Volume 17 - Nº 1 Janeiro/Março 2005 RBTI COMENTÁRIO 5 ISSN 0103-507X ARTIGO DE REVISÃO Sobre a Morte e o Morrer... Estenose de Traquéia após Intubação Prolongada Rachel Duarte Moritz Antônio Almeida Chagas Filho, Fábio Santana Machado, 40 Mariano Janiszewski ARTIGO ORIGINAL DESTAQUE - PRÊMIO RATTON 6 Avaliação do Espaço Morto Alveolar no Tromboembolismo Pulmonar e no Choque Hemorrágico Experimentais Medicina Intensiva Baseada em Evidências Leopoldo Soares Piegas Renato Giuseppe Giovanni Terzi, William Adalberto Silva, Ana Cristina de Moraes, Konradin Metze ARTIGO DE REVISÃO 15 A Manutenção do Suporte a Vida em Unidades de Tratamento Intensivo do Sul do Brasil: Os Resultados de um Questionário Ético 48 Avaliação Prognóstica de Pacientes com Câncer Gravemente Enfermos Márcio Soares, Nelson Spector, José Rodolfo Rocco ARTIGO DE REVISÃO Thiago Lisboa, Gilberto Friedman ARTIGO ORIGINAL 44 Otávio Berwanger, Hélio Penna Guimarães, Álvaro Avezum, Marcos Mello Moreira, Evandro Luis Assis Ferreira, ARTIGO ORIGINAL ARTIGO DE REVISÃO 52 Sedação e Analgesia em UTI: Velhos Fármacos - Novas 23 Cateter Central de Inserção Periférica em Terapia Intensiva de Adultos Tendências Rachel Duarte Moritz RELATO DE CASO Luiz Carlos Ribeiro Lamblet, Luciana Reis Guastelli, 56 Contusão Cardíaca. Relato de Caso Denis Faria Moura Júnior, Maria Aparecida Yamashita Alves, Alexandre Carvalho Bittencourt, Ana Paula Pereira Teixeira, Elias Knobel Hélio Penna Guimarães, Luiz Fernando dos Reis Falcão, Gilson Feitosa Filho, Patrícia Helena Rocha Leal, Renato Delascio Lopes, Ana Paula Resque Senna, Flávia Ribeiro Machado, José Luiz Gomes do Amaral ARTIGO ORIGINAL 28 Variações na Mensuração dos Parâmetros de Desmame da RELATO DE CASO 60 Ventilação Mecânica em Hospitais da Cidade de São Paulo Uso de Sildenafil para Facilitar a Retirada de Óxido Nítrico Michelle Machtura Rodrigues, Júlio Flávio Fiore Júnior, Inalado em Pós-Operatório de Hérnia Diafragmática. Relato Edson Benassule, Luciana Dias Chiavegato, Leny Vieira Cavalheiro, de Caso Osvaldo Shigueomi Beppu Edmundo Clarindo Oliveira, Adrianne Mary Leão Sette e Oliveira, ® Carlos Faria Santos Amaral, José Sabino de Oliveira, ARTIGO ORIGINAL 33 Marcelo Eller Miranda, Andrey Kaliff Pontes Níveis Plasmáticos de Vasopressina em Cirurgia Cardíaca com Circulação Extracorpórea RELATO DE CASO 63 Edna Freitas Martins, Sebastião Araújo, Margaret de Castro, Eliane de Intervenções Psicológicas em Situações de Crise na Unidade Araújo Cintra, Desanka Dragosavac, Renato Giuseppe Giovanni Terzi, de Terapia Intensiva. Relato de Casos Antonio Luiz Eiras Falcão, Reinaldo Wilson Vieira Andrea Vannini Santesso Caiuby, Paola Bruno de Araujo Andreoli Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 SUMÁRIO Fundada em 1980 Diretoria para o Biênio 2004-2005 Presidente José Maria da Costa Orlando Vice-Presidente Waldemar Henrique Fernal 1º Secretário Marcelo Moock 2º Secretário Luiz Alexandre A. Borges 1º Tesoureiro Rosa G. Alheira Rocha 2º Tesoureiro Afonso José Celente Soares Associação de Medicina Intensiva Brasileira Rua Domingos de Moraes, 814 Bloco 2 – Conj. 23 Vila Mariana – CEP 04010-100 São Paulo – SP Tel.: (11) 5575-3832 [email protected] Indexada na base de dados Lilacs COMENTÁRIO ARTIGO ORIGINAL DESTAQUE PRÊMIO RATTON 6 Marcos Mello Moreira, Evandro Luis Assis Ferreira, Renato Giuseppe Giovanni Terzi, William Adalberto Silva, Ana Cristina de Moraes, Konradin Metze 15 A Manutenção do Suporte a Vida em Unidades de Tratamento Intensivo do Sul do Brasil: Os Resultados de um Questionário Ético Forgoing Life Support in Intensive Care Units of South Brazil: The Results of an Ethical Questionnaire Thiago Lisboa, Gilberto Friedman ARTIGO ORIGINAL 23 Cateter Central de Inserção Periférica em Terapia Intensiva de Adultos Peripherally Inserted Central Catheter in Adult Intensive Care Unity Luiz Carlos Ribeiro Lamblet, Luciana Reis Guastelli, Denis Faria Moura Júnior, Maria Aparecida Yamashita Alves, Alexandre Carvalho Bittencourt, Ana Paula Pereira Teixeira, Elias Knobel 28 Variações na Mensuração dos Parâmetros de Desmame da Ventilação Mecânica em Hospitais da Cidade de São Paulo Variations in the Measurement of Weaning Parameters of Mechanical Ventilation in São Paulo Hospitals Michelle Machtura Rodrigues; Júlio Flávio Fiore Júnior; Edson Benassule; Luciana Dias Chiavegato; Leny Vieira Cavalheiro, Osvaldo Shigueomi Beppu ARTIGO ORIGINAL 40 Antônio Almeida Chagas Filho, Fábio Santana Machado, Mariano Janiszewski Avaliação do Espaço Morto Alveolar no Tromboembolismo Pulmonar e no Choque Hemorrágico Experimentais Evaluation of Alveolar Dead Space in Pulmonary Embolism and Hemorrhagic Shock in Experimental Models ARTIGO ORIGINAL ARTIGO DE REVISÃO Estenose de Traquéia após Intubação Prolongada Long-Term Post Intubation Tracheal Stenosis Rachel Duarte Moritz ARTIGO ORIGINAL A REVISTA BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA reserva-se todos os direitos, inclusive os de tradução, em todos os países signatários da Convenção Pan-Americana e da Convenção Internacional sobre os Direitos Autorais. Os trabalhos publicados terão seus direitos autorais resguardados pela AMIB, que em qualquer situação agirá como detentora dos mesmos. 5 Sobre a Morte e o Morrer... About Death and Dying... 33 Níveis Plasmáticos de Vasopressina em Cirurgia Cardíaca com Circulação Extracorpórea Plasma Vasopressin Levels during Cardiac Surgery with Cardiopulmonary Bypass Edna Freitas Martins, Sebastião Araújo, Margaret de Castro, Eliane de Araújo Cintra, Desanka Dragosavac, Renato Giuseppe Giovanni Terzi, Antonio Luiz Eiras Falcão, Reinaldo Wilson Vieira ARTIGO DE REVISÃO 44 Medicina Intensiva Baseada em Evidências Evidence Based Intensive Care Medicine Otávio Berwanger, Hélio Penna Guimarães, Álvaro Avezum, Leopoldo Soares Piegas ARTIGO DE REVISÃO 48 Avaliação Prognóstica de Pacientes com Câncer Gravemente Enfermos Assessment of the Outcomes of Critically Ill Cancer Patients Márcio Soares, Nelson Spector, José Rodolfo Rocco ARTIGO DE REVISÃO 52 Sedação e Analgesia em UTI: Velhos Fármacos - Novas Tendências Sedation and Analgesia in ICU: Old Drugs – New Tendencies Rachel Duarte Moritz RELATO DE CASO 56 Contusão Cardíaca. Relato de Caso Blunt Cardiac Trauma. Case Report Hélio Penna Guimarães, Luiz Fernando dos Reis Falcão, Gilson Feitosa Filho, Patrícia Helena Rocha Leal, Renato Delascio Lopes, Ana Paula Resque Senna, Flávia Ribeiro Machado, José Luiz Gomes do Amaral RELATO DE CASO 60 Uso de Sildenafil® para Facilitar a Retirada de Óxido Nítrico Inalado em Pós-Operatório de Hérnia Diafragmática. Relato de Caso Sildenafil® Facilitates Weaning of Inhaled Nitric Oxide withdrawal Following Diaphragmatic Hernia Surgery. Case Report Edmundo Clarindo Oliveira, Adrianne Mary Leão Sette e Oliveira, Carlos Faria Santos Amaral, José Sabino de Oliveira, Marcelo Eller Miranda, Andrey Kaliff Pontes RELATO DE CASO 63 Intervenções Psicológicas em Situações de Crise na Unidade de Terapia Intensiva. Relato de Casos Psychological Interventions on Crisis Situations at Intensive Care Unit. Case Reports Andrea Vannini Santesso Caiuby, Paola Bruno de Araujo Andreoli 1 RBTI REVISTA BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA CONSELHO EDITORIAL Editor Chefe Gilberto Friedman Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Conselho Consultivo Cleovaldo S. Pinheiro, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Rachel Moritz, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Santa Catarina, Porto Alegre, SC, Brasil. Werther B. de Carvalho, Professor de Medicina, Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, SP, Brasil. Diretor de Publicações AMIB José O Auler, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, SP, Brasil. Editores de Sessão Revisão: Renato G. Terzi, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade de Estadual de Campinas, SP, Brasil. Pediatria: Jefferson Piva, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Enfermagem: Denis Moura Faria Jr, Enfermeiro Master do CTI do Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil. Fisioterapia: Joaquim Minuzzo Vega, Professor de Fisioterapia, Faculdade de Fisioterapia, Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, SP, Brasil. Membros do Conselho Editorial Alberto Biestro, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade da República, Montevidéu, Uruguai. Andre Kalil, Assistant Professor of Medicine, Márcio B. Sá, Investigador Associado, University of Nebraska, EUA Anibal Basile-Filho, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina,, Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, SP, Brasil Arnaldo Dubin, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade de La Plata, La Plata, Argentina. Carlos Carvalho, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, SP, Brasil. Cid M. David, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Daniel Garros, Pediatric Intensive Care Unit, Stollery Children’s Hospital, University of Alberta, Edmonton, Canada Dinis R. Miranda, Professor de Medicina, Escola de Medicina, Universidade de Gröningen, Holanda. Ederlon C. Rezende, Diretor da UTI, Hospital Público do Servidor Estadual, São Paulo, SP, Brasil. Eduardo Troster, Professor de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. Eliézer Silva, Professor de Medicina, Universidade de Santo Amaro, SP, Brasil. Felipe Dal Pizzol, Professor de Medicina, Departamento de Medicina, Laboratório de Fisiopatologia Experimental, Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, SC, Brasil. Francisco J. Hurtado, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade da República, Montevidéu, Uruguai. Guillermo Bugedo, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Pontifícia Universidade Católica do Chile, Santiago, Chile. Glenn Poblette Hernandez, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Pontifícia Universidade Católica do Chile, Santiago, Chile. Hervaldo S. Carvalho, Professor de Medicina, Universidade de Brasília, Brasil. Humberto Correa, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade da República, Montevidéu, Uruguai. Luis F. Poli de Figueiredo, Departamento de Cardiopneumologia, Instituto do Coração, Escola de Medicina, Universidade de São Paulo, Sao Paulo, SP, Brasil. Marcelo Velloso, Professor de Fisioterapia, Centro Universitário Nove de Julho, São Paulo, SP, Brasil. Facultade de Medicina, Universidade Complutense, Madrid, Espanha. Maria C. B. J. Gallani, Professora de Enfermagem, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil. Maria de Fátima F. Vattimo, Professora de Enfermagem, Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, SP, Brasil. Natan Weksler, Assistant Professor on Anesthesiology and Critical Care Medicine, Faculty of Health Sciences, Ben Gurion University of the Negev, Beer Sheva, Israel Patricia M. V. C. Mello, Professora de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade Estadual do Piauí, Teresina, Piauí, Brasil. Pedro C. R. Garcia, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Raffo E. Kanashiro, Professor de Medicina, Universidad Nacional Federico Villarreal Lima, Peru Roberto Machado, Associate Investigator, Laboratory of Chemical Biology, Critical Care Department, Clinical Center, National Institutes of Health, Bethesda, EUA Roque Aras Junior, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade Federal da Bahia, Brasil. Rui P. J. Moreno, Professor de Medicina, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, Portugal. Sebastião Araújo, Professor de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade Estadual de Campinas, SP, Brasil. Silvia Regina Rios Vieira, Professora de Medicina, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Suzana Lobo, Professora de Medicina, Escola de Medicina, FUNFARME, São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil. Jornalista Responsável Marcelo Sassine - Mtb 22.869 Diretora de Arte Anete Salviano Projeto Gráfico e Produção Editorial MWS Design Fone: (11) 3399-3028 - www.amws.com.br A correspondência para publicação deve ser endereçada para: RBTI - Revista Brasileira de Terapia Intensiva AMIB Rua Domingos de Moraes, 814 – Bloco 2 – Conj. 23 - Vila Mariana – CEP 04010-100 – São Paulo – SP Tel.: (11) 5575-3832 E-mail:[email protected] 2 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva NORMAS PARA PUBLICAÇÃO NESTA REVISTA O escopo do jornal RBTI é um jornal médico com revisão crítica que objetiva melhorar o cuidado dos pacientes agudamente doentes através da discussão, distribuição e promoção de informação baseada em evidência relevante aos profissionais envolvidos com medicina intensiva. O jornal publica comentários, revisões e pesquisa em todas estas áreas do conhecimento relacionadas aos cuidados intensivos do paciente grave. Informação Geral RBTI acolhe pesquisa de alta qualidade em qualquer aspecto relacionado ao cuidado intensivo. Todos os trabalhos submetidos serão revisados. Todos os revisores são solicitados a responderem sua decisão inicial em 4-6 semanas. Os autores são solicitados a garantir que nenhum material infrinja direito autoral existente ou direito de uma terceira parte. Os autores que publicam com o RBTI, retêm o direito autoral de seu trabalho. Os artigos devem ser em português, espanhol ou inglês. Instruções para os autores de artigos de pesquisa A submissão de um artigo de pesquisa relatando pesquisa experimental em humanos ou animais implica que os autores obtiveram aprovação para a sua pesquisa do comitê de ética apropriado, e estão em concordância com a Declaração de Helsinki. Uma declaração deste efeito precisa estar incluída na sessão “Pacientes e Métodos” do seu artigo. Para todos os artigos que incluem informação ou fotografias clinicas relacionadas a pacientes individuais, um consentimento escrito e assinado de cada paciente para publicar também precisa ser enviado por correio ou fax ao escritório da revista. O manuscrito deve incluir uma declaração deste efeito na sessão de “Agradecimentos” como a seguir: “Consentimento escrito foi obtido do paciente ou seu parente para publicação do estudo”. Nomes Genéricos das drogas devem ser usados. Quando nomes comerciais são usados na pesquisa, estes nomes devem ser incluídos entre parênteses na sessão “Pacientes e Métodos”. Como eu organizo meu artigo de pesquisa? Todos os artigos de pesquisa devem incluir as seguintes sessões: Página Título: O titulo completo do artigo Os nomes completos de todo os contribuintes Todos os títulos/posições dos contribuintes (assistente, diretor, ou residente) O endereço completo (incluindo telefone, fax e email) do autor para correspondência. Resumo: Não ter mais que 250 palavras Ser estruturado com os mesmos cabeçários usados no texto principal. Mencionar todas as palavras chaves Refletir acuradamente todas as sessões do texto principal Todos os trabalhos deverão ser acompanhados de um Abstract (resumo traduzido), necessariamente em inglês Palavras chaves: ver sessão abaixo Introdução - esta sessão deve ser escrita do ponto de vista dos pesquisadores sem conhecimento de especialista na área e deve claramente oferecer – e, se possível, ilustrar – a base para a pesquisa e seus objetivos. Relatos de pesquisa clínica devem, sempre que apropriado, incluir um resumo da pesquisa da literatura para indicar porque o estudo foi necessário e o que o estudo visa contribuir para o campo. Esta sessão deve terminar com uma breve declaração do que está senso relatado no artigo. Pacientes e métodos - deve incluir o desenho do estudo, o cenário, o tipo de participantes ou materiais envolvidos, a clara descrição das intervenções e comparações, e o tipo de análise usado, incluindo o poder de cálculo se apropriado. Resultados e discussão - os resultados e discussão podem ser combinadas em uma sessão única ou apresentados separadamente. Resultados da análise estatística deve incluir, quando apropriado, riscos relativo e absoluto ou reduções de risco, e intervalos de confiança. A sessão de resultados e discussão pode também ser quebrada em sub-sessões com leituras curtas e informativas. Conclusões - deve discorrer claramente as conclusões principais da pesquisa e fornecer uma clara explicação da sua importância e relevância. Referências – Nós preferimos que não exceda 30 referências. Para formatar a referência veja a sessão abaixo’ Como eu formato as referências?’. Figuras e Tabelas: Estas devem ser mantidas separadas do texto principal do artigo. Veja abaixo ‘Figuras e tabelas’ para maiores informações. Agradecimentos: ver sessão abaixo Instruções para os autores de artigo de revisão O artigo de revisão é uma descrição compreensiva de certo aspecto de cuidado de saúde relevante ao escopo do jornal. Deve conter não mais que 2000 palavras e 50 referências. Existem três tipos principais de revisões: Revisões científicas - descrevendo ciência que podem ter impacto clínico Revisões “bancada a beira do leito” - descrevendo ciência que suportam situações clínicas Volume 16 - Número 4 - Outubro/Dezembro 2004 Revisões Clínicas - descrevendo puramente situações clínicas Claramente, estes três tipos de revisões possuem o potencial de se sobrepor, mas o objetivo de dividir o jornal nesta maneira é ajudar os leitores achar o tipo de material que estão procurando. Como eu organizo meu artigo de revisão? Todos os artigos de revisão devem ser divididos nas seguintes sessões: Página Título: O título completo do artigo Os nomes completos dos contribuintes Todos os títulos/posições dos contribuintes (como assistente, diretor, ou residente) O endereço completo (incluindo telefone, fax e email) do autor correspondente. Resumo: Não ter maus que 250 palavras Ser estruturado como o texto principal. Mencionar todas as palavras chave Refletir acuradamente todas as sessões do texto principal Todos os trabalhos deverão ser acompanhados de um Abstract (resumo traduzido), necessariamente em inglês Palavras Chave: ver sessão abaixo Abreviações: ver sessão baixa Referências: listar o máximo de 50 referências. Para formatar a referência veja a sessão na página ao lado “Como eu formato as referências?” Figuras e Tabelas: Estas devem ser mantidas separadas do texto principal do artigo. Veja abaixo ‘Figuras e tabelas’ para maiores informações. Deve haver, também, a sessão de métodos que relaciona as fontes de evidência usadas. Se você procurou numa bibliografia eletrônica como Medline, por favor, liste as palavras usadas para realizar a procura. Instruções para autores de um comentário? Comentários são curtos (800-1000 palavras, excluindo o resumo), artigos de opinião escritos por especialistas e lidos pela comunidade médica em geral. Muitos são solicitados, contudo os não solicitados são bem vindos e são rotineiramente revisados. O objetivo do comentário é destacar algo, expandindo os assuntos destacados, e sugerir o que deve acontecer em seguida. Qualquer declaração deve ser acompanhada por uma referência, mas nós preferimos que a lista de referências não exceda 15. Para a leitura, sentenças devem ser curtas e objetivas. Use subtítulos para quebrar o comentário em sessões. Por favor, lembre que, apesar de muitos de nossos leitores serem especialistas, eles podem não ser especialistas na sua área e assim você necessitar explicar toda a terminologia e acrônimos a primeira vez que eles são usados. Por favor, providencie uma lista alfabética de todas abreviações. Assim como os comentários gerais também existem os tipos específicos: Debates clínicos Pro/con Dois autores convidados discutem suas diferentes opiniões sobre um assunto clínico especifico. Os assuntos são levantados através de cenários clínicos escritos pelo editor de sessão. Cada autor é solicitado a escrever um artigo referenciado de 500-palavras, descrevendo se eles concordam ou discordam com o cenário clínico (pro ou con). Os artigos contrários são mostrados aos autores para uma resposta de não mais que 100 palavras. Os autores sabem quem é seu oponente mas não podem ver o artigo oposto até terem submetido seu. Não deve haver mais que 10 referências no artigo de 500-palavras, e 2 referências na resposta de 100-palavras. Nós preferimos referências de estudos randomisados e controlados publicados nos últimos 10 anos. Comentários de Pesquisas Nossos artigos de pesquisa são freqüentemente acompanhados por comentários. Os mesmos visam descrever as qualidades e/ou deficiências da pesquisa, e suas implicações mais amplas. O artigo de pesquisa discutido deve ser a primeira referência do comentário. Comentários publicações recentes Artigos de pesquisa publicados são escolhidos pelo conselho editorial nos últimos seis meses e os relata na forma de um comentário. Como EU organizo meu comentário? Todos os comentários devem incluir as seguintes sessões: Página Título: deve listar todos os títulos/posições dos contribuintes e endereços completos (incluindo telefone, fax e email), e deve indicar o autor correspondente Resumo: não deve ter mais que 100 palavras e deve mencionar todas as palavras-chave (não se aplica a debates pro/con). Todos os trabalhos deverão ser acompanhados de um Abstract (resumo traduzido), necessariamente em inglês Palavras-chave: ver sessão abaixo Abreviações: ver sessão abaixo Texto Principal: veja ‘O que é um comentário’ para esclarecimento. Subtítulos: Nós encorajamos o uso de subtítulos no seu texto. 3 NORMAS PARA PUBLICAÇÃO NESTA REVISTA Instruções para os autores de cartas Nós damos boas vindas a comentários em qualquer artigo publicado no jornal. Cartas usualmente não são revisadas, mas, ocasionalmente, nós podemos convidar respostas as cartas para publicação no mesmo número da revista. Nós preferimos cartas com menos de 400 palavras e que contenham cinco ou menos referências (a primeira delas a ser referida deve ser o artigo do RBTI ao qual a carta se refere). Os autores devem também providenciar seus dados e endereço completo (incluindo telefone, fax, e email). Todas as cartas são editadas; a versão editada é enviada para os autores para aprovar antes da publicação. Palavras chave: ver sessão abaixo Agradecimentos: ver sessão baixo Referências Nós preferimos que a lista de referências não exceda 30. Para formatar a referência veja a sessão abaixo ‘Como eu formato as referências?’. Figuras e Tabelas Estas devem ser mantidas separadas do texto principal do artigo. Veja abaixo ‘Figuras e tabelas’ para maiores informações. Agradecimentos Estes devem ser concisos. Os autores devem usar esta sessão se eles gostariam agradecer o financiamento da pesquisa ou outra ajuda de organismos acadêmicos; ajuda de colegas ou colaboradores podem também ser mencionados. Os autores devem obter permissão para agradecer a todos mencionados nos agradecimentos. Interesses conflitantes Os autores correspondentes são solicitados a assinar o nosso formulário de interesses conflitantes em nome de todos os contribuintes. Por favor, mencione qualquer ajuda, financeira ou outra qualquer, de entidades comerciais. Como EU envio meu artigo? Todos os artigos (incluindo as figuras) podem ser enviados ao escritório editorial como anexos a emails. Eles devem ser menores que 1000Kb. Nós não requeremos uma cópia impressa. Nós aceitamos a maioria dos programas Word, em formatos PC. Em todo caso, envie também o texto como um arquivo txt para evitar problemas de processamento do arquivo. Se existem figuras, estas devem também ser enviadas como anexos a emails, os quais devem ser enviados ao escritório editorial. Para maiores informações sobre figuras, por favor, veja a sessão; ‘Figuras e tabelas’. Se necessário, nós podemos aceitar também disquetes, e CD-ROMs. Por favor, identifique os disquetes com os nomes dos autores’, o processador de texto e a versão usada. Se o disquete e o manuscrito diferirem, o manuscrito será tomado como a versão definitiva. Para evitar problemas com os arquivos, por favor: Digite o texto não justificado e sem quebra de palavras com hífens. Não use notas de rodapé. Espaço duplo ao longo do texto. Evite a inclusão de números de páginas. Use o caracter ASCII se possível para caracteres especiais (e.g. letras gregas e símbolos matemáticos); se você é incapaz de reproduzir um caracter especial no seu arquivo, explique no seu email ou escreva em papel e envie ao escritório editorial. O que acontece uma vez que eu submito o meu artigo? O escritório editorial agradece a todas submissões. Após, potencialmente existem seis estágios: O conselho editorial assegura que o artigo de pesquisa enquadra-se no escopo do jornal Se o artigo enquadra-se no escopo do jornal, três revisores sugeridos pelo editor são convidados a revisar o artigo. Ele é revisado para estrutura, gramática, e estilo do jornal. O editor aconselha o conselho editorial se o artigo deve ser aceito, revisto pelos autores ou rejeitado baseado nos relatos dos revisores. O conselho editorial toma a decisão final e os autores são informados. Nós temos como objetivo fornecer uma decisão inicial dentro de 4-6. Se o artigo de pesquisa é aceito, ele é copiado, editado, formatado, e enviado ao autor correspondente para verificação. Você será então solicitado a assinar nosso formulário de direitos autorais e separatas e nosso formulário de interesses conflitantes. Como EU formato as referências? Use as abreviações de revistas encontradas no Index Medicus/Medline. As citações no texto devem ser feitas entre parênteses, correspondendo às respectivas referências listadas por ordem cronológica, não-alfabética. Estas devem ser listadas ao final na ordem que aparecem no texto. Cada referência deve ter um número individual de referência (não parte ‘a’ e parte ‘b’, por exemplo). Por favor, evite um excesso de referências. O conselho editorial pode solicitar a redução do número de referências antes do aceite. Os livros devem ser referidos pelo autor, título, cidade-sede da casa editora, 4 nome da casa editora, número da edição (a partir da 2ª), volume, ano da impressão, e páginas inicial e final citadas. Se se tratar de capítulo de livro, fazer constar: autor do capítulo, título do capítulo, a palavra In (grifada), dois pontos, nome dos editores indicando com a abreviação eds., título do livro (grifado), cidade da editora, nome da editora, nº da edição (a partir da 2ª), volume, ano da publicação, páginas citadas. Quando o artigo tiver mais de três autores deverão ser citados os três primeiros seguidos de et al. Apenas artigos que foram publicados ou que estão em impressão podem ser citados; material não publicado não deve ser incluído na lista de referências, mas pode ser incluído no texto. A obtenção de permissão para citar dados na forma de comunicações pessoais é de responsabilidade do autor(s), que deve incluir uma confirmação escrita, que a permissão foi obtida com o manuscrito submetido. EXEMPLO DE REFERÊNCIAS Artigo de jornal Baumann WR, Jung RC, Koss M et al. Incidence and mortality of adult respiratory distress syndrome: a prospective analysis from a large metropolitan hospital. Crit Care Med 1986; 14 :1-4. Artigo de suplemento Walker LK: Use of extracorporeal membrane oxygenation for preoperative stabilization of congenital diaphragmatic hernia. Crit Care Med 1993, 21(suppl): S379-S380. Livro Doyle AC: Biological Mysteries Solved, 2nd Ed, London: Science Press, 1991. Capítulo de livro Lachmann B, van Daal GJ: Adult respiratory distress syndrome: animal models. In Pulmonary Surfactant. Edited by Robertson B, van Golde LMG, Batenburg JJ. Amsterdam: Elsevier, 1992:635-663 Resumo publicado Varvinski AM, Findlay GP: Immediate complications of central venous cannulation in ICU [abstract]. Crit Care 2000, 4(suppl 1):P6. Artigo In press Kharitonov SA, Barnes PJ: Clinical aspects of exhaled nitric oxide. Eur Respir J, in press. Figuras, Ilustrações, Fotografias e Tabelas Figuras e tabelas devem iniciar com o título que descreve a figura total. Tabelas não devem incluir linhas verticais. Elas não devem tomar mais espaço que duas páginas no jornal impresso, incluindo seus títulos e legendas. Elas devem ser mantidos separadas do texto principal do artigo, contendo suas respectivas legendas e assinalando sua exata localização no texto. Somente serão aceitas as ilustrações que permitirem boa reprodução. Se as fotografias forem enviadas diretamente ao escritório, essas não devem ser identificadas diretamente nas mesmas; não escreva no verso das cópias em papel, mas anexe a identificação com os nomes dos autores e o número da figura. Os autores são encorajados a submeter figuras em formato eletrônico de alta qualidade. A resolução mínima para as figuras é 300 dpi. Por favor, lembre que a reprodução pode reduzir qualidade da figura, assim providencie a mais alta resolução possível, e lembre que a redução do tamanho da figura irá também reduzir o tamanho do label. Formatos Eletrônicos: por favor, estes são os formatos de arquivo preferidos: TIFF (formato preferido para fotos/imagens; mínimo 300 dpi) Portable Document Format (PDF) CorelDraw PowerPoint Arquivo de Figura podem ser submetidos por email. Alternativamente, os arquivos podem ser submetidos em disquete ou CD-ROM. Unitermos Não mais que cinco palavras chave devem ser listadas em ordem alfabética. Por favor, garanta que as palavras chave são achadas na lista do Medical Subject Headings (MeSH) do Index Medicus. Estas palavras podem ser procuradas no browser da National Library of Medicine’s MeSH. Abreviações Acrônimos e outras abreviações devem ser listadas em ordem alfabética. Por favor, lembre que apesar dos seus leitores serem médicos, eles podem não ser especialistas no seu campo específico e assim você precisa explicar a terminologia e os acrônimos a primeira vez que eles são usados. Por favor, forneça uma lista alfabética de todas as abreviações usadas. Políticas de publicação do RBTI Publicação Submissão de um artigo ao RBTI implica que todos contribuintes leram e concordam com seu conteúdo. O artigo não foi ainda publicado em outro jornal e não deve estar em consideração por nenhum outro jornal. Direitos autorais Para artigos de pesquisa (incluindo qualquer material suplementar) e revisão, o direito autoral é dos autores. Os direitos de todo material publicado na RBTI pertence ao jornal. RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / COMENTÁRIO Sobre a Morte e o Morrer... About Death and Dying... C ada vez mais torna-se necessário que haja uma ampla discussão sobre a morte e o morrer. Nos últimos meses, a imprensa leiga tem informado amplamente sobre o caso de Terri Schiavo, o que tem gerado uma discussão polêmica sobre a EUTANÁSIA. Pode-se questionar se toda a repercussão desse caso não é gerada pela necessidade de que a sociedade moderna reavalie a conceituação e a aceitação do ponto de vista ético e legal da Eutanásia. A etimologia da palavra eutanásia vem do grego que a define como boa morte ou, como o ato de levar à morte o paciente em sofrimento incurável e intolerável, de um modo rápido e indolor por razão de misericórdia. A definição de eutanásia passiva foi muito utilizada para descrever atos de interromper ou não iniciar a terapia de suporte à vida. Porém, após inúmeros debates sobre a diferença ética e moral entre a morte causada pela ação (eutanásia ativa) ou pela omissão intencional (eutanásia passiva), muitos especialistas passaram a rejeitar esses termos1. Diante dessas definições surge o questionamento do quão hipócrita é a sociedade que aceita ser retirado o suporte nutricional de uma paciente, mas não aceita que o seu processo de morrer seja abreviado. Pode-se também questionar o quão tênue é a separação dos termos EUTANÁSIA, a morte boa, e ORTOTANÁSIA, a morte no tempo certo. Cita-se, como exemplo, o caso hipotético de um paciente, vítima de doença progressiva, irreversível e fatal, que ao receber morfina, para o controle do desconforto e da dor causada pela sua doença, apresenta parada cardiorrespiratória. Questiona-se então se essa paciente deve ser reanimada ou se a sua morte é em decorrência de eutanásia ou ortotanásia. Pode-se também inferir diante dessa hipótese que, em muitas ocasiões, o médico, pelo medo de praticar eutanásia, promove aos seus pacientes uma morte lenta e dolorosa, a DISTANÁSIA. Esse é um dilema difícil de ser resolvido. Entretanto, pode-se afirmar que a diferença entre um paciente que morre com dor e aquele que tem a morte precipitada com a administração de um analgésico é a intenção da pessoa que administra o fármaco2,3. Os médicos intensivistas têm se preocupado de maneira crescente sobre a necessidade da recusa ou suspensão de tratamentos considerados fúteis ou inúteis. No artigo, publicado neste número, e intitulado “A manutenção do Suporte a Vida em Unidades de Tratamento Intensivo do Sul do Brasil: Os Resultados de um Questionário Ético” , pode-se constatar que a maioria dos intensivistas (97%) já tomou essa decisão em algum momento da sua vida profissional, que essa tomada de decisão tornou-se mais fácil quando a família compactuou com a mesma, que é mais fácil para o médico intensivista recusar do que suspender terapêutica e que a decisão é mais freqüentemente tomada diante da expectativa de qualidade de vida futura do Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 paciente. Esses achados são semelhantes aos encontrados na literatura médica mundial4-10 e mostram que muitas vezes nós intensivistas, praticamos ortotanásia, entretanto, não estamos livres do conflito ético-moral relacionado à tênue diferença entre eutanásia e ortotanásia e, portanto, devemos debater, cada vez mais, e não somente entre nossos pares, esse tema. Outro fato atual que merece comentário é a morte do chefe de estado do Vaticano, representante máximo da religião católica. A Igreja Católica, em documento divulgado pelo Vaticano e aprovado pelo Papa João Paulo II, autoriza o ser humano a, “diante de uma morte inevitável, renunciar a alguns tratamentos que procurariam unicamente uma prolongação precária e penosa da existência”2. Ironicamente, a agonia do Papa João Paulo II, presenciada mundialmente, e as inúmeras tentativas para o retardo da sua morte deveriam ter trazido a tona o debate sobre o sofrimento prolongado durante o processo de morrer. O que foi divulgado na imprensa leiga nos fez acreditar que, mesmo sofrendo de doença crônica, degenerativa, progressiva e irreversível o supremo pontífice foi internado em UTI, sofreu traqueostomia e, somente após um longo calvário, optou por morrer no seu lar. Portanto, mais uma vez urge a necessidade do debate, em todos os segmentos da sociedade, sobre a morte e o morrer e sobre as definições ético-legais em relação à distanásia, à eutanásia e à ortotanásia. A importância principal do trabalho mencionado é a necessidade da abordagem do tema em questão e da conscientização da classe médica, que é peça principal na condução das decisões terapêuticas no final da vida. Dra. Rachel Duarte Moritz Médica Intensivista da UTI/HU/UFSC Professora Titular do Departamento de Clínica Médica/UFSC REFERÊNCIAS 01. Caldana RP, Martins LAN - A morte auxiliada por médicos. ARS Curandi/ JAMA, 1996;29:78-87. 02. Bizzatto JI - Eutanásia e Responsabilidade Médica. 1ª Ed, Porto Alegre: SAGRA, 1990;246. 03. Nyman DJ, Eidelmman LA, Sprung CL - Eutanásia. Clínicas de Terapia Intensiva, 1996;1:85-96. 04. Vincent JL - Ethical issues in critical care medicine: United States and European views and differences. Intensive Care World, 1996;13:142-144. 05. Vincent JL - Cultural differences in end-of-life care. Crit Care Med, 2001;29:(Supll2):N52-N55. 06. Moritz RD, Nassar SM - A atitude dos profissionais de saúde diante da morte. Rev Bras Terap Intens, 2004;16:14-21. 07. Moritz RD, Pamplona F - Avaliação da recusa ou suspensão de tratamentos considerados fúteis ou inúteis em UTI. Rev Bras Terap Intens, 2003;15:40-44. 09. Moritz RD - O comportamento do médico intensivista brasileiro diante da decisão de recusar ou suspender um tratamento. Rev Bras Terap Intens, 2001;13:21-28. 10. Moritz RD - A Morte e o Morrer nas Unidades de Terapia Intensiva, em: David CM - Medicina Intensiva. 1ª Ed, Rio de Janeiro, 2003;68-78. 5 RBTI / ARTIGO ORIGINAL DESTAQUE PRÊMIO RATTON 2004 Avaliação do Espaço Morto Alveolar no Tromboembolismo Pulmonar e no Choque Hemorrágico Experimentais* Evaluation of Alveolar Dead Space in Pulmonary Embolism and Hemorrhagic Shock in Experimental Models Marcos Mello Moreira1, Evandro Luis Assis Ferreira2, Renato Giuseppe Giovanni Terzi3, William Adalberto Silva4, Ana Cristina de Moraes5, Konradin Metze6 SUMMARY BACKGROUND AND OBJECTIVES: Increase in alveolar dead space has been reported in pulmonary embolism (PE), hemorrhagic shock. This study evaluated hemodynamic and pulmonary gas exchange in young pigs that underwent experimental models of PE (six pigs) and hemorrhagic shock (six pigs). The purpose was to delineate the physiologic profile of these two models, considering that both develop important reduction of PetCO2. METHODS: The end point for both groups was a fall of 50% of PetCO2after intervention. All animals underwent hemodynamic evaluation with the Swan-Ganz catheter, respiratory mechanics, capnography and collection of arterial and mixed venous blood for blood gases, hemo-oximetry and lactimetry. All measurements were recorded in two moments. The first (Pre) was defined as being the time prior to the intervention (embolization or shock) after the animals were stabilized. The second (Post) occurred after reaching the established end point for each model. Data comparing variables at baseline (Pre) did not show significant differences between the two groups. RESULTS: Data comparing variables after intervention did not show significant differences between the two groups for the following variables: PetCO2, PvCO2 and anatomical dead space. Alveolar dead space increased in both groups, but was significantly larger in pulmonary embolism than in shock. The most significant variable to differentiate both interventions was P(a-et)CO2. The measurement of the alveolar dead space may be obtained through the alveolar dead space end-tidal fraction (AVDSf), an easily determined variable that can be easily calculated at the bedside to recognized patients with massive PE and cardiac and respiratory instabilization without cause known, with a capnometer and an arterial blood gas analysis. CONCLUSIONS: Venous hypercarbia occurs in both groups. However, the venous to arterial CO2 gradient P(v-a)CO2 is significantly larger in hypoxia due to ischemia, a fundamental factor in determining the venous hypercarbic acidosis in this animals. Key Words: alveolar dead space fraction (AVDSf), capnography, hemorrhagic shock, PetCO2, pulmonary embolism A aplicação do princípio de Fick permite, na monitorização hemodinâmica invasiva, o cálculo da oferta e do consumo de oxigênio, assim como a determinação da produção de gás carbônico. Métodos não-invasivos, ou minimamente invasivos, têm sido introduzidos em Unidades de Terapia Intensiva1 alavancadas principalmente por contundentes críticas ao cateter de artéria pulmonar2. As situações que podem levar a um aumento da pressão parcial de CO2 no final da expiração (PetCO2) são os quadros hipermetabólicos, a sepse, a SIRS, a hipertermia maligna, o hipertireoidismo, o trauma, as grandes queimaduras, a grande ingesta de carboidratos, a infusão de bicarbonato de sódio e a hipoventilação. As situações que podem levar à diminuição da PetCO2 são o estado de choque hipovolêmico ou hemorrágico, o tromboembolismo pulmonar (TEP), a hiperventilação alveolar, a hipotermia, a sedação e/ou anestesia, o hipotireoidismo, a intubação endotraqueal e a diminuição no débito cardíaco (DC) com conseqüente redução do fluxo sangüíneo pulmonar3. Valores considerados normais da PetCO2 giram em torno de 38 mmHg4. A PetCO2, expressa a concentração média do CO2 no ar alveolar e, portanto, é equivalente da pressão parcial de CO2 no sangue arterial (PaCO2), visto que é pouco significativo o gradiente de PCO2 entre o gás alveolar e o sangue arterial em indivíduos normais cujo gradiente é em torno de 2 mmHg, não ultrapassando 5 mmHg5. Assim, tem sido relatado que a PetCO2 tem sido empregada na correlação com o DC e nos estados de choque6, na avaliação do sucesso e do prognóstico da função miocárdica pós-parada cardíaca7, no desmame da circulação extracorpórea em pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio8, na diferenciação entre a intubação orotraqueal e a esofágica9, no sucesso da reperfusão pulmonar pós-trombólise por TEP maciço10, nas alterações do espaço 1. Fisioterapeuta. Pós-Graduando do Departamento de Cirurgia da FCM da UNICAMP 2. Médico Intensivista. Pós-Graduando do Departamento de Cirurgia da FCM da UNICAMP 3. Professor Titular do Departamento de Cirurgia da FCM da UNICAMP 4. Biólogo da Disciplina de Técnica Cirúrgica do Departamento de Cirurgia da FCM da UNICAMP 5. Bióloga da Disciplina de Técnica Cirúrgica do Departamento de Cirurgia da FCM da UNICAMP – Pós-Graduanda do Departamento de Cirurgia da FCM da UNICAMP 6. Pesquisador Senior do Conselho Nacional de Pesquisa Científica (1A). Professor do Laboratório de Anatomia e Patologia Experimental do NMCE – Núcleo de Medicina e Cirurgia Experimental, UNICAMP. Professor Pleno do Curso de Pós-graduação em Fisiopatologia e Medicina da UNICAMP * Recebido do Departamento de Cirurgia, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas (FCM – UNICAMP), Campinas, SP (*) Trabalho realizado parcialmente com recursos da FAPESP (Processo 02/05252-3) - São Paulo, SP, Brasil. Apresentado em 10 de fevereiro de 2005 - Aceito para publicação em 18 de março de 2005 Endereço para correspondência: Dr. Renato Giuseppe Giovanni Terzi - Rua Conceição 233 sala 810, Centro - 13010-916 Campinas, SP - Fone/Fax - 55-19-3233-2969 - E-mail: [email protected] - [email protected] 6 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL DESTAQUE PRÊMIO RATTON 2004 morto fisiológico como o TEP12. O objetivo deste trabalho foi o de correlacionar a reduzida PetCO2 em duas situações experimentais distintas (choque hemorrágico e tromboembolismo pulmonar) com outras variáveis cardiorrespiratórias objetivando discriminar estes modelos experimentais. Em ambos os grupos experimentais a meta atingida foi a redução de cerca de 50% na PetCO2 em relação ao valor basal. A análise dos dados coletados se baseou em princípios de fisiologia respiratória já descritos. Por isso é importante que seja definido o conceito de espaço morto respiratório assim como as técnicas de medida dos diferentes espaços mortos respiratórios (anatômico, fisiológico e alveolar) utilizadas neste trabalho. MÉTODO Após a aprovação do Comitê de Ética Animal do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), 12 porcos (n = 12) foram divididos em dois grupos: grupo I (TEP, n = 6) e grupo II (CH, n = 6). PREPARO DOS ANIMAIS PARA AS INTERVENÇÕES (TROMBOEMBOLISMO PULMONAR E CHOQUE HEMORRÁGICO) Porcos da raça Large-White receberam 10 mg/kg de cetamina (Ketalar, Parke-Davis & Co. Guarulhos, SP) e 0,5 mg de atropina (Ariston, São Paulo, SP) por via muscular sendo mantidos anestesiados com halotano (Zeneca Farmacêutica do Brasil Ltda, Cotia, SP) em ar atmosférico. Foram inicialmente nebulizados com halotano em ar atmosférico com máscara facial e, depois, com tubo orotraqueal, permanecendo com halotano sob nebulização, em ar ambiente e em respiração espontânea. Um cateter de Swan-Ganz nº 5 pediátrico foi introduzido pela veia femoral direita, sendo, a sua ponta guiada até a artéria pulmonar. A confirmação da correta localização do cateter foi realizada, sistematicamente, pela morfologia das curvas. Um cateter de polietileno 6F foi introduzido pela artéria femoral e sua ponta foi guiada até a aorta abdominal, enquanto que outro cateter 8F foi introduzido pela veia jugular direita e locado na veia cava superior. Cada cateter foi preenchido com uma solução heparinizada (solução fisiológica com 5 unidades de heparina por mL). O cateter femoral e o de Swan-Ganz® foram conectados a eletromanômetros Medex (Hilliard, Ohio). O DC e a pressão arterial foram obtidos por meio de um monitor cardíaco (BESE, Belo Horizonte, MG). Todas as medidas das pressões foram realizadas com o animal ajustado na goteira, na posição supina e tiveram como ponto de referência zero a linha médio-torácica do animal. A calibração do monitor foi realizada com uma coluna de mercúrio padrão. O DC foi obtido por termodiluição, pela injeção de solução glicosada a 5% e a uma temperatura inferior a 5 ºC. A temperatura central foi obtida diretamente do termistor locado na artéria pulmonar. Amostras de sangue foram coletadas da artéria femoral e da artéria pulmonar para as determinações laboratoriais do Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 sangue arterial e venoso misto. Após o descarte do fluido que ocupava o espaço morto dos cateteres, o sangue arterial e o venoso misto foram colhidos em seringas heparinizadas para a gasometria, hemooximetria e a determinação do lactato no sangue arterial. As amostras de sangue foram processadas de imediato, a 38 ºC e automaticamente corrigidas para a temperatura central do animal. O lactato foi medido em equipamento simples (Accusport), que permite a leitura do lactato em um minuto e a partir de uma única gota de sangue arterial (Boehringer Mannheim, Asta Medica, São Paulo, SP). A avaliação hemodinâmica registrou o DC, a pressão arterial média (PAM), pressão de artéria pulmonar média (PAPM). Os dados da hemodinâmica foram anotados durante o procedimento e gravados em papel termo sensível do polígrafo Bese® e posteriormente anotados em planilhas eletrônicas anexadas para posterior correlação. A avaliação da mecânica respiratória e da capnografia foi realizada por um Monitor de perfil respiratório (DX-8100 CO2SMO PLUS Dixtal/Novametrix) acoplado ao software Analysis Plus que permite o cálculo das variáveis fisiológicas respiratórias. O pneumotacógrafo utilizado era descartável e baseado no princípio de manometria diferencial em resistência fixa por orifício. A partir dos registros dos sinais de fluxo e de capnografia foram, posteriormente, compilados dados, em planilha eletrônica, dos últimos 2 minutos que antecediam a coleta de sangue e registros hemodinâmicos, que permitiram coletar dados da mecânica respiratória, da capnografia volumétrica associada à gasometria arterial para cálculo da AVDSf (fração de espaço morto alveolar end-tidal = P(a-et)CO2/PaCO2)15. Fowler13, mostrou que é possível calcular o espaço morto anatômico (VD an), pela avaliação do ar expirado. O espaço morto anatômico corresponde ao volume de ar corrente que não participa da hematose, por não haver perfusão pulmonar neste espaço. Ele é constituído pelas vias aéreas ditas de condução, como a laringe, a faringe, a traquéia, os brônquios e os bronquíolos terminais até a 16ª geração. A medida deste espaço, por moldes de gesso, indica que este volume gira ao redor de 150 mL no indivíduo adulto. Além do espaço morto anatômico que é normal e pouco mutável, mesmo na doença, existe um outro espaço morto representado por uma deficiência de perfusão pulmonar que pode ser anatômica (alvéolos sem perfusão) ou funcional (alvéolos parcialmente perfundidos). Este espaço morto é denominado de espaço morto alveolar e é pouco expressivo em indivíduos normais, ocorrendo pela distribuição heterogênea de relação entre a ventilação e a perfusão pulmonar (VA’/Q’). Não é possível medir diretamente o espaço morto alveolar. Entretanto, Christian Bohr, em 1904, a partir da equação do ar alveolar, derivou a equação do espaço morto fisiológico (VD/VT = PACO2 – PECO2/PACO2) sendo mais tarde modificada por Enghoff14, em 1938, onde a PACO2 (pressão parcial de gás carbônico no ar alveolar) foi substituída pela PaCO2, visto que não é possível coletar amostras representativas do ar alveolar. A determinação do espaço morto fisiológico se faz de acordo com a equação de Bohr-Enghoff. VT alv = VT – VD an X + Y = (X + Y + Z) - Z 7 RBTI / ARTIGO ORIGINAL DESTAQUE PRÊMIO RATTON 2004 Equação de Bohr-Enghoff Onde PetCO2 é a pressão média de CO2 medida no ar expirado. O volume corrente alveolar (VT alv) é calculado pela diferença entre o volume corrente (VT) e o espaço morto anatômico (VD an). Ocorre que parte da ventilação alveolar é composta por ventilação de alvéolos não perfundidos e que resultam em aumento do espaço morto alveolar (Figura 1). O espaço morto alveolar é calculado pela diferença entre o espaço morto fisiológico (áreas Z + Y) e o espaço morto anatômico (área Z) (Figura 1). VT alv = VT – VD and X = Y = (X = Y + Z) - Z gulos injetados foi de 24,66 ± 4,27 mL e o tempo médio de injeção dos coágulos foi de 20 minutos. Um novo registro (Pós) das variáveis hemodinâmicas, respiratórias e coleta de amostras de sangue arterial e venoso, foi realizado após ter-se atingido uma redução da PetCO2 ≥ 50% do valor basal. Figura 2 – Exemplo representativo da capnografia contínua em um animal submetido a tromboembolismo pulmonar (TEP). Note-se que a redução da PetCO2 de 44 para 14 mmHg ocorre em 2100 segundos (35 minutos). Note que a redução de PetCO2 se faz em saltos correspondentes às diferentes injeções de coágulos até se atingir um valor de PetCO2 correspondente a mais de 50% da PetCO2 basal. Observe uma ligeira melhora seguida de estabilização da PetCO2 em 22 mmHg mesmo uma hora após o TEP. Figura 1 - Segundo Fletcher e col. (1986), o espaço morto alveolar (Y) é determinado pela diferença entre o volume do espaço morto fisiológico (Z+Y) e o volume do espaço morto anatômico previamente determinado pelo método de Fowler (Z). INTERVENÇÃO NO GRUPO CH Observe-se que o gradiente P(a-et)CO2 = PaCO2 - PetCO2 aumenta com o aumento do espaço morto alveolar. INTERVENÇÃO NO GRUPO TEP Após a estabilização de seis animais com peso de 24,00 ± 0,6 kg e o registro das variáveis do período basal (Pré) foi realizada a injeção dos coágulos em veia jugular direita. Os coágulos foram previamente preparados removendo-se 200 mL de sangue pelo cateter da veia jugular uma hora antes do início da embolização. Ao sangue, colocado em cuba estéril, foram adicionadas 100 UI de trombina bovina liofilizada diluída em 2 mL de água destilada. Após um período de 45 minutos de estagnação do sangue, o coágulo foi fragmentado em um processador manual para se obter um conjunto uniforme de trombos com aproximadamente 3 mm de diâmetro. Estes trombos foram filtrados e suspensos em solução fisiológica e colocados em uma seringa de bico largo que permitia sua conexão à extremidade proximal de uma sonda retal 14F inserida na veia jugular esquerda do animal. Os coágulos foram injetados em pequenos volumes até que se atingisse uma PAPM de duas a duas vezes e meia a pressão de artéria pulmonar registrada no período basal do animal. A quantidade de coá- 8 Após a instrumentação e a estabilização de seis animais com peso de 23,25 ± 0,71 kg foram registrados os dados hemodinâmicos de mecânica respiratória e capnografia assim como a coleta de sangue arterial e venoso para gasometria, hemo-oximetria e lactimetria (período Pré). A retirada de sangue em até 30 minutos reduziu a PAM para 30 mmHg, sendo mantida neste nível, com pequenas retiradas de sangue, de acordo com a resposta fisiológica do animal. Foram realizadas análises sucessivas de lactato pelo Accusport, até que se obtivesse um nível de lactato superior a 10 mM/L. Um novo registro (Pós) das variáveis hemodinâmicas, respiratórias e nova coleta de amostras de sangue arterial e venoso, foi realizado após ter se atingido uma redução da PetCO2 ≥ 50% do valor basal. Figura 3 – Exemplo representativo da capnografia contínua em um animal submetido a choque hemorrágico. Note que a redução da PetCO2 de 40 para 12 mmHg ocorre em 1800 segundos (28 minutos). Note que a redução de PetCO2 se faz de forma contínua correspondentes à retirada de sangue do animal até se atingir um valor de PetCO2 correspondente a mais de 50% da PetCO2 basal. Observe a melhora e normalização da PetCO2 com a reposição volêmica seguida de retransfusão do sangue. RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL DESTAQUE PRÊMIO RATTON 2004 AVALIAÇÃO ESTATÍSTICA A comparação entre os dados do mesmo animal foi feita com o teste-t pareado e a comparação entre diferentes animais com o teste t não pareado. A distribuição normal foi feita com o teste de Kolmogorav –Smirnov. Na correção do erro alfa foi utilizado o método de Cross and Chaffin para erro. São apresentados os valores das variáveis coletadas nos períodos Pré e Pós do Grupo TEP (Tabela 1) e do Grupo CH (Tabela 2). A comparação pelo teste-t entre os valores Pré e os valores Pós assumiu um valor crítico para p = 0,01 de acordo com a correção de Cross e Chaffin16. Na tabela 3 são apresentados os valores médios e os desvios-padrão das variáveis coletadas no período Pós nos Grupos TEP e CH. A comparação pelo teste-t entre os valores dos Grupos TEP e CH assumiu um valor crítico para p = 0,0166 de acordo com a correção de Cross e Chaffin16. O teste de Kolmogorov-Smirnov para variáveis contínuas foi utilizado para testar a distribuição das amostras. A pre- sença de normalidade de distribuição dos dados das diferentes variáveis foi confirmada pelo teste, o que permitiu utilizar testes paramétricos. As diferenças individuais das variáveis entre o tempo basal (Pré) e o tempo pós-intervenção (Pós) foram comparadas pelo teste-t para dados pareados. A correção do erro alfa foi feita segundo o método descrito por Cross e Chaffin16. Neste caso o nível de significância considerado foi de 0,01, de acordo com a correção de Cross e Chaffin16. As diferenças significativas são apresentadas nas tabelas 1 e 2. A comparação dos valores basais (Pré) entre as duas intervenções (CHOQUE e TEP) revelou não haver diferença estatisticamente significante entre os grupos. A comparação dos valores absolutos das variáveis após a intervenção entre os dois grupos (CHOQUE e TEP) também foi realizada pelo teste-t. O nível de significância considerado neste teste foi de 0,0166 de acordo com a correção de Cross e Chaffin16. As diferenças significativas são apresentadas na tabela 3. RESULTADOS Tabela 1 - Comparação pelo Teste-t entre os Valores Pré e Pós do Grupo TEP para cada Variável. De acordo com a correção de Cross e Chaffin16, o valor de p crítico é de 0,01. Variáveis PaCO2 PaO2 PetCO2 V’CO2 Saturação arterial Saturação venosa P(a-et)CO2 P(v-a)CO2 PvO2 PvCO2 DC PAM Lactato BE FR VD alv ml/ciclo VT min (L) VD an min (L) VD alv min (L) AVDSf Pré 44,9 ± 4,4 73,5 ± 40,3 36,7 ± 1,5 208,3 ± 30,3 93,2 ± 3,1 75,9 ± 6,4 8,2 ± 3,6 7,4 ± 4,1 45,0 ± 6,0 52,3 ± 2,9 4,9 ± 0,99 78,5 ± 7,1 2,4 ± 0,6 4,6 ± 1,7 47,7 ± 9,6 20,1 ± 6,7 6,6 ± 1,3 2,5±0,6 0,9±0,3 0,18±0,06 Grupo Tromboembolismo Pulmonar Pós 48,2 ± 5,5 40,3 ± 4,6 12,8 ± 2,1 228,1 ± 53,2 68,2 ± 4,6 29,3 ± 3,6 35,5 ± 5,2 14,3 ± 4,9 23,5 ± 4,3 62,5 ± 5,9 2,7 ± 1,0 65,8 ± 12,8 5,7 ± 1,8 -0,3 ± 3,2 53,7 ± 9,6 162,8 ± 26,7 16,4 ± 3,3 4,6 ± 1,3 8,7 ± 1,8 0,74 ± 0,04 Valor de p 0,308 p < 0,01 p < 0,01 0,39304 p < 0,01 p < 0,01 p < 0,01 p < 0,01 p < 0,01 p < 0,01 0,048 0,147 p < 0,01 p < 0,01 0,3586 p < 0,01 p < 0,01 p < 0,01 p < 0,01 p < 0,01 SIGN b a a b a a a a a a b b a a b a a a a a (a) diferença estatisticamente significativa ao nível de 0,01. (b) diferença estatisticamente não significativa. Tabela 2 - Comparação pelo Teste-t entre os Valores Pré e os Valores Pós do Grupo CH para cada variável. De acordo com a correção de Cross e Chaffin16, o valor de p crítico é de 0,01. Variáveis PaCO2 PaO2 PetCO2 V’CO2 Saturação arterial Saturação venosa P(a-et)CO2 P(v-a)CO2 PvO2 PvCO2 DC PAM Lactato BE FR VD alv ml/ciclo VT min (L) VD an min (L) VD alv min (L) AVDSf Pré 44,4 ± 2,4 73,3 ± 7,3 35,4 ± 2,3 201,1 ± 52,6 94,9 ± 1,9 83,3 ± 1,5 9,1 ± 2,9 8,1 ± 1,8 49,0 ± 3,1 52,6 ± 2,7 4,8 ± 0,5 80,5 ± 3,5 1,4 ± 0,4 8,4 ± 1,4 37,7 ± 8,2 28,8 ± 8,6 6,3 ± 1,5 2,2 ± 0,6 1,1 ± 0,4 0,20 ± 0,06 Grupo Choque Hemorrágico Pós 19,0 ± 3,4 100,8 ± 4,5 13,8 ± 3,0 114,3 ± 14,9 98,3 ± 0,5 21,7 ± 6,8 5,1 ± 1,4 39,8 ± 3,6 20,2 ± 5,5 58,7 ± 6,2 0,6 ± 0,2 27,7 ± 1,7 10,3 ± 0,5 -8,6 ± 1,3 36,7 ± 6,9 56,8 ± 19,0 8,8 ± 2,0 2,6 ± 0,6 2,1 ± 0,9 0,27 ± 0,06 Valor de p p < 0,01 p < 0,01 p < 0,01 0,0118 p < 0,01 p < 0,01 0,0326 p < 0,01 p < 0,01 0,09 p < 0,01 p < 0,01 p < 0,01 p < 0,01 0,72 0,0198 0,02175 0,091 0,0288 0,097 SIGN a a a b a a b a a b a a a a b b b b b b (a) diferença estatisticamente significativa ao nível de 0,01. (b) diferença estatisticamente não significativa. Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 9 RBTI / ARTIGO ORIGINAL DESTAQUE PRÊMIO RATTON 2004 Tabela 3 - Comparação pelo Teste-t dos Valores Pós entre os Grupos TEP e CH para cada Variável. De acordo com a correção de Cross e Chaffin16, o valor de p crítico é de 0,0166. Variáveis PaCO2 PaO2 PetCO2 V’CO2 Saturação arterial Saturação venosa P(a-et)CO2 P(v-a)CO2 PvO2 PvCO2 DC PAM Lactato BE fR VD alv ml/ciclo VT min (L) VD an min (L) VD alv mim (L) AVDSf Variáveis do Grupo TEP e do Grupo CH no Período PÓS Grupo TEP Grupo CH n=6 n=6 48,22 ± 5,97 18,95±3,38 40,33 ± 4,63 100,83±4,45 12,77 ± 2,06 13,81±3,01 228,13 ± 53,24 114,30±14,87 68,15 ± 4,56 98,3±0,54 29,33 ± 3,58 21,72±6,76 35,45 ± 5,23 5,14±1,35 14,3 ± 4,91 39,75±3,64 23,5 ± 4,32 20,17±5,49 62,52 ± 5,88 58,7±6,20 2,73 ± 0,95 0,64±0,17 65,83 ± 12,78 27,67±1,67 5,67 ± 1,76 10,33±0,49 -0,27 ± 3,17 -8,62±1,32 53,67 ± 9,63 36,67±6,86 162,77 ± 26,67 56,79±18,95 16,42 ± 3,30 8,78±1,95 4,60 ± 1,33 2,61±0,61 8,68 ± 1,78 2,09±0,87 0,74 ± 0,04 0,27±0,06 Valor de p Significância p < 0,01 p < 0,01 0,50 p < 0,01 p < 0,01 0,034 p < 0,01 p < 0,01 0,27 0,29 p < 0,01 p < 0,01 p < 0,01 p < 0,01 p < 0,01 p < 0,01 p < 0,01 p < 0,01 p < 0,01 p < 0,01 * * NS * * NS * * NS NS * * * * * * * * * * (*) diferença estatisticamente significativa ao nível de 0,0166. (NS) diferença estatisticamente não significativa. Figura 4 - Comportamento da PetCO2 nos Grupos TEP e CH Figura 6 - Comportamento da P(a-et)CO2 no Grupo TEP NS Diferença não significativa entre os dois grupos no mesmo tempo (a) Diferença significativa entre o tempo Pré e o tempo Pós Figura 5 - Comportamento da P(a-et)CO2 no Grupo CH Figura 7- Comportamento da P(a-et)CO2 nos Grupos TEP e CH NS Diferença não significativa entre os dois grupos no mesmo tempo * Diferença significativa entre os dois grupos no mesmo tempo (a) diferença significativa entre o tempo Pré e o tempo Pós (b) diferença não significativa entre o tempo Pré e o tempo Pós 10 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL DESTAQUE PRÊMIO RATTON 2004 Figura 8 - Espaço Morto Alveolar (VD alv min (L)) nos Grupos TEP e CH NS Diferença não significativa entre os dois grupos no mesmo tempo * Diferença significativa entre os dois grupos no mesmo tempo (a) diferença significativa entre o tempo Pré e o tempo Pós (b) diferença não significativa entre o tempo Pré e o tempo Pós Figura 9 - Variação da AVDSf nos Grupos TEP e CH NS Diferença não significativa entre os dois grupos no mesmo tempo. * Diferença significativa entre os dois grupos no mesmo tempo. (a) diferença significativa entre o tempo Pré e o tempo Pós. (b) diferença não significativa entre o tempo Pré e o tempo Pós. DISCUSSÃO Neste trabalho ambos os protocolos experimentais incluíram a ventilação espontânea e anestesia leve com baixa concentração de halotano (0,5%) nebulizado em ar atmosférico. Este modelo foi selecionado com o objetivo de permitir ao animal uma resposta fisiológica de seu volume-minuto respiratório à indução da embolia pulmonar e ao choque hemorrágico. A ventilação mecânica nesse modelo, seguramente, determinaria diferentes variáveis fisiológicas pouco expressivas da realidade na emergência clínica. Em ambos os modelos, após ter sido atingida a meta previamente proposta (diminuição da PetCO2 ≥ 50% do valor basal) foi realizado um novo registro (Pós) das variáveis hemodinâmicas, respiratórias, assim como foi realizada a coleta de amostras de sangue arterial e venoso para gasometria, hemo-oximetria e lactimetria. Em ambas as intervenções houve significativa e semelhante redução da PetCO2 (Figura 4). Dados semelhantes foram relatados por Courtney e col.17 os quais submeteram ratos em ventilação mecânica à embolia pulmonar por microesferas e ao choque hemorrágico por sangramento controlado. Estes autores relataram Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 que no TEP a PetCO2 diminuiu de 34,5 ± 0,9 para 18,3 ± 1,9, enquanto que no choque hemorrágico diminuiu de 32,7 ± 0,8 para 24,3 ± 1,3. No presente trabalho, a PetCO2 passou de 36,68 ± 1,54 para 12,77 ± 2,06 no grupo TEP e 35,35 ± 2,25 para 13,81 ± 3,01 mmHg no grupo CH. Os valores mais baixos observados neste trabalho justificam-se pelos critérios mais rígidos nos presentes modelos experimentais. Assim, neste trabalho, o TEP foi induzido e guiado pela pressão em artéria pulmonar e não pela pressão arterial sistêmica. No grupo CH a redução inicial da PAM foi para o nível de 30 mmHg e não para patamares de 40 a 50 mmHg como no estudo de Courtney e col.17. Redução tão importante da PetCO2 pode ocorrer por dois mecanismos. O primeiro seria resultante da hiperventilação alveolar e o segundo por dificuldade de excreção de CO2. A excreção de CO2 pelos pulmões (V’CO2E) depende de vários fatores: 1. Produção de CO2 pelos tecidos (V’CO2 ti); 2. Fluxo pulmonar determinando o nível de PACO2 (pressão parcial de gás carbônico no ar alveolar) e, conseqüentemente, da PetCO2; 3. Aumento do espaço morto alveolar. Na realidade, no grupo CH a redução da PetCO2 ocorreu por um conjunto de fatores, tais como, o aumento da ventilação alveolar (induzida pela acidose láctica), redução do fluxo pulmonar e diminuição da V’CO2 ti. A hiperventilação é comumente observada em pacientes em franca acidose metabólica, como na acidose diabética e nos estados de choque. Por isso, poderia ser argumentado que a hiperventilação nesses dois grupos de animais seria simplesmente um estado induzido pela inerente acidose metabólica associada a esses modelos experimentais. De fato, os níveis de lactato arterial passaram de 1,4 ± 0,4 mM/L para 10,3 ± 0,5 mM/L no grupo CH e, no grupo TEP passaram de 2,4 ± 0,6 mM/L para 5,7 ± 1,8 mM/L (Tabelas 1 e 2). Dada a acidose láctica demonstrada em ambos os grupos como expressão de metabolismo anaeróbico, é plausível que uma menor produção de CO2ti seja responsável por menor excreção de CO2. Entretanto, este fato só é observado no grupo CH, quando a V’CO2 passa de 201,1 ± 52,6 para 114,3 ± 14,9 mL/min ao contrário do grupo TEP, quando a V’CO2 passa de 208,3 ± 30,3 para 228,1 ± 53,2 mL/min (Tabelas 1 e 2). Isto significa que uma anaerobiose significativa só ocorre no estado de hipoperfusão induzido pelo choque hemorrágico. No grupo TEP a falta de redução da V’CO2 na vigência de PetCO2 muito baixa é explicada pelo significativo aumento do volume minuto neste grupo. A redução do fluxo pulmonar seria uma outra causa para a redução da PetCO2. Esta redução só ocorre de forma efetiva no grupo CH quando o DC passa de 4,8 ± 0,5 para 0,6 ± 0,2 L/min ao contrário do grupo TEP quando o DC passa de 4,9 ± 1,0 para 2,7 ± 1,0 L/min. Sabe-se que, em não havendo distúrbios distributivos da ventilação e da perfusão pulmonar, a hiperventilação alveolar mantém uma relação inversa com os níveis da PaCO2. E também que, em não havendo distúrbios pulmonares que interfiram com a excreção de CO2, a PetCO2 11 RBTI / ARTIGO ORIGINAL DESTAQUE PRÊMIO RATTON 2004 guarda correlação direta com a PaCO2. Nestas condições, não seriam esperadas grandes alterações no gradiente artério-alveolar (P(a-et)CO2). Isto é o que, de fato, se observa no grupo CH (Figura 5). Pode-se inferir que a acentuada redução da PetCO2 no grupo CH está diretamente relacionada à redução da PaCO2. Entretanto, a redução da PaCO2 não é diagnóstica dos estados de hipoperfusão como alertado por Weil e col.18 que, inclusive, afirmaram que a gasometria arterial não é um bom indicador dos estados de choque. Contrariamente, a PaCO2 no grupo TEP teve um pequeno aumento (de 44,9 ± 4,4 para 48,2 ± 6 mmHg) ao mesmo tempo em que a PetCO2 passou de 36,7 ± 1,5 para 12,8 ± 2,1 mmHg (Figura 6). Quando comparada com a gasometria arterial Pré, o grupo TEP desenvolve hipercarbia arterial. Por isso, a P(aet)CO2 (Figura 7) que antes das intervenções era inferior a 10 mmHg em ambos os grupos, no grupo CH, diminuiu para 5,1±1,4 mmHg, ao passo que no grupo TEP aumentou significativamente, para 35,5 ± 5,2 mmHg. Este significativo aumento da P(a-et)CO2 no grupo TEP só pode ser atribuído ao aumento do espaço morto alveolar. Pela capnografia volumétrica foi possível medir esse espaço (VD alv (ml/ciclo)) em ambos os grupos. O que efetivamente variou com as intervenções realizadas foi o volume de espaço morto alveolar, que passou em cada ciclo respiratório, de 20,1 ± 6,7 mL/ciclo para 162,8 ± 26,7 ml/ciclo no grupo TEP e de 28,8 ± 8,6 mL/ciclo para 56,8 ± 19,0 ml/ciclo no grupo CH (Tabelas 1 e 2). Esta variação fica muito amplificada no grupo TEP quando é analisado o volume do espaço morto alveolar por minuto (VDalv/min (L)) (de 0,9 ± 0,3 para 8,7 ± 1,8) face a um maior aumento da freqüência respiratória neste grupo, quando passou de 47,7 ± 9,4 para 53,7 ± 9,6 ciclos por minuto. O grupo CH também apresentou aumento do VD alv/min (L) (de 1,1 ± 0,4 para 2,1 ± 0,9 L/min) porém, muito menor que no grupo TEP e não significativo (Figura 8). Este aumento do espaço morto alveolar no TEP tem sido repetidamente demonstrado. Recentemente, relatos da literatura sugerem que a medida do espaço morto alveolar, ou qualquer outra variável a ele associada, pode ser utilizada na exclusão diagnóstica de TEP no cenário clínico12,19. Assim, a P(a-et)CO2, a AVDSf (fração de espaço morto alveolar end-tidal)15 e a fDlate (fração tardia do espaço morto alveolar)11,12,20 têm-se mostrado variáveis que atingem sensibilidade e especificidade muito aceitáveis para se afastar o diagnóstico de TEP, principalmente quando associados a um outro exame, também não-invasivo, como o D-Dímero12,15,19,20. Na realidade, a PetCO2, isoladamente, não tem sensibilidade e especificidade suficientes para ser utilizada na prática clínica, para o diagnóstico de TEP, mesmo porque, nesse trabalho, a PetCO2 atinge níveis muito baixos, tanto no grupo TEP como no grupo CH. Em estudos clínicos e experimentais tem sido demonstrada uma relação entre a PetCO2 e o DC6. Em estados de baixo fluxo sangüíneo, uma PetCO2 baixa refletiria um fluxo sangüíneo pulmonar inadequado para a excreção de 12 CO217. Em casos de parada cardiocirculatória, a PetCO2 chega próximo a zero21 e, na reversão do quadro a PetCO2 aumenta paralelamente ao fluxo sangüíneo pulmonar22. Gerst e col.23, em 1958, foram pioneiros em relatar o aumento do espaço morto fisiológico em cães sob ventilação mecânica e submetidos ao choque hemorrágico. Há mais de vinte anos, Fortune e col.25, em estudo experimental em cães, também sob ventilação mecânica, registraram um aumento de 160% no espaço morto fisiológico – calculado pela equação de Bohr - durante a hipotensão induzida por sangramento. Após a reinfusão de sangue, o espaço morto fisiológico retornou aos valores basais. A PaCO2 oscilou entre 32 e 37 mmHg, por um volume corrente e uma freqüência respiratória mantidos fixos até o final do experimento. Em estudo experimental em ovelhas, também sob ventilação mecânica, submetidas a sangramento progressivo, Ornato e col.6, comprovaram a correlação entre a PetCO2 e o DC. Estes autores observaram que em estados de baixo fluxo a PetCO2 é baixa porque uma reduzida quantidade de CO2 é aportada aos capilares pulmonares pelo sangue venoso. Nestas condições alguns dos vasos pulmonares não são totalmente perfundidos ou estão colapsados, levando a um aumento do espaço morto alveolar. O CO2 que se difunde pelas membranas alvéolo-capilares de áreas bem perfundidas seria diluído na árvore tráqueo-brônquica oriundo de áreas mal perfundidas de onde pouco, ou nenhum CO2 é excretado. No trabalho de Ornato e col.6 a redução da PetCO2 não pode ser creditada à hiperventilação visto que a PaCO2 aqui também foi deliberadamente mantida fixa em 36 mmHg pelo ajuste da ventilação mecânica. Estes dados confirmam os achados originais de Gerst e col.23, atribuindo o aumento do gradiente artério-alveolar a um aumento do espaço morto alveolar. Da mesma forma, recentemente, Dubin e col.24, em cães, também submetidos à ventilação mecânica com volume corrente fixo confirmaram um aumento do gradiente artério-alveolar de 3 ± 1 para 11 ± 4 mmHg. Contrariamente, no presente trabalho, a P(a-et)CO2 apresentou uma redução de 9,1 ± 2,9 mmHg para 5,1 ± 1,4 mmHg no grupo CH. É necessário ressaltar que nos modelos descritos por outros autores, os animais estavam sob ventilação mecânica. Segundo Gerst e col.23 o aumento da P(a-et)CO2 é a expressão do aumento do espaço morto fisiológico atribuído à associação de uma reduzida pressão na circulação pulmonar e ao aumento da pressão extramural induzida pela pressão positiva da ventilação mecânica. Isto levaria a colapsos vasculares heterogêneos, cujo comportamento fisiológico seria semelhante ao do TEP. Como já descrito no presente trabalho, o modelo empregado não incluiu a ventilação mecânica. Presume-se que a hiperventilação espontânea dos animais tenha gerado elevados volumes correntes e uma pressão sub-atmosférica intrapleural mais negativa, reduzindo a pressão extramural nos vasos pulmonares. Por isso, contrariamente aos trabalhos anteriormente citados, a P(a-et)CO2 não aumentou no choque hemorrágico. Embora no choque hemorrágico o aumento do espaço morto alveolar tenha sido atribuído por Gerst e col.23 à associação do choque com a ventilação mecânica, nenhuma comparação desta relação causal fora antes relatada. Neste trabalho não foi observado, nem aumento do RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL DESTAQUE PRÊMIO RATTON 2004 gradiente artério-alveolar, nem aumento do espaço morto alveolar, sugerindo que não há colapso vascular pulmonar no choque hemorrágico em ventilação espontânea. Originalmente descrita por Nunn e Hill26 e, mais recentemente, aplicada por Rodger e col.15, a AVDSf (fração do espaço morto alveolar end-tidal), é uma variável confiável e de fácil obtenção na UTI ou na sala de Emergência. De acordo com Hardman e Aitkenhead27, este método pode ser útil quando usado corretamente para quantificar o espaço morto alveolar. Esta variável pode ser utilizada dispondo-se apenas de um simples capnômetro comumente utilizado em Centro Cirúrgico, e de uma gasometria arterial, os quais permitem o cálculo desta variável, de acordo como a equação a seguir. AVDSf = P(a-et)CO2 PaCO2 Neste trabalho, a AVDSf foi calculada em ambos os grupos e os resultados foram altamente significativos (Figura 9). Estes resultados serviriam como base para estudos clínicos do espaço morto alveolar para identificar a embolia pulmonar maciça em pacientes com instabilidade cardiorrespiratória não esclarecida. CONCLUSÕES 1. Em ambos os modelos experimentais, realizados em respiração espontânea (grupo TEP e grupo CH), ocorre importante redução da PetCO2. 2. No Grupo CH, a redução da PetCO2 ocorre por um conjunto de fatores, tais como, o aumento da ventilação alveolar (induzida pela acidose láctica), redução do fluxo pulmonar com conseqüente aumento da relação VA’/Q’ e a diminuição da V’CO2. 3. No Grupo TEP o mecanismo primário para a redução da PetCO2 é o aumento do espaço morto alveolar. A PaCO2 no TEP aumenta, contrariamente à PaCO2 do Grupo CH que acompanha a redução da PetCO2. 4. Não foi observado o aumento de espaço morto alveolar no choque hemorrágico a despeito de acentuada redução da PetCO2 nestes animais. Este fato é atribuído ao modelo de choque hemorrágico com respiração espontânea. 5. Os parâmetros fisiológicos de fácil obtenção na prática clínica e que podem discriminar estas duas situações de instabilidade cardiorrespiratória são a P(a-et)CO2 e a AVSDf. RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: O aumento do espaço morto alveolar tem sido descrito no tromboembolismo pulmonar (TEP) e no choque hemorrágico (CH). Este trabalho avaliou a hemodinâmica e o intercâmbio gasoso pulmonar em porcos jovens submetidos a modelos experimentais de embolia pulmonar (n = 6) e choque hemorrágico (n = 6). O objetivo foi o de delinear o perfil fisiológico desses dois modelos, visto que ambos cursam com Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 uma importante redução da pressão expiratória final do gás carbônico (PetCO2). MÉTODO: A meta atingida nos dois modelos foi estabelecida como uma redução da PetCO2 = 50% do valor basal após a intervenção. Todos os animais foram submetidos à avaliação hemodinâmica com cateter de termodiluição (Swan-Ganz), avaliação da mecânica respiratória, capnografia volumétrica e avaliação metabólica pela coleta de amostras de sangue arterial e sangue venoso misto para gasometria, hemo-oximetria e lactimetria. Todas as medidas foram registradas em dois tempos. O primeiro tempo (Pré) foi definido como sendo o momento antes da intervenção (embolização ou choque) após a instrumentação dos animais e da estabilização dos parâmetros fisiológicos. O segundo tempo (Pós) ocorreu após ser atingida a meta estabelecida para cada modelo. RESULTADOS: As variáveis coletadas comparadas no período Pré não revelaram diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos. No tempo Pós houve um aumento do espaço morto alveolar significativo somente no grupo TEP. O parâmetro indicativo para esta diferenciação foi o P(a-et)CO2 (gradiente artério-alveolar de gás carbônico) e a AVDSf (fração do espaço morto alveolar end tidal). A AVDSf é uma variável fisiológica facilmente calculada à beira do leito e pode identificar a embolia pulmonar maciça em pacientes com instabilidade cardiorrespiratória não esclarecida. CONCLUSÕES: Foi demonstrado que a hipercarbia venosa ocorre em ambas as intervenções, porém, a diferença entre a PCO2 no sangue venoso misto e a PCO2 no sangue arterial é significativamente maior no grupo CH do que no grupo TEP, com isso, indicando que a hipóxia isquêmica é o fator fundamental na determinação da acidose nestes animais. Unitermos: capnografia, choque hemorrágico, fração do espaço morto alveolar (AVDSf), PetCO2, tromboembolismo pulmonar REFERÊNCIAS 01. Terzi RGG, Araújo S - Monitorização Hemodinâmica em UTI. Volume II – Avançado. São Paulo: Editora Atheneu, 2004. 02. Connors AF Jr, Speroff T, Dawson NV et al - The effectiveness of right heart catheterization in the initial care of critically ill patients. JAMA, 1996;276:889-897. 03. Schallom L, Ahrens T - Hemodynamic applications of capnography. J Cardiovasc Nurs, 2001;15:56-70. 04. Gravenstein JS, Paulus DA, Hayes TJ - Clinical Indications, em: Gravenstein JS, Paulus DA Hayes TJ - Capnography in Clinical Pratice. 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RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL A Manutenção do Suporte a Vida em Unidades de Tratamento Intensivo do Sul do Brasil: Os Resultados de um Questionário Ético* Forgoing Life Support in Intensive Care Units of South Brazil: The Results of an Ethical Questionnaire Thiago Lisboa1, Gilberto Friedman2 SUMMARY BACKGROUND AND OBJECTIVES: To determine current views of Brazilian intensive care physicians regarding end-life decisions. METHODS: A questionnaire was sent to several intensive care units (ICU) in south Brazil by electronic mail. All answers to the questionnaires were anonymous. RESULTS: Hundred questionnaires were sent and a total of 72 completed questionnaires were analyzed. Seventy nine percent of the respondents were male. All respondents applied DNR orders. Ninety seven percent of the physicians withhold treatment from patients with no hope of a meaningful life, but only 85 percent withdrawal treatment. Seventy six percent of respondents involved staff, patients, and family in end-life decisions. CONCLUSIONS: Limitation of life support is commonly used and ICU physicians accept the evolvement of the patient or family in critical decisions. Key Words: do-not-resuscitate orders; ethics; futile care; withdrawing; withholding; euthanasia. A moderna Medicina Intensiva permite ao médico intensivista ter a habilidade de prolongar o tempo de vida ou de encurtar e até determinar o momento da morte de um paciente gravemente doente. Geralmente, a pressão de familiares ou pessoas próximas torna mais fácil manter “artificialmente a vida” do que permitir uma morte natural. O conceito tradicional de que uma vida deva ser preservada a qualquer custo é tão enraizado na sociedade e na Medicina, que muitas vezes atrapalha uma decisão sobre o que seria melhor para o paciente. Os médicos intensivistas, talvez mais que quaisquer outros especialistas, devem saber balancear entre a aceitação da morte ou da vida como o “fazer melhor” para um determinado paciente1. Da mesma forma, os médicos devem saber conciliar o sentimento ético paternalista tradicional com o desejo do paciente ou dos familiares de recusar tratamento2. Contudo, os direitos e a autonomia do paciente são cada vez mais relevantes na tomada de decisão médica até mesmo no Brasil. As implicações econômicas e financeiras destes assuntos éticos repercutem sobremaneira na prática diária. O tratamento fútil de um paciente sem qualquer probabilidade de recuperação pode limitar o tratamento de outros pacientes que se beneficiariam muito mais. Estas decisões são cada vez mais freqüentes e usualmente tão complexas que consultores e comitês de ética são chamados para opinar. Mesmo assim, pelo grau de envolvimento heterogêneo entre os membros da equipe e até entre familiares, as decisões sobre a terminalidade são muito controversas. Questões legais ou mesmo o seu desconhecimento pode confundir ainda mais a situação. Recomendações sistematizadas, visões pessoais e opiniões sobre quando sustar ou retirar suporte e sobre quem deve recair esta responsabilidade estão publicadas em diversos artigos3-11. Contudo, o conhecimento das implicações legais destas atitudes e da autonomia dos pacientes é muito heterogêneo entre os profissionais no Brasil, onde existe pouca informação publicada. Aleluia e col.12 entrevistaram 28 médicos que lidam com pacientes terminais e através de uma avaliação qualitativa observaram que havia grande dificuldade com o “morrer” e apesar de se apresentarem solidários tendiam a se afastar do paciente terminal. Em outro estudo, Moritz e col.13, revisando uma coorte histórica de 155 pacientes que morreram na UTI, observaram que o tratamento foi retirado ou suspenso imediatamente antes em 32% dos óbitos13. Os médicos assistentes entenderam que os esforços eram fúteis em todos estes casos. Em outro estudo, Moritz e col. distribuíram 1000 questionários e observaram que entre os 82 intensivistas respondedores a maioria já havia participado de decisões que envolvessem retirada ou suspensão de tratamento14. A experiência profissional surgiu como o fator que mais facilitava estas atitudes. Assim, desenvolveu-se um questionário, adaptado de outro aplicado entre médicos europeus, para obter informação sobre a prática atual e visões éticas entre várias UTI do Sul brasileiro como parte de uma futura avaliação nacional. O questionário foi dividido em duas seções, uma sobre a caracterização do profissional e a outra com questões de dilemas 1. Serviço de Medicina Intensiva – Hospital de Clínicas de Porto Alegre 2. Departamento de Medicina Interna - FAMED-UFRGS *Este trabalho foi parcialmente apresentado durante o Congresso da Sociedade Européia de Medicina em Cuidados Intensivos, Estocolmo, Suécia, 1998. Apresentado em 07 de março de 2005 - Aceito para publicação em 28 de março de 2005 Endereço para correspondência: Prof. Dr. Gilberto Friedman - Rua Fernandes Vieira 181/601 - 90035-091, Porto Alegre, Brasil - E-mail: [email protected] Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 15 RBTI / ARTIGO ORIGINAL éticos enfrentados pelo intensivistas frente as decisões sobre a terminalidade. MÉTODO Um questionário foi enviado para diretores clínicos de UTI universitárias ou centros formadores que compunham a região sul da AMIB (São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e 100 questionários foram solicitados em 1998. O retorno dos questionários foi responsabilidade dos diretores clínicos das UTI participantes. Os respondedores foram orientados a responder o questionário de forma anônima. A forma do envio das respostas ficou a cargo dos diretores de UTI (correio regular ou eletrônico). Os resultados foram analisados pelo Qui-quadrado, usando o programa SPSS 10.0 (SPSS, Chicago, IL, EUA). Um p < 0,05 foi considerado significativo. RESULTADOS Dos 100 questionários solicitados e distribuídos a médicos dos estados do Rio Grande do Sul (RS), Santa Catarina (SC) e São Paulo (SP), um total de 72 questionários foi respondido (Tabela 1). Nenhuma UTI do Paraná solicitou o envio do questionário. Oitenta e dois porcento das respostas foram do RS, estado de onde se originou o estudo. As características dos respondedores e dos locais de trabalho estão listados na tabela 2. Setenta e nove porcento dos respondedores eram homens e a maioria dos respondedores tinha menos de 40 anos. A maioria dos participantes era de católicos, mas não se considerava religioso. A atuação profissional dos médicos mostrou que 85% praticava Medicina intensiva por pelo menos 25% do tempo e quase a metade tinha 10 anos de prática na especialidade (Tabela 3). Tabela 1 - Número de Questionários Respondidos por Estado. Estado RS SC SP Total Número de questionários 59 (82%) 1 (1,4%) 12 (16,5%) 72 (100%) RS- Rio Grande do Sul; SC- Santa Catarina; SP- São Paulo Tabela 2 – Características dos Respondedores, dos Hospitais e das Unidades de Tratamento Intensivo Idade (anos) Sexo Religião Importância da religião Tamanho do hospital (leitos) Tamanho da UTI (leitos) Proporção de leitos (UTI/Hospital) 16 ≤ 40 >40 Masculino Feminino Católica Outra Sim Não ≤ 250 250-700 >700 ≤ 12 >12 45 (62,5%) 27 (37,5%) 57 (79%) 15 (21%) 58(80%) 14(20%) 28(39%) 44(61%) 6 (8%) 39(54%) 27(38%) 41(57%) 31(43%) 4% Tabela 3 – Características Profissionais dos Respondedores. Tempo dedicado a Medicina Intensiva (%) < 25 25-75 75-100 Intensivista adulto Intensivista pediatra Outro Experiência em UTI(anos) Especialidade primária ≤5 6-10 >10 Medicina Interna Cirurgia Outra 11(15%) 40(56%) 21(29%) 65(90%) 7(10%) 14 (19%) 25 (35%) 33 (46%) 43(59%) 4 (6%) 25(35%) Ordem de não-reanimar: na eventualidade de uma parada cardíaca, ordem de não-reanimar (ONR) já foi aplicada por 100% dos respondedores. Setenta e seis por cento dos médicos respondedores discutem ONR com a família dos pacientes. Não houve diferença significativa na discussão da ONR com a família em relação ao sexo, religião, prática acadêmica/privada ou formação dos respondedores. Retirada/Suspensão: a decisão de não adicionar terapêutica já foi tomada pela maioria dos respondedores (97%). A retirada de terapêutica foi um evento menos comum, com 85% dos respondedores admitindo já tê-la praticado. Apenas 7,5% dos respondedores admitiram já ter acelerado o processo de morte em pacientes terminais. Não houve diferença significativa em relação a retirar ou não adicionar terapêutica em relação ao sexo, religião, tipo de prática ou formação dos respondedores. Trinta e nove por cento dos respondedores consideram não adicionar um tratamento o mesmo que retirar este tratamento, enquanto 53% acham não adicionar um tratamento mais aceitável que retirá-lo. Quando diante de um caso considerado como terminal e irreversível, 46% dos respondedores referiu ficar ”mais embaraçado em retirar do que em não adicionar terapêutica”, enquanto 48% referiram “não ficar embaraçado com nenhuma das duas práticas”. Houve uma tendência a não haver embaraço entre os respondedores com formação em terapia intensiva (RR=0,63, IC 95% 0,391,03, p=0,0507) em relação aos respondedores sem formação específica em terapia intensiva. Não houve diferença em relação à religiosidade, sexo ou tipo de prática. A maioria dos entrevistados considerou importante a natureza e o prognóstico da doença e a qualidade de vida sob o ponto de vista do paciente, mas de pouca ou nenhuma importância pela maioria o valor social do paciente, história prévia de doença psiquiátrica, atitude do médico frente ao caso, moral da enfermagem e uma análise custo-benefício financeiro (Tabela 4). Tomada de decisão: a maioria dos intensivistas entrevistados (75%) acredita que a tomada de decisões deve ser feita baseada em uma combinação que inclui paciente/família/médico assistente/equipe de terapia intensiva. Quatorze por cento referiram ser o médico assistente o único responsável pelas decisões do caso, e apenas 6% consideraram o paciente como o único responsável pela tomada de decisões. Nenhum dos consultados citou o Comitê de Ética da Instituição como foro RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL Tabela 4 – Importância Atribuída a Informações na Tomada de Decisão de não Adicionar/Retirar Terapia Natureza de doença crônica Chance sobrevida a internação Qualidade de vida vista pelo paciente Qualidade de vida vista pelo médico Doença aguda provavelmente irreversível Pressão do paciente ou médico assistente Sua atitude em relação ao caso História prévia de doença psiquiátrica Evoluindo mal na atual hospitalização Paciente alerta Admissões hospitalares prévias Valor social do paciente Idade do paciente Impacto econômico/social na família Moral da enfermagem Análise custo-benefício financeiro Custo para a sociedade Pouca ou Nenhuma Importância 5(7%) 13(19%) 3(4%) 9(13%) 18 43 50 67 39 12 34 71 20 36 55 47 45 adequado para tomada de decisões. Não houve diferença em relação à formação em terapia intensiva, sexo, religiosidade, prática acadêmica ou privada na definição do responsável pela tomada de decisões neste contexto. Exemplo: paciente com 50 anos, do sexo masculino, portador de DPOC e retenção de CO2 por dois anos e crescentes admissões por insuficiência respiratória, necessitando nas últimas duas de intubação traqueal e ventilação mecânica por várias semanas. O paciente apresenta-se com pneumonia e teve uma parada cardíaca. Após uma semana o paciente permaneceu em coma profundo e respirando espontaneamente. Um mês depois, ele permaneceu em estado vegetativo. As respostas foram particularmente influenciadas quando a família expressou o desejo de não limitar esforços terapêuticos (Tabela 5) quando comparadas às respostas dadas quando a família solicitasse a limitação da terapêutica ou quando a família não estivesse presente. DISCUSSÃO Este estudo foi baseado em outro publicado em 1999, que descreveu as diferentes atitudes em assuntos éticos entre mé- Moderada Importância 26(36%) 16(22%) 16(22%) 38(53%) 37 39 22 25 44 32 47 21 68 52 26 47 50 Muita Importância 41(57%) 42(58%) 52(73%) 24(33%) 44 17 27 7 16 55 18 8 11 11 18 5 4 dicos de diferentes países europeus10. Esse estudo utilizou um questionário semelhante para um estudo piloto com o objetivo de descrever atitudes éticas sobre limitação terapêutica entre médicos intensivistas brasileiros. Todos os questionários eram anônimos e, portanto, os resultados deveriam ser um reflexo acurado das atitudes. O questionário não só perguntava sobre a prática atual do médico, mas também sobre a opinião sobre o que deveria ser feito para explorar diferenças nas crenças e atitudes individuais. A ética é conceito subjetivo e assim escapa de uma definição precisa. Entretanto, pode-se dizer que, em geral, a ética é um sistema de princípios morais direcionando a conduta e, particularmente, se refere a escolhas morais que um indivíduo faz quando interage com outros. O intensivista é, freqüentemente, defrontado com dilemas éticos nos quais uma decisão precisa ser tomada entre duas opções ostensivamente negativas, a decisão em continuar o suporte a vida e manter uma vida de qualidade pobre ou retirar terapia com a inevitável morte resultante do paciente. Inúmeros fatores podem influenciar a decisão moral final, incluindo a idade, experiência, treinamento, desejo familiar, percepção da qualidade de vida e os desejos do paciente15,16. O conceito de santificação da vida é firmemente embebido na sociedade e tópicos sobre Tabela 5 – Decisão de não Adicionar ou Retirar Suporte em Exemplo Clínico de acordo com a Vontade da Família Condutas Não iniciar fluidos por via venosa Não iniciar nutrição Não iniciar vasopressor Não conectar ventilador Não reanimar Retirar fluidos por via venosa Retirar nutrição Retirar vasopressor Retirar suporte ventilatório Dar morfina para conforto Push 150 mg morfina Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 Sem família Família insiste para que tudo seja feito Família insiste para que você deixe o paciente morrer agora p 34 (48%) 25 (35%) 57 (80%) 41 (58%) 64 (90%) 24 (33%) 14 (19%) 42 (59%) 21 (29%) 61 (85%) 1 (1%) 13 (18%) 13 (18%) 26 (36%) 22 (31%) 47 (66%) 7 (10%) 6 (8%) 15 (21%) 9 (12%) 54 (76%) 1 (1%) 34 (48%) 32 (45%) 60 (84%) 46 (65%) 65 (91%) 26 (36%) 21 (29%) 47 (66%) 26 (36%) 63 (88%) 2 (3%) <0,05 <0,05 <0,05 <0,05 <0,05 <0,05 <0,05 <0,05 <0,05 <0,05 0,86 17 RBTI / ARTIGO ORIGINAL decisões de fim-de-vida são muito controversos. O poder do médico como o primeiro a decidir é cada vez mais questionado enquanto o direito individual em escolher a continuação ou limitação do sustento à vida é promovido. Contudo, é extremamente comum que, no cenário da UTI, os pacientes não possam expressar suas preferências e desejos e a família, o corpo médico ou outra pessoa próxima precisem agir em nome do paciente3,8,17-19. O custo de um departamento de Medicina intensiva que utiliza 5% a 10% dos leitos pode atingir até 35% do orçamento hospitalar. Além disso, a falta de leitos de UTI é comum. Portanto, é importante racionalizar os serviços de cuidado intensivo20. Neste contexto, as decisões, sobre a manutenção da vida, devem ainda ser mais discutidas. Tentativas em definir o que seria um “paciente fútil” ou o ponto em que um cuidado torna-se fútil têm sido feitas21,22. Em última instância, a prioridade a admissão deve correlacionar com a probabilidade que o cuidado de UTI beneficiará o paciente mais que o “não-cuidado”23. Um dos problemas em definir futilidade é a falta de um meio objetivo de avaliar desfechos, pois nenhum dos escores disponíveis aborda a qualidade de vida ou morbidade. Os sistemas de escore podem eventualmente ajudar quando o paciente já está internado na UTI. Mesmo assim, os escores são limitados para decisões sobre a limitação do suporte a vida na maior parte dos casos20. Assim, tanto a decisão em admitir quanto em limitar o suporte é freqüentemente baseada em um conjunto de informações parcialmente objetivas e até completamente subjetivas. As informações consideradas mais importantes foram, principalmente, fatores relacionados ao prognóstico do paciente, como natureza da doença crônica e probabilidade de sobrevida ao internar. Contudo, uma evolução desfavorável durante a internação foi considerada de importância intermediária. A resposta a esta última pergunta, talvez reflita a dificuldade que os médicos têm em aceitar a falha dos tratamentos instituídos no ambiente de UTI. A visão de qualidade de vida pelo paciente foi considerada mais importante do que sob a ótica do médico. Esta atitude parece crescente entre os intensivistas que também mostraram uma preocupação majoritária com a autonomia e o respeito aos valores do paciente. Neste contexto, o custo não foi considerado importante e a melhor interpretação pode ser que o caro seria gastar com um paciente que não sobrevive. Apesar de o questionário não ter perguntado sobre se a falta de leitos de UTI como uma causa limitante de internações de pacientes criticamente enfermos, sabe-se que este problema é muito significativo na maioria dos hospitais brasileiros. A maioria dos médicos deste estudo trabalha em hospitais com até 5% de leitos hospitalares disponíveis em UTI. Esta proporção por si só é pequena para a maioria dos hospitais, mas é ainda mais insuficiente quando se verifica que quase a totalidade dos médicos deste estudo trabalha em hospitais de referência, terciários e com ensino. A aplicação da ONR varia muito entre os médicos. A maioria dos médicos aplica ONR oralmente ou em planilhas de passagem de plantão. Seria interessante especular o porque que os médicos não ordenam ONR no prontuário. Os médicos estão cada vez mais influenciados pelo litígio potencial e, provavelmente, o medo de ações legais deve influenciar a decisão em evitar a ONR escrita e até em reanimar, apesar 18 de ser uma ONR expressa de outra forma1. Os médicos discutem ONR com os familiares, mas raramente com o paciente. É claro que esta discussão com o paciente criticamente enfermo está muitas vezes inviabilizada pela sua condição ou inconsciência. ONR é muitas vezes obtida ou mesmo decidida tardiamente ao longo da hospitalização na UTI, já quando o paciente está incompetente e os familiares estão sob o estresse de impedir a morte24,25. O estudo SUPPORT (Study to Understand Prognoses and Preferences for Outcomes and Risks of Treatment) mostra que 46% das ONR foram escritas dois dias antes da morte e a duração mediana da hospitalização antes da ONR variou de 22 a 73 dias nos diferentes hospitais participantes24. Ainda que difícil, tentativas de discutir estes assuntos com os pacientes e a família na admissão ou durante o início da hospitalização facilita as decisões de fim-de-vida quando o momento chegar. Neste questionário, 100% dos médicos utilizam ONR, 76% das ONR são discutidas com os familiares/paciente. O uso de ONR geralmente precede as decisões de não acrescentar ou retirar tratamento1,5. As decisões de não acrescentar ou retirar tratamento são questões abertas ao debate ético e a discussão é muito complicada por problemas de definição e terminologia2. Apesar de, em geral, se aceitar que não há diferença legal ou moral entre os dois princípios26,27, uma diferença é percebida na prática, pois poucos médicos retiram tratamentos em comparação aos que limitam tratamentos10,16,25. Vários estudos mostram que os pacientes morrem mais rápido após a retirada e isto deve explicar a diferença na percepção dos médicos1,25. As respostas ao questionário refletem o comportamento verificado nestes estudos, pois a maioria entende que não adicionar um tratamento é mais aceitável que retirá-lo. As decisões de cuidado terminal são feitas apenas pela equipe médica em 18% e o paciente/família é envolvido em 82% restantes, sendo que destes uma combinação paciente/ família/equipe foi apontado como autoridade na tomada de decisão em 75% das respostas. A morte ainda é considerada um tabu pela sociedade e é muito mais fácil discutir este assunto com colegas que com a família ou o paciente. Os resultados do nosso estudo não refletem esta realidade, uma vez que a maioria dos intensivistas entende que uma combinação paciente/família/equipe seria o mais adequado na tomada das decisões. Em nosso meio, a autonomia dos pacientes ainda não é considerada um direito fundamental e mesmo desejos claramente expressos pelos pacientes e familiares não são amplamente aceitos pela comunidade médica. A consulta ética poderia ser um novo elemento a ser incorporado na prática de decisões difíceis. Entretanto, nenhum dos médicos achou que o Comitê de Ética poderia ser o fórum final das decisões. O ensino e o debate ético deste tema deveria ser implementado desde a escola de Medicina e, pelo menos, durante o treinamento do especialista que enfrentará com freqüência cenários que envolvam a terminalidade e esta é uma avaliação feita por profissionais médicos12. O esclarecimento e o debate podem mudar a atitude dos profissionais mesmo em curto prazo tal é a escassez de formação e informação nestes assuntos. Moritz e col. entrevistaram 77 profissionais de Medicina e enfermagem de UTI que manifestaram sua angústia e a necessidade de debate28. Um questionário, baRBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL seado em cinco casos clínicos reais, foi pré-aplicado, e estes foram posteriormente discutidos. As decisões de suspender ou recusar tratamento foram mais bem aceitas após a discussão e o esclarecimento quando o questionário foi pósaplicado. Este estudo apresenta algumas limitações. O questionário foi aplicado apenas a médicos e não foi possível descrever práticas ou atitudes de outros profissionais de UTI. As respostas foram restritas a poucas UTI com características de ensino. Infelizmente, nenhuma UTI do Paraná solicitou o envio do questionário. O número de respondedores percentualmente foi excelente, mas o tamanho da amostra não permitiu descrições mais detalhadas das influências individuais sobre as respostas ou tendências regionais em um país de dimensões continentais como o Brasil. Como exemplo, 80% dos respondedores eram católicos ou eram homens, impedindo estabelecer qualquer padrão das atitudes em relação a outros grupos religiosos ou entre sexos. Além disso, por vezes, a própria forma que a questão é abordada induz a uma determinada resposta. Mais importante ainda que o tamanho da amostra, sempre que um questionário é aplicado, ainda que anônimo, é a confirmação da veracidade destas respostas quando comparadas às atitudes observadas no cenário da UTI. Ainda que com limitações óbvias, a informação obtida neste questionário permite afirmar que a limitação do suporte a vida é comumente praticada. Os médicos enfrentam dilemas éticos constantemente, mas o treinamento em como manusear decisões complexas é pequeno e não é oferecido nas escolas de Medicina ou mesmo fora. Outros artigos como este podem encorajar a discussão destes temas. As entidades médicas de ensino ou profissionais necessitam estabelecer recomendações para ajudar o processo de decisão ético. Um questionário ético com abrangência nacional faz-se ser necessário. RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Determinar visões atuais dos médicos intensivistas em relação a decisões de fimde-vida. MÉTODO: Um questionário foi enviado a diversas unidades de tratamento intensivo (UTI) por correio eletrônico. Todas as respostas aos questionários foram anônimas. RESULTADOS: Cem questionários foram solicitados e um total de 72 questionários completos foi analisado. Setenta e nove por cento dos que responderam eram homens. Cem per cento dos que responderam aplicaram ordens de Não Reanimar. Noventa e sete per cento dos médicos não acrescentam tratamento quando não existe esperança de uma vida com significado, mas apenas 85% retiram tratamento. Setenta e seis por cento dos que responderam envolveram equipe de saúde, pacientes e familiares nas decisões sobre de fim-da-vida. CONCLUSÕES: A limitação do suporte a vida é usada com freqüência e os médicos intensivistas parecem aceitar bem que decisões importantes envolvam o paciente ou a família. Unitermos: cuidado fútil; ética; eutanásia; limitar; ordem de não reanimar, retirar Anexo: QUESTIONÁRIO: ÉTICA EM UTI Por favor responda as questões abaixo: A. 1. Em que estado o Sr(a) trabalha: 1. AC 2. AP 3. AM 4. CE 5. DF 6. ES 7. GO 8. MA 9. MG 10. MS 11. MT 12. PA 13. PB 14. PE 15. PI 16. PR 17.RJ 18.RN 19. RO 20. RR 21. RS 22. SC 23. SE 24. TO 2. O Sr(a) é: 1. Médico 2. Enfermeiro 3. Fisioterapeuta 4. Outro:_______ B. Para Médicos: 3. Estado em que terminou a faculdade: 1. AC 2. AP 3. AM 4. CE 11. MT 12. PA 13. PB 14. PE 21. RS 22. SC 23. SE 24. TO 4. Onde realizou a especialização: 2. AP 3. AM 4. CE 1. AC 11. MT 12. PA 13. PB 14. PE 21. RS 22. SC 23. SE 24. TO 5. Especialidade: 1. Anestesiologia 2. Medicina Interna 5. DF 6. ES 15. PI 16. PR 7. GO 8. MA 9. MG 10. MS 17.RJ 18.RN 19. RO 20. RR 5. DF 6. ES 15. PI 16. PR 7. GO 8. MA 9. MG 10. MS 17.RJ 18.RN 19. RO 20. RR 3. Cirurgia 4. Pediatria 5. Outra:______________ C. Para Todos: 6. Treinamento de Pós-Graduação em Medicina Intensiva: 1. Sim 2. Não 7. Há quantos anos trabalha em terapia intensiva: 1. 0-5 2. 6-10 3. 11-15 4.16-20 Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 5. >21 19 RBTI / ARTIGO ORIGINAL 8. Porcentagem do tempo dedicado à terapia intensiva: 1. 0% 2. 1-25% 3. 26-50% 4. 51-75% 5. 76-100% 9. Sua prática é: 1. Acadêmica 2. Privada 3. Outra:___________ 10. Número de leitos no hospital em que o Sr(a) trabalha: 1. <250 2. 250-400 3. 401-700 4. >700 11. Número de leitos na UTI em que o Sr(a) trabalha: 1. <6 2. 6-8 3. 9-12 4. 13-18 5. >18 12. Tipo de UTI: 1. Geral 2. Cirúrgica 3. Clínica 4. Pediátrica 5.Outra____ 13. O sr(a) é responsável por decisões de não adicionar terapias (“withholding”) e retirar terapia (“withdrawing”) nos pacientes da sua UTI: 1. Sim 22. Não 14. Sua idade: 1. <25 2. 26-30 3. 31-40 4. 41-50 5. 51-60 6. >60 15. Sexo: 1. Masculino 2. Feminino 16. Religião: 1. Católica 2. Protestante 3. Muçulmana 4. Judaica 5.Outra:_______ 17. O Sr(a) se considera religioso: 1. Sim 2. Não II - Questões Gerais Definições: Não Adicionar Terapia (Withholding): é a decisão de não se iniciar ou ampliar uma intervenção de suporte à vida. Isto inclui qualquer paciente que não seja submetido a RCP e/ou a decisão de não se iniciar droga vasopressora se o paciente desenvolver choque ou não se aumentar a dose de vasopressor se o paciente já o estiver recebendo. Retirada de Terapia (Withdrawing): é a decisão de se suspender ativamente alguma intervenção de suporte a vida já presente. Isto inclui a suspensão da ventilação mecânica, drogas vasopressoras, suplemento de oxigênio ou qualquer tratamento ou procedimento enquanto esteja sendo realizado. Manobras de desmame por razões clínicas e fisiológicas não são consideradas retirada de terapia (withdrawing). Aceleração ativa do processo de morte: uma circunstância na qual alguém realiza um ato com a intenção de, especificamente, acelerar o processo de morte. Estão excluídas as ações de não adicionar terapia e retirada de terapia. Exemplos incluem dose excessiva intencional de narcóticos, anestésicos ou cloreto de potássio. 18. Qual dos seguintes melhor descreve seu ponto de vista em relação ao dever do médico intensivista para com o seu paciente quando este estiver impossibilitado de tomar decisões? 1. Preservar a vida sempre, a qualquer custo. 2. Preservar a vida primeiramente, mas avaliar a qualidade de vida. 3. Assegurar a qualidade de vida em primeiro lugar, mas avaliar preservação da vida 4. Sempre assegurar qualidade de vida 5. Outra:____________________________________________________ 19-35. As questões a seguir referem-se ao seguinte enunciado: Que importância o Sr(a) atribui a cada uma das informações seguintes quando da tomada de decisão de não adicionar terapia (withholding) ou retirar terapia (withdrawing) em um paciente: 1. Pouca ou nenhuma importância 2. Moderada importância 3. Muita importância 19. Natureza de doença crônica:___________ 20. Paciente provavelmente não sobreviva a internação:_____ 21. Qualidade de vida vista pelo paciente:_____ 22. Qualidade de vida vista pelo médico:_______ 23. Doença aguda do paciente provavelmente não é reversível:_______ 24. Pressão do paciente ou médico:_______ 25. Sua atitude:_______ 26. História prévia de doença psiquiátrica:_____ 27. Paciente está evoluindo mal na atual hospitalização_______ 28. Paciente alerta:_____ 29. Admissões hospitalares prévias:_____ 30. Valor social do paciente:_____ 31. Idade do paciente:_____ 20 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL 32. Impacto econômico e social na família:_____ 33. Moral da enfermagem:_______ 34. Análise custo-benefício financeiro:_____ 35. Custo para a sociedade:_______ 36. Quem tem autoridade final para decidir sobre não adicionar terapia (“withholding”) e retirada de terapia (withdrawing) em seu paciente na UTI? 2. Família 3. Médico Assistente 4. Intensivista 5.Religioso 1. Paciente 6. Administração do Hospital 7. Justiça 8.Comitê de Ética 9. Combinação dos supracitados 10. Outro:_______________________ 37. Qual das seguintes frases melhor descreve sua opinião: 1. Não adicionar um tratamento é o mesmo que retirar este tratamento 2. Não adicionar um tratamento é mais aceitável que retirar este tratamento. 3. Retirar um tratamento é mais aceitável que não adicionar este tratamento. 4. Outro:_____________________________ 38. Qual das seguintes frases melhor descreve sua opinião: 1. Aceleração do processo de morte é o mesmo que a terapia de suporte a vida. 2. Aceleração do processo de morte é mais aceitável que retirada de terapia de suporte a vida. 3. Retirada de terapia de suporte a vida é mais aceitável que Aceleração do processo de morte 4. Outro:____________________________ 39. Quando frente a um paciente considerado terminal e irreversível: 1. Eu fico igualmente embaraçado em relação a não adicionar terapia e retirada de terapia 2. Eu fico mais embaraçado em não adicionar terapia do que em retirada de terapia 3. Eu fico mais embaraçado em retirar terapia do que em adicionar terapia 4. Eu não fico embaraçado com nenhum dos dois tipos de tratamento 40. Quando frente a um paciente considerado terminal e irreversível: 1. Eu fico igualmente embaraçado em relação a acelerar o processo de morte e retirada de terapia. 2. Eu fico mais embaraçado com aceleração o processo de morte do que com retirada de terapia 3. Eu fico mais embaraçado com retirada de terapia do que com aceleração do processo de morte 4. Eu não fico embaraçado com nenhum dos dois tipos de tratamento 41. Eu já deixei de adicionar terapia em meus pacientes: 1. Sim 2. Não 42. Eu já retirei terapia de meus pacientes: 1. Sim 2. Não 43. Eu já pratiquei Aceleração ativa do processo de morte em meus pacientes: 1. Sim 2. Não 44. Eu utilizo ordens de não reanimação em minha UTI? 1. Sim 2. Não 45. Se ordens de não reanimação são usadas, elas são discutidas com o paciente ou a família? 1. Sim 2. Não 46 - 57. As questões a seguir referem-se ao seguinte caso clínico: Um paciente de 50 anos, masculino, portador de DPOC com hipoxemia e retenção de CO2 por dois anos e crescentes admissões por insuficiência respiratória, necessitando nas últimas duas de intubação e ventilação mecânica por várias semanas. O paciente apresenta-se com pneumonia e teve uma parada cardíaca logo após a admissão. Após uma semana o paciente permanece não respondendo a estímulos e respirando espontaneamente. Um mês depois, ele permanece comatoso, em estado vegetativo. Assumindo que os medicamentos abaixo devem se iniciados ou retirados, o que o sr(a) faria? ( Coloque 1 para SIM e 2 para NÃO): Sem família Não iniciar fluidos Não iniciar nutrição Não iniciar vasopressores Não reconectar ao ventilador Não reanimar se o paciente sofrer uma PCR Retirar fluidos por via venosa Retirar nutrição Retirar vasopressores Retirar suporte ventilatório Parar RCR se iniciada Dar 1-2mg de sulfato de morfina para conforto do paciente/família Dar 150 mg, por via venosa, de sulfato de morfina para encerrar a vida do paciente. Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ ] ] ] ] ] ] ] ] ] ] ] ] Família insiste para que tudo seja feito [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ ] ] ] ] ] ] ] ] ] ] ] ] Família insiste para que você deixe o paciente morrer agora [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ [ ] ] ] ] ] ] ] ] ] ] ] ] 21 RBTI / ARTIGO ORIGINAL REFERÊNCIAS 01. Koch KA, Rodeffer HD, Wears RL - Changing patterns of terminal care management in an intensive care unit. Crit Care Med, 1994;22:233-243. 02. Sprung CL, Eidelman LA - Worldwide similarities and differences in the foregoing of life-sustaining treatments. Intensive Care Med, 1996;22:1003-1005. 03. Withholding and withdrawing life-sustaining therapy. This Official Statement of the American Thoracic Society was adopted by the ATS Board of Directors, March 1991. Am Rev Respir Dis 1991;144:726-731. 04. Meisel A - Legal myths about terminating life support. Arch Intern Med, 1991;151:1497-1502. 05. 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Rev Bras Terap Intens, 2004;16:14-21 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL Cateter Central de Inserção Periférica em Terapia Intensiva de Adultos* Peripherally Inserted Central Catheter in Adult Intensive Care Unity Luiz Carlos Ribeiro Lamblet1, Luciana Reis Guastelli2, Denis Faria Moura Júnior3, Maria Aparecida Yamashita Alves4, Alexandre Carvalho Bittencourt1, Ana Paula Pereira Teixeira1, Elias Knobel5. SUMMARY BACKGROUND AND OBJECTIVES: The use of the vascular catheters is one of the most important and necessary in intensive care therapies. One of these options is the Peripherally Inserted Central Catheter (PICC), that is inserted by habilited nurses in the patients who are in Intensive Care Unity (ICU). To evaluate the use this kind of catheter in one adult ICU in the city of São Paulo, in order to check the indication, insertion, maintenance and complications. METHODS: Prospective and described study realized during one year from March 2003 to March 2004. From one number of 89 evaluations, 40 PICC were inserted. RESULTS: The main indication for the use of PICC was the administration of antibiotics, followed of by the difficult in venous access and the administration of medicaments that act in the vascular system. 85% of the catheters were used in the SemiIntensive Care Unity. The great majority of patients took off the catheter just after the end of the treatment (85%). There were two cases of phlebitis, three cases in the catheter got out from the veins accidentally and one case of obstruction. CONCLUSIONS: The PICC has its importance and application in intensive therapy, being used as one more therapeutic option, with a low range of mechanicals and infectious complications to the patients. It’s necessary an institutional training to have adequate maintenance and manipulation Key Words: Catheterization, central venous; Intensive Care Units; Nursing. O uso de cateter venoso central é de extrema importância no ambiente de terapia intensiva1,2. A sua escolha é determinada pela necessidade de tratamento do paciente. Uma opção pode ser o cateter central de inserção periférica (PICC), que é de poliuretano ou silicone, longo, inserido geralmente na região antecubital com localização final no terço médio da veia cava superior3. Esse tipo de cateter apresenta baixos índices de infecção e de complicações tanto no ato da inserção, como durante a sua manutenção e retirada 4. Pode ser uma opção terapêutica eficaz quando há contra-indicação absoluta ou relativa na utilização de cateteres centrais de punção torácica5. É utilizado para administração de fármacos por via venosa, especialmente medicações irritantes ou vesicantes, infusão de soluções hiperosmolares e hemoderivados, coleta de amostras sangüíneas e medida de pressão venosa central 6. Estudos que avaliam a utilização do PICC em grupos de pacientes críticos e de terapia intensiva demonstram baixas taxas de infecção relacionadas ao seu uso e menor custo, quando comparado a cateter central de curta permanência inserido por punção em jugular ou subclávia7. De acordo com Ryder3, a partir da década de 80, uma nova geração de PICC foi desenvolvida, proporcionando maior segurança, menor trauma à rede venosa do paciente e possibilidade de uso prolongado, podendo ser utilizado por até 180 dias. O PICC tem sido amplamente utilizado em instituições americanas em diversas áreas médicas. Tem aplicação na administração de nutrição parenteral, na área de neonatologia e em unidades oncológicas, onde é garantido acesso confiável, de longa permanência e também com possibilidade de uso ambulatorial para estes pacientes3,4. No Brasil têm sido utilizados em neonatologia, especialmente na terapia intensiva e serviço de oncologia, para administração de quimioterápicos, com poucos trabalhos ainda publicados sobre sua utilização5. Para passagem do cateter é necessária a habilitação do enfermeiro, exigida pelo Conselho Federal de Enfermagem8. Nas instituições onde o uso de PICC é implantado, deve ser elaborada uma estratégia de educação continuada que permite capacitar os profissionais quanto à sua manipulação e manutenção, evitando complicações2. O objetivo deste estudo foi avaliar a utilização do PICC em um Centro de Terapia Intensiva de Adultos (CTI) quanto à sua indicação, inserção, manutenção e complicações. MÉTODO Foi realizado um estudo prospectivo observacional no CTI de um hospital privado terciário da cidade de São Paulo com 400 leitos. O CTI é composto pela Unidade de Terapia 1. Enfermeiro Assistencial do CTI 2. Enfermeira Coordenadora do CTI 3. Enfermeiro Máster do CTI 4. Enfermeira Sênior do CTI 5. Coordenador Médico do CTI. Recebido do Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP Apresentado em 14 de fevereiro de 2005 - Aceito para publicação em 15 de março de 2005 Endereço para correspondência: Luiz Carlos Ribeiro Lamblet - Av. Albert Einstein, 627 - Morumbi – 6º Andar – Bloco A – CTI-A - 05651-901 São Paulo, SP. - Fone: (11) 3747-1500 – Fax: (11) 3746-9411 - E-mal: [email protected]; [email protected] Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 23 RBTI / ARTIGO ORIGINAL Intensiva (UTI) de 28 leitos e unidade semi-intensiva (Semi) de 41 leitos. Esse estudo foi aprovado pela Comissão de Ética da instituição. Após a habilitação de quatro enfermeiros do CTI para a passagem do PICC, foi realizada divulgação com equipe médica e de enfermagem sobre a nova possibilidade terapêutica. A utilização do PICC iniciou-se em março de 2003 e este estudo avalia cateteres utilizados a partir deste período até março de 2004. A indicação do PICC pode ser feita pela equipe médica ou de enfermagem e neste caso, o enfermeiro habilitado avalia as condições do paciente e define pela sua inserção. Foram solicitadas 89 avaliações para a passagem do cateter e 40 cateteres foram inseridos no período. Foi utilizada uma ficha para avaliação e acompanhamento (Anexo 1), onde constavam dados epidemiológicos do paciente, motivo da passagem do cateter, local de inserção, dificuldades na passagem e progressão do cateter, posicionamento final após radiografia, aspecto do local da inserção, tipo e duração do curativo, nome de quem indicou e do insertador, motivo de retirada e presença de infecção ou colonização, agente etiológico e tempo de uso do cateter. Nessa ficha constavam também as possíveis complicações decorrentes da utilização do cateter, como presença de hematoma, sangramento, flebite, disritmia, exteriorização ou quebra do cateter, migração, inflamação, alergia, dor local, infecção, bacteremia e trombose venosa. RESULTADOS O uso de PICC quanto ao sexo, idade, motivo da retirada, unidade de internação no CTI, especialidade, indicação e doença principal estão apresentados no quadro 1. Anexo 1 - Ficha de Vigilância de Utilização do PICC ETIQUETA DE IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE: Nome Prontuário: Data de internação: Data de nascimento: Médico titular: Convênio: Sexo: M F Leito Alergias: Diagnóstico de base: Quem solicitou PICC: Indicação: Antibioticoterapia Drogas vasoativas NPP Acesso periférico difícil Corticosteróide Quimioterapia Dor Hemotransfusão Corticosteróide Quimioterapia Dor Hemotransfusão Outra Qual: Inserção: Data inserção...../...../........Inserido por: Acesso venoso prévio: Sim Degermação: Não Anti-sepsia: Não Não Sim Sim Paramentação: Luvas PVPI degermante PVPI aquoso Máscara Acesso periférico: v. basílica Localização: lado direito Clorexedina alcoólica Avental estéril v. cefálica Campo cirúrgico v.mediana cubital v.axilar Fácil Difícil v. axilar Outra veia lado esquerdo Fácil Difícil Facilidade de progressão: Remoção de fio guia: Retorno de sangue e flush com facilidade: sim Número de tentativas: 1 Clorexedina degermante 2 3 Cateter foi cortado: sim não não Número de cateteres utilizados: 1 2 3 Comprimento total: ...........cm Comprimento interno: .......cm Comprimento externo: .......cm Localização ponta: Jugular Axilar AD VD SC Outra Complicações na punção: Hematoma: Sangramento: Disritmia: Não progrediu: Tentativa sem sucesso: Outras Como paciente tolerou o procedimento: Escala de dor (0 – 10):.......... Educação do paciente: Sim Quebra do cateter: Não Informação escrita à equipe de enfermagem: Sim Não Intercorrências durante o uso do PICC: 1. Flebite; 2. Hematoma; 3. Sangramento; 4. TVP; 5. Disritmias; 6. Hemotórax; 7. Obstrução; 8. Alergia; 9. Quebra; 10. Migração; 11. Bacteremia; 12. Infecção de acesso vascular e 13. Outras Retirada Data retirada...../......./...... Removido por:............. Comprimento PICC:.....cm Motivo: término tratamento Intercorrências Qual: Resultado da cultura de ponta de cateter: Classificação: colonização 24 infecção RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL Quadro 1 - Especialidade, Indicação e Doença Principal Sexo Idade Retirada Local Masculino – 23 (57,5%) Feminino – 17 (42,5%) Média – 60,3 anos Término do tratamento – 34 (85%) Flebite – 2 (5%) Exteriorização – 3 (7,5%) Obstrução – 1 (2,5%) UTI – 6 (15%) Semi – 34 (85%) Casos Clínico – 31 (77,5%) Cirúrgico – 9 (22,5%) Indicações Acesso venoso difícil - 15 Antibioticoterapia - 39 Drogas vasoativas - 5 Quimioterapia - 1 Doenças Acidente vascular encefálico – 6 (15%) Broncopneumonia – 6 (15%) Neoplasia – 4 (10%) Doença pulmonar obstrutiva crônica – 3 (7,5%) Insuficiência renal crônica – 2 (5%) Abscesso cerebral – 2 (5%) Endocardite infecciosa – 2 (5%) Abscesso dentário – 1 (2,5%) Enterectomia – 1 (2,5%) Pós-parada cardíaca – 1 (2,5%) Encefalopatia hepática – 1 (2,5%) Aneurisma de aorta abdominal – 1 (2,5%) Osteomielite – 1 (2,5%) Lombalgia – 1 (2,5%) Encefalite – 1 (2,5%) Esofagectomia – 1 (2,5%) Infecção do trato urinário – 1 (2,5%) Politrauma – 1 (2,5%) De 89 avaliações realizadas foram indicadas 40 inserções do PICC. As 49 contra-indicações, na maioria das vezes, deveu-se ao fato do paciente ter sido avaliado tardiamente, após já ter sofrido inúmeras punções periféricas, não apresentando condições de punção. Em outros casos, havia contra-indicação por doença ou previsão de tempo de uso menor que sete dias. As 40 punções foram realizadas com sucesso. Dos pacientes, 57,5% eram do sexo masculino, com idade média de 60,3 anos. Trinta e quatro pacientes (85%) estavam na semiintensiva e seis pacientes na UTI (15%). As indicações para passagem do cateter foram antibioticoterapia (39), seguidas de dificuldade no acesso venoso (15) e uso de drogas vasoativas (5). Dos 40 cateteres, 31 (77,5%) foram utilizados em pacientes clínicos e 9 cateteres (22,5%) em pacientes cirúrgicos. As doenças clínicas mais freqüentes foram acidente vascular encefálico (15%), broncopneumonia (15%), insuficiência cardíaca congestiva (10%), neoplasia (10%) e doença pulmonar obstrutiva crônica (7,5%). Em 65% dos pacientes a veia eleita para inserção do cateter foi a basílica, seguida da veia cefálica (25%) e mediana cubital (10%). Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 Complicações decorrentes da punção resultaram em sete casos de hematoma local (17,5%) e 10 casos de sangramento (25%). Em geral a progressão do cateter era fácil, sendo que em 10 casos (25%) houve um grau médio de dificuldade para sua progressão, porém não impedindo seu posicionamento. A posição final da ponta do cateter foi veia cava superior (85%), seguida de átrio direito (7,5%), veia axilar (5%) e subclávia (2,5%). Os cateteres posicionados em átrio direito foram tracionados e sua nova posição foi confirmada através de imagem radiológica. Houve um caso de disritmia cardíaca (2,5%), que ocorreu pelo impacto do cateter na parede atrial, corrigido pelo tracionamento do cateter A figura 1 demonstra a distribuição dos cateteres de acordo com a idade dos pacientes. Figura 1 - Uso do PICC pela Idade Os pacientes com idade entre 70 e 79 anos foram os que mais utilizaram o cateter. A média de permanência do cateter foi 17 dias. O grupo de pacientes com idade entre 20 e 59 anos usou o cateter por tempo médio de 20,1 dias e o grupo entre 60 e 99 anos usou por 15,8 dias em média. Três pacientes (7,5%) receberam alta hospitalar e permaneceram com o cateter em cuidados domiciliares, dois (5%) foram a óbito ainda em uso do cateter e 35 (87,5%) tiveram o cateter retirado no hospital. A maioria dos cateteres foi retirado por término do tratamento, correspondendo a 85% dos casos. Houve um caso de obstrução (2,5%), três de exteriorização acidental (7,5%) e dois casos de flebite (5%). A cultura de ponta dos cateteres mostrou ausência de crescimento bacteriano em 80% dos casos. Houve crescimento de bactérias em cinco pontas de cateteres (12,5%) sendo quatro culturas com Staphylococcus coagulase-negativo e uma com Flavobacterium species, todas com menos de 104 unidades formadores de colônia. Não foi instituída nenhuma medida de tratamento para esses pacientes, pois a presença dessas bactérias foi classificada como colonização ou contaminação na retirada do cateter e os pacientes não apresentaram alterações clínicas que justificassem algum tipo de tratamento antibiótico. DISCUSSÃO No período estudado houve dois casos de flebite relacionados ao uso do PICC, entretanto nenhum caso de trombose associada ao seu uso foi confirmada. Um dos pacientes que apresentou flebite já havia apresentado trombose venosa associada ao uso de outros tipos de cateteres. Chemaly e col.9 em uma análise retrospectiva entre 1994 e 1996 relataram a 25 RBTI / ARTIGO ORIGINAL taxa de 2,47% de trombose venosa em pacientes que utilizaram PICC. Através de regressão logística multivariada determinaram como um dos principais fatores de risco para trombose venosa a história de trombose venosa prévia e terapia com antifúngicos. Houve um caso de taquicardia ventricular detectada durante a passagem do cateter, pois o mesmo impactou na parede ventricular, tendo sido tracionado imediatamente com reversão do quadro. Essas complicações podem acontecer durante a passagem e utilização do cateter. Bivins e col.10 relataram dois casos de taquicardia em pacientes adultos relacionados à posição do PICC em câmara cardíaca. Forauer e col.11 documentaram a movimentação do PICC na abdução e adução do membro superior, reafirmando a necessidade de grupos treinados para passagem e posicionamento adequado do cateter, diminuindo os riscos para o paciente. Os casos de exteriorização e obstrução (7,5% e 2,5%) podem ser atribuídos ao fato do cateter ser um instrumento de cuidado recente gerando algumas dúvidas relacionadas à manipulação. Loughran e col.12 realizaram estudo retrospectivo onde analisaram a utilização de 322 PICC para administração de NPP com índice de infecção menor que 1%, ressaltando a importância de pessoal preparado para reduzir as complicações relacionadas à sua manipulação. De acordo com as taxas de vigilância do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar da instituição, no período do estudo, no CTI, usou-se 5116 cateteres venosos centrais de inserção torácica (CVC) /dia, com 32 infecções relacionadas ao uso de CVC, com uma taxa de infecção de 7,4%. Não foi observada mudança nas taxas de infecções relacionadas a uso de cateteres vasculares após o início do uso do PICC, devido ao pouco tempo de implantação do seu uso no CTI e pelo número reduzido de PICC comparado aos CVC no CTI, porém a literatura indica que o uso desse cateter pode contribuir na redução dessas taxas. Estudo realizado por Griffiths e col.13 compararam o uso de PICC e CVC em terapia intensiva e demonstraram maior tempo de uso com menor incidência de flebite para uso do PICC. Dados do NNIS1 compreendendo o período de outubro de 1986 a abril de 1998, apontam taxa de infecção relacionada a cateter (curta permanência) de 5,3 por 1000 cateteres/dia em terapia intensiva. Umas das recomendações desse estudo para diminuir risco de infecção em pacientes adultos e crianças é a utilização de PICC principalmente se a terapia por via venosa tiver duração maior que seis dias. Esta recomendação tem nível de evidência IB, ou seja, tem suporte em estudos de boa qualidade. Outros estudos apontam o uso do PICC como fator de redução de taxas de infecção e complicações para o paciente. Cowl e col.14 compararam a utilização de PICC e CVC para administração de nutrição parenteral prolongada (NPP). As complicações sem necessidade de retirada de cateteres ocorreram em 67% dos CVC e em 46% dos PICC. A taxa de infecção para os dois tipos de cateteres foi semelhante (4,9/1000 pacientes/dia). Loewenthal e col.15 observaram a evolução de complicações em 4349 pacientes/dia com PICC, relatando um caso de sepse relacionada ao PICC. Parkinson e col.16 acompanharam 89 pacientes adultos que utilizaram 106 PICC com uma taxa de infecção de 3,1 por 1000 cateteres/dia. Skiest e col.17 observaram durante um ano o uso de PICC em 97 pacientes 26 com HIV, desses, 18 pacientes foram tratados de infecção por citomegalovírus. Foi observada uma taxa de infecção relacionada ao uso de CVC de 1,3 por 1000 cateteres/dia. Walshe e col.18 avaliaram as complicações do uso do PICC em pacientes adultos e crianças com câncer. Foram utilizados 351 cateteres, sendo que 32,8% foram removidos por complicação mecânica ou infecciosa, com uma taxa de 10,9 complicações por 1000 cateteres/dia. Relataram taxa de infecção relacionada a cateter de 5,4% na ordem de 1,8 por 1000 cateteres/dia, taxa de flebite de 6,6% (2,18 por 1000 cateteres/dia) e taxa de trombose de 3,4% (2,18 por 1000 cateteres/dia). Também demonstraram que a maioria dos casos de flebite ocorreram na primeira semana do uso e os casos de infecção tardiamente. Dois pacientes que utilizaram PICC no período intrahospitalar puderam continuar a terapia venosa no domicílio usando o mesmo cateter, diminuindo o tempo de internação. Major e col.19 realizaram estudo retrospectivo de pacientes com miocardiopatia que aguardavam transplante cardíaco. O uso do PICC apresentou menor custo quando comparado aos cateteres de curta e longa permanência até então utilizados, diminuindo o tempo de permanência do paciente no hospital. Pacientes internados que passaram por fases críticas de cuidados e que estão em recuperação, mas ainda dependem de suporte ventilatório e monitoração constante parecem se beneficiar do uso do PICC, pois geralmente apresentam idade avançada e o PICC diminui os riscos de iatrogenias tanto na sua passagem como durante sua utilização. Como podem ser usados em cuidados domiciliares, contribuem para diminuir o período de internação de pacientes que necessitam de terapia por via venosa. O custo do cateter é um aspecto ainda a ser mais estudado, mas alguns estudos demonstram a sua redução com o uso do cateter. Cardella e col.20 em estudo prospectivo demonstraram diminuição de custos quando o PICC é inserido por enfermeiros. O enfermeiro intensivista assume novo papel através da introdução dessa prática, que se tornou mais uma opção terapêutica para o paciente. Essa nova atividade traz consigo também novas responsabilidades, que englobam desde o preparo técnico do profissional, sua capacidade de avaliação e de tomada de decisões, abordagem do paciente e sua família e a relação do enfermeiro dentro da instituição. É necessário haver um reforço nos treinamentos institucionais quanto ao manuseio e a manutenção do cateter. O enfermeiro necessita realizar avaliação da via venosa e da indicação da terapia por essa via e também o tempo de uso do cateter. Os enfermeiros têm que estar aptos para indicar precocemente o cateter, antes que ocorram várias punções periféricas, impossibilitando a passagem do PICC. CONCLUSÕES Conclui-se que o PICC é útil em UTI, pelos baixos índices de infecção e por garantir um acesso venoso seguro, porém de uso recente, necessitando de treinamento para a equipe de enfermagem, a fim de evitar complicações por manipulação inadequada, sendo mais uma opção terapêutica disponível para os pacientes críticos. RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: O uso de cateteres vasculares é uma necessidade em terapia intensiva. Uma opção é o PICC, inserido por enfermeiros habilitados. O objetivo deste estudo foi avaliar a utilização desse cateter em um CTI de adultos na cidade de São Paulo, quanto a indicação, inserção, manutenção e complicações. MÉTODO: Foi realizado um estudo prospectivo observacional no período de março de 2003 até março de 2004. Das 89 avaliações, 40 PICC foram insertados. RESULTADOS: A principal indicação para uso do PICC foi antibioticoterapia, seguida de dificuldade no acesso venoso e uso de drogas vasoativas. 85% dos cateteres foi utilizado na Semi-Intensiva. A maioria dos pacientes retirou o cateter após o término do tratamento (85%). Houve dois casos de flebite (2,5%), três de exteriorização (7,5%) e um caso de obstrução (2,5%). CONCLUSÕES: O PICC tem aplicação em terapia intensiva, sendo mais uma opção terapêutica, com baixo índice de complicações mecânicas e infecciosas. É necessário treinamento institucional para sua adequada manutenção e manipulação. Unitermos: Cateterização, Enfermagem, Unidade de Terapia Intensiva, venoso central REFERÊNCIAS 01. O’Grady NP, Alexander M, Dellinger EP et al - Guidelines for the prevention of intravascular catheter-related infections. Centers for Disease Control and Prevention. MMWR Recomm Rep. 2002;51(RR-10):1-29. 02. Beghetto M, Victorino J, Teixeira L et al - Fatores de risco para infecção relacionada a cateter venoso central. Rev Bras Ter Intensiva, 2002;14:107-113. 03. Ryder MA - Peripherally inserted central venous catheters. Nurs Clin North Am. 1993;28:937-971. Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 04. Philips LD - Cateteres de Acesso Venoso Central, em: Philips LD - Manual de Terapia Intravenosa. Porto Alegre, 2ª Ed, Artmed, 2001;334-372. 05. 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J Vasc Interv Radiol, 1996;7:5-13. 27 RBTI / ARTIGO ORIGINAL Variações na Mensuração dos Parâmetros de Desmame da Ventilação Mecânica em Hospitais da Cidade de São Paulo* Variations in the Measurement of Weaning Parameters of Mechanical Ventilation in São Paulo Hospitals Michelle Machtura Rodrigues1; Júlio Flávio Fiore Júnior2; Edson Benassule3; Luciana Dias Chiavegato4; Leny Vieira Cavalheiro5, Osvaldo Shigueomi Beppu6. SUMMARY BACKGROUND AND OBJECTIVES: The objective this study is characterize the variability of methods used for obtaining weaning parameters in São Paulo hospitals. METHODS: A research questionnaire was conducted among physiotherapists from 9 hospitals. Fifty-three anonymous physiotherapists answered 32 questions of multiple choices distributed in 4 pages. The answers was tabulated and analyzed through absolute values and percentage. In the recognition of weaning parameters, the respiratory frequency was the only parameter cited in all the answers. RESULTS: Almost all (94%) obtained measurement with the patients breathing under previously adjusted fraction of inspired oxygen with patient connected to the ventilator in pressure support mode (91%). There was certain variability on the level of added pressure support (6 to 12 cmH20). There was wide variation in the time before recording the weaning parameter (<1 to >15 minutes). Measurements of parameters was done either with portable instruments or read from the ventilator display. The maximal inspiratory pressure had wide variation in the duration of airway occlusion (< 1 to 20 seconds), with the most frequent time frame being 2 to 4 seconds. Differences were noted between physiotherapists from the same hospital, as well as between different hospitals. CONCLUSIONS: There is great variation among physiotherapists when obtain weaning parameters. The results of this survey reinforce the need for standardization of all techniques, as well as continuous research about parameters that may better identify a patient’s ability to tolerate the spontaneous breathing. Key Words: mechanical ventilation, weaning. O uso da ventilação mecânica invasiva é responsável por diversas complicações nosocomiais, muitas delas proporcionais à sua duração1. Estas complicações levam a considerável aumento nas taxas de morbidade e mortalidade hospitalar e aumento nos custos de internação2-4. A determinação do momento ideal para a interrupção da ventilação mecânica, apesar das inúmeras publicações sobre o tema nos últimos anos, permanece como um grande desafio para os profissionais de terapia intensiva. Para orientar esta decisão diversos parâmetros foram propostos para distinguir os pacientes aptos a tolerar a respiração de forma espontânea daqueles que necessitam prosseguir sob suporte ventilatório4-6. Para que os parâmetros de desmame sejam aplicáveis clinicamente e capazes de predizer adequadamente sucesso na extubação traqueal é imprescindível que o método de avaliação seja simples e reprodutível7,8, porém, os estudos que descrevem os parâmetros muitas vezes não expõem de forma adequada o método utilizado para sua obtenção ou utilizam instrumentos pouco disponíveis e aplicáveis5,9,10. Sendo assim, é possível prever a existência de uma grande variabilidade nos métodos e critérios utilizados para obtenção dos parâmetros de desmame na prática clínica. A extensão desta variabilidade em hospitais brasileiros é pouco conhecida. O objetivo deste estudo foi caracterizar a variabilidade dos métodos e critérios utilizados por fisioterapeutas respiratórios para obtenção de parâmetros de desmame em hospitais da cidade de São Paulo. MÉTODO Um questionário com 32 questões de múltipla escolha elaborado por Soo Hoo e col.5, traduzido e adaptado para a língua portuguesa, após autorização dos autores originais, foi distribuído entre 116 fisioterapeutas em 16 hospitais da cidade de São Paulo. Os itens questionavam especificamente sobre os métodos e os critérios adotados para obtenção dos parâmetros de desmame da ventilação mecânica, além de aspectos demográficos dos hospitais que participaram do estudo. Aceitava-se mais de uma resposta por item. Após obter autorização formal do responsável pelo de- 1. Fisioterapeuta Graduada pelo Centro Universitário UniFMU. Especializanda em Fisioterapia Respiratória pela UNIFESP/EPM 2. Fisioterapeuta Especialista em Fisioterapia Respiratória pela UNIFESP/EPM. Supervisor do Curso de Especialização em Fisioterapia Respiratória da UNIFESP/EPM. Fisioterapeuta do Hospital Alemão Osvaldo Cruz. 3. Fisioterapeuta Especialista em Fisioterapia Respiratória pela UNIFESP/EPM. Supervisor do Curso de Especialização em Fisioterapia Respiratória da UNIFESP/EPM. Fisioterapeuta do Hospital Israelita Albert Einstein. 4. Doutoranda em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP/EPM. Fisioterapeuta Supervisora do Curso de Especialização em Fisioterapia Respiratória. Docente do Curso de Fisioterapia da Unicid e Unisa. 5. Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP/EPM. Fisioterapeuta Coordenadora do Curso de Especialização em Fisioterapia Respiratória. Fisioterapeuta Master do Hospital Israelita Albert Einstein. 6. Professor Adjunto da Disciplina de Pneumologia da UNIFESP/EPM. Chefe da UTI de Pneumologia do Hospital São Paulo. * Recebido do Centro Universitário UniFMU, Disciplina de Pneumologia. Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP/EPM – SP Apresentado em 18 de outubro de 2004 - Aceito para piblicação em 28 de fevereiro de 2005 Endereço para correspondência: Michelle Machtura Rodrigues - Rua Pedro Inácio de Araújo, 250- -05386-330 São Paulo, SP - Fone: (11) 97362899. 28 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL partamento de Fisioterapia Respiratória, os questionários foram distribuídos aos fisioterapeutas do hospital e respondidos anonimamente. Assim que preenchidos, após aproximadamente duas semanas, os questionários eram retirados pelos responsáveis pelo estudo ou enviados por algum colaborador. Os dados obtidos foram tabulados através do programa Excel (Microsoft; Redmond. WA) e analisados em valores absolutos e percentuais. RESULTADOS De um total de 116 questionários distribuídos em 16 hospitais da cidade de São Paulo, 53 (46%) foram devidamente preenchidos e devolvidos para análise. Nove hospitais participaram da pesquisa, sendo oito hospitais privados e um hospital-escola estadual. Oito hospitais tinham mais de 100 leitos, sendo quatro com mais de 500 leitos. Todos os hospitais tinham mais de 10 leitos na unidade de terapia intensiva (UTI). Segundo os fisioterapeutas, a ventilação mecânica era administrada por médicos de diferentes especialidades. A tabela 1 descreve os profissionais envolvidos no processo de desmame e o tempo de experiência profissional dos fisioterapeutas que responderam ao questionário. A maioria dos fisioterapeutas (63%) relatou obter parâmetros de desmame regularmente, 4% seguindo protocolos específicos de desmame e 79% obedecendo a critérios clínicos. Trinta e nove fisioterapeutas (74%) realizavam avaliação dos parâmetros de desmame mesmo com o paciente inconsciente. Trinta e nove fisioterapeutas (74%) extubavam os pacientes a qualquer hora do dia e 13 (24%) extubavam durante o dia e nunca à noite. Quando questionados sobre a avaliação dos parâmetros de desmame, 33 (62%) responderam que não requeriam uma ordem médica para isso. Os dados referentes aos parâmetros mais comumente Tabela 1 – Descrição dos Profissionais Envolvidos no Processo de Desmame Profissionais Médicos Especialidade Intensivista não especialista (clínico) Intensivista especialista Residentes (em treinamento) Anestesiologista Cirurgião especialista Cirurgião geral Fisioterapeutas Especialidade Especialista em fisioterapia respiratória Sem especialização em fisioterapia respiratória Sem alguma especialização Não responderam Tempo de experiência 1 a 5 anos 6 a 10 anos 11 a 19 anos Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 Nº (%) 36 (68) 25 (47) 08 (15) 06 (11) 04 (08) 03 (06) 47 (89) 02 (04) 02 (04) 02 (04) 26 (49) 23 (43) 04 (08) avaliados são descritos na t abela 2. A freqüência respiratória (FR) foi o único parâmetro citado em todas as respostas. Outros parâmetros comumente citados foram: saturação arterial de oxigênio (SaO2) (92%), volume corrente (VC) (89%), freqüência cardíaca (FC), volume-minuto (Ve) e relação entre a pressão parcial de oxigênio no sangue arterial e fração inspirada de oxigênio (PaO2/FiO2) (77% cada). A pressão inspiratória máxima (PImáx) foi citada por menos da metade dos respondedores (49%) e apenas duas respostas (4%) citaram a capacidade vital (CV). Dezoito fisioterapeutas (34%) afirmaram obter parâmetros de desmame mais de 10 vezes por semana. Quanto ao tempo aguardado para a obtenção dos parâmetros após alteração desconexão do paciente da ventilação mecânica ou alteração do modo ventilatório, poucos fisioterapeutas (4%) relataram realizar avaliação imediata (< 1 minuto). A maioria dos respondedores afirmou obter os parâmetros após 6 a 10 minutos (28%) ou após no mínimo 15 minutos (26%). Quanto ao modo ventilatório no qual os parâmetros de desmame são obtidos, a maioria dos respondedores afirmou utilizar o modo pressão de suporte (PS) durante a avaliação (91%). Foi observada uma grande variação no nível de PS utilizada durante a avaliação, entre 6 e 12 cmH2O. A maioria dos fisioterapeutas (94%) não alterou a fração inspirada de Tabela 2 – Parâmetros de Desmame Parâmetros Número de obtenções/ semana 1–4 5–9 >10 Outras respostas Tempo aguardado para registro dos parâmetros (minutos) <1 1–2 3–5 6 – 10 11 – 15 > 15 Variável Modo ventilatório para mensuração CPAP Tubo T PS Parâmetros de desmame avaliados FR SaO2 VC FC PaO2/FiO2 Ve FR/VC TºC PImáx CV Nº (%) 13 (25) 14 (26) 18 (34) 05 (15) 02 (04) 06 (11) 11 (21) 15 (28) 02 (04) 14 (26) 03 (06) 13 (25) 14 (26) 48 (91) 53 (100) 49 (92) 47 (89) 41 (77) 41 (77) 41 (77) 36 (68) 27 (53) 26 (49) 02 (04) CPAP: pressão continua nas vias aéreas; PS: pressão de suporte; FR: freqüência respiratória; SaO2: saturação periférica de oxigênio; VC: volume corrente; FC: freqüência cardíaca; PaO2/FiO2: relação pressão parcial de oxigênio pela fração inspirada de oxigênio; Ve: ventilação-minuto; FR/VC: índice de Tobin; tºC: temperatura corpórea; PImáx pressão inspiratória máxima; CV: capacidade vital. 29 RBTI / ARTIGO ORIGINAL oxigênio utilizada durante a avaliação dos parâmetros. A tabela 3 mostra que os parâmetros FR, VC e Ve foram mais comumente obtidos através do display do ventilador (85%). A avaliação através do ventilômetro portátil foi realizada por apenas 20% dos fisioterapeutas. Tabela 3 – Métodos Utilizados para Avaliação dos Parâmetros de Desmame Métodos FR Display do ventilador Observação direta Ambos Leitura do monitor da UTI VC Display do ventilador Mensuração direta com ventilômetro portátil Ambos Calculado pela razão VM/FR Ve Display do ventilador Mensuração direta com ventilômetro portátil Ambos Nº (%) 45 (85) 25 (47) 17 (32) 08 (15) 46 (87) 08 (15) 06 (11) 10 (19) 46 (87) 13 (25) 06 (11) A tabela 4 apresenta os dados referentes à avaliação da PImáx. Quarenta fisioterapeutas (75%) afirmaram não avaliar rotineiramente este parâmetro. O manovacuômetro é sem dúvida o instrumento mais utilizado para esta avaliação, sendo citado em 89% das respostas. Houve uma grande variação de tempo de oclusão de vias aéreas, mesmo entre fisioterapeutas do mesmo hospital. O tempo de oclusão entre 2 e 10 segundos foi o mais citado (49%). A maioria dos respondedores obtiveram três valores de PImáx (77%) e consideraram o maior valor obtido (62%). Tabela 4 – Avaliação da PImáx Método Avaliação da PImáx Manovacuômetro portátil Monitor de mecânica pulmonar Não avaliam Tempo de oclusão da vias aéreas (segundos) 2–4 5 – 10 11 – 15 16 – 20 > 21 Não responderam Outras respostas Número de mensurações de PImáx Uma Duas Três Outras respostas Valor considerado Único valor obtido Média dos valores obtidos Valor mais alto obtido Não responderam 30 Nº (%) 47 (89) 01 (02) 05 (09) 15 (28) 11 (21) 01 (02) 12 (23) 04 (08) 08 (15) 02 (04) 03 (06) 02 (04) 41 (77) 05 (09) 03 (06) 13 (25) 33 (62) 04 (08) DISCUSSÃO O presente estudo utilizou o questionário proposto por Soo Hoo e col. 5 para caracterizar a variabilidade dos métodos e critérios utilizados na obtenção de parâmetros de desmame em hospitais da cidade de São Paulo. O estudo que descreve originalmente o questionário observou uma grande diversidade nas técnicas de mensuração dos parâmetros entre terapeutas respiratórios em hospitais da cidade de Los Angeles5. Esta diversidade é confirmada entre os fisioterapeutas respiratórios de São Paulo. As diferenças podem ser notadas entre fisioterapeutas de diferentes hospitais, assim como dentro de um mesmo hospital. Apenas o parâmetro FR foi citado por todas as respostas e outros cinco parâmetros foram mencionados por mais de 75% dos fisioterapeutas (FC, VC, Ve, SaO2 e PaO2/FiO2). Curiosamente, o IRRS, derivado da razão FR/VC, foi citado em apenas 68% das respostas, enquanto os parâmetros FR e VC foram isoladamente descritos em 100% e 89% das respostas, respectivamente. Ressaltase que o IRRS é abordado em diversos estudos mostrando melhor uma acurácia preditiva em relação a outros índices7,11-13. Os estudos que descrevem os parâmetros de desmame e seus valores de referência, em sua grande maioria, realizam a avaliação com o paciente respirando espontaneamente através de tubo T 7,11-13, no entanto, o uso de suporte ventilatório durante esta avaliação mostrou-se freqüente na prática clínica. Neste trabalho, a maior parte dos fisioterapeutas (91%) realizou a avaliação dos parâmetros com o paciente conectado à ventilação mecânica no modo PS, com níveis de PS variando entre 6 e 12 cmH 2O. O estudo de El-Khatib e col.14 mostrou que o valor do IRRS é subestimado quando a avaliação é realizada com o paciente conectado ao ventilador mecânico no modo CPAP ajustado em 5 cmH 2O. Lee e col. 15 avaliaram o IRRS com pacientes conectados ao ventilador no modo CPAP ou PS mostrando prejuízo na acurácia preditiva do índice, porém, sem descrever os níveis de pressão positiva utilizados. A principal conseqüência do uso de suporte ventilatório durante a avaliação seria a extubação precoce de pacientes inaptos a sustentar respiração espontânea15. A variação da FiO 2 durante a avaliação dos parâmetros de desmame mostrou alterar os valores encontrados na avaliação do Ve16, porém, não parece gerar influência significativa sobre a avaliação do IRRS14. Yang e col.16 recomendaram a utilização de oxigênio suplementar durante a avaliação dos parâmetros para que a demanda ventilatória na ausência do tubo orotraqueal seja estimada adequadamente, já que a maioria dos pacientes receberá oxigênio suplementar após a extubação. No presente estudo, 94% dos fisioterapeutas mantiveram a FiO2 utilizada durante a ventilação mecânica para a avaliação dos parâmetros. A avaliação dos parâmetros volume-corrente e volume-minuto, nos estudos que as descrevem, é realizada através de ventilômetro portátil e a freqüência respiratória é obtida pela observação direta do número de movimentos da caixa torácica ou do ponteiro do ventilômetro RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL analógico7,11-13. A maioria dos fisioterapeutas, no entanto, afirmou obter estes parâmetros através do display do ventilador. Fato que pode prejudicar a precisão da avaliação pela adição da pressão positiva do aparelho, ou pela leitura incorreta de ventiladores descalibrados. O tempo de intervalo entre a desconexão do paciente da ventilação mecânica, ou mudança do parâmetro ventilatório, e a mensuração dos parâmetros de desmame é outro fator que pode interferir na avaliação. Segundo Krieger e col. 17 pouco tempo após a desconexão da VM o padrão respiratório do paciente pode se deteriorar devido, possivelmente, à baixa resistência muscular ou piora da mecânica respiratória. Quando a avaliação dos parâmetros é realizada logo após a desconexão, esta deterioração não é observada e o paciente pode ser extubado em condições não ideais. Os trabalhos de Chatila e col. 12 e Jacob e col. 11 mostraram que o IRRS apresenta melhor valor preditivo quando avaliado 30 minutos após a desconexão do paciente. O presente estudo mostra que a maioria dos fisioterapeutas realizou a avaliação após um período de 6 a 10 minutos ou após no mínimo 15 minutos. O método de avaliação da PImáx também apresenta grande variabilidade na prática clínica. Apesar de sua baixa especificidade, a PImáx mostra-se importante na detecção de fraqueza da musculatura inspiratória devido a sua excelente sensibilidade, ou seja, os pacientes com baixa PImáx (≤ 15 cmH2O) têm poucas chances de ter sucesso na extubação7. O estudo de Vallverdu e col.18 mostrou que a PImáx é o parâmetro com maior valor preditivo de sucesso no desmame de pacientes com doença neurológica. A aplicação do questionário mostrou que 75% dos fisioterapeutas não avaliaram este parâmetro rotineiramente. Quando a PImáx é avaliada em pacientes intubados são necessários ao menos 20 segundos de oclusão das vias aéreas para que valores máximos sejam obtidos19-22, porém, apenas 23% dos respondedores realizaram oclusão de 16 a 20 segundos e 8% realizaram oclusão por mais de 20 segundos. A maioria dos avaliadores efetuava a mensuração de forma inadequada, com tempo de oclusão entre 2 a 4 segundos, o que pode subestimar o valor da PImáx. A importância da atuação multiprofissional durante o desmame da ventilação mecânica e na determinação do momento ideal para extubação do paciente foi bastante enfatizada na literatura nos últimos anos 3. A utilização de protocolos de desmame guiados por profissionais não médicos mostra reduzir a incidência de complicações nosocomiais, o tempo de ventilação mecânica e o tempo de internação em UTI3,23,24. O presente estudo mostra que apenas cinco fisioterapeutas, de dois hospitais diferentes, afirmam seguir protocolos de desmame. Na maioria da UTI de São Paulo, portanto, o desmame da ventilação mecânica parece ser guiado empiricamente. Poucos parâmetros mostram-se realmente eficazes na capacidade de predizer sucesso na extubação 7,25, porém, ainda assim, são considerados importantes marcadores fisiológicos da habilidade do paciente tolerar respiração espontânea10. Assim como os testes de respiração espontânea, que não foram abordados no questionário utilizado neste estudo, os parâmetros de desmame não têm Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 condições de identificar fatores que possam prejudicar a respiração espontânea após extubação, como a capacidade de eliminação de secreção brônquica, obstrução de vias aéreas superiores e exacerbação de outras co-morbidades1,6. A existência destes fatores destaca a importância da abordagem multiprofissional durante o processo de desmame já que a avaliação clínica criteriosa e a monitorização adequada do paciente são fundamentais para evitar complicações desnecessárias após a extubação e a necessidade de re-intubação. O momento ideal para interrupção da ventilação mecânica deve ser determinado através de consenso entre a equipe médica, de Fisioterapia e de Enfermagem. A utilização dos parâmetros de desmame na prática clínica é valida somente se a avaliação refletir exatamente as condições clínicas e fisiológicas do paciente 5,23. A fidedignidade da avaliação depende do uso de técnicas uniformes, seguindo o método utilizado nos estudos que descrevem originalmente os parâmetros e seus valores de referência12. Pode-se concluir através deste estudo que existe uma grande variabilidade nos métodos e critérios utilizados para obtenção destes parâmetros. Estes resultados reforçam a necessidade de padronização das técnicas e elaboração continua de estudos sobre parâmetros que possam melhor identificar a habilidade do paciente tolerar a respiração espontânea. RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: O objetivo deste estudo é caracterizar a variabilidade de métodos e critérios utilizados para obtenção de parâmetros de desmame em hospitais na cidade de São Paulo. MÉTODO: Um questionário foi conduzido entre fisioterapeutas de nove hospitais. Cinqüenta e três fisioterapeutas responderam anonimamente um questionário de quatro páginas com 32 questões de múltipla escolha. As respostas foram tabuladas para análise em valores absolutos e percentuais. A freqüência respiratória foi o único parâmetro citado em todas as respostas. RESULTADOS: Quase todos os fisioterapeutas (94%) obtêm os parâmetros com os pacientes conectados ao ventilador mecânico no modo pressão suporte (91%) sob fração inspirada de oxigênio ajustada previamente. Foi observada grande variabilidade no nível de pressão suporte utilizado (6 a 12 cmH2O). Houve uma grande variação no tempo aguardado para registro dos parâmetros (< 1 a > 15 minutos). A avaliação é realizada através de instrumentos portáteis ou a leitura realizada através do display do ventilador. A pressão inspiratória máxima teve grande variação na duração da oclusão das vias aéreas (2 a 20 segundos), com a duração mais freqüente entre 2 a 4 segundos. As diferenças podem ser notadas entre fisioterapeutas de diferentes hospitais, assim como dentro de um mesmo hospital. CONCLUSÕES: Existe uma grande variabilidade nos métodos e critérios utilizados para obtenção de parâmetros de desmame entre fisioterapeutas de hospitais na cidade de São Paulo. Os resultados desta pesquisa reforçam a necessidade de padronização das técnicas e elaboração 31 RBTI / ARTIGO ORIGINAL continua de estudos sobre parâmetros que possam melhor identificar a habilidade do paciente em tolerar a respiração espontânea. Unitermos: desmame, ventilação mecânica REFERÊNCIAS 01. II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Associação de Medicina Intensiva Brasileira. J Pneumol 2000;26:2. 02. Afessa B, Hogans L, Murphy R - Predicting 3-day and 7-day outcomes of weaning from mechanical ventilation. Chest, 1999;116:456-461. 03. Ely EW, Meade MO, Haponik EF et al - Mechanical ventilator weaning protocols driven by nonphysician health-care professionals: evidencebased clinical practice guidelines. Chest, 2001;120:(Suppl6):454S-463S. 04. 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SUMMARY BACKGROUND AND OBJECTIVES: To evaluate plasma vasopressin (AVP) levels in patients undergoing cardiopulmonary rd bypass open heart surgery (CPB-OHS) until the 3 post-operative (post-OP) day. ] METHODS: Plasma AVP concentration was measured by radioimmunoassay in 51 non-consecutive adult patients undergoing uncomplicated non-pulsatile CPB-OHS at the following moments: 12 h pre-OP (M-12); 15 min after anaesthetic induction (M0); 5 min post-CPB (M1); 2 h (M2) and 6 h (M6) after ending surgery; and by the morning at the 1st (M24), 2nd (M48) and 3rd (M72) post-OP days. RESULTS: Patients mean age was 47.6 ± 13.9 years (ranging 21 to 73 years), with 30 males and 21 females. The types of surgical procedures were: coronary artery bypass grafting in 16 (31%) patients, valvular heart surgery in 25 (49%) and others in 10 (20%). AVP plasma levels [median ± SD pg/mL; (min – max)] were low and within the normal range at moments M-12 [2.4 ± 1.7 (0.58 – 10.4); control] and M0 [2.0 ± 1.8 (0.125 – 8.7); p = 0.19], showing a dramatic increase just after CPB [M1: 151.3 ± 125.5 (7.1 – 615.0); p < 0.0001], with a slow and progressive fall in the subsequent hours, but remaining over the normal range until the 3rd post-OP day [M72: 3.5 ± 1.7 (0.8 – 8.0); p = 0.0004]. CONCLUSIONS: Plasma AVP levels remain elevated until the 3rd post-operative day in these uncomplicated patients undergoing non-pulsatile CPB-OHS, suggesting that this hormone may play an important role in the maintenance of hemodynamic and/or homeostatic stability in this clinical condition. Key Words: cardiac surgery; cardiopulmonary bypass; vasopressin. A lterações hemodinâmicas importantes podem ocorrer no pós-operatório de cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea (CEC), destacando-se dentre elas um estado de choque circulatório de padrão distributivo (vasodilatatório) como parte de uma resposta decorrente de lesão endotelial e acentuada liberação de mediadores inflamatórios na circulação sangüínea1. Usualmente, o manuseio terapêutico desta situação inclui cuidadosa reposição volêmica e o uso criterioso de aminas vasoativas2-4. No entanto, nos estados hipotensivos, em particular, não é incomum o aparecimento de certa resistência às catecolaminas, além do evidente risco de significativa toxicidade com o uso de altas doses das mesmas3,4. Na busca de melhor entendimento fisiopatológico do choque distributivo pós-CEC, diversos pesquisadores têm investigado o papel da vasopressina (AVP) nessa condição clínica2-4,5. Alguns autores têm relatado uma “deficiência relativa” de AVP naqueles pacientes com choque vasodilatatório no pós-operatório de cirurgia cardíaca com CEC, atribuindo a esse fato um papel importante na fisiopatologia dos distúrbios hemodinâmicos e homeostáticos observados4,6,7. De fato, nessa condição clínica, a administração exógena de AVP tem contribuído para melhor estabilização hemodinâmica, diminuindo a necessidade do uso de aminas vasoativas2-4,8,9. A AVP, ou hormônio antidiurético (HAD), é um neuropeptídeo cuja ação pressórica foi descoberta em 1895 por Oliver e col.10,11. Ela é sintetizada pelos neurônios magnocelulares dos núcleos supra-ópticos e paraventriculares do hipotálamo, sendo transportada para a hipófise posterior (neurohipófise) onde é estocada. Agindo sobre os receptores V1-vasculares causa vasoconstrição e, conseqüentemente, aumento da pressão arterial sistêmica. Agindo sobre os receptores V2-renais regula o balanço do fluido corporal por sua ação anti-diurética10,11. A liberação da AVP na circulação ocorre por estímulos osmóticos (aumento da osmolaridade plasmática) ou como uma resposta barorreflexa à perda volêmica ou hipotensão arterial1014 . Também, o aumento da sua liberação pode ocorrer por outros estímulos como náusea, dor e estresse cirúrgico10-14. Assim, ocorre um aumento expressivo dos níveis plasmáticos de AVP em procedimentos cirúrgicos gerais, especialmente os relacionados à cavidade abdominal, atingindo seu pico no intra-operatório e normalizando-se a partir do 3º dia de pós-operatório15. Em cirurgia cardíaca encontra-se bem documentada a grande elevação dos níveis plasmáticos de AVP que ocorrem no intra-operatório, especialmente durante o período de CEC5,6,16-22. No entanto, a literatura é escassa no que se refere ao comportamento dos níveis plasmáticos de AVP nos dias subseqüentes do pós-operatório de cirurgia cardíaca21, supondo-se que nos casos não complicados a evolução desses níveis deva ser semelhante ao que ocorre em outros tipos de procedimentos cirúrgicos15. O objetivo do presente estudo foi avaliar prospectivamente 1. Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e Disciplina de Cirurgia Cardíaca do Departamento de Cirurgia – Faculdade de Ciências Médicas (FCM) – UNICAMP 2. Laboratório de Fisiologia Endócrina - Departamento de Clínica Médica – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) - Universidade de São Paulo (USP) • Projeto desenvolvido com apoios FAEP-UNICAMP (processo nº 08748/98) e FAPESP (processo nº 99/07848-6). *Recebido da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital das Clínicas – Disciplina de Fisiologia e Metabologia Cirúrgica – Departamento de Cirurgia – Faculdade de Ciências Médicas – UNICAMP, Campinas, SP Apresentado em 03 de março de 2005 - Aceito para publicação em 28 de março de 2005 Endereço para correspondência: Dr. Sebastião Araújo - Rua Padre Almeida – 451/12 - 13.025-251 – Campinas, SP - E.mail: [email protected] Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 33 RBTI / ARTIGO ORIGINAL os níveis plasmáticos de AVP em pacientes de pós-operatório não complicado de cirurgia cardíaca com CEC, nas primeiras 72 horas de evolução. MÉTODO Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), sob protocolo nº 058/98, sendo realizado na Unidade de Terapia Intensiva Adulto do Hospital das Clínicas da mesma universidade. Todos os participantes foram informados sobre o objetivo do estudo e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido antes de sua inclusão no protocolo. Foram avaliados 71 pacientes adultos, não-consecutivos, de ambos os sexos, submetidos à cirurgia cardíaca eletiva com CEC no período de novembro de 1998 a dezembro de 1999. Destes, 51 pacientes completaram integralmente o protocolo e compuseram a população final analisada. Vinte pacientes foram excluídos pelas seguintes razões: quatro apresentaram sangramento importante no PO imediato, necessitando reintervenção cirúrgica; em 10 pacientes não foi possível se obter todas as amostras de sangue nos momentos protocolados para as coletas (por dificuldades técnicas ou recusa dos pacientes) e seis pacientes evoluíram para óbito antes das 72 horas de PO (por falência cardíaca ou por distúrbio de coagulação não controlável). Vinte e nove voluntários sadios, adultos, de ambos os sexos, com idade média de 30,6 anos (variando de 21 a 45 anos), sendo 17 homens e 12 mulheres, foram utilizados como controle para a dosagem dos níveis plasmáticos basais, em repouso, da AVP. Foram excluídos pacientes com idade menor que 18 anos; pacientes com sinais e/ou sintomas clínicos de gravidez; pacientes com sinais e/ou sintomas clínicos pré-operatórios sugestivos de infecção; necessidade de suporte circulatório mecânico no pós-operatório imediato; ICC classe IV (NYHA) no pré-operatório; necessidade de reintervenção cirúrgica no pós-operatório imediato, assim como aqueles que se recusaram a assinar o termo de consentimento livre e esclarecido e aqueles em que não foi possível a coleta de todas as amostras sangüíneas para exames laboratoriais nos momentos protocolados. Todos os pacientes incluídos no estudo foram anestesiados pela mesma equipe médica no período de inclusão no estudo. Os pacientes receberam medicação pré-anestésica com 1/3 (um terço) da dose calculada de midazolam (0,08 a 0,1 mg/kg). A indução anestésica foi realizada com midazolam (0,1 a 0,15 mg/ kg) e sufentanil (1 a 2 µg/kg), utilizando-se vecurônio (0,1 a 0,2 mg/kg) para a curarização. No vaporizador do equipamento de ventilação usou-se o isoflurano (0,5% a 1%) misturado ao oxigênio (O2) e ar comprimido. Durante a cirurgia a ventilação mecânica foi realizada com o ventilador 675 – Takaoka (Brasil), cuja mistura gasosa (O2 em N2O) e o volume foram guiados pela análise freqüente dos gases sangüíneos (Analisador de Gases e Eletrólitos Sangüíneos - Modelo ABL System 725 – Radiometer – Copenhagen - Denmark). Com o paciente em plano anestésico adequado, o acesso ao coração e grandes vasos foi obtido através de esternotomia mediana. A circulação extracorpórea foi realizada com bomba-role- 34 te do tipo DeBakey com quatro módulos (um módulo arterial para a circulação; dois módulos aspiradores para recuperar o sangue do campo operatório e um para realizar cardioplegia). Para a oxigenação sangüínea utilizou-se o oxigenador de membrana (Braile Biomédica). O priming foi preparado com solução de Ringer com lactato (1500 mL), manitol à 20% (250 mL), albumina à 25% (100 mL) e heparina (7.500 UI). O fluxo da bomba foi determinado para 2,4 L/min/m2. A pressão arterial média (PAM) ideal durante a CEC foi mantida em torno de 60 mmHg, com uma resistência vascular sistêmica (RVS) entre 1000 a 1200 din.seg-1.cm–5. Cada paciente recebeu heparina 400 UI/kg (4mg/ kg) para manter um tempo de coagulação ativado (TCA) quatro vezes acima do valor basal do paciente (≈ 500 segundos). O TCA (tempo de coagulação ativado) foi repetido a cada 30 minutos de CEC, com complementação da dose de heparina quando necessária. A hemodiluição foi realizada para manter um hematócrito entre 25% a 28%, com a finalidade de diminuir e/ou evitar a hemólise. A hipotermia foi induzida, mantendo-se a temperatura corporal entre 28 a 32 °C. No reaquecimento foi introduzido o nitroprussiato de sódio para diminuir a RVS, adequando-se a reposição volêmica, quando a PA era satisfatória. No intra-operatório foram monitorizados e/ou anotados as pressões sistólica, média e diastólica, venosa central (PVC), átrio esquerdo (PAE), temperatura, freqüências cardíaca (FC) e respiratória (FR), uso de drogas vasoativas, gasometria arterial, lactato, osmolaridade sérica, hemoglobina, hematócrito, sódio e potássio séricos e AVP. No pós-operatório os pacientes foram imediatamente encaminhados para a UTI, ainda sob plano anestésico, intubados e sob ventilação mecânica. Os cuidados pós-operatórios estiveram sob a responsabilidade da equipe de UTI, sendo conduzido de acordo com o protocolo padronizado para estes casos, não havendo qualquer interferência dos pesquisadores sobre as condutas que foram tomadas. A evolução do desmame ventilatório seguiu os preceitos básicos descritos na literatura23,24. Os parâmetros clínicos, laboratoriais e hemodinâmicos foram anotados no pós-operatório, numa ficha especialmente elaborada para este fim: pressão arterial sistêmica (PA - sistólica, média e diastólica), PVC; FC; FR; parâmetros ventilatórios; temperatura axilar (Tax); fármacos vasoativos (tipo e dose) e sedação por via venosa em infusão contínua. Todos os dados foram registrados nos momentos protocolados para as coletas de amostras sangüíneas para as dosagens de sódio (Na+), potássio (K+), glicemia, uréia, creatinina, hemograma, gasometria arterial, lactato, osmolaridade sérica e AVP. Os momentos de coletas obedeceram aos seguintes períodos: (A) pré-operatório (M-12): -12 h (início da noite que antecedeu a cirurgia); (B) pós-indução anestésica (M0): 15 a 30 minutos após a indução anestésica, logo antes da incisão de pele; (C) pós-CEC (M1): 5 minutos após a saída da CEC; (D) duas horas após o término da cirurgia (M2); (E) seis horas após o término da cirurgia (M6); (F) manhã do 1º dia de pós-operatório (M24); (G) manhã do 2º dia de pós-operatório (M48); e (H) manhã do 3º dia de pós-operatório (M72). Para a determinação da AVP plasmática as amostras sangüíneas foram processadas em centrífuga refrigerada e o plasma foi congelado a -80 ºC. As alíquotas de plasma foram descongeladas e a AVP foi extraída do plasma no mesmo dia, usandose acetona e éter de petróleo, de acordo com a técnica descrita por Moreira25. A concentração de AVP foi determinada por radioimunoensaio (RIA) com o uso de dois anticorpos – anticorRBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL Tabela I - Dados Demográficos, Parâmetros Hemodinâmicos, Hematológicos e Bioquímicos Sangüíneos no Período Pré-Operatório (M-12) dos Pacientes (n = 51; 30 homens e 21 mulheres). Parâmetros Idade (anos) PAS (mmHg) PAM (mmHg) PAD (mmHg) FC (bpm) T (ºC) pH PO2 (mmHg) PCO2 (mmHg) HCO3 (mEq/L) Na+ (mEq/L) K+ (mEq/L) Osm-ser (mOsm/L) Uréia (mg/dL) Creatinina (mg/dL) Hemoglobina (g/dL) Hematócrito (%) Leucócitos (n/mm3) Lactato (mMol/L) Glicemia (mg/dL) Média 47,6 120,9 89,2 73,3 74,8 36,1 7,44 69,1 36,2 24,6 134,8 3,9 274,7 34,0 0,88 13,6 41,4 8062,0 1,53 123,0 DP 13,9 27,6 17,9 15,2 10,7 0,5 0,03 13,4 4,3 2,1 5,2 0,3 12,2 15,2 0,18 1,8 5,6 2541,1 0,52 43,2 EP 1,9 3,9 2,5 2,1 1,5 0,1 0,01 1,9 0,6 0,3 0,7 0,05 1,7 2,1 0,02 0,3 0,8 355,8 0,07 6,0 Mínimo 21 90 67 40 56 34,1 7,38 41,5 25,8 20,8 116 3,1 233 11 0,52 9,0 27,9 3150 0,7 80 Mediana 47 110 83 70 72 36,2 7,44 68,9 36,4 24,5 134 3,9 275 32 0,85 13,6 41,3 8025 1,4 110 Máximo 73 210 150 130 100 37,4 7,55 111,0 45,1 29,9 148 4,7 300 99 1,53 17,6 53,9 19200 3,1 295 DP = desvio padrão da média; EP = erro padrão da média; PAS = pressão arterial sistólica; PAM = pressão arterial média; PAD = pressão arterial diastólica; FC = freqüência cardíaca; T = temperatura corpórea; Osm-ser = osmolaridade sérica po anti-AVP (RAS 8103 - Peninsula Laboratories Inc., USA), anticorpo anti-gamaglobulina de coelho produzido em cabra e hormônio marcado Vasopressin-8-Arginine 125I (NEX – 128 Du Pont, USA). Em cada ensaio foi realizada a correção para a eficiência da extração que em média foi de 83%, variando de 50% a 99%. A dose mínima detectável média do método foi de 0,88 pg/mL com erros intra e entre-ensaios de 5,67% e 19,2%, respectivamente. Figura 1 - Valores da Pressão Arterial (PA) Sistêmica [sistólica (S) e Diastólica (D)] e Freqüência Cardíaca (FC) nos Momentos Protocolados em Pacientes Submetidos à Cirurgia Cardíaca com Circulação Extracorpórea (n = 51). ANÁLISE ESTATÍSTICA Para comparar as medidas de cada variável ao longo do tempo, tomando como controle os resultados obtidos no pré-operatório (M-12), foi utilizada a Análise de Variância (ANOVA) para medidas repetidas. Os dados analisados foram considerados estatisticamente significativos quando se obteve valor de p < 0,05. RESULTADOS Na tabela 1 estão representados os dados demográficos, os parâmetros hematológicos e bioquímicos sangüíneos no período controle (M-12) dos pacientes incluídos no estudo. A idade média dos pacientes foi de 47,6 ± 13,9 anos, variando de 21 a 73 anos, sendo 30 homens e 21 mulheres. Os tipos de cirurgia realizados foram revascularização miocárdica em 16 pacientes (31%), troca valvar em 25 (49%) e outros em 10 pacientes (20%). O tempo médio de CEC foi de 92 ± 26 min, variando de 32 a 144 min, sendo que em 25 pacientes este tempo foi < 90 min e em 26 pacientes > 90 min. Na figura 1 encontra-se representada as evoluções das pressões arteriais (PA) sistólica e diastólica e da freqüência cardíaca (FC) dos pacientes ao longo do estudo. Nota-se que a PA mostrou uma ligeira diminuição em relação aos níveis basais em dois Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 Os valores correspondem à média ± EP *p < 0,001; **p < 0,01 e ***p < 0,05 em relação ao pré-operatório (M-12). momentos: logo após a indução anestésica (M0) e logo após a CEC (M1). A freqüência cardíaca mostrou-se mais elevada no momento M1 (pós-CEC), mantendo-se ligeiramente acima dos níveis basais (pré-OP) até o 3º dia do pós-operatório. O sódio sérico apresentou ligeiras variações no pós-operatório com discreta elevação nas primeiras horas, seguido de diminuição e sempre tendendo aos valores inferiores da normalidade (VN = 135 – 145 mEq/L) (figura 2). A osmolaridade sérica, no entanto, mostrou-se aumentada desde o momento M1 (pósCEC), mantendo-se ligeiramente acima dos valores basais até o 3º PO (M72) (Figura 2). Comportamento semelhante apresentou a glicemia (Figura 2). Os níveis plasmáticos de AVP nos voluntários sadios (n = 29; 35 RBTI / ARTIGO ORIGINAL Figura 2 - Valores da Glicemia, do Sódio Sérico (Na+) e da Osmolaridade Sérica (Osm-ser) nos Momentos Protocolados em Pacientes Submetidos à Cirurgia Cardíaca com Circulação Extracorpórea (n = 51). Os valores correspondem à média ± EP. *p < 0,001; **p < 0,01 e ***p < 0,05 em relação ao pré-operatório (M-12). Figura 3 - Evolução dos Níveis Plasmáticos de Vasopressina (AVP) em Pacientes Submetidos à Cirurgia Cardíaca com Circulação Extracorpórea (n = 51). Os valores correspondem à média ± E.P. *p < 0,001 em relação ao pré-operatório (M-12). Tabela II - Níveis Plasmáticos da Vasopressina (AVP) em Pacientes Submetidos à Cirurgia Cardíaca com Circulação Extracorpórea nos diversos Momentos Protocolados para as Coletas (n = 51). Momentos M-12 (pré-operatório) M0 (15 min pós-anestesia) M1 (5 min pós-CEC) M2 (2 h pós-OP) M6 (6 h pós-OP) M24 (1º dia pós-OP) M48 (2º dia pós-OP) M72 (3º dia pós-OP) Média 2,4 2,0 151,3 133,4 96,0 17,6 6,0 3,5 DP 1,7 1,8 125,5 93,5 73,7 21,2 18,9 1,7 EP 0,2 0,2 17,6 13,1 10,3 3,0 2,6 0,2 Mínimo 0,58 0,125 7,1 11,7 10,0 1,9 0,125 0,8 Mediana 2,1 1,6 125,0 108,3 79,2 10,4 2,7 3,3 Máximo 10,4 8,7 615,0 390,0 390,0 133,3 137,5 8,0 p-valor # Controle 0,1909 < 0,0001 < 0,0001 < 0,0001 < 0,0001 0,1741 0,0004 AVP = arginina vasopressina; DP = desvio padrão da média; EP = erro padrão da média; CEC = circulação extracorpórea. # valor de p em relação ao pré-operatório (M-12). média ± DP) em repouso foi de 2,22 ± 1,15 pg/mL, variando de 0,4 a 5,2 pg/mL. Nos 51 pacientes submetidos à cirurgia cardíaca, os níveis plasmáticos de AVP foram bastante baixos e dentro da faixa de normalidade nos dois primeiros momentos de coleta (M-12 e M0). Um dramático aumento da AVP foi observado no pósoperatório, com um pico máximo logo após a CEC (M1), tendendo à diminuição lenta e progressiva nas horas subseqüentes, porém com valores ainda superiores ao período basal até o terceiro dia de pós-operatório (M72) (Tabela 2 e Figura 3). DISCUSSÃO A circulação extracorpórea com oxigenador de membrana freqüentemente é responsável pela indução de uma variedade de efeitos metabólicos, hematológicos e neurohormonais, geralmente reversíveis, a menos que a CEC tenha sido demasiadamente prolongada. Um efeito comum é a vasoconstrição imediatamente após a CEC, a qual ocasionalmente necessita de administração de vasodilatadores, sendo imputada a elevações temporárias de substâncias vasoativas, incluindo catecolaminas, serotonina e AVP1,4. Em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca com CEC têm sido demonstrados aumentos de mais de seis vezes nos níveis plasmáticos de AVP durante a CEC, e em períodos tão longos como 12 horas após seu término, níveis estes não raramente excedendo a 100 pg/mL26. Entretanto, alguns autores têm documentado casos 36 de deficiência de AVP pós-CEC manifestando-se como diabetes insipidus7,27, enquanto outros têm descrito uma síndrome vasodilatatória com hipotensão arterial que melhora após administração exógena de AVP, mesmo em pequenas doses4,8,9. Recentemente, o interesse no estudo do comportamento da AVP durante o intra e o pós-operatório de procedimentos cardiocirúrgicos foi retomado, após as observações de Argenziano e col.4 de que cerca de 10% de uma população geral de pacientes submetidos à cirurgia cardíaca com CEC apresentaram hipotensão por vasodilatação, que foi mais freqüente naqueles com insuficiência cardíaca prévia, estando aparentemente associada à uma deficiência na secreção de AVP. Também foi demonstrado, pelo mesmo grupo, que a reposição exógena de AVP resultou em melhora do quadro hipotensivo com uma dramática redução nas necessidades do suporte farmacológico com catecolaminas2-4. No presente estudo incluindo 51 pacientes em pós-operatório não complicado de cirurgia cardíaca com CEC, a AVP mantevese elevada até 72 horas de pós-operatório, quando os valores eram superiores ao período basal. Chama a atenção o grande aumento dos níveis plasmáticos de AVP nas primeiras seis horas de pósoperatório, especialmente logo após o final da CEC (momento M1), em que seus níveis documentados foram 63,6 vezes superiores ao valor basal (registrando-se um pico máximo de 615 pg/ mL). Ressalta-se que a pressão arterial (sistólica e diastólica) mostrou seu menor valor neste momento, acompanhada dos maiores valores de freqüência cardíaca, ocasião em que a maioria dos paRBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL cientes esteve em uso de fármacos vasopressores. Possivelmente, essa elevação da AVP plasmática deva ser uma resposta fisiológica essencial e necessária para a manutenção da estabilidade hemodinâmica e metabólica no pós-operatório de CC-CEC, uma vez que tem sido invariavelmente demonstrada, em maior ou menor grau, por diversos outros autores4-6,16-22. Durante os procedimentos cirúrgicos gerais em seres humanos, especialmente aqueles relacionados à cavidade abdominal, a elevação dos níveis plasmáticos de AVP tem sido demonstrada desde a década de 1960, em trabalhos pioneiros de Miltenberger e col.15,28. Esses achados têm sido repetidamente comprovados por outros autores nos mais diversos tipos de cirurgias, tais como colecistectomia29, cistectomia radical30, reconstrução de aorta abdominal31, ressecções pulmonares32, cirurgias de cabeça e pescoço33, cirurgias ortopédicas34, cirurgias de reconstrução crânio-facial35 e cirurgias laparoscópicas para nefrectomia de doador vivo36. A AVP sérica geralmente atinge pico máximo nas primeiras horas de pós-operatório, mais do que durante o procedimento cirúrgico propriamente dito, tendendo a normalizar-se a partir do 3º ou 4º dia PO15,37. A elevação peri-operatória da AVP sérica parece ser multicausal, e inúmeros estímulos estão envolvidos nessa resposta fisiológica habitualmente documentada nos mais diversos tipos de procedimentos cirúrgicos. Dentre esses, podem ser citados hipotensão arterial, desidratação, perda sangüínea, dor, ansiedade, uso de morfina, o tipo de anestesia, tração visceral, etc.15,28. Em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca com CEC (CCCEC), têm sido demonstrados aumentos importantes dos níveis plasmáticos de AVP5,6,16-22. Esta elevação da concentração de AVP tem sido relatada como sendo relativamente pequena após a incisão da pele, mas tornando-se extremamente importante após o início do procedimento cirúrgico, especialmente durante a CEC e nas primeiras horas de PO38,39. Os mecanismos responsáveis pelo aumento da concentração plasmática de AVP durante a CC-CEC ainda não são plenamente conhecidos22. Acredita-se que além dos estímulos já sabidamente conhecidos em procedimentos cirúrgicos gerais, como hipotensão, desidratação, perda sangüínea, dor, ansiedade, uso de morfina, o tipo de anestesia, tração visceral, etc.15,28, durante a CC-CEC a perda do fluxo sangüíneo pulsátil19,40-43, a rápida diminuição da pressão atrial esquerda16, a hemodiluição17, a hipotermia44 e o tipo de agente anestésico utilizado6,21,38,45-51, possam ser fatores adicionais de ativação do sistema barorreflexo, levando aos grandes aumentos dos níveis plasmáticos de AVP documentados nessa condição16. Dentre esses possíveis mecanismos, a hemodiluição17 e a hipotermia44 não parecem revestir-se de importância, mas merecem destaque à utilização ou não de fluxo sangüíneo não pulsátil19,40-43 durante a CEC e o tipo de anestésico utilizado6,21,38,45-51. Em 1977, Philbin e col. publicaram um estudo pioneiro envolvendo nove pacientes submetidos à CC-CEC em que avaliaram o comportamento da AVP em três períodos: 1) controle – após a monitorização cardiocirculatória e pré-indução anestésica; 2) cirurgia – após 30 min da incisão da pele; e 3) durante a CEC – com medidas repetidas a intervalos de 15 min. Os níveis de AVP no controle foram de 4,3 ± 1,5 pg/mL, aumentando para 13 ± 3,3 pg/mL durante a cirurgia (p < 0,05), atingindo o seu pico máximo aos 30 minutos de CEC (23,7 ± 3,6 pg/mL; p < 0,01). Não foram observadas alterações significativas da PAM, índice cardíaco, PVC, osmolaridade sérica ou do sódio sérico em qualquer dos períodos, destacando-se apenas diminuição na osmolaridade urinária para 74% e 62% do valor controle, aos 15 e 30 minutos, Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 respectivamente, durante a CEC. Os autores justificaram tais alterações como uma resposta ao estresse cirúrgico e à aparente “hipovolemia” decorrente da introdução repentina de um estado não fisiológico (a CEC), com perda do fluxo sangüíneo pulsátil e rápido declínio na pressão do átrio esquerdo, resultando numa grande e abrupta liberação de AVP na tentativa de produzir um aumento na resistência vascular periférica sistêmica. De qualquer forma, as concentrações documentadas de AVP sérica excederam de longe àquelas necessárias para as suas ações fisiológicas no controle da excreção de água. O aumento do volume urinário observado no peri-operatório (uma resposta aparentemente paradoxal, levando-se em conta o contexto neuroendócrino presente nesse período, com níveis suprafisiológicos de AVP sérica), foi imputado primariamente às alterações hemodinâmicas. No entanto, esses elevados níveis de AVP poderiam explicar a natureza da hipertensão e da vasoconstrição excessiva muitas vezes observadas no intra e pós-operatório de CC-CEC, necessitando, muitas vezes, da introdução de vasodilatadores potentes para o seu controle16. De acordo com os trabalhos existentes na literatura o uso da CEC com fluxo pulsátil simula uma condição hemodinâmica mais “fisiológica”, ativando de maneira menos intensa o eixo neurohormonal, com menores elevações dos níveis plasmáticos de AVP no peri e pós-operatório de cirurgia cardíaca40,42, embora nem todos sejam concordantes a esse respeito19,41,43. No presente estudo, todos os pacientes foram submetidos à cirurgia cardíaca com CEC não pulsátil, o que talvez, em parte, possa explicar os elevados níveis plasmáticos de AVP documentados. No entanto, como já referido, ainda há controvérsias quanto ao real papel deste fator como mecanismo isolado responsável pela intensa liberação deste hormônio no peri-operatório de CC-CEC19,40-43. Bem recentemente, Velissaris e col.52, num estudo aleatório, avaliaram a liberação de hormônios de estresse (cortisol e vasopressina) em 52 pacientes de baixo risco submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio com CEC (n = 26) e sem CEC (n = 26), documentando um aumento significativo de ambos os hormônios durante as primeiras 24h de pós-operatório em ambos os grupos, sem diferença significativa entre eles. Os autores concluem que apesar de se evitar o uso da CEC, a cirurgia de revascularização do miocárdio desencadeia uma resposta hormonal de estresse comparável àquela observada no procedimento cirúrgico convencional, de tal forma que estudos adicionais se tornam necessários para melhor esclarecimento desse padrão de resposta. Os autores também chamam a atenção para o fato de que esses resultados não podem ser extrapolados para pacientes cirúrgicos de alto risco52. Quanto ao papel dos agentes anestésicos no padrão de resposta hormonal peri-operatória em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca com CEC os dados de literatura ainda são controversos6,21,38,45-51. Apesar dos trabalhos existentes serem poucos, incluindo quase sempre um pequeno número de pacientes, uma análise minuciosa dos mesmos parece indicar que: 1) os agentes opióides diminuem expressivamente, mas não suprimem por completo a liberação de AVP durante a CEC6,21,45-47; 2) dentre esses agentes, o fentanil, o alfentanil e o sufentanil diminuem a resposta neuroendócrina durante a cirurgia cardíaca com CEC, mas os dois últimos, aparentemente, são mais potentes que o primeiro nessa redução, porém com dispersão mais rápida desse efeito46,48,49; e 3) os anestésicos voláteis (halotano, enflurano, isoflurano, etc.) não parecem deprimir a liberação de AVP durante 37 RBTI / ARTIGO ORIGINAL a CC-CEC38,45,51. No presente estudo, os pacientes receberam medicação préanestésica com midazolam e anestesiados com sufentanil, isoflurano e N2O. De acordo com os achados de literatura, nessa combinação de anestésicos há agentes que deprimem a resposta neuroendócrina (sufentanil e N2O), assim como há um agente inalatório (isoflurano) potencialmente não depressor dessa resposta. A indução anestésica (M0), isoladamente, não levou a alterações dos níveis séricos de AVP quando comparados ao período pré-OP (M-12), sugerindo que os agentes anestésicos, por si só, não sejam estimuladores da resposta neuroendócrina. No entanto, de acordo com os dados de literatura, não se pode descartar que o isoflurano, um agente anestésico volátil, possa ter contribuído, ao menos em parte, para a dramática elevação dos níveis de AVP observada no período pós-OP neste estudo51. Por outro lado, as reais implicações fisiológicas dessas modificações na resposta neuroendócrina induzidas pelos diferentes agentes anestésicos, bem como suas influências nas complicações pósOP e evolução global dos pacientes de cirurgia cardíaca, não se encontram definitivamente estabelecidas53,54. O aumento da osmolaridade sérica é um dos fatores classicamente reconhecido como responsável pelo aumento da liberação de AVP10,11. No presente estudo, as alterações observadas quanto ao Na+ e osmolaridade séricos não foram tão significativas. Destaca-se, no entanto, que no momento em que a osmolaridade sérica média atingiu o seu maior valor (301,91 ± 11,17 mOsm/L), o Na+ sérico estava no nível inferior da normalidade (135,2 ± 3 mEq/L) (Figura 2). Nas 24 horas seguintes, os níveis séricos do Na+ tenderam a elevar-se, porém mantendo-se dentro da faixa de normalidade, e a osmolaridade tendeu a diminuir, mas não abaixo dos níveis do período controle, até 72 h de pós-operatório. O pico da osmolaridade sérica correspondeu ao mesmo pico máximo da elevação da AVP, o que pode ter sido um dos fatores de contribuição para a ocorrência de tal fenômeno10,11. Em suma, os níveis séricos de AVP aumentaram de forma intensa e dramática nesse grupo de pacientes submetidos à CCCEC com evolução peri e pós-operatória não complicada. Os picos máximos de liberação foram observados nas primeiras seis horas de pós-operatório, diminuindo progressivamente a partir do 1º dia PO, com tendência à normalização, porém ainda ligeiramente acima dos níveis basais, no 3º dia PO. Muito embora o menor valor de PA média e o maior aumento da osmolaridade sérica tenham sido registrados logo após a CEC (M1: 5 min pósCEC), essas alterações não parecem, por si só, ter sido intensas o suficiente para elicitar tal grau de resposta neuroendócrina. Estes dados estão de acordo com aqueles descritos na literatura, que relatam, quase invariavelmente, um importante aumento da AVP, a níveis suprafisiológicos, no período peri-operatório de cirurgia cardíaca, especialmente durante a CEC e nas primeiras horas de pós-operatório4-6,16-22. Os mecanismos responsáveis por essa expressiva resposta neuroendócrina, que é polihormonal, ainda permanecem inadequadamente estabelecidos52. No entanto, com relação à AVP, tal padrão de resposta parece ser essencial para a manutenção da estabilidade hemodinâmica pós-operatória em CC-CEC, uma vez que é quase invariavelmente observada e descrita nesse tipo de procedimento, em pacientes não complicados. Corroborando esta afirmativa, pesquisas recentes têm demonstrado uma “deficiência relativa” dos níveis séricos de AVP em pacientes complicados com choque vasodilatatório após procedimentos 38 cardiocirúrgicos, quando comparados àqueles que evoluem sem esse tipo de complicação3,4. Contribuindo para o choque vasodilatatório nessa situação, a interleucina 1 (IL1) encontra-se aumentada, assim como o peptídeo natriurético atrial (PNA), e ambos promovem vasodilatação por aumento intracelular da guanosina monofosfato cíclica (GMPc)4. Também, os canais de potássio adenosina trifosfato-ativado do músculo liso vascular são ativados por hipóxia e hipoperfusão (e presumivelmente pela CEC) e esta ativação causa vasodilatação por induzir uma hiperpolarização e inibição dos canais de cálcio3,4. Tanto as catecolaminas como a AVP exercem vasoconstrição por aumento intracelular dos níveis de cálcio no músculo liso vascular. A AVP também inibe a produção de GMPc por inibição do efeito da IL1 e do PNA e impede a ativação dos canais de potássio adenosina trifosfato-ativado no músculo liso vascular3,4. Baseada nessas observações, diversos investigadores têm ensaiado e documentado que a reposição exógena de AVP é de grande beneficio para o controle da hipotensão arterial que acompanha esse tipo de choque, tanto por ação direta nos mecanismos de vasoconstrição como pela restauração da sensibilidade às catecolaminas2-4,8,9. Concluindo, os dados existentes na literatura, incluindo os resultados obtidos no presente trabalho, sugerem fortemente que a AVP tem um importante papel na manutenção da estabilidade hemodinâmica e/ou homeostática no pós-operatório de cirurgia cardíaca com CEC, merecendo estudos mais aprofundados quanto às suas implicações fisiopatológicas, ou mesmo terapêuticas, nesta condição clínica. RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Avaliar os níveis plasmáticos de vasopressina (AVP) em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea (CC-CEC) até o terceiro dia pós-operatório (pós-OP). MÉTODO: A vasopressina foi dosada por radioimunoensaio em amostras sangüíneas colhidas de 51 pacientes adultos, não consecutivos, não complicados, submetidos à CC-CEC não pulsátil, nos seguintes momentos: 12 horas pré-OP (M-12); 15 minutos após a indução anestésica (M0); 5 minutos pós-CEC (M1); 2 horas (M2) e 6 horas (M6) após o término da cirurgia; e nas manhãs do 1º (M24), 2º (M48) e 3º (M72) dia de pós-operatório. RESULTADOS: A idade média dos pacientes foi de 47,6 ± 13,9 anos (21 a 73 anos), sendo 30 homens e 21 mulheres. Os tipos de cirurgias realizadas foram revascularização miocárdica em 16 (31%) pacientes, troca valvar em 25 (49%) e outras em 10 (20%). Os níveis plasmáticos de AVP [média ± DP pg/mL; (min – max)] foram baixos, mas dentro da faixa de normalidade nos momentos M-12 [2,4 ± 1,7 (0,58 - 10,4); controle] e M0 [2,0 ± 1,8 (0,125 – 8,7); p = 0,19], mostrando uma dramática elevação logo após a CEC [M1: 151,3 ± 125,5 (7,1 – 615); p < 0,0001], tendendo posteriormente à diminuição, porém com valores ainda superiores ao período basal até o 3º PO [M72: 3,5 ± 1,7 (0,8 – 8,0); p = 0,0004]. CONCLUSÔES: Em pacientes que evoluem sem complicações, os níveis plasmáticos de AVP mantêm-se elevados até o 3º dia PO após CC-CEC, sugerindo que este hormônio tenha um importante papel na manutenção da estabilidade hemodinâmica e/ou homeostática nesta condição clínica. Unitermos: cirurgia cardíaca; circulação extracorpórea; vasopressina. RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO ORIGINAL AGRADECIMENTOS Agradecemos às equipes de cirurgia cardíaca e anestesia do HC-UNICAMP pelo apoio e colaboração na seleção e inclusão dos pacientes no estudo e nas coletas das amostras sangüíneas no intra-operatório; às equipes de enfermagem da UTI-HCUNICAMP pelo auxílio nas coletas de amostras sangüíneas no pós-operatório; ao Laboratório de Patologia Clínica do HCUNICAMP, especialmente à bióloga Laurione Cândido de Oliveira, pelo apoio técnico no processamento das amostras e realização de exames laboratoriais de rotina; às biólogas Lucimara Bueno e Adriana Rossi do Laboratório de Fisiologia Endócrina da FMRP-USP, pela inestimável colaboração na realização da metodologia de dosagem da vasopressina e ao setor de estatística da Comissão de Pesquisa da FCM-UNICAMP pelo auxílio na análise dos dados; à FAEP-UNICAMP (processo nº 08748/98) e à FAPESP (processo nº 99/07848-6) pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS 01. 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SUMMARY BACKGROUND AND OBJECTIVES: Tracheal stenosis is a rare but serious complication of tracheal intubation and tracheotomy. Its incidence has been increasing in the last twenty years. Diagnosis is sometimes difficult to establish. This objective is to present the causes of tracheal stenosis, diagnosis, treatment and prevention. CONTENTS: Flexible bronchoscopy is often necessary to confirm the diagnosis and may influence treatment. The ideal curative treatment is surgical resection of the stenosis with termino-terminal anastomosis. In patients presenting definitive or transitory contraindications to this treatment there is place for intervetional endoscopy. CONCLUSIONS: Rigid bronchoscopy enables mechanical dilatation of the stenosis which can be associated with laser. In selected cases interventional bronchoscopy can be curative. However in all cases management of such lesions remains multidisciplinary. Key Words: Tracheal intubation; tracheal stenosis; tracheotomy. A traquéia é um importante órgão do corpo humano que provê a insuflação e desinsuflação das vias aéreas através de seu lúmen. As anormalidades da traquéia levam a problemas que são verdadeiros desafios para os médicos, geralmente resultando em obstrução, isto é, traqueoestenose, traqueomalácia ou lesão traqueal vegetante1. A estenose traqueal corresponde usualmente a uma complicação de intubação prolongada, traumática ou lesão traqueal externa2. O aumento progressivo de pacientes submetidos a tratamento ventilatório prolongado através da intubação orotraqueal, nasotraqueal ou tubos de traqueostomia, tem levado a lesões iatrogênicas da laringe e traquéia, em graus variáveis e muitas vezes de difícil solução. A estenose de traquéia é definida quando há uma diminuição do seu lúmen em 10% ou mais, evidenciada por métodos de imagem (planigrafia ou tomografia computadorizada) ou traqueoscopia3. EPIDEMIOLOGIA Na década de 1970, a estenose traqueal pós-intubação apresentava uma incidência de 12% a 20%, diminuindo para 4% a 8% na década de 19803. O tempo de intubação é um indicador importante para estenose. Strong e col.4 encontraram uma incidência de estenose traqueal entre 5% e 6% nos pacientes intubados por mais de oito dias. Os estudos prospectivos mais recentes apresentam uma incidência de estenose traqueal após intubação de 10% a 19%, sendo que estenoses significativas ocorrem em 1% dos pacientes5. ETIOLOGIA A etiologia da estenose traqueal pode ser classificada de acordo com sua fisiopatologia em traumática, infecciosa, inflamatória, neoplásica e iatrogênica6. A causa mais comum de estenose de traquéia em adultos é iatrogênica por lesão após intubação6. As causas menos comuns são6: a) Inflamatórias: granulomatose de Wegener, policondrite, amiloidose, lúpus, etc.; b) Infecciosas :tuberculose, difteria, etc.; c) Neoplásicas: a neoplasia primária mais freqüente é o carcinoma de células escamosas e a secundária é o carcinoma da tireóide; d) Traumáticas : traumatismos mecânicos, lesões por produtos químicos, etc. FISIOPATOLOGIA A fisiopatologia da estenose traqueal envolve diversos fatores, entretanto, a lesão inicial da mucosa (hiperemia e edema) é seguida por um processo inflamatório reparador e, posteriormente, estreitamento cicatricial do lúmen7. Os principais fatores que predispõem à lesão da mucosa respiratória no nível do anel cricóide são: a) Tempo de intubação traqueal; b) Antecedentes de intubação traqueal difícil ou traumática; c) Intubações repetidas; d) Material do tubo; e) Efeito pistão, (caracterizado por uma inadequada fixação da cânula e pelos movimentos espontâneos do paciente); 1. Pós-Graduado do Curso de Pós-Graduação Lato Senso. “Curso de Especialização em Terapia Intensiva para Adultos” do Hospital Israelita Albert Einstein, Centro de Terapia Intensiva Albert Einstein, Instituto de Ensino e Pesquisa Albert Einstein. 2. Coordenador e Professor do “Curso de Especialização em Terapia Intensiva para Adultos” do Hospital Israelita Albert Einstein, Centro de Terapia Intensiva Albert Einstein, Instituto de Ensino e Pesquisa Albert Einstein. 3. Professor do Curso de Pós-Graduação Lato Senso. “Curso de Especialização em Terapia Intensiva para Adultos” do Hospital Israelita Albert Einstein, Centro de Terapia Intensiva Albert Einstein, Instituto de Ensino e Pesquisa Albert Einstein. *Recebido do Hospital Israelita Albert Einstein, Centro de Terapia Intensiva Albert Einstein, Instituto de Ensino e Pesquisa Albert Einstein. Apresentado em 18 de novembro de 2004. - Aceito para publicação em 28 fevereiro de 2005 Endereço para Correspondência: Dr. Antônio Almeida Chagas Filho - Rua Agenor de Lima Franco, 116/72 A - 05537-120 São Paulo, SP - Fones: (11) 3746-9174 – (11) 9112-4551 - E-mail: [email protected] 40 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO DE REVISÃO f) Intubação demasiadamente alta, com a ponta do tubo no terço superior da traquéia; g) Infecção do trato respiratório superior; h) Inadequado manuseio da enfermagem8. A pressão de perfusão capilar da mucosa traqueal (20 a 40 mmHg) é o aspecto crucial para o entendimento fisiopatológico da lesão da mucosa. Toda vez que o tubo traqueal ocasionar pressão na mucosa superior à sua pressão de perfusão capilar (tubo mal posicionado ou balonete do tubo traqueal muito insuflado), necrose isquêmica e ulceração da mucosa poderão ocorrer. As ulcerações na fase seguinte irão confluir, levando a uma necrose estromal profunda e pericondrite após aproximadamente 96 horas. A condrite propiciará a necrose da cartilagem. Quando o processo agressor é removido no estágio de pequena ou moderada erosão, a regeneração da mucosa ocorre normalmente. Entretanto, situações de cicatrização incompleta favorecerão o aparecimento de metaplasia escamosa do epitélio ciliado normal. Ulcerações mais extensas cicatrizam por segunda intenção com formação de granulações e progressivamente de granuloma. Nos casos com lesões extensas há a formação de tecido fibroso que pode evoluir com tecido cicatricial contraído. Esta seqüência é a base fundamental do desenvolvimento da estenose subglótica e estenose posterior da glote7,9. O tubo traqueal oral ou nasal sempre repousa e exerce pressão sobre a região posterior da laringe, local onde se localizam os três maiores sítios de lesão na mucosa7: a) Cartilagem aritenóide (acometida na superfície medial, processo vocal e articulação cricoaritenóidea); Figura 1 – Demonstração dos Locais mais comuns para Ocorrência de Estenose da Traquéia por Lesões dos Tubos Laringotraqueal e de Traqueostomia6. Áreas de formação de estenose por tubos de traqueostomia e laringotraqueais Lesão da corda vocal Lesão cricóide e subglótica Local de traqueostomia (uma forma de estenose) Local de contato da ponta do tubo de traqueostomia com a parede da traquéia Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 QUADRO CLÍNICO Os pacientes com estenose discreta podem evoluir com pneumonia recorrente ou dispnéia progressiva ao exercício, o que pode ser confundido com asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica. O aumento do grau de estenose levará ao aparecimento de chiado ou estridor aos mínimos esforços. O estridor aparecerá quando o lúmen da traquéia for inferior a 5 mm. A cianose é uma manifestação tardia6. A estenose de traquéia é relativamente incomum. Contudo, todo paciente com história de intubação prévia ou traqueostomia nos últimos dois anos e que apresente sintomas pulmonares, deve ser considerado como caso suspeito. A estenose subglótica ou traqueal é sintomática apenas quando ocorre uma redução do lúmen superior a 60%. Habitualmente, os sintomas de obstrução das vias aéreas superiores aparecem após dois meses da extubação, entretanto, isto poderá prolongar-se por até dois anos6,9. DIAGNÓSTICO Paciente com história de sintomas respiratórios e antecedentes de intubação traqueal prolongada são os mais importantes indicadores de estenose traqueal. Diante desse quadro, o médico deve investigar esta hipótese6,10,11. O diagnóstico pode ser confirmado por meio endoscópico (laringoscopia e broncoscopia) e por radiografia simples (radiografia do tórax, radiografia lateral do pescoço e tomografia simples)6. A tomografia linear tem sido recomendada como método de escolha, mas é um exame de imagem muito mais difícil de se conseguir do que a tomografia computadorizada. A fluoroscopia tem sido de grande ajuda para demonstrar malácia e avaliar a função das cordas vocais. A tomografia computadorizada não é muito utilizada para o diagnóstico de estenose de traquéia, exceto em casos de neoplasia. A ressonância nuclear magnética (RNM) pode ser de maior valor por permitir a visualização das lesões de partes moles10,11. TRATAMENTO Segmento de malácia Local do cuff do tubo de traqueostomia (estenose circunferencial) b) Glote posterior (acometida na região interaritenóidea); c) Cartilagem cricóide (acometida na superfície anterior da lâmina posterior). Local do cuff laringotraqueal (estenose circunferencial) Local de contato da ponta do tubo laringotraqueal com a parede da traquéia Medidas profiláticas para evitar seqüelas laringotraqueais à intubação: 1. Tratamento clínico: Caledón e Col3 utilizaram infiltração de acetato de triancinolona na zona da cicatriz cirúrgica e Ruiz-Esquide e col.8 trataram a estenose subglótica com doses elevadas de dexametasona por via venosa. No trabalho de Abo e col.12 foi demonstrado benefício no uso da inalação com dipropionato de beclometasona, tendo sido este tratamento utilizado em situações com contra-indicação cirúrgica. 2. O controle da pressão do balonete três vezes ao dia pode contribuir para prevenir lesões isquêmicas e o desenvolvimento de estenose traqueal. A pressão do balonete de alto volume 41 RBTI / ARTIGO DE REVISÃO e baixa pressão deve permanecer entre 18 e 25 mmHg, para prevenir lesões isquêmicas e conseqüente estenose traqueal13. O trabalho de Granja e col.13 avaliou o desenvolvimento de estenose traqueal após intubação, traqueostomia ou ambas. Foi feito um estudo prospectivo em pacientes submetidos à intubação traqueal durante mais de oito horas e à traqueostomia percutânea. A pressão do balonete foi registrada no momento da intubação e a cada oito horas, tentando deixá-la no máximo em 25 mmHg. Foram estudados 95 pacientes, 58 homens e 37 mulheres, 16 foram submetidos a traqueostomia percutânea, com idade média de 54 anos, APACHE II médio de 16,3 e tempo médio de intubação de 7,3 dias. Os pacientes foram avaliados seis meses após a alta hospitalar através de laringotraqueofibroscopia que demonstrou cicatrizes mínimas sem redução da luz traqueal, as quais estavam presentes apenas nos pacientes submetidos a traqueostomia percutânea e não se visualizou nenhuma alteração nos pacientes submetidos a intubação traqueal. Conclui-se que o controle da pressão do balonete três vezes ao dia parece contribuir para prevenir lesões isquêmicas e o desenvolvimento da estenose traqueal. 3. Cuidados no uso do balonete (balão do tubo traqueal), verificando o grau e o tempo de insuflação e inspeção da luz da traquéia periodicamente para detectar eventuais lesões. É desejável um balonete que faça corpo com o tubo, de baixa pressão e que se insufle simetricamente. Umidificação do oxigênio através do tubo, com cuidados de limpeza e aspiração são medida adicionais importantes13,14. 4. Uso de tubo e material adequado, de preferência confeccionado com cloreto de polivinil (PVC) ou silicone14. 5. Exame laringotraqueal após extubação, laringoscopia indireta microlaringotraqueoscopia: aspiração para limpeza das secreções, falsas membranas, placas necróticas, injeção de corticosteróide em casos de edemas, retirada de pólipos e granulomas, enfim, de todas as lesões hipertróficas ou necróticas14. RECOMENDAÇÕES 1. As traqueostomias devem ser feitas com o máximo de rigor técnico-cirúrgico, sempre abaixo do primeiro anel traqueal, intubando-se previamente os pacientes com insuficiência respiratória grave2,3,8,10,14. 2. É fundamental evitar a intubação prolongada, preferivelmente abaixo de 72 horas, considerando-se o tempo desde o início da doença básica do paciente e a previsão do momento em que se espera o retorno das funções respiratórias normais2,14. 3. Utilizar sempre cânulas com balonete de alto volume e baixa pressão e manter a pressão de insuflação entre 18 e 25 mmHg13. 4. Nos pacientes com abundante secreção traqueobrônquica a aspiração pelas sondas torna-se difícil dando-se preferência à traqueostomia14. TRAQUEOSTOMIA As alternativas de tratamento dependem do estado do paciente e do grau da lesão traqueal, incluindo: 1. Dilatação endoscópica: procedimento em geral desa- 42 Figura 2 – Algoritmo do Tratamento da Estenose Benigna Traqueobrônquica segundo Brichet15. creditado que necessita de numerosas intervenções, mantendo o paciente com traqueostomia por tempo prolongado. Sua maior indicação são lesões pequenas de partes moles. 2. Ressecção da estenose por via endoscópica. 3. Cirurgia aberta: existem diferentes técnicas1,2,5,6,9,15 4. Observação: pode ou não ser acompanhada do uso de traqueostomia. É utilizada em pacientes com lesões assintomáticas ou pouco sintomáticas, assim como em pacientes que apresentam lesões graves e que são portadores de doenças de base que contra-indiquem a cirurgia. Contra-indicações à ressecção traqueal: inabilidade voluntária da tosse ou expectoração, aspiração intratável, insuficiência respiratória crônica, moderada ou grave, estenose longa ou bifocal. O uso de corticóide é discutido na literatura, podendo ser utilizado na decanulação de pacientes com estenose de traquéia, indicando-se a dexametasona na dose de 0,5 mg/kg a cada seis horas durante 24 horas. Também existem trabalhos com dipropionato de beclometasona inalatório no tratamento da estenose de traquéia após intubação12. A traqueostomia também pode ser uma causa importante de estenose traqueal após intubação, com incidência de 15% a 53%, mas isto pode se dever simplesmente à técnica cirúrgica ou à inabilidade do cirurgião2. É fato que a intubação laringotraqueal prolongada produz maior incidência de estenose laringotraqueal. Presume-se que todo paciente admitido em UTI para assistência ventilatória é um potencial candidato à intubação traqueal e se há suspeita que este receberá ventilação assistida prolongada, deve pensar sempre na possibilidade de realização de traqueostomia precoce, ou seja, quando o procedimento ocorre entre cinco e sete dias após a intubação. Tal procedimento facilita os cuidados da enfermagem e diminui o risco de estenose laringotraqueal3. Existem pacientes de alto risco para estenose laringotraqueal após intubação prolongada, como aqueles com doença do colágeno, como lúpus, hipóxia celular crônica, insuficiência cardíaca e insuficiência respiratória crônica. Estes pacientes de alto risco devem ser submetidos a traqueostomia o mais precocemente possível3. A grande discussão que existe entre os médicos internistas e os otorrinolaringologistas é o momento em que se deve pasRBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO DE REVISÃO sar da intubação endotraqueal para a traqueostomia. Para Stauffer3 a intubação translaríngea pode permanecer por 20 dias ou mais sem causar problemas. Em geral os internistas são reacionários à traqueostomia precoce e a indicam em média com duas ou mais semanas de intubação. CONCLUSÃO Os avanços da Medicina Intensiva têm permitido aumento da sobrevida de pacientes com mau prognóstico. Muitos desses pacientes exigem ventilação mecânica invasiva prolongada, resultando em um incremento do número de casos de estenose traqueal. A presença do tubo traqueal desencadeia todos os fenômenos histológicos de agressão e defesa da mucosa traqueal e independem do tempo de intubação. O tempo de intubação parece favorecer o predomínio de lesões destrutivas. A estenose traqueal iatrogênica é uma compilação que pode ser prevenida e potencialmente curável. O aumento da incidência da estenose de traquéia após intubação vem ocorrendo devido ao aumento da pressão do balonete e tração do tubo de ventilação. A prevenção da lesão da traquéia pode ser alcançada mantendo-se a pressão do balonete menor ou igual a 20 cmH2O e estabilizadores para os tubos de intubação traqueal e ventiladores. Quando a lesão da traquéia é diagnosticada, o melhor tratamento é a cirurgia com ressecção da lesão e anastomose término-terminal. RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A estenose de traquéia é rara, mas sua incidência tem aumentado, possivelmente devido ao uso do suporte ventilatório em terapia intensiva envolvendo intubação orotraqueal (IOT) ou traqueostomia. O objetivo deste estudo é apresentar as causas de estenose de traquéia, diagnóstico, tratamento e prevenção. CONTEÚDO: O diagnóstico é difícil de se estabelecer, sendo necessária muitas vezes a broncoscopia ou tomografia computadorizada de pescoço com reconstrução tridimensional. O tratamento curativo de escolha é cirúrgico, com ressecção da estenose e anastomose término-terminal. Os pacientes que apresentam contra-indicações temporárias ou definitivas ao tratamento cirúrgico podem se beneficiar da endoscopia intervencionista. A broncoscopia rígida com dilatação mecânica da estenose traqueal associada ao laser pode ser curativa. CONCLUSÕES: O manuseio da estenose de traquéia em geral é multidisciplinar envolvendo pneumologistas, cirurgiões de tórax, otorrinolaringologistas, anestesiologistas e intensivistas. Unitermos: Estenose de traquéia; intubação traqueal; traqueostomia. Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 REFERÊNCIAS 01. Liu HC, Lee KS, Huang CJ et al - Silicone T-tube for complex laryngotracheal problems. Eur J Cardiothoracic Surg, 2002;21:326-330. 02. Contreras M, Iñiguez R - Estenosis traqueal. Rev Otorinolaringol Cir Cabeza Cuello. 1998;58:21-25. 03. Caledón C, Calderón M - Estenosis laringotraqueal. Rev Otorrinolaringol Cir Cabeza Cuello,1998;58:11-19. 04. Martins RHG, Braz JRC, Bretan O et al - Lesões precoces da intubação endotraqueal. Rev Bras de Otorrinolaringol, 1995;61:1-5. 05. Brichet A, Verkindre C, Dupont J et al - Multidisciplinary approach to management of postintubation tracheal stenoses. Eur Respir J, 1999;13:888-893. 06. Godin DA, Rodriguez KH, Hebert F - Tracheal stenosis. 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Campinas, 1997. 43 RBTI / ARTIGO DE REVISÃO Medicina Intensiva Baseada em Evidências* Evidence Based Intensive Care Medicine Otávio Berwanger1, Hélio Penna Guimarães1,2, Álvaro Avezum3, Leopoldo Soares Piegas2,4 SUMMARY BACKGROUND AND OBJECTIVES: The Evidence Based Medicine is defined as systematic process to select, to analyze and to apply valid results of scientific publications as base for the clinical decisions. This article aims at to revise the basic concepts EBM and to demonstrate its basic application in common hypothetical situation in the practical one of the intensive care medicine. CONTENTS: The evidences depends on the approach epidemiologic and can consist in randomized clinical assay, clinical prediction trial, transversal and cohort study, cost-effectiveness trial, systematic review and metanalysis; all this study must always consider primary outcomes as mortality rate, morbidity and cost. For the practical one of the evidence based intensive medicine one becomes necessary to formulate 4 parts clinical question, to delineate and to search evidences in data bases, to evaluate the evidence critically and to apply it in the daily practical clinic. For example, in this article the authors present the question of a severe patient with sepse of respiratory focus, in which if the validity of the use of activated protein C (drotrecogin alpha) for mortality reduction; applying the principles of the evidence based medicine for the situation proposal, through the analysis of study PROWESS, to a study with internal validity was demonstrated to be this that used valid method of randomization, with clinical considered significance and statistics, narrow confidence interval, necessary and therefore resulted findings that they assist in the manuscript of the patients. CONCLUSIONS: evaluating literature critically, the intensive care physician will be able to practice clinic, to teach, to lead research, to generate lines of direction and to influence health politics beyond to improve the cares offered to the critical ill patient. Key Words: critical evaluation of literature, Evidence Based Medicine, randomized trial. The bigger and more important the health problem, the more important the hard evidence David Sackett A Medicina Baseada em Evidências (MBE) pode ser definida como um processo sistemático de selecionar, analisar e aplicar resultados válidos de publicações científicas como base das decisões clínicas1-33. As “evidências” são estudos publicados em periódicos ou banco de dados eletrônicos, sob a forma de artigos originais, revisões sistemáticas, avaliações de tecnologia em saúde e diretrizes; em raras condições ou quando da falta de evidência adequada, descrições de casos ou a opinião de especialistas podem e devem ser avaliadas, considerando porém sempre o fato destes métodos apresentarem uma elevada taxa de erro, seja por inadequada análise, seja por inadequada compreensão dos fenômenos fisiopatológicos, patológicos e epidemiológicos subjacentes. A MBE engloba a avaliação crítica de evidências clínico-epidemiológicas, experiência clínica e preferência do paciente para tomada de decisão. TIPOS DE EVIDÊNCIA4,5 Apesar do ensaio clínico aleatório apresentar melhor qualidade de dados, dependendo do enfoque epidemiológico, sua execução pode ser inviável. Assim, existe um delineamento “ideal” para cada enfoque: Tratamento Ensaio Clínico Aleatório Diagnóstico Estudo de Predição Clínica; Estudo Transversal Etiologia/Risco Estudo de Coorte Prognóstico Estudo de Coorte Custo Estudo de Custo-Efetividade; Estudo de Custo – Utilidade A revisão sistemática consiste da análise conjunta de ensaios com método semelhante, visando responder uma questão clínica específica; este tipo de revisão é denominada metanálise quando aplicados métodos estatísticos e os resultados são sumarizados sob forma de resultado único, utilizando pressupostos e técnicas próprias para a integração destes resultados e avaliação da estimativa comum (quando possível, após avaliação da variabilidade dos resultados). DESFECHOS CLINICAMENTE RELEVANTES E DESFECHOS SUBSTITUTOS7-9 Os desfechos clínico-epidemiológicos relevantes representam a taxa de mortalidade, a morbidade e o custo. Os desfechos substitutos se constituem de eventos intermediários, como variáveis bioquímicas e laboratoriais, importantes apenas para determinar futuros ensaios com os desfechos relevantes. 1. Médico da Divisão de Pesquisa do Instituto Dante Pazzanese 2. Título de especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB). 3. Diretor da Divisão de Pesquisa do Instituto Dante Pazzanese 4. Diretor Geral do Instituto Dante Pazzanese *Recebido da Divisão de Pesquisa do Instituto Dante Pazzanese, São Paulo, SP Apresentado em 26 de janeiro de 2005 - Aceito para publicação em 20 de março de 2005 Endereço para correspondência: Drs. Otávio Berwanger / Hélio Penna Guimarães - Divisão de Pesquisa do Instituto Dante Pazzanese - Av. Dr. Dante Pazzanese, 500, 13º Andar - 04012-090 São Paulo, SP - Fones: (11) 50854111 Fax: (11) 55797474 - E-mail: [email protected]. br , [email protected] 44 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO DE REVISÃO COMO ASSOCIAR À SUA PRÁTICA A MEDICINA INTENSIVA BASEADA EM EVIDÊNCIAS? Identificada uma questão, o Evidence Based Medicine Working Group2 propõe as etapas abaixo: 1. Formular questão clínica de quatro partes; 2. Delinear e buscar evidências em bancos de dados; 3. Avaliar criticamente a evidência; 4. Aplicar a evidência na prática clínica Para exemplificar, expõe-se a questão em paciente com sepse grave de foco respiratório, qual a validade da prescrição de proteína C ativada (drotrecogin alfa) para redução da mortalidade? Etapa 1: Identificar o Problema e Formular Questão Clínica de Quatro (ou Cinco Partes) A questão clínica de quatro partes6 considera o tipo de paciente, fator em estudo (intervenção: tratamento, teste diagnóstico, fator prognóstico ou custo do procedimento), controle, desfechos de interesse e tipo de enfoque (terapêutico, diagnóstico, prognóstico, custo e etiológico). Esse tipo de questão é denominado “PICO” (Paciente, Intervenção, Controle, Objetivo), conforme exemplificado no quadro 1. Quadro 2 – Portais Recomendados para Busca de Evidências Bancos de Dados Pré-Filtrados ACP Journal Club on Line Evidence-based Medicine Journal Clinical Evidence EBM On Call Endereço Eletrônico www.acpjc.org ebm.bmjjournals.com www.clinicalevidence.com www.eboncall.org Evidence-based decision making in Critical Care Medicine www.evidencebased.net Centre for Evidence Based Medicine (Oxford) www.cebm.net Centre for Evidence Based Medicine (Toronto) www.cebm.utoronto.ca/ Assim, combinando os termos sepsis AND activated protein C AND mortality rate encontram-se referências, dentre as quais o ensaio clínico aleatório PROWESS10. Etapa 3: Analisando Criticamente as Evidências Estão disponíveis diversos checklists para análise crítica de artigos, desenvolvidos por grupos de MBE; baseando-se nos conceitos dos User´s Guides to the Medical Literature11. No anexo 1, propõe-se uma ficha de leitura crítica para artigos de tratamento e a seguir discute-se os aspectos de cada questionamento. Anexo 1 - Ficha de Leitura Crítica para Estudos de Tratamento Quadro 1 – Estruturação de Questão Clínica de Quatro Partes (PICO) Tipo de Paciente P Sepse grave O ESTUDO POSSUI VALIDADE INTERNA? Fator em Estudo Controle Objetivo I Proteína C ativada + tratamento suporte e antibioticoterapia C Placebo + tratamento suporte + antibioticoterapia O Taxa de Mortalidade Total Etapa 2: Buscar Evidências na Literatura7,8,9 Deve-se buscar evidências avaliando especificamente componentes da questão com delineamento adequado; neste exemplo: 1. Paciente com sepse; 2. Drotrecogin; 3. Placebo (ou não tratamento); 4. Taxa de Mortalidade total. Idealmente procuram-se ensaios clínicos aleatórios ou revisões sistemáticas. Delineia-se a busca combinando termos pelo operador boleano “AND”, obtendo-se artigos contendo simultaneamente: Sepsis AND activated C protein AND Mortality. Uma forma eficaz para busca é a consulta a bancos de dados pré-filtrados, que apresentem evidência criticamente avaliada (qualidade do método) e resultados resumidos em parâmetros de impacto (Número Necessário para Tratar ou NNT, razão de verossimilhança ou likehood ratios e razões de custo-efetividade). O quadro 2 descreve alguns portais recomendados para busca de evidências. Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 • A designação dos pacientes para os tratamentos foi aleatória? O sigilo da lista de alocação foi mantido? • Todos os pacientes admitidos no estudo foram adequadamente considerados na conclusão? O seguimento foi completo? • Os pacientes foram analisados nos grupos em que foram originalmente alocados (intenção de tratar)? • Os pacientes, os médicos e o pessoal envolvidos no estudo apresentavam-se sob condição encoberta? • Os grupos comparados eram similares? • OS RESULTADOS SÃO IMPORTANTES? • Qual a dimensão do efeito do tratamento? • Qual a precisão da estimativa do efeito do tratamento? • As significâncias clínica e estatística foram consideradas? • OS RESULTADOS AUXILIAM NO MANUSEIO DOS PACIENTES? • Os resultados podem ser aplicados para o manuseio dos pacientes na prática clínica diária? A designação dos pacientes para os tratamentos foi realmente aleatória? O sigilo da alocação foi adequadamente mantido? Os resultados obtidos quando a designação dos tratamentos se deu de forma aleatória podem ser diferentes dos observados quando da designação pelo investigador (sistemática). Todos os pacientes foram adequadamente contados e considerados na conclusão? Neste item dois componentes são avaliados: 1) O seguimento foi completo? Todo paciente admitido no estudo deve ser analisado na conclusão final. Avaliando se a perda de seguimento foi excessiva (estudos com resultados positivos), deve-se conside- 45 RBTI / ARTIGO DE REVISÃO rar que todos os pacientes perdidos no grupo de tratamento evoluíram mal e todos os perdidos no grupo de controle evoluíram bem (método do “pior cenário”); assim, se as conclusões do estudo não forem modificadas, não houve excessiva perda. 2) Os pacientes foram analisados nos grupos em que foram originalmente alocados? Na análise de eficácia, consideram-se todos pacientes pertencentes aos grupos em foram originalmente alocados (“intenção-de-tratar”), preservando a distribuição balanceada. Os pacientes, os médicos e o pessoal envolvido no estudo apresentavam-se sob condição duplamente encoberta ao tratamento? Esta questão é relevante, pois é mais provável obter uma opinião favorável sobre a eficácia de um tratamento entre pacientes e médicos que sabem que estão utilizando um novo medicamento. Os grupos comparados eram similares no início do estudo? Os grupos tratamento e controle devem ser similares, com relação aos fatores que podem influenciar resultados clínicos de interesse(por ex.: idade, sexo, APACHE II, etc.) Além da intervenção experimental do estudo, os grupos comparados foram tratados igualmente? A intervenções outras além das próprias ao estudo são chamadas de co-intervenções e, quando aplicadas diferentemente, podem alterar os resultados. Qual a dimensão do efeito do tratamento?7-9 Existem diversas maneiras de se expressar os efeitos de um tratamento: a) redução absoluta de risco (RAR): proporção de eventos no grupo controle menos a proporção de eventos no grupo tratamento (p. ex.: 0,10 - 0,085 = 0,15); b) risco relativo (RR): proporção de eventos no grupo tratamento relativa à proporção de eventos no grupo controle (p. ex.: 0,085/0,10 = 0,85); c) redução relativa de risco (RRR): 1 menos proporção de eventos no grupo tratamento relativa à proporção de eventos no grupo controle vezes 100% [1 - (0,085/0,10) X 100% = 15%]. Esta é a medida mais comumente utilizada, significando neste exemplo que o novo tratamento reduziu o risco de eventos em 15% em comparação com o grupo controle. Qual a precisão da estimativa do efeito do tratamento? A verdadeira redução de risco nunca pode ser conhecida. O que se tem é uma estimativa fornecida por estudos clínicos controlados aleatórios, como melhor estimativa do verdadeiro efeito do tratamento. Tem-se assim o ponto de estimativa, conhecendo-se limites (vizinhança) entre os quais o verdadeiro efeito provavelmente se encontra. Esta estratégia estatística denomina-se intervalo de confiança (IC). O IC 95% significa que a verdadeira RRR encontrar-se-á entre os limites em 95% das vezes. Quanto maior o tamanho da amostra, maior a confiança de que a verdadeira RRR estará próxima daquela observada e menor será o intervalo de confiança. Assim, a precisão de um resultado é fornecida pelo IC e não pelo valor de p. As significâncias clínica e estatística foram consideradas? Descreve a magnitude de um resultado. A significância estatística mostra se as conclusões obtidas apresentam probabilidade de serem verdadeiras, independentemente de clinicamente relevantes. A medida utilizada para avaliar a sig- 46 nificância clínica é o Número Necessário para Tratar (NNT), que determina o número de pacientes que necessariamente devem ser tratados para evitar o evento em um deles; o NNT possui três propriedades: a) enfatiza os esforços para atingir um alvo tangível de tratamento b) fornece base para os custos do tratamento c) fornece elementos para comparar diferentes tratamentos. Os resultados irão auxiliar no manuseio dos pacientes? Se os pacientes preencherem os critérios de inclusão estabelecidos pelo estudo, não há questionamento à aplicabilidade dos resultados; mesmo caso negativo, uma razão significativa para não generalização dos resultados para os pacientes é infreqüente. Cuidado deve ser tomado quando os resultados globais não demonstram diferenças significativas e análises de subgrupos sem hipótese pré-especificada demonstram que alguns pacientes se beneficiam do tratamento. Os leitores devem ser céticos quanto à aplicação de resultados de análises de subgrupos. Os benefícios do tratamento superam os riscos potenciais e os custos? Quanto maior a possibilidade de um evento, caso não tratado, mais provável o benefício do tratamento e menos pacientes deverão ser tratados para preveni-lo. As análises econômicas, que consideram a eficácia e custos envolvidos, são altamente desejáveis; o princípio de “sempre os recursos serão escassos”, utilizado inclusive em países desenvolvidos, deve ser acentuadamente observado. AVALIANDO O ESTUDO PROWESS O PROWESS foi um ensaio clínico aleatório randomizado realizado em 1728 pacientes com sepse grave, utilizando o drotrecogin alfa 24 µg/kg, por 96 horas, ou placebo. O principal desfecho foi a mortalidade total em 28 dias; assim: • O estudo possui validade interna? SIM, pois utilizou método válido de distribuição aleatória; o sigilo da lista de alocação foi mantido; o método duplamente encoberto foi adequadamente preservado e análise foi por intenção de tratar, além de ter ocorrido poucas perdas. • Os resultados são importantes? SIM, pois o estudo satisfaz todas as questões. • Qual a dimensão do efeito do tratamento? a redução do risco relativo (RRR) é de 19 %, ou seja, drotrecogin alfa reduz a mortalidade total em 19%. • Qual a precisão da estimativa do efeito do tratamento? As significâncias clínica e estatística foram consideradas? Em pacientes com sepse grave, é necessário tratar 16 pacientes (NNT = 16) para se evitar um desfecho (mortalidade) em 28 dias. Como o intervalo de confiança de 95% é relativamente estreito, esses achados são relativamente precisos (entre 10 e 54, ou seja, na pior hipótese teria que se tratar 54 pacientes para um desfecho). • Os resultados auxiliam no manuseio dos pacientes? SIM, os pacientes incluídos no estudo PROWESS são semelhantes aos apresentados na prática clínica. Em 28 dias, de cada 66 pacientes que receberam o tratamento, um apresentou sangramento maior. Contudo, em se considerando que de cada 16 pacientes do grupo tratamento, um deixou de morrer, conclui-se que muito provavelmente os benefícios superam os riscos, mas os últimos não são desprezíveis e devem RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO DE REVISÃO ser informados. Como drotrecogin é uma intervenção de custo elevado, é fundamental definir a sua eficiência, além de sua eficácia. A eficácia é definida por ensaios clínicos aleatórios e/ou revisões sistemáticas e a eficiência é por meio de análises econômicas. Há um recente estudo de custo-efetividade publicado e baseado no PROWESSS: essa análise econômica demonstra que em pacientes com escores APACHE II > 25, a razão de custo-efetividade incremental do drotrecogin é de US$ 25.000/QALY , ou seja, para cada ano de vida salva ajustada para qualidade (QALY) o custo é de 25.000 dólares americanos. Nos EUA, considera-se que intervenções com razão de custo-efetividade inferior a 40.000/ QALY poderiam ser consideradas. Etapa 4: Aplicar os achados na prática Uma vez identificada que a evidência possui validade interna e que seus resultados são importantes sob aspecto clínico-estatístico e aplicáveis, cabe colocá-la em prática, buscando obter desfechos favoráveis7,12. CONSIDERAÇÕES FINAIS Avaliando criticamente a literatura, os intensivistas poderão otimizar sua prática assistencial, método do ensino, conduzir pesquisas dentro de padrões científicos atuais, gerar diretrizes e influenciar políticas de saúde. Há necessidade urgente de se praticar Medicina Intensiva com cuidados terapêuticos e diagnósticos eficazes, custo razoável e que possa ser generalizada para diferentes instituições. O paradigma da MBE permite sistematização das condutas terapêuticas, visando abordagem racional e confiável dos pacientes gravemente enfermos. RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A Medicina Baseada em Evidências (MBE) é definida como processo sistemático de selecionar, analisar e aplicar resultados válidos de publicações científicas como base das decisões clínicas. O objetivo deste artigo é revisar os conceitos básicos da MBE e demonstrar sua aplicação básica em situação hipotética comum na prática da medicina intensiva. CONTEÚDO: As evidências dependem do enfoque epidemiológico e podem se constituir em ensaio clínico aleatório, estudo de predição clínica, estudo transversal e de coorte, estudo de custo-efetividade, revisão sistemática e metanálise; estes estudos devem considerar sempre desfechos clínico-epidemiológicos relevantes, tais como a taxa de mortalidade, a morbidade e o custo. Para a prática da Medicina Intensiva baseada em evidências faz-se Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 necessária formular questão clínica de quatro partes ou PICO(Paciente, Intervenção, Controle, Objetivo), delinear e buscar evidências em bancos de dados, avaliar criticamente a evidência e aplicá-la na prática clínica. Para exemplificar, neste artigo os autores apresentam a questão de um paciente com sepse grave de foco respiratório, no qual se discute a validade da prescrição de proteína C ativada (drotrecogin alfa) para redução da taxa de mortalidade; aplicando os princípios da Medicina Baseada em Evidências (MBE) para a situação proposta, através da análise do estudo PROWESS, demonstrou-se ser este um estudo com validade interna que utilizou método válido de distribuição aleatória, com significância clínica e estatística consideradas, intervalo de confiança estreito, resultados precisos e portanto resultados que auxiliam no manuseio dos pacientes. CONCLUSÕES: Avaliando criticamente a literatura, os intensivistas poderão praticar clínica, ensinar, conduzir pesquisa, gerar diretrizes e influenciar políticas de saúde além melhorar os cuidados oferecidos ao paciente criticamente enfermo. Unitermos: avaliação crítica de literatura, estudo aleatório, Medicina baseada em evidências. REFERÊNCIAS 01. 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CONTENTS: The outcome of severely ill cancer patients does not depend solely on the causes that determine the admission in intensive care unit, but it also depends on the variables related to the anticancer treatments and cancer itself, such as performance status and cancer status. Neither the type of cancer nor the presence of neutropenia per se is independently associated with increased mortality. CONCLUSIONS: The assessment of the appropriateness of admitting a patient with cancer to the intensive care unit require a thorough evaluation of the clinical variables related to acute illness, underlying malignancy and to the expectancies and wishes of patients and their families. A better understanding of such parameters may be helpful to avoid forgoing intensive care to patients who can potentially benefit from it. Key Words: cancer, intensive care, outcome O câncer é a segunda causa mais comum de óbito na população brasileira, superado apenas pelas doenças do aparelho circulatório. Em 2003, os números de casos novos e de óbitos relacionados ao câncer no Brasil foram estimados em cerca de 402 e 127 mil, respectivamente1. Nos últimos anos, avanços nos cuidados dos pacientes com câncer têm resultado em maior probabilidade de controle ou cura da doença, com melhorias na sobrevida e na qualidade de vida. Os cuidados intensivos tornam-se cada vez mais importantes para o cuidado geral dos pacientes com câncer e a grande maioria das instituições de referência para o tratamento oncológico possui uma unidade de terapia intensiva (UTI)2. As principais indicações de internação na UTI para estes pacientes são a monitorização pós-operatória ou de tratamentos com toxicidade potencialmente grave ou desconhecida e complicações agudas graves, relacionadas ou não ao câncer e seu tratamento2,3. De modo geral, são internados na UTI pacientes com potenciais de cura ou controle do câncer, e que apresentem complicações potencialmente reversíveis. A autonomia do paciente deve ser respeitada com relação ao seu desejo de receber tratamentos agressivos, tais como reanimação cardiorrespiratória, suporte nutricional, hemodiálise e intubação traqueal para ventilação mecânica (VM)3,4. A internação de pacientes com câncer na UTI ainda é motivo de controvérsia entre os intensivistas e os oncologis- tas. O prognóstico destes pacientes é freqüentemente considerado ruim a priori. Este conceito tem sido responsável pela recusa das internações dos pacientes nas UTI, especialmente em hospitais não especializados no tratamento oncológico. Além disso, muitas vezes esta decisão é baseada em critérios muito diferentes daqueles adotados em pacientes com doenças não-neoplásicas que apresentam prognósticos semelhantes ou piores5,6. Por outro lado, com os recursos terapêuticos e tecnológicos atualmente disponíveis, há também a possibilidade do prolongamento da vida de pacientes que têm poucas possibilidades de recuperação. Este fato implica muitas vezes em sofrimento e frustração indesejáveis para o paciente, seus familiares e para a equipe de saúde. Ademais, os custos elevados dos tratamentos oncológicos e da Medicina intensiva associados ao número limitado de leitos em UTI nos remetem a considerações sobre a racionalização da utilização dos recursos7,8. Em suma, a avaliação da oportunidade e da propriedade da internação de um paciente com câncer na UTI, necessita uma complexa avaliação de fatores clínicos relacionados à complicação aguda, à neoplasia subjacente e às expectativas do paciente e seus familiares. A letalidade dos pacientes com neoplasias é substancialmente maior do que a dos demais pacientes cuidados nas UTI9-12 e o seu prognóstico depende de fatores multidimensionais que interagem entre si. Além de fatores comuns aos 1. Médico do Centro de Tratamento Intensivo do Instituto Nacional de Câncer, Rio de Janeiro, RJ; Mestre e Doutor em Clínica Médica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Título de Especialista em Medicina Intensiva pela AMIB 2. Professor Adjunto do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ; Mestre e Doutor em Clínica Médica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro 3. Professor Adjunto do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ; Mestre e Doutor em Clínica Médica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Médico do Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Título de Especialista em Medicina Intensiva pela AMIB. * Recebido do Centro de Tratamento Intensivo do Instituto Nacional de Câncer, Rio de Janeiro, RJ. Apresentado em 14 de fevereiro de 2005 - Aceito para publicação em 29 de março de 2005 Endereço para correspondência: Márcio Soares - Instituto Nacional de Câncer – INCA - Centro de Tratamento Intensivo - Praça Cruz Vermelha, 23 – 10º Andar - 20230-130 Rio de Janeiro, RJ - Fone: (21) 2506-6120; Fax: (21) 3325-4579 - E-mail: [email protected] 48 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO DE REVISÃO demais pacientes de terapia intensiva, há que se considerar também outros relacionados ao estado da sua doença de base e à instituição de tratamentos com potenciais elevados de complicações, tais como radioterapia, quimioterapia, imunossupressão e cirurgias com grandes ressecções. O objetivo deste artigo foi rever os principais aspectos relacionados à avaliação do prognóstico de pacientes com câncer gravemente enfermos. A seleção dos artigos foi feita na base de dados MedLine acessada através do portal da PubMed (www.pubmed.com). Foram utilizados os descritores: cancer, outcome, mortality, intensive care e mechanical ventilation. Também foram incluídas outras referências encontradas manualmente a partir da busca inicial. UTILIZAÇÃO DE MODELOS DE PREDIÇÃO PROGNÓSTICA Os escores de gravidade de doença têm sido utilizados na avaliação prognóstica dos pacientes internados em UTI. Embora nenhum destes escores tenha precisão suficiente para ser usado em decisões clínicas individuais13, eles podem ser úteis em discussões sobre prognóstico, na melhoria da alocação dos recursos em terapia intensiva, na classificação dos pacientes em ensaios clínicos e na avaliação de qualidade em terapia intensiva14. Quando aplicados aos pacientes com câncer, os escores de prognóstico gerais apresentam desempenho insatisfatório, em especial devido à má calibração e tendência à subestimação da letalidade15-21. Estas limitações motivaram o desenvolvimento de um modelo especifico para estes pacientes, o Cancer Mortality Model (CMM)18. Além de variáveis fisiológicas comuns aos demais pacientes graves, entram na composição do CMM três variáveis exclusivas dos pacientes oncológicos: performance status, evidência de recidiva ou progressão da neoplasia e transplante de medula óssea (TMO) alogenéico. Entretanto, em estudos de validação externa, o CMM não apresentou vantagens significativas em relação aos escores de prognóstico gerais19-21. AVALIAÇÃO DA GRAVIDADE DA DOENÇA E DA NECESSIDADE DE SUPORTE VENTILATÓRIO A gravidade das alterações fisiológicas agudas e das disfunções orgânicas são os principais determinantes do prognóstico imediato dos pacientes com câncer que necessitam de internação em UTI9,12,15,22-26. O grupo de pacientes que apresenta insuficiência respiratória aguda (IRA) é o mais estudado. A necessidade de VM é um fator independente de mau prognóstico19,12,18,24,26-28. Até há bem pouco tempo, a IRA nos pacientes com câncer era considerada um evento terminal, refratário ao tratamento, com taxas de letalidade superiores a 75%8,23,29-31. Entretanto, nos últimos anos, o prognóstico destes pacientes parece melhor9,24,25,32,33, provavelmente devido ao advento de novas estratégias de VM34 e do benefício da ventilação não-invasiva (VNI) nos pacientes imunossuprimidos35 e com câncer32. Nos estudos de Hilbert e col.35 e de Azoulay e col.32, os pacientes que receberam inicialmente VNI tiveram uma letalidade significativamente menor do que aqueles que receberam VM convencional (50% vs. 81% e 44% vs. 71%, respectivamente). Contudo, a maioria dos pacientes é admitida na UTI tardiamente, o que limita o uso da VNI25,34. A idenVolume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 tificação precoce dos pacientes com alterações respiratórias é desejável para obter o maior benefício com o método32,35. Por outro lado, também é essencial a identificação precoce de sinais que indiquem a falha da VNI, pois os pacientes nos quais a intubação traqueal e VM convencional foram postergadas apresentaram letalidade superior em relação aos pacientes intubados precocemente36. FATORES RELACIONADOS À RESERVA FISIOLÓGICA: IDADE, CAPACIDADE FUNCIONAL (PERFORMANCE STATUS) E COMORBIDADES A expectativa de vida da população brasileira está aumentanda. As projeções para o ano 2020 indicam que a população será de 219 milhões e a proporção de pessoas com mais de 65 anos aumentará dos atuais 5% para 8%, dos quais 23% terão mais de 80 anos de idade37. Proporcionalmente, os pacientes idosos são os principais usuários dos serviços de saúde37. Estas tendências demográficas têm implicações na alocação dos recursos e nas políticas de saúde. O processo de envelhecimento está relacionado com a redução da reserva fisiológica e com maior prevalência de doenças crônicas, dentre as quais o câncer. O impacto da idade na letalidade dos pacientes com câncer gravemente enfermos é um assunto polêmico e controverso12,18,23,25-28,32,38. Entretanto, a interpretação destes resultados conflitantes deve ser feita com cautela. É inevitável a ocorrência de viés relacionado à pratica assistencial na UTI e aos critérios utilizados na internação dos pacientes. Embora seja recomendado que idade não seja utilizada como critério isolado para indicar a necessidade de cuidados intensivos39, os pacientes idosos têm maior probabilidade de terem suas internações na UTI recusadas40 e de receberem limitação ou suspensão dos cuidados intensivos41. Lamentavelmente, informações a respeito do prognóstico dos pacientes idosos com câncer que necessitam de cuidados intensivos ainda são muito limitadas. Os pacientes com câncer apresentam freqüentemente comorbidades que têm impacto no seu prognóstico42,43. A presença de comorbidades aumenta de forma considerável o risco de complicações relacionadas ao tratamento oncológico e pode limitar a utilização da estratégia terapêutica mais apropriada43. As informações disponíveis sobre o impacto das comorbidades no prognóstico dos pacientes com câncer gravemente enfermos são muito restritas. Além disso, as comorbidades têm sido estudadas isoladamente, o que pode ter limitado as suas avaliações318,23,27,32. No único estudo que utilizou índices de comorbidades nesta categoria de pacientes, a presença de comorbidades graves estava associada, de modo independente, com a letalidade em seis meses26. O performance status é o parâmetro habitualmente utilizado para caracterizar a capacidade funcional e a autonomia do paciente com câncer no seu cuidado pessoal. Índices de performance status ruins (Karnofsky < 70 ou ECOG 3-4), quando presentes antes da internação hospitalar, estão associados com o aumento da probabilidade de óbito18,25,26. FATORES RELACIONADOS AO CÂNCER O diagnóstico de câncer engloba uma ampla variedade de doenças com características e comportamentos biológicos di- 49 RBTI / ARTIGO DE REVISÃO versos. A realização de estudos nos quais os pacientes fossem classificados pelo tipo de câncer em grupos rigorosamente homogêneos é impraticável. Tradicionalmente, os pacientes têm sido classificados em dois grandes grupos, os tumores sólidos e as neoplasias hematológicas. Os tumores sólidos, na maioria das vezes, têm comportamentos mais indolentes e é costume classificar os pacientes de acordo com a extensão da doença, ou seja, locorregional ou metastática. A classificação das neoplasias hematológicas é muito mais complexa e controversa. A maioria dos autores utiliza como critério a divisão por grandes categorias de diagnóstico (mieloma múltiplo, doença de Hodgkin, leucemia, linfoma não-Hodgkin)12,15,26,30,38. Já os pacientes submetidos a TMO são estudados à parte e geralmente são classificados em função do tipo de transplante (autólogo ou alogenéico)16,23,38. Durante muitos anos, o prognóstico dos pacientes com neutropenia e com neoplasias hematológicas foi considerado muito ruim, principalmente quando havia necessidade de assistência ventilatória23,29,31. Entretanto, em estudos mais recentes, o tipo de neoplasia e a presença de neutropenia não foram independentemente associados com maior mortalidade9,12,25-27,32,38. A progressão ou recidiva do tumor (sólido ou hematológico) parece ser a principal indicadora de mau prognóstico18,23,25,26,38. A otimização do uso do fator de estimulação do crescimento de granulócitos reduziu o risco de desenvolvimento de neutropenia, assim como a sua a duração e gravidade, nos pacientes submetidos à quimioterapia44. A recuperação precoce da contagem de neutrófilos está associada a menor risco de óbito28. Entretanto, durante o período em que ocorre o aumento da contagem de neutrófilos, pode ocorrer deterioração da função respiratória, principalmente na presença de infecção pulmonar45. Embora a sobrevida dos pacientes submetidos ao TMO esteja melhorando, suas taxas de letalidade permanecem extremamente elevadas (> 85%), principalmente nos TMO alogenéicos9,18,23,30,38. INSTITUIÇÃO DE CUIDADOS PALIATIVOS Em séries recentes, entre 17% e 37% dos pacientes com câncer internados na UTI receberam cuidados paliativos após a suspensão ou limitação dos cuidados intensivos9,26,32,33. Estas práticas variam amplamente em função de especificidades culturais e religiosas das diversas nações e sociedades e seu uso vem aumentando46. A decisão de interromper os cuidados intensivos é geralmente tomada quando a recuperação do paciente é considerada altamente improvável. Sempre que possível, este processo decisório deve ser compartilhado entre a equipe de saúde, o próprio paciente e seus familiares46. QUALIDADE DE VIDA A avaliação prognóstica ideal é multidimensional e leva em conta aspectos relacionados à qualidade de vida e à percepção da qualidade dos cuidados proporcionados ao paciente. Nos pacientes que sobrevivem à internação na UTI, são muito elevadas as prevalências de dor, de ansiedade, do comprometimento das capacidades funcional e laborativa, e de alterações do humor e do sono47,48. Os estudos de prognóstico nos pacientes com câncer ainda estão muito centrados na avaliação da letalidade. Há poucos anos, Nelson e col.49 50 relataram que até 75% dos pacientes recordavam-se de experiências dolorosas ou desconfortáveis (sede, fome, distúrbios do sono e ansiedade) durante o período em que estiveram na UTI. As informações sobre a qualidade de vida destes pacientes são ainda muito restritas. No estudo de Yau e col.50 com 92 pacientes com neoplasias hematológicas, embora apenas 14% tenham sobrevivido mais de um ano após a internação na UTI, a maioria dos pacientes considerava sua qualidade de vida boa. CONCLUSÃO A avaliação do prognóstico é essencial para a terapia intensiva para que se possa, por exemplo, avaliar o efeito da incorporação na prática diária de novas estratégias de cuidado na evolução clínica dos pacientes. Além disso, é mister que o conhecimento sobre o prognóstico dos pacientes com câncer que necessitam de cuidados intensivos seja expandido, principalmente com seguimento dos pacientes por períodos maiores e com a avaliação parâmetros adicionais, como a qualidade de vida e o processo de sua reintegração na família e na sociedade. O conhecimento das características associadas com o prognóstico pode ajudar os profissionais de saúde em discussões sobre os pacientes e no seu aconselhamento e de seus familiares. Entretanto, é necessário re-enfatizar que nenhuma característica ou escore é capaz de predizer inequivocamente o prognóstico de um paciente e, portanto, não devem ser utilizadas como parâmetro absoluto para definir sua internação na UTI ou para conter custos. Muito mais importante é evitar que os cuidados intensivos deixem de ser oferecidos aos pacientes que deles possam beneficiar-se. Lista de abreviaturas CMM – Cancer Mortality Model IRA – Insuficiência respiratória aguda TMO – Transplante de medula óssea UTI – Unidade de terapia intensiva VM – Ventilação mecânica VNI – Ventilação não-invasiva RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A Medicina intensiva é cada vez mais importante para o cuidado geral dos pacientes com câncer. Entretanto, a internação destes pacientes nas unidades de terapia intensiva ainda é motivo de controvérsia entre intensivistas e oncologistas, porque o seu prognóstico é freqüentemente considerado ruim a priori. Nesta revisão, os principais aspectos relacionados à avaliação do prognóstico de pacientes com câncer gravemente enfermos são abordados. CONTEÚDO: O prognóstico dos pacientes com câncer gravemente enfermos não depende somente de fatores comuns aos demais pacientes de terapia intensiva, como também de outros relacionados à instituição de tratamentos com potenciais elevados de complicações e a sua própria doença de base, como o performance status e o estado da neoplasia. O tipo de neoplasia e a presença de neutropenia per se não estão associados independentemente com uma maior letalidade. CONCLUSÕES: A avaliação da oportunidade e da propriedade da internação de um paciente com câncer na uniRBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO DE REVISÃO dade de terapia intensiva necessita uma complexa avaliação de fatores clínicos relacionados à complicação aguda, à neoplasia subjacente e às expectativas do paciente e seus familiares. Um melhor entendimento sobre tais parâmetros pode ser útil para não privar os pacientes com câncer dos cuidados intensivos. Unitermos: câncer, prognóstico, Medicina intensiva REFERÊNCIAS 01. Ministério da Saúde - Instituto Nacional de Câncer (INCA). Estimativas da Incidência e Mortalidade por Câncer no Brasil – 2003. Disponível em: <www. inca.gov.br/estimativas/2003>. Acesso em: 2004;27/09. 02. Sculier JP, Markiewicz E - Intensive care in anticancer centres: an international inquiry. Support Care Cancer, 1995;3:130-134. 03. Sculier JP - Intensive care in the treatment of cancer patients. Curr Opin Oncol, 1991;3:656-662. 04. Haines IE, Zalcberg J, Buchanan JD - Not-for-resuscitation orders in cancer patients--principles of decision-making. Med J Aust, 1990;153:225-229. 05. Lawrence VA, Clark GM - Cancer and resuscitation. Does the diagnosis affect the decision? Arch Intern Med, 1987;147:1637-1640. 06. 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The main methods to avoid complications due to prolong utilization of sedatives and analgesics (tolerance and abstinence), besides co-sedoanalgesia, include the most superficial sedoanalgesia or sedation daily interruption. CONCLUSIONS: Sedoanalgesia should be individualized and the most superficial with proper monitoring of patients under the effect of sedatives and analgesics. Key Words: Sedation / Analgesia / Propofol/Midazolam / Opioids E mbora os médicos intensivistas tenham o conhecimento de que o ambiente das Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e as particularidades do paciente crítico associadas ao tratamento à que esse paciente é submetido podem influir na evolução do seu quadro clínico, ainda existem falhas no que concerne ao controle da dor e do estresse desses paciente1,2. Há cerca de 15 anos a literatura médica tenta responder as mesmas perguntas: o quanto se deve sedar o paciente, qual o melhor método para a avaliação dessa sedação, se a sedação contínua é preferível à intermitente, se a utilização de analgésicos deve ser empregada sem a associação com sedativos e, qual o benefício dos efeitos hipnóticos e amnésicos dessas drogas 3. Entretanto, mesmo em 2005 essas perguntas ainda não foram totalmente respondidas. Surgiram novos fármacos, obteve-se maior experiência com a sedação e a analgesia de pacientes internados em UTI, houve a consciência de que a analgesia adequada é uma peça fundamental no tratamento desses pacientes, mas ainda não foi estabelecido um modelo de sedoanalgesia ideal para os mesmos. A multiplicidade de cenários clínicos observados nas UTI exige que a hipnoanalgesia seja planejada e que a estratégia e o objetivo terapêutico sejam estabelecidos de modo personalizado 4-10. Os consensos para a sedoanalgesia em UTI indicam como fármacos sedativos o midazolam e o propofol e como analgésicos os opióides 4,9. Nos últimos anos novos fármacos têm sido adicionados a esse arsenal terapêutico, tais como a cetamina e a dexmedetomidina11. SEDAÇÃO VELHAS DROGAS O midazolam e o propofol, que foram introduzidos na prática clínica a partir de 1980, permanecem como os fármacos mais conhecidos e estudados para a sedação de pacientes internados em UTI4,9,12. Estudos comparativos entre o midazolam e o propofol mostraram que ambos causam sedação efetiva. O midazolam causa maior estabilidade hemodinâmica enquanto o propofol proporciona uma extubação mais rápida dos pacientes. Esse fármaco causa maior incidência de hipotensão e acarreta maior custo financeiro ao tratamento. Não foi constatada diferença entre o tempo de internação na UTI dos pacientes que recebem midazolam ou propofol13-15. Têm sido relatadas desvantagens com a utilização prolongada do propofol nesses pacientes. Ressaltam-se as complicações inerentes ao uso prolongado de soluções lipídicas, como hipertrigliceridemia e o depósito de lipídios nos pulmões, fígado e outros órgãos. Em pacientes com insuficiência renal não há alteração importante na farmacocinética do propofol. A administração desse fármaco pode estar associada a um maior risco de infecção. Entretanto, não são descritas evidências clínicas relevantes de complicações infecciosas associadas à sua administração em UTI, desde que os cuidados assépticos sejam seguidos1,3,16. Existem relatos na literatura de que a adição do EDTA ao propofol poderá levar a um menor risco de infecção associado a um menor índice de mortalidade por inibição da 1. Médica Intensivista da UTI/HU/UFSC; Professora Titular do Departamento de Clínica Médica/UFSC *Recebido do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, SC Apresentado em 10 de janeiro de 2005 - Aceito para publicação em 22 de março de 2005 Endereço para correspondência: Dra. Rachel Duarte Moritz - Rua João Paulo 1929 - Bairro João Paulo - 88030-300 Florianópolis, SC - Fone/Fax (48) 2385700 - E-mail: [email protected] 52 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / ARTIGO DE REVISÃO formação de radicais livres, inibição do influxo de cálcio com conseqüente diminuição da apoptose e morte celular17 Na tentativa de diminuir os riscos de hipertrigliceridemia em decorrência da administração de propofol a 1% foi disponibilizado no mercado o propofol a 2%. Estudos que avaliaram a efetividade dessa nova formulação mostraram que pacientes que receberam propofol a 2% embora tenham apresentado menos freqüentemente hipertrigliceridemia, necessitaram de maior dose desse fármaco, o que foi responsável por um maior custo financeiro do tratamento18-19. Nos últimos anos tem sido descrito que a administração de altas doses de propofol (≥ 5mg/kg/h), por tempo maior que 48 horas pode estar associada a falência cardíaca, rabdomiólise, acidose metabólica grave e insuficiência renal. Esse quadro é conhecido como Síndrome da Infusão do Propofol e está associado ao impedimento da utilização dos ácidos graxos e da atividade mitocondrial, com conseqüente necrose muscular20-24 Vender e col.12 publicaram uma revisão através da MedLine, de janeiro de 1996 a junho de 2003 e concluíram que não existe um sedativo ou analgésico preferencial para ser administrado em pacientes submetidos a ventilação mecânica (grau C) e que o propofol promove rápido despertar quando comparado ao midazolam, principalmente nos pacientes sedados por um período prolongado (> 3 dias). Esta metanálise cita outros dois fármacos sedativos: a dexmedetomidina e o etomidato. O etomidato, agente anestésico não barbitúrico, derivado do imidazol, foi descrito como agente ideal para sedação em pacientes sob ventilação mecânica, por não exercer efeitos apreciáveis sobre a função circulatória. Estudos posteriores mostraram que o emprego prolongado dessa droga condicionava aumento da mortalidade nos pacientes internados em UTI, associada a baixos níveis plasmáticos de cortisol. Por esse motivo sua utilização em UTI, a longo prazo, foi desaconselhada. O etomidato pode ser utilizado para procedimentos de curta duração, principalmente em pacientes hipotensos3. NOVAS DROGAS A clonidina e a dexmedetomidina são agentes α2-agonistas cuja principal ação sedativa e analgésica é através da inibição da liberação da noradrenalina. As principais vias noradrenérgicas originam-se no locus coeruleus e a ativação dos receptores α2 dessa área produz supressão de sua atividade, resultando em aumento da atividade do GABA. Esses fármacos também apresentam papel importante na modulação da dor inibindo a condução nervosa através das fibras A δ e C. A clonidina, utilizada na prática clínica há mais de 20 anos, apresenta uma seletividade de 200/1 entre os receptores α2 e α1, enquanto a dexmedetomidina tem cerca de oito vezes mais afinidade pelos α2-adrenoceptores do que a clonidina. Embora seja pouco estudado o uso da clonidina como coadjuvante da sedoanalgesia no paciente crítico, a sua administração em concomitância com os benzodiazepínicos, com o propofol ou com os opióides, pode prevenir tanto a tolerância à essas drogas, quanto os sinais e sintomas de abstinência quando eles forem retirados. A administração da dexmedetomidina em pacientes Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 internados em UTI deve ser mais bem estudada. A rápida administração desse fármaco pode levar a hipertensão, embora seja mais comum que possa causar bradicardia e hipotensão, principalmente após a sua utilização por um tempo prolongado, particularmente em pacientes hipovolêmicos25. Existem evidências de que a dexmedetomidina possa ser uma excelente droga para a sedoanalgesia em situações específicas de pacientes internados em UTI25-28 tais como o desmame da ventilação mecânica29. Embora a cetamina não seja identificada como uma droga freqüentemente utilizada para a sedoanalgesia em UTI, existem circunstâncias onde a sua administração seria preferencial. Esse fármaco promove uma anestesia dissociativa e possui efeitos analgésicos excelentes. Seu principal mecanismo de ação é o bloqueio competitivo na ativação dos receptores excitatórios N-metil-D-aspartato (NMDA), cujo ligante endógeno é o glutamato. Por causar a inibição da recaptação da noradrenalina, sua utilização pode ser indicada para pacientes com instabilidade hemodinâmica, com ou sem broncoespasmo, já que promove relaxamento da musculatura lisa e antagonismo ao efeito espasmogênico da histamina. Pode levar a alucinações e delírio devendo sua administração estar associada a um benzodiazepínico ou ao propofol. O isômero da cetamina poderia ser de utilidade para a sedoanalgesia de pacientes em estado crítico, hipotensos ou com broncoespasmo importante, por ter maior potência analgésica e por causar menos efeitos psicodélicos30,31. Estudos recentes mostraram que a cetamina, associada ao midazolam, pode ser uma opção terapêutica para o controle da pressão intracraniana e da pressão de perfusão encefálica em pacientes com traumatismo cranioencefálico submetidos à ventilação mecânica32. ANALGESIA Para a analgesia de pacientes internados em UTI é preconizada a administração dos opióides4,9,33. A morfina, por apresentar efeito prolongado e por causar hipotensão, deve ser preferencialmente administrada de maneira intermitente, devendo ser evitado o seu uso em pacientes hipotensos. Nesses pacientes o fentanil é o fármaco de escolha, sendo a administração contínua a preferencial. A meperidina, por apresentar metabólitos com características neuroexcitatórias é contra-indicada em UTI. O remifentanil, um opióide de ação ultracurta, pode ser benéfico para a analgesia de pacientes que necessitem de avaliação neurológica freqüente. Os antiinflamatórios não hormonais e o acetaminofen não são indicados para a analgesia de pacientes críticos12. SONO NOTURNO Ao ser abordado o tema sedação e analgesia em Medicina intensiva, não pode deixar de ser mencionada a importância da manutenção do sono noturno para os pacientes internados em UTI. A manutenção do ciclo circadiano do sono, além de evitar elevação dos níveis de cortisol, permite que o paciente esteja tranqüilo e aceite melhor o tratamento no período diurno. A razão para a deprivação 53 RBTI / ARTIGO DE REVISÃO do sono dos pacientes gravemente enfermos é multifatorial. A secreção de melatonina pode estar alterada quando o relógio biológico é afetado. Estudos mostram que a liberação de melatonina está abolida em pacientes internados em UTI sendo aventada a hipótese de que esse fato tenha um papel relevante nos distúrbios do sono e no desenvolvimento de quadros de delírio desses pacientes34. Existe, portanto, a preocupação atual na manutenção do ciclo circadiano que poderá ser efetuada com o aumento da dose dos sedativos no período noturno ou, para aqueles sem regime de sedação contínua, com a administração venosa ou oral de midazolam nesse período. Os quadros psicóticos de pacientes internados em UTI têm sido controlados com a administração dos neurolépticos, mais especificamente do haloperidol. Estudos recentes apontam para o fato de que a administração de melatonina exógena poderá reativar o relógio biológico do paciente crítico, evitando o desencadeamento de quadros psicóticos35. ANTIDEPRESSIVOS Os antidepressivos não são utilizados de rotina em UTI. Entretanto, pacientes que permanecem muito tempo nesses setores, podem desenvolver um quadro depressivo que interfira na sua recuperação. Ressalta-se que os agentes antidepressivos, em particular a amitriptilina, têm se mostrado benéficos para o tratamento de quadros dolorosos11. PROFILAXIA DOS EFEITOS DA SEDOANALGESIA PROLONGADA Tem sido sugeridos métodos que possam diminuir as complicações decorrentes da utilização prolongada de sedativos e analgésicos (tolerância e/ou abstinência). Destaca-se a associação de fármacos sedativos e analgésicos (co-sedoanalgesia), a sedoanalgesia o mais superficial possível26 ou a interrupção diária da sedação, que pode diminuir o tempo de ventilação mecânica35. Entretanto, tais métodos não são isentos de efeitos adversos tais como taquicardia, hipertensão ou assincronia com a ventilação mecânica que podem ser gerados pelo rápido despertar, pela dor ou pela sedação insuficiente. Por outro lado, a sedação excessiva também pode estar associada a efeitos colaterais importantes como, hipotensão, bradicardia, íleo ou inconsciência prolongada com conseqüente maior tempo de ventilação mecânica e maior risco de infecção12. Escalas visuais, de analogia numérica ou verbal têm sido descritas para a avaliação da analgesia em pacientes de UTI. Entretanto, essas escalas têm limitações e não foram adequadamente validadas na população alvo36. Devlin e col.37 reviram todos os estudos publicados, de 1980 a 2000, sobre a avaliação da sedação de pacientes gravemente enfermos. Os autores identificaram 33 instrumentos utilizados para tal fim, e concluíram que esses instrumentos devem ser melhor avaliados para que possa ser determinado o seu impacto na qualidade do atendimento e no tempo de internação dos enfermos na UTI. O índice bispectral (BIS) tem sido bastante estudado para a avaliação objetiva da sedação dos pacientes internados em UTI38. Embora a sua 54 utilização possa ser promissora, não é recomendada enquanto não for validada39-41. Ainda que existam inúmeras sugestões de escalas objetivas ou subjetivas que avaliem a sedação em UTI, a escala de Ramsay continua sendo a que tem mostrado ser a de maior aplicabilidade prática36. CONCLUSÃO Em suma, a co-sedoanalgesia seja a melhor forma de cuidado, deva ser individualizada e o mais superficial possível, tornando-se imprescindível a monitoração adequada dos pacientes sob o efeito dos fármacos sedativos e analgésicos12. RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Os fármacos para a sedoanalgesia são os mesmos há cerca de 25 anos (midazolam, propofol, morfina e fentanil). Entretanto, o ambiente de UTI vem sofrendo adaptações e a adequação da analgesia tem sido uma prioridade. CONTEÚDO: Tende-se a administrar os fármacos em conjunto (co-sedoanalgesia) para que a tolerância e os efeitos colaterais sejam minimizados. A utilização da cetamina para a co-sedoanalgesia deve ser avaliada em casos especiais. Os α2-agonistas parecem ter um futuro promissor para a promoção do conforto dos pacientes. A monitorização adequada dos pacientes sob co-sedoanalgesia é importante, para diminuir os efeitos colaterais dos sedativos e analgésicos. Os principais métodos para diminuir as complicações decorrentes da utilização prolongada de sedativos e analgésicos (tolerância e/ou abstinência) incluem além da co-sedoanalgesia, a sedoanalgesia o mais superficial possível ou a interrupção diária da sedação. CONCLUSÕES: A sedoanalgesia deve ser individualizada e a mais superficial possível com monitoração adequada dos pacientes sob o efeito de sedativos e analgésicos. Unitermos: Sedação / Analgesia / Propofol / Midazolam / Opióides REFERÊNCIAS 01. Saur P, Gatzert S, Kettler D - Evaluation of the disability of ventilated patients. Anaesthesiol Intensivmed Notfallmed Schmerzther, 2004;39:542550. 02. Swaiss IG, Badran I - Disconfort, awareness and recall in the intensive care-still a problem? Middle East J Anesthesiol, 2004;17:951-958. 03. Moritz RD, Duarte DF - Sedação em UTI - Uma revisão. Rev Bras Terap Intens, 1998;10:129-137. 04. 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Case Report Hélio Penna Guimarães1,2,3, Luiz Fernando dos Reis Falcão5, Gilson Feitosa Filho4, Patrícia Helena Rocha Leal4, Renato Delascio Lopes3, Ana Paula Resque Senna4, Flávia Ribeiro Machado2,4, José Luiz Gomes do Amaral2,6 SUMMARY BACKGROUND AND OBJECTIVES: The blunt cardiac trauma is frequently found in conditions of blunt thoracic trauma associated with automobile accidents. The accurate incidence of this pathology remains unknown; its estimated that, in average, is present in 20% of the blunt thoracic traumas. Occurring adequate treatment for the complications, the death of cardiovascular cause is rare (around 1.5%) and generally secondary to refractory cardiogenic shock. This article aims at to describe a case of cardiac and pulmonary trauma that evolved with serious myocardial dysfunction and to carry through of a revision of current literature for practical boarding of this clinical condition. CASE REPORT: Patient of male gender, 33 years, victim of automobile accident (with motorcycle), was taken care of in the ER with right hemopneumothorax with extensive pulmonary blunt and left hemopneumothorax. About 1 hour after the admission, he presented cardiac arrest (pulseless electrical activity). After the cardiopulmonary resuscitation maneuvers he returned of the spontaneous circulation after 20 minutes, without defibrillation or cardioversion. The patient was transferred to ICU, under mechanical ventilation, hemodynamic instability; in the complementary examinations, he presented CPK = 1871 U/L; CK-MB = 163 U/L; Troponine = 35 ng/dL; normal electrocardiogram and the transthoracic echocardiogram with severe left ventricular dysfunction and low ejection fraction. During the evolution in ICU, after six days and use of dobutamine, new echocardiogram was carried through demonstrating cardiac size with normal dimensions, preserved left ventricular contractility and normal pericardial. He was discharged from the ICU about 60 days. CONCLUSIONS: The cardiac blunt is frequent in automobile accidents and its complications are about 16%; the death of cardiovascular cause is rare (about 1.5%) and generally secondary the refractory cardiogenic shock. The most frequently methods used for the diagnosis are electrocardiogram, serum level of CKMB and troponine T and I, echocardiogram. The recommended treatment demands special attention for manifestation of arrhythmias. Key Words: cardiac blunt; cardiogenic shock; troponine A contusão cardíaca é freqüente em condições de trauma fechado de tórax associada a acidentes automobilísticos. A incidência exata desta doença permanece desconhecida; estima-se que esteja presente, em média, em torno 20% dos traumatismos torácicos fechados, podendo variar de 3% a 56%. As complicações estão em torno de 16%, sendo mais freqüentes as disritmias e a insuficiência cardíaca. Ocorrendo adequado tratamento para as complicações, o óbito de causa cardiovascular é raro (em torno de 1,5%) e geralmente secundário a choque cardiogênico refratário1-4. RELATO DO CASO Paciente do sexo masculino, 33 anos, branco, vítima de acidente automobilístico (com moto), foi atendido pelo resgate pré-hospitalar, com índice de Glasgow 15; foi transferido ao pronto-socorro (PS) para avaliação geral e de fraturas no membro superior e inferior esquerdo. Na chegada ao PS, apresentava vias aéreas pérvias, com presença de pequena quantidade de sangue e murmúrio vesicular diminuído no hemitórax direito, com enfisema subcutâneo à direita. Foi realizada drenagem torácica à direita em selo d’água, com saída de 100 mL de sangue; manteve saturação de oxigênio de 70% a 75% mesmo após a drenagem; apresentava hematoma peri-orbitária bilateral, com afundamento de assoalho de órbita direita, fratura nasal, frontal e de joelho esquerdo. Na investigação complementar foram identificadas através de tomografia hemopneumotórax e contusão pulmonar bilateral, além de fratura de face e possível lesão renal à direita. Apresentou PCR cerca de uma hora após a admissão, em atividade elétrica sem pulso, sendo reanimado com retorno da circulação espontânea após 20 minutos, sem execução de cardioversão ou desfibrilação .O pneumotórax à esquerda foi drenado durante o atendimento da PCR. O paciente foi transferido para UTI, sob ventilação mecânica, com drenagem torácica bilateral, instabilidade hemodinâmica; foram mantidas sedação e analgesia (midazolam e fentanil) e realizadas expansão volêmica e instalação de noradrenalina. Os exames de admissão mostravam: Gasometria arterial (FiO2 = 100%): pH = 7,08; PaCO2 = 49 mmHg; PaO2 = 131 mmHg; bicarbonato = 14 mEq/L; BE = -17 mmol/L; SatO2 = 98%. Após expansão volêmica com 1000 mL com solução fisiológica a 0,9%: pH = 7,30; PaCO2 = 1. Médico da Divisão de Pesquisa do Instituto Dante Pazzanese 2. Titulado em Medicina Intensiva pela AMIB. 3. Médico da Disciplina de Clínica Médica da Universidade Federal de São Paulo- UNIFESP-EPM 4. Médico da Disciplina de Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva da Universidade Federal de São Paulo- UNIFESP-EPM 5. Aluno de graduação em medicina e coordenador da Liga Acadêmica da Disciplina de Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva da Universidade Federal de São Paulo- UNIFESP-EPM 6. Professor Titular da Disciplina de Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva da Universidade Federal de São Paulo- UNIFESP-EPM *Recebido da Unidade de Terapia Intensiva Geral da Universidade Federal de São Paulo-UNIFESP, SP Apresentado em 27 de janeiro de 2005 - Aceito para publicação em 21 de março de 2005 Endereço para correspondência: Hélio Penna Guimarães - Divisão de Pesquisa do Instituto Dante Pazzanese - Av. Dr. Dante Pazzanese, 500, 12º Andar - 04012-090 São Paulo, SP - Fones: (11) 50854111 Fax: (11) 55797474 - E-mail: [email protected] 56 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / RELATO DE CASO 40 mmHg; PaO2 = 110 mmHg; bicarbonato = 19mEq/L; BE = -7 mmol/L; SatO2 = 99%. Glicemia = 179 mg/dL; Creatinina = 1,6 mg/dL; Uréia = 48 mg/dL; Sódio = 142 mEq/L; Potássio = 3,7 mEq/L; Albumina = 2,0 g/dL; DHL = 1453 U/L; CPK = 1871 U/L; CKMB = 163 U/L; Troponina = 35 ng/dL. Hemoglobina = 7,1 g/dL; Hematócrito = 21%; Leucograma = 42500/mm3 (M=1; B=21; Seg=67; E=0; L=7; Mono=4); Plaquetas=178000/ mm3; INR = 1,45. O eletrocardiograma compatível com a normalidade; radiografia de tórax com condensação heterogênea bilateral e drenos torácicos adequadamente posicionados. O ecodopplercardiograma demonstrou comprometimento da função sistólica do ventrículo esquerdo em grau importante, com fração de ejeção estimada em 30%, alteração contrátil por hipocinesia difusa e déficit ventricular direito à custa de hipocinesia difusa de grau moderado; não havia aumento de dimensões de câmaras cardíacas e o pericárdio apresentava sem alterações; após apresentação de hematúria e manutenção de instabilidade hemodinâmica refratária, foi submetido a laparotomia exploradora que detectou a artéria renal direita trombosada sendo realizada nefrectomia direita; no pós-operatório foi instalada monitoração hemodinâmica com cateter de Swan-Ganz que demonstrou disfunção cardíaca sugestiva de padrão cardiogênico (Tabela 2). Progressivamente foi reduzida a noradrenalina e iniciada a infusão de dobutamina com dose titulada com o objetivo de manter a SvO2 maior que 70%. A tomografia computadorizada de crânio no dia 26/07 mostrou edema e hematoma laminar parietal. Após seis dias do trauma foi realizado novo ecodopplercardiograma demonstrando cavidades cardíacas com dimensões normais, contratilidade ventricular esquerda conservada (Fe: 70%) e o pericárdio sem alterações, na ausência de droga inotrópica positiva . Foi realizada traqueostomia e teve desmame ventilatório difícil e pneumonia associada à ventilação mecânica, necessitando de antibioticoterapia prolongada. Submetido a procedimentos cirúrgicos para correção de fraturas de face, ombro e joelho direito. Evoluiu estável, recebendo alta da UTI cerca de 60 dias após sua admissão. Não houve seqüelas neurológicas, respiratórias ou cardiovasculares e retornando às atividades laborativas após cerca de cinco meses do acidente. DISCUSSÃO A contusão cardíaca é freqüente em acidentes automobilísticos por sua associação comum ao mecanismo fisiopatológico de “aceleração/desaceleração” (uso de cintos de segurança) ou choque direto sobre tórax. Diversos são os mecanismo de lesão na contusão cardíaca podendo compreender o impacto precordial direto, a compressão cardíaca indireta entre o esterno e a coluna, o freqüente efeito de desaceleração ou torsão (geralmente associado a laceração de vasos da base) e, mais raramente, o efeito hidráulico consistindo de súbito e relevante aumento da pressão em câmaras cardíacas1,2,5. A herniação súbita de vísceras abdominais para cavidade torácica também pode estar associada ao trauma cardíaco5. De acordo com a extensão da contusão, o achado de disfunção contrátil e sintomas como hipotensão refratária podem se manifestar e acentuar a hipóxia perfusional, comumente Tabela 1 – Evolução das Enzimas Musculares CPK (U/L) CK-MB(U/L) Troponina (ng/dL) 19/07 1871 163 35 20/07 3218 134 30,6 21/07 4135 120 28,3 22/07 6048 135 14,9 25/07 2800 80 5,3 27/07 1429 21 5,9 10/08 257 10 5,0 17/08 108 11 3,0 31/08 40 09 2,2 Tabela 2 – Cateter de Swan-Ganz FC (bpm) DC (L/min) PAD (mmHg) PAPm (mmHg) PCP (mmHg) PAS (mmHg) PAM (mmHg) PAD (mmHg) VS (mL/beat) IC (L/min/m2) IS (mL/beat/m2) TSVE (gm-m/beat) ITSVE (gm-m/m2/beat) TSVD (gm-m/beat) ITSVD (gm-m/m2/beat) RVS (dynes.sec/cm5) IRVS (dynes.sec/cm5/m2) RVP (dynes.sec/cm5) IRVP (dynes.sec/cm5/m2) 20/07 00h50 min 83 5,17 16 27 16 95 80 66 62,3 2,46 29,7 71,8 34,2 24,2 11,5 989 2077 170 357 Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 20/07 02h50 min 83 5,50 18 34 22 125 85 65 67,1 2,62 32 82 39,1 32,8 15,6 974 2043 174 366 20/07 06h40 min 87 4,7 14 27 17 106 78 60 54 2,24 25,7 60,7 8,9 21 10 1088 2284 187 394 20/07 15h30 min 112 13,07 21 33 25 127 83 60 116,7 6,23 55,6 139,5 66,5 55,5 26,4 378 1796 49 103 21/07 22h20 min 95 7,05 20 33 23 93 68 54 90 3,36 35,7 74,5 35,5 35,6 17,0 555 1166 113 238 57 RBTI / RELATO DE CASO presente no politraumatismo com perda sangüínea e disfunção vascular, neurológica e pulmonar5. A contusão cardíaca também pode gerar palpitações, dor precordial (confunde-se com osteomuscular) tanto em sua fase aguda quanto em períodos mais tardios. As manifestações clínicas ou achados mais comuns compreendem dor torácica (18% a 92%), fratura de costela (18% a 69%), lesão de grandes vasos (20% a 40%), hemotórax (7% a 64%), contusão pulmonar (6% a 58%), pneumotórax (7% a 40%), tórax instável (4% a 38%) e fratura de esterno (até 60%)1,2,5. Em geral, a lesão torácica como fratura de costelas ou esterno está associada, porém sua ausência em nenhum momento exclui a contusão cardíaca, considerando os mecanismos fisiopatológicos possíveis já descritos1,2. De acordo, com o método utilizado para o diagnóstico, sua freqüência é variável: o eletrocardiograma (29% a 56%), dosagem sérica de CKMB (19%) e de troponina T ou I (15% a 24%), ecodopplercardiografia transtorácica (3% a 26%), ecodopplercardiografia transesofágica (27% a 56%)1,2. As complicações estão em torno de 16%, sendo mais freqüentes as disritmias cardíacas e a insuficiência cardíaca1-4. A classificação dos tipos de contusão cardíaca mais freqüentemente utilizada se baseia nas manifestações clínicas ou nos resultados de necropsia2, tais como ruptura da parede livre do ventrículo, ruptura septal, lesão coronária, disfunção miocárdica, disritmias complexas e com alteração discreta do ECG/ anormalidades enzimáticas. Diversos exames complementares normalmente realizados em situações de politraumatismo como a radiografia de tórax e a tomografia computadorizada não permitem fazer o diagnóstico de contusão cardíaca, mas avaliam possíveis lesões associadas em vasos da base; a ressonância nuclear magnética ainda não têm papel estabelecido, permitindo porém a avaliação mais adequada do diafragma, coluna e aorta torácica6. Quanto ao uso de indicadores bioquímicos, cabe mencionar que na análise histológica é comum achados de hemorragia intramiocárdica, edema e necrose de células miocárdicas, semelhante ao infarto agudo do miocárdio (IAM). Assim, indicadores utilizados para o diagnóstico de lesão miocárdica podem ser utilizados: a dosagem de creationoquinase (CK) não é específica, considerando a freqüente ocorrência de lesão de muscular esquelética associada; a fração MB (CKMB) pode ser mascarada quando sua relação com a CK total ultrapassa 25%, que confere o diagnóstico falso positivo, possivelmente associado a contaminação por macromoléculas (lesão muscular); assim a dosagem de CKMB têm baixa sensibilidade e especificidade, particularmente em contusões moderadas1,7,8. A dosagem de troponina T e I, como no infarto, é específica e permite acurácia diagnóstica, podendo ser forte indicador da ausência de lesão cardíaca, quando negativa; o tempo ideal para coleta de amostra ainda não foi adequadamente definido, mas a rotina de mensuração semelhante ao IAM tem sido utilizada, com dosagens de 3 a 6 h após o trauma para exclusão do diagnóstico ou sua confirmação. A troponina persiste elevada por 4 a 10 dias, o que facilita a avaliação do dano com medidas seriadas4,8,9. Em geral, são comuns picos precoces com redução breve dos valores, a medida que o déficit contrátil também está em reversão. O eletrocardiograma (ECG) pode ser normal ou com al- 58 terações inespecíficas (50% a 70% dos casos) tais como: QT longo, bloqueio de ramo D, BAV de 1º, 2º ou 3º (2% a 15%), ondas Q (2% a 4%), supra ou infra de ST (4% a 42%), disritmias cardíacas atrial e ventricular (2% a 10%), fibrilação atrial (4% a 30%), taquicardia ventricular, fibrilação ventricular, taquicardia sinusal e taquicardia atrial. O ECG não avalia adequadamente o ventrículo direito, permitindo que contusões moderadas com baixa repercussão eletrocardiográfica não sejam diagnosticados1,2,4,5. O ecodopplercardiograma determina achados de disfunção contrátil difusa ou segmentar, de acordo com o mecanismo de lesão; o ecodopplercardiograma transesofágico permite avaliação mais adequada para casos suspeitos de laceração de endotelial aorta ou dissecção de aorta; este método também pode detectar contusões menores com edema, sem movimento anormal da parede10,11; o ecodopplercardiograma permite de maneira mais simples e objetiva seguir a evolução do quadro quanto à sua reversão, análise da fração de ejeção e déficits segmentares. O exames complementares do tipo imagem por radioisótopos são pouco utilizados, considerando que o ecocardiograma os substitua nestas situações de forma adequada; assim, a cintilografia de perfusão miocárdica seria usada para detectar defeitos de perfusão. Nestes casos, se utiliza mais o radioisótopo 201-Thalium(PET scan), que também não visualiza adequadamente o ventrículo direito e portanto tem valor limitado11,12. O uso de tomografia com emissão de positrons têm sido indicada apenas para avaliar a viabilidade em casos de disfunção contrátil sustentada. Assim, considerando a identificação do paciente de risco para contusão cardíaca, é conveniente citar que9,11: • Troponina I e T podem facilitar o diagnóstico e sua dosagem seriada associada ao ECG diário podem determinar possíveis complicações; • A instabilidade hemodinâmica grave sugere a realização de ecodopplercardiografia de urgência, considerando a possibilidade de lesão estrutural; • Derrame pericárdico é achado comum e não implica necessariamente em perfuração ou risco de tamponamento; se há fratura de esterno, é comum a presença de irritação pericárdica, gerando transudato local. O tratamento recomendado exige especial atenção para manifestação de disritmias, mais freqüentes nas primeiras 24 a 48 horas pós-trauma (81% a 95%). A estabilização hemodinâmica deve ser precoce, considerando que a baixa perfusão pode implicar na associação de isquemia à área traumatizada e extensão da lesão11. O diagnóstico de lesão estrutural pode desencadear a imediata realização de procedimentos cirúrgicos. Não está ainda definido se a monitoração hemodinâmica invasiva com cateter de artéria pulmonar é indispensável e seu real impacto sobre o prognóstico; o manuseio dos quadros de baixo débito associados é semelhante a outras doenças, indicando-se o uso de inotrópicos e vasodilatadores; a dobutamina não está definida como possivelmente associada a pior mortalidade tardia, como em outras situações de baixo débito; também não há descrição do uso de levosimendan para estas situações, apesar de também não haver motivos claros para sua contra-indicação. O seguimento com ecodopplercardiograma ainda não é procedimento solidamente recomendado quanto a sua periodicidade e o método de execução(esofágico ou transtorácico), RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / RELATO DE CASO porém permite detectar as rápidas mudanças da performance contrátil comuns com a reversão rápida do quadro. O prognóstico da contusão cardíaca é similar aos casos de infarto quando há ocorrência de necrose ou formação de aneurismas, podendo surgir em alguns casos de insuficiência cardíaca crônica. A descrição de derrame pericárdico, miocardiopatia dilatada, ruptura aguda ou tardia de septo ventricular e trombose intracradíaca são descritas na literatura associadas a pior prognóstico. A ocorrência de pericardite constritiva, aneurismas de ventrículo, disfunção de VD inexplicáveis justificam sempre avaliar o antecedente de uma contusão cardíaca prévia1,11. RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: A contusão cardíaca é achado freqüente em condições de trauma fechado de tórax associado a acidentes automobilísticos. A incidência exata desta doença permanece desconhecida; estima-se que esteja presente, em média, em 20% dos traumatismos torácicos fechados. Este artigo visa descrever um caso de trauma cardíaco e pulmonar que evoluiu com grave disfunção contrátil e realizar uma abordagem prática desta condição clínica. RELATO DO CASO: Paciente do sexo masculino, 33 anos, vítima de acidente automobilístico (com moto), foi atendido no PS com hemopneumotórax à direita com contusão pulmonar extensa e hemopneumotórax à esquerda. Cerca de uma hora após a admissão, apresentou parada cardiorrespiratória (PCR) em atividade elétrica sem pulso. Reanimado com retorno da circulação espontânea após 20 minutos, sem execução de cardioversão ou desfibrilação. O paciente foi transferido para UTI, sob ventilação mecânica, com drenagem torácica bilateral, instabilidade hemodinâmica; nos exames complementares apresentava CPK = 1871 U/L; CKMB = 163 U/L; Troponina = 35 ng/dL; eletrocardiograma normal e o ecodopplercardiograma transtorácico com comprometimento da função sistólica do ventrículo esquerdo em grau importante, hipocinesia difusa e fração de ejeção baixa. Durante a evolução na UTI, após seis dias do trauma e uso de dobutamina foi realizado novo ecodopplercardiograma Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 demonstrando cavidades cardíacas com dimensões normais, contratilidade ventricular esquerda conservada e o pericárdio sem alterações. Evoluiu estável, recebendo alta da UTI cerca de 60 dias após a sua admissão. CONCLUSÕES: A contusão cardíaca é freqüente em acidentes automobilísticos e suas complicações estão em torno de 16%; o óbito de causa cardiovascular é raro (em torno de 1,5%) e geralmente secundário ao choque cardiogênico refratário. Os métodos mais utilizados para o diagnóstico são eletrocardiograma, dosagem sérica de CKMB e de troponina T e I, ecodopplercardiografia. O tratamento recomendado exige especial atenção para manifestação de disritmias cardiacas. Unitermos: contusão cardíaca; choque cardiogênico; troponina REFERÊNCIAS 01. Sybrandy KC, Cramer MJ, Burgersdijk C - Diagnosing cardiac contusion: old wisdom and new insights. Heart, 2003;89:485-489. 02. Schultz JM, Trunkey DD - Blunt cardiac injury. Crit Care Clin, 2004;20:5770. 03. Collins JN, Cole FJ, Weireter LJ et al - The usefulness of serum troponin levels in evaluating cardiac injury. Am Surg, 2001;67:821-826. 04. 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Bertinchant JP, Polge A, Mohty D et al - Evaluation of incidence, clinical significance, and prognostic value of circulating cardiac troponin I and T elevation in hemodynamically stable patients with suspected myocardial contusion after blunt chest trauma. J Trauma, 2000;48:924-931. 10. Hiatt JR, Yeatman LA Jr, Child JS - The value of echocardiography in blunt chest trauma. J Trauma, 1988;28:914-922. 11. Sybrandy KC, Oosterom L, Burgersdijk C et al - Unexplained right ventricle dilatation clarified by a cardiac contusion many years ago. Ned Tijdschr Geneeskd, 2001;145:2443-2446. 12. Lopez-Majano V, Sansi P, Colter R - Nuclear medicine in the diagnosis of cardiac contusion. Eur J Nucl Med, 1985;11:290-294. 59 RBTI / RELATO DE CASO Uso de Sildenafil® para Facilitar a Retirada de Óxido Nítrico Inalado em Pós-Operatório de Hérnia Diafragmática. Relato de Caso* Sildenafil® Facilitates Weaning of Inhaled Nitric Oxide withdrawal Following Diaphragmatic Hernia Surgery. Case Report Edmundo Clarindo Oliveira1, Adrianne Mary Leão Sette e Oliveira2, Carlos Faria Santos Amaral3, José Sabino de Oliveira4. Marcelo Eller Miranda5, Andrey Kaliff Pontes5. SUMMARY BACKGROUND AND OBJECTIVES: Pulmonary hypertensive crises is a phrase used to describe a serious syndrome of hyperacute rise in pulmonary arterial pressure, usually accompanied by bronchospasm, often following within seconds, or accompanied by, profound reduction in cardiac output and fall in arterial oxygen saturation; these sequelae may be irreversible. Inhaled nitric oxide (iNO) is the first line drug to control this crises. Some patients are dependent on iNO, increasing the length of hospital stay. To show the use of oral sildenafil to avoid effects of iNo withdrawal. CASE REPORT: A 2.3 kg newborn with diaphragmatic hernia underwent surgical correction one day after he was born. Pulmonary hypertension crises complicated the initial postoperative period. Inhaled NO at 40ppm was administered and immediately reduced pulmonary pressure from to less too half- systemic levels. Several attempts to withdrawal-inhaled oxide nitric (iNO) resulted in failure. Sildenafil was given via nasogastric tube 0.5 mg/kg every 6h and iNO could be withdrawn 48h later without increase in pulmonary pressure. Sildenafil withdraw was successfully done in 19 day after surgery. CONCLUSIONS: Oral sildenafil can avoid rebound pulmonary hypertension crises caused by withdrawal of inhaled nitrous oxide. Key Words: pulmonary hypertensive crises, sildenafil A elevação súbita da pressão pulmonar (PP), com diminuição do debito cardíaco, hipoxemia refratária e óbito podem complicar alguns tipos de cirurgia cardíaca ou outras intervenções cirúrgicas que envolvam o sistema cardiorrespiratório no período neonatal. É também uma condição associada à hérnia diafragmática congênita, em que há hipoplasia pulmonar, com conseqüente interrupção do crescimento brônquico, menor número total de alvéolos para troca gasosa, redução no total de ramos arteriais, hipertrofia do músculo liso das artérias pulmonares, o que resulta em hipertensão pulmonar persistente do recémnascido (HPPRN). Essa elevação súbita da pressão pulmonar é denominada crise de hipertensão pulmonar (HP), sendo considerada uma complicação grave, com alto índice de mortalidade, se medidas emergenciais não forem tomadas para a sua diminuição. O objetivo do tratamento é a diminuição da PP para níveis inferiores a 50% da pressão sistêmica. As medidas habitualmente utilizadas como oxigênio a 100% e hiperventilação, alcalinização do sangue, sedação e bloqueadores neuromusculares nem sempre são suficientes e o uso de vasodilatadores para diminuir a PP torna-se obrigatório. A droga mais usada é o óxido nítrico inalado (ONI), por apresentar ação vasodilatadora pulmonar específica1, meia vida curta e início de rápido de ação. O uso prolongado do ONi aumenta os efeitos colaterais e o tempo de internação em unidade de tratamento intensivo, além de ter alto custo. As tentativas de retirada do ONi nem sempre têm sucesso. O caso relatado mostra o emprego de sildenafil permitindo a sua retirada, após várias tentativas em suspendê-lo sem sucesso. RELATO DO CASO Recém-nascido, 38 semanas de idade gestacional cronológica, adequado para a idade gestacional, com 2,3 kg, nasceu de parto cesariano indicado por diagnóstico pré-natal de hérnia diafragmática congênita. Foi admitido na unidade de tratamento intensivo, iniciando-se ventilação mecânica, com FiO2 máxima de 0,4, mantendo-se hemodinamicamente estável. Foi submetido à correção cirúrgica da hérnia com 24 horas de vida. No pós-operatório, evoluiu com crises de hipertensão pulmonar, caracterizadas por aumento súbito da freqüência cardíaca, diminuição da saturação sistêmica de oxigênio e da hipotensão arterial. A relação entre pressão a pulmonar estimada pelo ecocardiograma e a pressão sistê- 1. Chefe do Serviço de Cardiologia Pediátrica da Fundação Hospitalar de Minas Gerais; Hemodinamicista Pediátrico do Hospital das Clínicas de Belo Horizonte (BH) – UFMG. 2. Pediatra Intensivista do Hospital das Clínicas – BH- UFMG 3. Professor Adjunto de Clínica Médica da Universidade Federal de Minas Gerais 4. Chefe do CTI Infantil do Hospital das Cínicas – BH- UFMG 5. Professor Adjunto do Departamento de Cirurgia Pediátrica H. Clínicas – BH- UFMG. 6. Cirurgião Pediátrico do H. Clínicas – BH- UFMG. *Recebido do Hospital das Clínicas de Belo Horizonte - Universidade Federal de Minas Gerais, MG Apresentado em 26 de janeiro de 2005 - Aceito para publicação em 28 de fevereiro de 2005 Endereço para correspondência: Edmundo Clarindo Oliveira - Rua Teodomiro Cruz 65/102 -Novo São Lucas - 30240-530 Belo Horizonte, MG - Fone: (31) 3283-4092 – Cel: 9132-8831 Fax: (31) 3337-9988 - E.mail: [email protected] 60 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / RELATO DE CASO mica (PS) por método não-invasivo era 1,1. O paciente foi tratado com aminas vasoativas, alcalinização do sangue, sedação, analgesia contínua e bloqueadores neuromusculares, sem sucesso. O óxido nítrico inalado foi iniciado na dose de 20 ppm e aumentado até 40 ppm com melhora clínica e diminuição da PP e da relação PP/PS para 0,35. Após cinco dias de estabilidade, foi iniciada a retirada gradual do ONi, sem sucesso, com recidiva das crises de HP. O sildenafil por via oral na dose de 0,5 mg/kg por sonda nasogástrica a cada seis horas foi administrado. A retirada do ONi ocorreu 48 horas após o início do sildenafil. O quadro clínico e a medida da relação PP/PS foram avaliados diariamente antes e após a introdução do sildenafil. Após a retirada do ONi e estabilidade do quadro por dois dias, iniciou-se a diminuição empírica do sildenafil, 20% a cada 48 horas, sempre precedido e seguido da avaliação ecocardiográfica, até a sua suspensão total, no 19º dia de tratamento. Após a alta do CTI, o paciente foi acompanhado clinicamente e com realização de ecocardiograma, sem evidências de HP. O controle ambulatorial tem sido realizado regularmente há quatro meses, apresentando boa evolução e sem evidências de hipertensão pulmonar. DISCUSSÃO A crise de HP é uma emergência médica de alta mortalidade, se medidas para diminuir a pressão pulmonar não forem tomadas de imediato. As crises de HP são classificadas em leves, quando a PP é menor que 50% da PS; moderadas quando a PP é 50% a 70% da PS e grave quando maior que 70%. As manifestações clínicas mais comuns são taquicardia, diminuição da saturação sistêmica de oxigênio, hipotensão arterial sistêmica, disritmias cardíacas e óbito. Os pacientes susceptíveis a crises de HP são aqueles em pós-operatório de cirurgia cardíaca e cirurgias com envolvimento dos pulmões no período neonatal e paciente submetidos à cirurgia cardíaca com HP grave previamente. Os fatores desencadeantes são aspiração, agitação, acidemia, hipoxemia de causas diversas. O diagnóstico é suspeitado pelas manifestações clínicas em pacientes de alto risco, e confirmado por estudo ecocardiográfico ou por monitorização direta da PP com cateter. O diagnóstico ecocardiográfico é feito pelo cálculo da diferença de pressão entre ventrículo direito e o átrio direito, acrescido de 10 mmHg, essa assumida como pressão do átrio direito. O tratamento das crises de HP consiste em eliminar os fatores desencadeantes e medida direta para reduzir os níveis da pressão pulmonar. A medida utilizada para diminuir a PP é sedação do paciente com midazolam e fentanil, quando necessário, uso de bloqueadores neuromusculares e a manutenção do pH sangüíneo entre 7,50 e 7,55. Na ausência de boa resposta, há necessidade do uso drogas para diminuir a PP e várias tem sido utilizadas como prostaciclina, adenosina em infusão contínua, inibidores da difosfoesterase 3 e óxido nítrico1, sendo o último o mais usado, por apresentar uma meia vida curta (fração de segundos) e ação vasodilatadora específica para a circulação pulmonar. Em casos refratários a essas medidas, pode ser empregada a circulação extracorpórea, com uma mortalidade ainda alta. Após o controle da HP, espera-se que haja um ajuste da vasculatura arteriolar pulmonar, com possibilidade da retiraVolume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 da das medicações em alguns dias. Entretanto, há casos em que não se consegue a suspensão da medicação para controle da HP, por recidiva das crises, o que representa um grande problema terapêutico. No caso apresentado, após fracasso de várias tentativas em suspender o ONi, mesmo de forma gradual, foi optado pelo uso do sildenafil oral na dose de 0,5 mg/ kg quatro vezes ao dia. As doses do sildenafil para crianças não está bem estabelecida, com relatos esporádicos de doses de 2 a 9 mg/kg/dia divididas em quatro a seis vezes2. O paciente apresentou boa resposta, permitindo a diminuição e a suspensão do ONi após 48 horas de uso. A diminuição da dose do sildenafil foi feita empiricamente a cada dois dias, precedida de uma avaliação clínica e ecocardiográfica, com medida da pressão pulmonar. O sildenafil (Viagra®), usado no tratamento da disfunção erétil e comercializado para esse fim, passou a ser utilizado no tratamento da HP. Ele é um inibidor seletivo e potente da fosfodiestarase 5 (PDE5), específica para o monofosfato de guanosina cíclico (GMPc) abundante nos pulmões. A inibição da fosfodiesterase 5 impede a degradação de GMPc, que é um mensageiro intracelular do óxido nítrico, com conseqüente vasodilatação pulmonar3. A literatura apresenta relatos cada vez mais freqüentes sobre o uso do sildenafil no tratamento da hipertensão pulmonar de diversas causas4,5 e, principalmente, a hipertensão arterial pulmonar idiopática (HAPI)6,7. Seu uso para potencializar a ação do óxido nítrico8,9 e facilitar sua retirada10,11 tem sido usado com sucesso em esporádicos relatos de casos. O sildenafil é uma droga facilmente disponível, ativa por via oral e de custo baixo para uso temporário. A expectativa para o emprego do sildenafil em situações semelhantes é animadora. Entretanto, o número de casos relatados até então é pequeno para obter-se conclusões definitivas. Outra possibilidade é o seu emprego por via venosa12, usado experimentalmente até o momento. Abreviações PP- pressão pulmonar HPPRN- hipertensão pulmonar persistente do recém –nascido HP - hipertensão pulmonar ONi- óxido nítrico PS- pressão arterial sistêmica HAPI- hipertensão arterial pulmonar idiopática INO - inhaled nitric oxide RESUMO Justificativa e objetivo: O termo crise de hipertensão pulmonar é usado para descrever uma grave síndrome de aumento súbito da hipertensão arterial pulmonar, usualmente acompanhado de broncoespasmo, de redução do débito cardíaco e da saturação sistêmica de oxigênio. Essa complicação pode causar seqüelas irreversíveis. Óxido nítrico inalado (ONi) é a droga de escolha para tratar essas crises. Alguns pacientes tornam-se dependentes do ONi, aumentando o tempo de internação hospitalar. O objetivo desse trabalho é mostrar o uso do sildenafil oral facilitando a retirada do ONi. Relato de Caso: Neonato de 2,3 Kg foi submetido à correção cirúrgica de hérnia diafragmática no segundo dia de vida. O pós-operatório imediato foi complicado com crises de hi- 61 RBTI / RELATO DE CASO pertensão pulmonar, controladas com 40ppm de ONi. Várias tentativas foram feitas para a retirada gradual do ONi sem sucesso. Sildenafil foi administrado por sonda nasogástrica na dose de 0,5 mg/kg a cada 6 horas, permitindo a retirada do ONi 48 horas após o seu início.Sildenafil foi suspenso com sucesso no 19odia após a cirurgia. Conclusão: Sildenafil oral pode evitar recidiva de crise de hipertensão pulmonar causada pela retirada do ONi. Unitermos: crise de hipertensão pulmonar, sildenafil REFERÊNCIAS 01. Ichinose F, Roberts JD, Zapol WM - Inhaled nitric oxide: a selective pulmonary vasodilator: current uses and therapeutic potential. Circulation, 2004;109:3106-3111. 02. Laquay N, Levy ML, Vaccaroni L et al - Use of oral sildenafil (Viagra) in pulmonary hypertension after cardiac pediatric surgery. Ann Fr Anesth Reanim, 2003;22:140-143. 03. Michelakis E, Tymchak W, Lien D et al - Oral sildenafil is an effective and specific pulmonary vasodilator in patients with pulmonary arterial hypertension: comparison with inhaled nitric oxide. Circulation, 2002;105:2398-2403. 62 04. Molina J, Luccero E, Luluagas S et al - Systemic lupus erythematosus associated with pulmonary hypertension: good outcome following sildenafil therapy. Lupus, 2003;12:321-323. 05. Ghofrani HA, Schermuly RT, Rose F et al - Sildenafil for long-term treatment of nonoperable chronic thromboembolic pulmonary hypertension. Am J Respir Crit Care Med, 2003;167:1139-1141. 06. Kothari SS, Duggal B - Chronic oral sildenafil therapy in severe pulmonary artery hypertension. Indian Heart J, 2002;54:404-409. 07. Michelakis ED, Tymchak W, Noga M et al - Long-term treatment with oral sildenafil is safe and improves functional capacity and hemodynamics in patients with pulmonary arterial hypertension. Circulation, 2003;108:20662069. 08. Atz AM, Lefler AK, Fairbrother DL et al - Sildenafil augments the effects of inhaled nitric oxide for postoperative pulmonary hypertension crises. J Thorac Cardiovasc Surg, 2002;124:628-629. 09. Bigatello LM, Hess D, Dennehy KC et al - Sildenafil can increase the response to inhaled nitric oxide. Anesthesiology, 2000;92:1827-1829. 10. Atz AM, Wessel DL - Sildenafil ameliorates effects of inhaled nitric oxide withdrawal. Anesthesiology, 1999;91:307-310. 11. Mychaskiw G, Sachdev V, Heath BJ - Sildenafil (viagra) facilitates weaning of inhaled nitric oxide following placement of a biventricular-assist device. J Clin Anesth, 2001;13:218-220. 12. Shekerdemian LS, Ravn HB, Penny D - Intravenous sildenafil lowers pulmonary vascular resistance in a model of neonatal pulmonary hypertension. Am J Crit Care Med, 2002;165:1098-1102. RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / RELATO DE CASO Intervenções Psicológicas em Situações de Crise na Unidade de Terapia Intensiva. Relato de Casos* Psychological Interventions on Crisis Situations at Intensive Care Unit. Case Reports Andrea Vannini Santesso Caiuby1, Paola Bruno de Araujo Andreoli2 SUMMARY BACKGROUND AND OBJECTIVES: Psychological interventions on crisis situations have been considered as huge assistant on critical patients’ care and on their families at Intensive Care Units. Those interventions that are based on techniques of reducing anxiety, on a wide conceptual knowledge, take as prerequisites assistant handling centered on team, differential diagnosis, support psychological care, ambient handling, relax techniques and family interventions. Having the purpose of contributing to the development of psychological techniques of caring patients on crisis situations. CASE REPORTS: Five clinical cases were selected and questions techniques related to intensive therapy context were discussed and to its benefits due to handling with critical patients. The bases of psycho-analytical understanding and the use of complementary and cognitive techniques base the intervention and make possible psychotherapeutic, psycho-educational and supportive actions. CONCLUSIONS: The use of complementary techniques and sensitization of the recognition of the necessities in the context of the emotional inter-relations, related to the patient, the medical team and to the family, configures two other characteristics of the psychologist’ work. Psychological interventions at hospital both promote support and create favorable conditions on reestablishing patients and family that are founded at Intensive Care Unit. Key Words: crisis intervention; intensive care unit; psychology; supportive psychotherapy O psicólogo tem se inserido nos hospitais por meio de ações assistenciais que abrangem desde a prevenção até a paliação. Um dos principais desafios dessa especialidade tem sido fundamentar e desenvolver técnicas de intervenção psicológica que atendam as demandas específicas de ambientes hospitalares diferenciados. Uma das teorias que muito tem auxiliado na consecução dessa tarefa é a teoria de crise, que é derivada da psicoterapia breve de embasamento psicanalítico. Crise é compreendida como um estado psicológico, onde o fator desencadeante é o desequilíbrio entre a percepção da dificuldade, a importância do problema e os recursos disponíveis para sua solução1. Segundo Harbert2, esse estado emocional de perturbação agudo também pode ser gerado por fontes situacionais e socioculturais, resultando na incapacidade temporária da pessoa em lidar com a situação com seus meios habituais de solução do problema. Considera-se, ainda, que a crise é um ponto de transição que possibilita o uso de ações preventivas, como as intervenções focais direcionadas aos sintomas, com objetivo de evitar a sua cristalização. As intervenções psicológicas promovem alívio da angustia e da ansiedade, favorecendo o desenvolvimento de um estado emocional mais tolerável e capaz de restaurar a estabilidade afetiva e as relações com o ambiente. As intervenções para pacientes em crise devem levar em conta, essencialmente, a percepção de que não apresentam condições emocionais para tolerar abordagens técnicas que sejam geradoras de ansiedade, como, por exemplo, aquelas que trabalham com interpretação de forças inconscientes3. Assim, as intervenções com os pacientes em crise devem utilizar-se de técnicas supressoras de ansiedade. As intervenções para paciente em crise se aplicam em ambiente hospitalar e, principalmente, em pacientes gravemente enfermos e que se encontram em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), beneficiando-se de tratamentos de elevado nível tecnológico e de alta complexidade que tais unidades possuem. O ritmo da assistência habitualmente é acelerado, guiado por um intenso controle dos parâmetros clínicos, por manutenção do tratamento estabelecido ou por constantes necessidades de mudanças nas condutas médicas e nos cuidados de enfermagem. A essas características soma-se a dimensão individual do paciente e da família que vivenciam um processo de adaptação às alterações e às perdas de ordem física, emocional e social4,5. Por tais razões, pode ocorrer uma elevação da tensão interna do paciente, cuja manutenção, sem sucesso de resolução, pode progredir para patamares insuportáveis, propiciando o aparecimento de alterações psíquicas pouco favoráveis para o seu bem-estar, caracterizando-se uma situação de crise. A compreensão dessas alterações e a escolha da intervenção psicológica devem considerar as diversas inter-relações entre as características do paciente, sua história prévia e as manifestações psíquicas decorrentes de alterações físicas, como os distúrbios do sono, a amnésia dissociativa, a irritabilidade e a ansiedade6, ou os estados confusionais7. Nesse contexto, deve-se considerar, portanto, o uso de (a) manejo assistencial centrado na equipe, (b) diagnóstico diferencial, (c) atendimento psicológico de apoio, (d) manejo am- 1. Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP-EPM). 2. Coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital Albert Einstein. Especialista em Psicologia da Saúde, Mestre em Saúde Mental e Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP-EPM). *Recebido do Serviço de Psicologia do Hospital Albert Einstein, São Paulo, SP Apresentado em 01 de setembro de 2004 – Aceito para publicação em 26 de janeiro de 2005. Endereço para correspondência: Andrea Vannini Santesso Caiuby - E-mail: [email protected] Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 63 RBTI / RELATO DE CASO biental (e) técnicas complementares e (f) intervenção familiar. Ainda assim, a flexibilidade e a criatividade nas soluções da situação de crise são condições fundamentais para a percepção das necessidades que cada caso apresenta8. Com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento da técnica psicológica no atendimento a esses pacientes, serão discutidas questões relativas à aplicação da técnica e da inserção do psicólogo no contexto de Terapia Intensiva, sendo exemplificadas através de casos clínicos. Para isso, foram utilizados dados de evolução em prontuário e anotações do próprio psicólogo sobre seus atendimentos. Estes registros fazem parte da rotina de assistência psicológica no hospital e foram coletados retrospectivamente. Os dados demográficos dos pacientes foram alterados e as descrições modificadas a fim de preservar o anonimato dos pacientes e seus familiares sem, contudo, alterar o contexto trabalhado. MANEJO ASSISTENCIAL O manejo da situação de crise deve abranger, muitas vezes, o trabalho direto com a equipe, a despeito da possibilidade de intervenção psicológica diretamente com o paciente ou com seus familiares. Assim, a análise da dinâmica hospitalar passa pelo reconhecimento de que a equipe de saúde compõe o setting no qual o psicólogo irá atuar, permitindo o manejo assistencial com a equipe multiprofissional. Essa leitura do contexto terapêutico provém da análise psicanalítica das relações humanas, a qual compreende que o paciente estabelecerá um vínculo emocional com a equipe através de transferências de conteúdos psicológicos decorrentes tanto da sua personalidade, de sua história de vida e de seu adoecimento, quanto do momento de vida atual. Segundo Kubie9, definiu e aplicou o termo transferência à relação entre os homens, que consiste de elementos conscientes e inconscientes e que são reportados a partir de atitudes, de necessidades, de sentimentos, de expectativas, de crenças e de objetivos em relação aos outros, sendo esses modelos desenvolvidos na infância e ao longo da vida. Assim, a equipe de saúde é alvo de transferência de conteúdos internos dos pacientes e familiares, cujo movimento deve ser cuidado pelo psicólogo, procurando viabilizar um ambiente terapêutico propício para o restabelecimento do paciente10. do um estado de ansiedade exacerbada, por ter entrado em contato com a realidade, mas mantendo-se ambivalente – esforçava-se para negá-la. A discussão inicial do caso com a equipe de saúde centralizou-se na ambivalência apresentada pelo marido e nas formas com que a equipe poderia organizar-se para contribuir com o seu processo de adaptação à realidade da paciente. Notou-se que a equipe apresentava dificuldade em prover os cuidados de conforto e de higiene, por se ter identificado com o sofrimento da família, o que tornava esses cuidados uma tarefa difícil e angustiante. A primeira ação da psicóloga foi oferecer suporte à equipe e sugestões de condutas que pudessem auxiliar na assistência, diminuindo o nível de angústia. Essas ações consistiram na mudança da postura referente à higiene da paciente, permitindo a presença do marido para que ele pudesse perceber que a equipe estava presente e investindo no conforto, até propiciar uma conversa direta e sincera sobre as alterações clínicas da paciente. Uma outra ação foi direcionada ao fornecimento de informações e ao acolhimento dessa família por meio de uma reunião entre equipe médica e os familiares. A partir dessas ações, a inserção da psicóloga caracterizou-se pelo suporte diário ao trabalho da equipe com o marido – que permaneceu dentro da UTI até a morte da paciente – bem como por algumas orientações pontuais para os familiares. Após quatro dias a paciente evoluiu a óbito. Dessa maneira, o psicólogo atuou como um mediador entre as necessidades da família e da equipe, podendo gerar um ambiente propício aos cuidados necessários à paciente e à família. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O conhecimento da interface físico-psíquica envolvida no processo de adoecimento do paciente é de vital importância para que a intervenção psicológica seja efetiva. Nesse sentido, a tarefa do psicólogo faz-se pelo ato de compreender e de conciliar as diferentes opiniões, entre diversos sistemas conceituais de interpretação, seja ele psicodinâmico ou biológico11. A compreensão de diferentes saberes e a discussão em equipe multiprofissional, no contexto hospitalar, torna-se de fundamental importância tanto para análise da situação, quanto para seleção da técnica, do tipo de assistência e do acompanhamento na evolução do caso. EXEMPLO DE CASO EXEMPLO DE CASO Paciente com 32 anos, vítima de acidente automobilístico, com politrauma e estado comatoso. No segundo dia de internação na UTI, foi solicitado pela enfermeira auxílio da psicologia para avaliação da possibilidade da permanência do familiar ao lado da paciente. Segundo a enfermeira, mesmo tendo o médico plantonista informado sobre o prognóstico (possível morte encefálica), o marido parecia não compreender a gravidade do quadro. Apresentava-se ansioso, desejando permanecer ao lado da esposa e solicitando constantes cuidados a ela. A enfermeira concordava com a solicitação do marido em permanecer ao lado da esposa, pois a paciente estava vivendo suas últimas horas. Entretanto, não acreditava que ele tivesse condições emocionais para permanecer na UTI. O marido foi entrevistado pela psicóloga, demonstran- Paciente com 64 anos, internada na unidade semi-intensiva devido a um acidente automobilístico, com fraturas nos membros superiores, costelas e perfuração do pulmão. Segundo informações da equipe, a paciente encontrava-se há mais de uma semana com dores. A enfermagem solicitou uma avaliação psicológica, pois a paciente estava muito queixosa – solicitava administração de analgésicos o tempo todo – recusando-se a cooperar com os procedimentos e com os cuidados de enfermagem, mesmo em vigência de analgesia. Na entrevista com a paciente, esta referiu intensas dores que a impossibilitavam de suprir necessidades básicas, como comer e dormir, além de dificultar sua cooperação com os procedimentos de fisioterapia e de enfermagem (tomar banho, por exemplo). A paciente referia, ainda, que se sentia pouco 64 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / RELATO DE CASO compreendida em suas queixas em relação à intensidade da dor. Em entrevista com a família, esta referiu que a paciente tinha histórico de baixo limiar para dores, mas não viam que suas queixas atuais fossem desproporcionais àquilo que estava sentido. A família referia, também, que a paciente não tinha qualquer histórico de sintomas depressivos, nem de ansiedade. Em revisão de prontuário, pôde-se constatar que a sedação estava prescrita para ser administrada por demanda, ou seja, mediante a solicitação da paciente. A demanda centralizava-se na dor e nos cuidados necessários, sendo a solicitação para avaliação psicológica norteada por duas questões: Será que a paciente estava sentindo as dores que referia ou as queixas eram de ordem emocional? Esses comportamentos eram derivados, ou não, de um quadro de estresse agudo? À psicóloga coube a tarefa de desfocar a questão de etiologia da dor – se física ou emocional – e direcioná-la à escuta da queixa da paciente, podendo contribuir para a compreensão de que a vivência da dor tinha caráter não-adaptativo e havia sido desenvolvida, provavelmente, pela contínua experiência de “sentir dor”. Assim, a equipe médica e de enfermagem pôde modificar o plano de cuidado de maneira que permitisse uma analgesia contínua. Nos dias que se seguiram, observou-se que a paciente apresentou bem-estar, mostrando-se colaborativa aos cuidados oferecidos pela enfermagem, restabelecendo o vínculo de confiança com a equipe. Dessa forma, a sugestão para a avaliação psicológica da paciente não somente contribuiu para o fortalecimento e para a manutenção de vínculo de confiança entre equipe e paciente, mas também favoreceu a elaboração de diagnóstico clínico diferencial, o qual otimizou o tratamento em questão. ATENDIMENTO PSICOLÓGICO DE APOIO E MANEJO AMBIENTAL As intervenções psicoterápicas de apoio devem ser direcionadas a pacientes que se encontram em situações de crise, mas que apresentam característica de personalidade que possibilite a construção de pensamentos abstratos e que permita vincular-se ao terapeuta. Esses critérios de indicação atendem, também, ao enquadre da técnica, pois sendo um atendimento focal na crise a eficácia da técnica relaciona-se diretamente a condição psíquica e clínica do paciente. Destaca-se, no atendimento psicológico de apoio, a postura ativa do terapeuta no manejo da assistência, a fim de permitir continência às expressões, clarificação e reasseguramento das soluções do paciente diante o conflito. Portanto, o papel do terapeuta caracteriza-se por participar ativamente do cuidado, expressando concordância com idéias ou atitudes do paciente (quando pertinentes), reforçando funções adaptativas do ego, reassegurando a boa percepção da realidade e clarificando as características do paciente, ou episódios de sua vida, que podem estar envolvidos nos conflitos atuais. Essa abordagem visa diminuir a angústia e a ansiedade, aumentando o conhecimento do paciente sobre sua condição psíquica e auxiliando-o a enfrentar a sua atual situação de vida12. A atuação do psicólogo direcionada ao ambiente deve ser embasada nas necessidades do paciente e no conhecimento das características do ambiente. Dessa maneira, o psicólogo pode promover algumas mudanças favoráveis ao bem estar e Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 à reabilitação do paciente, como por exemplo, (a) solicitar a presença ou retirada de objetos (livros, som ou fotos) ou de pessoas no ambiente, (b) diminuir estressores (luz, barulho, privação de água ou de sono) e (c) sugerir mudanças de leitos, unidades ou rotinas13. As necessidades dos pacientes, dos familiares e da equipe mudam a cada momento do tratamento em UTI, os quais trazem novos períodos de instabilidade e de adaptação, desencadeados por mudança de medicação, por novo exame, por desmame do ventilador, por troca de unidade, por troca de enfermeira, entre outros. Portanto, as psicoterapias em contexto hospitalar consistem na ação direta ao paciente, bem como ações de manejo assistencial e ambiental, tornando o trabalho do psicólogo muito mais abrangente. EXEMPLO DE CASO Paciente com 68 anos apresentava metástase ganglionar e estava realizando o tratamento de radioterapia, internado na unidade semi-intensiva para tratamento de infecção respiratória. A enfermagem solicitou a avaliação psicológica, referindo que o paciente chorava o tempo todo, durante todos os procedimentos, o que impunha certa dificuldade em ser cuidado. Além disso, o paciente não se alimentava e apresentava dificuldades para dormir. Na entrevista com o paciente, este referiu estar necessitando de ajuda, pois estava perdendo o controle das situações e estava sofrendo diante a ameaça da perda da condição física, da independência, de suas atividades, da autonomia para se locomover, da troca de papéis familiares e da diminuição da condição econômica e social. As sessões de atendimento psicológico de apoio foram realizadas diariamente, durante a primeira semana, e, posteriormente, em dias alternados, até o paciente vir a falecer. A avaliação psicológica focou-se no problema atual, na análise das condições emocionais do paciente em se restabelecer da crise e na investigação do suporte familiar e social. Detectou-se que a demanda inicial do paciente era de auxílio, para restabelecer o controle sobre os seus sentimentos, controle este dificultado pela extrema angústia. Foi indicada psicoterapia de apoio para o momento de crise, com o objetivo de promover o desenvolvimento de estados emocionais mais adaptativos. Outras ações do psicólogo foram direcionadas à equipe e ao ambiente, para que o setting pudesse favorecer o vínculo e o trabalho terapêutico. Assim, a família foi orientada a restringir as visitas e a minimizar as situações de exposição do paciente a problemas econômicos e sociais. À equipe de enfermagem foi solicitado que auxiliasse o paciente a participar ativamente de sua rotina, promovendo maior independência e maior autocontrole, evitando infantilizá-lo, e a diminuir os fatores de estresse por ele mencionados, como por exemplo: constantes interrupções do sono no período noturno e organização da rotina de medicação, banho e exames. TÉCNICAS COMPLEMENTARES As técnicas de relaxamento favorecem o bem-estar e a melhoria do estado emocional do paciente que se encontra em 65 RBTI / RELATO DE CASO situação de estresse prolongado ou de crise14. Propiciam, ainda, o desenvolvimento de estados emocionais que capacitem o paciente a tolerar níveis elevados de angústia e de ansiedade, podendo ser indicado no momento de um procedimento diagnóstico, procedimento terapêutico invasivo, ou para pacientes que se encontram em ambientes desagregadores por tempo demasiado. A utilização de técnicas complementares, na assistência psicológica a pacientes em crise, cumpre o objetivo de promover suporte e de propiciar condições para uma adaptação mais rápida, por meio de um vínculo de confiança e de conforto15. Um dos exercícios de relaxamento utilizado em pacientes graves consiste na adaptação da técnica autógena de J. H. Schultz, onde, através da imaginação ativa, criam-se condições de relaxamento para todos os grupos musculares do corpo, pela indução da sensação de calor e do estado pesado e relaxado de músculos, tendões e órgãos, seguido de uma transposição a um lugar seguro e confortável15,16. Esse exercício é extremamente propício, pois é realizado através da imaginação do paciente, não envolvendo o toque, podendo ser aplicado em unidades de terapia onde existem outros pacientes. O exercício é direcionado pelo terapeuta e pode ser acompanhado, também, por uma música de escolha do paciente, isto é claro, se o paciente utilizar fone de ouvido, ou se estiver em ambiente propício. Dentre as técnicas complementares, as intervenções educativas também podem ser associadas ao acompanhamento psicológico de apoio, visando atender as necessidades de orientação e de planejamento na rotina desses pacientes. Estabelecer um diálogo franco e claro com o paciente, acompanhá-lo em momentos de incertezas e de decisões em seu tratamento, são também intervenções que fazem parte do repertório de condutas do psicólogo hospitalar17. EXEMPLO DE CASO Paciente com 56 anos, casada, três filhos, encontrava-se há cinco dias na UTI, após uma cirurgia para transplante de fígado. A equipe médica solicitou a presença da psicologia, pois a paciente apresentava-se ansiosa, queixosa em relação a dores e sem perspectiva de sair da UTI nas 24 horas seguintes. Em entrevista com a paciente, esta relatou suas dificuldades em permanecer em ambiente de UTI por muitas horas: estar em um leito sem poder mudar de posição (dores da cirurgia e posição da própria cama); a rotina dos cuidados da UTI interrompendo o sono e impedindo o descanso; os outros pacientes agitados principalmente no período noturno; o barulho da equipe e dos aparelhos ligados ao próprio corpo. A paciente compreendia as necessidades que justificavam sua permanência na UTI e mostrava-se tolerante. Contudo, referia muitas dores e estava assustada, sentindo-se sozinha, com medo e vulnerável a tudo. Contou que recebeu o fígado de uma sobrinha e temia por ela ou pela perda do fígado que havia recebido. Referiu que os filhos estavam também assustados e que, no horário da visita, permaneciam por pouco tempo, por não saberem como lidar com essa situação. A paciente e seus familiares encontravam-se paralisados frente ao seu adoecimento e ao seu sofrimento. 66 Associado às dificuldades descritas, a paciente apresentava problemas para controle da dor e a equipe via sua resposta à analgesia como inadequada. Essa situação aguda, a tensão, as dores no corpo e a privação do sono estavam gerando um estado de enorme desconforto que, por sua vez, dificultava a aproximação da família e da equipe das reais necessidades da paciente. O medo e a ansiedade são sentimentos habitualmente presentes em um ambiente de UTI; a impossibilidade de comunicá-los pode gerar maior estresse e respostas pouco adaptativas. Diante tal quadro, a conduta da psicóloga foi realizar o exercício de relaxamento, técnica autógena de J.H. Schultz, com objetivo de promover a diminuição da ansiedade e o alívio desse desconforto, para que a paciente pudesse sentir-se melhor e investir afetivamente nas relações com os cuidadores e com a família. Após a aplicação do exercício, a paciente dormiu por um período de duas horas, acordando muito agradecida e menos tensa. Essa experiência pôde propiciar à paciente contato com sua real condição clínica e emocional, assim como o fortalecimento de sua defesa psíquica e melhoria para enfrentar a situação. A experiência emocional, propiciada pelo exercício, favoreceu a retomada de controle sobre as emoções e as sensações do corpo, auxiliando a paciente a detectar e a expressar suas reais necessidades. Em decorrência da melhoria do estado emocional, pôde permanecer com os familiares, pois estar diante deles significava ver-se como uma pessoa que necessitava de cuidados de outros, fato esse que, até aquele momento, não tinha concebido. Os familiares, por sua vez, também puderam contribuir para a adaptação da paciente ao seu tempo de permanência na UTI, após algumas orientações de manejo fornecidas pela psicóloga, como, por exemplo, ajudarem-na detectar o que traria a ela melhor conforto, realizando, junto à paciente, cuidados com o cabelo, com a pele, propiciando a aproximação. Assim, a técnica de relaxamento serviu como um instrumento valioso na aproximação da paciente com seu mundo interno. À psicóloga transferiram-se conteúdos bons que possibilitaram o sentimento de segurança, o que fortaleceu o vínculo com a equipe, potencializando a tolerância ao ambiente e às exigências de sua internação. INTERVENÇÃO FAMILIAR Em situações de adoecimento e de crise, o suporte familiar é de fundamental importância no auxílio ao paciente. A inclusão dos familiares no tratamento e o reconhecimento de suas necessidades viabilizam intervenções psicoterápicas efetivas, sejam elas informativas, de suporte ou psicodinâmicas. As intervenções familiares que promovem o encorajamento da expressão dos afetos demonstram benefício na diminuição da ansiedade e na qualidade de relação com a equipe18. Em ambiente de UTI, a informação, a segurança e a ansiedade são apontadas como fatores que interferem na organização familiar e na maneira de enfrentar a situação19,20. Esses fatores tendem a prejudicar a comunicação entre a família e a equipe de saúde e, conseqüentemente, o restabelecimento do paciente, devendo ser acompanhado cuidadosamente pelo psicólogo. RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva RBTI / RELATO DE CASO EXEMPLO DE CASO A família da paciente de 79 anos solicitou uma consulta. Discutiu-se o motivo do pedido com a enfermagem, que atribuiu o fato à piora do estado geral da paciente. A paciente era portadora de doença pulmonar obstrutiva crônica, estando agitada e em uso de ventilação mecânica não invasiva. A família era constituída por seis filhos, presentes e participativos no tratamento da mãe. Durante o atendimento, relataram o histórico da doença, a vida e a dinâmica de personalidade da mãe, bem como discutiram sobre a analgesia e sobre o final da vida. Explicitaram um pedido de ajuda para que a psicóloga auxiliasse na comunicação com a equipe médica, da qual eles se sentiam distantes e manifestavam discordância na condução do tratamento da paciente. Realizaram-se duas intervenções com o grupo familiar e uma reunião para avaliação do resultado da intervenção. A intervenção com a família teve por objetivo oferecer um ambiente de continência, para que todos os membros pudessem expressar-se, construir suas opiniões e planejar futuras ações, oferecendo reforço e segurança em relação aos cuidados oferecidos à paciente até o momento. A discussão sobre o comprometimento do quadro geral da paciente e os benefícios do tratamento foi redirecionada à equipe médica. Esta realizou uma reunião com a família, que resultou no fortalecimento do vínculo, pela criação de novas metas para o tratamento da paciente. Como resultado, também houve uma clarificação de papéis entre os membros da equipe e da família, podendo, dessa forma, recriar-se um vínculo de confiança que possibilitou a diminuição da ansiedade. Nesse contexto, o psicólogo serviu de catalisador e de mediador da relação dos familiares com a equipe médica, propiciando um ambiente favorável à elaboração de um luto que se vinha fazendo de maneira desorganizada e disfuncional. CONCLUSÃO Ao longo dos últimos anos, a Psicologia tem-se desenvolvido por meio do alargamento de suas funções clínicas; contudo, sua atuação no ambiente hospitalar ainda carece de delimitação e de estudos sobre sua efetividade. Um dos principais desafios da Psicologia Hospitalar tem sido, então, a consagração de uma especialidade que possa associar, para além da tradição clínica, técnicas psicoterápicas que abranjam o uso da técnica de manuseio assistencial, ambiental e de técnicas complementares que permitam otimizar os benefícios das terapêuticas oferecidas aos pacientes durante o período de internação hospitalar. Essa adaptação da técnica psicoterápica inicia-se, como vimos, na possibilidade de se estabelecer, precocemente, um diagnóstico da situação problema. Assim, o psicólogo não se deve ater somente à problemática psíquica do paciente, em que pese apenas a importância das características clínicas da doença e a patoplastia da reação emocional presente. Essas novas diretrizes terminam por encontrar embasamento no modelo de interconsulta. De tradição médica (psiquiatria), esse modelo propicia que o profissional assimile ferramentas diversas na composição do cuidado, cumprindo, portanto, a necessidade de alargamento do campo de atuação em saúde mental no hospital geral21. Volume 17 - Número 1 - Janeiro/Março 2005 Nesse contexto e, mais especificamente, em UTI, as bases de compreensão psicanalítica e o uso de técnicas complementares e cognitivas fundamentam a intervenção no fenômeno e viabilizam ações psicoterápicas, psicoeducativas e de suporte. Sendo assim, o uso de técnicas complementares e de sensibilização do reconhecimento das necessidades no contexto do emocional das inter-relações, direcionadas ao paciente, à equipe de saúde e à família, configuram duas outras grandes características do trabalho do psicólogo hospitalar. Portanto, o alcance do trabalho do psicólogo será resultado de uma análise de suas possibilidades de atuação, que consiste na habilidade de utilizar um conhecimento amplo, em diferentes saberes, e de sua capacidade em ser ágil, flexível e tolerante a situações de elevado grau de ansiedade e de angústia. Essas características integram-se à avaliação criteriosa das condições clínicas do paciente, do contexto familiar e social em que ele se insere, bem como da relação estabelecida entre paciente, família e a equipe. Contudo, o presente trabalho se propôs a apresentar um modelo de atuação através do relato da experiência do exercício psicoterápico e, sendo assim, esse modelo de atuação proposto é um campo de pesquisa amplo e requer estudos quanto à efetividade da aplicação dessas técnicas, visando – primordialmente – à melhoria da qualidade das relações humanas envolvidas em cada caso e a viabilidade de enfrentar as situações de crise vividas pelos pacientes e por seus familiares, em um contexto hospitalar. RESUMO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: As intervenções psicológicas em situação de crise têm-se revelado de grande auxílio na tarefa do atendimento a pacientes gravemente enfermos e aos seus familiares, em Unidade de Terapia Intensiva. Essas intervenções se baseiam em técnicas supressoras de ansiedade, que pressupõem um amplo conhecimento em diferentes saberes conceituais. Nestas técnicas considera-se o manejo assistencial centrado na equipe, diagnóstico diferencial, atendimento psicológico de apoio, manejo ambiental, técnicas de relaxamento e intervenção familiar. O objetivo deste estudo foi contribuir para o desenvolvimento da técnica psicológica no atendimento a pacientes em situação de crise. RELATO DOS CASOS: Cinco casos clínicos foram selecionados. Discutem-se questões relativas à técnica no contexto de terapia intensiva e seu benefício decorrente no manejo do paciente criticamente enfermo. As bases de compreensão psicanalítica e o uso de técnicas complementares e cognitivas fundamentam a intervenção e viabilizam ações psicoterápicas, psicoeducativas e de suporte. CONCLUSÕES: O uso de técnicas complementares e de sensibilização do reconhecimento das necessidades no contexto do emocional das inter-relações, direcionadas ao paciente, à equipe de saúde e à família, configuram duas outras características do trabalho do psicólogo. As intervenções psicológicas em situações de crise cumprem com o objetivo de promover suporte e de propiciar condições favoráveis ao restabelecimento do paciente e da família que se encontram nas Unidades de Terapia Intensiva. Unitermos: intervenção em crise; psicologia; psicoterapia de apoio; unidade de terapia intensiva. 67 RBTI / RELATO DE CASO REFERÊNCIAS 01. Aguiar RW - Intervenções em Crise, em: Cordioli AV - Psicoterapias: Abordagens Atuais. 2ª Ed, Porto Alegre, Artes Médicas, 1998;153-158. 02. Harbert KR - Elaboração do Estresse de Incidente Crítico, em: Dattilio FM, Freeman A - Estratégias Cognitivo-Comportamentais de Intervenção em Situações de Crise. 2ª Ed, Porto Alegre, Artes Médicas, 2004;317-334. 03. Cordioli AV - As Psicoterapias mais Comuns e suas Indicações, em: Cordioli AV - Psicoterapias: Abordagens Atuais. 2ª Ed, Porto Alegre, Artes Médicas, 1998;19-34. 04. 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