435 J. Bras. Nefrol. 1996; 18(4): 435-437 J. B. L. Faria - Resumos de Artigos: Nefrologia Clínica Resumos de Artigos: Nefrologia Clínica José B. Lopes de Faria Reversible membranous nephropathy associated with the use of nonsteroidal anti-inflammatory drugs Radford Jr MG, Holley KE, Grande JP, Larson TS, Wagoner RD, Donadio JV, McCarthy JT JAMA. 1996; 276: 466-469 Objetivo Investigar a freqüência da glomerulopatia membranosa (GNM) associada ao uso de drogas antiinflamatórias não-hormonais (AINH) e identificar as características clínicas associadas. Tipo do estudo Estudo retrospectivo de revisão dos prontuários médicos. Local do estudo Dois centros médicos universitários. Pacientes Todos os pacientes com diagnóstico histopatológico de GNM em fases iniciais, estágio I ou II inicial, biopsiados entre janeiro 1975 e maio de 1995. Principais parâmetros analisados A síndrome nefrótica (SN) foi considerada associada ao uso de AINH se o paciente desenvolveu a SN enquanto em uso de AINH, se outras causas de GNM foram afastadas, e se houve rápida remissão da SN com a retirada da droga. Resultados De 125 pacientes identificados em fase inicial de GNM, 29 estavam em uso de AINHs quando apresentaram os sintomas de SN. Destes, 13 pacientes preencheram os critérios para o diagnóstico de GNM associada ao uso de AINH. Nenhum destes pacientes apresentava evidências de insuficiência renal ou proteinúria significante durante o período de seguimento, que variou entre 5 meses a 13 anos. Além das drogas as quais já se haviam descrito estarem associadas a GNM, diclofena (Cataflan® e Voltaren®), fenoprofeno (Bufemid®) e cetoprofeno (Profenid®), neste estudo foi demonstrado que o ibuprofeno (Motrin®), nabumetona, naproxeno (Naprosyn®) e tolmetin também estavam associados à GNM. Conclusão A SN secundária a GNM deveria ser reconhecida como uma reação idiossincrática a vários AINHs. Uma vez que a retirada da droga resulta, na maioria dos casos, em cura da SN sem alteração na função renal, o interrogatório sobre o uso de AINHs em pacientes com GNM deve ser obrigatório. Comentário A GNM é uma causa freqüente de SN em pacientes adultos. 1 Desde muito se reconhece que pelo menos 20% destes pacientes podem apresentar remissão espontânea. 1 A identificação dos indivíduos com prognóstico favorável é crucial, a fim de se evitar que os mesmos sejam submetidos a esquemas terapêuticos com corticosteróides e/ou drogas citostáticas, as quais apresentam importantes efeitos colaterais. O presente estudo de Radford Jr e cols. tem pelo menos duas implicações: a) A primeira para a J. Bras. Nefrol. 1996; 18(4): 435-437 436 J. B. L. Faria - Resumos de Artigos: Nefrologia Clínica prática clínica por demonstrar que o simples inter rog atório complementar, cuidadoso, de pacientes com SN por GNM, pode identificar uma parcela que, embora pequena, apresenta excelente prognóstico com a simples suspensão do AINH. b) A segunda científica, pois alerta que estudos que visam avaliar a eficácia de diferentes for mas de tratamento em pacientes com GNM, deveriam identificar e excluir do estudo os pacientes em uso de AINHs, uma vez que a suspensão destas drogas leva a remissão da SN, tendenciando a interpretação dos resultados. Referências 1. Donadio JV Jr, Torres Velosa VE, et al: Idiopathic membranous nephropathy: the natural history of untreated patients. Kidney Int. 1988; 33: 708-715 Microencapsulated genetically engineered live E. coli DH5 cells administered orally to maintain normal plasma urea level in uremic rats Prakash S, and Chang TMS Nature Med. 1996; 2: 883-887 Objetivo Desenvolver e testar um novo remoção de uréia em ratos urêmicos. método para Material e Métodos Através de técnica de engenharia genética, os autores obtiveram bactérias do gr upo Escherichia coli, denominadas DH5, que continham o gene da urease de Klebsiella aerogens. Estas bactérias removem uréia e amônia, substâncias que utilizam como fonte de nitrogênio. As bactérias foram colocadas em microcápsulas que permitiam a entrada de uréia e amônia, mas evitavam a saída das bactérias. Um grupo de ratos urêmicos foi então tratado com as bactérias microencapsuladas. Um segundo grupo de ratos urêmicos recebeu as mesmas bactérias livres, isto é, não encapsuladas. Em ambos os grupos, a via de administração foi oral. Além disso, dois grupos controles fizeram parte do estudo, um de ratos nor mais e outro de urêmicos. Resultados Os ratos urêmicos que receberam as bactérias livres, ou encapsuladas, apresentaram redução significativa nos níveis de uréia e amônia, sendo que, 7 dias após o início do tratamento, os valores daquelas substâncias eram semelhantes aos observados nos ratos controles normais. Nos dois grupos, com a suspensão do tratamento, os níveis de uréia retornaram aos valores iniciais. Entretanto, nos ratos que receberam a bactéria livre, o início do efeito foi retardado e, com a suspensão do tratamento, os valores de uréia mantiveram-se mais baixos que aqueles observados no período pré-tratamento. Conclusões O uso de bactérias encapsuladas geneticamente desenvolvidas, administradas por via oral a ratos urêmicos, foi capaz de normalizar os níveis de uréia destes animais. Além disso, a observação de que com a suspensão do tratamento a uréia plasmática voltou aos valores anteriores, demonstra que o procedimento é seguro, pois não houve disseminação das bactérias no organismo dos animais. O mesmo não ocorreu com as bactérias livres, visto que o início do efeito foi retardado e este permaneceu após a sua suspensão, sugerindo que ocorreu disseminação das bactérias para outras partes do organismo. Comentários Nas últimas duas décadas, um grande número de microorganismos geneticamente desenvolvidos torna- 437 J. Bras. Nefrol. 1996; 18(4): 435-437 J. B. L. Faria - Resumos de Artigos: Nefrologia Clínica ram-se disponíveis, e com diferentes características. O uso terapêutico destes microorganismos tem sido limitado pela preocupação dos possíveis riscos da sua introdução no organismo. O emprego de bactérias microencapsuladas parece ser seguro, uma vez que, quando administradas por via oral, permanecem dentro das cápsulas e são excretadas intactadas nas fezes após 24 horas. Este procedimento tem um grande potencial de no futuro, talvez próximo, vir a ser utilizado no tratamento de pacientes com insuficiência renal crônica (IRC). No presente trabalho, alguns cálculos da dose a ser utilizada para um indivíduo de 70 kg são apresentados, sugerindo a viabilidade do seu emprego em humanos. É claro que é possível que apenas a remoção da uréia não seja suficiente para o tratamento de pacientes com IRC, mas o emprego de outras medidas hoje disponíveis, como o uso de eritropetina e derivados sintéticos da vitamina D, poderão ser associadas. Além disso, bactérias com outras características desejáveis para o tratamento destes pacientes poderão ser desenvolvidas. José B. Lopes de Faria Disciplina de Nefrologia FCM - UNICAMP