto Três Rios, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Av. Prefeito Alberto
da Silva Lavinas, 1847, Centro, Três Rios, RJ, Cep- 25802-100,
[email protected], 1Discente do Curso de Bacharelado em Gestão
Ambiental, 2Professor Adjunto Departamento de Ciências do Meio Ambiente)
RESUMO
A família Passifloraceae possui 17 gêneros e cerca de 600 espécies. Sua distribuição geográfica ocorre principalmente em
regiões neotropicais, deixando a América Latina no topo da diversidade, com aproximadamente 150 espécies pertencentes ao
Brasil. O objetivo deste trabalho foi verificar a ocorrência das espécies de Passifloraceae, na Trilha Interpretativa do Pilão
localizada na Reserva Biológica da União, importante remanescente de Mata Atlântica. Foi feita uma breve descrição das
espécies encontradas na área. Foram coletadas somente folhas das espécies de Passiflora L. no percurso da trilha, porque as
flores encontradas estavam sob a copa das árvores. Ao todo foram coletadas quatro espécies: P. amethystina Mikan, P.
kermesina Link & Otto, P. porophylla Vell. e P. rhamnifolia Mast. Passiflora kermesina obteve o maior número com um
total de 26 registros, durante todo o trajeto da trilha. Das espécies encontradas, somente P. amethystina não é endêmica do
Brasil.
Palavras-chave: Passiflora, Mata Atlântica, endêmica.
INTRODUÇÃO
A família das Passifloraceae apresenta 17 gêneros e mais de 600 espécies
distribuídas em regiões tropicais e subtropicais do mundo, cuja maior diversidade é
encontrada na região neotropical, onde ocorrem cerca de 500 espécies, grande parte
pertencente ao gênero Passiflora L. (Ulmer & MacDougal 2004). No Brasil ocorrem quatro
gêneros sendo: Ancistrothyrsus Harms, Dilkea Mast, Mitostemma Mast e Passiflora L,
contabilizando um total de 150 espécies, sendo 87 endêmicos (Flora do Brasil 2020 em
construção).
O gênero Passiflora é caracterizado por apresentar trepadeiras herbáceas ou
lenhosas; folhas alternas, simples, inteiras ou lobadas, ou compostas, com gavinhas axilares e
nectários extraflorais no pecíolo e/ou lâminas foliares; flores com androginóforo e corona de
filamentos, cinco estames e três ou quatro carpelos; e frutos bagas ou cápsulas (Milward-deAzevedo et al. 2012). São conhecidas cerca de 400 espécies Neotropicais (Bernacci et al.
2003), com aproximadamente 142 espécies nativas do Brasil, sendo 83 endêmicos (Flora do
Brasil 2020 em construção). Possuem diversas espécies produtoras de frutos comestíveis e
que possuem qualidades medicinais (Souza e Lorenzi 2005).
A Reserva Biológica União está localizada no estado do Rio de Janeiro, abrangendo
os municípios de Rio das Ostras, Macaé e Casimiro de Abreu e faz parte da Reserva da
Biosfera da Mata Atlântica, instituída pela UNESCO, caracterizada por proteger áreas de
conservação do Bioma Mata Atlântica.
O objetivo deste trabalho foi verificar a ocorrência das espécies de Passifloraceae na
Trilha Interpretativa do Pilão, localizada na Reserva Biológica da União, assim como,
identificar e fazer uma breve descrição das espécies encontradas.
METODOLOGIA
A Reserva Biológica União é uma Unidade de Conservação de Proteção Integral,
localizada no estado do Rio de Janeiro na região das baixadas litorâneas e abrange uma área
de 2.547,95 ha. A distribuição de sua área entre os municípios é proporcional a 47,1% em
Casimiro de Abreu, 52,7% em Rio das Ostras e 0,3% em Macaé.
A Reserva Biológica está inclusa na ecorregião Florestas Costeiras da Serra do Mar
cujas formações predominantes são Floresta Ombrófila Densa Submontana e Floresta
Ombrófila Densa de Terras Baixas, sendo o clima predominantemente tropical úmido
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(MMA/ICMBio 2008). As florestas de terras baixas são importantes devido a elevada
diversidade de espécies, estoque de carbono e características peculiares em relação às demais
fisionomias da mata atlântica, (Assis, 1999; Joly et al, 2008) o que reitera a relevância da
Rebio União para o estudo.
Foi realizado um levantamento bibliográfico das espécies ocorrentes no Estado do Rio
de Janeiro, baseado nas obras de Pessoa (1994) para a flora de Macaé de Cima, Pessoa (1997)
para a flora da Área de Proteção Ambiental Cairuçú, Milward-de-Azevedo & Valente (2004)
para a flora do Entorno do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Milward-de-Azevedo &
Baumgratz (2004) para a Região Sudeste Brasileira. Além disso, foi realizado uma busca nos
herbários virtuais do JABOT (<http://aplicacoes.jbrj.gov.br/jabot/v2/consulta.php>) e species
link (<http://splink.cria.org.br/>), e listagens de espécies digitais, como a Flora do Brasil
(<http://floradobrasil.jbrj.gov.br/>) e o Catálogo de espécies do Estado do Rio de Janeiro
(<http://florariojaneiro.jbrj.gov.br/consulta.php>).
Foram realizadas quatro expedições para obtenção dos dados, entre os dias 9 e 12 de
novembro de 2015. As coordenadas geográficas para a plotagem da distribuição geográfica
dos indivíduos no mapa foram obtidas diretamente no campo com GPS GARMIN map 62sc
na Trilha Interpretativa do Pilão, que possui em sua totalidade 2.715m. Os dados geográficos
foram transferidos para o computador e plotados no programa Google Earth para visualização
das ocorrências registradas.
Foi realizada a coleta de duas folhas de cada espécie diferente para uma análise da
morfologia foliar e identificação das espécies.
As breves descrições das espécies foram realizadas com o auxílio dos trabalhos
realizados por Killip (1938), Pessoa (1994), Pessoa (1997), Milward-de-Azevedo & Valente
(2004), Milward-de-Azevedo & Baumgratz (2004), Milward-de-Azevedo et al. (2012) e
Moraes (2016).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
De acordo com o levantamento realizado na Reserva Biológica União, bibliografia
citada, herbários virtuais e listagens digitais, foram encontrados para a família Passifloraceae
quatro espécies: P. amethystina, P. kermesina, P. porophylla e P. rhaminifolia. As espécies
distinguem-se entre si pelo formato das folhas e ocorrem preferencialmente em beira das
trilhas. A família Passifloraceae tem suas ocorrências em regiões neotropicais, e seus registros
tem porte mais intenso nas Américas do Sul e Central.
Segundos dados de coordenadas geográficas obtidas foram registradas 29 ocorrências
de Passifloraceae na Rebio União, sendo somente encontrado o gênero Passiflora na área de
estudo. Dentre as ocorrências foram encontradas quatro espécies, sendo elas pertencentes a
três subgêneros diferentes (Tabela 1).
Somente P. kermesina Link & Otto e P. rhaminifolia Mast. foram encontradas com
flor durante a expedição, porém a coleta de ambas as espécies não foi possível pois estavam
sobre as copas das árvores. As demais espécies, P. amethystina Mikan e P. porophylla Vell.
foram identificadas pelas características da morfologia foliar, por ser uma característica
morfológica marcante no grupo das Passiflora. Na figura 1 podem ser visualizadas a
morfologia foliar das espécies de P. amethystina, P. kermesina e P. porophylla, que são
visualmente distinguidas pelo seu formato foliar, a presença ou ausência de glândulas
extraflorais, além da presença ou ausência de oceolos.
Passiflora kermesina foi a espécie com maior número de indivíduos (ver Tabela 1)
observados na área (Figura 2), o que pode estar relacionado com fatores ecológicos favoráveis
a sua distribuição. De acordo com Benevides (2006), P. kermesina floresce o ano inteiro,
porém sempre com poucas flores, o que facilita a dispersão e polinização durante um período
de tempo muito maior do que as outras espécies encontradas na área. Passiflora amethystina
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apesar de ter apresentado dois registros, só aparece em uma localização na plotagem, devido à
sobreposição de pontos com P. kermesina que se encontra em maior quantidade.
Tabela 1: Espécies de Passifloraceae encontradas na Trilha Interpretativa do Pilão na Reserva
Biológica União, com subgênero e número de indivíduos registrados.
Espécie
Subgênero
Número de indivíduos
P. kermesina Link & Otto Passiflora Killip
Vinte e seis
P. amethystina Mikan
Passiflora Killip
dois
P. rhamnifolia Mast.
Astrophea (DC.) Mast
um
P. porophylla Vell.
Decaloba (DC.) Rchb.
dois
Figura 1: Amostra foliar das espécies de Passifloraceae encontradas na trilha do Pilão na
Reserva Biológica União.
Os trabalhos de flora realizados por Pessoa (1994), Pessoa (1997), Milward-deAzevedo & Valente (2004) e Milward-de-Azevedo & Baumgratz (2004), encontraram oito,
seis, cinco e oito espécies, respectivamente. Das espécies que ocorrem na área, foram
encontradas em comum, por Pessoa (1994): P. amethystina, P. porophylla e P.rhamnifoilia;
Pessoa (1997): P. actinia e P. porophylla; Milward-de-Azevedo & Valente (2004): P.
amethystina; e Milward-de-Azevedo & Baumgratz (2004): P. porophylla. De acordo com os
sítios eletrônicos visualizados e o Catálogo da Flora do Rio de Janeiro e a Flora do Brasil, o
Estado do Rio de Janeiro possui 41 espécies (Bernacci et al. 2015, Milward-de-Azevedo
2014). Diante do número total de espécies para o Estado do Rio de Janeiro, e das floras
restritas a alguma área ou ambiente, pode se dizer, que o número de espécies encontradas para
a Reserva Biológica União é um número representativo.
Passiflora amethystina é reconhecida por apresentar folhas com pecíolos com 5-8
glândulas curto-estipitadas, lâminas foliares 3-lobadas com glândulas nos bordos e entre
lobos; estípulas foliáceas; brácteas lanceoladas; flores solitárias azuis, lilases ou púrpuras,
com corona com 4 séries de filamentos; frutos bagas; sementes com testa costada (Milwardde-Azevedo & Valente 2004). Não é uma espécie endêmica do Brasil, ocorrendo em Goiás,
Distrito Federal, Bahia, Região Sudeste e Região Sul, em Floresta Ombrófila Densa e Cerrado
(Bernacci et al. 2015, Milward-de-Azevedo & Valente 2004).
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Figura 2: Localização das espécies de Passifloraceae na trilha Interpretativa do Pilão,
Reserva Biológica União-RJ.
Passiflora kermesina é reconhecida por apresentar lâminas foliares 3-lobadas, flores
com corona com 3-4 séries de filamentos filiformes e roxos (Killip 1938). Esta espécie é
endêmica do Brasil e ocorre nos estados do Rio de Janeiro, Espirito Santo e Minas Gerais
(Flora do Brasil 2020 em construção).
Passiflora porophylla é reconhecida por apresentar folhas com pecíolos sem
glândulas, lâminas foliares 2-3 lobadas com oceolos entre as nervuras laterais principais;
estípulas linear-subuladas; brácteas linear-subuladas; flores brancas a azuladas, com corona
com 1 série de filamentos; frutos bagas; sementes com testa reticulada (Milward-de-Azevedo
& Baumgratz 2004, Milward-de-Azevedo et al. 2012). É uma espécie endêmica do Brasil,
ocorrendo nas Regiões Sudeste e Sul, em formações de Floresta Ombrófila (Bernacci et al.
2015, Milward-de-Azevedo & Baumgratz 2004, Milward-de-Azevedo et al. 2012).
Passiflora rhaminifolia é reconhecida por apresentar folhas com pecíolos com um par
de glândulas sésseis, lâminas foliares inteiras; estípulas foliares; brácteas linear-subuladas;
flores brancas a amarelas, com corona com 2 séries de filamentos; frutos bagas; sementes com
testa retículo-foveada (Moraes 2016). É uma espécie endêmica do Brasil, ocorrendo em
Floresta Ombrófila e Floresta Estacional Semidecidual, nos estados da Bahia e da Região
Sudeste (Moraes 2016, Bernacci et al. 2015).
CONCLUSÃO
As reservas biológicas, são de suma importância para a proteção da biota e demais
características naturais, principalmente por não haver intervenção humana de forma direta. As
espécies de passifloraceae agem como recurso para fauna e esta por sua vez, auxilia na
dispersão das espécies através da zoocoria.
Para um levantamento da família mais preciso, seriam necessárias mais expedições
ao campo, explorando as demais áreas da Rebio União. Desse modo, seria possível verificar
se existe ocorrência de outras espécies de Passiflora, assim como, suas respectivas
localizações dentro da unidade de conservação.
As espécies que possuem mais facilidade em se estabelecer devido suas
características reprodutivas como a P. kermesina que floresce em todas as épocas do ano, tem
seu número de ocorrências em maior quantidade, de forma a facilitar sua distribuição.
REFERÊNCIAS
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f. Tese ( Doutorado em Biologia Vegetal) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas
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