Televisão, obesidade e valores desprezíveis (parte 3) Ramiro Marques Saber se uma longa e continuada exposição aos jogos de vídeo e aos conteúdos televisivos violentos e cruéis tem consequências negativas para a mente das crianças, nomeadamente ao nível da agressão, falta de sensibilidade e medo, constitui um objectivo muito importante. Se conseguirmos provar essa associação, as consequências são enormes: teremos de limitar, reduzir e controlar o acesso das crianças e jovens aos jogos de vídeo e aos conteúdos televisivos que veiculam narrativas e mensagens de violência gratuita e de extrema crueldade. Houston et al. Citado em Murray (2001) concluiu que a exposição prolongada a cenas de violência, pode potenciar o uso de comportamentos violentos e a preferência pelo uso de meios violentos como forma de resolver conflitos. Thomas et al., citado em Murray (2001) concluiu que a exposição prolongada à violência cria insensibilidade face à violência e aumenta a tolerância ao uso de meios violentos para resolver conflitos. Gerbner e tal., citado em Murray (2001) concluiu que a exposição prolongada à violência aumenta a probabilidade de sobrestimação dos riscos de vitimização. Murray (2001) realizou um estudo com 8 sujeitos (5 rapazes e 3 raparigas de 8 a 13 anos de idade), que consistiu na utilização da ressonância magnética para mapear o cérebro das crianças enquanto viam vídeos violentos e vídeos não violentos. O estudo concluiu que tanto a exposição a vídeos violentos como a não violentos activou regiões do cérebro responsáveis pelos processo de visão e audição. Notaram-se diferenças na activação de regiões do cérebro durante o visionamento do vídeo violento. O visionamento de vídeos violentos activou o hemisfério direito, sugerindo o processamento emocional da violência. Estes estudos mostram que há efeitos negativos numa exposição prolongada das crianças a conteúdos extremamente violentos, quer eles se apresentem por intermédio da televisão, quer dos jogos de vídeo. Nem todas as crianças reagem da mesma forma à exposição prolongada à violência. Enquanto numas os efeitos negativos ao nível da falta de sensibilidade, tolerância à violência, vitimização e medo são imediatos e duradouros, noutras crianças, esses efeitos não são tão evidentes ou não deixam marcas tão visíveis. Não podemos afirmar que existe uma relação directa entre exposição prolongada a conteúdos televisivos violentos e comportamentos violentos, embora grande parte dos adolescentes que cometeram massacres em escolas fossem aficionados de jogos de vídeo e de filmes violentos e cruéis. Os casos dos massacres de Columbine e de Virgínia Tech (para saber mais, consultar os meus artigos em http://www.eses.pt/usr/ramiro/index.htm, no link “ética prática”) são prova disso. Aquilo que sabemos sobre os efeitos da exposição a conteúdos de extrema violência, leva-nos a concluir que o assunto tem de ser encarado com seriedade e preocupação. Aos pais, cabe a magna tarefa de impedir o acesso dos seus filhos a jogos de vídeo e a programas de televisão violentos e cruéis, controlando o uso que eles fazem da televisão e das consolas. Aos Governos, cabe a realização de campanhas de informação e sensibilização, à semelhança das que se fazem contra o consumo do tabaco. Bibliografia Murray, J. (2001). TV violence and brainmapping in children. Psichiatric Times, Outubro, Vol. XVIII, número 10 Sylwester, Robert. “The Effects of Electronic Media On A Developing Brain”. Media Literacy Review. (1997) 1-6. Webgrafia www.sosparents.org/Brain%20Study.htm www.medicine.indiana.edu/news_releases/archieve_02/violent_ games02.html www.peterborough.rc.btinternet.co.uk/forf.htm http://www.enchantedlearning.com/subjects/anatomy/brain/Str ucture.shtml http://www.eses.pt/usr/ramiro/index.htm