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PRÉMIOS NEUROCIÊNCIAS SANTA CASA PARA CIENTISTAS DO INSTITUTO GULBENKIAN DE CIÊNCIA
E DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
Fonte: TV Ciência, Portugal, 2014-11-26
Usar células embrionárias para recuperação de lesões vertebro-medulares e encontrar moléculas
análogas à cafeína para recuperação de memória são os trabalhos agora distinguidos com os
Prémios Neurociências da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Rita Aires explicou, em declarações à TV Ciência, que o projeto agora distinguido baseia-se na «ideia
que as melhores células para transplantar e eventualmente curar lesões vertebro medulares são
aquelas que já fazem esse trabalho naturalmente no embrião», ou seja, as células progenitoras axiais.
A investigadora explicou que no embrião estas células «têm a missão de fazer o corpo e a espinal
medula», sendo que a certa altura do «desenvolvimento embrionário só fazem músculo, osso e espinal
medula».
Neste sentido, «o que nos parece é que essas são as melhores células para trabalhar, porque são essas células que já fazem o trabalho naturalmente no
embrião», afirmou a cientista.
Com base neste conhecimento, os cientistas do IGC estão a tentar expandir em laboratório células progenitoras axiais de ratinho em número suficiente para
transplante, para «eventualmente tentar aplicar este conhecimento e transportá-lo para as células humanas», adiantou a cientista.
E os investigadores já alcançaram alguns resultados preliminares. Rita Aires explicou que: «temos um mutante de ratinho que achamos que tem maior
quantidade desses progenitores axiais que fazem o corpo e a espinal medula e os nossos resultados preliminares apontam que há uma via de sinalização
específica envolvida no processo e que essa via de sinalização é importante para a sua expansão em laboratório, portanto, é por ai que queremos apostar».
Por enquanto, os cientistas do IGC estão apenas a trabalhar em células de ratinhos, mas a longo prazo, o objetivo será usar «técnicas para reprogramar
células adultas para (atingirem) uma fase mais atrás do desenvolvimento e a partir dai vamos poder começar a trabalhar com essas células».
«A partir do momento que saibamos como é que as células do embrião de ratinho funcionam, teremos fortes indícios para saber como é que elas vão depois
funcionar no resto dos vertebrados», afirmou Rita Aires e adiantou que com base nos resultados poderão no futuro vir possivelmente a desenvolver uma
estratégia terapêutica «para doenças de lesões vertebro medulares e que necessitem de uma reconstrução funcional da espinal medula».
O poder da cafeína na recuperação da memória
Na área das doenças neurodegenerativas, Rodrigo Cunha, investigador do Centro de Neurociências, da Faculdade de Medicina, da Universidade de Coimbra,
recebeu o Prémio Mantero Belard, pelo trabalho intitulado “O aumento da função dos recetores A2A da adenosina no hipocampo nos défices mnemónicos na
Doença de Alzheimer".
O trabalho baseia-se em dados epidemiológicos que revelam que existe «uma relação inversa entre o consumo de cafeína e a deterioração cognitiva, quer
em situação de envelhecimento, quer com patologias do foro demencial», explicou Rodrigo Cunha à TV Ciência.
Neste sentido, acrescentou o cientista, «o esforço que fizemos foi tentar identificar como atuava a cafeina e identificamos que a cafeina funciona como um
bloqueador de um recetor, para um ligando chamado adenosina, que coordena a atividade celular, sobretudo quando ela tem de modificar a sua função face
a necessidades do meio ambiente».
Agora que os cientistas já identificaram o alvo molecular, a adenosina, «o objetivo é, primeiro, compreender qual o papel que tem este alvo molecular em
processos mnemónicos e mostrar se é suficiente o bloqueio deste alvo molecular para termos um benefício em termos de processos cognitivos, em
doenças neurodegenerativas, nomeadamente, em modelos de alzheimer».
Em segundo lugar, adiantou o investigador, o objetivo é «mostrar em paralelo se é suficiente a ativação excessiva deste alvo para causar a deterioração
cognitiva».
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Posteriormente, os cientistas do Centro de Neurociências, da Universidade de Coimbra, esperam poder «desenhar uma super cafeína que maximize o
benefício e, sobretudo, diminua os efeitos secundários associados à cafeina» e para isso, avançou Rodrigo Cunha, «temos de sair da utilização da cafeina e
começar a atuar com fármacos mais seletivos para este alvo molecular».
Dado que a cafeina não atua de forma uniforme no cérebro de todas as pessoas, na prática, os cientistas pretendem encontrar moléculas análogas à cafeina
«mais potentes e mais seletivas» para atuar ao nível do recetor e que possam vir a ser usadas «para tocar numa franja muito superior da população
humana».
É sabido que para que a cafeína proporcione um efeito protetor ao nível da memória é necessária «uma cronicidade e uma regularidade no consumo de
cafeina e, por outro lado, a evidência que nós temos é que o período de proteção é proporcional à extensão do consumo de cafeina», afirmou o cientista.
Neste sentido, explicou Rodrigo Cunha, «aquilo que nós pretendemos é passar de uma situação simples de prevenção para uma situação de intervenção» e
«ambicionamos vir a intervir terapeuticamente, ou seja, num individuo que já tem um problema de memória, já tem um défice funcional, queremos recuperá-lo
para uma função que ele já teve e que perdeu».
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