UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES A VEZ DO MESTRE - PÓS GRADUAÇÃO MARKETING O MARKETING DE RELACIONAMENTO COMO ESTRATÉGIA PARA A FIDELIZAÇÃO DO CLIENTE NO SETOR SAÚDE Trabalho Final de Conclusão de Curso de Especialização ISABELLA BARBOSA MEIRELES Setembro 2004 1 ISABELLA BARBOSA MEIRELES O MARKETING DE RELACIONAMENTO COMO ESTRATÉGIA PARA A FIDELIZAÇÃO DO CLIENTE NO SETOR SAÚDE Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Marketing, como requisito básico para obtenção do título de Especialista em Marketing. Setembro 2004 2 Dedico este estudo a toda minha família, em especial a minha amada filha e ao meu querido marido, que me apoiaram nesta longa jornada. A vocês, todo o meu amor, carinho e agradecimento. 3 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...... ................................................................................................ 06 2. METODOLOGIA ...............................................................................................................10 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...................................................................... ........13 3.1 MARKETING DE RELACIONAMENTO................................................................16 3.2 CONSTRUINDO RELACIONAMENTO COM OS CLIENTES ..............................21 3.3 RELAÇÃO ENTRE SATISFAÇÃO E RETENÇÃO................................................23 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................31 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................34 4 RESUMO O presente estudo tem como objeto o marketing de relacionamento e o processo de fidelização de clientes do setor saúde. Parte da hipótese de que a fidelização de clientes será, num futuro bem próximo, a principal estratégia para que as empresas que exploram o ramo de materiais hospitalares consigam se manter neste mercado extremamente competitivo. O estudo é descritivo e exploratório, do tipo revisão bibliográfica. Traz como marcos teóricos, os conceitos de marketing de relacionamento. Objetivou descrever os princípios e fundamentos do Marketing de Relacionamento; estabelecer a relação entre o processo de fidelização e a melhoria dos negócios, e ressaltar a importância do Marketing de Relacionamento e da fidelização de clientes na venda de insumos na área da saúde, a fidelização de clientes e a sua aplicabilidade prática. Ao concluir o estudo, pude confirmar a hipótese apresentada, considerando que no mercado globalizado, as empresas precisam, além de primar por produtos com qualidade e preços competitivos, criar estratégias capazes de assegurar e reter sua clientela. 5 CAPÍTULO I 1. Considerações acerca do Tema e do Problema As mudanças que estão ocorrendo nos negócios não são simples tendências, mas o resultado da ação de duas forças: globalização dos mercados e tecnologia de informação. Além disso, tudo acontece ao mesmo tempo e muito rápido. Essas duas forças dependem uma da outra e se influenciam mutuamente. No Brasil, estas mudanças somadas à estabilidade econômica alcançada após o Plano Real, provocaram uma entrada agressiva de multinacionais no mercado, que no passado se mantinham distantes do país superinflacionado. A partir destes acontecimentos, observouse uma maior oferta e variedade de produtos e serviços, em particular, na área da saúde, o que mudou a concepção de marketing de muitas empresas que atuam neste ramo, que tiveram que se adaptar à nova realidade imposta pelo mercado globalizado. Isto se refletiu nitidamente na forma de relacionamento entre empresa e consumidor. Em se tratando do mercado específico de produtos destinados a saúde, diferentemente do mercado de moda, onde a demanda de consumidores é espontânea, no setor saúde (insumos), o cliente (a rede hospitalar), embora esteja de certa forma, 6 forçado a adquirir estes produtos, visto que são essenciais para o funcionamento do sistema hospitalar, tem conseguido determinar a dinâmica do mercado: opta pelos produtos que além de ter bom preço, tem outros valores agregados. Segundo Kotler (2000), no passado, muitas empresas acreditavam que os consumidores estavam garantidos. Eles não tinham muitos fornecedores alternativos que eram muito deficientes em termos de qualidade e serviços, além disso, o mercado crescia tão rápido que as empresas não estavam preocupadas em satisfazê-los plenamente. Hoje, a concorrência e a necessidade de ganho em escala, têm desencadeado um processo acirrado na disputa por novos mercados, manutenção de clientes e conseqüente competitividade. As empresas não estão apenas preocupadas em realizar transações únicas, mas em estabelecer relacionamentos mais duradouros com os clientes, que resultarão em negócios repetidos e oportunidades para um adicional desenvolvimento comercial. Desenvolvendo atividade em uma empresa de porte médio, que explora o ramo de produtos médico-hospitalares, tenho percebido uma 7 mudança significativa no comportamento dos grandes consumidores dos nossos produtos, os hospitais. Há aproximadamente dois anos, temos tido alguma dificuldade para garantir a liderança no mercado de um de nossos produtos, embora se trate de um líder na preferência entre os consumidores. A competitividade que se estabeleceu com o lançamento de concorrentes no mercado, determinou uma mudança significativa na forma de agir nesta empresa. Temos buscado uma maior aproximação com os nossos clientes, não somente no que diz respeito aos patrocínios, mas também com relação à agregação de valores aos nossos produtos, tendo como estratégia, a realização de cursos e palestras de atualização, inteiramente gratuitas para os profissionais dos hospitais clientes. Esta estratégia de fidelização parece estar dando resultados positivos. Em alguns hospitais onde já havíamos perdido o mercado, as estratégias de reaproximação seguidas de retenção destes clientes, possibilitou a retomada das vendas e solidificação dos nossos produtos junto a estes consumidores. Isto me faz acreditar na hipótese de que a fidelização de clientes será, num futuro bem próximo, a 8 principal estratégia para que as empresas que exploram o ramo de materiais hospitalares consigam se manter neste mercado extremamente competitivo. Esta hipótese me parece válida, pois Já está difundida e comprovada a teoria de que o custo de atrair novos consumidores é alto. A concorrência é intensa, e a estimativa é de que os custos para se atraírem novos clientes podem ser até 5 vezes os custos de servir adequadamente os clientes existentes para assegurar que eles continuem mantendo negócios com a empresa (Hooley 2001). Sendo assim, a perda de um cliente, ainda que não seja tão importante, poderá ser muito danoso para a empresa. É a partir desta concepção que o Marketing de Relacionamento surge, como peça fundamental para a implantação de estratégias de retenção e fidelização do cliente. Sendo assim, trago como objeto de estudo para esta pesquisa: O marketing de relacionamento e o processo de fidelização de clientes do setor saúde. Considerando a importância do Marketing de Relacionamento no que tange a fidelização do cliente, proponho como objetivos desta pesquisa: 9 · Descrever os princípios e fundamentos do Marketing de Relacionamento; · Estabelecer a relação entre o processo de fidelização e a melhoria nos negócios, · Ressaltar a importância do Marketing de Relacionamento e da fidelização de clientes na venda de insumos na área da saúde. O estudo justifica-se pela necessidade urgente de se buscar estratégias de marketing que sejam capazes de garantir a fidelização de clientes no setor saúde, considerando que a grande concorrência tem sido determinante no desaquecimento das vendas de produtos médico-hospitalares, inclusive, material de consumo. Neste sentido, o estudo torna-se relevante, pois poderá levar ao conhecimento das empresas, novas abordagens referentes a questões relacionadas ao Marketing, no foco do relacionamento como fator competitivo. 10 CAPÍTULO II 2. Metodologia O alcance dos objetivos propostos em uma pesquisa depende fundamentalmente, da adequação do método ao problema que será estudado. Nesse aspecto, Minayo (1994) salienta que a metodologia é o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Assim, após algumas considerações e reflexões acerca do tema e do objeto proposto para esta pesquisa, cheguei à conclusão de que a abordagem qualitativa seria mais adequada. O estudo é do tipo bibliográfico e exploratório, o que me permitiu tornar o objeto a ser estudado muito mais explícito. Para Triviños (1987), a pesquisa exploratória possibilita entre outras coisas, que o pesquisador seja capaz de captar conhecimentos e comprovações teóricas, a partir de investigações de determinadas hipóteses dentro de uma realidade específica. Optei pela abordagem qualitativa por se tratar de um método de abordagem que, permite uma melhor compreensão do objeto estudado, além de facilitar a maneira pela qual os dados encontrados serão interpretados. 11 A bibliografia consultada para realização deste estudo trata especificamente de marketing, administração em enfermagem e relações interpessoais na enfermagem, embora, neste último caso, tivesse encontrado muita dificuldade para encontrar referenciais acerca de marketing, produzidos por enfermeiros. Durante a elaboração deste estudo, inicialmente, após considerar que o objeto do estudo era pertinente e muito atual, e após definir os objetivos, dei início a uma longa revisão de literatura, a fim de pudesse construir um referencial teórico que me permitisse discutir alguns aspectos relacionados ao objeto proposto. O estudo foi desenvolvido a partir das minhas experiências profissionais, o que muito facilitou a busca por referenciai mais apropriados. Entretanto, não poderia deixar de comentar a dificuldade que tive para encontrar referenciais bibliográficos produzidos por profissionais, que assim como eu, desempenham atividades de venda de materiais de consumo na área da saúde. Toda bibliografia foi levantada a partir de ferramentas virtuais, tais como, Bibliotecas Virtuais e Bases de Dados. Assim, me foram extremamente úteis os sites do Scielo e da Biblioteca Nacional, que 12 me permitiram realizar uma busca minuciosa por literaturas que tratassem especificamente da temática abordada. As consultas às bibliografias de referencia para a construção do referencial teórico aconteceram na Biblioteca Nacional, e também, nas Bibliotecas setoriais de algumas Universidade Públicas. O estudo foi desenvolvido no período de março a setembro de 2004. Após a construção do referencial teórico, os dados foram discutidos á luz dos referenciais que julguei mais adeguados. CAPÍTULO III 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1 Conceitos usuais de marketing Ao pesquisar os conceitos de marketing verifica-se que estão evoluindo, passando por fases complementares, que podem chegar até mesmo a serem conflitantes. Analisando etimologicamente, Marketing é uma expressão que teve origem na língua inglesa, e não é possível traduzi-la literalmente para o português sem perder o seu real significado. Em inglês, "Market" significa mercado, e o sufixo "ing" indica ação. Desta forma, Marketing é a ação voltada para o mercado. 13 A seguir, examinarei alguns conceitos de Marketing encontrados na literatura. Considerando-se a definição segundo a qual marketing é uma filosofia de negócios (Semenik e Bamossy, 1995), toda a estratégia de planejamento e execução dos projetos de marketing da empresa tem como propósito fundamental a satisfação das necessidades e desejos de seus clientes. Tal definição restringe a função de marketing que é muito mais abrangente. Numa visão que inclua a satisfação das organizações, além dos indivíduos que dela são clientes, Churchill e Peter (2000:4) citam uma visão empresarial da American Marketing Association, “marketing é o processo de planejar e executar a concepção de preços, promoção e distribuição de idéias, bens e serviços a fim de criar trocas que satisfaçam metas individuais e organizacionais”. Entende-se por desenvolvimento de trocas, o ato de se obter alguma coisa de alguém oferecendo algo em contrapartida, e do qual participam indivíduos e organizações, a fim de que estas transações proporcionem satisfação e tragam benefícios para ambos os lados. 14 Portanto para Churchil e Peter (2000) um novo fator deve ser adicionado à definição de Semenik e Bamossy (1995): a satisfação das metas da organização. Isso também é reforçado por Kotler (1998), ao considerar o processo de marketing como um processo social e gerencial pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam através da criação, oferta e troca de produtos com outros indivíduos ou grupos para os quais exista um valor mútuo dos produtos que foram trocados. Alguns autores levam mais longe a definição de marketing. Comentando a idéia de Light (1998), a satisfação deixa de ser o fim da tarefa do marketing, mas passa a ser o começo de uma oportunidade de transformar um comprador satisfeito em um cliente leal à marca. Com essa transformação de cliente satisfeito em cliente fiel é que se possibilita à organização a sua lucratividade, e continuidade. Tal afirmação se confirma com a definição de Joseph (1991), em que o autor diz ser o marketing algo muito maior que venda e promoção, é acima de tudo uma filosofia de administração total, que envolve todas as pessoas de uma organização, no intuito de compreender e assegurar a satisfação das necessidades do 15 consumidor. A meta de lucratividade do marketing, não se traduz somente em ganhar dinheiro, mas assegurar a sustentabilidade das empresas em ambientes de mudanças constantes. Assim, desenvolver relacionamentos é a base do sucesso da empresa baseada no marketing com visão de futuro, que se alia à tecnologia para fidelizar os clientes. Rapp (2000), entende que no futuro o valor se dará pelo retorno do investimento que for feito no desenvolvimento de relações com os clientes. O marketing está constantemente sendo redefinido e incorporando novas responsabilidades. Era considerado “a arte de vender produtos”, agora passa a ser a ciência e a arte de conquistar clientes, mantê-los e aprofundar o relacionamento com eles aumentando sua lucratividade Kotler (2000). 3.2 Marketing de relacionamento A transformação da década de 80, na qual a concorrência freqüentemente se baseava em qualidade do produto ou serviço, passa a ser vista como requisito mínimo da competição, verificando que a qualidade do relacionamento com o cliente é a medida mais apropriada para o sucesso, visão esta confirmada por (McKenna, 1999). 16 O marketing de relacionamento era a forma com que se faziam os negócios antes da Revolução Industrial, antes dos produtos de massa e das grandes mídias. Esta citação histórica é fornecida por Peppers e Rogers (2000) colocando que o pensamento dos empresários da época era o de que o seu negócio coincidia exatamente com “a participação no cliente”. Ainda, segundo os autores, o lojista era o responsável pelo marketing e levava um banco de dados na cabeça. Hoje, a tecnologia da informação dá possibilidades às grandes empresas de serem tão eficazes nos relacionamentos pessoais quantos os pequenos lojistas daquela época. A concorrência, na década de 80, freqüentemente se baseava na qualidade dos produtos e serviços. Atualmente como requisito competitivo à qualidade do relacionamento com o cliente é a medida mais apropriada do sucesso. Na abordagem de Levitt (1990), o Marketing de Relacionamento funciona como um casamento do cliente com a organização, cujas partes possuem expectativas distintas e necessidades específicas. Aborda ainda que o sucesso em marketing, assim como no casamento, traduz-se em um relacionamento inevitável de interdependência. 17 Interdependência esta, que leva a organização à não somente pensar na prestação de serviço como um simples complemento, mas elevar tal abordagem a uma visão mais concreta de satisfação do cliente. A terminologia marketing de relacionamento, de acordo com Bretzke (2001), surgiu com Berry, na literatura de marketing de serviços, em 1983. Naquela época concebeu-se que a fidelização de clientes era uma forma de alcançar maior competitividade das empresas e maior satisfação dos clientes; definiu-se o marketing de relacionamento como a atração, a manutenção e o aprimoramento de relacionamento com clientes. A atração de novos clientes deveria ser vista apenas como um passo intermediário no processo de marketing; solidificar relacionamentos, transformar clientes indiferentes em leais e servi-los deveria ser considerado marketing. O Marketing de Relacionamento envolve todas as etapas que as empresas assumem para conhecer os clientes e atendê-los melhor, tendo como tarefa criar forte lealdade dos consumidores (KOTLER,1998). Na percepção de Vavra (1993), a partir da perspectiva do cliente, a compra passa a ser encarada como um relacionamento, em que o 18 mesmo sente o desejo ou a necessidade por uma interação continuada com a organização de venda. Sendo assim, os objetivos de marketing focado no cliente são de obter um pleno valor de duração de cada consumidor, aumentar esse valor e mantê-lo cada vez mais crescente, e utilizar os lucros excedentes do sucesso para custear a conquista de novos clientes, o que segundo Libey (apud. VAVRA,1993), o objetivo a longo prazo é a sobrevivência da empresa com crescimentos rentáveis. O que leva a crer que o compromisso para com o Marketing de Relacionamento deva vir da alta administração, para que os funcionários possam sentir que todos os membros da diretoria acredite firmemente nisso. Donde, o aspecto mais importante na implementação junto aos clientes do Marketing de Relacionamento seja o compromisso seleto da alta administração. Sendo assim, tratar o Marketing de Relacionamento como uma estratégia de conhecimento para ambientes turbulentos que buscam a fidelidade do cliente, está no enfoque de que as empresas estão dispostas em aprender de forma contínua com o cliente e realçar o relacionamento no valor entregue, por meio da oferta crescente com base no conhecimento (DAY,1994). 19 À medida que as organizações se aprimoram e investem esforços na tentativa de conquistar a fidelidade e ampliar sua gama de clientes, novas relações com parceiros e clientes estão sendo implementadas, transformando o relacionamento no principal bem da empresa e, conseqüentemente, impulsionando o desenvolvimento de uma área dentro da disciplina de marketing , conhecida como marketing de relacionamento. Para melhorar a probabilidade de retenção de clientes, as organizações estão cada vez mais recorrendo a técnicas de Marketing de Relacionamento. O foco do Marketing de relacionamento está em construir laços entre a organização e seus clientes para melhorar o feedback e finalmente enriquecer os prospectos da lealdade do cliente (HOOLEY et ali. 2001). No entanto, para o marketing de relacionamento ser efetivo, são necessárias boas razões nos dois lados da interação empresa-cliente. Para a empresa, é importante que o consumidor seja valioso o suficiente (atual ou potencial) para justificar e garantir o investimento na criação de um relacionamento com ele. Para o cliente esta questão perpassa obrigatoriamente pela sua percepção de satisfação. Desta 20 forma julguei pertinente tecer algumas considerações entre a satisfação e a sua relação com a retenção do cliente. Antes de iniciar a discussão de “satisfação vs. retenção”, é importante deixar claro o que se entende por satisfação. Segundo Kotler (2000), satisfação é o nível de sentimento de uma pessoa resultante da comparação de um desempenho (ou resultado) de um produto em relação a suas expectativas. Partindo dessa definição, muitas empresas associam diretamente satisfação à retenção de clientes, porém nem sempre isso é verdadeiro. Conforme afirmam Rust, Zeithaml & Lemon (2001), uma empresa, com uma grande marca e um grande produto ou serviço que satisfaça as necessidades dos clientes em todas as dimensões, possui a capacidade de atrair novos clientes e mantê-los pela satisfação das expectativas. Porém isso ocorre em um mercado sem concorrência, já que, quando há concorrência intensa e consumidores beminformados, a empresa, além da satisfação, também precisa encontrar maneiras de desenvolver uma retenção de longo prazo com seus clientes. Como foi descrito anteriormente, o fato de as empresas de hoje estarem esforçando-se para reter seus consumidores, justifica-se pelo 21 fato de que o custo de atrair novos consumidores pode ser cinco vezes o custo de manter um consumidor atual feliz. Tipicamente, marketing ofensivo custa mais do que marketing defensivo porque exige muito esforço e custo induzir consumidores satisfeitos a deixar seus fornecedores atuais. 3.3 Construindo Relacionamentos com os Consumidores Quando utilizo a palavra “consumidores” estou me referindo aos profissionais de saúde envolvidos no processo de compra e venda de insumos. Este profissionais, são, na maioria das vezes, enfermeiros, médicos e farmacêuticos, que atuam junto as comissões de padronização de materiais, Centro de Controle de Infecções (CCIH) e no setor de licitação. Cabe ressaltar, no entanto, que estou tratando neste estudo, especificamente da minha realidade profissional, enquanto assessora técnica, que trabalha com uma linha de produtos voltados para o tratamento e prevenção de lesões de pele, o que justifica o fato, de citar apenas enfermeiros, médicos e farmacêuticos, que são os profissionais que invariavelmente, encontram-se envolvidos no processo de aquisição destes produtos. 22 De acordo com HOOLEY (2001) vários métodos foram criados para que possamos construir laços de maior proximidade com os consumidores. Para o referido autor, os benefícios financeiros e sociais, criação de laços estruturais, buscando a satisfação dos clientes, dão ao consumidor uma razão para entrar em um relacionamento em longo prazo. Nesta perspectiva, a busca por uma maior aproximação com estes profissionais, bem como, o estabelecimento de laços mais estreitos, poderia, especificamente na minha atividade profissional junto a estes clientes, garantir um melhor desempenho na divulgação e venda dos produtos da empresa que represento. O problema seria na determinação da estratégia mais adequada. A construção de benefícios enriquecidos de lealdade, a criação de laços estruturais e compromissos e a criação de consumidores satisfeitos são estratégias apontadas pelo autor, como métodos a serem considerados na construção de relacionamento com consumidores. Desta forma, a utilização de descontos e patrocínios, realização de eventos sociais, a fim de promover a aproximação entre os 23 profissionais de áreas afins, são algumas estratégias para a construção de benefícios enriquecidos de lealdade. No meu cotidiano, temos como prática, a utilização de patrocínios em viagens para encontros científicos, realização de cursos de atualização, oferecidos e ministrados pelos enfermeiros da própria empresa. Algumas estratégias, tais como, palestras, acompanhamento de casos clínicos e assessoria, permitem a agregação de valores aos nossos produtos, e de certa forma, contribuem também para o alcance destes objetivos. Em algumas situações, particularmente quando nos deparamos com forte concorrência, o que não tem sido muito raro, optamos também pela concessão de descontos, principalmente quando se trata de compra de grandes volumes. Embora todas as medidas estratégias de marketing de relacionamento sejam utilizadas, não devemos deixar de considerar que para que possamos ter uma maior probabilidade de reter o cliente, faz-se necessário que caminhemos além daquilo que ele estã esperando, e sito significa proporcionar ainda mais valor aos nossos consumidores. Consumidor satisfeito, contentíssimo é sinônimo quase que certo de retenção do mesmo. 24 3.4 Relação entre satisfação e retenção Antes de iniciar a discussão de “satisfação vs. retenção”, é importante deixar claro o que se entende por satisfação. Segundo Harvey (1998), a satisfação mede os quanto os resultados produzidos para o cliente e o processo pelo qual ele passou para obter esses resultados atendem às suas expectativas. Partindo dessa definição, muitas empresas associam diretamente satisfação à retenção de clientes, porém nem sempre isso é verdadeiro. Conforme afirmam Rust, Zeithaml & Lemon (2001), uma empresa, com uma grande marca e um grande produto ou serviço que satisfaça as necessidades dos clientes em todas as dimensões, possui a capacidade de atrair novos clientes e mantê-los pela satisfação das expectativas. Porém isso ocorre em um mercado sem concorrência, já que, quando há concorrência intensa e consumidores beminformados, a empresa, além da satisfação, também precisa encontrar maneiras de desenvolver uma retenção de longo prazo com seus clientes. 25 No que se refere aos produtos e bens de consumo na área da saúde, a concorrência nos últimos 10 anos, tem aumentado significativamente. O mercado de produtos médico-hospitalares, em especial, medicamentos e outros insumos destinados ao tratamento de lesões de pele conta com uma linha muito ampla, o que tem dificultado cada vez mais, a venda destes produtos. A mudança no comportamento de nossos clientes, que antes adquiriam estes produtos, apenas por meio de processo de licitação, agora tem utilizado o pregão, como alternativa para conseguir preços bem abaixo do mercado. Outra estratégia adotada por estes consumidores tem sido a compra coletiva de materiais, e isto, tem acontecido com maior freqüência, entre os hospitais da rede pública de saúde, que, diga-se de passagem, são os principais consumidores. Assim, são formados consórcios formados por vários hospitais, que juntos, definem suas necessidades de aquisição de material, e da mesma forma, participam de pregões. Esta estratégia tem sido extremamente desafiadora para as empresas, que além de ter que apresentar um bom preço, para que possa concorrer com grande possibilidade de sucesso, precisam 26 também contar com uma certa fidelização destes clientes, para que seus produtos possam, no mínimo, estarem entre aqueles cotados. Estas dificuldades nos permitem aceitar e entender como verdadeira, a afirmativa de que satisfação implica retenção ou vice e versa. Para Reichheld (1996), existem quatro tipos de clientes, classificados de acordo com seu grau de retenção e satisfação. O cliente “não conte comigo” possui um relacionamento “duradouro” com a empresa prestadora de serviço, logo é um cliente “retido”, porém um “desertor potencial”, já que não está satisfeito com os serviços que lhe são ofertados. A partir dessa constatação, surge a pergunta: o que faz um cliente insatisfeito manter um relacionamento com a empresa? Existem duas possíveis respostas: ou o cliente possui uma barreira à saída elevada ou não há outra alternativa de prestador – em ambos os casos, o cliente depende do serviço da empresa. Sharma & Patterson (2000, p. 471) corroboram essa idéia ao afirmarem que: ...enquanto a satisfação de um cliente com um relacionamento pode não ser satisfatória, o cliente pode manter o relacionamento devido aos altos custos de 27 mudança psicológicos e econômicos (esforço de busca, prejuízos financeiros, riscos de escolha de um novo fornecedor). Algumas pesquisas também revelam que a decisão de finalizar um relacionamento pode tornar-se complicada em função da falta de uma alternativa atraente. A posição desse cliente diante da empresa é a de “lealdade artificial”, o que significa que este é um cliente retido, mas que, caso surjam oportunidades melhores, pode trocar os serviços da empresa pelos de outro fornecedor. Outro tipo de cliente é o do “cliente eventual”. Esse cliente não possui nenhum relacionamento com a empresa, somente adquire os serviços eventualmente. Não está satisfeito com o serviço, sendo apenas um cliente transacional e não dependente. Lovelock (2001) define uma transação como um evento no qual ocorre uma troca de valor entre duas partes. O autor explicita que uma transação ou um conjunto de transações não gera necessariamente uma relação. Esse cliente insatisfeito pode vir a ser também um desertor, o que pode ser um problema para a empresa, pois se encaixa no que Heskett et. al. (1994, p. 167) denominam de “cliente terrorista” “clientes que se sentem tão insatisfeitos que reclamam, em qualquer 28 oportunidade, de um serviço medíocre que tenham recebido (...) podem até mesmo desestimular seus conhecidos a experimentarem um produto ou serviço”. Há ainda um outro tipo de cliente, o “oportunista”, que é aquele que está satisfeito com o serviço que recebe, porém não possui um relacionamento duradouro com a empresa e é volúvel, possui muitas alternativas de prestadores de serviço e tem custos de mudança baixos. Não há nada que o desagrade no serviço que lhe é prestado mas, também, nada que gere a percepção de um diferencial em relação aos concorrentes. Nesse caso, um exemplo poderia ser de clientes de postos de gasolina, onde há a percepção de que o serviço prestado é uma “commodity”, de forma que, mesmo satisfeito com o serviço, ele não se “apega” a um único fornecedor. Em relação a esse cliente, pode-se fazer um paralelo com Reichheld (1996, p. 1), que afirma: A lealdade morreu, proclamam os especialistas, e as estatísticas parecem confirmar. Atualmente as empresas norte-americanas perdem, em média, metade de seus clientes em 5 anos (...). Parece que estamos diante de um 29 futuro, no qual as únicas relações comerciais serão transações oportunistas entre possíveis estranhos. O cliente “melhor amigo” é aquele que está satisfeito com o serviço e mantém um relacionamento duradouro com o prestador. Pode-se dizer que esse cliente realiza compras regulares e exclusivas, está “imune” às pressões da concorrência e faz propaganda da empresa, enfim ele possui todas as características de um cliente leal. Segundo Heskett et. al. (1994, p.167), este é um “cliente apóstolo”, “clientes tão satisfeitos que chegavam a converter os não-iniciados para um produto ou serviço”. Por mais “incondicional” que esse cliente seja, a empresa não pode se descuidar, pois, como relata Lovelock (2001, p. 150), Um cliente fiel pode representar para uma empresa uma fonte constante de renda durante muitos anos. Essa fidelidade, porém, não pode ser tomada como certa. Ela só continuará enquanto o cliente achar que está recebendo valor melhor (inclusive qualidade superior em relação ao preço) do que poderia ser obtido pela troca para outro fornecedor. Se a empresa contratada fizer algo que desaponte o cliente ou se um concorrente começar a 30 oferecer valor significativamente melhor, existe o risco de deserção do cliente. Corroborando essa idéia, O’Connor (1996) alega que a confiança depositada na empresa deve ser gerenciada com inteligência e grande atenção. O entendimento da existência dos quatro tipos de clientes apresentados acima revela a importância de se buscar a satisfação dos clientes – embora essa não seja suficiente para garantir a lealdade – e também da realização de programas de retenção, que, de acordo com Rust, Zeithaml & Lemon (2001, p. 100), devem possuir três objetivos: “maximizar a probabilidade do cliente retornar para futuras compras; maximizar o tamanho dessas compras futuras e minimizar a probabilidade do cliente comprar de um concorrente”. Logo deve haver uma preocupação tanto com a satisfação quanto a retenção. Para obter e manter a preferência dos seus clientes, as empresas não só possuem o desafio de oferecer produtos e serviços de valor percebido, condizentes com o seu público, como devem oferecer incentivos aos atuais clientes, para que permaneçam fiéis, e até mesmo para que seus volumes de compra aumentem. 31 Rust el al (2001) abordam essa questão, apresentando o conceito de Valor da Retenção, e explicam como ele pode elevar o Valor para o Cliente. O “impacto de retenção” poderia assumir várias formas, seja tornando a mudança para um concorrente mais custosa, seja recompensando comportamentos ou ainda criando vínculos emocionais, por exemplo. Os autores sugerem algumas providências que as empresas podem tomar, para aumentar a probabilidade de o cliente voltar, a saber: * Criar programas de fidelidade (recompensa da compra freqüente) * Criar programas de reconhecimento e tratamentos especiais * Criar programas de afinidade * Criar programas de criação de comunidade * Criar programas de criação de conhecimento CAPÍTULO IV 4. Considerações Finais O mercado globalizado impõe restrições as empresas, no que se refere ao seu espaço, exige que elas determinem o foco de atuação e direcionem para ele os esforços, procurando como estratégia, manter 32 o marketing de relacionamento. Uma das formas de se viabilizar esse objetivo é a segmentação de mercado. As relações passam a ser baseadas na confiança, apoiadas na comunicação horizontal e estabelecendo relações de trabalho com os colaboradores. Em outras palavras, a era da eficácia (foco no resultado) passa a dar espaço para a era da efetividade, ou seja, preocupação voltada a satisfação das necessidades com visão de longo prazo, buscando a fidelização do cliente em relações de parceria e reciprocidade. Não basta o cliente ser fiel é necessário que a empresa também seja fiel a seus clientes. Esse relacionamento de parceria será o marketing de integração entre cliente e a empresa com resultados positivos para ambos os lados. Neste sentido, e por tudo que discuti até aqui, acredito que a hipótese de que a retenção de clientes poderá ser à base de sustentação das empresas que exploram o ramo de materiais hospitalares é perfeitamente aceitável. Nesta perspectiva, caberá a empresa, buscar inovações de produtos tecnológicos, segmentação de mercado e contar com a competência dos seus representantes e funcionários, a fim de se conseguir estabelecer com seus clientes, relacionamentos de longo 33 prazo, independemente do seu potencial de compra, como estratégia para sua subsistência e sucesso. Precisamos compreender que a redução de custos e a prestação de serviços com qualidade, já não são mais os únicos aspectos relevantes para a busca do êxito no processo de venda de produtos, em um ramo tão competitivo, como a saúde, em um mundo globalizado. Sendo assim, a fidelização de seus clientes, tornar-se-á o caminho mais curto e a estratégia mais eficiente para se alcançar a tão desejada lucratividade. Cabe a empresa ser cada vez mais criativa, ágil, inovadora e estrategista para se manter nesse mercado de concorrência acirrada, um mercado com certa instabilidade e que ainda poderá passar por muitas transformações. 34 REFERÊNCIAS ALBRECHT, K. Revolução nos serviços. 5.ed. São Paulo: Pioneira, 1998. BEKIN, S.F. Conversando sobre Endomarketing. São Paulo: Makron Books, 1995. BERRY, L. L. Serviços de satisfação máxima. Rio de Janeiro: Campus,1995. BERWICK, D.M; GODFREY, A. B.; ROESSNER, J. Melhorando a qualidade dos serviços médicos, hospitalares e da saúde. São Paulo: Makron Books, 1994. BHOTE, K.R. O consumidor por dentro.HSM Management, n.7, ano 2, marçoabril,1998, p.26-30. BOGMANN, I.M. Marketing de Relacionamento: estratégias de fidelização e suas implicações financeiras. São Paulo: Nobel, 2000. BOONE, L. E.; KURTZ,D.L. Marketing Contemporâneo. 8.ed.Rio de Janeiro:LTC,1998. BOUCKAERT, K.; DENEFFE, D.; VANTRAPPEN, H. A nova arma das indústrias. 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