Determinação do padrão esquelético vertical da face

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Benedicto EN et al.
ARTIGO DE REVISÃO
Determinação do padrão esquelético vertical da face
Determination of the vertical skeletal facial pattern
Eduardo de Novaes Benedicto1, Silvana Allegrini Kairalla2, Armando Koichiro Kaieda2,
Sergio Luís de Miranda3, Fernando César Torres4, Luiz Renato Paranhos4
RESUMO
abstract
Introdução: A construção de um diagnóstico ortodôntico
tem como base a correta determinação do padrão esquelético
vertical da face do paciente. Objetivo: Rever a literatura para
identificar os principais métodos de determinação do padrão
esquelético facial. Resultados: A literatura apresentou diversas maneiras de se determinar o padrão esquelético vertical
de um indivíduo para auxiliar o profissional no diagnóstico
final do padrão facial. Conclusões: Existem diversas análises
disponíveis para determinar o padrão esquelético vertical da
face de um indivíduo e muitas dessas análises apresentam
divergências entre si quanto ao resultado final.
Introduction: The development of an orthodontic diagnosis is based on the correct determination of the vertical
facial skeletal pattern of the patient. Objective: Review
the literature to identify the main methods for determining
the facial skeletal pattern. Results: The literature provided
several ways to determine the vertical facial skeletal pattern
of an individual to assist the professional in the final diagnosis of the facial pattern. Conclusions: There are several
methods available to determine the vertical facial skeletal
pattern of an individual, and many of the assessments differ
among themselves as to the final result.
Descritores: Ortodontia. Ossos Faciais. Diagnóstico.
Ortodontia Interceptora.
Key words: Orthodontics. Facial Bones. Diagnosis.
Orthodontics, Interceptive.
1.Mestrando em Biologia Buco-dental área de concentração em Odontologia Legal pela FOP/UNICAMP. Especialista em Ortodontia pela
Universidade Metodista de São Paulo (UMESP)/São Bernardo do Campo,
São Bernardo do Campo, SP, Brasil.
2.Aluno do Programa de Pós-Graduação em Odontologia, área de
concentração em Ortodontia da UMESP/São Bernardo do Campo, São
Bernardo do Campo, SP, Brasil.
3.Cirurgião Dentista; Médico; Chefe do setor Craniomaxilofacial do
Hospital Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil.
4.Professor Titular do Programa de Pós-Graduação em Odontologia, área
de concentração em Ortodontia da UMESP/São Bernardo do Campo,
São Bernardo do Campo, SP, Brasil.
Correspondência: Luiz Renato Paranhos
Rua Padre Roque, 958 – Centro – Mogi Mirim, SP, Brasil – CEP: 13800-033
E-mail: [email protected]
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Determinação do padrão esquelético vertical da face
mais cedo nas mulheres que nos homens; as mudanças nas
diferentes partes da face não são necessariamente semelhantes
em época ou magnitude; a época de mudança entre medidas
lineares e angulares das estruturas não ocorre ao mesmo tempo
ou na mesma direção; há mudanças significavas entre 15-25
anos em alguns parâmetros faciais, especificamente na altura
facial, convexidade do tecido mole e ângulo ANB. Também
foi avaliada a relação dos vários tipos faciais (braqui, meso
e dolicofacial) com a idade, e, foi constatado que a maioria
das pessoas tinha o mesmo tipo facial aos 5 e aos 25 anos de
idade, o que indica que há uma forte tendência em se manter o
padrão facial. Com relação aos métodos pesquisados, chegouse à conclusão que nenhum deles representa precisamente as
mudanças que ocorrem na maioria dos parâmetros faciais. Estas
mudanças são complexas e altamente variáveis.
Para se compreender as diferenças entre os tipos faciais,
foi afirmado que não seria suficiente o estudo de uma simples
variável, mas sim conhecer o papel de cada variável e sua integração na morfologia facial6. Também afirmou que nenhuma
característica poderia ser julgada “normal” ou “anormal”,
“harmoniosa” ou “não harmoniosa”, sem apreciação do que
esta representa no total do complexo facial.
No estudo7 em que avaliaram radiograficamente a extensão
das modificações ortodôntico/ortopédicas e suas influências
no padrão facial de 32 pacientes portadores de má oclusão
de Classe II divisão 1 de Angle, tratados durante a fase de
dentição mista, de ambos os sexos, leucodermas, entre 7 e 14
anos de idade, os autores concluíram que, do início ao término
do tratamento, a mandíbula mostrou padrão de crescimento
proporcional em suas relações craniofaciais e o perfil dos
tecidos moles beneficiou-se com o tratamento. Nesse estudo,
não houve diferença estatisticamente significante em relação à
frequência dos tipos faciais do início ao término do tratamento.
Tendo como base a idade média de nove anos, foram
determinados padrões de normalidade e desvios clínicos para
crianças com crescimento normal na dentição mista8. Foram
estabelecidos valores médios de mudança anual decorrentes
do crescimento, levando em conta a idade do paciente (considerando os valores médios de mudanças pré-estabelecidas por
Ricketts et al.1), a partir do que se propôs a seguinte classificação: dolicofacial suave (menor ou igual a –0,5º), dolicofacial
médio (menor ou igual a –1,0º), dolicofacial severo (menor
ou igual a –2,0º), braquifacial suave (maior ou igual a +0,5º),
braquifacial médio (maior ou igual a +1,0º), braquifacial severo
(maior ou igual a +2,0º), mesofacial (entre –0,5º e +0,5º). Entre
suas conclusões, afirmou-se que as diferenças encontradas
demonstraram um aumento significante no comprimento dos
maxilares se dispondo no sentido ântero-posterior, de acordo
com os objetivos ortopédicos do tratamento com movimento
posterior da maxila decorrente da força extrabucal. A mandíbula
apresentou um padrão de crescimento proporcional em relação
ao complexo craniofacial. Não houve diferença estatisticamente
significante quanto à frequência dos tipos faciais do início ao
término do tratamento.
Em 2002, um estudo procurou correlacionar a análise
do padrão esquelético vertical da face de Ricketts (índice
VERT) com a análise Siriwat & Jarabak, no qual também foi
verificada a prevalência dos padrões faciais9. Para isso, foram
selecionados 32 pacientes portadores de classe II divisão 1 (24
do sexo feminino e 8 do sexo masculino), com idade média
INTRODUÇÃO
Uma informação primordial para a construção de um diagnóstico ortodôntico é o padrão esquelético vertical da face de
um paciente. O incorreto diagnóstico deste pode influenciar o
plano de tratamento, causando alterações nas características
faciais, interferindo na estética e na estabilidade dos resultados.
Os métodos para definição do padrão normalmente utilizam
radiografias ou fotografias, das quais são obtidas medidas
angulares, lineares ou, ainda, proporcionais. Ricketts et al.1,
em 1983, classificaram o padrão em: dolicofacial (face longa
e estreita), braquifacial (face curta e larga) e um tipo intermediário, o mesofacial.
Ao longo dos anos, surgiram vários autores que desenvolveram análises com o objetivo de determinar o padrão esquelético vertical dos pacientes para desenvolverem um diagnóstico
preciso. Em 1957, foi afirmado que, dentro do complexo
temporomandibular, o diagnóstico pode ser confundido
devido à grande variedade de padrões esqueléticos verticais2.
O crescimento e o desenvolvimento da cabeça da mandíbula
em quantidade e direção são fundamentais para se entender a
constituição morfológica da face, pois quando o crescimento
da cabeça da mandíbula se faz para cima e para frente com o
aumento da profundidade facial, observa-se uma tendência
braquicefálica. Por outro lado, quando o crescimento condilar
ocorre para cima e para trás, observa-se um aumento consistente
do comprimento facial, caracterizando uma tendência dolicocefálica. Desta forma, e, em virtude da quantidade e divergência
nas análises, este estudo objetivou revisar a literatura sobre as
medidas utilizadas para a determinação do padrão esquelético
vertical da face.
REVISÃO DA LITERATURA
Em 1937, foi realizado um estudo radiográfico longitudinal
que avaliou o padrão de crescimento facial de crianças, dos
12 meses aos 24 anos de idade, concluindo que a dentição
decídua, quando finalizada, coincide com a definição do padrão
morfológico da face3. Posteriormente, os padrões faciais não
se modificariam.
Utilizando uma amostra com indivíduos entre 5 a 25 anos
de idade, os quais foram divididos em três grupos de acordo
com os padrões faciais longos, medianos e curtos, baseado na
proporção da altura facial posterior sobre a altura facial anterior (S-Go/N-Me), Bishara & Jakobsen4 constataram que não
há influência quanto à classificação dos padrões faciais, seja
por variação anatômica, ou por orientação inexata da cabeça.
Os resultados da pesquisa revelaram que 77% dos indivíduos
mantiveram o mesmo padrão facial dos 5 aos 25 anos de idade.
Em 23% dos indivíduos, houve mudanças em relação aos
padrões faciais avaliados. Com base nesses resultados, foi afirmado que os indivíduos com discrepâncias mais significativas
(faces anormalmente longas ou curtas) apresentam morfologia
facial mais acentuada, facilitando a descrição do padrão.
Em 2000, foi realizado um estudo revisando dados longitudinais a respeito do crescimento facial de indivíduos com
idades de 4 a 18 anos, aos 25 anos e aos 45 anos de idade5.
Os resultados demonstram que há mudanças significativas
nos períodos entre 5-10 e 10-15 anos e que estas ocorrem
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indivíduos que apresentarem o ângulo entre 64° e 70° deveriam
ser considerados mesofaciais, os casos abaixo de 64°, braquifaciais e, se acima de 70°, dolicofaciais. Para o autor, o maior
valor da cefalometria se refere à possibilidade de realização
de estudos comparativos. Comparações estas que muitas vezes
demonstram mudanças ocorridas ao longo do crescimento e
do tratamento ortodôntico ou, fornecendo subsídios para a
avaliação da efetividade ou deficiências dos mesmos.
Um estudo cefalométrico realizado em 1964 verificou a
relação entre a altura facial posterior e a altura facial anterior15.
Foram registradas algumas mudanças no crescimento e tentouse determinar quais os relacionamentos faciais seriam básicos
e mais importantes para o ortodontista, a fim de verificar o
mecanismo de crescimento dos maxilares, e demonstrar como
estes produziriam a má oclusão. O autor afirmou que o eixo “Y”
de crescimento é uma referência inadequada para expressar o
padrão esquelético vertical da face. Variações nas dimensões
verticais seriam mais significantes na identificação de padrões
faciais em relação a dimensões ântero-posteriores. O termo
divergência facial foi introduzido e os termos hiperdivergente
e hipodivergente sugeriram os extremos da divergência facial.
O ângulo SN-NP seria a medida utilizada para mensurar a
divergência facial.
Em 1946, o autor estudou16 o ângulo formado pelo plano
de Frankfurt e plano mandibular (FMA), e, baseando-se neste
ângulo, apresentou um método para o prognóstico do tratamento ortodôntico. Quando este ângulo apresenta valores entre
16° e 28°, o prognóstico variaria de excelente para os valores
próximos a 16°, e extremamente bons, próximos a 28°. Os casos
entre 28° e 32° seriam considerados de bom a regular. De 32°
a 35° eles seriam considerados como regulares a desfavorável.
Valores acima de 35° determinariam um tratamento limitado
e de difícil alcance dos objetivos desejados em relação ao
padrão facial do indivíduo. O FMPA (Frankfurt Mandibular
Plane Angle), atualmente conhecido como FMA (Frankfurt
Mandibular Angle), deveria apresentar valores entre 20° a 30°17.
Em 1952, foi apresentado outro método de classificação do
tipo facial, baseado na análise do ângulo formado pelos planos
SN e GoGn18. Segundo o autor, o ângulo classificaria os indivíduos em mesofaciais se estes estivessem entre 27° e 37°. Para os
indivíduos com valores abaixo de 27°, o padrão seria considerado
como braquifacial, e, acima de 37, como dolicofacial.
Anos mais tarde, em 1975, alguns autores19 utilizaram
valores médios para predizer as direções e as velocidades de
crescimento da face, em uma amostra de 200 indivíduos. Afirmaram que o crescimento craniofacial poderia ser dividido em
três categorias, de acordo com sua direção: no sentido horário,
direto para baixo e em sentido anti-horário. A altura facial
posterior seria curta em relação à anterior, no crescimento em
sentido horário. No crescimento em sentido anti-horário, a
altura posterior estaria aumentada em relação à altura anterior.
No crescimento em sentido horário, significaria que a parte
anterior da face estaria crescendo para baixo e para frente ou
para baixo e para trás, numa velocidade maior que a altura
posterior da face. Em uma face que estivesse crescendo em
sentido anti-horário, a altura facial posterior e a profundidade
facial estariam crescendo para baixo e para frente ou para baixo
e para trás, com uma velocidade maior que a parte anterior da
face. Neste tipo de crescimento, a proporção da altura da face
corresponde de 65% a 80%.
de 10 anos e 3 meses. Foi encontrada distribuição uniforme
dos padrões para a análise de Ricketts, enquanto na análise de
Siriwat & Jarabak houve um predomínio do tipo braquifacial
ou hipodivergente. Observou-se ausência de correlação entre
as classificações do padrão esquelético vertical facial proposto
pelas análises empregadas.
Os estudos para os padrões realizados no início do surto
de crescimento puberal (S.C.P.) revelaram não haver diferença
estatisticamente significante, embora o tipo dolicofacial tenha
sido apresentado com uma ligeira precocidade em relação ao
tipo braquifacial para o sexo masculino e o tipo braquifacial,
para o sexo feminino10.
No estudo de Fields et al.11, foi demonstrado que os padrões
verticais em crianças e adultos com faces longas e normais
poderiam ser identificados clinicamente e documentados
morfologicamente por meio de estudo cefalométrico radiográfico. O resultado foi de que, na identificação da altura facial
total, do ângulo do plano mandibular, do ângulo goníaco e
do ângulo formado pelos planos mandibular e palatino, tanto
crianças como adultos com face longa apresentaram valores
maiores que a norma.
É importante uma visualização conjunta das diferentes
medidas craniométricas na análise cefalométrica, relacionandoa ao padrão do paciente. A confirmação do padrão esquelético vertical da face do indivíduo e o diagnóstico preciso de
quais estruturas faciais poderiam, eventualmente, estar em
desarmonia com ele, é de suma importância para o plano de
tratamento a ser executado. A confrontação pura e simples
das medidas cefalométricas de um paciente com as médias
estatísticas de grupos controle, sem considerar o padrão facial
do indivíduo, traz limitações ao diagnóstico12.
As análises de determinação do padrão esquelético
vertical da face
Downs13 foi o pioneiro no uso da análise cefalométrica
aplicada ao diagnóstico ortodôntico. Em 1948, foi realizado
um estudo com uma amostra de 20 pacientes, portadores
de oclusão ideal, na faixa etária entre 12 e 17 anos, no qual
se determinou os padrões esqueléticos em norma lateral e a
relação entre os dentes e o processo alveolar com o esqueleto
facial. O padrão esquelético foi em seguida observado em
telerradiografias em norma lateral, por meio de um polígono
formado pelos seguintes planos: ângulo facial, ângulo da
convexidade, relação ântero-posterior da base dental, ângulo
do plano mandibular e eixo “Y”. Os resultados permitiram
ao autor chegar às seguintes conclusões: 1. existe um padrão
facial que representa a média dos indivíduos que possuem
oclusões ideais; 2. dentro deste padrão facial encontrado existe
um desvio-padrão, mas estes valores ainda mantêm harmonia
na face; 3. desvios excessivos da norma remetem indivíduos
com desarmonias em certas áreas; 4. a relação entre os dentes
e base óssea pode levar ao diagnóstico correto, localizando a
etiologia e indicando o sentido em que os dentes devem ser
movimentados no tratamento.
Com o intuito de ajudar no diagnóstico e no planejamento
dos casos ortodônticos, foi idealizada uma análise cefalométrica, a qual adaptou o eixo “Y” de crescimento de Downs13 – o
qual utilizava o plano de Frankfurt para a determinação do tipo
facial, e o trocou pelo plano SN –, definindo assim a resultante
vetorial de crescimento anterior e inferior da mandíbula14. Os
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Em 1985, Siriwat e Jarabak20 buscaram as associações
entre morfologia facial e más oclusões. A análise cefalométrica
foi baseada principalmente em grandezas sugeridas por seus
estudos de 1975, observando a existência de dimorfismo sexual
em cada relacionamento. Classificou-se a morfologia facial
baseada em três distintos padrões definidos pela razão da Altura
Facial ou Quociente de Jarabak (FHR), isto é, a razão da Altura
Facial Posterior (S.Go) pela Altura Facial Anterior (N-Me).
Estes padrões foram os seguintes: 1. Padrão de crescimento
hiperdivergente, com FHR menor que 59% e a rotação da face
com crescimento para baixo e posterior. A altura facial anterior
aumentaria mais rapidamente do que a Altura Facial Posterior e
o eixo “Y” de Downs tenderia a abrir; 2. Padrão de crescimento
neutro, com FHR de 59% a 63%, seria o de maior prevalência.
A direção de crescimento seria para baixo e para frente, com
o eixo “Y” de Downs mostrando aproximadamente o mesmo
desenvolvimento anterior e posterior, sem mudanças progressivas na maioria dos relacionamentos angulares; 3. Padrão
de crescimento hipodivergente, com crescimento horizontal
predominante e FHR maior que 63%.
O padrão facial é um importante fator na predição do crescimento e no planejamento ortodôntico1. O primeiro passo a
ser seguido durante a elaboração do diagnóstico de um caso
ortodôntico seria a sua classificação. Para a determinação desses
padrões, os autores apresentaram três tipos faciais básicos:
dolicofacial (crescimento vertical), mesofacial (crescimento
equilibrado) e braquifacial (crescimento horizontal). Foram
utilizadas cinco variáveis angulares de sua análise cefalométrica
para a determinação dos tipos faciais (índice VERT):
quando o valor indicar uma tendência braquifacial de crescimento, ou negativo quando o valor encontrado indicar uma
tendência dolicofacial1.
Estudos entre as análises
Os estudos radiográficos que abordaram as possíveis correlações existentes entre as análises para a definição do padrão esquelético vertical da face de acordo com Ricketts, modificado por
Albuquerque, com a análise de Siriwat & Jarabak não apresentaram nenhuma equivalência entre os métodos, pois resultados
diferentes foram fornecidos de cada análise, o que possibilitou
a afirmação pelos autores de que é importante uma avaliação
criteriosa do profissional para o adequado diagnóstico21.
Em 2004, em estudo que abordou as possíveis correlações
existentes entre as análises de Ricketts e Siriwat & Jarabak
para a definição do padrão esquelético vertical22, foi descoberta
uma concordância relativa entre as classificações de Ricketts e
Siriwat & Jarabak, e foi verificada uma concordância de 66,67%
(20 indivíduos) entre as duas classificações, estatisticamente
significante, porém de maneira moderada.
Outros estudos23 compararam os achados cefalométricos
com os antropométricos, além dos da análise facial para a classificação do tipo de face, segundo o sexo. Utilizando a análise
de Ricketts, foram classificados com relação ao tipo de face
em dolicofacial, mesofacial e braquifacial. Os achados cefalométricos foram comparados a sete medidas antropométricas
faciais diretas, três índices e três proporções faciais, e também
comparados à classificação da face em longa, média ou curta,
realizada a partir da análise clínica por meio da observação de
duas fotografias (uma da face frontal sem sorriso e outra de
perfil direito), realizada por três fonoaudiólogos especialistas
em motricidade orofacial. A partir dos achados cefalométricos,
o tipo facial mais frequente foi o braquifacial (n=41; 39,1%) e
o menos frequente, o dolicofacial (n=27; 25,7%). A população
estudada foi, em sua maioria, composta de mulheres (67,6%).
Os padrões esqueléticos verticais da face classificados, por
meio da cefalometria, apresentaram diferenças estatisticamente
significativas para os valores médios de oito variáveis antropométricas do sexo masculino (quatro medidas, dois índices e
uma proporção facial) e seis do sexo feminino (cinco medidas e
uma proporção facial). Os índices e proporções antropométricas
faciais promoveram dados confiáveis para a determinação de
face longa, em homens; e face longa e curta, em mulheres. A
análise facial para identificação do tipo facial realizada por meio
de fotografias padronizadas não foi considerada confiável se
utilizada isoladamente, ao se comparar à classificação do tipo
de face obtido a partir da análise cefalométrica.
Nos estudos24 com indivíduos que possuem má oclusão
classe II divisão 1 de Angle tratados com ortodontia (aparelho
fixo associado à ancoragem extrabucal) e ortopedia funcional
dos maxilares (Bionator de Balters), com o objetivo de verificar
se os métodos de Ricketts e de Siriwat & Jarabak (Quociente de
Proporcionalidade) seriam coincidentes quanto à classificação
dos padrões faciais; se após o tratamento houve migração de
um para outro padrão facial e se foram, neste caso, coincidentes
ou não; e se o método empregado de tratamento (ortodontia ou
ortopedia) provocaria alguma influência no padrão facial ao final
do tratamento. Com os resultados, afirmou-se que a classificação
do tipo facial, tanto no início, como no final do tratamento,
pelas análises de Siriwat & Jarabak e de Ricketts, apresentaram
• Ângulo do eixo facial (N-Ba).(Pt-Gn): Ângulo formado
pela linha básio-násio com a linha que parte do ponto pterigoide até o gnátio cefalométrico, medido na parte posterior
do ângulo. A norma é de 90°, com desvio padrão de +3°,
permanecendo constante com a idade;
• Ângulo facial ou profundidade facial (Po-Or).(N-Pog):
Ângulo formado pelo plano de Frankfurt e pelo plano facial.
O valor normal é de 87°, diminuindo 0,3° por ano;
• Ângulo do plano mandibular (Go-Me).(Po-Or): Formado
pelo plano horizozntal de Frankfurt e pelo plano mandibular;
• Altura do terço inferior da face (Xi-ENA). (Xi-Pm):
Ângulo formado pelos planos Xi-ENA e Xi-PM. A norma é
de 47° com desvio padrão de +4°, permanecendo constante
com a idade;
• Arco mandibular (Dc-Xi).(Xi-Pm): Ângulo formado pelo
eixo do corpo mandibular e pelo eixo condilar. A norma é
de 26°, aumentando 0,5° a cada ano de vida.
Os tipos faciais dos pacientes foram determinados pelo
valor das médias aritméticas dos desvios-padrão encontrados
para estes fatores. Com isso foi possível, baseado nos objetivos
visuais do tratamento (VTO – Visual Treatment Objectives),
elaborar a previsão de crescimento facial e a planificação do
tratamento ortodôntico.
Obtidos os valores dos ângulos do paciente pode-se calcular
o VERT, calculando a norma individualizada para cada ângulo.
Depois de estabelecida a diferença entre o valor encontrado e
a norma individualizada, divide-se o valor encontrado pelo
desvio clínico (que varia de acordo com o ângulo). O resultado
é colocado na curva de Gauss e é atribuído um sinal positivo
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apresentam morfologia facial mais acentuada, facilitando a
descrição do padrão.
A mandíbula apresenta um padrão de crescimento proporcional em relação ao complexo craniofacial7,8. Não há diferença
estatisticamente significante quanto à frequência dos tipos
faciais no início e ao término do tratamento.
A confirmação do padrão esquelético vertical da face do
indivíduo e o diagnóstico preciso de quais estruturas faciais
poderiam eventualmente estar em desarmonia com o referido
tipo facial seria de suma importância no plano de tratamento
a ser executado. A confrontação pura e simples das medidas
cefalométricas de um paciente com as médias estatísticas de
grupos controle, sem considerar o padrão facial do indivíduo,
traz limitações no diagnóstico12.
As análises de Ricketts e de Siriwat & Jarabak, não apresentam nenhuma equivalência entre os métodos9,21 devido aos
resultados diferentes apresentados em cada análise de pacientes
com diversas mal oclusões, o que possibilitou a afirmação
pelos autores de que é importante uma avaliação criteriosa do
profissional para o adequado diagnóstico21. Outro estudo de
correlações envolvendo as mesmas análises, mas que apenas
contou com pacientes com mal oclusões de Angle classe I e
II encontrou concordância relativa entre estas classificações
estatisticamente significante, porém de maneira moderada22.
Com respeito à fase de contenção, os padrões faciais não
demonstram diferenças significantes após o tratamento, o
que levou a afirmar que os padrões faciais não necessitam de
atenção especial nesta fase23. Estudos confirmaram ainda uma
tendência dos padrões se manterem constantes tanto no início,
como no final do tratamento24.
Quando utilizarmos a análise facial, devemos estar atentos,
pois esta não é considerada uma fonte confiável se utilizada
isoladamente, ao se comparar à classificação do tipo de face
obtido a partir da análise cefalométrica20.
Segundo as análises de Ricketts e Siriwat & Jarabak, o tipo
facial mais prevalente é o braquifacial9,24, seguido do mesofacial, englobando juntos, praticamente a totalidade das amostras
(91,6% e 98,3%). O que contradiz com outros estudos dos tipos
faciais20,25, que afirmam ser mais prevalente o tipo mesofacial.
Os distintos resultados obtidos podem ter origem nas diferentes
metodologias empregadas no que se refere ao tipo de método
de determinação do tipo facial.
estatisticamente tendência de concordância nos padrões considerados, ou seja, houve tendência a ser classificado como dolicofacial, segundo Ricketts, quando um paciente foi classificado
como “horário”, segundo Siriwat & Jarabak. O “anti-horário”, da
mesma forma, relaciona-se com o braquifacial, e o “neutro”, com
o mesofacial. Outra afirmação foi que a proporção de migração de
um nível para o outro, em ambos os métodos, foi similar. Como
resultado não houve diferença significativa na migração para os
dois métodos. Para finalizar, o tipo de tratamento empregado
(ortodontia ou ortopedia) não teve influência significativa em
alterar o padrão facial ao final do tratamento.
Outro estudo25 avaliou as mudanças ocorridas após os tratamentos ortodônticos nos diferentes padrões faciais, procurando
verificar se as mudanças pós-tratamento diferiram nos três
padrões faciais: curto, médio e longo. Os três padrões faciais
não demonstraram diferenças significantes após o tratamento.
Os resultados permitiram afirmar que os diferentes padrões
faciais não requerem atenção especial, com respeito à fase de
contenção, embora os pacientes do sexo masculino tenham
apresentado maiores alterações, tanto em medidas lineares
quanto em altura da face.
DISCUSSÃO
O prognóstico de um paciente muitas vezes está sujeito a
alterações indesejadas, que podem ocorrer sempre que o padrão
esquelético vertical da face de um indivíduo não é levado em
conta no momento da planificação e no planejamento dos
tratamentos ortodônticos. O fato de existirem diversas análises,
que apresentam diferentes prevalências nos padrões, reforça a
afirmação de que uma simples variável não é suficiente para
se compreender as diferenças entre os tipos faciais6. Seguindo
essa filosofia, ressalta-se a importância de uma visualização
conjunta das diferentes medidas craniométricas na análise
cefalométrica, relacionando-a ao padrão do paciente12.
Os diferentes padrões esqueléticos verticais da face já
apresentaram diversas nomenclaturas. A mais clássica entre
elas é a preconizada por Ricketts et al.1, que separaram os
padrões em três tipos faciais básicos: dolicofacial (crescimento
vertical), mesofacial (crescimento equilibrado) e braquifacial
(crescimento horizontal).
Há autores3,5 concordando que o padrão facial é definido na
infância, próximo ao final da dentição decídua, e, que há uma
forte tendência em se manter o padrão facial após essa idade.
Tendência essa, comprovada por Bishara & Jakobsen4, que
encontraram uma média 77% dos indivíduos que mantiveram
o mesmo padrão facial dos 5 aos 25 anos de idade, enquanto
23% dos indivíduos apresentaram mudança.
No início do surto de crescimento puberal, não há diferença
estatisticamente significante entre os padrões esqueléticos
verticais faciais, embora o tipo dolicofacial tenha uma ligeira
precocidade em relação ao tipo braquifacial para o sexo masculino e o tipo braquifacial, para o sexo feminino10.
Uma importante informação relatada é que não há influência da variação anatômica, ou da orientação inexata da
cabeça quanto à classificação dos padrões faciais, o que
oferece maior segurança no momento do diagnóstico do
padrão facial4. Foi afirmado que os indivíduos com discrepâncias mais importantes (faces anormalmente longas ou curtas)
CONCLUSÃO
Existem diversas análises disponíveis para se chegar ao
padrão esquelético vertical da face de um indivíduo, e, muitas
dessas análises apresentam divergências entre si, sugerindo que
uma única variável não é suficiente para se compreender as diferenças entre os tipos faciais, devendo-se considerar o conjunto
de características cefalométricas associadas à avaliação da
morfologia facial observada clinicamente.
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Trabalho realizado na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP/São Bernardo do Campo), São Bernardo do Campo, SP, Brasil.
Artigo recebido: 8/1/2011
Artigo aceito: 15/2/2011
Rev Bras Cir Craniomaxilofac 2011; 14(1): 44-9
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