NEOPLASIA DE CORPO E CAUDA DE PÂNCREAS Prof. Dr. Francisco R. de Carvalho Neto Disciplina de cirurgia geral 2 INTRODUÇÃO - TUMORES EXÓCRINOS CÂNCER DO PÂNCREAS EXÓCRINO 25.000-30.000 casos/ano nos EUA 110 tumor mais freqüente 9 casos novos:100.000 habitantes/ano 4a causa de morte por câncer ( pulmão, colorretal, mama, próstata) 90% morrem no primeiro ano após o diagnóstico 80% ocorrem entre 60 e 80 anos; 2% em pessoas com menos de 40 anos 3 CÂNCER DO PÂNCREAS EXÓCRINO 5% das mortes por câncer; sobrevida ↑ de 1 para 6% desde 1960 30% dos cânceres pancreáticos são submetidos à ressecção, mas apenas 1/3 destes apresenta um tumor potencialmente curável 10% dos cânceres pancreáticos terão expectativa de cura pela cirurgia 4 FATORES PREDISPONENTES > negros que em brancos. > fumantes ( 2 a 3x). homens : mulheres( 2:1 ) Provável relação com Diabetes Mellitus ( 20% dos pacientes com neoplasia de pâncreas têm Diabetes) Idade avançada ( 7 e 8 décadas) 5 FATORES PREDISPONENTES Possivelmente ligado à história de pancreatite crônica ( 6% nos pacientes com tumor de pâncreas ) e ingesta com alto teor de gordura Pancreatite hereditária ( 40% de chance de ocorrer câncer aos 70 anos) Pequena porcentagem de forma hereditária familiar de câncer pancreático. Tabagismo Exposição ocupacional a carcinógenos 6 EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO FATORES RISCO AUMENTADO RISCO POSSÍ POSSÍVEL RISCO NÃO COMPROVADO DEMOGRÁ DEMOGRÁFI COS IDADE AVANÇ AVANÇADA GEOGRAFIA CONDIÇ CONDIÇÃO SOCIO ECONOMICA RAÇ RAÇA NEGRA RISCO DIMINUIDO CONDIÇ CONDIÇÃO MIGRANTE SEXO MASCULINO ETNIA JUDAICA AMBIENTAIS TABACO DIETA ALCOOL PROFISSÃO CAFÉ CAFÉ IRRADIAÇ IRRADIAÇÃO 7 EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO FATORES RISCO AUMENTADO RISCO POSSÍ POSSÍVEL RISCO NÃO COMPROVADO RISCO DIMINUIDO HOSPEDEIRO CCNPH (câncer colorretal sem polipose hereditá hereditária) DIABETES OPERAÇ OPERAÇÃO P/ ÚLCERA PÉPTICA TONSILECTONSILECTOMIA CANCER DE MAMA FAMILIAR PANCREATITE CRÔNICA COLECISTEC TOMIA DISTÚ DISTÚRBIOS ALÉ ALÉRGICOS PEUTZPEUTZ-JEGHERS TUMORES ENDÓ ENDÓCRINOS ATAXIAATAXIA-TELAN GIECTASIA FIBROSE CÍSTICA MMAF (s (sínd múltiplos melanomas e nevo atí atípico familiar) HORMÔNIOS SEXUAIS PANCREATITE HEREDITÁ HEREDITÁRIA ANEMIA PRENICIOSA 8 PATOLOGIA 80-90% dos tumores malignos são adenocarcinomas de células ductais. Variantes do adenocarcinoma ductal: mucinoso não cístico; com células anel de sinete; adenoescamoso; anaplásico; de célular gigantes; sarcomatóide Outros tipos de cânceres: carcinoma células acinares; pancreatoblastoma; cânceres não-epiteliais (leiomiossarcoma, plasmocitomas, lipossarcoma e linfomas) 9 PATOLOGIA 70% localizados na cabeça ou processo uncinado do pâncreas 15% no corpo e cauda do pâncreas 20% são difusos 10 PATOLOGIA METÁSTASES DOS ADENOCARCINOMAS DUCTAIS: - FÍGADO (80%) - PERITÔNEO (60%) - PULMÕES E PLEURA (50-70%) - GLANDULAS ADRENAIS (25%) 11 ESTADIO (AJCC- American Joint Commitee on Cancer ) TUMOR (T) - T is – câncer in situ - T1- limitado ao pâncreas até 2 cm - T2 – limitado ao pâncreas e maior do que 2 cm - T3- extende-se além do pâncreas, mas consideradas potencialmente ressecáveis por não envolverem o tronco celíaco ou a artéria mesentérica superior - T4 – lesões irressecáveis por acometerem artérias peripancreáticas críticas 12 ESTADIO LINFONODOS (L) - N0 – sem metástases em linfonodos - N1 – metástases em linfonodos METÁSTASES A DISTÂNCIA (M) - M0 – sem metástase a distância - M1 – metástase a distância 13 ESTADIO AJCC ESTAGIO 0 STATUS T T is STATUS N N0 STATUS M M0 IA T1 N0 M0 IB T2 N0 M0 II A T3 N0 M0 II B T1 N1 M0 T2 N1 M0 T3 N1 M0 III T4 Qualquer N M1 IV Qualquer T Qualquer N M1 14 GENÉTICA No câncer pancreático ocorrem 3 tipos de anormalidades genéticas: 1 – ativação de oncogenes promotores de crescimento 2 – mutações que podem resultar na inativação de genes supressores de tumor 3 – expressão excessiva de fatores de crescimento e/ou seus receptores 15 GENÉTICA As mutações do gene K-ras parecem ser o evento mais precoce da tumorigênese do câncer pancreático Mais de 70% dos cânceres de pâncreas tem cariótipos clonalmente anormais Perdas mais freqüentes nos cromossomos 18, 13, 12, 17 e 6. 16 GENÉTICA - Três genes supressores de tumor freqüentemente estão inativados: Gene P 16 do cromossomo 9p – inativado 95% dos cânceres pancreáticos - Gene P53 do cromossomo 17p – inativado em 75% dos cânceres pancreáticos - Gene DPC4 do cromossomo 18q – deleção em 30% e mutação em 20% 17 GENÉTICA Gene BRCA2 localizado no inativado em 7% de pâncreas (supressor CA mama), cromossomo 18q, esta dos cânceres esporádicos Mutações de ativação dos pontos nos codons 12 (principalmente), 13 ou 61 do oncogene K-ras ocorreu em + de 90% dos cânceres pancreáticos estudados. Mais comum em tabagista 18 GENÉTICA Síndromes clínicas associadas ao câncer pancreático: - CCNPH - Síndrome MMAF - Pancreatite hereditária - Síndrome ataxia-telangectasia - Síndrome de Peutz-Jeghers - Câncer de mama familiar 19 GENÉTICA Mesmo na ausência de uma síndrome de câncer pancreático, indivíduos com história familiar de câncer pancreático, especialmente aqueles com dois ou mais parentes em primeiro grau afetados, apresentam risco aumentado de desenvolver câncer pancreático 20 Quadro clínico Manifestações tardias e dependentes da localização tumoral Tumores de cabeça tem sintomas mais precoces e melhor prognóstico do que os de corpo e cauda do pâncreas Perda de peso, icterícia, prurido Dor no abdome superior; obstrução duodeno-jejunal Depressão, perda do apetite, sintomas dispépticos Tromboflebite migratória (Síndrome de Trousseau) / TVP 21 Exame físico Adenopatia supraclavicular ( gânglio de Virchow) esquerda Linfadenopatia periumbilical ( gânglios de irmã Maria José) Focos de metástases na pelve circundando a região periretal (prateleira de Blumer) INDICAM METÁSTASES A DISTÂNCIA 22 Exames laboratoriais Inicialmente normais Não existem marcadores tumorais séricos precisos e confiáveis Antígeno carboidrato 19-9 (CA 19-9). Como ponto de corte de 37 U/ml, o CA 19-9 tem sensibilidade de 86% e especificidade de 87%. Necessidade de marcador para diagnóstico precoce da doença 23 MARCADORES TUMORAIS O CA 19-9 é um carboidrato relacionado ao grupo sanguíneo Lewis. Cerca de 5% da população é Le (a-b-), ou seja, incapaz de expressar CA 19-9. A sensibilidade é variável com a localização do tumor: pâncreas 70-94%, vesícula biliar 60-79%, hepatocelular 30-50%, gástrico 4060% e colorretal 30-40%. 24 MARCADORES TUMORAIS Algumas doenças como cirrose hepática, pancreatite, colangite, doença inflamatória intestinal e doenças autoimunes podem elevar o CA 19-9, sem ultrapassar 120 U/ml. Entre doadores de sangue 99% tem CA 19-9 inferior a 37 U/ml. 25 MARCADORES TUMORAIS É útil no diagnóstico diferencial, avaliação prognóstica e monitoração terapêutica. Diagnóstico diferencial entre câncer de pâncreas e pancreatite: há aumento de CA 19-9 em cerca de 90% dos casos de câncer de pâncreas enquanto nas pancreatites crônicas de 4-10% e nas pancreatites agudas, 23% . 26 US Exame inicial Não invasivo, baixo custo US endoscópico – também permite biópsias e procedimentos 27 TC Exame preferencial para diagnóstico e estadiamento do câncer pancreático Lesão focal hipodensa Avaliação de invasão e trombose vascular Avaliação de adenomegalias e metástases Invasão de orgãos adjacentes (colon, estomago) Precisão de ressecabilidade de 50-75% PET scan 28 RESSONÂNCIA MAGNÉTICA Precisão semelhante a TC Sem contraste, maior custo, sem radiação Realiza a colangiorressonância e a angiorressonância 29 CPRE Elevada precisão (95-97% dos carcinomas pancreáticos origina-se no ducto pancreático) Morbidade 10% e mortalidade de até 1% Finalidade terapêutica Dúvidas diagnósticas 30 Biópsia dirigida Por TC ou US Complicações: hemorragia, fístula, abscesso, perfuração, disseminação tumoral Uma biópsia negativa não deve excluir a exploração e ressecção cirúrgica Pode ser utilizada em metástases no fígado e em adenomegalias subcutâneas 31 Laparoscopia Câncer de corpo e cauda tem 50% de metástases peritoneais não previstas nos exames de imagens, enquanto nos de cabeça é de 15 a 20 % 32 Fatores Prognósticos Diâmetro do tumor (> 2 cm) Linfonodos comprometidos margem ressecção Conteúdo de DNA das células neoplásicas (aneuplóidia) Invasão linfática e perineural Graduação histológica Experiência da equipe cirúrgica (> 5/ano) 33 Fatores Prognósticos Estadiamento clínico-patológico características biológicas do tumor genética molecular uso de terapia adjuvante no pós-operatório 34 35 Carcinoma do Corpo e Cauda do Pâncreas 30% dos carcinomas pancreáticos 50% são adenocarcinomas Tumores nesta localização crescem e atingem grandes dimensões antes do aparecimento dos sintomas, devido à localização retroperitoneal do pâncreas. 36 Carcinoma do Corpo e Cauda do Pâncreas Não causam icterícia e obstrução intestinal precoces Sintomas são perda de peso e dor em 90% dos casos. Menos de 10% dos pacientes têm icterícia. 37 38 Quadro clínico dos cânceres de corpo-cauda Perda ponderal (100%) Dor (87%) Astenia (43%) Náusea (45%) Anorexia (33%) Vômitos (37%) Icterícia (7%) Colúria (5%) Acolia fecal (6%) Prurido (4%) 39 Tratamento Ressecção cirúrgica corpo-caudal + esplenectomia “em bloc” Esplancnicectomia química intraoperatória Derivação biliar e gastrojejunal seletivas 40 Carcinoma do Corpo e Cauda do Pâncreas Taxa de ressecabilidade baixa (10%) Sobrevida média de 7 a 13 meses, quando ressecados Sobrevida de 10% em 5 anos 41 cistoadenoma de pâncreas Classificados por Campagno e Oertel (1978) em cistoadenoma seroso cistoadenoma mucinoso cistoadenocarcinoma 42 Neoplasias Benignas do Pâncreas Exócrino Cistoadenoma A maioria das lesões císticas do pâncreas consistem em pseudocistos pancreáticos. Os cistoadenomas constituem menos de 10% das lesões císticas do pâncreas. Predileção por mulheres de meia idade ou mais idosas. 43 Cistoadenoma É difícil diferenciar neoplasias císticas pancreáticas benignas das malignas, baseando-se em achados clínicos, radiológicos ou patológicos. Sintomas vagos: dor abdominal, sintomas de obstrução intestinal e, raramente, icterícia obstrutiva. 44 As duas formas mais comuns de tumores císticos são as neoplasias serosas e mucinosas. Os tumores serosos são quase sempre benignos, têm ACE negativo. Os mucinosos formam um grupo heterogêneo, com potencial variável de degeneração maligna, têm ACE positivo. 45 Neoplasias císticas mucinosas Cistoadenoma e cistoadenocarcinoma mucinoso 90% se localiza no corpo e cauda do pâncreas Mesmo as lesões benignas tem um potencial maligno Quase que exclusivo do sexo feminino (> 80%) Uni ou multiloculares Multiloculações, localização na cabeça do Pâncreas, projeções papilares e nódulos estromais estão relacionadas à malignidade. 46 Neoplasias císticas mucinosas 90% de ressecção Sobrevida de 29% em cinco anos Cistos não-neoplásicos: tem paredes e septos finos, ou eram microcísticos Cistos neoplásicos: parede espessadas, septos espessos ou tumores protusos para a luz. CEA e Ca 19-9 altos e contem células colunares 47 Neoplasias císticas serosas Inclui: cistoadenomas oligocísticos ou cistoadenoma seroso macrocístico; doença de von Hippel-Lindau e adenoma microcístico seroso. Localizam no corpo e cauda do pâncreas Quase exclusivo em mulheres Lesões em favo de mel 48 Cistoadenocarcinoma do Pâncreas Mulheres de 40 a 60 anos 2% das neoplasias pancreáticas exócrinas Massa cística no corpo e cauda do pâncreas, em associação com dor abdominal e lombar. TC: massa tumoral (≠ pseudocisto) associada a cistos 49 Cistoadenocarcinoma do Pâncreas São tumores revestidos com células colunares desordenadas associadas à produção de mucina e características papilares. Pode ser impossível distinguir, na laparotomia, o cistoadenocarcinoma maligno de um cisto adenoma benigno. Quando ressecado, sobrevida de 50% em 5 anos 50 Neoplasias císticas de pâncreas neoplasias intraductais produtoras de mucina - dor semelhante à pancreatite aguda por oclusão temporária dos ductos pancreáticos - prognóstico favorável - proliferação intraductal de células produtoras de mucina em arranjo papilar - pode ser adenoma, adenocarcinoma ou lesão limítrofe. - 1/3 dos tumores são malignos 51 neoplasias intraductais produtoras de mucina Aumento da freqüência com a melhora dos métodos diagnósticos 3% dos tumores exócrinos do pâncreas e 22% das neoplasias císticas do pâncreas Se comunicam com o sistema ductal ( ao contrário das neoplasias císticas mucinosas) Tratamento é a remoção cirúrgica 52 Neoplasias císticas serosas Von Hippel-Lindau lesões císticas são múltiplas podem envolver todo o pâncreas sem preferência pelo sexo feminino Neoplasia Epitelial Papilar e Cística do Pâncreas (tumor de Frantz) Apesar de maligna, grande potencial de cura quando diagnosticadas e completamente ressecadas Mais freqüente em mulheres jovens Sem localização preferencial. 53 Carcinoma de Células Acinares do Pâncreas 5-7 década de vida Se apresentam como grandes massas no corpo e cauda Sem predomínio de sexo 54 Carcinoma de Células Acinares do Pâncreas Diagnóstico tardio Dor e perda de peso Diagnóstico, avaliação quanto à ressecabilidade e tratamento semelhante ao adenocarcinoma de ducto pancreático 55 Neoplasia sólidas e papilares do pâncreas Predomínio sexo feminino, de 10 a 35 anos Localização predominante em corpo e cauda Alcançam grandes dimensões, com invasão local Potencialmente curáveis por ressecção 56 REFERÊNCIAS TRATADO DE CIRURGIA - SABISTON – 17 edição APARELHO DIGESTIVO- CLÍNICA E CIRURGIA. Júlio Coelho, 3 ed 57