16° TÍTULO: DIAGNÓSTICO POR IMAGEM NO ANEURISMA DA ARTÉRIA ESPLÊNICA CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: BIOMEDICINA INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS AUTOR(ES): MAIRA MENDES DE OLIVEIRA ORIENTADOR(ES): ITAMAR SOUZA DE OLIVEIRA JUNIOR, NELSON HERNAN FERREIRA 1 Resumo: O aneurisma de artéria esplênica é uma condição observada em exames diagnósticos incidentais e de sua rotura torna-se uma emergência clínica/cirúrgica que pode levar o paciente a óbito devido a hipovolemia. Os exames de diagnóstico por imagem são de extrema importância na identificação e conduta deste aneurisma. Nosso objetivo foi apresentar uma revisão sobre aneurisma de artéria esplênica explorando o diagnóstico por imagem. Palavras-chave: reperfusão visceral, diagnóstico por imagem, aneurisma da artéria esplênica INTRODUÇÃO O aneurisma da artéria esplênica (AAE) possui como achado mais frequente um defeito na túnica média, com perda de fibras elásticas e da musculatura lisa. Este aneurisma também é observado com frequência em pacientes portadores de fibrodisplasia da túnica média, com hipertensão portal, antecedentes de gestações múltiplas ou que foram submetidos a transplantes hepáticos 1,2. Ocasionalmente o AAE se encontra associado a presença de carcinoma pancreático, ou em pacientes com alterações inflamatórias nas paredes das artérias, como pode ser observado na presença de periartrite nodosa, pancreatite aguda, endocardite bacteriana e usuários de drogas intravenosas 3,4. O AAE foi descrito pela primeira vez em 1770 por Beaussier, e o primeiro êxito no tratamento realizado por McLeod em 1940. O AAE é observado entre 46 a 60% dos doentes com aneurismas viscerais. Normalmente é uma doença assintomática o que faz de seu achado aleatório, ocorrendo por conta de outro problema abdominal. A artéria mesentérica superior (Figura 1) se origina da aorta abdominal pouco acima das artérias renais direita e esquerda, ao nível da borda superior do pâncreas e emite ramos jejunais, ileais, artéria ileocólica e artéria cólica direita, sendo responsável pela irrigação de parte do pâncreas, intestino delgado (exceto duodeno) e parte do intestino grosso, em uma posição mais elevada da artéria mesentérica superior se visualizam o tronco celíaco e a artéria esplênica 5. 2 Art. renal direita Figura 1. Imagem ilustrativa da posição da artéria mesentérica superior 6. A circulação esplênica (Figura 2) inclui as artérias celíacas, mesentérica superior e inferior, com origem na aorta abdominal. A artéria esplênica se lança do tronco celíaco e se divide no hilo do baço com um diâmetro de aproximadamente 5 mm se originando a 1,5 cm do tronco celíaco. Quanto a irrigação primária afeta o baço e o pâncreas e a curvatura maior do estômago, em conjunto com os vasos gástricos curtos e a artéria gastroepiplóica esquerda 7. 3 Figura 2: Demonstra a localização da artéria esplênica e seus ramos. BAZO Y PÁNCREAS (modificado). Rubén Arévalo Diego Barra. Eduardo Briceño. [Acesso em 07/08/2016]. http://es.slideshare.net/ANALISIS/9213163-bazo-y-pancreas 8 OBJETIVO Nosso objetivo foi levantar dados na literatura sobre o uso do diagnóstico por imagem no aneurisma da artéria esplênica. METODOLOGIA Para este estudo realizamos levantamento bibliográfico nas bases de dados da Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Pubmed sobre o tema com os seguintes descritores: aneurisma da artéria esplênica (splenic artery aneurysm), reperfusão visceral (visceral reperfusion), diagnóstico por imagem (diagnostic imaging); além da utilização de livros textos sobre a temática, da mesma forma foram procuradas imagens que fornecessem informações relevantes para a ilustração do trabalho. DESENVOLVIMENTO 4 Os aneurismas dos ramos viscerais da aorta vêm sendo diagnosticados com relativa frequência nos últimos anos tendo em conta o maior acesso aos exames de imagem 9. Estes aneurismas viscerais são entidades clínicas importantes, pois sua rotura ou erosão podem levar a morte 10,11. A incidência e história natural dos AAE não são totalmente conhecidas, uma vez que são assintomáticos e normalmente diagnosticados em um exame de imagem por conta de outro problema no abdome (Figura 3) ou ainda por causa de uma rotura, o que leva à uma alta mortalidade perioperatória, sendo mais comum no sexo feminino 11-16 . Figura 3. Demonstra a imagem do aneurisma de artéria esplênica (AAE) com uso de tomografia computadorizada de abdome contrastada. Guillaumon AT, Chaim EA. Aneurisma de artéria esplênica associado a uma variação anatômica na origem. J Vasc Bras. 2009; 8(2): 177-81. [Acesso em 06/08/2016]. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-54492009000200013 17 . Os tamanhos médios dos aneurismas da artéria esplênica possuem aproximadamente 2 cm quando diagnosticados e raramente excedem os 3 cm 18. 5 Os riscos de rotura do aneurisma eram de aproximadamente 10% nos primeiros relatos sobre a doença. Atualmente os estudos apontam para uma taxa entre 2-3% do risco de rotura do AAE 19,20. O risco de rotura aumenta em cerca de 50% durante a gravidez e outros 20% nos pacientes com hipertensão portal 21-23 . A dilatação da artéria esplênica, na gravidez, é resultado do aumento do fluxo sanguíneo e por ação dos efeitos do estrógeno no tecido elástico da túnica média que acaba predispondo à formação do aneurisma 16,24 . Os sinais clínicos e os sintomas raramente são observados no AAE, principalmente quando seu diâmetro for inferior a 2 cm 12,25. Desta forma é incomum o aparecimento de dor abdominal ou na região epigástrica, por outro lado o surgimento de dor aguda no quadrante superior esquerdo abdominal indica que a rotura do aneurisma pode ter ocorrido e se no ato da consulta se observar sinais de hipovolemia 12,25,26 . Os aneurismas da artéria esplênica afetam aproximadamente 75% do terço distal da artéria e 20% do terço médio, sendo geralmente solitários e de natureza sacular 27. RESULTADOS Nosso levantamento demonstrou que a rotura espontânea do aneurisma ocorre inicialmente entre 2-10% dos pacientes, contudo vem diminuindo nos últimos anos por conta dos avanços nos diagnósticos por imagem 28. Esta rotura é a complicação mais grave do aneurisma da artéria esplênica, com uma mortalidade de 25%, sendo mais frequente durante a gravidez, o que aumenta a mortalidade para 75-90% 29. A erosão secundária do aneurisma em uma víscera adjacente pode ocasionar nos pacientes hemorragia gastrintestinal, enquanto que a erosão da veia esplênica pode provocar uma fistula arteriovenosa com hipertensão portal, e inclusive isquemia do intestino delgado 1. O uso da ecografia (Figura 4) e imagens com cortes transversais são importantes no diagnóstico, sendo que a ecografia possui uma melhor aplicação em grávidas 28. 6 Figura 4. Imagem demonstrando aneurisma sacular em seu segmento proximal e com colo amplo em uma angiografia seletiva da artéria esplênica. Moura R, Soreira ML, Jaldin RG, Bertanha M, Mariúba JVO, de Freitas CCM, Yoshida RA, Yoshida WB. Aneurisma sacular de artéria esplênica: tratamento endovascular ou cirúrgico convencional? J Vasc Bras. 2013; 12(3):230-3. [Acesso em 06/08/2016]. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jvb/v12n3/1677-5449-jvb-12-03-00230.pdf 30 Também se pode utilizar o mapeamento dúplex que a pesar de ser um exame não invasivo depende do examinador para visualizar o AAE. Assim o exame com contraste se faz necessário para confirmar o diagnóstico 31. Entretanto o método mais utilizado para diagnóstico e avaliação seja a angiografia, pois também melhor avalia possíveis aneurismas de outras artérias viscerais 16,32. Com o estabelecimento da suspeita diagnóstica a angiografia por subtração digital está indicada uma vez que permite definir com precisão o aneurisma, auxiliar na investigação de ramos colaterais e a origem do sangramento, além de documentar ou excluir outros aneurismas viscerais 32,33 . O seguimento do paciente pode ser realizado com a ecografia, contudo a tomografia computadorizada com cortes múltiplos é preferível uma vez que a taxa de sucesso se encontra entre 50-90% 34 . As indicações para uma intervenção estão relacionadas com a história natural da doença, enfatizando os fatores que aumentam os riscos de ruptura espontânea (por exemplo, calcificação, idade avançada), vale enfatizar que a pressão arterial sistêmica normal não impede a rotura CONSIDERAÇÕES FINAIS 35 . 7 Atualmente com o melhor acesso a exames menos invasivos, como arteriografia visceral, mapeamento dúplex e tomografia os diagnósticos incidentais e eletivos dos AAE vêm aumentando, o que certamente diminui os riscos de morte. Nosso levantamento demonstra com clareza que as alterações arteriais podem ser diagnosticadas com os exames de imagem, contudo o treinamento de pessoal é importante para a detecção destes aneurismas em fase mais precoce o que sem dúvida melhorará o tratamento e acompanhamento dos pacientes. FONTES CONSULTADAS 1- Messina LM, Shanley CJ. Visceral artery aneurysms. Surg Clin North Am. 1997; 77: 425-42. 2- Heestand G, Sher L, Lightfoote J, Palmer S, Mateo R, Singh G et al. Characteristics and management of splenic artery aneurysm in liver transplant candidates and recipients. Am Surg 2003; 69: 933-40. 3- Furukawa H, Fukushima N, Shimada K. Splenic artery aneurysm secondary to pancreatic carcinoma. Am J Gastroenterol. 2000; 95: 3659-60. 4- Jeyamani R, Shyamkumar NK, Narayanan K, Subhash HS, George B, Kurian G. Giant splenic artery mycotic aneurysm presenting with massive hematemesis. Indian J Gastroenterol. 2003; 22: 147-8. 5- Gardner E. Anatomia. 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