UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA CONTRIBUIÇÕES DAS NEUROCIÊNCIAS NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM: ANÁLISE DOS DIFERENTES ESTILOS DE ENSINAR E DE APRENDER. Por: Mônica de Souza Panasco Orientador Profa. Marta Pires Relvas Rio de Janeiro 2012 2 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA CONTRIBUIÇÕES DAS NEUROCIÊNCIAS NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM: ANÁLISE DOS DIFERENTES ESTILOS DE ENSINAR E DE APRENDER. Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Neurociência Pedagógica Por: Mônica de Souza Panasco 3 AGRADECIMENTOS .....Ao meus queridos pais e amigos, ao meu amor, pelo apoio, atenção e carinho; a minha orientadora Prof a. Marta Relvas; ao Prof. Luíz Machado, meu maior incentivador e grande amigo, e a todos que contribuiram para meu crescimento e aprimoramento. 4 DEDICATÓRIA Aos meus pais, que me fizeram chegar ao alto da montanha; a minha orientadora, dedicada e especial, Marta Relvas; ao Professor Luíz Machado, amigo de todas as horas; ao meu Ludo e aos meus amigos, por entenderem que “...eu estive fora uns dias” 5 RESUMO Este trabalho versa sobre os avanços das Neurociências no processo de ensino-aprendizagem, com a finalidade de auxiliar professores e aprendentes na prática educacional diária. O objetivo maior foi o de promover a reflexão sobre as diferentes maneiras de ensinar e aprender, considerando o indivíduo como ser único e dotado de aparato bio-psico-neurológico singular, o que torna o ato de aprender especial e peculiar a cada ser aprendente. Procurou-se, também, conceituar a Neurociência Pedagógica na tentativa de esclarecer seu papel na Educação e como esta disciplina poderá ser de grande valor para o processo de ensino-aprendizagem, considerando a Educação como parte de num novo tempo, com novo olhar pedagógico. Além disso, o entendimento do desenvolvimento e funcionamento do cérebro e suas implicações no cotidiano educacional será ferramenta primordial para promover as condições ideais para que os educadores possam solucionar questões da prática educativa. O Neuropedagogo é um profissional multidisciplinar, que está apto a ser inserido no contexto educacional de maneira intensa e profunda, pois promove a visão integrada da biologia do cérebro com aspectos pedagógicos do ensinar e do aprender. Assim, o presente trabalho visa contribuir para o bom entendimento da relevância de se conhecer as bases biológicas da cognição humana buscando oferecer dados significativos para o aprimoramento da compreensão da relação entre o cérebro e a aprendizagem. 6 METODOLOGIA Este trabalho teve como procedimento metodológico a leitura de livros, periódicos correntes, revistas científicas, bem como websites específicos. A fundamentação teórica foi baseada em referências bibliográficas relevantes, com a finalidade de discorrer sobre o assunto em pauta com clareza e objetivando o esclarecimento das questões propostas. A metodologia utilizada caracterizou-se como uma abordagem exploratória do tema a ser pesquisado alicerçado em pesquisa bibliográfica que seguiu a estratégia de revisão da literatura, bem como análise e reflexão do conteúdo explorado. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE APRENDIZAGEM CAPÍTULO II 11 17 NEUROBIOMECANISMOS DO APRENDER: COMPREENDENDO O CÉREBRO NO PROCESSO DO APRENDER CAPÍTULO III MEMÓRIA, APRENDIZAGEM E PLASTICIDADE CEREBRAL 27 CAPÍTULO IV 41 A INTELIGÊNCIA EM EVIDÊNCIA CAPÍTULO V 54 O PAPEL DO CÉREBRO NA APRENDIZAGEM CONCLUSÕES FINAIS 59 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 62 8 INTRODUÇÃO O conhecimento sobre o funcionamento do sistema nervoso humano, considerando o cérebro como o protagonista, creceu demasiadamente nos últimos anos, devido, especialmente, à chamada Década do Cérebro (19901999) assim proclamada pelo Congresso Americano, e que deu grande impulso às neurociências, ou seja, aos diversos ramso das ciências que se dedicam ás investigações e estudos sobre o sistema nervoso. As neurociências estudam as moléculas que constituem os neurônios, os órgãos do sistema nervoso e suas funções específicas e o comportamento humano resultante da atividade dessas estruturas. Os avanços das técnicas de neuroimagem e eletrofisiologia e aqueles obtidos pela genética e pela neurociência cognitiva possibilitaram o estudo das áreas cerebrais envolvidas em funções cognitivas específicas e esclareceram muitos aspectos do funcionamento do sistema nervoso (Albright et al., 2000; Geake & Cooper, 2003). Segundo Guerra (2011), embora os processos cognitivos ainda não sejam integralmente conhecidos, devido às limitações técnicas e éticas que o estudo do comportamento humano impõe, grandes descobertas que permitiram uma abordagem mais científica do processo ensino-aprendizagem, ultrapassaram os nichos acadêmicos e se estenderam à educação. Emerge desse cenário, graças a ávida curiosidade por parte dos profissionais de educação, a importância de pesquisas sobre a percepção, a atenção e a memória, e de como poderiam ser informativas para a educação (Jesen, 2000). Desta forma, educadores e gestores de políticas públicas educacionais tomaram conhecimento do cérebro como o órgão da aprendizagem e o quanto as neurociências poderiam contribuir para a educação. Assim, no final da década de 2000, foi estabelecido uma interface entre as neurociências e a educação, denominada de “mind, brain and education” ou “mente, cérebro e educação” (OCDE, 2003; Goswani, 2005, 2004;Stern, 2005 ). Desta forma, a partir do momento em que os cientistas reconheceram a necessidade de um trabalho conjunto na pesquisa sobre o cérebro e a educação, torna-se de 9 grande importância entender a diferença entre conhecer os mecanismos cerebrais, compreender os processos mentais resultantes destes e aplicá-los na prática pedagógica. Igualmente, compreende-se que é imprescindível a investigação, rigorosa e científica, dos achados das neurociências aplicados à sala de aula, antes que se estabeleça qualquer aplicação educacional, pois conhecer a aprendizagem numa perspectiva neurobiológica pode auxiliar, em especial, educadores e professores a abarcar alguns aspectos das dificuldades de aprendizagem, bem como inspirar práticas educacionais cotidianas visando não somente a construção do conhecimento, bem como a construção de habilidades e competências individuais. O desenvolvimento de técnicas modernas para o estudo a atividade cerebral em crianças, adolescentes e adultos, durante a realização de tarefas cognitivas, vem permitindo uma investigação mais precisa dos circuitos neuronais durante o seu funcionamento. Os circutos neuronais são responsáveis pelas funções básicas do sistema nervoso e determinam o comportamento dos indivíduos, de acordo com as emoções vivenciadas (prazer, medo, raiva etc). A habilidade do ser humano de pensar e armazenar lembranças depende de atividades físico-químicas complexas que ocorrem nos circuitos neuronais existentes no cérebro e medula espinhal, os quais programam todos os movimentos - finos e grosseiros. Este entrelaçado de processos neuronais também controla inúmeras funções no organismo humano, como por exemplo, a manutenção da temperatura corporal e a pressão sanguínea, que são controlados automaticamente. Conhecer o como o cérebro funciona é essencial para o aprendizado e a memória dos educandos, pois a aprendizagem e a educação estão intimamente ligadas ao desenvolvimento do cérebro, o qual é moldável aos estímulos ambientais. Com efeito, os estímulos do ambiente levam os neurônios a formarem novas sinapses. Assim, entende-se que a aprendizagem é o processo pelo qual o cérebro reage oas estímulos do ambiente, ativando sinapses, tornando-as mais intensas. Como consequência, estas se constituem em circuitos que processam as informações, com capacidade de armazenamento molecular. 10 O estudo da aprendizagem une educação com as neurociências, especialmente no tocante ao estudo da neurociência cognitiva, que utiliza vários métodos de investigação a fim de estabelecer relações entre cérebro e cognição em áreas relevantes para a educação. Este trabalho visa discutir a aprendizagem por intermédio de um breve estudo das funções neurais no processamento das informações para melhor compreender os diferentes estilos de aprendizagem sob o ponto de vista dos avanços das neurociências, averiguando aspectos da inteligência, da memória e das emoções. 11 CAPÍTULO I A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe." Jean Piaget Considerações teóricas sobre aprendizagem: O processo de aprendizagem foi estudado por vários teóricos, destacando-se as contribuições de Albert Bandura, Alexander Luria, Erik Erikson, Henri Wallon, Jean Piaget, Lev Vygotsky e Urie Bronfenbrenner. Para Bandura, os processos que compõem a aprendizagem por observação são: a atenção, que pressupõe tanto a clareza dos estímulos quanto a motivação do aprendiz; a retenção, que acontece por meio da codificação simbólica; a organização cognitiva, isto é, os ensaios simbólicos e motor; a reprodução motora, que inclui capacidades físicas, auto-observação da reprodução e exatidão do retorno; e a motivação, que agrega o reforço externo e o individual (Alvarez & Lemos, 2006). Bandura defendeu a teoria social cognitiva, onde a criança interpreta ativamente os acontecimentos. Ele enfatizou a importância da observação e da modelagem dos comportamentos, que refletem nas atitudes e respostas emocionais. Já Bronfenbrenner afirmou que o desenvolvimento se dá num contexto de sistemas interligados, desde microssistema (pais, irmãos e adultos próximos à criança), até chegar ao macrossistema (culturas e subculturas de um povo), passando pela escola, mídia, etc. Erikson desenvolveu a teoria psicossocial de desenvolvimento, postulando que o desenvolvimento se dá em todas as fases da vida. Em cada fase da vida, o indivíduo captará o mundo externo como acolhedor ou agressivo, dependendo de como suas necessidades internas são bem ou mal resolvidas. Se o bebê é bem alimentado pela mãe nos seus primeiros meses, estará sempre limpo e manterá com os adultos um bom contato, desenvolverá um sentimento de confiança básica no mundo. Desta forma, verá o mundo como um lugar bom e acolhedor. Caso contrário, verá o mundo com reserva e passará a sentir desconfiança básica em relação ao mundo. Assim se dão para Erikson todas as etapas de desenvolvimento. A cada etapa um desafio a ser 12 enfrentado, e a cada sucesso, uma maior autonomia e confiança para enfrentar novos desafios. Segundo Luria, a dinâmica do comportamento humano compreende a interconexão de múltiplas redes de informação dispersas pelo corpo: periféricas (pele, músculos, articulações e vísceras) e centrais (mielencefálicas, metencefálicas, mesencefálicas, diencefálicas e telencefálicas), que retratam a existência de um sistema sensorial na base do desenvolvimento e da aprendizagem. O desenvolvimento evolutivo dos seres humanos exige a organização das sensações para fornecer ao cérebro as informações referente às condições do corpo como universo intrassomático e do envolvimento como universo extrassomático, com os quais produz uma motricidade adaptativa e flexível (Luria, 1966 apud Freitas, 2006). Este mesmo autor retrata que o processo de construção do conhecimento evoca que as sensações devem integrar-se em esquemas de ação, o que requerer a participação da percepção e a estruturação das representaçãoes mentais. Desse modo, o homem tem a capacidade de agir sobre o mundo, acomodar-se a ele, diferenciar-se qualitativamente e não apenas captá-lo passivamente. As sensações encontram-se na base do processo de construção do conhecimento, e são conduzidas centrípetamente ao cérebro. Desde os órgãos internos, chamados de interoceptores; dos órgãos motores, táteis, cinestésicos e vestibulares, designados de proprioceptores, até os órgãos captadores de informações, como a visão e a audição, denominados de telerreceptores, todas as informações devem ser organizadas em termos de tráfego de integração sistêmica no cérebro. A partir daí, integram-se sistemas funcionais intra e interneurossensoriais, que se encontram na base da aprendizagem e do desenvolvimento (Luria, 1966 apud Freitas, 2006). Piaget demonstrou que a aprendizagem é um processo cognitivamente ativo e interativo, que o conhecimento é algo a ser construído, e não passivamente recepcionado. Defendendo a idéia de que a estrutura cognitiva funciona através do movimento contínuo, onde a aprendizagem é assimilada, filtrada e interpretada segundo a capacidade da estrutura cognitiva interna do indivíduo. Por defender a idéia de que a inteligência é construída pelo indivíduo, por meio da interação com o ambiente, sua teoria recebeu a denominação de Construtivismo. A teoria piagetiana profere que uma criança 13 interage com o mundo diferentemente de um adulto, pelo simples motivo de que suas estruturas cognitivas são qualitativamente diferentes. Segundo Piaget, o processo de interação/construção da inteligência compreende a influência de quatro fatores: ·Maturação orgânica – o desenvolvimento do sistema nervoso e suas conexões nervosas são de extrema relevância para a formação das estruturas cognitivas, embora condição necessária, mas não suficiente. ·Experiência - as manipulações físicas e cognitivas do sujeito sobre os objetos permitem a construção do conhecimento e a possibilidade de operar mentalmente com ele. ·Transmissão social – as informações advindas do meio fazem a criança e o adolescente interrogarem os acontecimentos da realidade. ·Equilibração – o desenvolvimento da inteligência caracteriza-se pelo movimento contínuo de um estado de desequilíbrio para um estado de equilíbrio. Segundo o construtivismo, o conhecimento se constrói na interação do sujeito com o objeto. As estruturas não estão pré-formadas dentro do sujeito, mas são construídas, ocorrendo uma construção contínua de estruturas variadas. A aprendizagem, decorrente da interação adaptativa do sujeito com o objeto, é construída segundo diversos estágios do desenvolvimento cognitivo: ·Senso-motor (0-24 meses) – neste estágio a criança é desprovida de linguagem, interagindo com os objetos a partir de suas sensações e ações motoras. ·Pré-operatório (2 a 7 anos) – a criança desenvolve a capacidade simbólica, caracterizando-se pelo egocentrismo, onde a criança ainda não se mostra capaz de colocar-se na perspectiva do outro. 14 ·Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos) – neste período, a criança adquire a capacidade de estabelecer relações e coordenar pontos de visa diferentes, próprios e do outro, e de integrá-los de modo lógico e coerente. ·Operações formais (11 ou 12 anos em diante) – nesta fase a criança amplia as capacidades conquistadas anteriormente, conseguindo raciocinar sobre hipóteses,na medida em que ela é capaz de formar esquemas conceituais abstratos, e através desses esquemas, executar operações mentais dentro de princípios da lógica formal. De acordo com a tese piagentina, ao atingir a fase de operações formais, o indivíduo adquire sua forma final de equilíbrio, alcançando o padrão intelectual que persistirá durante a idade adulta, e que seu desenvolvimento posterior consistirá numa ampliação de conhecimentos, e não na aquisição de novos modos e funcionamento mental. Vygotsk, pesquisador russo dos processos de aprendizagem, postulou que aprendizagem é o processo pelo qual o indivíduo adquire informações, habilidades, atitudes, valores, etc a partir de seu contato com a realidade, o meio ambiente e com as outras pessoas. Segundo este teórico, é o aprendizado que possibilita o despertar de processos internos do indivíduo, ligando o desenvolvimento da pessoa à sua relação com o ambiente sóciocultural em que vive, e reconhece que a situação do homem como organismo não desenvolve plenamente sem o suporte de outros indivíduos de sua espécie. As características de cada indivíduo vão sendo formadas a partir das inúmeras e constantes interações do indivíduo com o meio, compreendido como contexto físico e social, que incluem as dimensões interpessoais e culturais. Nesse processo dinâmico, ativo e singular, o indivíduo estabelece, desde o seu nascimento e durante toda a sua vida, trocas recíprocas com o meio, já que, ao mesmo tempo em que internaliza as formas culturais, as transforma e intervém no universo que o cerca. Assim, as características do funcionamento psicológico como o comportamento de cada ser humano são, nesta perspectiva, construídos ao longo da vida do indivíduo através de um processo de interação com o seu meio social, que possibilita a apropriação da cultura elaborada pelas gerações precedentes. 15 Vygotsky enfatizava o processo histórico-social e o papel da linguagem no desenvolvimento do indivíduo. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio. Para Vygotsky , o sujeito é interativo, pois adquire conhecimentos a partir de relações intra e interpessoais e de troca com o meio, a partir de um processo denominado mediação. Além disso, Vygotsky preconizava que não é suficiente ter todo o aparato biológico da espécie para realizar uma tarefa se o indivíduo não participa de ambientes e práticas específicas que propiciem a esta aprendizagem. A teoria desenvolvida por Vygotsky tem como base a construção sócio-histórica ou histórica-cultural da mente humana. O seu enfoque centrava-se na questão de como os fatores sociais e culturais influenciavam o desenvolvimento intelectual, a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio. O núcleo central de sua teoria trata de como os indivíduos, interagindo com colegas e com instrutores, constroem e internalizam o conhecimento. Na concepção de Vygotsky, todo ser humano se constitui um "ser" pelas relações que estabelece com os outros seres humanos. O sujeito é interativo, porque forma conhecimentos e se constitui a partir de relações intra e interpessoais. É na troca com outros sujeitos e consigo próprio que se vão internalizando conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a formação do conhecimento e da própria consciência. A aprendizagem é o processo pelo qual o indivíduo adquire informações, habilidades, atitudes e valores a partir de seu contato com a realidade, com o meio ambiente e com pessoas. A teoria pedagógica de Wallon preconiza que o desenvolvimento intelectual envolve muito mais do que um simples cérebro. Wallon foi o primeiro a levar não só o corpo da criança, mas também suas emoções para dentro da sala de aula. Fundamentou suas idéias em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa. Wallon considerava o desenvolvimento da pessoa completa integrada ao meio em que está imersa, com os seus aspectos afetivo, cognitivo e motor. A proposta walloniana põe o desenvolvimento intelectual dentro de uma cultura mais humanizada. A 16 abordagem é a de considerar a pessoa como um todo. Elementos como afetividade, emoções, movimento e espaço físico se encontram num mesmo plano. As atividades pedagógicas e os objetos, assim, devem ser trabalhados de formas variadas. 17 CAPÍTULO II O saber que não vem da experiência não é realmente saber. Lev Vygotsky Neurobiomecanismos do Aprender: compreendendo o cérebro no processo do aprender Aprender é um processo constante e ininterrupto, pois, ao longo da vida, se aprende a todo o momento, a todo instante. O cérebro é descrito como sendo um sistema dinâmico, que, no nascimento, dispõe de um estoque básico de saber prévio, e começa, de imediato, a dirigir perguntas ao exterior. Desta forma, o fluxo das informações provenientes dos sentidos e a interação dinâmica e constante com o meio, determinarão como o cérebro irá se desenvolver. A aprendizagem não significa simplesmente absorção de conteúdos, mas para que estes conteúdos se concretizem, é necessário a interação de uma rede de operações neurofisiológicas e neuropsicológicas que associam, combinam e organizam estímulos fornecidos pelo meio e a eles dêem as respostas mais adequadas, assimilações e fixações que possibilitem futuras evocações. Além disso, deve-se considerar os processos cognitivos internos, ou seja, como o indivíduo elabora os estímulos recebidos, sua capacidade de integrar informações e processá-las, formando uma rede complexa de representações mentais, que possibilite a resolução de problemas; a aquisição de conceitos novos e a interpretação de símbolos (Alvarez & Lemos, 2006). Em conssonância com a neurociência cognitiva, cujo foco de atenção é a compreensão das atividades cerebrais e dos processos cognitivos, a aprendizagem humana não decorre de um simples armazenamento de dados perceptuais, mas sim do processamento e elaboração das informações oriundas das percepções no cérebro (Carvalho, 2011). Neste sentido, processos de aprendizagem modelam o cérebro dotado de conexões neurais em constante reorganização, mediante o fortalecimento ou enfraquecimento de sinapses. No cérebro, há neurônios prontos para a estimulação, pois tudo o que é aprendido altera a rede neuronal. A atividade mental estimula a 18 reconstrução de conjuntos neurais, processando experiências vivenciais, num fluxo e refluxo de informações. A multiplicação dos estímulos exteriores detrermina qual será a complexidade de ligações entre as células nervosas e como elas se comunicarão entre si. É somente quando o desenvolvimento do cérebro é determinado por aquilo que se aprendeu e experimentou que a adaptação do cérebro ao meio ambiente se dá de forma ideal (Prigenzi, 2009; Carvalho, 2011). A aprendizagem, portanto, é o processo em virtude do qual se associam coisas ou eventos no mundo, graças a qual adiquirimos novos conhecimentos. Nos seres humanos, a percepção do mundo está relacionada à interpretação de fenômenos que envolvem os sentidos e a memória. Os processos de aprendizagem e memória modificam o cérebro e a conduta do ser que os experimenta (Mora, 2004). A memória envolve não somente as percepções, ações e objetivos, com também sentimentos, imaginação e trajetória do pensamento. As experiências sensoriais deixam traços no cérebro ao alterar a eficácia dos contatos sinápticos entre neurônios, fortalecendo a estrutura das redes neuronais. De fato, quanto mais recursos forem empregados na transmissão de uma informação, tanto melhor esta informação será fixada na memória, que é responsável pelo amazenamento de informações e pela evocação daquilo que está armazenado. A aprendizagem requer competências para lidar de forma organizada com as informações novas, ou com aquelas previamente armazenadas no cérebro, a fim de realizar novas ações. Segundo Lent (2001), é através do processo de aquisição de novas informações que o homem é capaz de orientar o comportamento e o pensamento. Para Maturana e Varela (2001), a aprendizagem surge de um acoplamento estrutural: as informações recípocras entre o indivíduo e o meio fazem surgir mudanças estruturais na organização do ser vivo e do contexto que está inserido; perante as informações, o organiosmo opera com propriedades emergentes, a fim de se adaptar às condições presentes no processo do conhecer. Além disso, deve-se ressaltar que as emoções desempenham um papel determinante na aprendizagem. A neurobiologia mostra que se aprende melhor quando o objeto do aprendizado tem um conteúdo emocional. São as emoções que orientam a aprendizagem. Neste sentido, o sistema límbico, formado pelo 19 tálamo, hipotálamo, giro cingulado, amígdala e hipocampo, exerce papel fundamental na avaliação as informações, decidindo que estímulos devem ser mantidos ou descartados, dependendo da retenção da informação no cérebro e da intensidade da impressão provocada nele. A consciência da experiência vivenciada é atingida quando, ao passar pelo córtex cerebral, compara-se a experiência com reflexões anteriores. Desta forma, quando se estabelece uma ligação entre a informação nova e a memória preexistente, alguns neurotransmissores como a acetilcolina e a dopamina são liberados amentando o sentimento de satisfação. É deste modo, então, que a emoção e a motivação influenciam na aprendizagem. (Carvalho, 2011). As emoções são, portanto, componentes essenciais ao funcionamento cognitivo e à aquisição de conhecimento. 2.1 – Funcionamento do sistema nervoso humano no processo de aprendizagem. Aprende-se desde o útero materno e se tem a capacidade de aprender sempre porque o cérebro humano se adapta, estabelecendo novas conexões neuronais a cada nova aprendizagem. Atuamente é sabido que o feto com 27 semanas se acostuma a sons, tonalidades e entonação da língua materna. O feto ouve, no útero da mãe, não só o bater de seu coração, os sons de seus órgãos em funcionamento, mas também a voz da mãe. Os outros sons do ambiente, no progresso da gestação, vão passar a se incorporar aos conteúdos que o feto pode ouvir. Aos quatro dias de nascido, o bebê pode não só reconhecer a voz de sua mãe, como também demonstra preferência em ouvir a língua materna, talvez pelo fato de que esta já lhe ser familiar (Alvarez & Lemos, 2006). O sistema nervoso possibilita que os organismos percebam, se adaptem e interajam com o mundo. Entre as diversas estruturas que o compõem, o cérebro é o mais bem investigado, pois é por seu intermédio que recebemos e processamos a informação ambiental e respondemos a ela. Uma das questões mais importantes no processo da organização cerebral é a da neuroplasticidade, ou seja, propriedade do sistema nervoso de alterar a sua 20 função ou a sua estrutura, em resposta às influências ambientais que o atingem (Lent, 2008). Autores como Le Doux (2002) e Ridley (2004), defendem que a neuroplasticidade é uma característica determinada inatamente. Isso significa que, se o sistema pode codificar experiências, só o faz porque possui uma capacidade inata para formar sinapses capazes de gravar e armazenar informações. Na verdade, o sistema nervoso é “construído” durante o desenvolvimento embrionário e pós-natal obedecendo a regras básicas expressas pelo genoma de cada espécie, mas de modo extremamente suscetível a modulações por parte do ambiente. Essa interação entre as informações do genoma e as informações do ambiente resulta na plasticidade ontogenética, possivelmente a fonte mais importante de variabilidade individual nos animais, extremamente significativa na espécie humana. De certa forma, toda aprendizagem depende de operações de capacidades programadas geneticamente para aprender (Lent, 2008; Otta & Yamamoto, 2009). Aprender coisas novas, ligar as informações novas com as já guardadas na memória, relacionar umas às outras, elaborar conclusões, tudo isso só é possível graças à capacidade de memorização e de interface entre informações, o que ocorre por um processo neurobioquímico, sináptico, no sistema nervoso do ser humano. 21 2. 2 – A trajetória da evolução do cérebro O cérebro evoluiu de baixo para cima. O modelo do cérebro triuno proposto por Paul Mclean em 1967 sugere que o cérebro humano, ao desenvolver-se, conservou as áreas dos cérebros dos predecessores. Através do processo de mutação aleatória e de sobrevivência dos mais aptos, a evolução fez alguns retoques nos que havia anteriormente para chegar ao mais adaptativo mecanismo existente no universo. A base do cérebro, chamado cérebro reptiliano (complexo R ou formação reticular), é o local onde estão localizados os centros de comando para a vida. Eles controlam o sono e a vigília; a respiração e a regulação da temperatura; os movimentos automáticos básicos, e funcionam como subestações intermediárias para a transmissão da informação (input) sensorial. Esta estrutura cerebral está diretamente relacionada aos instintos primitivos e agressivos do comportamento humano, os quais precisam ser educados, pois do contrário, prevalecerão. O cérebro intermediário é a unidade cerebral responsável pelas emoções dos velhos mamíferos, o cérebro paleomamífero, formado pelas estruturas do sistema límbico e corresponde ao cérebro dos mamíferos inferiores. Promove a sobrevivência, refina, emenda e coordena os movimentos. Além disso, é o local do desenvolvimento dos aparelhos para a memória e as emoções, os quais melhoram e realçam ainda mais a regulação interna do corpo, ao mesmo tempo em que começam a interagir com o mundo social. É com esse cérebro que aprendemos a cuidar das crias, com relação afetiva. O cérebro superior ou cérebro racional ou cérebro do neomamífero é a unidade cerebral responsável pelas tarefas intelectuais dos novos mamíferos, e compreende a maior parte dos hemisférios cerebrais. Esta área é responsável pela rigorosa afinação das funções inferiores, pelas associações, pelo pensamento abstrato e capacidade de planejamento. É o cérebro dos mamíferos superiores, incluindo os primatas, e consequentemente, o homem moderno Homo sapiens (Ratey, 2001; Relvas, 2010). 22 Modelo esquemático do Cérebro Triuno de Paul MacLean. Fonte: http://www.igooh.com/notas/teoria-del-cerebro-triuno-de-paul-maclean/ Fig 1. Modelo do Cérebro Triuno propsoto por Paul MacLean. Fonte: http://dericbownds.net/bom99/Ch03/Ch03.html 2.3 – Componentes anatômicos envolvidos na aprendizagem Os aspectos anatômicos ou estruturais do sistema nervoso central envolvidos na aprendizagem são importantes para o entendimento do ato de aprender, tanto em condições normais como patológicas. O sistema nervoso humano é formado por uma estrutura tubular que tem uma porção dilatada, o encéfalo ou cérebro, ou sistema nervoso superior, que continua num cilindro formando a medula espinhal. O sistema nervoso é um sistema integrativo por excelência, portanto, funciona com a cooperação integrada de todos os seus elementos celulares – os neurônios e os gliócitos. Estes tipos celulares se comunicam extensamente, formando uma rede morfológica e funcional de alta complexidade, capaz de gerar sinais, conduzí-los localmente e a distância, transmití-los simultaneamente a milhares de outras células e modificá-los de inúmeras maneiras, em um complexo processo de integração de informações. De fato, neurônios são células especializadas que processam informações, sendo capazes de gerar sinais bioelétricos de cominicação, os 23 chamados potenciais de ação, que representam a unidade de informação (Lent, 2001). Neurônios são células que desencadeiam informações sobre o estado interno do organismo e seu ambiente externo, avaliam estas informações e coordenam atividades apropriadas à situação e às necessidades dos indivíduos (Relvas, 2009). Apesar da garnde variação em tamanho e formato nas diferentes partes do sistema nervoso, todos os neurônios possuem a mesma estrutura básica. O neurônio consiste em um grande corpo celular, ou soma, que contém a maquinaria metabólica que o mantém. Os componentes da maquinaria incluem um núcleo, retículo endoplasmático, ribossomos, mitocôndria, aparelho de Golgi, dentre outras organelas. Além do corpo celular, os neurônios tmabém possuem processos especializados, o axônio e um ou mais dendritos. Os dendritos são prolongamentos altamente ramificados, semelhantes a arborizações, que recebem aferências de outros neurônios em locais denominados sinapses. Em geral, os dendritos funcionam como os sítios principais de entrada de informações (recepção de estímulos) no neurônio (Young et al, 2007; Gazzaniga et al, 2006). Cada neurônio possui um axônio, que representa a via de saída do neurônio, através do qual os sinais elétricos podem se propagar aos terminais axonais, onde se localizam as sinapses. Além dos neurônios, o sistema nervoso apresenta-se constituído de células gliais cuja função é dar sustentação aos neurônios e auxiliar o seu funcionamento. Embora não sejam capazes de transmitir sinais elétricos, possuem uma grande importância no funcionamento do sistema nervoso. As células gliais são responsáveis por toda a “infra-estrutura” de funcionamento do sistema nervoso. Estas células são capazes de fornecer suporte, nutrição, excreção, bem como de uma série de processos homeostáticos necessários à sobrevivência dos neurônios. A Neuroglia é responsável também pela formação da mielina. De fato, os gliócitos possuem diversas funções. Tais funções derivam da forma que as células assumem, assim como o tipo de função que exercem: astrócitos e oligodendrócitos atuam no sistema nervoso central enquanto que as células de Schwann e as células satélites atuam no sistema nervoso periférico. As células microgliais atuam tanto no sistema nervoso central como no sistema nervoso periférico. 24 Fig 2. Neurônio - estrutura básica Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-sistema-nervoso/neuronios-1.php Fig3. Células da Glia http://www.infoescola.com/citologia/celulas-da-glia/ Em uma visão neurobiológica da aprendizagem, deve-se considerar que, no caso dos humanos, o lobo pré-frontal é responsável tanto pela intercomunicação cerebral como pelo que se tem de humano, como: comportamento, julgamento, planejamento e execuções complexas. Quando ocorre ativação de uma área cortical, determinada por um estímulo, há alteração em outras áreas cerebrais, visto que o cérebro funciona de modo global, pois existem diversas vias de associação organizadas de tal forma a garantir a comunicação nas várias áreas corticais. 25 Segundo Relvas (2010), as associações recípocras entre as diversas áreas corticais asseguram a coordenação entre a chegada de impulsos sensitivos, sua decodificação e associação, até a atividade motora resposta, a qual denomina-se de funções nervosas superiores, desempemhadas pelo córtex cerebral. Lobo frontal - o córtex pré-frontal está relacionado com as funções superiores representadas por diversos aspectos do comportamento humano. É a região que recebe impulsos nervosos dos lobos parietal e temporal por meio de feixes de longas fibras de associações situadas no giro cingulado. O córtex pré-frontal é responsável por algumas funções como: fala, escrita, função motora e psicomotora, memória imediata, seriação, ordenação, planificação, programação, mudança de atividade mental, controle emocional, motivação, estruturação espacial e temporal. Lobo temporal – o lobo temporal posterior está relacionado com a recepção e decodificação de estímulos auditivos, que se coordenam com impulsos visuais; a porção anterior está relacionada com a atividade motora visceral (olfação e gustação) e com alguns aspectos de comportamentos isntintivos. O lobo temporal é responsável por algumas funções como: estímulos auditivos, não-verbal e verbal, percepção auditiva-verbal interpretação pictural, e visual, interpretação memória auditiva, espaço-temporal, discriminação e sequenciação auditiva e integração rítmica. Lobo parietal – relacionado à interpretação, à integração de informações visuais e à somatossensitivas, principalmente o tato. O lobo parietal é responsável por algumas funções como: registro tátil, imagem do corpo, reconhecimento tátil de formas e objetos, direcionalidade, processamento espacial. leitura, imagem e 26 Lobo occipital – esta região realiza a integração visula a partir da recepção dos estímulos que ocorrem nas áreas primárias. Leva informações para serem apreciadas e decodificadas nas áreas secundárias e de associação visual. Estes centros visuais são conectados por fibras intrahemisféricas ao córtex parietal do mesmo lado, bem como a outras áreas corticais, tais como ao lobo temporal, para outras atividades integradoras. O lobo occipital é responsável por algumas funções como: estimulação visual, percepção visual, sequenciação visual, rotação e perseguição visual. Tronco encefálico – responsável pela atenção, vigilância, integração neurossensorial motora, integração vestibular, integração tônica. Cerebelo – coordena os movimentos automáticos e voluntários, segurança, proprioceptividade e regulação de padrões motores. Na escala evolutiva, o homem, entre os mamíferos, é o ser que mais desenvolveu o lobo pré-frontal, indicando que nossa evolução se estabeceu (e estabelece) pela necessidade de novas aprendizagens. Ao longo de sua evolução, o homem humanizou-se, transformou-se em um ser que lança mão do pensamento e, na medida em que começou a interagir cuturalmente com mundo, encontrou formas mais eficazes de adaptação. Tudo isso só foi possível graças a capacidade do homem de aprender, de acumular conhecimentos, e de utilizar esses conhecimentos apreendidos para desenvolver técnicas que o auxiliam no enfrentamento das adversidades. Pedagogicamente, a motivação, o envolvimento entre o aprendiz, o professor e o conteúdo, a compreensão do funcionamento cerebral, são fundamentais para que se garanta uma aprendizagem ágil e eficiente. 27 CAPÍTULO III MEMÓRIA, APRENDIZAGEM E PLASTICIDADE CEREBRAL “A mente do homem, uma vez expandida por uma nova idéia, nunca recupera suas dimensões originais”. Oliver Wendell Holmes, Jr. 3.1 - Memória Memória é o processo de aquisição, formação, conservação e evocação de informações. A fase de aquisição é também chamada de aprendizagem. A evocação é também chamada de recordação, lembrança, recuperação (Lent, 2008; Izquierdo, 2002). A memória envolve não somente percepções, ações e objetivos, como também sentimentos, imaginação e trajetória do pensamento. A memória de um indivíduo constitui o conjunto de experiências acumuladas no cérebro, o que, em última análise, irá constituir a identidade. Lent (2001) acrescenta que a memória ativada através das linguagens perceptivas (as quais desempenham papel fundamental na aprendizagem), caracterizam estratégias mentais de retenção e evocação das memórias, sendo utilizadas para gravar, classificar, relacionar, criar e recuperar pensamentos, idéias e experiências. Pesquisas recentes na área de aprendizagem e memória postulam que o sistema nervoso atua em bloco para alcançar o aprendizado e a memória, e lesões corticais produzem déficits cognitivos que aumentam em gravidade a depender do tamanho da lesão. Atualmente, parece claro que tipos específicos de tarefas são aprendidos dentro de regiões cerebrais específicas. Essa visão surgiu a partir do estudo de indivíduos com lesões cerebrais muito delimitadas, acompanhadas por déficits de memória muito característicos – trabalho que tem sido confirmado em experimentos com animais. Os primeiros estudos se concentraram no papel do hipocampo para o aprendizado e a memória. As lesões do hipocampo impedem o surgimento de novas memórias de um tipo específico, o tipo de memória que utilizamos para aprender novos fatos ou eventos. Surpreendentemente, outros tipos de memória permaneceram Intactas, o que motivou pesquisadores a proporem duas grandes formas de 28 memória: a memória para fatos e evento, chamada de memória declarativa (explícita) e a não-declarativa ou memória implícita, pois resulta diretamente da experiência. As memórias explícitas são aquelas sobre as quais podemos falar, como o jantar de ontem à noite ou a data de um acontecimento histórico. Tais memórias envolvem o pensamento consciente. Sabe-se que o hipocampo é necessário para a aquisição desses tipos de memórias, pois as lesões nessa região impedem os indivíduos de estabelecerem novas memórias explícitas. Memórias implícitas são, normalmente, memórias de procedimentos ou associativas em sua natureza e freqüentemente são adquiridas de forma inconsciente ( Bear et al, 2008; Lombroso, 2004). 3.1.2 Classificação dos tipos de Memórias 1. Memória declarativa (explícita), referente aoconhecimento evocado conscientemente por meio de imagens ou proposições. Está subdividida em: memória para fatos – relativa ao conhecimento semântico sobre informações gerais; memória para eventos – relativa a episódios específicos temporal e espacialmente localizados. 2. Memória não-declarativa (implícita), pela qual o conhecimento é manifesto por meio do desempenho, sem que o sujeito tenha consciência de possuí-lo. Está subdividida em: memória associativa – memória motora para habilidades, alteração de desempenho (pré-ativação) e condicionamento clássico; memória não-associativa (habituação e sensibilização). Os processos associativos foram inicialmente estudados com procedimentos de laboratório conhecidos como condicionamento clássico e condicionamento operante (Kandel,1991). Os estudos com condicionamento clássico tiveram início em 1902, com Ivan Pavlov (Sá & Medalha, 2001 apud Millenson,1967). A partir de seus estudos sabe-se que a base do condicionamento clássico é a associação entre dois estímulos. Em condições 29 experimentais, a apresentação de um alimento (estímulo incondicionado) a um animal provoca salivação (resposta incondicionada). O condicionamento ocorre quando um estímulo neutro (somou luz, por exemplo), denominado estímulo condicionado, é emparelhado com o estímulo incondicionado. Então, quando o estímulo condicionado é apresentado antes do estímulo incondicionado a resposta condicionada é gerada durante a vigência do estímulo condicionado. Do mesmo modo, Skinner desenvolveu condições experimentais para o condicionamento operante ou instrumental (Sá & Medalha, 2001 apud Millenson,1967. Os animais eram colocados em um compartimento de onde podiam pressionar uma barra a fim de receberem uma recompensa. O condicionamento operante baseia-se na probabilidade de ocorrência futura de uma resposta, quando ela é seguida por um reforço. A habituação e a sensibilização são duas formas de aprendizagem não-associativas. Na habituação ocorre a redução da força de uma reposta a um estímulo inócuo. A sensibilização é o aumento da força da resposta a uma variedade de estímulos seguidos por um outro estímulo intenso (Sá & Medalha, 2001 apud Kandel, 1995). A maior parte do progresso no estudo celular da forma de aprendizagem implícita vem do estudo do sistema nervoso de invertebrados e vertebrados simples, que apresentam modificações comportamentais (habituação, sensibilização, condicionamento clássico e operante). A maioria dessas alterações envolve modificações nas conexões sinápticas. Esse tipo de análise foi inicialmente feito utilizando a Aplysia californica como sujeito experimental. Esse animal foi considerado um bom sujeito experimental por possuir um sistema nervoso simples para se estudar a mediação neural dos reflexos em nível celular. Atualemte se conhecem várias das alterações no sistema nervoso decorrentes da relação dos organismos com o meio ambiente, ou seja, da aquisição da experiência pelo processo de aprendizagem. Com o estímulo do sistema nervoso ocorrem inicialmente alterações neuroquímicas, tais como o aumento da produção e liberação de neurotransmissores e o aumento da sensibilidade dos receptores pós-sinápticos. Os mecanismos cerebrais de memória e aprendiza gem estão ligados aos processos neurais responsáveis pela atenção, motivação e outros processos neuropsicológicos, 30 de forma que perturbações nos mesmos afetam de alguma maneira a aprendizagem e a memória. Outro conceito que surgiu das pesquisas sobre o aprendizado e a memória é que a formação das memórias de longo prazo necessita de modificações estruturais e outras modificações funcionais nos neurônios. Uma série de achados críticos mostrou que o aprendizado necessita de alterações morfológicas em pontos especializados dos contatos neuronais, as sinapses. Há evidências que as sinapses se alteram com o aprendizado – novas sinapses são formadas e antigas se fortalecem. Esse fenômeno, denominado plasticidade sináptica, é observado em todas as regiões do cérebro. Além disso, sinais elétricos denominados potenciais de ação trafegam através do processo axonal do neurônio para atingir a sinapse. Ao chegar ao final do axônio, denominado terminal pré-sináptico, vesículas microscópicas rompemse e liberam neurotransmissores na fenda sináptica (o espaço entre dois processos neuronais). Estes se difundem através da estreita fenda sináptica e se ligam aos receptores específicos no lado oposto, o sítio pós-sináptico. Os neurônios se comunicam entre si dessa maneira e a forma como esse sinal é processado a seguir pode ocasionar alterações sinápticas de longa duração, resultando em plasticidade sináptica induzida pela experiência. Uma série de eventos intracelulares é necessária para que ocorram as modificações estruturais da sinapse requeridas para o aprendizado. Quando os sinais chegam ao sítio pós-sináptico, a liberação do neurotransmissor ativa as vias de sinalização intracelular na célula pós-sináptica, o que determina a produção de novas proteínas utilizadas nas modificações sinápticas. Um elemento-chave nesses eventos é uma via de transdução desinal, conhecida como a via da proteína-quinase MAP (do Inglês, Mitogen-Activated Protein). As proteínas-quinases ativadas por mitógenos (MAPK, sigla em Inglês para Mitogen-activated protein kinase) são proteínas sinalizadoras importantes ativadas pelos neurotransmissores e por vários fatores de crescimento. Um membro dessa família é a quinase regulada por sinais extracelulares (ERK, sigla em Inglês para Extracellular signal-regulated kinases). A cascata ERK é utilizada em todas as regiões cerebrais em que a plasticidade sináptica ocorre 31 e sua ativação é requerida para a formação denovas memórias (Lombroso, 2004). Em nível celular, o processo de codificação envolve alterações dependentes da atividade celular, modificando a força da conexão sináptica. Um mecanismo bastante estudado é a potenciação a longo prazo (PLP), que é um aumento na força da sinapse, que pode ser induzida por uma pequena atividade neural. Esse tipo de modificação sináptica participa na codificação da informação e do processo de recuperação das informações. A potenciação a longo prazo foi bastante estudada no hipocampo, principalmente nas fibras colaterais de Schaffer, fibras que conectam as regiões CA3 e CA1 (Fig 4). Para se produzir PLP é necessário usar um estímulo forte que ative muitas fibras aferentes juntas. É crítico, para indução do PLP, que a célula pós-sináptica seja adequadamente despolarizada. Requer-se disparo simultâneo nos neurônios pré e pós-sinápticos. Esses achados confirmaram a teoria de Hebb que afirma que quando um axônio A excita o axônio B e dispara repetidamente e persistentemente, algum processo de crescimento ou uma alteração metabólica ocorre em uma ou em ambas as células, tanto que a eficiência da A em disparar B aumenta. O neurotransmissor usado nesse processo é o glutamato. O glutamato liga-se a receptores NMDA e não-NMDA nas células da região CA1. Numa transmissão sináptica normal, os receptores não-NMDA (N-metil-D-aspartato) dominam, pois os NMDAs estão bloqueados por íons magnésio (Mg2+). Esses receptores são desbloqueados quando as células pós-sinápticas estão adequadamente despolarizadas por um forte estímulo de muitos neurônios pré-sinápticos. Essa despolarização causa a saída do Mg2+, permitindo a passagem da sódio (Na+) e cálcio (Ca2+) para dentro da célula. O influxo de Ca2+ é o sinal para o PLP. O canal se torna funcional somente quando o glutamato liga-se a receptores e a membrana é despolarizada. O Ca2+ ativa proteínas quinase dependentes de Ca2+, proteína quinase C e tirosina quinase. Esses mensageiros, tornando-se constantemente ativos, levam ao aumento da transmissão sináptica. Então, para que se induza um PLP, é preciso um evento pós-sináptico, como o desbloqueio dos receptores NMDA e o influxo de Ca2+, sendo a manutenção 32 do PLP dependente de um evento pré-sináptico, como o aumento da liberação de glutamato (Sá & Medalha, 2001). Fig 4.: Anatomia do Hipocampo: o hipocampo consiste em duas camadas finas de neurônios, dobradas uma sobre a outra. O termo “hipocampo” é comumente utilizado para descrever conjuntamente duas regiões interligadas: o giro denteado e o hipocampo propriamente dito , chamado de Corno de Amon , do latim cornu Ammonis, CA. Ambos possuem uma organização interna trilaminada, composta por dois tipos de células principais: as células granulares do giro denteado e as células piramidais do Corno de Amon, sendo estas divididas nos setores de CA1, CA2 e CA3. Fonte: http://lasse.med.br/mat_didatico/lasse1/textos/alexandre01.html 33 3.2 – Aprendizagem Aprendizagem é um processo de aquisição que depende de fatores internos e externos; é uma modificação biológica na comunicação entre os neurônios, formando uma rede de interligações que podem ser evocadas e retomadas com relativa facilidade e rapidez. Todas as áreas cerebrais estão envolvidas no processo de aprendizagem (Relvas, 2010). A maneira que o cérebro vai receber, usar, armazenar, repassar e expressar a informação é modulada por fatores intrínsecos (genéticos) e extrínsecos (experiências), o que gera modificações funcionais e comportamentais no indivíduo. A aprendizagem pode ser definida como um processo que se cumpre no sistema nervoso central, em que se produzem modificações mais ou menos permanentes, que se traduzem por uma modificação funcional ou conductual, permitindo uma melhor adaptação do indivíduoao seu meio como resposta a uma solicitação interna ou externa. Uma vez que um dado estímulo é conhecido do sistema nervoso central, desencadeia uma lembrança; quando o estímulo é novo, desencadeia uma mudança. Sabe-se que a aprendizagem se processa no sistema nervoso central cujo funcionamento pode ser entendido de muitas formas ou níveis, começando pelo nível anatômico ou macroscópico; passando pelo nível microscópico, como o da organização dos tecidos; pelo nível histológico das células e organelas subcelulares – nível celular; e até pelas estruturas bem menores, tais como as moléculas, que constituem o nível molecular ou bioquímico. Os aspectos anatômicos ou estruturais do sistema nervoso central envolvidos na aprendizagem são importantes para o entendimento do ato de aprender, pois a função de aprender envolve principalmente as atividades superiores, sediadas nas áreas corticais, inter e multirrelacionadas, não só entre elas, mas com as estruturas subcorticais importantes no recebimento da informação e na resposta elaborada pelo cérebro. Para que a função de aprender seja adequada, é necessário o envolvimento do tono muscular, da noção de esquema corporal, da emoção e do afeto. 34 A aprendizagem, de um ponto de vista neuropsicológico, como resultado da recepção e troca de informações entre o meio ambiente e diferentes centros nervosos (Corso, apud Romanelli, 2003): “(...) o ato de aprender exige sempre um estímulo externo – informação – que é captado pelos órgãos dos sentidos habilitados a transformar esse estímulo de natureza físico-química em impulso nervoso de natureza fisiológica”. O impulso (em que foi transformado o estímulo externo pelos órgãos dos sentidos) chega até a área do córtex cerebral correspondente ao sentido estimulado. Desta forma, o estímulo visual termina no lobo occipital; o auditivo, no lobo temporal; o tátil ou somestésico, no lobo parietal. A sensação se forma, portanto, nas áreas onde estão projetados os estímulos, chamadas áreas de projeção, ou primárias. Entretanto, com as sensações não há ainda elaboração de significado, que decorre da percepção, desencadeada com a ativação das áreas secundárias (Corso, apud Romanelli, 2003): “Neurônios associativos fazem a ligação das áreas primárias com as secundárias, onde vai acontecer a percepção, que consiste na formação de imagens ensoriais correspondentes ao estímulo. Trata-se de imagens com significado. Das áreas secundárias, a informação passa às áreas terciárias ou de integração, onde ocorre a integração de todos os aspectos do estímulo, de modo a formar uma percepção mais global. O estímulo recebido pelo cérebro pode ser externo ou interno, podendo ter origem na própria atividade cerebral. Relvas(2010), ressalta que o processo de aprendizagem é desencadeado a partir da motivação, e que esse processo se dá no interior no indivíduo. Além disso, descreve o caminho percorrido pelos estímulos da seguinte maneira: - O córtex cerebral, nas áreas do lobo temporal, recebe, integra e organiza as percepções auditivas. - Nas áreas do lobo occipital, o córtex recebe, integra e organiza as percepções visuais. - As área temporal e occipital se ligam às áreas do lobo frontal, situadas na terceira circunvolução frontal, responsável pela articulação das 35 palavras. A articulação frontal ascendente é responsável pela expressão da escrita (grafia). - As área parietotemporoccipital é responsável pela integração gnóstica, e as áreas pré-frontais, pela integração práxica, desde que essas funções sejam moduladas pelo afeto e pelas condições cognitivas de cada um. As funções perceptivas e motoras, além das funções cognitivas do ato de aprender são ativadas e produzem modificações no sistema nervoso central. De fato, o processo de recepção e troca com o meio presente em todas as etapas do desenvolvimento cognitivo é, em última análise, um processo neuronal, que envolve neurônios sensitivos, motores e de associação. Os neurônios são células excitáveis que se comunicam entre si e com outras células efetuadoras (como células musculares e secretoras). A comunicação interneural é basicamente elétrica, ou seja, por meio da modificação do potencial de membrana. Na verdade, Riesgo (2006) explica que há dois tipos de neurotransmissão: a elétrica e a química. Elas atuam praticamente ao mesmo tempo, mas há diferenças: a elétrica está mais relacionada ao desenvolvimento neuropsicomotor, enquanto a química está mais ligada ao aprendizado em si. Assim, há uma ontogenia até no tipo de transmissão, sendo que a mais antiga é a elétrica, que é bidirecional e é muito importante do ponto de vista neuromaturacional. A neurotransmissão química é mais recente, é unidirecional, envolve vários eventos e diferentes neurotransmissores. A neurotransmissão mais comum entre os neurônios é mista. Também há um trânsito intraneural, em que ocorre troca de informações entre o núcleo e o citoplasma do neurônio. A membrana celular delimita cada neurônio e mantém diferenças nos íons e nas cargas elétricas dentro e fora da célula. Com efeito, a compreensão da sinapse, ou das conexões entre os neurônios, é central para o entendimento do processo de aprendizagem. As conexões entre os neurônios podem se processar em série ou em paralelo, havendo, também conexões não-fixas. O uso faz aumentar o número de conexões, enquanto que o desuso faz diminuir a quantidade de botões sinápticos (Riesgo, 2006). O conhecimento da transmissão sináptica é a chave para compreender a base neural do aprendizado e da memória (Corso, 2009 36 apud Ohlweiler, 2006). O conceito de sinapse está muito ligado ao conceito de engrama, que caracteriza uma modificação estrutural do sistema nervoso, decorrente da sinapse, sendo que o engrama poderia localizar-se no neurônio ou nos circuitos formados pelas conexões entre os neurônios. A aprendizagem supõe uma etapa de aquisição e outra de consolidação. Esta última conduz o indivíduo de volta à noção de engrama: “Quando um estímulo novo chega ao cérebro, se produz um padrão diferente de descargas, provocando uma modificação que persiste. A retenção dessa modificação se relaciona com a memória ou engramas”(Corso, 2009 apud Ohlweiler, 2006). Na etapa de aquisição da aprendizagem ocorre o surgimento de novas sinapses, mas provavelmente há uma modificação nas existentes. Na etapa de consolidação, ocorrem modificações bioquímicas e moleculares nos potenciais pós-sinápticos que se referem à memória. O mesmo processo é descrito da seguinte forma por Riesgo (2006): Aprendizado e memória podem se confundir do seguinte modo: quando chega ao SNC uma informação conhecida, ela gera uma lembrança, que nada mais é do que uma memória; quando chega ao SNC uma informação inteiramente nova, ela nada evoca, e sim produz uma mudança isso é aprendizado - do ponto de vista estritamente neurobiológico. O principio básico das neurociências preconiza que o ambiente físico e social determina a atividade de células neurais, cuja função, por sua vez, determina o comportamento. Segundo Ferrari e colaboradores (2001), o ambiente fornece estímulos/informações que são captados por receptores sensoriais e convertidos em impulsos elétricos, que são analisados e utilizados pelo sistema nervoso central para o controle de respostas vegetativas, motoras e cognitivas. Essas respostas constituem os padrões comportamentais que atuam sobre e modificam esse ambiente. Do mesmo modo que o comportamento altera a probabilidade de outros comportamentos (Catania, 1999), a atividade neural altera a probabilidade das funções neurais. Uma das evidências para este fato é que tanto as situações de mera exposição à estimulação ambiental quanto às situações de treinamento sistemático em aprendizagem resultam em alterações no comportamento e nos circuitos 37 neurais (Rosenzweig, 1996). Desse modo, verifica-se que os processos comportamentais e os processos deplasticidade neural possuem relações mais estreitas e complexas do que se supôs durante muito tempo. Em resumo, considera-se que tal como o ambiente diferencia e modela a forma e função das respostas de um organismo, a interação organismoambiente também diferencia e molda circuitos e redes neurais. E porque a plasticidade baseia-se na aprendizagem, nós podemos aprender em qualquer fase da vida; contudo a forma como fazemos o aprendizado segue caminhos diferentes que varia com a idade. Um dos aspectos fundamentais envolvidos com a aprendizagem é a valorização dos processos neurais, além do fato de diferentes formas de aprendizagem envolver não só circuitos neurais diferentes, mas diversos mecanismos fundamentais. O processo de aprendizagem exige certo nível de ativação e atenção, de vigilância e seleção das informações. A ativação, por meio da vigilância, conecta-se com a atenção no sentido da capacidade de focalização da atividade. De fato, esses são elementos fundamentais de toda atividade neuropsicológica, essenciais para manter as atividades cognitivas, inibindo o efeito de muitos neurônios que não interessam à situação. Se não houver uma organização cerebral integrada, não é possível uma aprendizagem normal. Os processos de codificação e decodificação são de extrema importância, quando se abordam problemas de aprendizagem. A linguagem, oral e escrita, receptiva ou expressiva, faz parte com toda sua especificidade, do sistema cognitivo. Distinguindo a dimensão de percepção e gnose, como sendo o reconhecimento modal específico por meio de analisadores visuais, auditivos e somestésicos do processamento conceptual e ação, como pensamento e resposta (verbal ou não-verbal), a linguagem é um dos componentes fundamentais na organização cognitiva e nos processos complexos da aprendizagem. Os componentes cognitivos e as regiões cerebrais, que os processam, constituem um todo interconexo (Paula et al, 2006 apud Tabaquim, 2003). A aprendizagem resulta da recepção e da troca de informações entre o meio ambiente e os diferentes centros nervosos. Desta forma, a 38 aprendizagem inicia com um estímulo de natureza físico-química advindo do ambiente que é transformado em impulso nervoso pelos órgãos dos sentidos (Romanelli, 2003). Prestar atenção, compreender, aceitar, reter, transferir e agir são alguns dos componentes principais da aprendizagem. Assim, a informação captada é submetida a contínuo processamento e elaboração, que funciona em níveis cada vez mais complexos e profundos, desde a extração das características sensoriais, a interpretação do significado até, finalmente, a emissão da resposta (Paula et al, 2006 apud Ciasca, 2003). As áreas de projeção estão relacionadas com a sensibilidade, a motricidade, e as áreas de associação e de sobreposição estão relacionadas com funções psíquicas complexas: gnosias, linguagem, esquema corporal, memória, emoções, etc (Machado, 2002). O aprender implica em certas integridades básicas, que devem estar presentes, quando oportunidades são oferecidas para a realização da aprendizagem. Essas integridades são caracterizadas em três níveis: • Funções psicodinâmicas - à medida que o organismo internaliza o observado ou o experienciado, começa a assimilar hierarquicamente, pelos processos psíquicos, devendo, portanto, existir controle e integridade psicoemocional para que ocorra a aprendizagem; • Funções do sistema nervoso periférico - responsáveis pelos receptores sensoriais, que são canais principais para aprendizagem simbólica. Uma subcarga sensorial implicaria em privação do cérebro de estimulação básica, para o crescimento e amadurecimento dos processos psicológicos; • Funções do sistema nervoso central - responsável pelo armazenamento, elaboração e processamento da informação, resultante da resposta apropriada do organismo(Paula et al, 2006 apud Ascoaga, 1972). 39 3.3- Plasticidade cerebral Considera-se a plasticidade cerebral como a capacidade do sistema nervoso central de modificar a sua organização estrutural própria e o seu funcionamento, processo que ocorre principalmente nos primeiros anos, mas que se reflete por toda vida. A plasticidade cerebral é um elemento decisivo para o processo de aprendizagem, no que tange aos aspectos afetivos e cognitivos. Considerando o fato do ser humano ter o seu desenvolvimento em boa parte completado após o nascimento, o bebê possui a caixa craniana ainda incompleta, com estruturas cartilaginosas e com aberturas denominadas fontanelas, o que possibilita um pronunciado desenvolvimento cerebral pósnatal. Sabe-se, ainda, que a maioria dos neurônios é formada no final do segundo trimestre da vida pré-natal, entretanto, 90% dos neurônios formados durante a vida fetal são destruídos após o nascimento. Tão importante quanto o número de neurônios é a formação de conexões entre eles, por intermédio das sinapses, que permitem a transmissão do estímulo de neurônio a neurônio e, consequentemente, da informação através do sistema nervoso. Considerando que o volume cerebral atinge 95% do tamanho adulto quando a criança atinge os cinco anos de idade, há mais sinapses no cérebro aos seis anos de idade do que em qualquer outro período da vida, devido ao intenso processo da formação dessas conexões, desde o nascimento, sendo os estímulos recebidos pela criança nesse período de fundamental importância para o seu desenvolvimento. Após o volume cerebral atingir 95% do tamanho adulto, ocorrem dois momentos importantes de renovação neuronal, o primeiro entre cinco e dez anos de idade e, o segundo, na adolescência. Nesses casos, a eliminação competitiva e a reestruturação cerebral, denominada de poda, fazem com que cerca de metade das conexões sinápticas sejam destruídas. Nesse período, embora os neurônios não aumentem de número, há um aumento do peso cerebral pelo ao aumento da demanda metabólica em razão de maior gasto energético, ocorrendo aumento do volume cerebral. Há, também, um aumento da espessura do córtex nas regiões mais utilizadas por terem recebido mais estímulos, bem como uma diminuição das regiões não utilizadas. “A inatividade 40 pode causar a poda da sinapses não utilizadas, e é provável que cause a destruição apopótica* de neurônios inteiros . Os fatores causais desse processo residem na estimulação decorrente do meio familiar e social, incluindo vivências, exigências, limites impostos, referências e aprendizado cognitivo associados a aspectos neurotróficos como a nutrição e a mielinização. Tais fatores “aumentam conexões” ou “eliminam conexões”, que são os “substratos para as atividades motoras, para a cognição e para a maturidade emocional”. A formação de novas sinapses ocorre durante toda a vida, assim como a perda delas, permitindo que o aprendizado também ocorra. As alterações no cérebro, portanto, ocorrerão na razão direta desses fatores e, concomitante ao desenvolvimento do sistema nervoso como estrutura morfológica, ocorre o desenvolvimento do ser humano em relação aos aspectos psicológicos, repercutindo sobre a vida do indivíduo (Dal-Farra, 2008 apud Stahl, 2002). *Apoptose: morte celular programada. É um tipo de autodestruição celular que ocorre de forma ordenada e demanda energia para a sua execução. Está relacionada com a manutenção da homeostase e com a regulação fisiológica do tamanho dos tecidos, mas pode também ser causada por um estímulo patológico. (Kierszenbaum, 2004) 41 CAPÍTULO IV A inteligência é uma faculdade que pode ser desenvolvida e não algo que vem pronto com o nascimento. Luíz Machado A INTELIGÊNCIA EM EVIDÊNCIA A investigação dos processos cognitivos, afetivos e sociais na aprendizagem de qualquer área de estudo, conduz pesquisadores e psicólogos cognitivos, ao questionamento sobre a validade de testes que alegam medir a inteligência, especificamente o do Quociente de Inteligência (QI). Nestes, os princípios e teorias das mudanças cognitivas não são reconhecidos, pois existe uma tendência em ignorar diferenças individuais e focalizar dados de grupos de indivíduos que completam tarefas. As hipóteses são derivadas de produtos e não de processos. Luíz Machado em seu livro Q.I. Não é Inteligência: a destruição de um mito faz uma crítica aos testes de Q.I. afirmando que “ Os testes de Q.I. tentaram medir o que ninguém sabia e ainda não sabe: o que é inteligência.” Segundo Machado (2010), esses testes estão voltados para um aspecto da inteligência, algumas funções cognitivas apenas, de tal modo que pode-se dizer que eles medem a capacidade de uma pessoa resolver os testes. As variáveis cognitivas, afetivas e sociais que influenciam o aprender tornam difícil o desenvolvimento de um instrumento padrão avaliativo confiável e válido. As variáveis cognitivas são em parte governadas pela inteligência, a memória e a capacidade de raciocinar, analisar, reconhecer, conceituar, organizar avaliar, armazenar e recuperar informações. As variáveis afetivas que dizem respeito às atitudes (confiança), emoções (auto-estima, inibição, ansiedade) motivação, personalidade e idade, incluem também as crenças dos alunos sobre a aprendizagem as quais podem interferir bloqueando o progresso do desenvolvimento da inteligência. As variáveis sociais tais como nível socioeconômico, sexo e diversidade cultural, deveriam ser igualmente consideradas para poder triangular dados pertinentes na determinação dos supostos graus de inteligência. 42 A inteligência tem sido, por muito tempo, enfocada a partir da tecnologia de testes mentais e de seu conjunto de métodos estatísticos (psicometria). As primeiras formas de medição foram elaboradas por Alfred Binet e Simon Théodore, na França entre 1904 e 1911. Estes dois pesquisadores as organizaram com a finalidade inicial de identificar quais crianças teriam sucesso na escola e quais fracassariam. O entusiasmo que surgiu a partir dos resultados deste tipo de testagem fez com que seu uso extrapolasse os limites escolares e regionais, tornando-se uma forma cientificamente aceita como um meio de mensurar o grau de inteligência dos indivíduos. As pesquisas sobre as diferenças individuais tratam, entre outros tópicos, das diferentes estratégias de aprendizagem empregadas pelos estudantes e dos fatores gerais. A idade, aptidão, motivação e, acrescente-se, a inteligência, classificam-se como fatores gerais e são diferenciados conforme a possibilidade que se tem de modificá-los. A idade, por exemplo, é definida como um fator geral estável, pois não pode ser modificada, alterada e tampouco influenciada por fatores externos ou internos. A inteligência tem sido pesquisada como uma capacidade individual estável e não passível de modificações. A inalterabilidade e imutabilidade da inteligência são defendidas por Burt e Jensen (FONSECA,1998), entre outros, por acreditarem na idéia de que esta capacidade é essencialmente hereditária, portanto, não modificável seja por meio da educação ou outras formas de intervenção. Por outro lado, passa a ser discutida, por pesquisadores cognitivos atuais, como uma capacidade mutável e desenvolvimental. Gardner (1994) e Sternberg (2000) apresentam uma visão de inteligência que, além de valorizar os estudos advindos da psicométrica, não ignora a influência que o meio circundante exerce nesta capacidade que, além de sua carga genética, está sujeita às modificações causadas por influências externas. O ponto principal dessa questão, ao levantar tais diferenças de opiniões, é o de reforçar a idéia de que as diferentes formas de ensinar que podem contribuir muito para desenvolver os potenciais e/ou inteligências dos aprendizes, principalmente, se os processos de ensino refletirem os processos 43 de aprendizagem considerando que cada indivíduo tem seu ritmo própro de aprender e apreender. Embora não haja um consenso sobre a existência de uma inteligência verbal lingüística ou individual nos estudos da aptidão, há um indício de que o tipo de inteligência, que envolve o indivíduo não é único, mas pressupõe a existência de mais de uma inteligência. Segundo Fernandes-Boëchat (2005b) deve-se dar mais importância à inteligência emocional dos aprendizes do que à inteligência na perspectiva psicométrica, haja vista que a inteligência emocional não é levada em consideração quando os aprendizes são submetidos a testes de QI. As variações desta inteligência podem influir nos resultados. Analisando possíveis interferências no processo de aprendizagem, através de testes de fluência em sala de aula, Fernandes-Boechät confirmou a existência de mais uma inteligência que vai além dos testes de QI, a inteligência intuitiva. É importante ressaltar que intuição, sexto sentido e instinto são conceitos diferentes sendo que a intuição é a conclusão que parte da organização das informações captadas pelo inconsciente. Em razão das possibilidades de interpretações sobre a inteligência, abre-se espaço para que novas idéias surjam procurando contemplar aspectos relevantes como o ambiente, a cultura e a experiência. Neste sentido, a teoria das Inteligências Múltiplas proposta por Gardner (1994), vem contribuir para uma nova compreensão desta capacidade, pois segundo ele, a inteligência é um potencial biopsicológico para solucionar problemas ou criar produtos importantes para a sociedade circundante cujos testes não conseguem captar toda a sua complexidade. Em sua teoria, o ambiente, a cultura e a possibilidade desenvolvimental da inteligência assumem um papel fundamental. Para Gardner, não existe uma inteligência geral, hereditária e única que responde pelos atos inteligentes dos indivíduos, mas pelo menos nove formas diferentes de sua representação que, apesar de interagirem entre si, apresentam procedimentos e localizações específicas. (GARDNER et al, 1998; STERNBERG, 2000). Sua afirmação embasa-se num exame criterioso desta capacidade humana nos indivíduos prodígios – aqueles com desenvolvimento extraordinário num determinado talento –idiotas sábios – indivíduos com problema mental, mas com precocidade em determinada área 44 (GARDNER, 1993), crianças autistas, crianças com dificuldades de aprendizagem e através de informações relevantes a respeito de indivíduos que sofreram lesão cerebral. (ANTUNES, 2001; GARDNER et al , 1998). Estes potenciais, representados pelas inteligências verbal-lingüística, lógica- matemática, musical, espacial, corporal cinestésica, interpessoal, intrapessoal, naturalistae existencialista reiniciam a discussão sobre o impacto desta capacidade no ambiente escolar trazendo novas possibilidades de ensino para todos os estudantes, independenteda suposta quantidade de inteligência que cada um possa ter. As localizações destas inteligências no cérebro humano, chamadas por Gardner como ficções úteis, servem para compreender as relações entre as pesquisas realizadas com os testes de QI e os estudos sobre os hemisférios cerebrais. Segundo Gardner, a inteligência verbal-lingüística, por exemplo, está localizada no hemisfério esquerdo. A partir destas informações é possível fazer comparações, pois os testes de QI apontam os indivíduos com altas pontuações como receptivos a uma instrução sistemática e estrutural quando envolvidos com a leitura, vocabulário e gramática. Uma vez que a inteligência verbal-lingüística é processada no hemisfério esquerdo, e que este processa as informações de forma sistemática e estrutural, presumese que os indivíduos com predominância desta inteligência apresentarão um melhor desempenho em testes de QI enquanto os indivíduos que, hipoteticamente, apresentam as inteligências musical ou espacial, como mais predominante, utilizarão o hemisfério direito como uma espécie de ponte para a aprendizagem, sendo, portanto, menos receptivos a uma instrução sistemática e estrutural. Em vista disso, o impacto da teoria no ensino dá-se pela valorização dos conjuntos individuais de inteligências e pela observação das potencialidades dos aprendentes permeados por atividades que promovam, de forma especial, as inteligências de cada um dos envolvidos no processo educacional. Machado (2010), considerando que a inteligência parece estar fundada no cérebro e que esta seria resultado da eficiência neural, postula que ela é uma função tornada possível pela estruturação do organismo como um todo e, especialmente, a rede neuronal, com o propósito de promover a 45 autopreservação e a preservação da espécie, quer pelo aprendizado na própria vida, quer pela experiência (Machado, 2010). Nas palavras de Machado: O maior objetivo da natureza é a preservação das espécies. E para atingí-lo, ela equipou os seres com um mecanismo biológico que gera a inteligência natural ou nativa, uma virtualidade para que os seres, animais e vegetais, possam conseguir a preservação dos indivíduos, promovendo meios de defesa, de ataque, de adaptação; em suma, do que veio a se chamar “inteligência” (Machado, 2010 p.30). Machado (2010) preconiza que a inteligência é um recurso da natureza para adaptação, portanto ela é “nativa” ou “natural”, o que chama também de a “grande inteligência”. Nos seres humanos, o mecanismo biológico responsável pela inteligência nativa é o sistema de autopreservação e reservação da espécie (SAPE), formado pelo sistema das emoções (sistema límbico) e o sistema endócrino, o que leva os seres a agir pela ação dos hormônios. Com a grande inteligência está diretamente relacionada ao SAPE, com o envolvimento do sistema glandular endócrino, diretamente ligado às emoçõesenergia, ela pode ser chamada de inteligência emocional. A grande inteligência é inata, podendo ser estimulada. Por outro lado, Machado (2010) outro aspecto da inteligência, que ele chama de “inteligência racional” ou “pequena inteligência”. Segundo ele, esta seria a inteligência do intelecto, da lógica formal ou aristotélica, tornada possível pela mobilização das funções cognitivas. Para ele, o desenvolvimento simultâneo da “inteligência natural” e da “inteligência racional” produz a superinteligência (Machado, 2010). 46 A inteligência que se mede pelos testes de Q.I. é a pequena inteligência, que nada mais é do que um recurso da grande inteligência para ajudar na solução de problemas, na necessidade de adaptação, no enfrentamento de dificuldades, de adversidades e no atingimento de objetivos, vale dizer, de aprendizagem, que, afinal, é adaptação....todo processo de ativaçãoe desenvolvimento da inteligência deve começar desde o berço pela estimulação sensorial, continuar na primeira infância com estímulos adequados, prosseguir no ensino fundamental e médio, ir pelo ensino superior (Machado, 2010). O papel da inteligência, na atualidade, apresenta uma perspectiva desenvolvimental que pode ser trabalhada nas mais diversas disciplinas escolares, porém antes de qualquer aplicação é imprescindível que o educador possa repensar sobre a valorização dos potenciais dos estudantes e perceber que cada aluno é um ser humano complexo, com necessidades peculiares. Inteligência e aprendizagem não estão ligadas à quantidade, mas ao reconhecimento e desenvolvimento dos vários tipos de inteligências que definem os potenciais de cada indivíduo, bem como sua exploração para o sucesso na aprendizagem de qualquer conteúdo. 47 4.1 - TIPOS DE APRENDIZAGEM O cérebro humano é um sistema complexo que estabelece relações com o mundo que o rodeia por meio de fatores significativos como: a especificidade das vias neuronais, que da periferia levam ao córtex informações provenientes do mundo exterior; e, a especificidade dos neurônios, que permite determinar áreas motoras, sensoriais, auditivas, ópticas, olfativas, etc. Estas áreas estabelecem inter-relações funcionais improtantes para o aprendizado. A aprendizagem é um processo contínuo que opera sobre todos os dados que alcançam um umbral de significação, dependendo, fundamentalmente, da memória e da atenção. A capacidade de especialização cerebral em armazenar dadospara sua utilização posterior permite mediante a memória, codificar e decodificar informação. Atenção permite focalizar atividades conscientes dependentes de sistemas e subsistemas anátomofuncionais, que trabalham como redes em paraleleo, permitindo uma atuação simultânea e interativa nas tarefas cognitivas. De fato, o processo de aprendizagem exige certo nível de ativação e atenção, de vigilância e seleção das informações. A ativação, por meio da vigilância, conecta-se com a atenção no sentido da capacidade de focalização da atividade. Sem uma organização integrada, intra e interneurossensorial, não é possível uma aprendizagem normal. Os processos de codificação e decodificação são de extrema importância, quando se abordam problemas de aprendizagem. A linguagem, oral e escrita, receptiva ou expressiva, faz parte do sistema cognitivo e constitui um dos componentes essenciais na organização cognitiva e nos processos complexos da aprendizagem. O ato de prestar atenção, comprender, aceitar, reter, transferir e agir são alguns dos componentes principais da aprendizagem. Assim, a informação captada é submetida a contínuo processamento e elaboração, que funciona em níveis cada vez mais complexos e profundos, desde a extração das 48 características sensoriais, a interpretação do significado até, a emissão da resposta. O aprender implica em certas integridades básicas que devem estra presentes quando oportunidades são oferecidas para a realização da aprendizagem. Essas integridades são caracterizadas por três níveis: - Funções psicodinâmicas - à medida que o organismo internaliza o observado ou o experienciado, começa a assimilar hierarquicamente, pelos processos psíquicos, devendo, protanto, existir controle e integridade psicoemocional para que ocorra a aprendizagem; - Funções do sistema nervoso periférico – responsáveis pelos receptores sensoriais, que são canais principais para a aprendizagem simbólica. Uma subcarga sensorial implicaria em privação do cérebro de estimulação básica, para o crescimento e amadurecimento dos processos psicológicos; - Funções do sistema nervoso central – responsável pelo armazenamento, elaboração e processamento da informação, resultante da respsota apropriada do organismo. 4.1.1 - Aprendizagem significativa 4.1.1.2 - Aprendizagem significativa segundo Ausubel A teoria da aprendizagem de Ausubel baseia-se no pressuposto de que existe uma estrutura na qual se processa a organização e a integração da informação a aprender. Trata-se da estrutura cognitiva entendida como o “conteúdo total organizado das ideias de um indivíduo; ou, no contexto da aprendizagem de uma matéria de ensino, o conteúdo e organização das idéias numa área particular de conhecimentos” (Moreira & Masini,1982). Na aprendizagem significativa as novas idéias e informações interagem com um conhecimento prévio existente na estrutura cognitiva do indivíduo. Em última análise, só se aprende a partir do que já se conhece. Portanto, para promover a aprendizagem significativa é preciso averiguar o conhecimento prévio e ensinar de acordo. Na aprendizagem significativa, o aprendiz não é um 49 receptor passivo. É importante que o indivíduo faça uso dos significados que já internalizou, de maneira substantiva e não arbitrária, para poder captar os significados dos materiais educativos. Nesse processo, ao mesmo tempo em que está progressivamente diferenciando sua estrutura cognitiva, está também fazendo a reconciliação integradora de modo a identificar semelhanças e diferenças e reorganizar seu conhecimento, ou seja, aprendiz constrói seu conhecimento. Aprendizagem significativa é, de fato, o processo através do qual uma nova informação (um novo conhecimento) se relaciona de maneira não arbitrária e substantiva (não-literal) à estrutura cognitiva do aprendiz. É no curso da aprendizagem significativa que o significado lógico do material de aprendizagem se transforma em significado psicológico para o sujeito. Caracteriza-se pela interação cognitiva entre o novo conhecimento e o conhecimento prévio. Nesse processo, que é não-literal e não-arbitrário, conforme já mencionado, o novo conhecimento adquire significados para o aprendiz e o conhecimento prévio fica mais rico, mais diferenciado, mais elaborado em termos de significados, e adquire mais estabilidade. (Moreira et all, 1997 apud Masini, 1982, 2006; Moreira, 1999, 2000, 2006; Masini e Moreira, 2008; Valadares e Moreira, 2009). Para Ausubel (Moreira et al, 1997 apud Ausubel 1963), a aprendizagem significativa é o mecanismo humano, por excelência, para adquirir e armazenar a vasta quantidade de idéias e informações representadas em qualquer campo de conhecimento. A teoria de Ausubel tem o seu enfoque, principalmente, na aprendizagem cognitiva, segundo a qual as informações são armazenadas de um modo organizado, na mente do indivíduo que aprende, sendo esse complexo organizado - a estrutura cognitiva. A base da sua teoria é que a aprendizagem deve ser significativa, isto é, o sujeito aprende e está aberto a aprender quando integra a nova informação nos conhecimentos previamente adquiridos. √ Aprendizagem por recepção - tipo de aprendizagem através do qual o conteúdo a ser aprendido é apresentado de uma forma mais ou menos 50 final. Trata-se de um processo automático, mas que também deve revestir-se de carácter significativo. √ Aprendizagem por descoberta - a característica essencial é que o conteúdo principal do que vai ser aprendido não é dado, mas deve ser descoberto pelo aluno antes que possa ser incorporado, significativamente, à sua estrutura cognitiva. É o tipo de aprendizagem própria das fases iniciais do desenvolvimento cognitivo e dos problemas do quotidiano. √ Aprendizagem mecânica, ou repetitiva -"Aquisição de informações com pouca ou nenhuma intersecção com conceitos ou proposições relevantes existentes na estrutura cognitiva” (Moreira & Masini, 1982). Deste modo, o conhecimento é armazenado de forma arbitrária, não estabelecendo ligações com conceitos prévios. Este tipo de aprendizagem ocorre quando o indivíduo memoriza a informação para um determinado propósito, que posteriormente é frequentemente perdida logo que esse propósito tenha sido cumprido. √ Aprendizagem significativa - "Aquisição de novos significados; pressupõe a existência de conceitos e preposições relevantes na estrutura cognitiva, uma predisposição para aprender e uma tarefa de aprendizagem potencialmente significativo” (Moreira & Masini, 1982). Segundo Ausubel, quer a aprendizagem por recepção quer a aprendizagem por descoberta, podem ser significativas, desde que a nova informação se incorpore de um modo não arbitrário e literal às estruturas cognitivas. Para Ausubel, aprendizagem significativa “é um processo pelo qual a nova informação se relaciona com um aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo” (Moreira & Masini, 1982). Ausubel refere que a aprendizagem significativa é um mecanismo humano, porexcelência, para adquirir e armazenar a vasta quantidade de ideias e informações representadas em qualquer campo de conhecimento (Moreira,1997). Ausubel descreve três tipos de aprendizagem significativa: (1) representacional, (2) de conceitos e (3) proposicional. 1. O tipo mais básico de aprendizagem significativa, do qual os outros dois tipos dependem. É a aprendizagem representacional. É aprendizagem dos 51 símbolos individuais (geralmente palavras) ou do que eles representam. Ocorre quando se estabelece uma equivalência entre os símbolos arbitrários e os seus referentes correspondentes (objectos, exemplos, conceitos), passando a remeter o indivíduo ao mesmo significado. Trata-se de um tipo de aprendizagem significativa na medida em que as proposições de equivalência proposicional podem ser relacionadas, enquanto exemplos, generalizações que aparecem, nos primeiros anos de vida, na estrutura cognitiva do indivíduo—tudo tem um nome e o nome significa aquilo que o seu referente significa para uma determinada pessoa. 2. A aprendizagem de conceitos é de certa forma, um caso especial da aprendizagem representacional. Tal fato resulta de os conceitos, as idéias genéricas ou as categorias serem também representadas por símbolos individuais e arbitrários. É a aprendizagem do que significam os conceitos, objetos e acontecimentos que, por sua vez, se representam por nomes ou palavras. 3. A essência da aprendizagem proposicional não é aprender significativamente o que representam as palavras isoladas ou combinadas. A tarefa deste tipo de aprendizagem significativa consiste em aprender os significados das ideias expressas por grupos de palavras (geralmente representando conceitos) combinadas em proposições ou sentenças. Ou seja, a tarefa é prender o significado que está para além da soma dos significados das palavras ou conceitos que compõe a proposição (Moreira & Masini, 1982). 52 4.2 - Aprendizagem Significativa, Emoções e Sentimentos. As emoções e os sentimentos são aspectos das interações aos quais não tem sido dado ênfase suficiente no Ensino, apesar de tacitamente todos reconhecerem a importância das emoções na interação professor-aluno. Segundo António Damásio, as emoções têm função social e papel decisivo no processo da interação. As emoções são adaptações singulares que integram o mecanismo com o qual os organismos regulam sua sobrevivência orgânica e social. Em um nível básico, as emoções são partes da regulação homeostática e constituem-se como um poderoso mecanismo de aprendizagem. Ao longo do desenvolvimento, “as emoções acabam por ajudar a ligar a regulação homeostática e os ‘valores’ de sobrevivência a muitos eventos e objetos de nossa experiência autobiográfica” (Damásio, 2000). As emoções fornecem aos indivíduos comportamentos voltados para a sobrevivência e são inseparáveis de nossas idéias e sentimentos relacionados a recompensa ou punição, prazer ou dor, aproximação ou afastamento, vantagem ou desvantagem pessoal etc. No entanto, definir o que são as emoções não é uma tarefa simples. As dificuldades nascem da diversidade dos tipos de manifestações emocionais e da diversidade de teorias divergentes nos vários domínios da pesquisa psicológica que, a partir de estudos experimentais, enfocam o tema das emoções. 53 4.3 - Modelo de Níveis Emocionais Damásio (1996, 2000) discute três níveis de emoção: primário, secundário e de fundo. As emoções primárias, que denominaremos emoções básicas, são aquelas tratadas pelos trabalhos de Darwin e de seus seguidores, a saber: alegria, tristeza, medo, raiva, surpresa e repugnância. As emoções secundárias ou sociais incluem embaraço, ciúme, culpa, orgulho etc. E, finalmente, há o que Damásio (2000) denomina “emoções de fundo como bem-estar ou mal-estar, calma ou tensão. O rótulo de ‘emoção’ também foi aplicado a impulsos e motivações e a estados de dor e prazer”. Essa classificação nos parece apropriada para a análise do ocorrência processo dessas de significação emoções e aprendizagem que integram os A básicas constitui, ao longo do tempo, os sentimentos que permeiam as interações em aula. adaptações significativa. As emoções são mecanismos pelos quais osorganismos regulam a vida, quer numa reação específica a uma situação quer na regulação do estado interno do indivíduo. Emoções são conjuntos complexos de reações químicas e neurais, formando um padrão; todas as emoções têm algum tipo de papel regulador a desempenhar, levando, de um modo ou de outro, à criação de circunstâncias vantajosas para o organismo em que o fenômeno se manifesta; as emoções estão ligadas à vida de um organismo, ao seu corpo, para ser exato, e seu papel é auxiliar o organismo a conservar a vida (Damásio, 2000). O aprendizado e a cultura alteram a expressão das emoções e lhes conferemnovos significados. Assim temos, por um lado, os processos biológicos determinantes das emoções e, por outro, os aspectos sócioculturais. Existem reações emocionais universais que são o resultado da evolução biológica, mas em pessoas adultas elas são subsumidas às reações mais complexas que refletem a cultura e o desenvolvimento individual. Nessa abordagem heterogênea (Griffithis, 1997) encontra-se a conjugação dos aspectos individuais e dos aspectos sócio-culturais das emoções. 54 CAPÍTULO V Nossa singularidade repousa no nosso cérebro. A.Damásio O PAPEL DO CÉREBRO NA APRENDIZAGEM O cérebro é o órgão onde se forma a cognição, que emerge deste porque nele ocorrem determinadas condições bio-psico-sociais ou bioantropológicas dinâmicas e evolutivas que permitem ao ser humano revelarse como um ser auto-eco-organizador (Fonseca, 2009 apud Morin, 1996). Quando o indivíduo aprende algo, há um processo de informação entre o sujeito aprendente (o aluno) e a tarefa, seja ela a escrita ou a leitura, por exemplo. Para perceber o que é aprendizagem, isto é, uma mudança de comportamento provocada pela experiência, entre um momento inicial, em que a tarefa não é dominada, e um momento final, onde a tarefa passa a ser dominada e automatizada, há de se encarar ambos os componentes: o sujeito aprendente e a tarefa. No ser aprendente, a aprendizagem envolve o cérebro (órgão da aprendizagem), que tem de processar informação para que ela se verifique. Quando se aprende, o cérebro necessita de processar o material a ser aprendido, independentemente de cada sujeito o realizar de forma diferente, de acordo com a preferência do seu estilo de aprendizagem. A leitura, por exemplo, implica processar letras que têm categorizações fonológicas específicas parea serem decodificadas e compreendidas. De um processo de captação visual, o cérebro tem em seguida de categorizar formas de letras com sons, por meio de processos auditivos complexos a fim de inferir significações cognitivas contidas em palavras que compôem um texto. Segundo Fonseca, 2009, a informação uma vez integrada, depois de devidamente decodificada, terá de ser retirada e armazenada, a fim de gerar a compreensão, o nexo e a sequencia de eventos da informação escrita. A criança para ler terá de envolver o seu cérebro em funções psíquicas superiores , tais como a atenção e a concentração; a discriminação, a análise e síntese de letras e sons; a compreensão do sentido do texto; a 55 rememorização das suas conexões e elações narrativas, a recordação das personagens, dos locais referidos, etc (Fonseca, 2009). Fonseca (2009) considera que a aprendizagem compreende um processo funcional dinâmicoque integra quatro componentes cognitivos básicos, a saber: • Input (auditivo, visual, tátil-cinestésico); • Cognição (atenção, memória, integração, processamento simultâneo e sequencial, compreensão, planificação, etc.); • Output (falar, discutir, desenhar, observar, ler, escrever, contar, resolver problemas, etc.); • Retroalimentação (repetir, organizar, controlar, regular, realizar, etc.) PROCESSAMENTO DE INFORMAÇÃO INTERAÇÃO Tarefa Leitura / escrita Sujeito MATERIAIS Processo, experiência, fases , automatização Processo, experiência, fases , automatização USO INTEGRAL DAS APTIDÕES CEREBRAIS NO APRENDIZADO O processo de ensino-aprendizagem requer por parte, especialmente, dos profissionais da educação, o entendimento de como funcionam os Livros, fichas, INPUT (auditivo, visual...) jogos, letras... COGNIÇÃO (atenção, memória, integração...) OUTPUT (ler, escrever...) Modelo de processamento de informação, segundo Fonseca, 2009 56 5.1 - USO INTEGRAL DAS APTIDÕES CEREBRAIS NO APRENDIZADO O processo de ensino-aprendizagem requer por parte, especialmente, dos profissionais da educação, o entendimento de como funcionam os mecanismos de recepção e emissão do sistema nervoso central do homem, bem como dos mecanismos periféricos desse sistema. Do mesmo modo, saber como estes sistemas evoluíram e evoluem é essencial para a compreensão de como se comportam diferentemente, de aprendente para aprendente. Em virtude das diferenças de polaridade cerebral dominante, o modo específico como cada pessoa aprende é peculiar, bem como o modo específico como cada pessoa interpreta o que é transmitido e o que é recebido é peculiar. Cada aluno/aprendente aquisitará melhor conhecendo, compreendendo e administrando os sistemas de recepção e aprendizado. Ademais, os educadores ensinarão melhor identificando os sistemas de recepção preferidos dos seus aprendizes, ao mesmo tempo em que conhece, compreende e admisnistra seus melhores sistemas de transmissão e recepção (feedback), identificando, acessando e desenvolvendo seus sistemas secundários para aprender a ensinar de uma forma global e holística (Miranda, 1997). Não existem dois seres humanos fisiológica ou psicologicamente idênticos. Cada indivíduo é único em sua maneira de ver o mundo, de ser, de pensar, de agir. O psicólogo Abraham Maslow propôs que todos os seres humanos sentem, em determinadas medidas, um conjunto de necessidades básicas, classificadas da seguinte maneira: fisiológicas, de segurança, associação, estima e autorealização (Miranda, 1997). Este mesmo autor preconizava que a maior parte dos comportamentos de caad pessoa tende a ser ditada pelo desejo de satisfazer sua necessidade mais intensa. Considerando-se a hierarquia das necessidades segundo Maslow, e analisando-a à luz da multipolaridade cerebral e do desenvolvimento sequencial das aptidões cerebrais, entende-se melhor a os processos 57 acionadores das diferentes necessidades sentidas pelo ser humano. Segundo descreve Miranda (1997): - No pólo corporal/visceral predominam as necessidades fisiológicas básicas, cuja tentativa de solução dar-se-á através de ações voltada para a sobrevivência imediata; são capacidades fisiológicas inatas (instintivas) e cultiváveis de acionar os órgãos motores e os sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar) para a realização de movimentos e interações essenciais à preservação da vida. O aprendizado através do pólo visceral é eminentemente tátil. Baseado em experiência individual marcante vivida na prática: o fogo queima, o cachorro morde. É um conhecimento referendado pela certeza. Todas as disciplinas cuja prática exige atividade física são, em geral, aprendidas através do pólo visceral. Um bom exemplo é a atividade esportiva em geral. - No pólo preventivo/organizacional o aprendizado é eminentemente visual, baseado na observação das coisas e das experiências vividas ou relatadas por outros. Este indivíduo aprenderá melhor vendo do que ouvindo. Portanto, é o leitor por excelência, aquele que conserva informações obtidas através de textos e imagens sequenciais, quadros, gráficos e tabelas. - No pólo emotivo/relacional o aprendizado é essencialmente sensitivo, baseado na confiança e na empatia do aluno em relação ao professor e/ou à matéria. A eficácia do aprendizado no pólo emotivo/relacional está diretamente relacionada à figura do professor, do companheiro de estudos ou de imagens e histórias que toquem o coração e os sentimentos do aprendiz. Este tipo de aluno aprenderá confortavelmente através de gravações sonoras nas quais a velocidade, ritmo, modulação e entonação da voz sejam bem explorados. - No pólo analítico/fatual o aprendizado é fundamentalmente arquitetural, construído geometricamente em ciam da apreciação e análise de fatos e dados, colocados mais visualmente do que auditivamente. As figuras e imagens precisam retratar a realidade. Demonstrações, provas e experiências práticas são essenciais para seu processo de aprendizagem. 58 - No pólo intuitivo/conceitual o aprendizado é eminentemente holístico e especulativo. A informação é capturada através da linguagem escrita ou falada, bem como através de imagens metafóricas, figuras ou ilustrações representativas de idéias ou conceitos. Este tipo de aprendiz tem interesse maior no quadro global, e não nos detalhes. Além disso, tem a necessidade de processar as informações que recebe “passeando” sua imaginação ao redor delas. Ao ler um trecho de um livro que contenha informação digna de processamento, ele interromperá a leitura, fechará os olhos e ficará pensando a respeito do assunto por alguns instantes antes de retomar a leitura. 59 CONCLUSÕES FINAIS ESTRATÉGIAS PARA ALCANÇAR UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA VOLTADA PARA O SÉCULO XXI Um dos aspectos mais relevantes em Neurociências é a importância de perceber que a missão da escola mudou. Há necessidade de despertar para o fato que, em vez de atender a uma massa amorfa de alunos despersonalizados, é preciso focalizar o indivíduo, aquele sujeito original singular, diferente e único, dotado de habilidades múltiplas, que possui diferentes estilos de aprendizagem e, conseqüentemente, diferentes maneiras de resolver problemas. É fundamental reconhecer a importância de refletir sobre o processo de aprendizagens relevantes, mais até do que a instrução e a transmissão de conteúdos. É necessário levar o indivíduo a aprender a aprender, que se manifesta pela capacidade de refletir, analisar e tomar consciência do que sabe; dispor-se a mudar os próprios conceitos; buscar novas informações; substituir verdades antigas e enraizadas por teorias transitórias; adquirir os novos conhecimentos que vêm sendo requeridos pelas alterações existentes no mundo, resultantes da rápida evolução das tecnologias da informação. Aprender a agir e pensar a partir de um novo referencial teórico é uma tarefa, por vezes, difícil e incômoda. Atuar e inovar pedagogicamente em novas bases envolve uma profunda mudança de mentalidade. O aprendiz do século XXI é o indivíduo que constrói o conhecimento, a partir de situações concretas vivenciadas. O professor para assimilar os novos conhecimentos implícitos na nova abordagem, requer tempo para poder comparar, estabelecer as conexões, compreender as diferenças e integrar o conhecimento. É um tempo para assimilação e acomodação de novas práticas em suas estruturas mentais. 60 A Neurociência Pedagógica propõe abandonar uma abordagem pedagógica tradicional, que enfatiza a transmissão de conteúdos e informações que são passados diretamente do professor para o aluno, mediante um processo reprodutivo, possa criar uma nova situação educacional que enfatiza a construção realizada pelo indivíduo, através de uma pedagogia criativa, dinâmica, encorajadora, apoiada na pesquisa, na investigação e no diálogo. Os novos conhecimentos proporcionam ao educador saber que há predominantemente três tipos de aprendizes, conforme já discutido anteriormente. O reconhecimento de que existem, minimamente, aprendizes visuais (que prestarão mais atenção às informações visuais, incluindo texto); aprendizes auditivos (para quem as informações tornam-se mais assimiláveis pela discussão) e aprendizes cinestésicos ou táteis (que aprendem melhor quando envolvem diretamente o corpo) e que esses necessitam satisfazer suas necessidades básicas para aprender melhor e mais rápido, torna o profissional da educação em um estudioso do comportamento humano. Em lugar de uma educação que reforça a separação de realidades inseparáveis, que vê a mente separada do corpo, os educadores promovem um novo diálogo entre mente e corpo. O professor do século XXI tem compromisso com o futuro, no presente da sala de aula. Ele constrói uma nova relação com os alunos, mais horizontal, recíproca, dialética e mais verdadeira, onde o professor além de ensinar, aprende, e o educando além de aprender, ensina. Em vez de enfatizar conteúdos, resultados, quantidade de noções, informações e conceitos a serem memorizados, repetidos e copiados, reconhecemos a importância do processo, de uma metodologia voltada para a qualidade do processo de aprendizagem que valoriza a pesquisa e os trabalhos em grupo, o que implica programas e currículos mais flexíveis e adaptáveis às condições dos alunos, respeitando-se o ritmo individual e o processo de assimilação do conhecimento. Contrariamente a uma metodologia que valoriza a dependência intelectual do aluno em relação ao professor, a Neuropedagigia busca uma 61 nova construção que da autonomia intelectual, que deixa o aluno propor os seus projetos e os problemas que deseja resolver. Ao utilizar uma metodologia que leva o indivíduo a aprender a aprender, a aprender a pensar, utilizando técnicas adequadas que permitem o estudo de alternativas e tomadas de decisão, significa preparar o indivíduo para aprender a investigar, aprender a aprender rápido, aprender a gostar de aprender e dominar diferentes formas de acesso às informações. A possibilidade de um trabalho interdisciplinar fecundo depende de uma visão geral do modo pelo qual as disciplinas se articulam entre si. Neste contexto, os avanços das neurociências proporcionam não só o entendimento do funcionamento do cérebro, mas também a grande possibilidade de os educadores transformarem as formas de pensar, comunicar e reencantar a educação. Estimular os alunos a buscar novas práticas de ensino-aprendizagem, novos meios de desenvolver a inteligência e a criatividade será uma oportunidade única e original para as aquisições cognitivas. 62 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ALBRIGHT,T.D.;KANDEL,E.R.;POSNER, M.I. 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São Paulo: 1991. 67 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 2 AGRADECIMENTO 3 DEDICATÓRIA 4 RESUMO 5 METODOLOGIA 6 SUMÁRIO 7 INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I 11 Considerações teóricas sobre aprendizagem. 17 CAPÍTULO II Neurobiomecanismos do Aprender: compreendendo o cérebro no processo do aprender . 2.1– Funcionamento do sistema nervoso humano 19 no processo de aprendizagem. 2. 2 – A trajetória da evolução do cérebro. 2.3 – Componentes anatômicos envolvidos na aprendizagem. 21 22 CAPÍTULO III Memória, Aprendizagem e Plasticidade Cerebral 27 3.1 – Memória 3.1.2 Classificação dos tipos de Memórias 27 3.2 – Aprendizagem 28 3.3- Plasticidade cerebral 33 68 40 CAPÍTULO IV A Inteligência em Evidência 41 4.1 - Tipos de Aprendizagem 4.1.1 - Aprendizagem significativa 4.1.1.2 - Aprendizagem significativa segundo Ausubel 47 48 48 4.2 - Aprendizagem Significativa, Emoções e Sentimentos 4.3 - Modelo de Níveis Emocionais 52 CAPÍTULO V 53 O Papel do Cérebro na Aprendizagem 5.1 - Uso Integral das Aptidões Cerebrais no Aprendizado 54 56 CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 59 ÍNDICE 62 67