UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UNIRIO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS (CCH) DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA (DEFIL) FACULDADE DE FILOSOFIA LISTA 05-A DE EXERCÍCIOS DE LÓGICA Rodolfo Petrônio A) Identifique as premissas e conclusões nos seguintes argumentos, colocando-os sob a forma de um silogismo típico, indicando a figura, o modo, e sua validade. Este exercício procura mesclar a identificação de argumentos com sua elaboração e teste de validade silogística. a. João não foi trabalhar esta manhã, porque vestia uma bermuda, e ele nunca veste uma bermuda para trabalhar. Nenhuma vez em que João vai trabalhar é uma vez em que João veste bermuda. Esta manhã é uma vez em que João veste bermuda. Esta manhã não é uma vez em que João vai trabalhar. Pd --- Md Sd --- Mn Sd --- Pd Silogismo da 2ª figura, modo EAE (CESARE), regras de distribuição OK, silogismo válido. b. Deve haver uma greve no banco, pois há um piquete na porta, e os piquetes só estão presentes durante as greves. Toda vez em que há piquete na porta do banco é uma vez em que há greve. Ora, esta vez é uma vez em que há piquete na porta do banco. Portanto, esta vez é uma vez em que há greve. Md --- Pn Sd --- Mn Sd --- Pn Silogismo da 1ª figura, modo AAA (BARBARA), regras de distribuição OK, silogismo válido. c. Este silogismo é válido, pois todos os silogismos inválidos cometem um processo ilícito e este silogismo não comete um processo ilícito. Todos os silogismos não válidos são silogismos que cometem um processo ilícito. Este silogismo não é um silogismo que comete um processo ilícito. Este silogismo não é um silogismo não válido (=Este silogismo é um silogismo válido). Pd --- Mn Sd --- Md Sd --- Pd Silogismo da 2ª figura, modo AEE (CAMESTRES), regras de distribuição OK, silogismo válido. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UNIRIO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS (CCH) DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA (DEFIL) FACULDADE DE FILOSOFIA d. Nenhum dos presentes está sem trabalho. Nenhum associado está ausente. Portanto, todos os associados estão empregados. Todos os presentes estão empregados. Todos os associados estão presentes. Todos os associados estão empregados. Md --- Pn Sd --- Mn Sd --- Pn Silogismo da 1ª figura, modo AAA (BARBARA), regras de distribuição OK, silogismo válido. e. Parece que a misericórdia não pode ser atribuída a Deus. Pois a misericórdia é uma espécie de compaixão, como diz Damasceno. Mas não existe compaixão em Deus; e, portanto, não há misericórdia em Deus (TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica). Nenhuma compaixão é atribuída a Deus. Toda misericórdia é compaixão. Nenhuma misericórdia é atribuída a Deus. Md --- Pn Sd --- Mn Sd --- Pn Silogismo da 1ª figura, modo EAE (CELARENT), regras de distribuição OK, silogismo válido. f. Portanto, como a moral tem influência nas ações e afeições, segue-se que ela não se origina da razão; e isso porque a razão, por si só, como já demonstramos, nunca pode ter tal influência (DAVID HUME, Tratado da Natureza Humana). Nenhuma coisa com influência nas ações e afeições é algo que tem origem na razão. Ora, toda moral é coisa com influência nas ações e afeições. Nenhuma moral é algo que tem origem na razão. Md --- Pd Sd --- Mn Sd --- Pd Silogismo da 1ª figura, modo EAE (CELARENT), regras de distribuição OK, silogismo válido. B) Identifique as premissas e conclusões nos seguintes argumentos (podem conter mais de um argumento). Não é necessário apresentá-los sob a forma silogística. a. É ilógico raciocinar assim: “Sou mais rico do que tu, portanto, sou superior a ti”. “Sou mais eloqüente do que tu, portanto, sou superior a ti”. É mais lógico raciocinar: “Sou mais rico do que tu, portanto, minha propriedade é superior à tua”. “Sou mais eloqüente do que tu, portanto, meu discurso é superior ao teu”. As pessoas são algo mais do que propriedade ou fala (EPITETO, Discursos). UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UNIRIO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS (CCH) DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA (DEFIL) FACULDADE DE FILOSOFIA P1: Porque as pessoas são mais do que propriedade ou fala, C1: É ilógico raciocinar: “Sou mais rico do que tu, portanto, sou superior a ti”. “Sou mais eloquente do que tu, portanto, sou superior a ti”. C2: É lógico raciocinar: “Sou mais rico do que tu, portanto, minha propriedade é superior à tua”. “Sou mais eloquente do que tu, portanto, meu discurso é superior ao teu”. (Cada uma das expressões entre aspas é também ela mesma um argumento dentro do argumento geral, com as premissas começando por “Sou mais...” e as conclusões seguindo-se imediatamente às expressões “portanto”). b. Ainda que exista um embusteiro, sumamente poderoso, sumamente ardiloso, que empregue todos os seus esforços para manter-me perpetuamente ludibriado, não pode subsistir dúvida alguma de que existo, uma vez que ele me ludibria; e por mais que me engane a seu bel-prazer, jamais conseguirá que eu não exista, enquanto eu continuar pensando que sou alguma coisa. Então, uma vez ponderados escrupulosamente todos os argumentos, tenho de concluir que, sempre que digo ou concebo em meu espírito Eu sou, logo existo, esta proposição tem que ser necessariamente verdadeira (DESCARTES, Meditações Metafísicas). P1 (condicional): Se um embusteiro sumamente poderoso tenta me ludibriar, então para que ele me mantenha ludibriado eu penso. P2: Um embusteiro me ludibria. C1: Eu penso. P3: (condicional) Se eu penso que sou alguma coisa, então eu existo. P4: Eu penso que sou algo. C2: Eu existo. Cfinal (A verdade de C1 condiciona a verdade de C2): Assim, a proposição “Eu penso, então eu existo” é verdadeira. Agosto de 2015.