UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DR. HEITOR VIEIRA DOURADO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS ESTUDO DE ASSOCIAÇÃO DE POLIMORFISMOS DOS GENES IL-10 e IL-10RA COM LEISHMANIOSE CUTÂNEA EM UMA POPULAÇÃO CASO-CONTROLE DO ESTADO DO AMAZONAS, BRASIL. PRISCILA BENTES SOUSA MANAUS 2014 i PRISCILA BENTES SOUSA ESTUDO DE ASSOCIAÇÃO DE POLIMORFISMOS DOS GENES IL-10 e IL-10RA COM LEISHMANIOSE CUTÂNEA EM UMA POPULAÇÃO CASO-CONTROLE DO ESTADO DO AMAZONAS, BRASIL. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em Convênio com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, para obtenção grau de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas. Orientador: Prof. Dr. Rajendranath Ramasawmy Co-orientadora: Dra. Anette Chrusciak Talhari MANAUS 2014 ii Ficha Catalográfica S725e Sousa, Priscila Bentes. Estudo de associação de polimorfismos dos genes IL-10 e IL-10RA com leishmaniose cutânea em uma população casocontrole do estado do Amazonas, Brasil / Priscila Bentes Sousa. -- Manaus : Universidade do Estado do Amazonas, Fundação de Medicina Tropical, 2014. xvii. 83 f. : il. Dissertação apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas – UEA/FMT, 2014. Orientador: Profº. Dr. Rajendranath Ramasawmy 1. Leishmaniose Tegumentar Americana 2.IL-10, IL-10RA Susceptibilidade I. Título. CDU: 616.9 Ficha Catalográfica elaborada pela Bibliotecária Maria Eliana do N. Silva lotada na Escola Superior de Ciências da Saúde - UEA iii FOLHA DE JULGAMENTO ESTUDO DE ASSOCIAÇÃO DE POLIMORFISMOS DOS GENES IL-10 e IL-10RA COM LEISHMANIOSE CUTÂNEA EM UMA POPULAÇÃO CASO-CONTROLE DO ESTADO DO AMAZONAS, BRASIL. PRISCILA BENTES SOUSA “Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas, aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado”. Banca Julgadora: ______________________________________ Presidente ______________________________________ Membro ______________________________________ Membro iv DEDICATÓRIA Dedico a Deus, minha fortaleza, pela força. A minha querida mãe, meu porto seguro, pelo total apoio e confiança, sem o qual nada disso seria possível. Ao meu amado pai (in memoriam) pelo exemplo de caráter e dedicação. v AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus, pelo dom da vida, por toda benção recebida e pelas pessoas maravilhosas que colocou em minha vida e que me ajudaram em algum momento que precisava; À minha mãe e meu orgulho, que sempre esteve ao meu lado me incentivando, dando forças. Obrigada pela confiança e por toda dedicação, seu amor e suas orações foram fundamentais para a realização desse sonho. Amo você; Aos meus irmãos que sempre estiveram ao meu lado, me apoiando, torcendo pelo meu sucesso. À minha cunhada querida Lindamir, por todo apoio e conselhos; À minha família em geral, por todo amor e carinho; Aos voluntários que participaram deste estudo, pela confiança que depositaram em nosso conhecimento. Ao meu eterno orientador Marcelo Távora Mira, meu pai científico, a quem tenho um enorme orgulho, meu espelho de caráter, honestidade e ética. Você é uma das peças principais para a realização desse sonho. Nenhuma palavra poderá expressar o tamanho do meu carinho por você. Obrigada por tudo. Aos coordenadores e professores do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da UEA/FMT-HVD, pelo conhecimento transmitido. À UEA, pela oportunidade a mim dada e pelo apoio financeiro durante as viagens. À FMT-HVD, pelo suporte dado à execução do trabalho. Aos meus orientadores Rajendranath Ramasawmy e Anette Chrusciak Talhari, pela orientação recebida. Ao CNPq, pela bolsa de auxílio financeiro que me foi concedida. Ao Dr. José Felipe Sardinha, que esteve conosco desde o início do projeto e que nunca nos negou ajuda, sendo ela financeira ou moral. À dona Maria Zilda, um verdadeiro anjo que Deus colocou em minha vida, por todo carinho, cuidado e proteção. Você sempre estará em meu coração. Muito obrigada! As minhas amigas de todas as horas, Karolina Sabino e Luciane Souza, que viveram comigo momentos de alegrias e tristezas, e que sempre estiveram ao meu lado me dando forças no momento de fraqueza. Acredito que sem vocês nada disso seria possível. vi Ao meu namorado e confidente Sandro Macedo por toda paciência, incentivo e confiança, por estar sempre ao meu lado, mesmo nos momentos mais complicados. Por não me deixar desistir dos meus sonhos, nem baixar a cabeça diante das dificuldades. Sei que posso contar com você sempre e serei eternamente grata por tudo que tens feito por mim; Aos colegas Amélia, Claudemir e Rita, pelo apoio recebido durante o recrutamento e pelos momentos de descontração. À gerência de Leishmaniose, em especial ao Prof. Jorge Guerra; As queridas Geovana Brotto e Heloisa Salomão, que abriram mão dos seus preciosos tempos para nos ajudarem com as análises dos dados. Que tiveram toda paciência e cuidado durante as análises. Vocês foram mais que fundamentais para conclusão desse sonho, foram verdadeiros anjos. Muito obrigada meninas. À uma pessoa que foi muito, muito, muito importante para a concretização deste trabalho, Ana Paula Bezerra, que sem nos conhecer abriu as portas da sua casa e nos recebeu com muito carinho. Sempre muito atenciosa. Sua ajuda foi mega importante. Muitíssimo obrigada! Aos meus colegas e amigos da graduação, que mesmo longe me deram apoio e incentivos. Enfim, obrigada a todos que contribuíram de alguma forma para a realização deste trabalho. vii DECLARAÇÃO DAS AGÊNCIAS FINANCIADORAS À Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA e Fundação de Apoio Institucional Muraki-FMuraki pelo apoio na estrutura deste Programa de PósGraduação em Medicina Tropical. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, pelo financiamento desta pesquisa e pela concessão da bolsa de pesquisa. viii RESUMO A leishmaniose tegumentar americana (LTA) é uma doença infecciosa crônica causada por parasitas do gênero Leishmania sp, representa um conjunto de doenças com características clínicas e imunopatológicas distintas. A maioria dos indivíduos expostos ao parasita não desenvolvem a doença, sugerindo um papel de fatores genéticos nesse controle. Deste modo, o presente estudo teve como objetivo investigar se variantes dos genes IL-10 e IL-10RA estão associados a susceptibilidade ou resistência à leishmaniose cutânea. Para a realização do estudo, foram recrutados pacientes com leishmaniose cutânea e indivíduos sadios. A amostragem foi obtida por demanda espontânea da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) de pacientes com diagnóstico positivo para LTA, e o grupo controle foi composto de indivíduos sadios sem história de LTA, habitantes das mesmas áreas endêmicas dos casos. Foram recrutados 774 voluntários, sendo 392 casos e 382 controles. A extração do DNA foi realizada com o kit Promega ou pela técnica de “salting-out’’. Concentrações de amostras de estoque foram determinadas por fotometria. A genotipagem dos SNPs -3575 T/A, 2849 G/A, -2763 C/A, -819 C/T, -592 C/A, -1082 G/A do IL-10, e S138G A/G e IL10R R330G G/A do IL10RA foram realizadas pela técnica de PCR-RFLP. Dos oito SNPs estudados, três apresentaram-se em desequilíbrio de Hardy-Weinberg (-2763 C/A, -819 C/T e -1082 G/A). Não foi encontrada evidência de associação entre leishmaniose cutâena e os SNPs do gene IL-10, assim como o S138G A/G do IL10RA. Houve diferença estatisticamente significativa na distribuição de frequências alélicas (P= 0.013) e genotípicas (P=0,044) do SNP G330R G/A do gene IL-10RA entre casos e controles. Os resultados obtidos sugerem que variantes do gene IL10RA podem estar envolvidas na resistência à leishmaniose cutânea. Palavras chaves: leishmaniose, IL-10, IL-10RA, susceptibilidade. ix ABSTRACT American cutaneous leishmaniasis (ACL) is a chronic infectious disease caused by parasites of the genus Leishmania, is a group of diseases with distinct clinical features and immunopathological. Most individuals exposed to the parasite do not develop the disease, suggesting a role for genetic factors that control. Thus, the present study aimed to investigate whether variants of IL-10 and IL-10Ra genes are associated with susceptibility or resistance to cutaneous leishmaniasis. For the study, patients with cutaneous leishmaniasis and healthy subjects were recruited. The sample was obtained by spontaneous demand of the Tropical Medicine Foundation Dr Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) of patients diagnosed positive for ATL and the control group consisted of healthy individuals with no history of ACL, inhabitants of endemic areas in the same cases . 774 volunteers were recruited, with 392 cases and 382 controls. DNA extraction was carried out with the Promega kit and the technique of "salting-out '. Stock concentrations of samples were determined by photometry. Genotyping of the SNPs -3575 T/A, -2849 G/A, -2763 C/A -819 C/T, 592 C/A, -1082 G/A of IL-10, and S138G A/G IL-10R R330G G/A a of IL10RA were performed by PCR-RFLP. Of the eight SNPs studied are presented in three HardyWeinberg disequilibrium (-2763 C/A -819 C/T and -1082 G/A). No evidence of association between the SNPs cutâena leishmaniasis and IL-10 gene was found, as well as S138G A / G IL10RA. There was a statistically significant difference in the distribution of allele frequencies (P = 0.013) and genotype (P = 0.044) of the G330R SNP G / A of IL-10Ra gene between cases and controls. The results suggest that variants of the IL-10Ra gene may be involved with resistance to cutaneous leishmaniasis. Key words: leishmaniasis, IL-10, IL-10RA, susceptibility. x LISTA DE FIGURAS Figura 1: Distribuição geográfica da leishmaniose cutânea e mucocutânea no Novo Mundo. ........................................................................................................................ 2 Figura 2: Formas clínicas de LC: A: cutânea localizada; B: cutânea disseminada e C: cutânea difusa. ....................................................................................................... 4 Figura 3: A: Formas promastigota (flagelada) de Leishmania; B: Formas amastigotas de Leishmania no interior de macrófago. .................................................................... 6 Figura 4: Flebotomíneo (fêmea) exercendo o hematofagismo. ................................. 7 Figura 5: Representação esquemática de possíveis rotas imunes acionadas nas infecções por Leishmania. ......................................................................................... 11 Figura 6: Análise de desequilíbrio de ligação entre os SNPs dos genes IL-10 (A) e IL-10RA (B). O número no interior do quadro indica a proporção de DL, em porcentagem, calculado utilizando o parâmetro r2; o código de cores reflete a intensidade de DL entre dois loci: quanto mais escuro o quadrado, maior o DL entre os SNPs (92). ............................................................................................................ 32 xi LISTA DE TABELAS Tabela 1: Sequência dos iniciadores utilizados nas amplificações por PCR. ........... 23 Tabela 2: Protocolo padronizado contendo as condições de amplificação por PCR para o SNP IL-10 -3575 T/A, -2849 G/A e -2763 C/A................................................ 24 Tabela 3: Protocolo padronizado contendo as condições de amplificação por PCR para o SNP IL-10 -819 C/T e -592 C/A...................................................................... 24 Tabela 4: Protocolo padronizado contendo as condições de amplificação por PCR para o SNP IL-10 -1082 G/A. .................................................................................... 25 Tabela 5: Protocolo padronizado contendo as condições de amplificação por PCR para o SNP IL-10RA S138G A/G. ............................................................................. 25 Tabela 6: Protocolo padronizado contendo as condições de amplificação por PCR para o SNP IL-10RA G330R G/A. ............................................................................. 26 Tabela 7: Dados referentes à RFLP ......................................................................... 27 Tabela 8: Dados referentes à digestão dos produtos de PCR. ................................. 28 Tabela 9: Dados da população estudada ................................................................. 31 Tabela 10: Frequências alélicas e genotípicas dos marcadores dos genes IL-10 e IL10RA nas populações casos e controles. ................................................................. 34 Tabela 11: Frequências alélicas e genotípicas do SNP IL-10RA G330R G/A nas populações casos e controles. .................................................................................. 35 xii LISTA DE ABREVIATURAS, SÍMBOLOS E UNIDADES DE MEDIDA % - Por cento ºC – Grau(s) Celsius ® - Marca registrada A – Adenina C- Citosina C3 – Proteína do sistema complemento C3bi – Componente inativado sistema complemento CEP - Comitê de ética em pesquisa CONEP - Conselho nacional de ética em pesquisa CR1 – Receptor de complemento 1 CR3 – Receptor de complemento 3 DNA – Ácido desoxirribonucleico DMSO – Dimetilsulfóxido dNTP's – Desoxirribonucleotídeos Fosfatados EDTA - Ácido Etileno Diamino Tetracético ELISA - Ensaio imunoenzimático EV – Via de administração endovenosa FMT-HVD - Fundação de Medicina Tropical Dr Heitor Vieira Dourado g – Grama G – Guanina gp63 – Glicoproteína 63 xiii h – Hora hsp70 -Heat-shock protein 70 IC – Intervalo de confiança IDRM - Intradermorreação de Montenegro IFI - Imunofluorescência indireta IFN-γ – Interferon-gama IL - Interleucina iNOS – Indutor de óxido nítrico sintase KCl – Cloreto de sódio Kg – Quilograma L. – Leishmania LC - Leishmaniose cutânea LCL – Leishmaniose cutânea localizada LCD - Leishmaniose cutânea disseminada LM - Leishmaniose mucosa LPG – Lipofosfoglicano LTA - Leishmaniose tegumentar americana LV -Leishmaniose visceral mg – Miligrama MgCl2 – Cloreto de magnésio mL - Mililitros mm – Milímetros mM – Milimolar xiv n° - Número ng – Nanogramas NK - Células natural killer NO - Óxido nítrico NOS2 – Óxido nítrico sintase O2 – Superóxido OH- - Radical Hidroxila OR – odds ratio p – Valor-p PCR - Reação em cadeia da polimerase PCR-RFLP – Reação em cadeia da polimerase – polimorfismos de comprimentos dos fragmentos de restrição PEG – Polietilenoglicol pH – Potencial hidrogeniônico Pmol – Picomol Rpm - Rotações por minuto Primers - Oligonucleotídeos iniciadores Sbv – Antimoniais pentavalentes SNPs - Polimorfismos de nucleotídeo único sp - Espécie spp – Espécies T – Timina T CD4+ - Linfócito T CD4+ xv TCLE – Termo de consentimento livre e esclarecido TGF-β – Fator de transformação do crescimento beta Th - Células T CD4 auxiliares TNF – Tumor necrosis factor / Fator de necrose tumoral U – Unidade μg – Microgramas μl – Microlitros V. – Viannia χ2 - Teste qui-quadrado xvi SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1 1.1 Leishmaniose: Aspectos gerais ............................................................................. 1 1.2 Epidemiologia ........................................................................................................ 1 1.3 Classificação Clínica ............................................................................................. 3 1.3.1 Leishmaniose Cutânea (LC) ............................................................................... 3 1.3.2 Leishmaniose Mucosa (LM) ............................................................................... 5 1.4 Agente Etiológico .................................................................................................. 5 1.5 Vetor ...................................................................................................................... 6 1.6 Diagnóstico............................................................................................................ 7 1.7 Imunopatogênese da leishmaniose tegumentar .................................................... 9 1.8 Tratamento .......................................................................................................... 12 1.9 Genética da Leishmaniose .................................................................................. 12 1.10 Gene IL-10 ........................................................................................................ 14 1.11 Gene IL-10RA ................................................................................................... 17 2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 18 2.1 Geral.................................................................................................................... 18 2.2 Específicos .......................................................................................................... 18 3. MATERIAIS E MÉTODOS..................................................................................... 19 3.1 Desenho do estudo ............................................................................................. 19 3.2 Área de estudo .................................................................................................... 19 3.3. População estudada ........................................................................................... 19 3.3.1 Definição de caso para o estudo ...................................................................... 19 3.3.2 Recrutamento da população ............................................................................ 20 3.3.3 Grupo caso ....................................................................................................... 20 3.3.4 Grupo controle .................................................................................................. 21 3.4 Coleta do material biológico ................................................................................ 21 3.5 Extração de DNA ................................................................................................. 22 xvii 3.6 Genotipagem ....................................................................................................... 22 3.6.1 Amplificação por PCR ...................................................................................... 22 3.6.2 RFLP ................................................................................................................ 26 3.7 Análise estatística ............................................................................................... 29 3.8 Aspectos éticos ................................................................................................... 29 3.9 Suporte financeiro ............................................................................................... 30 4. RESULTADOS ...................................................................................................... 31 4.1 Características gerais da população em estudo.................................................. 31 4.2 Genotipagem ....................................................................................................... 32 4.2.1 Análise da distribuição das frequências alélicas e genotípicas e associação dos polimorfismos do IL-10 e IL-10RA. ............................................................................ 32 5. DISCUSSÃO ......................................................................................................... 36 6. CONCLUSÃO........................................................................................................ 41 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 42 8. ANEXOS ............................................................................................................... 52 8.1 ANEXO A: Fluxograma........................................................................................ 52 8.2 ANEXO B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE....................... 53 8.3 ANEXO C: Questionário ...................................................................................... 57 8.4 ANEXO D: Protocolo de extração de DNA .......................................................... 58 8.5 ANEXO E: Minuta de Artigo ................................................................................ 59 1 1. INTRODUÇÃO 1.1 Leishmaniose: Aspectos gerais As Leishmanioses são doenças infecciosas, não contagiosas, causadas por diversas espécies de protozoários do gênero Leishmania (reino Protista, ordem Kinetoplastida, família Trypanosomatidae). São representadas por um grupo de doenças com caráter zoonótico, que acometem o homem e diversas espécies de animais silvestres e domésticos. A doença abrange um grande espectro de manifestações clínicas, variando desde uma forma assintomática, lesões ulcerativas na pele, inflamação destrutivas das mucosas da orofaringe (leishmaniose tegumentar), até a forma visceral (leishmaniose visceral) (1). As leishmanioses constituem um crescente problema de saúde pública. Atualmente a doença ocorre nos cinco continentes é considerada endêmica em 98 países(2, 3). Estima-se que, anualmente, 1,5 - 2 milhões de indivíduos sejam acometidos, e que 0.7 a 1.2 milhões de casos correspondam à forma tegumentar da doença. Atualmente, 12 milhões de pessoas apresentam alguma forma da doença e 310 milhões estão expostas em todo o mundo (1, 3). 1.2 Epidemiologia No Novo Mundo, a leishmaniose tegumentar americana (LTA) apresenta uma ampla distribuição, desde o extremo sul dos Estados Unidos, na América do Norte, atravessando a América central e chegando até o norte da Argentina, na América do Sul, onde apenas o Chile e o Uruguai não apresentam registros da doença (Figura 1). Entretanto pouco se sabe sobre suas taxas de prevalência e de incidência na população comprometida, já que o sistema de notificação da doença é falho, mesmo tendo seu registro obrigatório em muitos países, entre eles o Brasil (4, 5). A doença é mais frequente em homens, particularmente trabalhadores em florestas, devido sua maior exposição ao vetor (6). 2 Figura 1: Distribuição geográfica da leishmaniose cutânea e mucocutânea no Novo Mundo. Fonte: OMS, 2013 (7). No Brasil, a doença apresenta ampla distribuição por todas as regiões geográficas. Ao analisar a evolução da LTA, observa-se uma expansão geográfica no início da década de 80, quando foram registrados casos em 19 unidades federais e, em 2003, todos os estados registraram autoctonia. A partir da década de 90, o Ministério da Saúde notificou uma média anual de 32 mil novos casos de LTA (8). O Brasil representa a área endêmica de maior extensão territorial e um dos países com as mais elevadas taxas de notificação da infecção. As regiões Norte e Nordeste são responsáveis por cerca de 80% das notificações. Em 2013, na região Norte foram notificados 9.002 casos, sendo 3.224 no Estado do Pará, 1.537 no Amazonas, 1.295 em Rondônia, 1.012 no Acre, 837 no Amapá, 552 em Tocantins e 545 em Roraima(9). Em 2013, a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), centro de referência para o tratamento de LTA no Estado do Amazonas registrou 679 casos da doença, sendo 667 na forma cutânea e 12 na forma mucosa (10). Atualmente no Brasil, a LTA apresenta três padrões epidemiológicos característicos: 3 a) Silvestre – a transmissão ocorre em área de vegetação primária e é fundamentalmente uma zoonose de animais silvestres, que pode acometer o ser humano. Quando este entra em contato com o ambiente silvestre, onde esteja ocorrendo enzootia. b) Ocupacional e lazer – a transmissão está associada à exploração desordenada da floresta e derrubada de matas para construção de estradas, usinas hidrelétricas, instalação de povoados, extração de madeira, desenvolvimento de atividades agropecuárias, de treinamentos militares e ecoturismo. c) Rural e periurbano em áreas de colonização – está relacionado ao processo migratório, ocupação de encostas e aglomerados em centros urbanos associados a matas secundárias ou residuais (5). 1.3 Classificação Clínica A LTA é considerada uma enfermidade polimórfica e espectral da pele e das mucosas. As principais manifestações observadas nos pacientes podem ser classificadas de acordo com seus aspectos clínicos, patológicos e imunológicos. Classicamente, a doença se manifesta sob duas formas: leishmaniose cutânea (LC) e leishmaniose mucosa (LM), essa última também conhecida como mucocutânea, que podem apresentar diferentes manifestações clínicas (8, 11). 1.3.1 Leishmaniose Cutânea (LC) A LC é a forma mais benigna e consiste em lesões encontradas exclusivamente na pele. O surgimento da lesão inicial pode ocorrer entre um período de incubação que varia de três meses a um ano, sempre no local da picada do inseto, onde as formas promastigotas infectantes são inoculadas. Apresenta-se sob as seguintes formas clínicas: cutânea localizada, cutânea disseminada e cutânea difusa (12). Como apresentada na figura 2. 4 Figura 2: Formas clínicas de LC: A: cutânea localizada; B: cutânea disseminada e C: cutânea difusa. Fonte: http://biosalecionario.blogspot.com.br/2010/10/leishmaniose_5360.html; MS, 2008 (13, 14). 1.3.1.1 Leishmaniose Cutânea Localizada (LCL) Pode ocorrer como lesão única ou múltipla, na mesma região da picada do vetor ou nos pontos das picadas infectantes. É caracterizada por lesões ulcerosas, indolores, apresenta-se com bordas elevadas e infiltradas, fundo com tecido de granulação recoberto por discreto exsudato. Apresenta boa resposta ao tratamento, podendo acompanhar-se de linfadenopatia regional, linfangite ascendente e ulceração de alguns nódulos, reproduzindo as lesões iniciais (8, 11, 15). 1.3.1.2 Leishmaniose Cutânea Disseminada (LCD) Ocorre provavelmente por disseminação hematogênica ou linfática do parasito. As lesões cutâneas são numerosas e distantes do local das picadas, distribuindo-se por diversas áreas do corpo; em geral, são pequenas e ulceradas, podem ter diversos tamanhos e costumam responder bem ao tratamento (8). 1.3.1.3 Leishmaniose Cutânea Difusa 5 Constitui manifestação rara e grave da LC, ocorrendo em pacientes considerados anérgicos com deficiência específica na resposta imune celular a antígenos de Leishmania. De início insidioso, como lesão única não responsiva ao tratamento, evolui de forma arrastada, com formação de placas infiltradas e múltiplas nodulações não ulceradas, que recobrem grandes extensões cutâneas. Os pacientes apresentam um polimorfismo lesional característico, ocorrendo associação de lesões pápulo-nodulares, tuberosas, tumorais, vegetantes, verrucosas, formando placas. O tratamento é muito difícil ou ineficaz (8). 1.3.2 Leishmaniose Mucosa (LM) A forma mucosa é geralmente causada por disseminação hematogênica dos parasitos para as mucosas nasais, orofaringe, palato, lábios, língua, laringe e, excepcionalmente, traquéia e árvore respiratória superior. Admite-se que cerca de 3% a 4% dos indivíduos com LC possam evoluir para esta forma mais grave. A forma LM constitui sério problema pelas mutilações que pode provocar, pela dificuldade terapêutica e possibilidade de êxito letal. Dentre os potenciais fatores de risco para o desenvolvimento desta forma clínica encontram-se: presença de múltiplas ou extensas lesões cutâneas, lesões acima da cintura pélvica e tratamento inadequado da lesão cutânea primária (8, 16, 17). 1.4 Agente Etiológico A Leishmania é um parasito intracelular obrigatório das células do sistema fagocítico mononuclear, com duas formas principais: uma flagelada ou promastigota, encontrada no tubo digestivo do inseto vetor, e outra aflagelada ou amastigota, observada nos tecidos dos hospedeiros vertebrados (13, 15). As formas amastigotas apresentam-se tipicamente ovóides ou esféricas. Em seu citoplasma encontra-se núcleo único esférico ou ovóide disposto em geral em um dos lados da célula, e o cinetoplasto em forma de um bastão pequeno situado próximo ao núcleo. O tamanho varia de acordo com as espécies, medindo entre 1,5- 6 6,5µm (15). As formas promastigotas são alongadas em cuja região anterior emerge um flagelo livre. O núcleo situa-se na região anterior, variando bastante na sua posição. O tamanho é variável, mesmo dentro de uma mesma espécie, medindo entre 16,0-40,0µm de comprimento x 1,5-3,0µm de largura, incluindo o flagelo que frequentemente é maior que o corpo (15). A figura 3 apresenta as duas formas de Leishmania. Figura 3: A: Formas promastigota (flagelada) de Leishmania; B: Formas amastigotas de Leishmania no interior de macrófago. Fonte: FIOCRUZ, 2008; http://fpslivroaberto.blogspot.com.br/2009/12/parasitas-leishmania-spp-eleishmaniose.html (18, 19). No Brasil atualmente existem sete espécies do gênero Leishmania causadora de LTA, seis pertencentes ao subgênero Viannia: Leishmania (Viannia) braziliensis, Leishmania (Viannia) guyanensis, Leishmania (Viannia) shawi, Leishmania (Viannia) lainsoni, Leishmania (Viannia) lindenbergi, Leishmania (Viannia) naiffi e uma espécie do subgênero Leishmania: Leishmania (Leishmania) amazonensis (20-22). No Estado do Amazonas a principal espécie reconhecida como causadora de LTA é a L. guyanensis (23-26). 1.5 Vetor Os vetores da LTA são insetos denominados flebotomíneos (figura 4), pertencentes à Ordem Díptera, Família Psychodidae, Subfamília Phlebotominae, Gênero Lutzomyia, conhecidos popularmente, dependendo da localização 7 geográfica, como mosquito palha, tatuquira, birigui, entre outros(13). A transmissão ocorre pela picada do inseto fêmea infectada, que ao exercer o hematofagismo libera formas promastigotas no local da picada. A saliva do flebotomíneo possui neuropeptídios vasodilatadores que atuam facilitando a alimentação do inseto e ao mesmo tempo imunossuprimindo a resposta do hospedeiro, facilitando a infectividade das promastigota (15). Figura 4: Flebotomíneo (fêmea) exercendo o hematofagismo. Fonte: MS, 2007 (27). 1.6 Diagnóstico O diagnóstico da LTA é baseado em aspectos clínicos e epidemiológicos, na visualização do parasito, em provas imunológicas e na detecção de material genético através da técnica de PCR. O diagnóstico clínico é feito com base nas características da lesão associadas à anamnese, onde os dados epidemiológicos são de grande importância. Em todos os casos, no entanto, é necessário um diagnóstico através da confirmação da presença do agente etiológico em amostras obtidas do paciente (28, 29). O exame parasitológico direto é considerado como procedimento de primeira escolha devido à sua fácil execução, rapidez e baixo custo. A pesquisa direta pode ser realizada através do raspado das bordas das lesões, biópsia com impressão por aposição e punção aspirativa. Os raspados são feitos após limpeza local com substância antisséptica, a fim de diminuir a contaminação bacteriana, seguido da escarificação da borda da lesão com lâmina estéril, tentando-se evitar sangramento. Após coleta, o material é depositado em lâmina de vidro limpa, fixado em metanol e 8 corado pelo método Giemsa ou Leishman, a coloração pelo Giemsa é considerada a melhor no sentido de identificação do parasita. O material deve ser observado sob microscopia óptica em objetiva 100X sob imersão (5, 15, 30). A biópsia da lesão pode ser realizada com punch de 4 mm de diâmetro, ou em cunha, com o uso de bisturi. Esta deve ser efetuada, preferencialmente, na borda íntegra de lesões ulceradas. Após coleta do material, este deve ser fixado em formol a 10%, embebido em parafina e, posteriormente, corado pela hematoxilina e eosina e colorações específicas para Leishmania. A confirmação diagnóstica faz-se mediante visualização do parasita no tecido. A sensibilidade deste método aumenta quanto mais recente for a lesão (31) A intradermorreação de Montenegro (IDRM) é feito com injeção intradérmica de antígenos de Leishmania no antebraço esquerdo. O teste é interpretado após 4872 horas e considerado positivo quando apresentar induração maior ou igual a 5 mm. A IDRM é positiva em aproximadamente 90% dos casos. A reação continua positiva mesmo após anos de cura clínica, não servindo de critério diagnóstico para recidivas. O teste apresenta pequeno valor diagnóstico em casos individuais, mas é útil em inquéritos epidemiológicos (29, 32). As reações sorológicas como a técnica de imunofluorescência indireta (IFI) e ensaio imunoenzimático (ELISA) podem ser muito úteis, principalmente nos casos com lesões extensas e múltiplas e o diagnóstico precoce das lesões mucosas secundárias ou primárias (6). A cultura constitui um método de confirmação diagnóstica de casos de leishmaniose. O material coletado da lesão pode ser inoculado em meio ágarsangue de Novy e McNeal modificado por Nicolle (NNN), Schneider ou outros, onde o parasita cresce relativamente bem à temperatura ambiente (24 a 26 oC). A sensibilidade deste método é de aproximadamente 50% para L. braziliensis. O maior fator limitante da cultura é a contaminação por fungos ou bactérias, a qual pode ser evitada com a adição de antibióticos e antifúngicos ao meio de cultivo (33). A reação em cadeia da polimerase (PCR) é uma técnica estabelecida para detecção do DNA do parasita e caracterização do gênero e espécies de Leishmania. 9 A PCR tem se mostrado como uma nova opção de diagnóstico de LTA, principalmente em função de sua sensibilidade (15, 34). 1.7 Imunopatogênese da leishmaniose tegumentar A partir da inoculação das formas promastigotas na pele, inicia-se uma complexa interação entre o parasito e a resposta imunológica do hospedeiro, que determinará a expressão clínica da LTA. Vários setores do sistema imunológico são ativados, mas a resposta imune celular, específica para a Leishmania, tem papel crucial no controle final da infecção (8). Inicialmente, a presença das formas promastigotas inoculadas desencadeia, no local da inoculação, uma resposta inflamatória aguda inespecífica da qual participam células e fatores séricos – células natural killer (NK), polimorfonucleares (neutrófilos e eosinófilos) e sistema complemento. Estudos indicam os neutrófilos como uma das primeiras células a chegarem ao local da infecção e a serem infectadas pelas leishmanias. Os neutrófilos podem ser considerados como facilitadores para as formas promastigotas metacíclicas, uma vez que facilitam a infecção dos macrófagos, além de contribuírem para o processo inflamatório. A importância das células NK no controle da infecção deve-se tanto à sua ação citotóxica e também da produção de citocinas pró-inflamatórias, como IFN-γ e TNFα, o que determina um potencial para desenvolver resposta imune celular adequada (8, 35, 36). A interação de Leishmania com o macrófago envolve uma interação ligantereceptor entre as moléculas de superfícies de ambos, seguida por uma série de reações bioquímicas que pode levar à ativação ou inibição das funções microbicidas da célula. Dentre as diferentes moléculas da membrana dos parasitos envolvidas nesta interação encontram-se glicoproteínas e glicolipídeos como gp63 e lipofosfoglicano (LPG). A ligação de formas amastigotas à superfície da célula hospedeira desencadeia um fenômeno oxidativo celular, gerando metabólitos tóxicos de oxigênio, superóxido (O2), radical hidroxila (OH-) e, peróxido de hidrogênio (H2O2) 10 que é a principal atividade leishmanicida do macrófago. Além da resposta oxidativa, o macrófago possui outros mecanismos microbicidas, como óxido nítrico (NO) (37). Considerando-se que a Leishmania é um parasita intracelular obrigatório, a ativação do sistema complemento pode beneficiá-lo, pois ao serem gerados fragmentos da cascata (C3 e C3bi) que se ligam aos receptores dos macrófagos (CR1 e CR3) e também se depositam na parede do parasito, tem-se facilitada sua fagocitose. Além disso, sua entrada, utilizando esses receptores, promove baixo metabolismo oxidativo no macrófago, o que favorece a continuidade do seu ciclo biológico. À medida que ocorre o processo de fagocitose, os lisossomas das células fundem-se aos vacúolos parasitóforos formados, resultando em uma modificação do seu microambiente, que induz à transformação da forma promastigota para amastigota, facilitando sua sobrevivência, pois, sob essa nova forma, o parasito apresenta-se mais resistente e desencadeia menor resposta oxidativa da célula hospedeira (8). Os linfócitos T são fundamentais na resposta do hospedeiro a LTA: eles são decisivos para cura e geração de uma resposta imune protetora ao mesmo tempo em que são responsáveis pela persistência da doença e a sua patologia. Essa resposta é caracterizada pelo aumento de células T CD4 +, apresentando um perfil de citocinas Th1 ou Th2. O padrão de resposta imune do tipo 1 com produção de IFN-γ, TNF-α e IL-12, tem sido associado com o controle da infecção por ativação macrofágica e destruição parasitária. A citocina IFN-γ atua em sinergia com TNF-α ativando óxido nítrico sintase (iNOS ou NOS2) a produzir óxido nítrico (NO), resultando na morte intracelular do parasito e controle da doença. Por outro lado, citocinas como IL-4, IL-10 e TGF-β, consideradas do tipo 2, favorecem a multiplicação parasitária, inibindo a produção de NO por macrófagos ativados por IFN-γ (36, 38, 39). Estudos vêm mostrando, que tanto na LC como na LM, na fase ativa da doença, ocorre um aumento das citocinas Th1 e Th2, na tentativa de eliminação do parasita, porém, na LC os níveis de IL-10 são mais elevados que na LM (40-42). Sugerindo então como um dos fatores responsáveis pela modulação inadequada da resposta imune observada na LM, onde ocorre resposta inflamatória exagerada, caracterizada por altos níveis de IFN-γ e TNF, destruição tecidual e gravidade da doença. 11 Estudos recentes têm evidenciado o novo subtipo celular conhecido como Th17, relacionado com a produção de IL-17, IL-22, IL-21, IL-27 e IL-6, a princípio envolvido com a patogênese de doenças inflamatórias crônicas ou autoimunes. A resposta Th17 surge provavelmente como uma resposta inicial a um grande número de patógenos que não são bem resolvidos pela resposta do tipo Th1 e que requerem inflamação tecidual mais exacerbada para serem eliminados (43, 44). Em relação a resposta imune humoral na LTA, esta é pouco caracterizada, dado que o controle da infecção está relacionado a uma resposta por células T e a correta ativação macrofágica. A intensidade da resposta humoral parece estar relacionada com a carga parasitária e com a cronicidade da infecção (45). A vasta gama de citocinas e dos mecanismos imunológicos envolvidos na resposta imune contra Leishmania destaca a complexidade da doença. Visto que na LTA a infecção pode ser assintomática ou apresentar um espectro de manifestações clínicas, acredita-se que o resultado da doença é influenciado pelo balanço entre as respostas Th1/Th2, por fatores genéticos do hospedeiro, espécie do parasita e sua virulência, além de características epidemiologias e estado imune do hospedeiro (41, 46). Na figura 5 encontra-se um resumo esquemático da complexidade da resposta imune contra à Leishmania spp. Figura 5: Representação esquemática de possíveis rotas imunes acionadas nas infecções por Leishmania. Fonte: Hozmuller et al., 2006, adaptada por Covas (47). 12 1.8 Tratamento As principais drogas utilizadas para o tratamento para leishmaniose são o antimonial pentavalente, isotianato de pentamidina e a anfotericina B. (6) Os antimoniais pentavalentes (Sbv) são as drogas de primeira escolha recomendadas para tratar LTA causada por diferentes espécies, estando disponíveis em duas formulações: antimoniato de N-metilglucamina (Glucantime) e estibogluconato de sódio (Pentostan®). Com o objetivo de padronizar o esquema terapêutico, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a dose deste antimonial seja calculada em mg Sb+5/kg/dia. As injeções devem ser feitas por via parenteral, intramuscular ou endovenosa, com repouso após a aplicação. A via intramuscular pode apresentar o inconveniente da dor local. Sugere-se, então, alternância dos locais, preferindo-se a região glútea. Em casos de pacientes desnutridos, com pouca massa muscular e naqueles com trombocitopenia, deve-se dar preferência à via endovenosa (EV) (13). As pentamidinas são diamidinas aromáticas que vêm sendo utilizadas como drogas de segunda escolha no tratamento da leishmaniose tegumentar em áreas endêmicas dos continentes americano, asiático e africano. São comercializadas para uso em humanos nas seguintes formulações: Isotionato (Di-B-Hidroxietano Sulfonato) e Mesilato (Di-B-Hidroximetil-Sulfonato). Classicamente a dose recomendada é de 4mg/kg/dia, por via intramuscular profunda, de dois em dois dias, recomendando-se não ultrapassar a dose total de 2g (13). 1.9 Genética da Leishmaniose A leishmaniose é uma doença complexa. Em genética, doenças complexas são aquelas que não apresentam um padrão de herança Medeliana clássica, em que há perfeita correlação entre genótipo e fenótipo. A identificação de fatores genéticos que determinam se um paciente irá desenvolver a forma leve ou grave é importante para uma melhor compreensão da patogênese da Leishmania spp e na identificação de indivíduos em risco de desenvolver doença grave (48). A ocorrência 13 destas doenças é controlada por componentes genéticos, resultado da ação integrada de um número variado de genes, associados a fatores ambientais, socioeconômicos, culturais entre outros (49, 50). Apesar de diferentes espécies de Leishmania induzirem sintomas distintos, os indivíduos infectados com a mesma espécie de parasitas podem ter sintomas diferentes, e podem diferir na sua resposta à terapia. A influência de fatores genéticos relacionado ao desenvolvimento dessas diferentes formas de leishmaniose tem sido evidenciada por meio de estudos de larga escala, na forma de varredura do genoma dos indivíduos e através de estudo de genes candidatos, onde é feita uma avaliação do grau de associação entre um variante polimórfica e a presença da doença propriamente dita ou de alguma característica específica da doença (51-54). A coexistência de alelos múltiplos em um locus é chamada de polimorfismo genético. Um alelo pode ser definido como polimórfico se ele estiver presente em uma frequência maior que 1% na população(55). Os polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) são os polimorfismos mais estudados devido ao grande número encontrado ao longo do genoma, perfazem cerca de 90% de toda variação genética humana. Os SNPs são alterações da sequência de DNA que ocorrem quando um único nucleotídeo (A, T, C, ou G) na sequência do genoma é trocado por outro (55, 56). Análise de segregação complexa realizada em uma amostra de 636 famílias nucleares recrutadas em uma área endêmica para L. peruviana demonstrou a existência de componente genético controlando a susceptibilidade na manifestação clínica da doença (57). Polimorfismo na região promotora do gene TNF-α na posição -308A/G, foi associado com a ocorrência de LM em uma população venezuelana (58). Estudo familiar de ligação realizado em pacientes com leishmaniose visceral (LV) em uma vila do Sudão, endêmica para L. donovani, demonstrou uma forte ligação entre a presença da doença sintomática e a região do cromossomo 22q12 (51). Ainda no Sudão um estudo de associação baseado em famílias nucleares envolvendo 80 trios, detectou uma associação positiva entre um haplótipo formado por quatro SNPs na região promotora do gene INFGR1 e leishmaniose dermal póskalazar (59). A comparação entre 146 indivíduos brasileiros afetados por 14 leishmaniose tegumentar americana (78 pacientes com leishmaniose cutânea e 58 com leishmaniose mucosa) e 609 indivíduos saudáveis não apresentou associação com alelos do marcador INFG +874 T/A do gene INFG (60). Polimorfismo em CCL2 demonstrou associação com o aumento da susceptibilidade para a forma mucosa da leishmaniose em estudo realizado em área endêmica para L. braziliensis, na Bahia (61). O polimorfismo -174G/C do gene IL-6 também demonstrou associação com susceptibilidade à LM, em um estudo realizado na mesma região (62). Estudos sugerem que a IL-1b, possivelmente, tem um papel chave na determinação da gravidade da doença em pacientes com leishmaniose cutânea difusa. E ainda que polimorfismo em IL-1b representa uma variável que pode influenciar o risco de desenvolver a doença, em pacientes infectados com o parasita L. mexicana(63). Variantes dos genes PHF10, C6orf70, DLL1, PSMB1 e TBP localizados no cromossomo 6q27 foram associados em estudo familiar com LV no Sudão e no Brasil apenas o gene DLL1 demonstrou associação (64). Alelos dos genes TGFB1 e IL-8 foram estudados em uma poulação do Estado do Maranhão, os resultados mostraram que a presença do alelo T na posição -509 do gene TGFB1 conferia um risco relativo estimado em 1.9 de desenvolver LV (65). Mohamed et al. demostraram associação de variantes dos genes IL-4 e IL-9 com LV em população sudanesa (66). Um gene com efeito maior foi sugerido no controle da manifestação da lesão cutânea primária em um estudo realizado em área endêmica de L. braziliensis na Bolívia (67). No Brasil, a LM foi associada com uma diminuição da frequência de HLA-DR2 e um aumento da frequência de HLADQw3 (68). 1.10 Gene IL-10 O gene IL-10 está localizado no cromossomo 1, na região 1q31-q32 e compreende 5 éxons (69, 70). Sua região promotora é altamente polimórfica, pelo menos 23 SNPs já foram relatados, e apesar de vários deles estarem em 15 desequilíbrio de ligação, é razoável supor que alguns são de importância biológica. No entanto os SNPs mais investigados são encontrados na região distal os SNPs 3575 T/A, -2849 G/A, -2763 C/A, e na região proximal os SNPs -819 C/T, -592 C/A, 1082 G/A (71, 72). O IL-10 codifica uma citocina antiinflamatória, a interleucina 10 (IL-10) (73). A IL-10 é normalmente produzida por linfócitos Th2, linfócitos Th0, queratinócitos e células dendríticas. É uma das citocinas com características antiinflamatórias mais destacadas do sistema imune humano (74-76). A mesma inibe a síntese de citocinas pró-inflamatórias secretadas normalmente por monócitos e macrófagos ativados, tais como: TNF-α, IL-1α, IL-β, IL-6, IL-8, IL-12 (75, 77). Vários estudos têm demonstrado um possível envolvimento tanto de polimorfismos do gene IL-10 como da citocina (IL-10) na patogênese de doenças inflamatórias e infecciosas. Estudos recentes têm sugerido que SNPs existentes na região promotora e codificantes do gene IL10 poderiam explicar os diferentes padrões de resposta observados, por exemplo, em pacientes com Hanseníase e que possuam níveis altos de IL-10 (78, 79). Em um estudo avaliando o polimorfismo -1082A/G foi observado que mulheres com câncer cervical portadoras do alelo G parecem estar imunogeneticamente predispostas a produzir altos níveis de IL-10. Além disso, foi descrito que a frequência do alelo A associado à baixa produção de IL-10 foi menor no grupo de mulheres com câncer cervical quando comparado ao grupo controle. Esses achados sugerem que a habilidade, geneticamente determinada, de produzir altos níveis de IL-10 pode ser um fator importante no desenvolvimento do câncer cervical (80). Estudo realizado em áreas endêmicas para doenças de chagas em Minas Gerais demonstrou que polimorfismo do gene IL-10 (-1082G/A) está associado com o desenvolvimento de cardiomiopatia em indivíduos infectados com Trypanosoma cruzi (81). Schaaf et al em um estudo de caso-controle encontrou associação do polimorfismo do gene IL-10 (-1082 G/A) com pneumonia. Revelou que o genótipo 1082 GG está associado com a gravidade da doença, com maior risco de 16 desenvolver choque séptico (P=0.024, OR=6.1com IC=95% (1.4-27.2)) A freqüência do alelo G foi significativamente maior também nos pacientes que morreram em comparação com os pacientes que sobreviveram (82). Em um estudo de pacientes internados na unidade de terapia intensiva, o alelo -592A foi associado com menor liberação de IL-10 e maior mortalidade. Neste grupo de pacientes, 46,3% desenvolveram sepse e 32,8% morreram (83). Um estudo detalhado de 659 pacientes com hepatite C revelou uma associação entre o genótipo -592 AA e infecção autolimitada, enquanto o genótipo 1082 GG foi associado com a infecção persistente (84). A análise do polimorfismo IL10-819C/T, localizado no promotor de IL-10, mostrou que o alelo C aumenta o risco de lesões em pacientes com LTA (OR = 2,5 (1,12-5,7), p = 0,003). O genótipo IL10-819C/C foi associado a maiores níveis de IL10 do que os genótipos C/T e T/T. Estas observações demonstram um papel importante para IL-10 em lesões da pele em indivíduos infectados com L. braziliensis. Este estudo foi conduzido em uma população da Bahia, que vive em área endêmica para leishmaniose cutânea causada por L. braziliensis (85). Porém em um estudo realizado no Rio de Janeiro não foi encontrada nenhuma associação do SNP -819C/T com LTA (86). Variantes dos genes IL-10, IL-23R/IL-12RB2 foram associadas à Doença de Behçet (BD) em estudo de associação caso/controle na Turquia. Na região do gene IL-10, 27 SNPs foram genotipados, e 5 localizados na região promotora apresentaram-se fortementes associados com BD, sendo que o SNP rs1518111 mostrou maior significância (P=3.54x10-18, OR=1.45 e IC=95% (1.34-1.58)). Na região IL23R/IL12RB2, foram genotipados 11 SNPs, apenas um apresentou associação (rs924080, p= 6.69x10-9, OR=1.28 e IC=95% (1.18-1.39))(87). Andrew et al. identifcaram novos sítios de SNPs na região promotora do IL-10, e oitos haplótipos na região distal do gene apresentaram diferenças significativas em termos quantitativos na produção de IL-10 em doadores normais. Porém, estes SNPs são significativamente associados com lúpus eritematoso sistêmico em Africano-americanos e pode aumentar o risco de lúpus eritematoso sistêmico nesse grupo (88). 17 1.11 Gene IL-10RA O gene IL-10RA está localizado no cromossomo 11, na região 11q23.3. A proteína codificada por este gene é um receptor para a interleucina 10, a IL-10R (89). A IL-10R (IL-10 receptor) são tetrâmeros constituídos por duas subunidades de ligação (IL-10R-alfa ou IL-10R1) e duas subunidades de sinalização acessórias (IL10R-Beta ou IL-10R2) (90). A mesma medeia o sinal imunossupressor de interleucina 10, e, assim, inibe a síntese de citocinas pró-inflamatórias (91, 92). Estudo de caso-controle em uma população coreana demonstrou associação dos SNPs dos genes IL-10, IL-10RA e IL-10RB com o risco de acidente vascular isquêmico em hipertensos (93). Polimorfismos do IL-10RA também foram associados com filariose linfática, colite ulcerativa muito precose, câncer cervical e vulvar(94-96). Análise estrutural da variante S138G revelou que a substituição de serina 138 com glicina pode interferir com a ligação de IL-10 e IL-10R1 (97). Estudo avaliando a expressão e função do receptor de interleucina-10 (IL-10R) em células mononucleares do sangue periférico de pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) e indivíduos saudáveis, mostrou níveis semelhantes de expressão de IL-10R nos dois grupos. No entanto, foram observadas diferenças claras na expressão de genes induzidos por IL-10R em pacientes com LES e controles, principalmente nos genes envolvidos na apoptose e os que codificam citocinas e seus receptores (98). 18 2. OBJETIVOS 2.1 Geral Verificar o papel dos polimorfismos genéticos em IL-10, IL-10RA associados com leishmaniose cutânea em uma amostra populacional do estado do Amazonas, Brasil. 2.2 Específicos Determinar a frequência dos alelos e genótipos dos SNPs dos genes IL-10 e IL-10RA entre os pacientes com LC e indivíduos sem leishmaniose; Comparar as frequências encontradas dos SNPs e sua possível associação no controle da susceptibilidade ou resistência à LTA. 19 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Desenho do estudo Trata-se de um estudo caso-controle, realizado em uma amostra populacional do Estado do Amazonas recrutado no período compreendido entre novembro de 2008 a dezembro de 2013. 3.2 Área de estudo Consiste de regiões endêmicas para Leishmaniose localizadas nas proximidades do município de Manaus, especificamente das rodovias AM-010, que liga Manaus ao município de ltacoatiara; e BR-174, que liga Manaus a Boa Vista, capital do estado de Roraima. Estas regiões endêmicas são áreas de floresta tropical que ao longo dos anos sofreram desmatamento, dando lugar a assentamentos populacionais, cuja principal fonte de renda é a atividade agropecuária. Sendo assim, as principais atividades ocupacionais destes indivíduos e seu tipo de moradia, próximo às áreas de mata, tornaram essa população altamente exposta à infecção por Leishmania sp. 3.3. População estudada Foram recrutados pacientes com diagnóstico confirmado para Leishmaniose cutânea para compor o grupo caso e indivíduos sem sinal ou histórico de Leishmaniose, para compor o grupo controle, todos provenientes de áreas endêmicas para Leishmaniose no estado do Amazonas. 3.3.1 Definição de caso para o estudo 20 A Leishmaniose cutânea é definida como a presença de uma ou mais lesões ulceradas na pele, sem evidência clínica de comprometimento das mucosas, e com exame direto positivo. 3.3.2 Recrutamento da população No momento da inclusão dos indivíduos voluntários, foram explicados os detalhes e potenciais consequências do estudo e os procedimentos aos quais estes seriam submetidos em caso de concordância em participar. Todos os candidatos foram solicitados a ler o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Anexo B), devidamente aprovado pelo Comitê de Ética (CEP) pertinente. Aos que concordaram em participar, foi assinado o TCLE correspondente ao seu caso específico, e aplicado questionário (Anexo C). Ao voluntário menor de idade, um formulário próprio foi apresentado e assinado por um dos pais ou guardião legal. Para o voluntário não alfabetizado, o TCLE foi lido e explicado e, em caso de aceite, sua impressão digital foi coletada. 3.3.3 Grupo caso A população de estudo desse grupo foi recrutada exclusivamente no ambulatório de dermatologia da FMT-HVD por demanda espontânea. Foram admitidos apenas pacientes com Leishmaniose cutânea que tiveram seu diagnóstico confirmado através do exame direto, realizado por técnicos microscopistas capacitados para este fim. O diagnóstico foi realizado seguindo as recomendações do Ministério da Saúde. Após o diagnóstico positivo de LTA, os pacientes que concordaram em participar do estudo, mediante assinatura do TCLE e aplicação de questionário foram submetidos a uma coleta de 5 mL de sangue total. Todos os pacientes receberam tratamento e acompanhamento médico. 21 3.3.4 Grupo controle Para compor este grupo, foram recrutados indivíduos sem história prévia ou manifestação da LTA, todos habitantes de áreas endêmicas adjacentes às rodovias AM-010 e BR-174, de onde procedeu a maioria dos indivíduos do grupo caso. A seleção dessas localidades foi realizada de forma probabilística, tendo como base a escolha de regiões com casos confirmados de Leishmaniose, podendo-se destacar as principais: BR-174 - Ramal do Pau-Rosa e Ramal da Cooperativa e suas vicinais (Km 21); AM-010 - Ramal Água Branca I (Km 32) e Ramal Água Branca II (Km 35), Ramal do Leão (Km 37); O recrutamento foi realizado por meio de visitas da equipe de investigadores a essas localidades, percorrendo-se toda a extensão do ramal, com a finalidade de alcançar todas as moradias. 3.4 Coleta do material biológico Todos os indivíduos que concordaram em participar do estudo, foram submetidos a uma punção venosa para coleta de 5 mL de sangue periférico. As amostras de sangue foram coletadas em tubos tipo Vacutainer® contendo EDTA como anticoagulante, em condições ideais de assepsia. O sangue coletado foi centrifugado a 3.600 rpm durante 10 minutos para obtenção do creme leucocitário (buffy-coat) que foi posteriormente aspirado e transferido para um microtubo de 1,5 mL para extração do DNA genômico. O processamento das amostras deu-se no Laboratório de Pesquisa em Doenças Endêmicas (LPDE) da FMT-HVD. 22 3.5 Extração de DNA O DNA genômico foi extraído a partir do creme leucocitário obtido conforme descrito anteriormente. As extrações realizadas até o ano de 2011 foram feitas com o kit comercial de extração de DNA (WIZARD®, Promega Corporation, EUA), de acordo com as instruções sugeridas pelo fabricante. As amostras obtidas a partir do ano de 2012 foram extraídas pela técnica de “salting-out”, conforme protocolo de Sambrook et al. com algumas modificações (Anexo D) (65). Após a extração de DNA, sua concentração e pureza foram determinadas em espectrofotômetro. As amostras extraídas foram armazenadas em freezer à -80°C, localizados exclusivamente em laboratórios da FMT-HVD. 3.6 Genotipagem Marcadores do tipo Polimorfismos de Nucleotídeos Únicos (SNPs) dos genes IL-10, IL-10R foram escolhidos com base em material disponível na literatura e utilizando informações sobre suas sequências em bancos de dados de domínio público. A genotipagem dos marcadores foi realizada através da técnica de Reação em Cadeia da Polimerase – Polimorfismo de Comprimento de Fragmento de Restrição (PCR-RFLP, de Polymerase Chain Reaction – Restriction Fragment Length Polymorphism). 3.6.1 Amplificação por PCR As regiões genômicas contendo os marcadores genéticos em análise foram amplificadas pela Reação em Cadeia da Polimerase (em inglês, PCR, Polymerase 23 Chain Reaction) sob condições uniformes. As reações de amplificação foram realizadas em termociclador Mastercycler® ep gradiente S, Eppendorf Germany. Após a PCR, as amostras foram aplicadas em gel de agarose a 2% em tampão TBE 1x corados com brometo de etídeo. Foram aplicados 5 µL do produto amplificado, diluídos em 2 µL de tampão de amostra azul de bromofenol e 5 µL do marcador de tamanho molecular de DNA de 100 pb. As corridas foram feita a 100V durante aproximadamente 40 minutos em tampão TBE 1x. A visualização das bandas foi realizada em transluminador com luz UV e fotografadas em sistema de fotodocumentação digital. A sequência de todos os iniciadores encontra-se descrito na Tabela 1. Os oligonucleotídeos utilizados, as condições de clivagem e o tamanho do fragmento amplificado encontram-se discriminados nas Tabelas de 2 a 6. Tabela 1: Sequência dos iniciadores utilizados nas amplificações por PCR. GENE IL-10 POLIMORFISMO -3575 T/A rs1800890 INICIADORES F: 5’-GGAGCAGGGATGGAAGAAGAGAGG-3’ R: 5’-GCCTGGGCACAATTTAGTCCTGTG-3’ Pb 235 -2849 G/A rs6703630 F: 5’-TTCAGCAAATGGCTTGAGAT-3’ R: 5’-AATAGGGTTGAGGTTAGGATCTG-3’ 395 -2763 C/A rs6693899 F: 5’-TTCAGCAAATGGCTTGAGAT-3’ R: 5’-AATAGGGTTGAGGTTAGGATCTG-3’ 395 -592 C/A rs1800872 F: 5’-GGTGAGCACTACCTGACTAGC-3’ R: 5’-CCTAGGTCACAGTGACGTGG-3’ 412 -819 C/T rs1800871 F: 5’-GACAACACTACTAAGGCTCCTTTGGGA-3’ R: 5’-GTGAGCAAACTGAGGCACAGAAT-3’ 315 -1082 G/A rs1800896 F: 5’-AACTGGCTCCCCTTACCTTC-3’ R: 5’-AGGAGGTCCCTTACTTTCCGC-3’ 141 S138G A/G rs3135932 F: 5’-TCAGCCCTCAAGTCTCATGGTATTC-3’ R: 5’-TCTCATACTCTCGGAAGTGACTGAAGAA-3’ 186 G330R G/A rs117423374 F: 5’-CACCCCCAGGCTGACAGAACGCTGGGAA-3’ R: 5’-CTCAGGTAACCCTGGAATGCCACAG-3’ 323 IL-10RA F (fordward)= primer senso; R(reverse)= primer antisenso; pb= pares de bases 24 Tabela 2: Protocolo padronizado contendo as condições de amplificação por PCR para o SNP IL-10 -3575 T/A, -2849 G/A e -2763 C/A. Reagentes Concentração Volume (µL) Ciclo Primer F 0,2 µM 0,5 95 ⁰C – 5’ Primer R 0,2 µM 0,5 95 ⁰C – 30’’ Tampão 1x 2,5 62 ⁰C – 15’’ MgCl2 4,0 mM 2,0 72 ⁰C – 30’’ dNTP 40 µM 1,0 72 ⁰C – 7’ Taq Polimerase 1.0 U 0,2 4 ⁰C. DNA 10-100 ng 1,0 H2O Suficiente para 23,5 µL 17,3 35X Tabela 3: Protocolo padronizado contendo as condições de amplificação por PCR para o SNP IL-10 -819 C/T e -592 C/A. Reagentes Concentração Volume (µL) Ciclo Primer F 0,2 µM 0,5 95 ⁰C – 5’ Primer R 0,2 µM 0,5 95 ⁰C – 15’’ Tampão 1x 2,5 58 ⁰C – 15’’ MgCl2 3,0 Mm 1,5 72 ⁰C – 15’’ dNTP 40 µM 1,0 72 ⁰C – 7’ Taq Polimerase 1.0 U 0,2 4 ⁰C. DNA 10-100 ng 1,0 H2O Suficiente para 23,5 µL 17,8 35X 25 Tabela 4: Protocolo padronizado contendo as condições de amplificação por PCR para o SNP IL-10 -1082 G/A. Reagentes Concentração Volume (µL) Ciclo Primer F 0,2 µM 0,5 95 ⁰C – 5’ Primer R 0,2 µM 0,5 95 ⁰C – 20’’ Tampão 1x 2,5 57 ⁰C – 20’’ MgCl2 3,0 mM 1,5 72 ⁰C – 20’’ dNTP 40 µM 1,0 72 ⁰C – 7’ Taq Polimerase 1.0 U 0,2 4 ⁰C. DNA 10-100 ng 1,0 H2O Suficiente para 23,5 µL 17,8 35X Tabela 5: Protocolo padronizado contendo as condições de amplificação por PCR para o SNP IL-10RA S138G A/G. Reagentes Concentração Volume (µL) Ciclo Primer F 0,2 µM 0,5 95 ⁰C – 5’ Primer R 0,2 µM 0,5 95 ⁰C – 20’’ Tampão 1x 2,5 58 ⁰C – 20’’ MgCl2 4,0 Mm 2,0 72 ⁰C – 20’’ dNTP 40 µM 1,0 72 ⁰C – 7’ Taq Polimerase 1.0 U 0,2 4 ⁰C. DNA 10-100 ng 1,5 H2O Suficiente para 23,5 µL 16,8 35X 26 Tabela 6: Protocolo padronizado contendo as condições de amplificação por PCR para o SNP IL-10RA G330R G/A. Reagentes Concentração Volume (µL) Ciclo Primer F 0,2 µM 0,5 95 ⁰C – 5’ Primer R 0,2 µM 0,5 95 ⁰C – 20’’ Tampão 1x 2,5 61 ⁰C – 20’’ MgCl2 2,0 Mm 1,0 72 ⁰C – 20’’ dNTP 40 µM 1,0 72 ⁰C – 7’ Taq Polimerase 1.0 U 0,2 4 ⁰C. DNA 10-100 ng 1,5 H2O Suficiente para 23,5 µL 17,8 35X 3.6.2 RFLP Para a realização da análise dos polimorfismos foi realizada a técnica RFLP. Essa técnica baseia-se na detecção de variantes genéticas com base no resultado obtido pela digestão do produto amplificado por uma enzima de restrição específica. Após amplificação gênica, foi realizada a digestão enzimática utilizando enzimas de restrição específicas para identificação de cada SNPs. Os dados referentes à RFLP encontram-se na Tabela 7. Após o período de incubação estabelecido para atuação da endonuclease, os produtos da digestão foram misturados com 5 µL de tampão de corrida e submetido à eletroforese em gel de agarose em tampão TBE 1x e corados com brometo de etídeo. As corridas foram feita a 100V durante o tempo necessário para completa separação dos fragmentos gerados. Utilizou-se marcador de tamanho molecular de DNA de 100 pb para facilitar a identificação dos fragmentos gerados em cada amostra. Ao final as bandas foram visualizadas em transluminador de luz UV e fotografadas em sistema de fotodocumentação digital. Os dados referentes à digestão dos produtos de PCR encontram-se na Tabela 8. 27 Tabela 7: Dados referentes à RFLP GENE POLIMORFISMO INICIADORES -3575 T/A F: 5’-GGAGCAGGGATGGAAGAAGAGAGG-3’ rs1800890 R: 5’-GCCTGGGCACAATTTAGTCCTGTG-3’ -2849 G/A rs6703630 IL-10 R: 5’-AATAGGGTTGAGGTTAGGATCTG-3’ F: 5’-TTCAGCAAATGGCTTGAGAT-3’ rs6693899 R: 5’-AATAGGGTTGAGGTTAGGATCTG-3’ -592 C/A F: 5’-GGTGAGCACTACCTGACTAGC-3’ rs1800872 R: 5’-CCTAGGTCACAGTGACGTGG-3’ rs1800871 235pb TEMPERATURA ANELAMENTO 62 ⁰C 62 ⁰C R: 5’-AGGAGGTCCCTTACTTTCCGC-3’ S138G A/G F: 5’-TCAGCCCTCAAGTCTCATGGTATTC-3’ rs3135932 R: 5’-TCTCATACTCTCGGAAGTGACTGAAGAA-3’ T:132/75/28 5’...R↓AATTY...3’ 5’...GGATC(N)4↓...3’ DdeI 395pb 62 ⁰C 5’...C↓TNAG...3’ 3’...GANT↑C...5’ RsaI 412pb 58 ⁰C 5’...GT↓AC...3’ 3’...CA↑TG...5’ SspI 315pb rs1800896 ApoI 3’...CCTAG(N)5↑...5’ 58 ⁰C R: 5’-GTGAGCAAACTGAGGCACAGAAT-3’ F: 5’-AACTGGCTCCCCTTACCTTC-3’ ALELOS: PRODUTOS DIGESTÃO AlwI 395pb F: 5’-GACAACACTACTAAGGCTCCTTTGGGA-3’ -1082 G/A ENZIMA / SÍTIO DE RESTRIÇÃO 3’...YTTAA↑R...5’ F: 5’-TTCAGCAAATGGCTTGAGAT-3’ -2763 C/A -819 C/T PRODUTO PCR 5’...AAT↓ATT...3’ 3’...TTA↑TAA...5’ MnlI 141pb 57 ⁰C 5’...CCTC(N)7↓...3’ 3’...GGAG(N)6↑...5’ HindIII 186pb 58 ⁰C 5’...A↓AGCTT...3’ A:207/28 G:241/77/51/26 A:318/51/26 C:114/92/92/49/48 A:163/92/92/48 A:236/176 C:412 T:291/24 C:315 A:92/49 G:141 G:155/31 A:186 3’...TTTGA↑A...5’ IL-10RA G330R G/A rs117423374 F: 5’-CACCCCCAGGCTGACAGAACGCTGGGAA-3’ MspI 323pb R: 5’-CTCAGGTAACCCTGGAATGCCACAG-3’ 61 ⁰C G: 184/61/49/29 5’...C↓CGG...3’ 3’...GGC↑C...5’ A:213/61/49 28 Tabela 8: Dados referentes à digestão dos produtos de PCR. SNP CONDIÇÕES DE DIGESTÃO [ ] GEL DE AGAROSE Tampão 3 -1x Enzima: ApoI 2U Produto de PCR: 15 µL IL-10 -3575 T/A Volume final: 25 µL 3% Temperatura: 50 ⁰C Tempo de digestão: 3 horas Tampão 4 -1x Enzima: AlwI 2U IL-10 -2849 G/A Produto de PCR: 15 µL Volume final: 25 µL 3% Temperatura: 37 ⁰C Tempo de digestão: 3 horas Tampão 3 -1x Enzima: DdeI 2U IL-10 -2763 C/A Produto de PCR: 15 µL Volume final: 25 µL 4% Temperatura: 37 ⁰C Tempo de digestão: 3 horas Tampão SspI -1x Enzima: SspI 2U IL-10 -819 C/T Produto de PCR: 15 µL Volume final: 25 µL 3% Temperatura: 37 ⁰C Tempo de digestão: 3 horas Tampão 2 -1x Enzima: RsaI 2U IL-10 -592 C/A Produto de PCR: 15 µL Volume final: 25 µL 3% Temperatura: 37 ⁰C Tempo de digestão: 3 horas Tampão 4 -1x Enzima: MnlI 2U IL-10 -1082 G/A Produto de PCR: 15 µL Volume final: 25 µL 3% Temperatura: 37 ⁰C Tempo de digestão: 3 horas Tampão 2.1 -1x Enzima: HindIII 2U IL-10RA S138G A/G Produto de PCR: 15 µL Volume final: 25 µL Temperatura: 37 ⁰C 3% 29 Tempo de digestão: 3 horas Tampão 2 -1x Enzima: MspI 2U IL-10RA G330R G/A Produto de PCR: 15 µL Volume final: 25 µL 3% Temperatura: 37 ⁰C Tempo de digestão: 3 horas [ ]: Concentração; U: Unidade e µL: Microlitro 3.7 Análise estatística Inicialmente, foi realizado o teste para verificar se as frequências alélicas dos SNPs estavam em equilíbrio de Hardy-Weinberg (HWE), bem como a estimativa do grau de desequilíbrio de ligação (DL) entre alelos de pares de marcadores usando o parâmetro r2, foi realizada após implementação do software Haploview v.4.2 (99). Análise estatística descritiva foi aplicada para ambos os grupos de casos e controles. Para as variáveis qualitativas foram calculadas as frequências em porcentagens para cada grupo, e para as variáveis quantitativas obteve-se a média, desvio padrão, valores mínimo e máximo. As análises de comparação dos polimorfismos entre grupos casos e controles, o teste do chi-quadrado (χ2) e odds ratio (OR) foram feitos utilizando o programa SPSS (Satistical Package for the Social Sciences) v.22. Sendo os valores de OR>1 presença de um fator de risco, OR<1 um fator protetor e na presença de OR=1 um equilíbrio de ligação, não havendo associação. Diferença entre os grupos foi estatisticamente significante quando o valor de P˂0,05. O intervalo de confiança (IC) calculado foi de 95%. 3.8 Aspectos éticos O estudo foi aprovado pelo CEP da FMT-HVD sob o número do parecer 289.683, CAAE: 09995212.0.0000.0005. 30 3.9 Suporte financeiro Este estudo faz parte de um projeto maior, intitulado “Estudo da influência de polimorfismos genéticos na suscetibilidade à leishmaniose tegumentar causada por Leishmania guyanensis em população de áreas endêmicas de Manaus, estado do Amazonas, coordenado pelo Prof. Dr Rajendranath Ramasawmy, e financiado pelo CNPq (MCTI/CNPq/MS-SCTIE –n° 404181/2012-0). 31 4. RESULTADOS 4.1 Características gerais da população em estudo O estudo resultou no recrutamento de 392 pacientes com leishmaniose cutânea. Todos os participantes desse grupo foram diagnosticados com LTA, de acordo com parâmetros clínicos, epidemiológicos e laboratoriais. Houve predominância do gênero masculino (311 indivíduos, 79,3%) em relação ao feminino (80 indivíduos, 20,4%). A idade média do grupo foi de 32.1, com mínima de 5 e máxima de 70 anos. Obtivemos 382 indivíduos saudáveis, sem histórico de LTA, habitantes de áreas endêmicas de Manaus para compor o grupo controle. A predominância do gênero masculino também existiu no grupo. A idade média foi de 36.3, com mínima de 5 e máxima de 89 anos. Nota-se que o grupo controle apresenta-se mais velho que o grupo caso, fator esse positivo para o estudo, pois estes estiveram expostos à doença a mais tempo que os casos, e não ficaram doentes, ou seja, a probabilidade é maior de que eles sejam controles genéticos verdadeiros, naturalmente resistentes. Os dados referentes às características da população estudada encontram-se na Tabela 9. Tabela 9: Dados da população estudada CASOS CONTROLES Média[DP] 32.1 [14.0] 36.3 [17.7] Mediana 30 32 Min – Max 5 _ 70 5 _ 89 M 311 (79,3) 225 (58,9) F 80 (20,4) 157 (41,1) Sem informação 1 (0,3) 0 Total 392 382 Idade Gênero DP: Desvio padrão; Min: Mínimo; Max: Máximo; M: Masculino; F: Feminino 32 4.2 Genotipagem Foram genotipados oito SNPs para o presente estudo, IL-10 (-3575 T/A, 2763 C/A, -2849 G/A, -819 C/T, -1082 G/A e -592 C/A) e IL-10RA (S138G A/G e G330R G/A). Todos os marcadores investigados nesse estudo foram testados individualmente para equilíbrio de Hardy-Weinberg nos grupos de pacientes e indivíduos controles. Foi observado que os marcadores rs6693899 (-2763 C/A), rs1800871 (-819 C/T) e rs1800896 (-1082 G/A) estavam fora de Hardy-Weinberg com valor de P= 1.0E-4, 4.5681E-10 e 8.0E-4 respectivamente, logo não foi realizada a analise de associação dos mesmos. Esses desequilíbrios podem realmente existir ou podem está associados com problemas técnicos ou com baixo número de genotipagem. A análise do grau de desequilíbrio de ligação (DL) entre alelos de pares de marcadores usando o parâmetro r2, foi realizada após implementação do software Haploview v.4.2, confirmando independência para todos os SNPs analisados. (Figura 6). A B Figura 6: Análise de desequilíbrio de ligação entre os SNPs dos genes IL-10 (A) e IL-10RA (B). O número no interior do quadro indica a proporção de DL, em porcentagem, calculado utilizando o 2 parâmetro r ; o código de cores reflete a intensidade de DL entre dois loci: quanto mais escuro o quadrado, maior o DL entre os SNPs (99). 4.2.1 Análise da distribuição das frequências alélicas e genotípicas e associação dos polimorfismos do IL-10 e IL-10RA. 33 As frequências alélicas e genotípicas de cada grupo foram calculadas com a utilização do programa SPSS (Satistical Package for the Social Sciences) v.22. Entre os SNPs do gene IL-10 (-3575 T/A, -2849 G/A e -592 C/A) não foi encontrada evidência para associação entre genótipos ou alelos com leishmaniose. Para o SNP -3575 T/A, as frequências genotípicas foram 3.3% para homozigotos AA, 32.9% para heterozigotos AT e 63.8% para homozigotos TT no grupo de pacientes, contra frequências de 4.8, 32.7 e 62.5% para AA, AT e TT, respectivamente, no grupo controle. A frequência do alelo A foi de 80.2% e 78.9% para pacientes com LC e controles, respectivamente. Para o SNP -2849 G/A, as frequências genotípicas foram 2.0% (homozigoto AA), 24.4% (heterozigoto AG) e 73.6% (homozigoto GG) para os pacientes com LC, e 3.6, 28.0 e 68.4% para AA, AG e GG, respectivamente para o grupo controle. A frequência do alelo G foi de 85.8 e 82.4% para pacientes com LC e controles, respectivamente. Finalmente, para o SNP -592 C/A, as frequências genotípicas foram 15.2% (homozigoto AA), 46.0% (heterozigoto AC) e 38.8% (homozigoto CC) para pacientes com LC, e 13.7, 41.1 e 45.2% para AA, AC e CC entre controles, respectivamente. A frequência do alelo C foi de 61.8 e 65.7% para pacientes com LC e controles, respectivamente. Nenhuma diferença observada para as frequências genotípicas e alélicas foi estatisticamente significativa para o SNP S138G A/G do gene IL-10RA. As frequências genotípicas foram 86.0% (homozigoto AA), 12.4% (heterozigoto AG) e 1.6% (homozigoto GG) para pacientes com LC, e 88.2, 10.5 e 1.3% para AA, AG e GG entre controles, respectivamente. A frequência do alelo A foi de 92.2 e 93.5% para pacientes com LC e controles, respectivamente. As frequências alélicas e genotípicas dos marcadores dos genes IL-10 e IL-10RA nas populações casos e controles estão descritas na Tabela 10. Para o SNP G330R G/A do gene IL-10RA houve diferença estatisticamente significativa na distribuição de frequências alélicas (P= 0.013) e genotípicas (P= 0.044) entre casos e controles. As frequências genotípicas foram 6.4% (homozigoto AA), 28.3% (heterozigoto AG) e 65.3% (homozigoto GG) para pacientes com LC, e 2.7, 24.6 e 72.7% para AA, AG e GG entre controles, respectivamente. Para verificar qual alelo estava associado, foi realizada a análise de dominância, onde o domínio do alelo G apresentou maior significância com P= 0,043 e OR= 0.408. Os resultados estão apresentados na Tabela 11. 34 Tabela 10: Frequências alélicas e genotípicas dos marcadores dos genes IL-10 e IL10RA nas populações casos e controles. POLIMORFISMOS CASOS CONTROLES n= 359 (%) n= 355 (%) Genótipo AA 12 (3,3) 17 (4,8) AT 118 (32,9) 116 (32,7) TT 229 (63,8) 222 (62,5) A 142 (19,8) 150 (21,1) T 576 (80,2) 560 (78,9) n= 349 (%) n= 307 (%) Genótipo AA 7 (2,0) 11 (3,6) AG 85 (24,4) 86 (28,0) GG 257 (73,6) 210 (68,4) A 99 (14,2) 108 (17,6) G 599 (85,8) 506 (82,4) IL-10 -592 C/A n= 276 (%) n= 299 (%) Genótipo AA 42 (15,2) 41 (13,7) AC 127 (46,0) 123 (41,1) CC 107 (38,8) 135 (45,2) A 211 (38,2) 205 (34,3) C 341 (61,8) 393 (65,7) n= 315 (%) n= 314 (%) Genótipo AA 271 (86,0) 277 (88,2) AG 39 (12,4) 33 (10,5) GG 5 (1,6) 4 (1,3) A 581 (92,2) 587 (93,5) G 49 (7,8) 41 (6,5) IL-10 -3575 T/A P 0.617 Alelo IL-10 -2849 G/A 0.527 0.229 Alelo 0.091 0.301 Alelo IL-10RA S138G A/G 0.164 0.713 Alelo P= Valor de P 0.390 35 Tabela 11: Frequências alélicas e genotípicas do SNP IL-10RA G330R G/A nas populações casos e controles. IL-10RA G330R G/A CASOS CONTROLES n= 283 (%) n= 297 (%) Genótipo AA AG 18 (6.4) 80 (28.3) 8 (2.7) 73 (24.6) GG 185 (65.3) 216 (72.7) AA + AG 98 (34.6) 81 (27.3) GG 185 (65.4) 216 (72.7) GG + AG 265 (93.6) 289 (97.3) AA 18 (6.4) 8 (2.7) A 116 (20.5) 89 (15.0) G 450 (79.5) 505 (85.0) P OR (IC 95%) 0,044 Dominância 0,059 1.413 (0.992 – 2.012) 0,043 0.408 (0.174 – 0.953) 0,013 1.463 (1.079 – 1.982) Alelo P= Valor de P; OR= odds ratio; IC= Intervalo de confiança. 36 5. DISCUSSÃO As leishmanioses constituem um importante problema de saúde publica mundial. E o Brasil representa a área endêmica de maior extensão territorial e um dos países com as mais elevadas taxas de notificação da infecção. A região Norte é uma das regiões que apresenta a maior incidência de LTA e o estado do Amazonas apresenta-se como o segundo estado de maior incidência da região (100). Sabe-se que a susceptibilidade do ser humano a fenótipos da leishmaniose, tal como a doença per se, é parcialmente controlada por determinantes genéticos, entendemos que esforços no sentido de se elucidar os mecanismos moleculares de controle e interação patógeno/hospedeiro contribuirão de forma crítica para um maior entendimento da patogênese da doença (48, 50). Por exemplo, a identificação de fatores de risco genéticos de susceptibilidade à leishmaniose pode conduzir ao desenvolvimento de novas ferramentas para triagem e detecção de indivíduos saudáveis, porém sob risco de desenvolvê-la até transmiti-la, com potencial impacto sobre as estratégias de controle da doença. Estudos vêm demonstrando que a susceptibilidade ou resistência do hospedeiro à leishmaniose, bem como a gravidade da doença podem ser associados com polimorfismos em genes de citocinas (52, 58, 62, 65). Porém a maioria desses estudos foi realizada com leishmaniose visceral e pouco se sabe sobre a forma tegumentar da doença. Em busca de uma melhor compreensão sobre esses fatores genéticos, o presente estudo procurou através de um estudo do tipo caso-controle de população avaliar a influência dos SNPs da região promotora do gene IL-10, o qual codifica a IL-10, que exerce um papel central no controle do processo inflamatório, e é considerada uma das principais citocinas envolvidas na patogênese da LTA, em função da sua atividade imunossupressora e por ser um potente inibidor de macrófagos e os SNPs do gene IL-10RA, o qual codifica uma proteína que é um receptor para a interleucina 10 com a susceptibilidade ou resistência à LTA(73, 89). Estudo de caso-controle genético tem sido realizado com muita frequência para estabelecer associações entre doenças infecciosas e mutações em determinados genes. Para se ter um resultado fidedigno, as escolhas do controle 37 devem ser bem criteriosas, para garantir que a odds ratios estime corretamente a associação do polimorfismo com a doença estuda, evitando enviesamento de estimativa de associação (101). O grupo de pacientes avaliados neste estudo é oriundo de regiões endêmicas do Amazonas, sendo a grande maioria advindo do Ramal do Pau-rosa e do Ramal da Cooperativa e suas respectivas vicinais, ambos localizados no Km 21 da Br 174. Todos os pacientes foram recrutados na FMT-HVD por demanda espontânea. O grupo controle foi composto por indivíduos sadios, sem sinal e histórico de LTA, habitantes das mesmas áreas endêmicas dos casos. Foi observada predominância do sexo masculino no grupo caso (79,3%), confirmando os achados na literatura, fato esse justificado pela maior exposição do homem ao vetor, devido suas atividades extrativistas e agropecuárias (6, 26, 102-104). Segundo o Manual de vigilância da LTA do Ministério da Saúde, 70% dos casos notificados no Brasil correspondem ao sexo masculino (13). Em relação à média de idade entre os grupos, um ponto positivo foi encontrado, pois nosso grupo controle apresentou uma média maior que o caso, 36.3 e 32.1, respectivamente. Isso torna nossos dados mais confiáveis, levando em consideração o fato de serem mais velhos e não terem desenvolvido a doença, mesmo estando expostos. Benicio em seu estudo sobre procedimentos diagnósticos em leishmaniose, realizado com pacientes atendidos na FMT-HVD observou uma média de idade de casos de 29 anos, o que mostra proximidade com os nossos dados (103). Tarabar et al encontraram associação do polimorfismo da IL-10 -3575 com a ocorrência de linfoma difuso de grandes células B (linfoma não Hodgkin). Onde foi demostrada associação com as características clínicas e evolução dos pacientes com esse tipo de linfoma, sendo os genótipos TA e AA associados com a presença de sintomas(105). Em Bengala Ocidental, na Índia foi realizado um estudo de associação do SNP IL-10 -3575 com a susceptibilidade ao arsênio em pessoas expostas a essa substâncias por meio de água potável, sendo encontrada associação do polimorfismo com o surgimento de lesões cutâneas induzidas por arsênio (106). Moraes et al. analisaram a frequência dos cinco SNPs da região promotora do gene IL-10 (-3575, -2849, -2763, -1082 e -819), em um estudo caso-controle, onde 38 analisou-se pacientes com hanseníase e indivíduos saudáveis. Foram encontradas diferenças significativas entre indivíduos do grupo controle e pacientes com hanseníase e os SNPs -3575, -2849 e -2763. Onde o haplótipo -3575A/-2849G/2763C (AGC) foi associado à resistência, e o haplótipo -3575T/-2849G/-2763C (TGC) a susceptibilidade, mas não a forma grave da doença (107). Em um estudo com LTA, realizado no Rio de Janeiro não foi encontrada associação do SNP -819 com a susceptibilidade nem a gravidade da doença (86). Foi evidenciada associação dos SNP -1082 / -819 / -592 e concentrações elevadas IL-10 com a leucoplasia vocal (108). Associações dos SNPs -819 e -592 foram encontradas com hepatite B em uma população indiana. Foi realizado análise de haplótipo, onde o genótipo CC/TA demonstrou-se um fator de risco para a cirrose (OR = 2,02 a P <0,05) e subsequente desenvolvimento de carcinoma hepatocelular (OR = 2,20 a P <0,05) (109). Em um estudo de meta-análise evidenciou-se associação do SNP -1082 com a susceptibilidade ao câncer gástrico (110). Outros estudam também mostraram associação do SNP -1082 com várias doenças como HIV/AIDS, periodontite crônica, leucoplasia vocal, alergia entre outras (108, 111-113). Em nosso estudo para os SNPs -3575 T/A, -2949 G/A e -592, não foi encontrada associação com a susceptibilidade nem a resistência com leishmaniose cutânea, já que os alelos e genótipos para cada um desses SNPs apresentaram a mesma distribuição esperada na população em estudo. Os mascadores -2763, 1082 e -819 apresentaram-se fora do equilíbrio de Hardy-Weinberg (EHW), a presença de devios de EHW geralmente é associada por um fator ambiental e pode também ser um indicativo de erros na genotipagem, buscando manter a confiabilidade dos dados, os mesmo foram retirados da análise estatística. Em relação ao IL-10RA há poucos estudos de associação disponíveis na literatura o que torna nosso estudo mais importante, pois é o primeiro realizado com leishmaniose. A IL-10R proteína codificada por este gene é um receptor para a interleucina 10, a mesma medeia o sinal imunossupressor de interleucina 10, inibidindo assim a ativação de citocinas pró-inflamatórias. Vários SNPs nos éxons desse gene já foram identificados. Tem sido relatado que dois SNPs no gene, as 39 substituições de serina 138 com glicina (S138G) e da glicina 330 por arginina (G330R), tem implicações funcionais (114). Com base nesses achados, optou-se pela escolha desses dois marcadores, a fim de se verificar uma possível associação com o fenótipo LC. Polimorfismos genéticos em IL10RA foram associados entre transfusão de sangue e o risco de linfoma não-Hodgkin (NHL). Foi realizado um estudo de casocontrole com mulheres sem transfusão de sangue e mulheres com história de transfusão. Observou-se que as mulheres com história de transfusão tinham maior risco de desenvolver NHL, com OR =1.9, IC 95% (1.1-3.2) (115). O SNP -3575 do IL10 também foi associoado com risco de desenvolver NHL, com OR= 1.6, CI 95% (0.9-2.6) (116). Estudo realizado em uma população coreana analisou variantes dos genes IL-10, IL-10RA e IL-10RB com hiperplasia bengina da próstata. O marcador rs2834167 do IL-10RB foi associado com o alto nível de PSA (P = 0,009), e os rs1518111 e rs1554286 do IL-10 foram associados com elevado volume da próstata. Não foi encontrada evidências de associação com os maracdores do IL-10RA (117). O SNP S138G do gene IL-10RA foi associado com a susceptibilidade para doenças atópicas, o estudo foi realizado com 75 pacientes com doença e 25 indivíduos saudáveis. A comparação dos dois grupos apresentou uma associação significativa entre a frequência alélica G com asma atópica, dermatite atópica e rinite alérgica. Foi demostrado também que o SNP S138G pode interferir na ligação da IL10 com IL-10RA e ainda influenciar o papel da IL-10 no desenvolvimento de doenças atópicas (118). Esse mesmo SNP foi associado com a susceptibilidade a filariose linfática em uma população do Sul da Índia. Polimorfismos do IL-10 (-1082 G/A, -819 C/T e -592 A/C) também foram analizados nesse trabalho, o alelo A do SNP -1082 e o alelo T do -819 revelaram-se associados com a susceptibilidade para infecção por filária. Ressaltando que esse foi o único estudo encontrado em doenças infecciosas (95). Porém em nosso estudo não foi observada nenhuma diferença estatisticamente significativa do SNP IL-10RA S138G A/G com LC, mas nossos resultados poderão colaborar para o melhor entendimento desse polimorfismo em doenças infecciosas. Hofer et al. em um estudo caso-controle com hepatite C, analisou os SNPs S138G e G330R do IL-10RA, onde 212 pacientes infectados pelo vírus da hepatite C (VHC) e 887 controles saudáveis foram comparados. Os resultados demonstraram 40 um envolvimento do SNP G330R na progressão da fibrose hepática em pacientes com VHC, sendo o alelo G associado ao risco (119). O SNP G330R também foi associado com esquizofrenia e com a inibição da IL-10 e a produção de TNFα (97, 120). Em nosso estudo foi observada uma associação do SNP G330R G/A do IL10RA com LC, onde as frequências alélicas e genotípicas entre casos e controles foi estatisticamente significativa, com os respectivos valores de P: 0.013 e 0.044. Os genótipos GG e AG foram associados com a resistência à LC, com OR=0.408 (P= 0,043, IC 95% (0.174 – 0.953)). Ressaltando que odds ratio maior que 1 está relacionada com a susceptibilidade e menor que 1 com resistência e/ou proteção. É importante salientar que há uma escassez de estudo envolvendo esse polimorfismo e que o nosso estudo é o primeiro que sugere associação com LC. Apesar do presente estudo não demonstrar associação entre os polimorfismos da região promotora do IL-10 e LC, os dados encontrados podem somar com os da literatura, ajudando a esclarecer como as mutações em genes de citocinas podem influenciar nas doenças infecciosas, em especial a leishmaniose. 41 6. CONCLUSÃO As frequências alélicas e genotípicas dos SNPs -3575 T/A, -2849 G/A e -592 C/A do IL-10 apresentaram-se dentro do esperado (EWB); As frequências alélicas e genotípicas dos SNPs S138G A/G e G330R G/A do IL-10RA apresentaram-se dentro do esperado (EWB); Não foi detectada evidência estatisticamente significativa de associação entre os SNPs da região promotora do gene IL-10 com leishmaniose cutânea na população estudada; Não foi detectada evidência estatisticamente significativa de associação entre o SNP S138G A/G do gene IL-10RA com leishmaniose cutânea na população estudada; Os resultados obtidos sugerem que o SNP G330R G/A do gene IL-10RA pode estar associado com a resistência à leishmaniose cutânea. 42 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Desjeux P. Leishmaniasis: current situation and new perspectives. Comparative immunology, microbiology and infectious diseases. 2004;27(5):305-18. 2. 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ANEXOS 8.1 ANEXO A: Fluxograma Recrutamento de pacientes e indivíduos controle Entrevista e coleta de material Extração e quantificação de DNA Genotipagem de IL-10 Genotipagem de IL-10RA Processamento dos dados Análise Estatística 53 8.2 ANEXO B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE Número do Prontuário______________ Número da Ficha______________ TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO POLIMORFISMOS GENÉTICOS DOS GENES ENVOLVIDOS NA RESPOSTA IMUNE E NA CICATRIZAÇÃO DAS LESÕES EM PACIENTES COM LEISHMANIOSE CUTÂNEA EM UMA POPULAÇÃO CASO-CONTROLE DE MANAUS, AMAZONAS. Introdução: Você está sendo convidado para participar do projeto de pesquisa citado acima. Este estudo será coordenado pelo Dr. Rajendranath RAMASAWMY pesquisador visitante sênior e professor permanente do programa de Pós-Graduação em Doenças Tropicais e Infecciosas da UEA/FMT-HVD. Antes de tomar qualquer decisão, é importante que você leia e compreenda as seguintes explicações sobre o procedimento proposto. Esta declaração descreve o objetivo, procedimento, benefícios e riscos do estudo, e o seu direito de sair do estudo a qualquer momento. Estas informações estão sendo dadas para esclarecer quaisquer dúvidas sobre a pesquisa proposta, antes de obter o seu consentimento. Justificativa: Leishmaniose tegumentar ou ferida braba é uma doença causada por um pequeno parasita que fica na pele, mas existem diferentes espécies de parasito que podem causar a mesma doença, assim sendo, é importante saber qual o tipo de parasito que pode estar causando sua doença, ou se você não teve essa doença queremos saber se você tem mais possibilidade de contraí-la de que outra pessoa. Dessa forma, queremos que você participe deste estudo permitindo que seja retirada uma pequena amostra de sangue da sua veia pra fazermos testes que vão nos dizer se você tem mais chance de ter leishmaniose causada pela parasita Leismania guyanensis do que outra pessoa. Caso você tenha essa doença queremos saber se você tem no seu organismo (na parte genética) capacidade de boa cicatrização, após ter sido tratado com um medicamento específico para essa doença. Métodos: Caso você concordar em participar desse estudo, você será submetido a um exame médico, e uma coleta de 5 mL de sangue do seu antebraço, com uma agulha nova descartável, após a assepsia local (limpeza). Se o médico suspeitar que você tenha leishmaniose, você poderá ser submetido ainda a uma coleta para biópsia de pele realizada por um dos médicos (Dr. Jorge Guerra ou Dra Anette Talhari) integrantes da equipe. Os indivíduos não afetados por leishmaniose e sem histórico de leishmaniose, que procurem o ambulatório de dermatologia da FMT-HVD, serão selecionados para e, caso aceitem participar, comporão o grupo controle. Os indivíduos que, depois de examinados pelo dermatologista, forem caracterizados como não afetados por leishmaniose, e que não apresentarem história de infecções crônicas, inflamação e doenças auto-imunes, serão considerados candidatos. A biópsia será utilizada para identificação do parasita que está causando sua doença. A biópsia é um procedimento no qual se colhe uma pequena quantidade de pele, isto é, uma amostra, de tecido ou células, para posterior estudo em laboratório. A grande maioria dos pequenos procedimentos de biópsia é muito segura, tendo apenas um pequeno risco de sangramento ou infecção no local da biópsia. Ela é feita após anestesia local na borda local da ferida e depois de isso retirar um pequeno pedaço de pele com auxilio de instrumento cortante esterilizado chamado de punch. A amostra de sangue servirá para saber o que queremos através de testes feitos no laboratório, alem disso, com sua autorização, informações de prontuários clínicos também poderão ser lidas pelos participantes do estudo para comparar o resultado dos testes feitos em seu sangue e a resposta de seu tratamento. 1) Local do estudo Os procedimentos descritos acima serão realizados no ambulatório de Dermatologia (avaliação clínica e biópsia) sob a responsabilidade do Dr. Jorge Guerra ou Dra. Anette Talhari, médicos integrantes da equipe de pesquisa e nos laboratórios da FMT-HVD sob a responsabilidade do Dr. Rajendranath Ramasawmy. Rubrica do pesquisador Rubrica do participante Número do Prontuário______________ Número da Ficha______________ 54 2) Permissão para estocagem Está sendo solicitada a sua permissão para estocagem (guarda ou armazenamento) de sua amostra de biópsia, soro e de DNA na FMT-HVD sob a responsabilidade do Dr. Rajendranath Ramasawmy de acordo com a resolução CNS Nº441de 12 de maio de 2011 e da portaria Nº00212/2012-GDP/FMT-HVD. Se assinar esse termo de consentimento, você está autorizando estocagem de longo prazo das amostras para estudos futuros. Isso evitará procedimentos como nova coleta de sangue bem como a diminuição de recursos financeiros para novos procedimentos. A sua amostra de DNA será mantida indefinidamente. Isto significa que a sua amostra não será destruída após um determinado período de tempo, mas sim será estocada pelo tempo que ela durar. Amostras estocadas serão usadas exclusivamente para fins de pesquisas e poderão ser utilizadas para outros estudos a respeito da susceptibilidade à leishmaniose. O uso de sua amostra estocada terá como condição uma nova avaliação e aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética pertinente. Sua permissão será solicitada. Se você concorda, você será pedir de assinar um novo TCLE com as justificativas e especificidades. 3) Risco físico para saúde/desconfortos Os riscos físicos para a saúde na participação deste estudo são limitados ao procedimento de biópsia e coleta de sangue, ambos de rotina nos laboratórios clínicos. Em ambos os casos, você poderá sentir um desconforto temporário devido à introdução da agulha. A grande maioria dos procedimentos de biópsia é muito segura, tendo apenas um risco de sangramento ou infecção no local da biópsia. Ela é feita após anestesia local na borda local da ferida e depois de isso retirar um pequeno pedaço de pele com auxilio de instrumento cortante esterilizado chamado de punch. Durante a realização de biopsia, pode ocorrer pequeno sangramento que acostuma regredir em seguida. Pode também acontecer infecção se não haver cuidado de limpeza durante e depois desse procedimento. De qualquer maneira, você receberá uma pomada de antibiótico para evitar infecção. Entretanto, caso você tenha febre ou dor, "inchaço" (edema), rubor ou sangramento no local de biópsia deve procurar a equipe da pesquisa (Dr. Jorge Guerra ou Dra Anette Talhari). Existe também a possibilidade de risco de perda da confidencialidade tal como outras pessoas poderiam ter acesso aos seus dados e identificá-lo. Entretanto, serão tomados cuidados especiais para que isso não aconteça pois, sua identificação será feita por meio códigos. O seu nome não estará visível nos frascos contendo as amostras biológicas, elas serão codificadas para evitar o risco de perda da confidencialidade. 4) Indenização e compensação por danos Se você desenvolver uma infecção localizada devido ao procedimento de coleta de sangue ou biópsia, você será assistido pelo Dr. Jorge Guerra ou a Dra Anette Talhari, médicos integrantes da equipe de pesquisa no FMT-HVD. O custo desse tratamento será totalmente coberto pelo projeto. Qualquer dano decorrente de sua participação somente neste estudo referente a qualquer procedimento relacionado, você será assistido na FMT-HDV e terá direito a indenizações ou ressarcimentos em casos de danos decorrentes de sua participação no estudo. 5) Desligamento A sua participação neste estudo é voluntária e sua recusa em participar ou seu desligamento do estudo não envolverá penalidades ou perda de benefícios os quais você tenha direito. Se você estiver afetado pela leishmaniose, acesso a procedimentos médicos para diagnósticos e tratamento da doença será providenciado mesmo que não queira participar deste estudo. Se você não estiver afetado pela leishmaniose, você está sendo convidado a participar do estudo como parte do grupo controle ou como familiar do afetado. Neste caso, sua decisão de participar ou não, ou de cessar sua participação a qualquer momento, não irá interferir de nenhuma forma nos procedimento médicos para diagnóstico ou tratamento da leishmaniose que você possa necessitar no futuro. Da mesma forma, sua decisão não irá refletir no acesso a procedimentos médicos necessários a algum familiar ou contato afetado pela leishmaniose. Rubrica do pesquisador Rubrica do participante Número do prontuário:________________ Número da Ficha:__________________ 55 6) Custo para os participantes No caso de você decidir participar do estudo, você não terá nenhum custo. Custos com testes laboratoriais e análises de suas amostras na pesquisa serão cobertos pelo estudo. 7) Benefícios Em longo prazo, os procedimentos médicos e laboratoriais aos quais você será submetido poderão facilitar a detecção de resistência à leishmaniose e seu tratamento, tornando possível evitar tratamentos inadequados. Além disso, espera-se que conhecimentos científicos adicionais sejam alcançados, com consequente melhoria do tratamento de pessoas afetadas pela leishmaniose. 8) Reembolso Já que não haverá gastos adicionais de transporte e alimentação devido a sua participação no estudo, você não será reembolsado por participar deste estudo. 9) Exclusividade de uso de material genético e biológico Amostras de DNA serão utilizadas apenas para pesquisa de susceptibilidade à leishmaniose. Todos os resultados obtidos no estudo, após análise do conjunto completo dos dados, serão publicados em artigos científicos. É importante reafirmar que o alvo de nossos estudos é a identificação do fator de risco genético à leishmaniose e contribuição no entendimento do mecanismo da doença 10) Confidencialidade dos dados Os registros de sua participação neste estudo serão mantidos confidencialmente até onde é permitido por lei e todas as informações estarão restritas à equipe responsável pelo projeto. Nenhuma informação genética individual será tornada pública. As informações serão codificadas e mantidas em local protegidas o tempo todo. Somente os pesquisadores envolvidos neste estudo terão acesso às informações. Após o término deste estudo, as informações serão transcritas dos questionários para os arquivos de computador, mantidos em local restrito com acesso permitido apenas aos mesmos pesquisadores. Os dados deste estudo poderão ser discutidos com pesquisadores de outras instituições, mas nenhuma identificação será fornecida. Você tenha direto de conhecer os resultados dos testes laboratoriais que serão realizados. Os resultados da pesquisa em nenhum momento irão interferir no tratamento já preconizado. POLIMORFISMOS GENÉTICOS DOS GENES ENVOLVIDOS NA RESPOSTA IMUNE E NA CICATRIZAÇÃO DAS LESÕES EM PACIENTES COM LEISHMANIOSE CUTÂNEA EM UMA POPULAÇÃO CASO-CONTROLE DE MANAUS, AMAZONAS. Você receberá uma cópia deste Termo de Consentimento para mantê-lo consigo. Se você tiver qualquer dúvida no futuro sobre sua participação neste estudo, você pode e deve utilizar os seguintes meios de contato com os pesquisadores responsáveis: Dra Anette TALHARI Dr Jorge GUERRA Dr Rajendranath RAMASAWMY Telefone: (92) 2127 3429 (92) 2127 3429 (92) 2127 3447 Email: [email protected] [email protected] [email protected] Para quaisquer informações, fica disponibilizado o endereço do CEP/FMT-HVD, sito à Av. Pedro Teixeira nº25 Dom Pedro I, Cep 69040-000, Manaus-AM, que funciona de 2ª a 6ª feira, das 08:00 às 14:00 horas, telefone (92)2127-3572, e-mail: [email protected] 56 Consentimento Li e entendi as informações precedentes. Tive a oportunidade de fazer perguntas e todas as minhas dúvidas foram respondidas a contento. Este formulário está sendo assinado voluntariamente por mim, indicando o meu consentimento em participar do estudo, até que eu decida o contrário. Assinatura ou impressão digital do voluntário Nome completo e nº do prontuário Assinatura do entrevistador Nome do entrevistador Assinatura testemunha 1 Data: ____/____/_____ Assinatura testemunha 2 57 8.3 ANEXO C: Questionário FMT-HVD Fundação de Medicina Tropical Dr Heitor Vieira Dourado Instrumento de Coleta de Dados Projeto Genética da Leishmaniose Identificação do voluntário: 1. 2. 3. 4. 5. Nome: ___________________________________________________________ Gênero: Masc ( ) Fem ( ) D/N:___/___/_____ Idade:_____________ Etnia: Branco: ( ); Misto: ( ); Índio: ( ); Outro(qual):_____________________________ 6. Tipo e local de trabalho:_____________________________________________ Dados para contato: 1.Telefone:_______________________________________________________ 2. Endereço:______________________________________________________ ________________________________________________________________ 3. Referência:_____________________________________________________ 4. Tempo de Residência:______________________________ 5. Histórico de Residência (onde já morou e por quanto tempo):_____________ ________________________________________________________________ Dados Clínicos: 7. Já teve Leishmaniose? Sim ( ) Não ( ) a. Se Sim ( grupo caso): i. Caso ativo ou histórico? Ativo ( ) Histórico ( ) ii. Teve mais de uma vez (se sim, responder iii a viii para cada episódio): Sim ( ) Não ( ) iii. Data de diagnóstico:____/____/_______ iv. Forma clínica: cutânea ( ) Mucosa ( ) v. Local provável de infecção:____________________________________ vi. Tratamento:_________________________________________________ vii. Resposta ao tratamento: Sim ( ) Não ( ) viii. Se caso histórico – cicatriz? Sim ( ) Não ( ) b. Se não (grupo controle) - confirmado por ausência de cicatriz 8. Já teve malária? Sim ( ) Não ( ) a. Se Sim quantas:_______________________ 9. Já teve outras doenças? _____________________________________________ 10. Prontuário da FMT-HVD: ___________________________ 58 8.4 ANEXO D: Protocolo de extração de DNA PROCEDIMENTO PARA EXTRAÇÃO DE DNA DE SANGUE HUMANO PROTOCOLO DE SAMBROOK_ “SALTING-OUT”, a) Após centrifugação das amostras de sangue total para separação do plasma, o “buffy-coat” será retirado e transferido para microtubo de 2,0 mL. b) Ao “buffy-coat” serão adicionados 160 μL de tampão de proteinase K 5X (NaCl 5M; EDTA 0,5M pH 8,0), 40 μL de proteinase K, 40 μL de SDS 20% e 300 μL de H2O destilada. Em seguida, os tubos serão incubados em banho-maria a 37°C durante toda a noite. Retirar os tubos do banho-maria e esperar resfriar a temperatura ambiente. c) Adicionar 200 μL de NaCl 6M para precipitação de proteínas, centrifugando-se em seguida a 13.000 rpm por 20 minutos, e após, transferir o sobrenadante para um microtubo de 1,5 mL. Centrifugações adicionais (13.000 rpm durante 10 e 5 minutos respectivamente) serão realizadas até a remoção completa das proteínas residuais, sendo o sobrenadante dividido em dois novos tubos de 1,5 mL. d) Adicionar em cada tubo 900 μL de etanol 99,5% (temperatura ambiente). Deixar o DNA precipitar invertendo o tubo gentilmente por, no máximo, 2 minutos. Após esta etapa, o DNA precipitado será lavado mais uma vez com etanol a 70%. e) Após remover o etanol, com as paredes do tubo já secas, ressuspender o DNA em 200 μL de H2O destilada. f) Em seguida, realizar leitura para quantificação do DNA, e aliquotar as amostras, armazenando-as em temperatura de -70 °C, localizados exclusivamente em laboratórios da FMT-HVD o acesso às amostras será restrito aos investigadores listados no projeto e ao pessoal técnico autorizado. 59 8.5 ANEXO E: Minuta de Artigo Associação do polimorfismo G330R G/A do gene IL-10RA com leishmaniose cutânea em uma população amazonense. Priscila Bentes Sousa1, Karolina da Costa Sabino1, Luciane Macedo de Souza1, Anette Chrusciak Talhari2, Rajendranath Ramasawmy3. 1 Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas - Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical; Universidade do Estado do Amazonas/ Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado. 2 Doutora em Doenças Tropicais e Infecciosas e Dermatologista na Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado. 3 Doutor em genética, Pesquisador da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado. Resumo As Leishmanioses são doenças infecciosas, não contagiosas, causadas por diversas espécies de protozoários do gênero Leishmania. A maioria dos indivíduos expostos ao parasita não desenvolvem a doença, sugerindo um papel de fatores genéticos nesse controle. Nosso objetivo foi determinar se o SNP IL-10R G330R G/A está associado com susceptibilidade ou resistência à leishmaniose cutânea. Foram recrutados 774 voluntários, sendo 392 pacientes com leishmaniose cutânea e 382 controles. A extração do DNA foi realizada com o kit Promega ou pela técnica de “salting-out’’. A genotipagem foi realizada pela técnica de PCR-RFLP. Houve diferença estatisticamente significativa na distribuição de frequências alélicas (P= 0.013) e genotípicas (P=0,044) do SNP G330R G/A do gene IL-10RA entre casos e controles. Os resultados obtidos sugerem que variantes do gene IL-10RA podem estar envolvidas na resistência à leishmaniose cutânea. Introdução A leishmaniose tegumentar americana (LTA) é uma doença infecciosa crônica causada por parasitas do gênero Leishmania sp, representa um conjunto de doenças com características clínicas e imunopatológicas distintas (1). As leishmanioses constituem um crescente problema de saúde pública. Estima-se que, anualmente, 1,5 - 2 milhões de indivíduos sejam acometidos e que 0.7 a 1.3 milhões casos correspondam à forma tegumentar da doença (2, 3). A Ocorrência da doença está ligada a mudanças ambientais, como desmatamento, construção de barragens, sistemas de irrigação e urbanização (2). A maioria dos indivíduos expostos ao parasita não desenvolvem a doença, e os indivíduos infectados com a mesma espécie de parasitas podem ter sintomas diferentes, e podem diferir na sua resposta à terapia, sugerindo um papel de fatores 60 genéticos nesse controle (4-6). A vasta gama de citocinas e dos mecanismos imunológicos envolvidos na resposta imune contra Leishmania destaca a complexidade da doença. Visto que na LTA a infecção pode ser assintomática ou apresentar um espectro de manifestações clínicas, acredita-se que o resultado da doença é influenciado pelo balanço entre as respostas Th1/Th2, por fatores genéticos do hospedeiro, espécie do parasita e sua virulência, além de características epidemiologias e estado imune do hospedeiro (7, 8). O gene IL-10RA está localizado no cromossomo 11, na região 11q23.3. A proteína codificada por este gene é um receptor para a interleucina 10, a IL-10R (9). A IL-10R (IL-10 receptor) são tetrâmeros constituídos por duas subunidades de ligação (IL-10R-alfa ou IL-10R1) e duas subunidades de sinalização acessórias (IL10R-Beta ou IL-10R2) (10). A mesma medeia o sinal imunossupressor de interleucina 10, e, assim, inibe a síntese de citocinas pró-inflamatórias (11, 12). Vários SNPs nos éxons do desse gene já foram identificados. Tem sido relatado que dois SNPs no gene, as substituições de serina 138 com glicina (S138G) e da glicina 330 por arginina (G330R), tem implicações funcionais (13, 14). Materiais e métodos População estudada A amostragem foi obtida por demanda espontânea da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) de pacientes com diagnóstico positivo para LTA, e o grupo controle foi composto de indivíduos sadios sem história de LTA, habitantes das mesmas áreas endêmicas dos casos. Genotipagem O DNA foi extraído utilizando o Kit comercial Promega e pela técnica de “salting-out’’. A genotipagem do SNP G330R G/A foi realizada através da técnica PCR-RFLP. Os ensaios de PCR foram realizados no volume de 25 µL, com 10-100 ng de DNA, 0,2 µM de cada iniciador, 40 µM de dNTP, 2,0 Mm de MgCl2, Tampão de PCR 1x e 1.0 U de Taq Polimerase. As reações de amplificação foram realizadas em termociclador Mastercycler® ep gradiente S, Eppendorf Germany, com a desnaturação inicial a 95 ⁰C durante 5 minutos, seguido de 35 ciclos de 20 seg a 95 ⁰C, 20 seg a 61 ⁰C 20 seg a72 ⁰C para o anelamento específico e uma extensão final a 72⁰C durante 4 min. Para a digestão de restrição, 15 uL do produto de PCR foi digerido com 2U de enzima de restrição MspI a 37 ⁰C durante três horas, as amostras foram separadas em gel de agarose a 3% para a identificação dos fragmentos. Os dados referentes a PCR-RFLP encontram-se na tabela 1. Análise estatística Os testes para desvios do equilíbrio de Hardy-Weinberg e o desequilíbrio de ligação (r2) foram realizados usando o software Haploview v.4.2 (15). As análises de comparação dos polimorfismos entre grupos casos e controles, o teste do chiquadrado (χ2) e odds ratio (OR), foram feitos utilizando o programa SPSS (Satistical Package for the Social Sciences) v.22. 61 Tabela 1: Dados referentes à PCR-RFLP. POLIMORFISMO INICIADORES G330R G/A F: 5’-CACCCCCAGGCTGACAGAACGCTGGGAA-3’ rs117423374 R: 5’-CTCAGGTAACCCTGGAATGCCACAG-3’ PRODUTO PCR 323pb TEMPERATURA ANELAMENTO 61 ⁰C ENZIMA / SÍTIO DE RESTRIÇÃO ALELOS: PRODUTOS DIGESTÃO MspI G: 184/61/49/29 5’...C↓CGG...3’ 3’...GGC↑C...5’ A:213/61/49 62 Resultados Características gerais da população em estudo Foram recrutados 774 voluntários, sendo 392 pacientes com leishmaniose cutânea diagnosticados na FMT-HVD, de acordo com parâmetros clínicos, epidemiológicos e laboratoriais e 382 indivíduos saudáveis, sem histórico de LTA, habitantes de áreas endêmicas de Manaus, com idade média de 32.1 e 36.3, respectivamente. Houve predominância do gênero masculino em ambos os grupos. Os dados referentes às características da população estudada encontram-se na Tabela 2. Tabela 2: Dados da população estudada CASOS CONTROLES Média[DP] 32.1 [14.0] 36.3 [17.7] Mediana 30 32 Min – Max 5 _ 70 5 _ 89 M 311 (79,3) 225 (58,9) F 80 (20,4) 157 (41,1) Sem informação 1 (0,3) 0 Idade Gênero Total 392 DP: Desvio padrão; Min: Mínimo; Max: Máximo; M: Masculino; F: Feminino 382 Distribuição genotípica e análise de associação do polimorfismo IL-10RA G330R G/A. Houve diferença estatisticamente significativa na distribuição de frequências alélicas (P= 0.013) e genotípicas (P= 0.044) entre casos e controles. As frequências genotípicas foram 6.4% para homozigotos AA, 28.3% para heterozigotos AG e 65.3% para homozigotos GG no grupo de pacientes, contra frequências de 2.7, 24.6 e 72.7% para AA, AG e GG, respectivamente, no grupo controle. A frequência do alelo G foi de 79.5% e 85.0% para pacientes com LC e controles, respectivamente. Na análise de dominância uma associação significativa entre o alelo G (GG+AGvsAA) foi observada com P= 0,043 e OR= 0.408. A distribuição genotípica, as frequências alélicas e OR do SNP G330R G/A em pacientes e controles apresentam-se na Tabela 3. 63 Tabela 3: Frequências alélicas e genotípicas do SNP IL-10RA G330R G/A nas populações casos e controles. IL-10RA G330R G/A CASOS CONTROLES n= 283 (%) n= 297 (%) Genótipo AA AG 18 (6.4) 80 (28.3) 8 (2.7) 73 (24.6) GG 185 (65.3) 216 (72.7) AA + AG 98 (34.6) 81 (27.3) GG 185 (65.4) 216 (72.7) GG + AG 265 (93.6) 289 (97.3) AA 18 (6.4) 8 (2.7) A 116 (20.5) 89 (15.0) G 450 (79.5) 505 (85.0) P OR (IC 95%) 0,044 Dominância 0,059 1.413 (0.992 – 2.012) 0,043 0.408 (0.174 – 0.953) 0,013 1.463 (1.079 – 1.982) Alelo P= Valor de P DISCUSSÃO As leishmanioses constituem um importante problema de saúde publica mundial. E o Brasil representa a área endêmica de maior extensão territorial e um dos países com as mais elevadas taxas de notificação da infecção. A região Norte é uma das regiões que apresenta a maior incidência de LTA e o estado do Amazonas apresenta-se como o segundo estado de maior incidência da região (16). Estudos vêm demonstrando que a susceptibilidade ou resistência do hospedeiro à leishmaniose, bem como a gravidade da doença podem ser associados com polimorfismos em genes de citocinas (5, 6, 17, 18). Porém a maioria desses estudos foi realizada com leishmaniose visceral e pouco se sabe sobre a forma tegumentar da doença. Em busca de uma melhor compreensão sobre esses fatores genéticos, o presente estudo procurou através de um estudo do tipo casocontrole de população avaliar a influência do SNP IL-10RA G330R G/A com a susceptibilidade ou resistência à LTA. Hofer et al. em um estudo caso-controle com hepatite C, analisou os SNPs S138G e G330R do IL-10RA, onde 212 pacientes infectados pelo vírus da hepatite C (VHC) e 887 controles saudáveis foram comparados. Os resultados demonstraram um envolvimento do SNP G330R na progressão da fibrose hepática em pacientes com VHC, sendo o alelo G associado ao risco (19). O SNP G330R também foi associado com esquizofrenia e com a inibição da IL-10 e a produção de TNFα (14, 20). 64 Em nosso estudo foi observada uma associação do SNP G330R G/A do IL10RA com LC, onde as frequências alélicas e genotípicas entre casos e controles foi estatisticamente significativa, com os respectivos valores de P: 0.013 e 0.044. Os genótipos GG e AG foram associados com a resistência à LC, com OR=0.408 (P= 0,043, IC 95% (0.174 – 0.953)). Ressaltando que odds ratio maior que 1 está relacionada com a susceptibilidade e menor que 1 com resistência e/ou proteção. É importante salientar que há uma escassez de estudo envolvendo esse polimorfismo e que o nosso estudo é o primeiro que sugere associação com LC. CONCLUSÃO Os resultados obtidos sugerem que o SNP G330R G/A do gene IL-10RA pode estar associado com a resistência à leishmaniose cutânea. REFERÊNCIAS 1. Desjeux P. Leishmaniasis: current situation and new perspectives. Comparative immunology, microbiology and infectious diseases. 2004;27(5):305-18. 2. OMS OMdS-. Leishmaniasis. 2014 [cited 2014 27.09.2014]; OMS:[Available from: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs375/en/. 3. Alvar J, Velez ID, Bern C, Herrero M, Desjeux P, Cano J, et al. Leishmaniasis worldwide and global estimates of its incidence. PloS one. 2012;7(5):e35671. 4. Bucheton B, Abel L, El-Safi S, Kheir MM, Pavek S, Lemainque A, et al. A major susceptibility locus on chromosome 22q12 plays a critical role in the control of kala-azar. American journal of human genetics. 2003;73(5):1052-60. 5. Jamieson SE, Miller EN, Peacock CS, Fakiola M, Wilson ME, Bales-Holst A, et al. Genome-wide scan for visceral leishmaniasis susceptibility genes in Brazil. 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