UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE BASES NEURAIS QUE ENVOLVEM O PROCESSAMENTO DA LEITURA E ESCRITA Por: Vera Lucia de Siqueira Mietto Orientador Prof. Mary Sue de Carvalho Pereira Rio de Janeiro 2010 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE BASES NEURAIS QUE ENVOLVEM O PROCESSAMENTO DA LEITURA E ESCRITA Apresentação Candido de Mendes monografia como à requisito Universidade parcial para obtenção do grau de especialista em Neurociência Pedagógica Por: Vera Lucia de Siqueira Mietto 3 AGRADECIMENTOS ....À Deus e a meus familiares que sempre estiveram presentes em minha vida, me dando força e coragem. 4 DEDICATÓRIA ..... aos meus colegas de turma, que me despertaram o desejo de fazer esse estudo, a meus filhos , que me incentivaram nos momentos de cansaço, a Carlos, sempre amigo e parceiro nessa minha jornada de sonhos e idealizações e a meus pais, que foram um exemplo de vida e incentivo á minha carreira. 5 RESUMO Partindo de artigos selecionados de diversos autores envolvidos nos estudos do processamento da leitura e escrita, bem como pesquisadores e neurocientistas voltados ao processo de aprendizagem, será apresentado nessa monografia, às bases neurais que envolvem o processamento da leitura e escrita. Dividida em quatro capítulos, esse estudo faz uma breve introdução á neurociências, as bases do processamento auditivo central, o conceito e importância da consciência fonológica, o processamento em si da leitura e escrita e os marcadores fundamentais para o aprendizado da leitura e escrita. Finalizando esse trabalho, temos os transtornos e dificuldades na aprendizagem que decorrem de falhas de processamento neural ao ler e escrever. Palavras chave: leitura, escrita, bases neurais, consciência fonológica 6 METODOLOGIA Trata-se de um estudo realizado por um levantamento bibliográfico, onde foram utilizadas como ferramentas para coletas de informação e dados informações de artigos científicos, livros ,revistas e dissertações que tem como abordagem o processamento neural da leitura e escrita e sua importância no ensino informal e formal do individuo. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I INTRODUÇÃO Á NEUROCIENCIAS 10 CAPÍTULO II PROCESSAMENTO AUDITIVO 27 CAPÍTULO III PROCESSAMENTO DA LEITURA E ESCRITA 52 CAPÍTULO IV MARCADORES FUNDAMENTAIS PARA O APRENDIZADO DA LEITURA E ESCRITA 65 CONCLUSÃO 74 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 77 ÍNDICE 80 FOLHA DE AVALIAÇÃO 81 8 INTRODUÇÃO A neurociência da aprendizagem possibilita, aos profissionais da saúde e da educação, bases solidas sobre o funcionamento do cérebro e sua implicação no processo de ensino e aprendizagem. Entender como o cérebro funciona, quais as regiões responsáveis por cada comportamento, quais funções cada região cerebral comanda, se torna fundamental para que educadores e profissionais da área da saúde tenham um olhar holístico e diferenciado sobre o indivíduo, compreendendo e respeitando o aprendizado formal de cada um, pois terá agregado á pratica clinica e pedagógica conhecimentos sobre a maturação neurológica, o desenvolvimento das funções superiores e os transtornos que acometem nossos escolares, possibilitando a adequação de estímulos para cada faixa etária, assim como o planejamento de metas mais assertivas. Para que o aprendizado formal se estabeleça com eficácia, se faz necessário agregar esses conhecimentos e conhecer como nosso cérebro aprende, como redes são traçadas e o conhecimento consolidado. Compreender os mecanismos que o processamento da leitura e escrita está envolvido, quais áreas cerebrais regem esse comando tão delicado e complexo é o objetivo desse estudo. Entender o processamento da leitura e escrita, as bases neurobiológicas que regem esse mecanismo depende do conhecimento da anatomia e fisiologia do cerebral, das redes que se estabelecem, das 9 sinapses que são fortalecidas, do processo de consolidação da memória no hipocampo e das áreas ativadas no momento da leitura, da escrita. Uma viagem ao centro do sistema límbico nos clareará os mecanismos emocionais que envolvem o aprendizado, desvendando o mecanismo emocional que é intrínseco ao ato de aprender, e como determinadas áreas neurais disparam neurotransmissores no momento do aprendizado. Compreender a importância do processamento auditivo central, e da necessidade de ter consciência fonológica para que se possa dar entrada na educação formal com bases solidas será outro objeto desse estudo. Finalizando esse estudo, traremos os marcadores fundamentais para que o ensino formal se estabeleça e os transtornos ligados a falhas no processamento neural no ato de ler e escrever. 10 CAPÍTULO I INTRODUÇÃO Á NEUROCIENCIAS Para entendermos o complexo universo que envolve a aprendizagem de nossas crianças, a complexidade que envolve o momento que o estimulo é transformado em significados e resultará em uma mudança comportamental, seja acadêmica ou social, outro universo precisa ser descortinado aos nosso olhos. Compreender como o cérebro aprende como a aprendizagem se processa nesse maravilhoso universo que é o cérebro humano é um desafio para todos nós educadores, que vivenciamos as dificuldades de aprender de nossas crianças, crianças que aprendem de maneira diferente, crianças que necessitam de estratégias diferenciadas. A aprendizagem se processa no Sistema Nervoso Central e seu funcionamento pode ser compreendido de muitas formas, com vários olhares, sob seu tecido, pelas células, e até por micro estruturas, que são as moléculas. Compreender a anatomia e as estruturas que envolvem o Sistema Nervoso Central é fundamental para o entendimento do ato de aprender. A aprendizagem se inicia com o processo neuromaturacional e o aprendizado escolar faz parte dessa evolução normal do ato de aprender. 11 1.1-NEURONIO E IMPULSO NERVOSO O cérebro é a matéria prima para o aprendizado: principal elo entre o organismo e seu ambiente. É o arcabouço biológico para o desenvolvimento das habilidades cognitivas e conhecer sua estrutura biológica é fundamental para o entendimento de como a linguagem e a cognição se processam. É formado por 100 bilhões de neurônios de formas e tamanhos diferenciados conjuntamente com as células da glia (10 células da glia para cada neurônio). As células glia constituem cerca de metade do volume do nosso encéfalo. As principais funções das células da glia são: cercar os neurônios e mantê-los no seu lugar, fornecer nutrientes e oxigênio para os neurônios, isolar um neurônio do outro, destruir patógenos e remover neurônios mortos. As células gliais mantêm a homeostase, formam a mielina e participam na transmissão de sinais no sistema nervoso. Os neurônios se comunicam a outros, através de seus dendritos e axônios formando redes, que chamamos de conexões neuronais. Figura 1- Célula Nervosa – Neurônio http://www.clinicamente.net/clinicamente/neuoroneo.html em 21/07/2010 12 Um neurônio típico apresenta três partes distintas: corpo celular, dendritos e axônio. No corpo celular, aparte mais volumosa da célula nervosa, se localiza o núcleo e a maioria das estruturas citoplasmáticas. Os dendritos são prolongamentos finos e geralmente ramificados que conduzem os estímulos captados do ambiente ou de outras células em direção ao corpo celular. O axônio é um prolongamento fino, geralmente mais longo que os dendritos, e tem como uma das suas funções a transmissão para outras células os impulsos nervosos provenientes do corpo celular. Os corpos celulares dos neurônios estão concentrados no sistema nervoso central e também em pequenas estruturas globosas espalhadas pelo corpo, os gânglios nervosos. Os dendritos e o axônio, genericamente chamados fibras nervosas, estendem-se por todo o corpo, conectando os corpos celulares dos neurônios entre si e às células sensoriais, musculares e glandulares. A cada estimulo (que gera uma nova aprendizagem) uma nova rede se forma ligando-se as antigas propiciando infinitas possibilidades de conexões. Para que sejam utilizadas adequadamente, um sistema complexo de processamento seleciona as conexões mais importantes para cada ocasião com o intuito de possibilitar respostas rápidas a cada estímulo (verbal ou não verbal). A comunicação neuronal é possível através do impulso elétrico (originado no corpo do neurônio) e que utiliza o axônio e dendrito para que a transmissão ocorra. No final de cada um desses prolongamentos temos estruturas denominadas de sinapses, onde se encontram vesículas sinápticas, 13 que são preenchidas por substancias químicas chamadas de neurotransmissores. Quando o impulso elétrico chega, essas vesículas se rompem e os neurotransmissores são lançados na fenda sináptica (espaço entre as sinapses) transformando o estimulo elétrico em estimulo químico. O neurônio que envia o estímulo é denominado de neurônio présináptico e o que recebe o estímulo de pós-sináptico. O impulso nervoso não atravessa a fenda sináptica: o neurônio pré-sináptico libera o neurotransmissor que ativa ou inibe o neurônio pós-sináptico modificando o seu receptor. O que determina a ativação ou inibição pós sináptica é o tipo de neurotransmissor liberado: se de ação inibitória (ex ácido gamaminobutírico- GABA) ou de ação excitatória (ex; adrenalina). Isso explica porque um impulso nervoso pode determinar excitação ou depressão das funções encefálicas. Figura 2-Direção do impulso nervoso http://cdoze.wikispaces.com/Antes+de+Mim+-+gen%C3%A9tica-19/05/2009 1.2-SISTEMA NERVOSO CENTRAL E SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO O neurônio tem função ativa nesse processo e integra a informação transmitida por outros neurônios que chegam até ele formando novas redes, ou seja, 14 novas informações. Organizam-se no que denominamos Sistema Nervoso Central (SNC) e Periférico (SNP). A porção central é formada pelo encéfalo e pela medula espinhal. O encéfalo fica protegido pelo crânio, é composto pelo cérebro, cerebelo, diencéfalo e tronco encefálico (mesencéfalo, formação reticular, ponte e bulbo) Figura 3- Cérebro http://www.igc.gulbenkian.pt/sites/soliveira/cerebroestruturairrigacao.html O Sistema Nervoso Central recebe, analisa e integra informações. É o local onde ocorre a tomada de decisões e o envio de ordens. O Sistema Nervoso Periférico carrega informações dos órgãos sensoriais para o sistema nervoso central e do sistema nervoso central para os órgãos efetores (músculos e glândulas). No Sistema Nervoso Central, existem as chamadas substâncias cinzentas e brancas. A substância cinzenta é formada pelos corpos dos neurônios e a substância branca, por seus prolongamentos. Com exceção do bulbo e da medula, a substância cinzenta ocorre mais externamente e a substância branca, mais internamente. Os dois órgãos estão protegidos por estruturas ósseas: o encéfalo encontra-se no interior da caixa craniana ou crânio e a medula espinal está rodeada pelas vértebras que formam a coluna vertebral, no chamado canal vertebral. 15 Figura 4 - Estruturas que protegem o encéfalo http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-sistema-nervoso/sistemanervoso-19.php em 21/07/2010 Figura 5-Medula espinhal http://anatomiaclinica.com/NeuroAnatomia/MedulaEspinhal.htm em 21/07/2010 1.3- DIFRENÇAS FUNCIONAIS ENTRE OS HEMISFERIOS ESQUERDO E DIREITO O cérebro humano é dividido em dois hemisférios: um direito e um esquerdo. Hemisfério Direito: recebe as informações e controla os movimentos do lado esquerdo. Parece idêntico ao hemisfério esquerdo, mas na maioria das pessoas controla as atividades específicas, como as habilidades artísticas e criativas. Hemisfério Esquerdo: recebe informações do lado direito do corpo, e controla os movimentos desta região. Na maioria das pessoas, controla certas atividades específicas, como por exemplo: as atividades matemáticas, científicas e de linguagem. 16 Figura 6- Hemisférios Cerebrais http://carolvillefort.blogspot.com/2007/04/encfalo-crebro.html em 15/07/2009 O Hemisfério Esquerdo e o Hemisfério Direito se comunicam através de uma estrutura chamada corpo caloso, que leva as informações do Hemisfério Direito ao esquerdo e vice-versa. Cada hemisfério é dividido em 4 lobos: frontal, parietal, occipital e temporal. Lobo frontal (localizado a partir do sulco central para frente) - Responsável pela elaboração do pensamento, planejamento, programação de necessidades individuais e emoção. Lobo Parietal (localizado a partir do sulco central para trás) - Responsável pela sensação de dor, tato, gustação, temperatura, pressão. Estimulação de certas regiões deste lobo em pacientes conscientes produz sensações gustativas. Também está relacionado com a lógica matemática. Lobo temporal (abaixo da fissura lateral) - É relacionado primariamente com o sentido de audição, possibilitando o reconhecimento de tons específicos e intensidade do som. Tumor ou acidente afetando esta região provoca deficiência de audição ou surdez. Esta área também exibe um papel no processamento da memória e emoção. 17 Lobo Occipital (se forma na linha imaginária do final do lobo temporal e parietal) Responsável pelo processamento da informação visual. Dano nesta área promove cegueira total ou parcial. Figura 7- Lobos Cerebrais http://www.emtr.com.br/imagem8.htm em 5/07/2009 O córtex cerebral é constituído de camadas de corpos celulares (substancia cinzenta) que fica situada na periferia do córtex, formando os giros cerebrais. (O funcionamento cerebral é integrado, ou seja, interligado: uma região depende da outra para realizar suas funções) É no córtex que surgem as funções complexas da linguagem, pensamento, consciência e aprendizagem.. Aparentemente iguais, os hemisférios são funcionalmente diferentes. Segundo Pântano (2009), essas diferenças podem ser assim mapeadas: HEMISFERIO ESQUERDO HEMISFERIO DIREITO Em 98% das pessoas está localizada O neurotransmissor dominante é a a linguagem, fala escrita norepinefrina que estimula a 18 percepção de novos visio-espaciais Os neurotransmissores dominantes Avalia o contexto, entonação, ritmo da são a dopamina e acetilcolina, que fala (prosódia) proporcionam o controle motor fino tanto manual como para a fala Responsável pela sintaxe e semântica Capta o simbolismo, a metáfora do do idioma texto e fala Permite a compreensão do significado Permite literal das palavras uma visão holística da situação Favorece a praticidade nas ações, a Percebe o humor e a estética do ser pratico nas atividades e nas acontecimento conclusões Permite a interpretação linear seqüencial dos acontecimentos e Percebe o todo e o padrão do acontecimento Reduz algo complexo em partes mais Possibilita simples imaginação Procura por detalhes Oferece a criatividade a profundidade, e a percepção de reconhecimento do rosto e do estado emocional Classifica e ordena os estímulos Oferece a sensação de empatia,, mesmo imotivada, sem ter certeza da razão, do por que Faz interpretação e justificação dos Avalia o acontecimento de forma acontecimentos global, sem se deter em detalhe Realiza observação focada, dirigida do Segue a intuição acontecimento Segue um padrão lógico Estabelece padrões sem seguir um processo etapa por etapa É objetivo É subjetivo Estima o tempo cronologicamente, Vê o tempo como um todo, um hora a hora, dia a dia projeto, uma carreira 19 Encara os fatos como verdadeiro ou Pensa positivamente, sem preocuparfalso, branco no preto Tem espírito critico se com idéias pré- concebidas e pessimista vocação Pergunta “porque não”? e quebra as regras. A linguagem e a aprendizagem, sob o olhar da neurociência, são processos cognitivos altamente elaborados e complexos, que vem a resultar de processos cognitivos primários (sensação, percepção, atenção e memórias) Esses processos têm inicio com a transformação dos estímulos sensoriais nos nossos receptores por impulsos elétricos (transdução), pois nosso cérebro só consegue entender sinais elétricos. Assim, tudo que conhecemos do mundo é uma re-leitura do que foi transmitido a nosso cérebro pelos estímulos sensoriais. Os receptores periféricos têm a função de transmitir impulsos ao cérebro de acordo com o que percebem do meio externo. O que chamamos de percepção são esses impulsos integrados e re-construídos, e essa percepção somente podem ser compreendidas e reconhecidas depois de um processo continuo de aprendizagem que classifica, organiza, compara e integra os estímulos sensoriais em um único objeto. 1.4 - ATENÇÃO E MEMÓRIA Segundo Ferreira e Pântano (2009), grandes áreas corticais estão envolvidas na função atenção. Quando prestamos atenção a um estimulo, os neurônios do córtex frontal e do colículo superior (ponto de passagem dos estímulos visuais) aumentam sua atividade nervosa. As células do córtex parietal relacionadas com o processamento visual (percepção da cor, forma e 20 detalhes finos) também respondem mais fortemente. Entende-se então que a atenção acentua o processamento sensorial como um todo, o que viabiliza o movimento planejado para uma possível resposta. Podemos dizer que o controle atencional envolve o lobo parietal posterior, a área pré-motora e o córtex pré-frontal. Outra linha de abordagem sugere que o sistema atencional tem a participação do córtex intraparietal e frontal superior, onde temos o controle da seleção dos estímulos e respostas, relacionando-se com a rede neural temporo-parietal-frontal inferior, especializada na detecção de estímulos comportamentalmente relevantes. Quanto à função da memória, estruturas encefálicas subcorticais estão envolvidas, em especial as do Sistema Límbico Figura 8n - sistema Límbico Aspectos anatômico-funcionais relacionados de recompensa -Prof.Marta Relvas- Curso de Pos graduação de Neurociêncía Pedagógics - A vez do Mestre-2010 O sistema límbico participa intimamente de processos emocionais, em conjunto com o hipotálamo e a área pré-frontal. Memória e emoção estão interligadas: as bases dos impulsos da motivação, principalmente os ligados á 21 aprendizagem, as sensações de prazer ou punição, são realizadas, na sua maioria, pelas regiões basais do cérebro, que no seu conjunto, são derivadas do Sistema Límbico. A memória é uma atividade eletrofisiológica que tem a função de permitir o registro, manutenção e evocação e fatos já acontecidos e é modula pela consciência, atenção, concentração, interesse, emoção senso percepção. Repetição e associação dos estímulos a serem percebidos. Segundo Nogueira (2005), os dados da memória podem ser armazenados de forma isolada (dados vazios e aleatórios - numero de telefone), relacionados (uma relação simples com um objeto ou pessoas – nomes próprios) e de forma integrada (relacionando-se com uma serie de significados). Esses (forma integrada) são considerados numa postura cognitiva como a aprendizagem propriamente dita. Toda memória possui três fases: 1-Fixação: que depende do nível de consciência do individuo, seu estado orgânico geral (nutrição, cansaço, calma), atenção global, capacidade de manutenção da atenção sustentada, interesse e conteúdo emocional que atribui o individuo ao estimulo, assim como seu conhecimento prévio e da capacidade de compreensão do conteúdo e dos canais senso – perceptivos. O grau de fixação está relacionado com o nível de importância e de utilização que faremos de cada evento registrado. Podemos trabalhar essa capacidade de fixar eventos, e assim, melhorá-la. 22 2- Conservação: é dependente da repetição e utilização dos estímulos e da sua associação a outros elementos. É um processo dinâmico e integrado com as memórias já armazenadas pelo indivíduo 3-Evocação: é a reprodução de dados já fixados. Problemas na evocação, ou seja, resgate da informação pode estar relacionado a falhas nos processos de fixação e conservação, mecanismos fisiológicos relacionados ao interesse ou desuso, lesões quadros demenciais e emocionais. A memória pode ser dividida em declarativa ou verbal (o que) e não verbal ou processual (como). Sabemos que sem memória não há aprendizado. E sem aprendizado a inteligência não se manifesta adequadamente. A memória funciona em duas escalas temporai : a memória em curto prazo e a memória em longo prazo. MEMÓRIA DECLARATIVA Tipo de Memória Área cerebral envolvida Semântica, se referindo a fatos e a conhecimentos Hipocampo (parte Sistema límbico do lobo temporal) e evocáveis (componente Córtex entorrinal emocional forte) Autobiográfica MEMÓRIA PROCEDURAL Consolidação Outras partes do SNC dependendo do conteúdo Procedimentos motores ou sensoriais Cerebelo (andar de bicicleta, digitar, etc...) Sistema extrapiramidal Núcleos de base São mais difíceis de esquecer e sua consolidação é via outros caminhos 23 NEUROPLASTICIDADE: Segundo Lent (2008), neuroplasticidade é a propriedade do sistema nervoso de alterar a sua função ou estrutura em resposta ás influencias ambientais que o atingem. Numa linguagem mais simplista, é o fenômeno inerente ao cérebro quando este está em constante reorganização para se desenvolver e compensar possíveis desvios e deficiências, De acordo com Foz (2009) através do aprendizado podemos construir novas pontes, atalhos e assim reconfigurar nosso cérebro. Para compreender a plasticidade neuronal, o conhecimento do neurônio, da natureza das conexões sinápticas e da reorganização das áreas associativas cerebrais se faz necessário. Os mecanismos pelos quais ocorrem os fenômenos de plasticidade podem incluir modificações sinápticas do receptor, da membrana e neuroquímicas. Estas últimas, também chamadas de fatores neurotróficos, possuem um papel-chave nos fenômenos de plasticidade, sendo caracterizadas como uma classe de moléculas que agem para dar apoio ao crescimento e à diferenciação nos neurônios em desenvolvimento. Os fatores neurotróficos são produzidos em grandes quantidades no cérebro, tanto pelos neurônios quanto pela neuróglia, e podem afetar os neurônios regulando seu crescimento e proporcionando um padrão adequado das conexões entre as células neurais. As ações por meio desses fatores podem ocorrer desde a vida embrionária até a idade adulta, com redução progressiva de acordo com o aumento da idade. 24 Atualmente, sabe-se que elas passam a ser sintetizadas em maior quantidade pelo tecido nervoso submetido a traumas. Existem 5 tipos de neuroplasticidade: regeneração, plasticidade axônica, dendrítica, somática e sináptica. Quando o sistema nervoso sofre uma lesão estrutural ou funcional, este experimenta mudanças no intuito de restaurar estas lesões. Atualmente, sabe-se que a plasticidade neural, sob a forma de regeneração, ocorre principalmente no sistema nervoso periférico (SNP), tendo em vista que esta é facilitada por um ambiente favorável composto por mielina que, por sua vez, é produzida pelas células de Schwann, o qual orienta o crescimento axonal. Indivíduos que sofreram traumatismos envolvendo secção de nervos periféricos, por exemplo, podem obter uma recuperação das funções de maneira parcial ou completa caso haja uma intervenção rápida. Existe uma etapa da vida em que há um período de maior neuroplasticidade, chamado período crítico, que ocorre por meio da plasticidade axônica ou ontogenética. Este período compreende a fase que vai de 0 aos 2 anos de idade, sendo fundamental para um desenvolvimento normal do sistema nervoso. Dessa forma, um ambiente rico em estímulos é fundamental para a aquisição de várias capacidades cerebrais, uma vez que eles proporcionam a excitação necessária para a modificação permanente dos circuitos neurais. Segundo Lent(2006), o desenvolvimento da linguagem humana é um exemplo de plasticidade axônica em que a recuperação das funções 25 lingüísticas decorrentes de lesões cerebrais na infância são mais facilmente recuperáveis do que em adultos em decorrência da neuroplasticidade axônica. A plasticidade dendrítica é caracterizada por alterações no número, no comprimento, na disposição espacial e na densidade das espinhas dendríticas, principalmente nas fases iniciais de desenvolvimento do indivíduo. As espinhas dendríticas constituem – se de micropetídeos privilegiados que concentram íons e pequenas moléculas influentes na transmissão de informações entre os neurônios. O padrão das espinhas dendríticas se modifica dinamicamente com a aprendizagem, possuindo um importante papel nas funções neurais altas. Em alguns casos este padrão pode se modificar, resultando em disfunções entre as conexões interneurais. Estas alterações estão relacionadas a diversas patologias, dentre elas a síndrome do X Frágil, síndrome de Rett, Retardo Mental, Neurofibrimatose e Epilepsia. A plasticidade somática pode ser entendida como a capacidade de regular a proliferação ou a morte de células nervosas. Somente o sistema nervoso central embrionário é dotado de tal capacidade, e ele não responde a influências do meio externo. Dessa forma, uma das esperanças na recuperação somática está na utilização de células-tronco. Este tipo de célula pode se diferenciar, constituindo diferentes tecidos no organismo, além de gerar cópias idênticas de si mesmas. Por causa dessas duas capacidades, as células-tronco são objetos de intensas pesquisas, pois poderiam, no futuro, funcionar como células substitutas em tecidos nervosos lesionados ou doentes, como nos casos da doença de Alzheimer, Parkinson, Acidentes Vasculares Cerebrais entre outros. 26 A plasticidade sináptica é caracterizada por alterações nas sinapses entre as células nervosas. As sinapses são conexões especializadas que permitem transmitir informação desde um neurônio a outro. Na maioria das sinapses, a informação que viaja na forma de impulsos elétricos ao longo de um axônio é convertida em um sinal químico, o qual é liberado nas conexões interneurais. Na membrana pós-sináptica, este sinal químico é convertido novamente em elétrico. Esta transformação da informação em elétricaquímica-elétrica pode acarretar alterações duradouras nas conexões interneuronais por meio da plasticidade sináptica. Este sistema possui um papel fundamental nos processos do aprendizado e memória e, portanto, a aprendizagem pode levar a alterações estruturais no cérebro. kendel(2002) A cada nova experiência do individuo, redes neurais são rearranjadas, outras são reforçadas e uma gama enorme de respostas ao ambiente se tornam possíveis. kendel(2002), afirma que o mapa cortical de um individuo está sujeito a constantes modificações com base no uso ou na atividade de seus caminhos sensoriais periféricos. Partindo dessa afirmativa, o que antes era experimentado pelo educador, hoje ganha respaldo cientifico, delineando um futuro promissor para a qualidade de vida do individuo, seja acadêmica ou social 27 CAPÍTULO II PROCESSAMENTO AUDITIVO Percepção dos sons da fala: O entendimento de como o sistema auditivo (central e periférico) decodifica os sons da fala tem sido objeto de pesquisas para que possamos compreender como o nervo auditivo é ativado para responder a sinais simples da fala, como vogais e consoantes. Depois que o sinal da fala é transformado pelo sistema auditivo periférico, informações acústicas sobre a estrutura do espectro, freqüência fundamental, mudanças na fonte, intensidade e duração de sinal e de sua amplitude são extraídos e codificados pelo sistema auditivo (Stevens, 1980). Assim, esses padrões temporais e de espectro do sinal de fala são preservados na memória sensorial por um breve período de tempo, onde é feita uma análise, que tem como resultado as pistas acústicas da fala, que são as representações auditivas do sinal da fala que é subsequentemente usado para a classificação fonética. (Schochat , 1999). A fala é uma manifestação biológica inata e especializada, que previne os ouvintes de ouvir a fala como sons em geral. Sua percepção é medida mais por atividades articulatórias subjacentes do que por atividades acústicas correlatas. A sensação do som é de responsabilidade das atividades periféricas e sua percepção das atividades centrais. 28 Já o processamento da fala, feito a níveis neurais inicia-se na cóclea, onde a transformação mecânica dos sinais da fala é convertida em impulsos nervosos e esse mecanismo não é simples, não se sabendo exatamente quais mecanismos envolvem o processamento auditivo. Esse assunto será abordado na fisiologia do sistema auditivo. Segundo Shotchat (1999), para ouvir a fala, o individuo ouvinte pode dispor com redundâncias intrínsecas e extrínsecas. As intrínsecas dizem respeito ás múltiplas vias e tratos auditivos disponíveis no sistema auditivo central nos ouvintes com audição periférica e central normais, vias essas que se cruzam, outras não, e as fontes de informação que o ouvido humano possui para processar a fala. Basicamente, cada neurônio decide se vai ou não transmitir o impulso. Já as redundâncias extrínsecas estão relacionadas ás inúmeras pistas sobrepostas, dentro da própria fala. Pistas essas acústicas (ex; duração do som), pistas sintáticas, semânticas, morfológicas e lexicais, que nem sempre são necessárias a toda hora,mas que são utilizadas quando a mensagem está sendo dita em local não apropriado de escuta (local com excesso de ruído/reverberação). Nem sempre precisamos e todas s pistas, fazendo-se uso apenas daquelas mais imprescindíveis, e isso se faz reduzindo as redundâncias extrínsecas, já que o que vai ser avaliado é as intrínsecas. A Fala A inteligibilidade da fala depende da característica da mensagem (gesticulação e apoio visual, conhecimento do idioma, do tema, potencia, 29 articulação, claridade, inflexões da voz do falante, competência mental, posição entre o falante e o ouvinte e capacidade auditiva do ouvinte.) e das características acústicas do ambiente (ruído de fundo, absorção, reflexão, etc...) Sabemos que a palavra é composta de vogais e consoantes, distribuídas ao longo do espectro e podemos observar variações devido a sexo, idade e características individuais do falante. Os poderes do aparelho auditivo humano são amplos e capacita o individuo a selecionar, dentro de inúmeros estímulos auditivos simultâneos aqueles que são do interesse no momento (figura e fundo) e determinar de onde vem o som (localização da fonte sonora), viabilizando uma direção da atenção (Silva, 1990). Como o cérebro manipula a fala ainda é objeto de pesquisas e estudos, tendo-se modelos de processo de reconhecimento da fala, onde mecanismos subjacentes são comuns. Esses mecanismos de reconhecimento da fala, comuns á maioria dos modelos incluem: 1-Um processamento periférico de códigos que produz uma representação interna do estimulo acústico 2-Um breve resumo armazenado dos códigos que entram (inputs) numa forma especifica de memória sensorial 3-Transferência de uma parte da informação armazenada na memória sensorial para a memória imediata (primária) 30 4- Acesso á memória secundária (que contem o conhecimento sobre fonologia, sintaxe, etc...) para a memória primária. Três fatores sinaliza Schochat (1999), interagem para caracterizar a atividade fisiológica de ouvir: 1-A atividade periférica: processos do ouvido externo, médio e interno e talvez o VIII par de nervos cranianos 2-A atividade auditiva central, processo que provém do sistema nervoso auditivo 3-Processos do sistema nervoso central, que não são estritamente limitados aos sinais auditivos. Qualquer ruptura em um destes mecanismos no processo de reconhecimento da fala pode potencialmente resultar em um déficit nesta habilidade. Sistema auditivo e sua fisiologia Para entendermos como o processamento ocorre a nível neural, precisamos compreender como “ouvimos” os sons, como eles se processam e que estruturas estão ligadas a esse processamento. Para conseguirmos ouvir necessitamos da integridade de todas as estruturas do no sistema auditivo. As estruturas envolvidas no processo da audição são: o ouvido externo (composto pelo pavilhão auricular e o canal auditivo), ouvido médio (formado pela membrana timpânica e, a cadeia ossicular: martelo, bigorna e estribo) ouvido interno (composto pela cóclea e os canais semicirculares). 31 Figura 9-Aparelho Auditivo http://www.sur10.net/wp-content/uploads/2008/05/estrutura-do-ouvido.gif em 21/07/2010 Mas como ouvimos os sons? O pavilhão auricular é responsável por captar os sons provenientes do ambiente, que são conduzidos pelo canal auditivo até chegar à membrana timpânica. O tímpano recebe então esta vibração vinda das ondas sonoras e, a transmite aos ossículos, movendo o martelo que faz vibrar a bigorna e por sua vez vibra o estribo. O estribo está anatomicamente ligado à cóclea pela janela oval (pequeno orifício), que lhe transmite o sinal elétrico. A cóclea está conectada ao nervo vestíbulo-coclear, VIII par craniano, que envia a este o impulso nervoso. O impulso nervoso é conduzido ao centro de audição do córtex cerebral, que é responsável por interpretar estes sinais nervosos. Para Earth (1969) os estímulos sonoros são transmitidos através dos três componentes do sistema auditivo: componente condutivo (orelha externa, 32 e orelha média), componente sensorial (cóclea, que faz parte do sistema vestíbulo-coclear e do componente neural, que faz parte do sistema nervoso. Earth (1969) esclarece que além da importante organização tonotópica por freqüência sonora desse sistema, pode associa-se algumas funções a algumas estruturas desse componente neural. Os núcleos cocleares iniciam a análise sensorial complexa e diminuem os sinais de ruído de fundo. Os núcleos do Complexo Olivar Superior respondem ás diferenças de intensidade e de tempo interaural e usam isso para codificar a direção de um som o espaço. Essa estrutura faz parte do arco reflexo do reflexo acústico do músculo estapédio. Os núcleos do coliculo inferior parecem combinar a codificação espacial do Complexo Olivar Superior com os resultados da análise do complexo sensorial (núcleos cocleares) e assim realizam o mapeamento da posição sonora (caudal e rostralmente). Essa estação, coliculo inferior, tem um papel importante nos reflexos auditivos,, como exemplo, a atenção ao estimulo sonoro. Quanto ao corpo geniculado medial, a sua divisão ventral é a única especificamente auditiva. Quanto ao córtex auditivo, as hipóteses de funções que lhe são atribuídas se referem a analisar sons complexos, a localizar e representar o espaço auditivo, a atenção seletiva para estímulos auditivos baseados na posição da fonte sonora, a inibir respostas motoras inapropriadas, a identificar estímulos, a discriminação de padrões temporais, a memória auditiva para sons em sequência e a realizar tarefas auditivas mais difíceis. 33 Figura 10-Sistema auditivo http://arristobe.blogspot.com/2007_11_01_archive.html em 18/06/2010 Como vimos, é no cérebro que esse processo acontece e se combina a informação que nos chega aos dois ouvidos e que nos permite, por exemplo, concluir se uma fonte sonora está à nossa esquerda ou à nossa direita. Processamento Auditivo Central Processamento Auditivo é o conjunto de processos e mecanismos que ocorrem dentro do sistema auditivo em resposta a um estímulo acústico e que são responsáveis pelos seguintes fenômenos: localização e lateralização do som, discriminação e reconhecimento de padrões auditivos, aspectos temporais da audição, incluindo resolução, mascaramento, integração e ordenação, performance auditiva com sinais acústicos competitivos e com degradação do sinal acústico (ASHA, 1995). 34 Esses processos acontecem no sistema auditivo periférico e no sistema auditivo central. É desenvolvido nos primeiros anos de vida é a partir da experienciação do mundo sonoro que aprendemos a ouvir. As ondas sonoras são decodificadas desde a orelha externa até o córtex cerebral, e esse processamento compreende a capacidade de analisar, associar e interpretar as informações sonoras que nos chegam pelo sentido da audição. O sistema auditivo central possui habilidades auditivas essenciais para uma completa participação do ser humano nas atividades do cotidiano e essas habilidades auditivas centrais são: • Localização sonora: habilidade de localizar auditivamente a fonte sonora; • Síntese binaural: habilidade para integrar estímulos incompletos apresentados simultaneamente ou alternados para orelhas opostas; • Figura-fundo: identificar mensagem primária na presença de sons competitivos. • Separação binaural: habilidade para escutar com uma orelha e ignorar a orelha oposta; • Memória: habilidade de estocar e recuperar estímulos; • Discriminação: habilidade para determinar se dois estímulos são iguais ou diferentes; • Fechamento: habilidade para perceber o todo quando partes são omitidas; • Atenção: habilidade para persistir em escutar sobre um período de tempo; • Associação: habilidade para estabelecer correspondência entre um som não lingüístico e sua fonte. 35 Pode-se dizer que processamento auditivo é “aquilo que fazemos com o que ouvimos”. A memória, atenção e linguagem são integrantes no processo de análise na entrada da informação pelo canal auditivo. A dificuldade em um ou mais níveis das habilidades auditivas é possível de ser classificada como uma dificuldade ou Desordem do Processamento Auditivo Central (DPAC) Para Pereira, Navas e Santos (2002), Processamento Auditivo é a série de processos que se sucedem no tempo e permitem que um indivíduo realize análises acústicas e metacognitivas do som. A área de processamento auditivo é alvo de muitas pesquisas, debates e o interesse na mesma aumentou consideravelmente nos últimos anos. A bateria de avaliação deve no mínimo envolver todas as habilidades e considerações multidisciplinares. Para tal exige consenso entre as áreas buscando minimizar o impacto das dificuldades processuais e maximizar o desempenho das habilidades presentes. Um transtorno de audição pode ser significativo e envolver dois aspectos importantes, sob o ponto de vista do processamento auditivo: a perda auditiva, que é um impedimento da capacidade de detectar energia sonora, podendo ser classificada quanto ao grau e quanto ao tipo e a alteração de processamento auditivo que se refere a um transtorno auditivo em que há um impedimento da habilidade de analisar e/ou interpretar padrões sonoros Desordem no Processamento Auditivo Central (DPAC) Segundo Marcilio (no prelo), a desordem desse processamento se refere à possível falha na transdução (informações sensoriais convertidas em 36 impulso elétrico); lentificação ou falha na condução dos potenciais; falha na transmissão sináptica; lesão das vias auditivas do sistema nervoso central e/ou áreas corticais responsáveis pelo processamento da informação auditiva. Luria (1974) referiu que o giro de Heschl é responsável pela recepção auditiva primária e está localizado na região temporal superior. O córtex auditivo (área 22 de Broadman) que está localizado na região temporal superior é a região associada à discriminação fonêmica auditiva. Isto sugere a importância desta porção do cérebro em entender o que está sendo falado. Por outro lado, o hipocampo é importante para o processo de memória. A região temporal anterior contém parte da comissura anterior que carrega informações acústicas ou, ainda, inibe impulsos de um lobo temporal para o outro. Portanto, uma lesão ou desordem nas vias auditivas centrais e/ou lobo temporal pode interferir nos processos de aprendizado envolvidos na organização do sistema fonológico e na linguagem de um indivíduo. As habilidades de localização sonora, memória seqüencial verbal, memória seqüencial não verbal, fechamento e figura-fundo são processos importantes que acontecem nos primeiros sete anos de vida e que contribuem para o reconhecimento de sons da fala e, conseqüentemente, para a aquisição e a aprendizagem de um sistema de linguagem. Eles ocorrem com a ativação das estruturas das vias auditivas do sistema nervoso central, principalmente em nível de tronco cerebral (complexo olivar superior) e córtex auditivo, segundo Pickless (1985). 37 De acordo com Keith e Pensak (1991), as DPAC consistem numa inabilidade de atentar, discriminar, reconhecer, recordar ou compreender informações auditivas. Tal inabilidade é verificada apesar da ausência de comprometimento de habilidade intelectual e de audição periférica. Estes padrões são fundamentais para a compreensão do código oral, via canal auditivo, que é pré-requisito para o aprendizado da fala, da leitura e da escrita. A DPAC pode estar ligada ou associada com as dificuldades em linguagem, aprendizado, e funções de comunicação, embora a DPAC possa coexistir com outras desordens (por exemplo, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e dificuldades de leitura), mas não pode ser colocada como o fator resultante destas. As causas que levam a uma DPAC podem ser variadas, não podendo ser especificadas, (na maioria), e podem compreender desde a ordem genética até a de desenvolvimento, dentre outras possíveis. A etiologia das DPAC inclui otites de repetição na primeira infância; febres altas e contínuas; distúrbios específicos do desenvolvimento da função auditiva; pequenas lesões nas vias de condução; privação sensorial durante a primeira infância (Alvarez, Caetano e Nastas, 1997); alterações neurológicas; problemas congênitos; déficits cognitivos; psicose, autismo e distúrbios emocionais; distúrbios da comunicação humana que comprometem sistema fonológico, voz, fluência, leitura e escrita; transtornos de aprendizagem e TDAHI (Chermak e Musiek, 1997). 38 Quanto às manifestações das DPAC, Pereira (1999) classifica-as em: manifestações comportamentais, clínicas e limiares de audibilidade. MANIFESTAÇÕES COMPORTAMENTAIS -Problemas de produção de fala envolvendo os sons/r/ e /l/ principalmente Quanto á comunicação oral -Problemas de linguagem expressiva envolvendo regras da língua -Dificuldade ruidoso de compreender em ambiente -Dificuldade de compreender palavra de duplo sentido (piadas) Quanto á comunicação escrita -Problemas de escrita quanto á inversão de letras, orientação direita/esquerda -Disgrafias -Dificuldade em compreender o que lê -Distraídos -Agitados/hiperativos/muito quietos Quanto ao comportamento social -Desajustados(ou brincam com crianças mais novas ou adultos mais tolerantes) -Tendência ao isolamento (sente-se frustrados ao notarem suas falhas na escola - Inferior na leitura, gramática ortografia e matemática Quanto ao desempenho -Seu desempenho escolar pode ser agravado escolar dependendo de sua posição na sala, tamanho da sala, ruído do ambiente e intensidade e clareza da voz do professor. Quanto á audição -Dificuldade em escutar em ambiente ruidoso - Atenção ao som prejudicada. 39 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Localização sonora -Memória auditiva para sons em sequência Prejuízo de -Identificação de palavras decompostas acusticamente -Identificação de sílabas e/ou palavras e/ou frases na presença de uma mensagem competitiva em tarefas monóticas ou dicóticas -Um canal auditivo em relação ao outro, geralmente na orelha homolateral a lesões de tronco cerebral extra-axial e orelha contralateral a lesões do tronco cerebral intra-axail ou lesões corticais. LIMIARES DE AUDIBILIDADE Próximos ao limite superior da faixa de normalidade bilateralmente(15-20 dBNA) Discreta perda auditiva (25-30 dBNA) em freqüências isoladas Bateria de testes para investigação das DPAC: A avaliação do processamento auditivo central é feita através de testes especiais que pesquisam a habilidade do indivíduo de analisar e/ou interpretar padrões sonoros. Provas específicas avaliam os processos gnósticos acústicos (etapas de decodificação do PAC) e auditivo (etapa de codificação) e ainda o processo gnóstico seqüencial auditivo (etapa de organização do PAC). 40 Essa testagem pressupõe uma avaliação audiológica convencional, com avaliação da acuidade auditiva, discriminação vocal convencional, timpanometria e pesquisa do reflexo acústico. Os testes específicos para avaliação do PAC também são realizados em cabine acústica. São utilizados estímulos não verbais e verbais (sílabas, palavras e frases) na forma de tarefas monóticas e dicóticas ou diótica. Nas tarefas monóticas, há apresentação simultânea de mensagem competitiva ipsilateral ou contralateral. Nas dicóticas, o estímulo verbal que precisa ser ignorado funciona como mensagem competitiva. São testes, ainda hoje, muito pouco difundidos no Brasil e, portanto, de difícil acesso. Entretanto, os testes de localização sonora em cinco direções (um dos testes de decodificação) e memória seqüencial (um dos testes de organização) não requerem cabine acústica ou instrumentos sofisticados e são indicados por Pereira, L.D. (1997), juntamente com a pesquisa do reflexo cócleo-palpebral para o som de um agogô, em procedimentos de triagem. Estes testes podem ser realizados em consultório ou mesmo na escola, desde que em ambiente silencioso. No Brasil, testes especiais para avaliar a DPAC vêm sendo estudados. Apesar de ainda precisarmos de muito estudo e pesquisa, muito se tem conseguido nesse campo de pesquisas: 1- Teste Monaurais de baixa redundância: avaliam a habilidade do ouvinte de realizar o fechamento auditivo, a figura-fundo e a discriminação quando uma 41 parte do sinal auditivo está distorcida ou ausente (redundância extrínseca reduzida, isto é, a redundância do sinal de fala está diminuída em virtude da modificação das características do sinal de fala).. Exemplos: Teste de Fala no Ruído, PSI -Teste Pediátrico de Inteligibilidade de Fala com Mensagem Competitiva Ipsilateral, SSI – Teste de Identificação de Sentenças Sintéticas, Teste de Fala Filtrada. 2- Testes Dicóticos: envolvem a apresentação de estímulos diferentes simultaneamente às duas orelhas. Avaliam a integração e a separação binaural, ou seja, a habilidade do ouvinte para repetir tudo o que ouviu ou para dirigir a atenção para uma só orelha. Exemplos: SSW – Teste de Dissílabos Alternados; Dígitos Dicóticos; CES - Sons Ambientais Competitivos. 3- Testes de Processamento Temporal: avaliam as habilidades auditivas de ordenação, discriminação, resolução e integração temporal.. Exemplos: PPST – Teste de Reconhecimento do Padrão de Freqüência; DPST – Teste de Reconhecimento do Padrão de Duração; RGDT – Teste de Detecção de Intervalo Aleatório. 4-Testes Interação Binaural: avaliam a habilidade do sistema nervoso auditivo central para processar informação díspar, mas complementar, apresentada às duas orelhas. Diferente dos testes de escuta dicótica, as informações apresentadas a cada orelha constituem juntas a mensagem completa, necessitando a integração das duas para que o todo seja percebido.. 42 Exemplos: MLD – Limiar Diferencial de Mascaramento; Teste de Fusão Binaural. A Avaliação eletrofisiológica pode ser utilizada como complemento da avaliação comportamental do PA e pode incluir os seguintes procedimentos: 1- Potenciais Auditivos Evocados do Tronco Encefálico (PAETE): medida objetiva da transmissão dos sinais acústicos no tronco cerebral. Ocorre aproximadamente até 10 milissegundos após a apresentação do estímulo. 2- Potenciais de Média Latência (MLR): medida objetiva da transmissão dos sinais acústicos na região talâmica. Ocorre aproximadamente de 10 a 90 milissegundos após a apresentação do estímulo. 3- Potenciais de Longa Latência (P300 e MMN): avaliam os centros auditivos corticais Avaliar as DPAC requer estudo e critério investigativo e uma equipe multidisciplinar deve estar á frente desse processo investigativo. O médico pediatra pode auxiliar a detecção de possíveis doenças que possam causar os mesmos sintomas, bem como avaliar o crescimento e o desenvolvimento neuropsicomotor; o médico otorrinolaringologista pode determinar se o indivíduo tem um problema auditivo e indicar a avaliação audiológica quando necessário; o fonoaudiólogo especialista em audição investiga a função auditiva central por meio de testes; o fonoaudiólogo especialista em linguagem pode avaliar a compreensão e a linguagem expressiva; o psicólogo pode fornecer informações sobre problemas cognitivos ou comportamentais que 43 possam contribuir com o quadro. As várias medidas usadas por estes e outros membros da equipe poderão sugerir processamento auditivo deficiente A (re) habilitação do indivíduo com transtorno do DPAC deve ser planejada e realizada por diferentes profissionais (fonoaudiólogo, neurologista, psicólogo) baseando-se nas necessidades individuais de cada paciente dependendo da natureza, das manifestações funcionais e do grau do problema. Envolve a modificação ambiental, para garantir o acesso à informação auditiva, a intervenção direta, que se trata do uso de técnicas que trabalhem as habilidades auditivas deficientes, e o uso de estratégias compensatórias, como uso de pistas visuais, contextuais e linguísticas. CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA Nenhuma área de pesquisa da leitura foi objeto de estudos exaustivos nas duas décadas passadas quanto à consciência fonológica. Talvez o mais importante achado em relação à consciência fonológica, relata Capovilla (2001) é que os níveis críticos da consciência fonológica podem ser desenvolvidos através da instrução cuidadosamente planejada, e que este desenvolvimento tem uma influência significativa no processo de aquisição das habilidades da leitura e da soletração. (Esfera & Blachman, 1991; Bradley & Bryant, 1985; Byrne & Fielding-Fielding-Barnsley, 1989, 1991; O'Connor, Jenkins, Leicester, & Slocum, 1993). Apesar das promissoras conclusões, a consciência fonológica persiste desconhecida por muitos, gerando mal entendido e muita confusão (Capovilla, F.C. (2000). Por exemplo, os pesquisadores estão procurando maneiras de 44 determinar quanto e que tipo de instrução é necessário e para quem. Além disso, muitas pessoas não compreendem a diferença entre a consciência fonológica e a consciência fonêmica, e a instrução fônica. Ainda outros, não estão certos sobre o relacionamento entre a consciência fonológica e os estágios iniciais da aprendizagem da leitura. Estudos enfatizaram a importância do processamento fonológico para a leitura e a escrita, fator que vem demonstrando visivelmente a importância das habilidades de processamento fonológico para cognição da leitura. Existem três tipos de processamento temporal nitidamente relacionado às habilidades de leitura e escrita: a consciência fonológica, a velocidade de acesso ao léxico mental e a memória de trabalho fonológico A consciência fonológica pode ser definida como uma habilidade de manipular a estrutura sonora das palavras desde a substituição de um determinado som até a segmentação deste em unidades menores. O processo de alfabetização implica em analisar as palavras em seus componentes (letras e formas) e utilizar, para a codificação e decodificação, regras de correspondência entre letras e sons. Já o processamento fonológico refere-se às operações de processamento de informação baseada na fala, ou seja, na estrutura fonológica da linguagem oral. Algumas pesquisas apontam a introdução formal da criança no sistema alfabético como sendo o fator ou causa primordial para o desenvolvimento da consciência fonológica. Em contrapartida, outros estudos apontam ser a consciência fonológica um pré-requisito para a aprendizagem da leitura e escrita alfabéticas 45 Como vimos, diferentes pesquisas têm apontado o papel do desenvolvimento da consciência fonológica para a aquisição da leitura e escrita. Estas pesquisas referem que o desempenho das crianças na fase préescolar em determinadas tarefas de consciência fonológica é preditivo de seu sucesso ou fracasso na aquisição e desenvolvimento da leitura-escrita (Capovilla, 2001) Crianças com dificuldades em consciência fonológica geralmente apresentam atraso na aquisição da leitura e escrita, e procedimentos para desenvolver a consciência fonológica podem ajudar as crianças com dificuldades na escrita a superá-los (Capovilla e Capovilla, 2000). A consciência fonológica, ou o conhecimento acerca da estrutura sonora da linguagem, desenvolve-se nas crianças ouvintes no contato destas com a linguagem oral de sua comunidade. É na relação dela com diferentes formas de expressão oral que essa habilidade metalingüística desenvolve-se, desde que a criança se vê imersa no mundo lingüístico. Diferentes formas lingüísticas a que qualquer criança é exposta dentro de uma cultura vão formando sua consciência fonológica, entre elas destacamos as músicas, cantigas de roda, poesias, parlendas, jogos orais, e a fala, propriamente dita. Assim, a consciência fonológica é a compreensão das diferentes formas como a linguagem oral pode ser dividida em componentes menores que podem ser manipulados. Manipular os sons inclui suprimir, adicionar, ou 46 substituir sílabas ou sons. Ser fonologicamente consciente significa ter uma compreensão geral de todos estes aspectos. Operacionalmente, as habilidades que representam a consciência fonológica das crianças, são um conjunto de quatro destrezas de complexidade progressiva: 1-Rima e Aliterações A rima representa a correspondência fonêmica entre duas palavras a partir da vogal da sílaba tônica. Por exemplo, para rimar com a palavra SAPATO, a palavra deve terminar em ATO, pois a palavra é paroxítona, mas para rimar com CAFÈ, a palavra precisa terminar somente em È, visto que a palavra é oxítona. A equidade deve ser sonora e não necessariamente gráfica, ou seja, as palavras OSSO e PESCOÇO rimam, pois o som em que terminam é igual, independente da forma ortográfica. Já a aliteração, também recurso poético, como a rima, representa a repetição da mesma sílaba ou fonema na posição inicial das palavras. Os trava-línguas são um bom exemplo de utilização da aliteração, pois repetem, no decorrer da frase, várias vezes o mesmo fonema. Segundo Zorzi (2003) os pesquisadores Goswami e Bryant (1997) realizaram estudos a respeito da consciência fonológica e comprovaram que a habilidade de detectar rima e aliteração é preditora do progresso na aquisição da leitura e escrita. Isto ocorre, porque a capacidade de perceber semelhanças sonoras no início ou no final das palavras permite fazer conexões entre os grafemas e os fonemas que eles representam, ou seja, favorece a generalização destas relações. 47 É comum vermos crianças de 4 ou 5 anos brincando com nomes dos colegas em jogos de rimas como: "Gabriel cara de pastel, Fabiana cara de banana". Mesmo sem saber que isto é uma rima, a brincadeira espontânea das crianças atesta sua capacidade de consciência fonológica. 2-Consciência de palavras Também chamada de consciência sintática, representa a capacidade de segmentar a frase em palavras e, além disso, perceber a relação entre elas e organizá-las numa seqüência que dê sentido. Esta habilidade tem influência mais precisa na produção de textos e não no processo inicial de aquisição de escrita. Ela permite focalizar as palavras enquanto categorias gramaticais e sua posição na frase. Contar o número de palavras numa frase, referindo-o verbalmente ou batendo uma palma para cada palavra, é uma atividade de consciência de palavras. Por exemplo: Quantas palavras há na frase: "O cachorro correu atrás do gato?" Ao responder corretamente esta questão ou batendo uma palma para cada palavra, enquanto repete a frase, a criança demonstra sua habilidade de consciência sintática. Além disso, ordenar corretamente uma oração ouvida com as palavras desordenadas também é uma capacidade que depende desta habilidade. Déficit nesta habilidade pode levar a erros na escrita do tipo aglutinações de palavras e separações inadequadas. Embora esses erros sejam comuns no processo inicial de aquisição da escrita, como por exemplo, escrever: OGATO (aglutinação) ou SABO NETE (separação), a persistência destes tipos de erros pode ser motivada por uma dificuldade de consciência 48 sintática. Esta habilidade implica numa capacidade de análise e síntese auditiva da frase. 3-Consciência da sílaba Consiste na capacidade de segmentar a palavras em sílabas. Esta habilidade depende da capacidade de realizar análise e síntese vocabular. Segundo o dicionário Michaelis, a análise é a decomposição em elementos constituintes (neste caso, a sílaba) e a síntese é a operação mental pela qual se constrói um sistema; agrupamento de fatos particulares em um todo que os abrange e os resume (aqui, a palavra). Zorzi (2003) faz uma análise da psicogênese da escrita relacionando-a com o desenvolvimento das habilidades de consciência fonológica. Segundo o autor, a criança só avança para a fase silábica de escrita (de acordo com a classificação de Emília Ferrero), quando se torna atenta às características sonoras da palavra, especialmente quando ela chega ao nível do conhecimento da sílaba. Atividades como contar o número de sílabas; dizer qual é a sílaba inicial, medial ou final de uma determinada palavra; subtrair uma sílaba das palavras, formando novos vocábulos, são dependentes desta habilidade da consciência fonológica. 4-Consciência fonêmica Consiste na capacidade de analisar os fonemas que compõe a palavra. Tal capacidade, a mais refinada da consciência fonológica, é também a última a ser adquirida pela criança. 49 É no processo de aquisição da escrita que esse tipo específico de habilidade passa a se desenvolver. As escritas de um sistema alfabético, como o português, o inglês e o francês, por exemplo, permitem que os indivíduos tomem contato com as estruturas mínimas da linguagem: os fonemas; o que não é possível num sistema de escrita silábico ou ideográfico. A consciência dos fonemas é necessária para compreender o princípio alfabético que está na base do nosso sistema de língua escrita. Especificamente, os leitores em desenvolvimento devem ser sensíveis à estrutura interna das palavras a para se beneficiar da instrução formal de leitura (Adams, 1990; Liberman, Shankweiler, Fischer, & Carter, 1974). Se as crianças compreenderem que as palavras podem ser divididas em fonemas individuais e que os fonemas podem ser combinados formando as palavras, podem usar o conhecimento da relação letra-som para ler e construir palavras. Em consequência deste relacionamento, a consciência fonológica no jardim de infância permite prever que mais tarde a criança terá sucesso na leitura (Ehri & Wilce, 1980, 1985; Liberman ET al., 1974; Perfetti, Beck, Bell, & Hughes, 1987), afirma Zorzi (2003). Os pesquisadores mostraram que este forte relacionamento entre a consciência fonológica e o sucesso na leitura persiste durante toda a escola (Calfee, Lindamood, & Lindamood, 1973; Shankweiler ET al., 1995). Nas duas décadas passadas, os pesquisadores focalizaram primeiramente a contribuição da consciência fonológica à aquisição da leitura. 50 Entretanto, o relacionamento entre a consciência fonológica e a leitura não é unidirectional e sim recíproco na natureza (Stanovich, 1986). Os primeiros passos na leitura dependem de ter alguma compreensão da estrutura interna das palavras, e a instrução explícita das habilidades da consciência fonológica são muito eficazes em promover os passos iniciais da leitura. Entretanto, a instrução específica de leitura que consiste em ensinar as relações letra-som parecem fortalecer a consciência fonológica e, em particular, a consciência fonêmica mais sofisticada (Snow, Burns, & Griffin, 1998). Muitas crianças com dificuldade de aprendizagem demonstram dificuldades com as habilidades da consciência fonológica ((Shaywitz, 1996). Entretanto, muitas outras crianças têm tal dificuldade sem indicar outras características de dificuldades de aprendizagem. Pesquisas em neuroimagem vieram traçar o caminho neural antes desconhecido: - O lóbulo frontal – produtor do fonema – ajuda a vocalizar palavras (voz alta ou silenciosamente). Também analisa os fonemas, os sons menores que compõem a palavra. - O lóbulo parietal – analisador da palavra – decompõe as palavras nas suas sílabas e fonemas e as respectivas letras – grafemas. - O lóbulo occipital – detector automático - faz o reconhecimento automático das palavras. 51 Segundo Fletcher et al.(1994) a barreira mais comum na aquisição da habilidade da leitura das palavras é a incapacidade de processar fonologicamente a língua. Além disso, o desenvolvimento da pesquisa e da compreensão desta questão revela que esta dificuldade em processar fonologicamente a língua atrasa muito frequentemente tanto os alunos com dificuldades quanto os que não as apresentam. Os níveis da consciência fonológica podem ser desenvolvidos através do treino cuidadosamente planeado e este desenvolvimento tem uma influência significativa no processo de aquisição das habilidades da leitura e da soletração. Tornar uma criança consciente fonologicamente é prepará-la para a posterior aprendizagem da leitura, incluindo a instrução fônica, para a análise da palavra, e para a soletração (Adams ET al., 1998). 52 CAPÍTULO III PROCESAMENTO DA LEITURA E ESCRITA A leitura envolve a integração de múltiplos fatores relacionados à experiência do indivíduo, habilidades e funcionamento neurológico. Para se compreender como a leitura se processa, é preciso levar em conta aspectos fundamentais (emocionais, neurológicos, fisiológicos, intelectuais, sensoriais) assim como aspectos culturais, políticos e econômicos. Sabemos que a leitura é a correspondência entre os sons e os sinais gráficos, através da decifração de códigos e compreensão de conceitos e idéias e que corre lentamente e depende de circunstancias da vida da criança, determinando o sucesso ou o fracasso na aprendizagem. Weiss (1983) vê a aprendizagem da leitura em três estádios de aprendizagem, os quais segundo o autor se dividem em: 1-Primeiro estádio que vai dos 2 aos 5-6 anos, 2-Segundo estádio que se inicia por volta dos 6 – 7 anos, e 3-Terceiro estádio que se inicia por volta dos 7 anos de idade. No primeiro estádio a criança aprende naturalmente com a família e do contacto natural com jornais, livros e revistas, através de um comportamento imitativo, ou seja, não lhe é dado nenhum modelo, porém o modelo existe e como tal vai ser adquirido. 53 Não é raro observarmos crianças entre os 3 e os 5 anos a imitar certas ações do adulto, assim se o adulto lê impacientemente um jornal ou um livro, é natural para a criança imitar. Porém esta imitação implica também da parte da criança o desejo de saber mais, e como tal passa a questionar o adulto sobre as letras que estão impressas aqui ou ali. Através deste processo a criança vai aprender só por si uma série de letras, e inclusive alguns fonemas. Trata-se de certa forma de uma aprendizagem natural, ela aprende com aquilo que está à sua volta, porém só este tipo de aprendizagem que poderemos considerar inata não chega. Durante este estádio a criança vai adquirindo as noções das primeiras letras, descobrindo tal como refere Rebelo (1993, 46) citando (Ferrero e Teberosky, 1984) que a criança vai gradualmente, descobrir "uma relação entre o que eles dizem e o que está escrito nos livros e Á partir daqui começa a aquisição do sinal gráfico, ou seja, começa a escrever o seu nome, e o nome de alguns objetos", tentando ligar "o som às palavras que os representam." Numa segunda etapa que tem lugar entre os 6 - 7 anos a criança começa a ler, identificando o significado de cada palavra uma por uma. Cada letra tem seu real significado e cada palavra, passa a ter uma sonorização plena de sentido. Para ler, a criança precisa passar por etapas no processo de aquisição da leitura, que são: 54 1- a identificação dos símbolos impressos (pela visão), 2-a relação grafo-fonética e 3-compreensão e análise critica do que foi lido. A escrita é observada como dependente da leitura: se o indivíduo sabe ler deve saber escrever. Segundo Rebelo (1993, 48) "a escrita é um processo inverso" ao da leitura e "consiste em codificar a linguagem por meio de sinais gráficos." Porém não é somente este aspecto que está em causa, pois que quando se avalia um aluno, este é avaliado através de processos escritos. Para Rebelo (1993): "As fases da aprendizagem da escrita constam, em linhas gerais, os mesmos elementos que nas de leitura: ordenamento e junção de letras para formar palavras, relevância dada à acentuação e junção de letras para formar palavras, relevância dada à acentuação e pontuação, aplicação de regras ortográficas." Trata-se assim de certa forma de por em atuação o mecanismo contrário à leitura, porém acresce que a criança terá de reproduzir a idéia que tem por escrito. Logo, a escrita é a representação da linguagem oral, passando por várias etapas, que tem relação direta com a expressividade e características pessoais de cada indivíduo: 1-O desenvolvimento da linguagem oral (sons articulados corretamente), 2-O desenvolvimento das habilidades espaço temporais (respeitar a sequência dos sons e sua estrutura no espaço), 55 3-O desenvolvimento da coordenação visomotora (movimentos coordenados de mãos, braços e olhos), 4-O desenvolvimento da memória visual e auditiva (discriminar os sons e reconhecê-los) e 5- Motivação para aprender. ÁREAS CEREBRAIS ENVOLVIDAS: Figura 11- Áreas cerebrais ativadas na leitura e escrita Slide cedido pela Fª Lana Bianchi, do Serviço de Fonoaudiologia do Hospital da Base/SP - na palestra “Como o cérebro aprender na deficiência mental” da Faculdade de Medicina de São José do Rio Pretoano:2009 Figura 12-Outra visão das áreas cerebrais envolvidas na leitura e escrita Slide cedido pela Fª Lana Bianchi, do Serviço de Fonoaudiologia do Hospital da Base/SP - na palestra “Como o cérebro aprender na deficiência mental” da Faculdade de Medicina de São José do Rio Pretoano:2009 56 Falar em processamento de leitura nos remete á dislexia e de acordo com as teorias de Sallly Shaywitz e colaboradores (1998), iremos analisar mais detalhadamente o funcionamento do cérebro no processo específico de leitura e referenciando as disfunções existentes em crianças com dislexia, completando a teoria de Myklebust,, que se refere ao funcionamento do cérebro como um todo, não podendo isolar a linguagem, fala e escrita. Estes autores identificaram três áreas no hemisfério esquerdo, que desempenham funções primordiais no processo de leitura: o girus inferior frontal, a área parietal-temporal, e a área occipital-temporal. A região inferior frontal é a área da linguagem oral. É a zona onde se processa a vocalização e articulação das palavras, onde se inicia a análise dos fonemas. A sub vocalização ajuda a leitura fornecendo um modelo oral das palavras. Esta zona está de uma forma especial ativa nos leitores disléxicos e nos que estão a iniciar a leitura. A região parietal-temporal é a área onde se faz a análise das palavras, realiza o processamento visual da forma das letras, a correspondência grafofonética a segmentação e a fusão silábica e fonética. Esta leitura analítica processa-se lentamente, é a via utilizada pelos leitores iniciantes e disléxicos. A região occipital–temporal é a área onde se processa o reconhecimento visual das palavras, onde se realiza a leitura rápida e automática. É a zona para onde convergem todas as informações dos diferentes sistemas sensoriais, onde se encontra armazenado o “modelo neurológico da palavra”. Este modelo contém a informação relevante sobre 57 cada palavra, integra a ortografia “como parece”, a pronúncia “como soa”, o significado, o que quer dizer. Quanto mais automaticamente for feita a ativação desta área, mais eficiente se torna o processo da leitura. Os bons leitores utilizam este percurso rápido e automático para ler as palavras. Ativam intensamente os sistemas neurológicos que envolvem a região parietal-temporal e a occipital-temporal conseguindo ler as palavras instantaneamente. Os leitores disléxicos utilizam um percurso lento e analítico para descodificar as palavras. Ativam mais frequentemente o girus inferior frontal, onde vocalizam as palavras, e a zona parietal-temporal, onde segmentam as palavras em sílabas e em fonemas, fazendo desta forma a tradução grafofonética, a fusão fonética e as fusões silábicas até aceder ao significado. A leitura torna-se um grande esforço para elas, pois toda a palavra que ela lê aparenta ser nova e desconhecida. Devemos entender a que “O processo do pensamento que é o essencial da sua criatividade é também a base de todas as dificuldades que têm com a linguagem falada e escrita. O cérebro de algumas pessoas é diferente e que aprendem e processam informação de uma maneira diferente das outras pessoas “(Davis, 1994). Competem dificuldades de a nós, profissionais aprendizagem, tenta envolvidos mudar com crianças mentalidades e com práticas pedagógicas, de forma a permitirmos que estas crianças desenvolvam ao máximo as suas potencialidades fazendo deles cidadãos ativos, participantes e 58 intervenientes numa sociedade cada vez mais exigente e necessitada de “gênios”. “Quanto mais compreendermos o cérebro, mais capazes seremos de delinear estratégias compatíveis com o modo como ele aprende melhor” (Wolfe, Patrícia, 2004). ARQUITETURA DA LEITURA: Alguns pesquisadores têm atribuído ao processamento especifico da linguagem o problema da dificuldade na aquisição e no desenvolvimento da leitura. Uma das áreas mais relacionadas a essa atividade é o córtex temporoparietal, que recebe projeções não somente limitadas as informações visuais e auditivas O giro temporal superior posterior (área de Wernicke) tem sido associado com funções da linguagem que envolve a compreensão (área de re-cognição auditiva da palavra) Já o parietal inferior, assim como o giro supramarginal e o giro angular, tem sido associado á escrita e a compreensão da linguagem falada. Em 1892, Dejerine propôs que o giro angular também fosse considerado a “área da escrita”. O giro frontal inferior, incluindo a área de Broca e o córtex pré fontal na sua poção dorsolateral, estaria associado com a organização, manipulação e produção da linguagem, assim como a gramática e a sintaxe. 59 Logo, as áreas temporoparietais seriam responsáveis pela recepção da linguagem, e as frontais, pela expressão desta (Joseph, Noble, Éden, 2001) A leitura, segundo Ciasca(2007), envolve um intrincado processo, com componentes distintos, seguindo modelos diferenciados. A determinação de determinadas atividades mentais depende de componentes cognitivos envolvidos nas estratégias usadas durante a execução da tarefa e ainda o controle de condições que efetivamente modelam o comportamento. Figura13- Áreas de Brocá e Wernicke http://www.pneuro.com/publications/alzheimer/Memory%20and%20Alzheimer_files/image006.jp em 21/07/2010 A base desse processo, sob o ponto de vista neural abrange 5 fases: FASES REGIÕES ATIVADAS 1-Processamento visual da palavra Córtex temporal 2-Processamento ortográfico lexical Córtex frontal associado ao processamento Córtex parietal esquerdo (porção fonológico inferior) 60 3-Processamento fonológico lexical- Giro temporal posterior superior regiões perisssilvianas Ínsula esquerda Córtex frontal inferior 4-Processamento fonológico Occipitotemporal sublexical envolvendo vários tipos de Porção mesial do temporal tarefas incluindo representação visual Inferior e auditiva esquerdo 5-Processamento semântico Regiões temporais responsável pelo julgamento e a Regiões frontais do frontal no hemisfério generalização semântica usadas na palavra escrita Como vimos, o processo da linguagem é conceituado como uma série hierárquica de componentes, em que sistemas neurais altamente especializados modulam o processamento de elementos distintos que constituem a linguagem. Para falar uma palavra, é preciso que a pessoa lembre-se dos fonemas que constituem o seu léxico interno, analise-os e converta-os em palavra Para ler uma palavra, o processo é inverso: inicialmente fraciona-se a palavra em pequenas unidades fonêmicas, faz-se uma analise e comparação com seguimentos e som previamente armazenado e posteriormente reúne elementos de acordo com seu léxico interno, para finalmente lera palavra de forma completa. Como vimos, ler é um processo complexo (Ciasca, Cappelin, 1999) 61 Como nos mostra o esquema proposto por Shaywitz e colaboradores (1994), componentes e subcomponentes da leitura estão associados a diferentes regiões do cérebro e são seletivamente processados para identificar, classificar e armazenar a informação, até a emissão da palavra propriamente dita. Assim, a palavra seria identificada na região occipitotemporal, reconhecida na região parietotemporal e por fim processada fonologicamente no giro frontal inferior. Os caminhos da leitura Giro frontal inferior parietotemporal occipitotemporal Figura 14- Áreas de identificação de letras, reconhecimento e processamento fonológico ROTTA, Newra Tellecha em Transtornos da Aprendizagem: Abordagem Neurobiológica e Multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed,2006 pag 182 Nesse esquema percebemos que lemos tanto com os olhos como pelo ouvido: quando lemos com os olhos transformamos o estimulo visual em representação fonológica e esse processo é chamado de decodificação. 62 A leitura pelos “ouvidos” é obtida pela conversão do estimulo escrito em representação fonológica. Apesar de serem processos semelhantes, na verdade existem duas rotas de acesso: a primeira envolve o reconhecimento direto da palavra (inteira ou fragmentada em unidades – letras) e a segunda , quando a palavra passa pelo processamento da fala, envolvendo o sistema conceitual. Sistema conceitual Cria representações semânticas e pragmáticas de significado Imput(entrada) (estímulo escrito/ouvido) Sistema visual perceptivo Sistema léxico Sistema fonológico de output (saída) Correspondência grafema/fonema Sistema de reconhecimento letra/palavra Sistema articulatório de output Output (leitura) Figura15- Componentes envolvidos no reconhecimento da palavra por duas rotas ROTTA, Newra Tellecha em Transtornos da Aprendizagem: Abordagem Neurobiológica e Multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed,2006 pag 183 Assim aprender a ler também é um ato isolado, porque quando a criança aprende a ler, está simultaneamente aprendendo a soletrar e a escrever, ou seja, processando informações não só em nível visual e auditivo, 63 como também atencional, seqüencial, conceitual e de fala, em diferentes fases do desenvolvimento. Quando existe falha nesse processo, por motivos variados, temos os chamados transtornos de aprendizagem, acompanhados ou não de disfunção neurológica, sendo o mais comum, a dislexia. O ato de ler envolve inúmeras associações entre símbolos visuais, auditivos e significados. Essa atividade, que se automatiza rapidamente, é uma das atividades mais difíceis realizadas pelo ser humano, afirma Ciasca (2007). Ela envolve processos anatômicos, estruturais ultra-estruturais, genéticos lingüísticos e neuropsicológicos altamente complexos. Segundo Zorzi (1999), o processo de aquisição da leitura é individual, variável e depende de fatores como: idade, maturação, motivação, experiências culturais, integridade do SNC, do SNP e do desenvolvimento global. Quando pensamos em causas para as dificuldades da leitura e consequentemente da escrita, associamos a diversos fatores: 1-deficiências visuais e/ou auditivas 2-dificuldades na fala e linguagem 3-fatores genéticos 4-fatores emocionais 5-fatores familiares 6-atitudes pouco estimulantes dos professores e 7-inadequação de programas escolares 8-fatores sociais 64 É surpreendente o fato de a aprendizagem ocorrer sem qualquer problema para a maioria das pessoas, considerando-se que para ler e escrever deve-se simultaneamente: 1-Ter atenção dirigida ás marcas impressas e controlar os movimentos do olho na página 2-Reconhecer os sons associados ás letras 3-Entender as palavras e a gramática 4-Construir idéias e imagens 5-Compara idéias novas com as já adquiridas e 6-Armazenar idéias na memória Segundo Capelline e Salgado (2003), esse processamento mental requer uma cadeia rica de células nervosas intactas, que se conectam em rede com determinados centros do cérebro, como a visão, da fala, e da memória, implicando a integridade funcional de dois sistemas posteriores principais do hemisfério esquerdo (circuito dorsal (temporoparietal) e circuito ventral (occipitotemporal). Quando um desses sistemas posteriores é interrompido, uma pessoa pode ter problemas em qualquer das tarefas que envolvem o ato de ler. Aprender a ler e escrever será uma tarefa que irá consumir muita energia dos alunos que iniciam o primeiro ciclo do Ensino Fundamental. Mas ensiná-los a realizar essa façanha de uma maneira gostosa e mais fácil deve ser o desafio dos educadores e profissionais envolvidos com essa criança com dificuldades para aprender e dos materiais didáticos. 65 CAPITULO IV MARCADORES FUNDAMENTAIS PARA O APRENDIZADO DA LEITURA E ESCRITA Muito se tem pesquisado e no meio acadêmico, questiona-se se há ou não marcadores que possibilitariam uma intervenção precoce, evitando que nossas crianças tivessem dificuldades no aprendizado da leitura e escrita. O aprender, sabemos, é algo único, e por isso devemos valorizar as pequenas e altas habilidades de cada indivíduo, pois deste modo, precocemente perceberemos aqueles com mais habilidades para raciocínio, cálculo, e aqueles com habilidades mais linguísticas e assim, facilitar sua integração no contexto pedagógico formal. Como sabemos, existem habilidades que facilitam a aquisição da leitura e escrita: são os chamados processos cognitivos Esses processos cognitivos formam uma base, importantíssima para que o processo de aquisição da leitura e escrita seja adequado em cada indivíduo: 1- Conhecimento de (leitura) e (nome) dessas letras: É importante que esse conhecimento não venha de uma sequência automática de memória do abecedário e sim de conhecimento reconhecimento de grafemas e o nome que esses grafemas possuem. 2- Consciência Fonológica: e 66 Envolve a habilidade em que a criança aprende a ouvir com o Ouvido Neurológico, associando sons e letras e com essas transposições entre os sinais auditivos corresponder-se a símbolos gráficos, oriundos das unidades articulatórios da fala. 3-Aptidões da Fala e Linguagem: Direciona a criança para dentro de um processo de aprendizagem formal, e através dele podemos entender que, quando uma criança está na escola, ela já adquiriu a fala (oralidade), já possui uma estrutura linguistica oral, e a partir deste processo adquirido irá construir um novo processo: a escrita, e em conseqüência, a leitura. Quando esta criança não tem uma boa estrutura de linguagem oral que comporte uma estrutura textual, dificilmente conseguirá fazê-lo dentro de uma estrutura na escrita. Quando apresenta uma oralidade contaminada por substituições e omissões, essas trocas aparecerão no processo de aquisição da escrita, é necessário verificar suas estruturas anteriores (pré-requisitos) para que a possibilidade de transpor para leitura e escrita esteja adequada. 4-Atenção Sustentada: Nascemos com uma atenção automática que é uma resposta aos estímulos e estes provocam essa atenção para uma resposta a estímulos fortes, com grande intensidade, e estes fazem seus registros de automatismo. É essa atenção que persiste na criança durante o aprendizado informal. Para integrarmos ao aprendizado formal (pedagógico) precisamos da extensão desta atenção voluntária, escolher o que queremos focar, saber 67 relacionar com a situação e contexto escolar. Mais do que isso, se faz necessário uma sustentação para este foco, que é uma habilidade que depende da maturação do lobo frontal, de uma maturação neurológica, que depende de muito treino, adaptação, adequação, e intensa participação da criança. Esta atenção sustentada é que mantém as zonas de associação com a atenção auditiva para o aprendizado, possibilitando a retenção, ou seja, a consolidação do conhecimento. Deste modo podemos compreender a necessidade e importância do treino dessa habilidade (talvez a que mais necessite de treino) na primeira infância (no ensino infantil pré-requisitos ligados a fase sensório-motor). 5-Memória Operacional Esta memória é que nos conduz a memória de trabalho, ou seja, é necessário muito treino com a memória operacional no período da aprendizagem informal para que através das habilidades exercitadas da criança, ela possa seguir para aprendizagem estrutural e assimilar o significado e significante dos símbolos sonoros. Essa correspondência se transformará em imagens mentais abstratas e concretas, em nomeação, relações de fatos com sons para que efetive as relações de oralidade e imagens (codificar e decodificar), estabelecendo significado ao que se aprende. Neste processo complexo, a maturação neurológica, as zonas de aprendizado e as relações nas áreas frontotemporais são essenciais: a memória auditiva de curto prazo relacionando-se com muitas associações para 68 que a memória de longo prazo efetive o conhecimento e dê seguimento ás próximas etapas linguisticas. Aprendizado: marcadores do ensino informal para o ensino formal (pedagógico) A criança, na sua maturação neurológica e no processo evolutivo, de posse do conhecimento informal e o jogo de brincar - APRENDENDO, deverá ter posse, no seu interior as seguintes habilidades: 1) Habilidades Individuais (genética) 2) Análise – Fonológica 3) Síntese – fonológica 4) Codificação – Decodificação adequada para memória de trabalho e memória operacional. 5) Nomeação isolada 6) Nomeação serial 7) Atenção global preservada 8) Funções Corticais Preservadas (sem lesões aparentes). 9) Ambiente estimulador e adequado emocionalmente. (10) Oportunidades para o Desenvolvimento neuropsicológico normal. Requisitos para passagem do ensino informal para ensino formal (Alfabetização). Na criança padrão (normalidade), espera-se que já tenha inserido no seu interior cortical algumas habilidades para desenvolver novas etapas para 69 maturação, progressão e superioridade linguistica (metalinguagem), e por fim desenvolver suas habilidades com os conceitos adquiridos ao longo da infância e adolescência. Assim, ela terá: velocidade sináptica, rapidez para hipóteses, realizará muitos insights e facilidade com nomeação isolada e serial de objetos, cores, formas, números, letras (funções básicas intrínsecas), De posse desses facilitadores, conseguirá manter um processo contínuo, uma linha espacial (psicomotricidade) que irá da direita para esquerda, e de cima para baixo. Assim, irá relacionando noções viso-espaciais, dentro de contexto sensitivo-motor, com desempenho de todas as áreas (as camadas neurológicas) e com um complexo aumento de sinapses. Do mesmo modo essas sinapses entre os Hemisférios Direito e Esquerdo, onde os lobos frontoparietoocciptal e temporal assumem muitas funções, entre elas, a memória do aprendizado formal onde o exercício repetido com prazer e ritmo é adquirido e não esquecido, possibilitará continuar as suas relações simbólicas para expansão desse conhecimento. Do Conhecimento Adquirido: Como suspeitar de dificuldades na aquisição de leitura e escrita? Indicadores podem ser observados e devemos estar atentos quando verificarmos nesse processo de aprendizagem os itens abaixo: 1) Dificuldade na velocidade de nomear objetos, cores, números, formas, letras 2) Dificuldade na consciência Fonológica, não consegue criar hipóteses 70 sobre sua oralidade e a dos outros. 3) Dificuldade na extensão da memória sustentada (curto e longo prazo) 4) Dificuldade na atenção sustentada 5) Desorganização praxi-motora 6) Inabilidade linguística (não consegue rimas, soletração, parlendas, etc...) Sabemos que o aprendizado informal ocorre pela relação entre os fatores: o biológico, o cognitivo e o comportamental e o desenvolvimento da criança, baseado nestes fatores, pode relacionar-se de maneira intrínseca (depende dela) e extrínseca (do ambiente). Nos fatores intrínsecos a genética, o neurobiológico, o processamento de linguagem, o processamento auditivo, os aspectos psicoemocionais, e até os transtornos de atenção com ou sem hiperatividade (TDAH) podem levar ao sucesso escolar, e ao contrário, quando algum ou o somatório de alguns destes itens levam ao desvio do aprendizado e leva-nos ao fracasso escolar. Os fatores extrínsecos, que podem ser de ordem social, ambiental, cultural ou religiosa, também interferem positiva ou negativamente no aprendizado informal até atingir o aprendizado formal (alfabetização) e como exemplo podemos citar as famílias inadequadas, as escolas com poucos estímulos para aprendizagem, a baixa expectativa dessa família por parte da ascensão do filho na escola e outros. 71 TRANSTONOS DE APRENDIZAGEM DECORRENTES DE FALHAS NO PROCESSAMENTO. DA LEITURA E ESCRITA. Como entender: os DIS? Dislexia, Disortografia, Disgrafia, Discalculia... Para cada hipótese, temos um entendimento neurológico e evolutivo de cada expressão e seu respectivo significado: Dislexia: É a incapacidade de processar o conceito de codificar e decodificar a unidade sonora em unidades gráficas, (forma de grafemas) com capacidade cognitiva preservada (nível de inteligência normal). Os disléxicos têm capacidade para aprender todas as funções sociais e até altas habilidades, desde que, bem diagnosticado, seja trabalhado em suas áreas corticais favoráveis e com estratégias e intervenções adequadas. Essas intervenções devem valorizar suas funções viso-motoras, imagens com significado e significante associados a ritmo e memória visual auxiliando sua memória auditiva, para que desenvolva a capacidade por outras rotas (sabido que sua rota fonológica é prejudicada). Disortografia: Definimos como disortografia, os erros na transformação do som no símbolo gráfico que lhe corresponde. Nem sempre a disortografia faz parte da dislexia e pode surgir nos transtornos ligados á má alfabetização, na dificuldade de atenção sustentada aos sons, na memória auditiva de curto 72 prazo (Déficit de Atenção) e também nas dificuldades visuais que podem interferir na escrita. Quando não estão co-morbidas à Dislexia, o prognóstico é melhor. Disgrafia: Não se pode confundi-la ou compará-la com disortografia, pois a disgrafia tem características próprias. A criança com disgrafia apresenta uma escrita ilegível decorrente de dificuldades no ato motor de escrever, alterações na coordenação motora fina, ritmo, e velocidade do movimento, sugerindo um transtorno praxico motor (psicomotricidade fina e visual alterada). Discalculia: A Discalculia do desenvolvimento é uma dificuldade em aprender matemática, com falhas para adquirir adequada proficiência neste domínio cognitivo, a despeito de inteligência normal, oportunidade escolar, estabilidade emocional e motivação. Não é causada por nenhuma deficiência mental, déficits auditivos e nem pela má escolarização. As crianças que apresentam esse tipo de dificuldade realmente não conseguem entender o que está sendo pedido nos problemas propostos pela professora. Não conseguem descobrir a operação pedida no problema: somar, diminuir, multiplicar ou dividir. Além disso, é muito difícil para elas entenderem as relações de quantidade, ordem, espaço, distância e tamanho. Aproximadamente de 3 a 6% das crianças em idade escolar tem discalculia do desenvolvimento (dados da Academia Americana de Psiquiatria). 73 De um modo geral, o prognóstico das crianças com discalculia é melhor do que as crianças com dislexia, ou pelo menos, elas tem sucesso em outras atividades que não dependam desta área de calculo numérico. Todo trabalho escolar, da vida acadêmica de uma criança deve ser investigado precocemente, desde seus primeiros momentos em berçários, creches, escolas infantis, pois a detecção de falhas ou inabilidade no seu D.N.P.M. (desenvolvimento neuropsicomotor) será precioso para atendê-la melhor, até seu inicio ao ensino formal, respeitando seu ritmo, mas oferecendo-lhe oportunidade de uma boa intervenção, caso descubra-se precocemente esta falha ou incapacidade. O pré-diagnóstico no âmbito escolar é excelente para o aluno, para a escola, para os pais e a sociedade, onde não se atropela o desenvolvimento e nem permite más condutas com gastos desnecessários no futuro. Todos devem participar desse novo olhar: professores, direção de escola, pais, psicopedagogos, e outros profissionais envolvidos direta ou indiretamente na alfabetização. 74 CONCLUSÃO A neurociência da aprendizagem tem sido uma grande aliada da educação e esses novos conhecimentos em muito tem esclarecido caminhos antes desconhecidos das redes e tramas neurais no ato de aprender. Penetrar no cérebro, descobrir as rotas que levam á consolidação dos conhecimentos não é mais um mistério para nós, educadores e profissionais da área da saúde. Através de dados coletados durante a pesquisa bibliográfica, pode-se ter uma visão de como o cérebro aprende e de como a leitura e escrita são processadas a nível neural. O conhecimento de que ter pré - requisitos básicos a esse processo são importantíssimos para entrada no ensino formal foram aqui mapeados. Sabemos que ato de ler é complexo e que envolve habilidades que ativam as sinapses, facilitam o disparo neural, excitando áreas responsáveis pela leitura e escrita. Ao professor de uma nova era de alunos plugados na informática e com uma gama enorme de estímulos que o meio ambiente proporciona, cabe estar capacitado e conectado em um mundo de redes e conexões neurais. Passamos a compreender, nesse estudo, as bases neurais do processamento da leitura e escrita, a importância da consciência fonológica, do processamento auditivo central e dos marcadores e sinais para a entrada no ensino formal. 75 Compreendemos como a palavra escrita é registrada na forma visual, no lobo occipital, ligada depois à forma auditiva, que fica no giro angular, área temporal, especificamente área de Wernick. Mapeamos as áreas cerebrais envolvidas no processamento fonológico, no processamento auditivo, ortográfico, semântico e sintático e entendemos a nível neural que o ato de ler envolve a área primária visual, o córtex estriado, giro angular esquerdo, lobo temporal esquerdo médio e superior, área de Broca, área motora primária e área frontal esquerda, em um processo delicado e de complexas redes neurais interligadas O ato de ler requer uma certa maturação das estruturas corticais. E para isso, se faz necessário que a criança seja exposta a um volume de palavras no sentido de vocabulário e tenha um certo desenvolvimento auditivo e fonológico para sua aprendizagem. Mas sabemos que as crianças não nascem com esses conhecimentos e que o vocabulário e conhecimento fonológico são aprendidos no período da educação informal e quanto mais alto for o nível cultural e social do meio, essa maturação será maior. Entendemos aqui a necessidade de respeitar o tempo de cada criança, para que possa, através de suas experiências e vivências, adquirir o conhecimento das letras, formas e números, de saber seriar, quantificar e poder assim entrar no mundo das letras e sons, marcadores esses, fundamentais nesse processo. E isso só é possível quando formamos um grupo de sinapses em múltiplas e diferentes conexões, que forma uma rede em áreas específicas, se 76 comunicando com outras áreas vizinhas, formando cadeias secundárias nesse processamento neural. Ler e escrever envolve todo o cérebro: áreas cerebrais importantíssimas, regiões voltadas á emoção, a visão, audição, a consolidação do conteúdo, ou seja, há uma interligação de varias áreas para que o aprendizado se faça.. Respeitar o tempo de cada criança, saber que o conhecimento é consolidado no hipocampo através de estratégias que possam favorecer as sinapses e formar novas redes neurais fortalecidas através da repetição, rotina e regularidade se faz mister, da mesma maneira que estar envolvido com o aprendizado (e aqui me refiro ao sistema límbico ativado no ato de aprender) é fundamental. Assim, de posse desses conhecimentos, da visão neural desse processamento, os profissionais da área da saúde e educação que lidam com as dificuldades no processamento da leitura e escrita, passam agora a ter um olhar diferenciado, pois tem a compreensão que cada cérebro aprende de uma maneira única e especial, e que através da vivencias e estímulos adequados disparamos uma gama de neurônios ávidos por novas conexões, para formarem redes neurais nesse processo neurobiológico do ato de ler e escrever. 77 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ALVAREZ, A. M. M. A.. CAETANO, A. L., & NASTAS, S. S. (1997). 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Porto Alegre, Artmed, 2003 80 INDICE FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTO 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I 10 CAPITULO II 27 CAPITULO III 52 CAPITULO IV 65 CONCLUSÃO 74 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 80 ÍNDICE 81 81 FOLHA DE AVALIAÇÃO Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes Título da Monografia: Bases neurais envolvidas no processamento da Leitura e Escrita Autor: Vera Lucia de Siqueira Mietto Data da entrega: Avaliado por: Conceito: