UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS CAMPUS DE ARARAQUARA CINÉTICA DA DEGRADAÇÃO DO ÁCIDO ASCÓRBICO EM SUCO DE LARANJA CONCENTRADO VOLNEI FERNANDES ALVES Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Alimentos e Nutrição da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, para obtenção do Título de MESTRE em Alimentos e Nutrição – Área de Ciências dos Alimentos Orientadora: Profa Dra MARIA FILOMENA CLARET F. DE AGUIAR VALIM Co-orientadora: Profa Dra CÉLIA MARIA DE SYLOS Araraquara – SP 2004 Ficha Catalográfica Elaborada Pelo serviço Técnico de Biblioteca e Documentação Faculdade de Ciências Farmacêuticas UNESP – Campus de Araraquara A474c Alves, Volnei Fernandes Cinética da degradação do ácido ascórbico em suco de laranja concentrado / Volnei Fernandes Alves. –Araraquara, 2004. 70 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Faculdade de Ciências Farmacêuticas. Programa de Pós Graduação em Alimentos e Nutrição. Orientadora: Maria Filomena Claret F. de Aguiar Valim Co-orientadora: Célia Maria de Sylos 1.Suco de laranja concentrado. 2.Ácido ascórbico. 3.Degradação térmica. I.Valim, Maria F. C. F. de Aguiar, orient. II. Sylos, Célia Maria de, co-orient. III. Título CDD: 664.07 CAPES: 50700006 COMISSÃO EXAMINADORA Co-orientadora – Profa Dra CÉLIA MARIA DE SYLOS Profa Dra ADRIANA ZERLOTTI MERCADANTE Profa Dra MAGALI MONTEIRO DA SILVA Profa Dra MARTA DE TOLEDO BENASSI Prof. Dr. JOÃO BOSCO FARIA HOMENAGEM URBANO ALVES DA SILVA FILHO meu pai e grande amigo GUMERCINDO FADEL meu grande amigo e pai in memoriam AGRADECIMENTOS À Profa Dra Maria Filomena Claret F. de Aguiar Valim (Orientadora) e à Profa Dra Célia Maria de Sylos (co-orientadora), pela escolha do tema do trabalho, pela paciência e pelo incentivo a mim demonstrados. À Profa Dra Marta de Toledo Benassi e à Profa Dra Adriana Zerlotti Mercadante, pelas correções e sugestões pertinentes ao trabalho. Ao Prof. Dr. João Bosco Faria, pelo apoio, pelas aulas e correções. Ao Prof. Dr. Eliseu Antonio Rossi, pelo uso dos equipamentos e do seu laboratório. À Roseli, por tudo, pelas sugestões e pelas trufas deliciosas. Aos Prof. Dr. Paschoal; Valdir; Leonardo; Bonilha, pela paciência, pelo apoio, pelas discussões, pelas sugestões, pelos cafezinhos e pelos altos papos. Ao Prof. Dr. Romeu Magnani, pelas sugestões nas análises dos dados. A todo o pessoal da Biblioteca da “Farmácia”, por tudo. À Seção de Pós-Graduação – Claudia, Sonia, Laura por terem me “suportado”. A todos os colegas: Antonio, Fernandinho, Tiago, Dani, Marcela, Janaina, Joice e os demais, pela minha aceitação junto ao grupo, fazendo-me voltar a ser jovem. Especial agradecimento à minha querida Profa Mestra Doutora Magali Monteiro da Silva, pelo apoio, pelo incentivo e pelo seu carinho. À instituição Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza – Centro Paula Souza, nas pessoas da Profa Célia Regina Pereira de Souza Gabriel (Diretora de Escola) e do Sr. Carlos Roberto Regattieri (Diretor de Serviços), pela permissão de afastamento parcial de minha docência, sem o qual nada disto teria sido possível. A todos os colegas da Escola Técnica Estadual Dr. Adail Nunes da Silva, em especial à Marisa, Mara, Darci, João Roberto, Gisele, Marilisa, Atílio, Patrícia, Toninho, Marcelo, Sassá, Dimas, Eduardo, José Carlos, Fabinho, Carla, Rosana, Luciana, Rosangela, ... Aos meus alunos e ex-alunos do Ensino Técnico – Habilitação Técnico em Alimentos, da ETE Dr. Adail Nunes da Silva, em Taquaritinga – SP, motivadores permanentes de nosso trabalho. A todos que tenham colaborado comigo e que eu tenha esquecido de mencionar. À Adelaide Fernandes Alves, minha mãe. Obrigado. SUMÁRIO página LISTA DE TABELAS 8 LISTA DE FIGURAS 10 RESUMO 12 ABSTRACT 13 1 – INTRODUÇÃO 14 2 – OBJETIVOS 17 3 -REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 18 3.1 – VITAMINA C 18 3.2 – PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS E VITAMINA C 21 3.3 – SUCOS DE LARANJA E VITAMINA C 27 4 - MATERIAL E MÉTODOS 32 4.1 – MATERIAL 32 4.2 – MÉTODOS 34 4.2.1 – DETERMINAÇÃO DO TEOR DE SÓLIDOS SOLÚVEIS TOTAIS 34 4.2.2 – DETERMINAÇÃO DO TEOR DE ACIDEZ TOTAL TITULÁVEL 34 4.2.3 – DETERMINAÇÃO DO pH 34 4.2.4 – DETERMINAÇÃO DO TEOR DE ÁCIDO ASCÓRBICO 35 4.2.5 – CÁLCULO DOS ratios 35 4.2.6 – TRATAMENTOS MATEMÁTICOS E ESTATÍSTICOS 36 5 -RESULTADOS E DISCUSSÃO 37 5.1 – SUCO DE LARANJA CONCENTRADO ESTOCADO A 70 ºC 37 5.2 - SUCO DE LARANJA CONCENTRADO ESTOCADO A 50 ºC 41 5.3 -SUCO DE LARANJA CONCENTRADO ESTOCADO A 30 ºC 45 5.4 -SUCO DE LARANJA CONCENTRADO ESTOCADO A 10 ºC 51 5.5 – ENERGIA DE ATIVAÇÃO PARA A DEGRADAÇÃO DO ÁCIDO ASCÓRBICO DOS SUCOS DE LARANJA CONCENTRADOS ESTOCADOS NAS TEMPERATURAS DE 10, 30, 50 E 70 ºC 60 6 – CONCLUSÕES 63 7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 64 LISTA DE TABELAS página Tabela 1– Temperaturas de estocagem e ratios das amostras de suco de laranja concentrados 33 Tabela 2– Teor de sólidos solúveis totais, teor de acidez total titulável, ratios, pH, teor de ácido ascórbico, coeficiente de variação do teor de ácido ascórbico, e retenção do suco de laranja concentrado de ratio 11,51 estocado a 70 ºC 37 Tabela 3– Teor de sólidos solúveis totais, teor de acidez total titulável, ratios, pH, teor de ácido ascórbico, coeficiente de variação do teor de ácido ascórbico, e retenção do suco de laranja concentrado de ratio 15,74, estocado a 70 ºC 39 Tabela 4– Teor de sólidos solúveis totais, teor de acidez total titulável, ratios, pH, teor de ácido ascórbico, coeficiente de variação do teor de ácido ascórbico, e retenção do suco de laranja concentrado de ratio 11,59 estocado a 50 ºC 41 Tabela 5–Teor de sólidos solúveis totais, teor de acidez total titulável, ratios, pH, teor de ácido ascórbico, coeficiente de variação do teor de ácido ascórbico, e retenção do suco de laranja concentrado de ratio 15,70 estocado a 50 ºC 43 Tabela 6– Teor de sólidos solúveis totais, teor de acidez total titulável, ratios, pH, teor de ácido ascórbico, coeficiente de variação do teor de ácido ascórbico, e retenção do suco de laranja concentrado de ratio 11,44 estocado a 30 ºC 46 Tabela 7– Teor de ácido ascórbico experimental, teor de ácido ascórbico calculado e erro de predição para o suco de laranja concentrado de ratio 11,44, estocado a 30ºC 47 Tabela 8– Teor de sólidos solúveis totais, teor de acidez total titulável, ratios, pH, teor de ácido ascórbico, coeficiente de variação do teor de ácido ascórbico, e retenção do suco de laranja concentrado de ratio 15,62 estocado a 30 ºC 49 Tabela 9– Teor de ácido ascórbico experimental, teor de ácido ascórbico calculado e erro de predição para o suco de laranja concentrado de ratio 15,62, estocado a 30 ºC 49 Tabela 10– Teor de sólidos solúveis totais, teor de acidez total titulável, ratios, pH, teor de ácido ascórbico, coeficiente de variação do teor de ácido ascórbico, e retenção do suco de laranja concentrado de ratio 11,41 estocado a 10 ºC 52 Tabela 11– Teor de ácido ascórbico experimental, teor de ácido ascórbico calculado e erro de predição para o suco de laranja concentrado de ratio 11,41, estocado a 10 ºC 53 Tabela 12– Teor de sólidos solúveis totais, teor de acidez total titulável, ratios, pH, teor de ácido ascórbico, coeficiente de variação do teor de ácido ascórbico, e retenção do suco de laranja concentrado de ratio 15,56 estocado a 10 ºC 55 Tabela 13– Teor de ácido ascórbico experimental, teor de ácido ascórbico calculado e erro de predição para o suco de laranja concentrado de ratio15,56, estocado a 10 ºC 56 Tabela 14– ratio, taxa de degradação do ácido ascórbico (k), tempo de meia vida (x1/2), teor de acidez total titulável (ATT), teor de sólidos solúveis totais (SST) e pH dos sucos de laranja concentrados estocados nas temperaturas de 10, 30, 50 e 70 ºC. 59 Tabela 15– Valores de ln das taxas de degradação do teor de ácido ascórbico dos sucos de laranja concentrados estocados nas temperaturas de 10, 30, 50, 70 ºC e inversos das respectivas temperaturas absolutas 61 LISTA DE FIGURAS página Figura 1-Teor de ácido ascórbico em suco de laranja concentrado de ratio 11,51 estocado a 70 ºC, durante 7 dias. 38 Figura 2-Teor de ácido ascórbico em suco de laranja concentrado de ratio 15,74 estocado a 70 ºC, durante 7 dias. 40 Figura 3 – Comparação dos perfis da degradação do teor de ácido ascórbico dos sucos de laranja concentrados de ratios 11,51 e 15,74, extrapolando-se o período experimental de estocagem a 70 ºC. 40 Figura 4-Teor de ácido ascórbico em suco de laranja concentrado de ratio 11,59 estocado a 50 ºC, durante 14 dias. 42 Figura 5-Teor de ácido ascórbico em suco de laranja concentrado de ratio 15,70 estocado a 50 ºC, durante 14 dias. 44 Figura 6 – Comparação dos perfis da degradação do teor de ácido ascórbico dos sucos de laranja concentrados de ratios 11,59 e 15,70, extrapolando-se o período experimental de estocagem a 50 ºC. 45 Figura 7-Teor de ácido ascórbico em suco de laranja concentrado de ratio 11,44, estocado a 30 ºC, durante 34 dias. 48 Figura 8-Teor de ácido ascórbico em suco de laranja concentrado de ratio 15,62, estocado a 30 ºC, durante 34 dias. 50 Figura 9 – Comparação dos perfis da degradação do teor de ácido ascórbico dos sucos de laranja concentrados de ratios 11,44 e 15,62 , extrapolando-se o período experimental de estocagem a 30 ºC. 51 Figura 10-Teor de ácido ascórbico em suco de laranja concentrado de ratio 11,41, estocado a 10 ºC, durante 70 dias. 54 Figura 11-Teor de ácido ascórbico em suco de laranja concentrado de ratio 15,56, estocado a 10 ºC, durante 70 dias. 56 Figura 12 – Comparação dos perfis da degradação do teor de ácido ascórbico dos sucos de laranja concentrados de ratios 11,41 e 15,56, extrapolando-se o período experimental de estocagem a 10 ºC. 58 Figura 13 – Comparação dos perfis da degradação do teor de ácido ascórbico dos sucos de laranja concentrados de ratios baixos e altos , extrapolando-se os períodos experimentais de estocagem a 10, 30, 50 e70 ºC. 60 Figura 14 – Dependência dos valores de ln das taxas de degradação do teor do ácido ascórbico (k) dos sucos de laranja concentrados com os inversos das 3 temperaturas de estocagem (1/T)*10 , para as determinações dos parâmetros da equação de Arrhenius. 62 RESUMO Amostras de suco de laranja concentrado congelado (FCOJ) de ratio baixo e ratio alto foram estocadas nas temperaturas de 10º, 30º, 50º e 70ºC, visando estudar o efeito da temperatura na degradação do teor de ácido ascórbico. Os valores das constantes de decaimento da retenção do ácido ascórbico dos sucos de laranja concentrado de ratio baixo foram calculados -1 -1 -1 como 0,0006 dias a 10ºC; 0,0047 dias a 30ºC; 0,0905 dias a 50ºC e 0,1892 -1 dias a 70ºC. Os valores das constantes de decaimento da retenção do ácido ascórbico do suco de laranja concentrado de ratio alto foram calculados como -1 -1 -1 0,0001 dias a 10ºC; 0,0044 dias a 30ºC; 0,0824 dias a 50ºC e 0,1663 dias -1 a 70ºC. A energia de ativação (E0 para o suco de laranja concentrado de ratio baixo, na faixa de 10º a 70ºC, foi calculada como 19,43 kcal/mol e, para o suco de laranja concentrado de ratio alto, como 24,60 kcal/mol. Os tempos de meiavida do teor de ácido ascórbico variaram de 1155 dias para o suco de laranja concentrado de ratio baixo, estocado a 10ºC, a 4,2 dias para o suco de laranja concentrado de ratio alto estocado a 70ºC. Palavras-chave: suco de laranja concentrado congelado; cinética da degradação térmica da vitamina C; constante de decaimento; energia de ativação; estocagem; vitamina C ABSTRACT Samples of frozen concentrated orange juices (FCOJ), with low (11.0012.00) and high (15.00-16.00) ratio (Brix/acidity), were stored at 10º, 30º, 50º and 70º C in order to study the effect of the storage temperature in ascorbic acid content. The values of the decay rate constant for ascorbic acid content in -1 -1 samples with low ratio were 0.006 day at 10ºC; 0.0047 day at 30ºC; 0.0905 day -1 -1 at 50ºC and 0.1892 day at 70ºC. As for samples with high ratio, the -1 decay rate constant for ascorbic acid content were 0.0001 day at 10ºC; 0.0044 -1 day at 30ºC; 0.0824 day -1 -1 at 50ºC and 0.1663 day at 70ºC. The activation energy (E0) for low ratio concentrated orange juice, in the temperature range -1 from 10º to 70ºC,was calculated as 19.43 kcal mol . As for sample of concentrated orange juice with high ratio E0 was calculated as 24.60 kcal/ mol. The half-life of ascorbic acid content ranged from 1155 days for low ratio concentrated orange juice stored at 10ºC to 4,2 days for high ratio concentrated orange juice, stored at 70ºC. Keywords: frozen concentrated orange juice; kinetics of thermal degradation of ascorbic acid content ; decay rate constant; activation energy; storage; ascorbic acid 14 1 – INTRODUÇÃO _______________________________________________________________ O processamento industrial brasileiro de frutas cítricas, principalmente de laranjas, é considerado de relevância econômica devido à sua grande participação na pauta de exportações do agro-negócio e no setor de sucos de frutas do mercado interno de alimentos. Durante a safra 2002/2003, o volume de frutas processadas para a fabricação dos sucos de laranja concentrados congelados (Frozen Concentrated Orange Juice – FCOJ) foi 281.145 mil caixas de 40,8 kg, ao preço médio de R$ 9,15/caixa (BOTEON et al., 2003), resultando na produção de 1.176.343 toneladas de sucos concentrados congelados (1.077.256 toneladas foram exportadas e 35.004 toneladas foram destinadas ao mercado interno), e 64.083 toneladas foram estocadas, para comercialização futura. O preço médio, pela Bolsa de Nova York, foi de US$ 0,9255/libra peso de sólidos solúveis, ou US$ 1.324,67/tonelada de FCOJ (MARINO e MENDES, 2003). A importância econômica do processamento industrial de laranjas, para a obtenção dos sucos concentrados, pode ser constatada pela movimentação de recursos financeiros: R$ 2.572.476.750,00 na comercialização da matériaprima, e US$ 1.426.900.980,00 na geração de divisas de exportação do produto. O suco de laranja concentrado congelado (FCOJ) representa, praticamente, a totalidade do suco industrializado, embora sejam também elaborados os de limão, tangerinas e grape-fruit; os de abacaxi, uva, maçã, e os de outras frutas, mas em quantidades muito menores. O processo industrial de concentração dos sucos de laranja é realizado para reduzir, substancialmente, as quantidades a serem armazenadas, transportadas, manipuladas e comercializadas. A redução volumétrica é da ordem de 5,5 vezes dos valores originais, resultando em enorme economia de escala. Posteriormente, para o consumidor final, o suco concentrado é reconstituído à sua concentração inicial de sólidos solúveis totais. O suco de laranja concentrado congelado não requer, para a sua conservação, nenhuma aditivação de ingredientes químicos, uma vez que, na 15 sua elaboração, o tratamento térmico necessário para a remoção de seu elevado teor de água inicial é suficiente para inativar, satisfatoriamente, os diversos sistemas enzimáticos e reduzir a carga microbiana a níveis adequados, permitindo que o posterior processo de frigorificação seja adequado ao armazenamento, transporte e comercialização do produto. Como a vitamina C contida no suco de laranja concentrado, pode ser degradada irreversivelmente, perdendo seu valor nutricional, por ser muito sensível à temperatura (FARNWORTH et al., 2001; KABASAKALIS et al., 2000; SQUIRES e HANNA, 1979; TRAMMELL et al., 1986; VIEIRA et al., 2000; YUAN e CHEN, 1999), reduzindo, conseqüentemente, sua disponibilidade nos sucos reconstituídos, é de interesse conhecer a cinética da degradação da vitamina C em sucos de laranja concentrados, quando expostos ou estocados em temperaturas superiores às da estocagem frigorífica. Temperaturas de 10 e 30 ºC podem ser encontradas nos processos de manuseio, bombeamento, homogeneização e reprocesso, ou em estocagem provisória ou emergencial. Temperaturas mais altas, como 50 e 70 ºC, podem ser utilizadas para estimar a vida de prateleira ou shelf-life, pois aceleram o processo de degradação da vitamina C. A vitamina C, neste trabalho, será considerada como teor de ácido ascórbico (AA), pois o método oficial da AOAC (1990), modificado por BENASSI (1991), empregado para sua determinação, é específico para o ácido ascórbico, não possibilitando a determinação do ácido deidroascórbico, que também possui atividade vitamínica. Os sucos de laranja concentrados congelados são produzidos, e comercializados internacionalmente, atendendo a diversos itens de identidade e qualidade (segundo USDA-United States Departament of Agriculture), dentre os quais o teor de sólidos solúveis totais (SST), expresso como ºBrix, e o teor de acidez total titulável (ATT), expresso em g ácido cítrico/100g suco concentrado, ou em % de acidez, são considerados como os mais importantes. A relação entre o teor de sólidos solúveis totais e o teor de acidez total titulável, conhecida como ratio, que exprime o quão doce ou o quão ácido pode ser o suco, é, também, um dos principais fatores de qualidade dos sucos de laranja concentrados congelados. No estudo da cinética da degradação do teor de ácido ascórbico, 16 durante o período de estocagem dos sucos de laranja concentrados nas temperaturas de 10, 30, 50 e 70 ºC, foram utilizados sucos de laranja de ratio baixo (abaixo de ratio 14.00) e sucos de laranja de ratio alto (acima de ratio 14,00), visando comparar as respectivas degradações do teor de ácido ascórbico. A equação geral da cinética da degradação do teor de ácido ascórbico dos sucos de laranjas concentrados, de ratio baixo e de ratio alto, quando estocados nas temperaturas de 10, 30, 50 e 70 ºC tem a forma: d[AA]/dx= n k[AA] , onde [AA] é o teor ou concentração do ácido ascórbico; x é o tempo; k é a taxa de degradação do teor de ácido ascórbico e n é a ordem de reação, podendo esta, usualmente, variar de 0 a 2. A dependência da taxa ou constante de degradação k com a temperatura é descrita pela equação de Arrhenius: k= k0exp(-E0RT), onde k0é o -1 fator de potência ou pré-exponencial; E0é a energia de ativação (cal mol ); R é -1 -1 a constante dos gases (1, 987 cal mol K ) e T a temperatura absoluta (K). No estudo da cinética da degradação do teor de ácido ascórbico dos sucos de laranja concentrados de ratios baixo e alto, estocados nas temperaturas de 10, 30, 50 e 70 ºC, além da determinação dos parâmetros já citados, foram avaliados os respectivos tempos de meia vida (x1/2), nos quais o teor de ácido ascórbico se reduz à metade. 17 2 – OBJETIVOS _______________________________________________________________ Estudar o efeito da temperatura de estocagem (10º, 30º, 50º e 70ºC) no teor de ácido ascórbico presente nos sucos de laranja (Pêra) concentrados de ratio baixo (11,00-12,00) e ratio alto (15,00 –16,00). Estudar a cinética da degradação do ácido ascórbico presente nos sucos de laranja (Pêra) concentrados de ratio baixo (11,00-12,00) e ratio alto (15,00 – 16,00), estocados nas temperaturas de 10, 30, 50 e 70 ºC. Estabelecer os parâmetros (ordem, taxa de degradação, tempo de meia vida e energia de ativação) da cinética da degradação do ácido ascórbico presente nos sucos de laranja (Pêra) concentrados de ratio baixo (11,00-12,00) e ratio alto (15,00 –16,00) , estocados nas temperaturas de 10, 30, 50 e 70 ºC. 18 3 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA _______________________________________________________________ 3.1 – VITAMINA C A vitamina C, também conhecida como ácido ascórbico, ou ácido Lascórbico (L-treo-2-hexenono-1,4-lactona) (UDDIN et al., 2002) ou L-treo2,3,4,5,6-pentahidroxihex-2-acidoenoico-4-lactona, é, estruturalmente, um açúcar ácido, ou uma γ-lactona ou um enediol, instável e facilmente oxidada (reversivelmente) a ácido L-deidroascórbico (MILANESIO et al., 1997), que possui de 60 a 100% da atividade biológica inicial do ácido L-ascórbico. Continuando-se as reações de oxidação, o ácido L-deidroascórbico é transformado irreversivelmente a ácido 2,3-dicetogulônico, sem atividade biológica (ROJAS e GERSCHENSON, 1997). A vitamina C faz parte do grupo das vitaminas hidrossolúveis, e é conhecida por prevenir ou curar o escorbuto, cujos principais sintomas são: sangramento das gengivas, perda dos dentes, distúrbios neurológicos, anemia ferropriva, dificuldade da cicatrização dos tecidos e, em casos extremos, a morte. Atualmente, os sintomas do escorbuto podem aparecer em crianças que se alimentam exclusivamente de leite de vaca, que é deficiente em vitamina C; em idosos com dieta alimentar limitada; ou em indivíduos com problemas nutricionais devidos ao alcoolismo ou a dietas estritas ou não-balanceadas (GARDNER et al., 2000; MILANESIO et al., 1997; MOORE, 2001; MOSER e BENDICH, 1991; SGARBIERI, 1987). A vitamina C é encontrada na forma do anion monovalente ascorbato em todo o organismo humano, exceto no suco gástrico, sendo um transportador eficiente de proteínas, oriundas do trato gastrintestinal (HALLIWELL, 2001). O ácido ascórbico é sintetizado, em menor ou maior proporção, pelos vegetais e pela grande maioria dos animais. Entretanto, no homem, nos primatas, nas cobaias ou porquinhos-da-Índia, em alguns peixes e nos 19 morcegos que se alimentam de frutas, o ácido ascórbico não é sintetizado, pela falta da enzima gulonolactona oxidase, que participa da biossíntese da vitamina C ou do ascorbato. Desta forma, é necessário que estes animais recebam a vitamina C em sua dieta alimentar, pois a sua deficiência pode provocar danos à saúde (HALLIWELL, 2001). A vitamina C é essencial na produção e manutenção do colágeno; na formação de aminas aromáticas, tais como a dopamina e a serotonina, que atuam como neuro-transmissores; nos processos de cicatrização dos tecidos; na redução do ferro férrico a ferroso, no intestino delgado, facilitando a sua absorção e transporte para a corrente sanguínea; é um poderoso antioxidante, reciclando a atividade da vitamina E (α-tocoferol) que protege as membranas celulares, impedindo a oxidação dos ácidos graxos polinsaturados, constituintes dos fosfolipídios destas membranas; participa do sistema imunológico, protegendo as células e tecidos contra os mecanismos de ataque dos patógenos; facilita a absorção de minerais, tais como o ferro, zinco e cobre; auxilia na excreção do chumbo, mercúrio, vanádio, cádmio e níquel (HALLIWELL, 2001; HUSSEIN et al., 2000; MILANESIO et al., 1997; MOSER e BENDICH, 1991). A cota dietética recomendada (RDA) para ingestão da vitamina C, para adultos sãos, é de 60mg/dia ou o equivalente a 341 μmol/dia. No entanto, estas recomendações são menores em alguns países, como Bolívia, França, e Uruguai (30mg/dia), ou maiores, como Colômbia, Holanda, Bulgária e Japão (70-95mg/dia) (MOSER e BENDICH, 1991; VANNUCCHI e JORDÃO JÚNIOR, 2000). As maiores fontes de vitamina C são os vegetais como batata, repolho, cebola, aspargo, milho, cenoura, pimentas, brócolis, couve-flor e demais; e as frutas, como acerola, cupuaçu, goiaba, laranjas, limas e limões, abacaxi, tomate, maçã, banana, melão, cerejas, morango e muitos outros (MOSER e BENDICH, 1991; VIEIRA et al., 2000). Em pequenas quantidades, de 0 a 40 mg/100g, a vitamina C pode ser encontrada em fígado e rins, em carnes bovinas, suínas e de peixes, e no leite de vaca. Em geral, consideram-se de importância apenas as fontes vegetais (MOSER e BENDICH, 1991). As laranjas apresentam valores médios de 40 a 60mg/100g, e são as 20 mais consumidas mundialmente, em razão de sua extensiva produção e comercialização. Paralelamente, a indústria alimentícia desenvolveu técnicas de processamento para melhor aproveitamento das frutas cítricas, visando mais praticidade e comodidade para os consumidores, oferecendo-lhes maior disponibilidade de produtos, com extenso prazo de vida útil e eliminando os desperdícios e resíduos, quando da extração do suco das frutas pelos próprios consumidores. As perdas da vitamina C podem ser atribuídas à oxidação enzimática; à degradação térmica em processos aeróbicos ou anaeróbicos; às reações químicas onde o ácido ascórbico atua como antioxidante; à difusão (principalmente em processos de inativação enzimática ou de branqueamento) ou à irradiação. Diversos são os fatores que participam da degradação da vitamina C, tais como pH, ácidos, metais, teor de umidade, atividade da água, aminoácidos, carboidratos e lipídios, sistemas enzimáticos, tensão de oxigênio (mecanismos aeróbios ou anaeróbios) e, principalmente, a temperatura. A vitamina C, extremamente sensível a todos estes fatores, pode ser utilizada como parâmetro ou marcador, para avaliar as condições de manuseio, estocagem e processamento de alimentos (ARENA et al., 2001; ARROQUI et al., 2001; DUODU et al., 1999; FARNWORTH et al., 2001; FAVELL , 1998; IEMMA et al., 1999; LIN et al., 1998; MAHARAJ e SANKAT, 1996; NEGI e ROY, 2000; NICOLI et al., 1999; RAMESH et al., 1999; ROIG et al.,1999; ROJAS e GERSCHENSON, 1997; SANCHO et al., 1999; UDDIN et al., 2002; UMME et al., 1997; VIEIRA et al., 2000). Em geral, a degradação térmica do ácido L-ascórbico para ácido Ldeidroascórbico e para ácido 2,3-dicetogulônico, pode levar à formação do dióxido de carbono, furfural e muitos outros compostos, como os que ocorrem nas reações de Maillard ou de escurecimento não-enzimático ((ROJAS e GERSCHENSON, 1997). Os mecanismos da degradação são complexos e, em geral, específicos para cada alimento, bem como para as condições de temperatura, teor de umidade, atividade de água e tensão de oxigênio (MAHARAJ e SANKAT, 1996; MARTINS et al., 2001; ROJAS e GERSCHENSON, 1997; VERNIN et al., 1998; VIEIRA et al., 2000). A degradação térmica da vitamina C está associada a diversos tipos de 21 processamentos utilizados na industrialização de alimentos, tais como o branqueamento ou a inativação enzimática, a pasteurização, a esterilização, a concentração dos sólidos solúveis, a secagem, a cocção, a fritura, a torrefação, a extração dos sólidos solúveis a quente, a destilação, e mesmo a irradiação, que podem prejudicar o valor nutricional das matérias-primas, mas podem, também, reduzir ou eliminar fatores antinutricionais, bem como toxinas, e microrganismos, prejudiciais ou não. Outro aspecto importante é o aumento do prazo de vida útil dos alimentos é possível pelo uso do calor, mesmo que este venha diminuir os valores nutricionais dos alimentos ou algumas das suas propriedades sensoriais. Para alguns produtos, além de sua conservação, os tratamentos térmicos são os adequados à sua ampla exploração econômica, tal como para os sucos de frutas concentrados, enfatizando-se os de frutas cítricas e assemelhadas; polpas de frutas, compotas, geléias e doces em massas; leites longa vida e condensados, e cremes de leite pasteurizados; bebidas de frutas pasteurizadas, gaseificadas ou não; produtos vegetais desidratados ou de porcentagem de umidade intermediária; e muitos outros. 3.2 – PROCESSAMENTO DE ALIMENTOS E A VITAMINA C Diversas tecnologias têm sido desenvolvidas para diminuir os efeitos negativos dos tratamentos térmicos, citando-se, como exemplo, a desidratação osmótica (TORREGGIANI e BERTOLO, 2001); desidratação osmótica seguida de secagem a vácuo em aparelhos de microondas (ERLE e SCHUBERT, 2001); cozimento seguido de irradiação (DUODU et al., 1999); processamento 2 a ultra-alta pressão hidrostática {200 a 600 MPa (2039 a 6117 kg*/cm )} e à temperatura ambiente (SANCHO et al., 1999); secagem a vácuo com microondas (LIN et al., 1998); diversos processos de branqueamento e secagem (NEGI e ROY, 2000) e secagem por radiofreqüência e microondas (NIJHUIS et al., 1998); secagem em atmosfera de gás inerte (RAMESH et al., 22 1999). Na maioria dos casos, estes processamentos têm permitido manter as características nutritivas e sensoriais dos alimentos em níveis aceitáveis, além de reduzir sensivelmente a carga microbiana. No entanto, por razões de ordem técnica e econômica e pela baixa capacidade de produção, estes processamentos ainda estão em desenvolvimento ou são aplicados a produtos de alto valor agregado. O branqueamento pode ser considerado como um pré-tratamento térmico aplicado às mais variadas matérias-primas vegetais, com o objetivo de reduzir ou eliminar a atividade dos sistemas enzimáticos (NEGI e ROY, 2000) que poderão, em etapas posteriores de processamento, ou durante o período de estocagem, alterar as características sensoriais ou nutritivas das matériasprimas ou dos produtos alimentícios obtidos (ARROQUI et al., 2001; MAHARAJ e SANKAT, 1996). O branqueamento, normalmente, é realizado em temperaturas de até 100ºC, em imersão em água; em água destilada; em água contendo substâncias dissolvidas (como cloreto de sódio, bicarbonato de sódio, metabissulfito de sódio, carbonato de magnésio, sacarose, glicose, ácido cítrico ou ascórbico, ou misturas de várias substâncias), ou em água “reciclada”, com os sólidos solúveis predominantes nas matérias-primas, com o objetivo de diminuir-se as perdas de sólidos solúveis por lixiviação ou difusividade (ARROQUI et al., 2001; MAHARAJ e SANKAT, 1996; NEGI e ROY, 2000; RAMESH et al., 1999), e também pode ser efetuado em atmosfera de vapor d’água (MAHARAJ e SANKAT, 1996; RAMESH et al., 1999). Dependendo das características das matérias-primas ou dos processamentos a que serão submetidas posteriormente, o tempo de branqueamento pode variar de alguns segundos a vários minutos, bem como a relação solução:vegetais, de 40:1 até 300:1 (ARROQUI et al., 2001; MAHARAJ e SANKAT, 1996). As perdas da vitamina C durante o branqueamento dos vegetais não podem ser apenas atribuídas ao tratamento térmico utilizado. Grande parte destas perdas está associada ao processo de difusão, quando o coeficiente aparente de difusividade do ácido ascórbico aumenta com o aumento da temperatura ou do tempo empregado no branqueamento. ARROQUI et al. (2001) verificaram o efeito de diferentes sólidos solúveis 23 em água nas perdas de ácido ascórbico, durante o branqueamento de cilindros de batata a 80ºC em diferentes tempos. Os resultados obtidos mostraram que a retenção do ácido ascórbico diminuiu com o aumento do tempo de branqueamento, para todas as condições de água utilizadas: água destilada, água reciclada (com 2,6g/L de sólidos solúveis da própria batata); e com 0,5 g/L de glicose. A relação água:batata utilizada no trabalho foi de 300:1. NEGI e ROY (2000) verificaram a retenção de ácido ascórbico, além do β-caroteno e da clorofila, durante o branqueamento de vegetais folhosos típicos da Índia, como “savoy beet” (Beta vulgaris var bengalensis), o amaranto (Amaranthus tricolor) e o “fenugreek”, realizado a 95±3ºC, em tempos de 30 a 180s, em água pura; em água pura, seguida de imersão por 1 min em solução de metabissulfito de potássio a 5g/L; em água contendo cloreto de sódio a 20g/L; em solução de cloreto de sódio a 20g/L, seguida de imersão por 1 min em metabissulfito de potássio a 5g/L e em mistura de bicarbonato de sódio a 1g/L, óxido de magnésio a 5g/L e metabissulfito de potássio a 5g/L. O melhor tratamento, onde a atividade residual da peroxidase foi considerada insignificante, foi o branqueamento realizado em água pura, a 95±3ºC, por 60 segundos, seguido de imersão em solução de metabissulfito de potássio a 5g/L, por 1 minuto. As retenções foram de 15% para o savoy beet, 40% para o amaranto e de 55% para o fenugreek. A secagem de matérias-primas ou de produtos alimentícios, em particular os de origem vegetal, compreende atingir diversos objetivos: reduzir a massa ou o volume do produto, com a eliminação de grande parte do conteúdo de água ou teor de umidade, com diminuições significativas nos custos econômicos de movimentação, transporte e estocagem (em geral, a atividade de água também é reduzida, dificultando o crescimento e o desenvolvimento dos mais variados tipos de microrganismos e aumentando, conseqüentemente, o aproveitamento e o prazo de vida útil dos produtos); diminuição da velocidade das reações químicas e bioquímicas que possam prejudicar as características sensoriais ou nutritivas dos alimentos; a possibilidade de obtenção de novos produtos alimentícios ou de novas formas de utilização. No entanto, independentemente do processo de secagem utilizado, as características gerais dos produtos podem ser alteradas, em maior ou menor proporção, tais como o sabor, aroma, cor, textura, crocância, 24 reidratação, pH, valor nutritivo e muitas outras. Em geral, as vitaminas são as mais afetadas e, em particular, a vitamina C, considerada a menos resistente ao calor, como visto até agora, nos processos de branqueamento a vapor, ou por imersão em água quente ou em soluções salinas ou alcalinas. A secagem de vegetais provoca modificações na coloração; na reflexão da luz, alterando seu brilho; facilita o escurecimento não enzimático; ocasiona o enrugamento da superfície externa e dificulta eventual reidratação; altera o aroma, com perda de componentes aromáticos voláteis e, principalmente, diminui significativamente o teor de β-caroteno, clorofila e vitamina C. NEGI e ROY (2000) estudaram o efeito de diferentes tipos de secagem sobre o teor de vitamina C em vegetais folhosos. No trabalho, os autores citaram que as secagens foram realizadas após o branqueamento dos vegetais, até que as amostras estivessem com 7 a 9% de teor de umidade. A temperatura da câmara de secagem foi mantida a 65±5ºC e a secagem à baixa temperatura foi realizada a 30±2ºC. Os dados relatados indicaram que a secagem à baixa temperatura (30±2ºC) foi a que permitiu a maior retenção do ácido ascórbico e, dos vegetais, o “fenugreek” foi o que mais manteve os teores de vitamina C (50%), seguido do amaranto (30%), enquanto o “savoy beet” (28%) mostrou ser o mais sensível às condições dos processamentos. MAHARAJ e SANKAT (1996) observaram perdas acentuadas em folhas de “dasheen” (Colocasia esculenta Linn Schott var esculenta), muito cultivado em Trinidad and Tobago, em qualquer condição de secagem, sobre o valor original de 494,0mg ác. asc./100g de produto. Os tempos de secagem variaram de 56 horas (40ºC) a 12 horas (70ºC), em convecção natural, e de 8 horas (40ºC) a 3 horas (70ºC), em convecção forçada. No entanto, as perdas foram menores a 60ºC, tanto em convecção natural, como forçada, 92% e 70%, respectivamente. RAMESH et al. (1999) verificaram o efeito da desidratação de pimentões, branqueados e não branqueados, em atmosfera inerte de N2 (60ºC/6h, com velocidade do gás de 1,0 m/s, e umidade relativa de 10%) e pelo processo convencional (60ºC/6h), sobre a concentração da vitamina C. Observaram que a secagem em atmosfera inerte de N2 provocou menores perdas do que o processo convencional e que as amostras de pimentões que 25 não foram submetidas ao branqueamento também apresentaram menores perdas (63%), em ambos os processos de secagem, e também submeteram amostras de batatas branqueadas às mesmas condições de desidratação, com perdas menores (54%) que as dos pimentões. Alternativas têm sido estudadas para diminuir os efeitos negativos dos processos convencionais como, por exemplo, a secagem a vácuo em microondas e a liofilização. LIN et al., 1998, realizaram comparações entre três processos de secagem de fatias de cenoura (Daucus carota): secagem a vácuo em microondas; secagem a ar quente e liofilização. Os autores determinaram que o conteúdo original da vitamina C, de 770μg/g, foi reduzido a 443μg/g após o branqueamento realizado em água a 90ºC, por 7 minutos, necessário para a inativação da ácido ascórbico oxidase, responsável pela degradação enzimática nos processos de secagem. Na secagem por ar quente, apenas 38% (167μg/g) do teor da vitamina C da cenoura branqueada foram retidos no produto desidratado. A perda pode ser atribuída à oxidação do ácido ascórbico devido ao longo tempo de exposição e à temperatura do processo. Na secagem a vácuo em microondas, a retenção da vitamina C alcançou o valor de 79% (350μg/g), talvez devido à grande transferência de calor, à remoção do oxigênio pela bomba de vácuo e pelo rápido tempo de exposição ao processo de secagem. Segundo os autores, não houve perda significativa da vitamina C no processo de secagem por liofilização, devido à temperatura muito baixa utilizada no processo, embora o tempo fosse prolongado (72 horas). A desidratação de frutas e vegetais por processo osmótico é considerada como um dos métodos mais suaves para se remover a água dos tecidos, evitando-se o uso de temperaturas elevadas. Aproximadamente 50% da quantidade da água deixam os tecidos vegetais devido à baixa atividade da água encontrada na solução osmótica. Entretanto, a quantidade da água, ainda presente nos tecidos vegetais, é relativamente alta e necessita ser diminuída por outros processos, como a secagem. Para manter-se as mesmas qualidades finais oferecidas pela desidratação osmótica, alguns pesquisadores procuraram métodos de secagem menos agressivos às características dos alimentos, particularmente, às propriedades sensoriais e nutritivas. A combinação da desidratação osmótica com a secagem a vácuo, em microondas (ERLE e SCHUBERT, 26 2001), permite a obtenção de produtos de alta qualidade quanto ao sabor e à coloração. A retenção da vitamina C foi determinada devido ao seu alto valor nutricional, e a sua falta, ou redução significativa, denota perdas ocasionadas pelo calor. A aplicação do vácuo (no caso, 5kPa) ao processo de secagem por microondas oferece condições de baixa temperatura de ebulição, ao redor de 33ºC. A utilização das microondas facilita a secagem a vácuo, pois o calor não é transmitido pelo ambiente, e sim gerado no interior do produto. Além disso, a absorção das microondas, que depende das propriedades dielétricas do produto, está relacionada com o conteúdo de água: as áreas mais úmidas recebem mais energia e secam mais rapidamente e então passam a absorver menos energia, permitindo que a distribuição da potência das microondas seja autocontrolada (dentro de certos limites), para que não ocorra o superaquecimento ou a queima do produto. Com o pré-tratamento por osmose, o produto a ser desidratado tem menor conteúdo de água, necessitando menos energia e menos tempo para atingir a umidade desejada. Todos estes fatores, em conjunto, favorecem a manutenção das características de qualidade do produto, particularmente, a retenção dos teores da vitamina C. A boa retenção da vitamina C, tanto para as maçãs, como para os morangos, pode ser comparada com a alta retenção da vitamina C (LIN et al., 1998) nas fatias de cenoura, cujo processo de secagem foi também realizado em secador de microondas a vácuo, embora em condições operacionais diferentes. A irradiação de alimentos é uma alternativa dentre os diversos processos de conservação de matérias-primas e produtos alimentícios. No entanto, diversas substâncias dos alimentos têm sido degradadas, em menor ou maior intensidade, devido à irradiação. No caso das vitaminas, a vitamina C é considerada como uma das mais sensíveis e sua determinação, inclusive, permite que seja usada como um “marcador”, para avaliação da severidade do tratamento radioativo. Embora a irradiação possa alterar as condições dos nutrientes, com a oxidação de lipídios, a formação de radicais livres e outras reações, são os micronutrientes os principais afetados, em particular as vitaminas hidrossolúveis (B e C) e as lipossolúveis (A e E), que são as mais sensíveis. Estes danos podem ser minimizados, controlando-se as doses de irradiação, até ao máximo de 10kGy, equivalente a 1Mrad ou 1.000.000 rad (LIMA et al., 27 2001). LIMA et al., 2001, utilizaram cenouras da cultivar Nantes, que, após lavadas e classificadas em tamanhos, sofreram irradiação γ, fonte de Césio, nas dosagens de 0,25; 0,50; 0,75 e 1,0 kGy, com um grupo de controle sem nenhum tratamento. A conclusão dos autores é que, dentro das condições dos experimentos, não houve perda significativa, até ao limite da dose de irradiação de 1,0 kGy, do conteúdo da vitamina C, demonstrando que o processo mantém a característica nutritiva do vegetal. 3.3- SUCOS DE LARANJA E A VITAMINA C O suco de laranja é um dos produtos que eventualmente podem ser tratados com radiação gama. IEMMA et al., 1999, extraíram manualmente o suco das laranjas da variedade pêra, acondicionando-o em frascos de vidro de cor âmbar, e aplicaram doses de 2,0; 4,0 e 6,0 kGy/h, utilizando cobalto-60. Os conteúdos de vitamina C foram determinados imediatamente após as irradiações, e foi constatado que houve diminuição do teor do ácido ascórbico do suco de laranjas pêra, após a irradiação, se comparados com um controle não irradiado. As perdas foram de 17%; 45% e 55%, respectivamente, para as doses de 2,0; 4,0 e 6,0 kGy/h. A preservação do suco de laranja concentrado é realizada pela redução de sua temperatura a valores de –10ºC, para suco a granel, estocado em tanques de grande capacidade (sistema denominado tank-farm) ou a –20 ou – 18ºC, para suco acondicionado em tambores metálicos ou em embalagens assépticas ou semiassépticas. Não somente estas baixas temperaturas são adequadas para a conservação do suco mas, também, o aumento da acidez total titulável e o efeito osmótico, ocasionado pela alta concentração dos sólidos solúveis totais (ao redor de 65 ºBrix) decorrente da expressiva redução do conteúdo de água inicial (13,6 vezes). No entanto, durante o processo de concentração, há elevação gradativa da temperatura do suco de laranja, pela passagem deste pelos pré-aquecedores e pasteurizador, até o 1º estágio de 28 evaporação, quando atinge e permanece a 100 ºC por alguns segundos. Nos minutos seguintes, sua temperatura é reduzida a cerca de 40 ºC, nos últimos efeitos do evaporador. Finalmente, no resfriador de expansão ou flash cooler, o suco, já concentrado, é bombeado para os tanques de homogeneização na temperatura de 20 a 30 ºC. Trocadores de calor reduzem a temperatura do suco para valores próximos a 10 ºC, para finalizar o processo de homogeneização, no qual permanece por alguns minutos. Em seguida, o suco de laranja concentrado homogeneizado tem sua temperatura novamente reduzida, para abaixo de 0 ºC, necessária para o “entamboramento” ou envio ao sistema tank farm, quando será estocado nas temperaturas de frigorificação (-20/-18 ou –10 ºC, respectivamente). A vitamina C poderá perder parte de sua atividade, devido às reações químicas e bioquímicas ocasionadas durante os processos de extração e processamento dos sucos cítricos, bem como devido às condições de envase e estocagem dos produtos. Fatores relacionados à própria constituição do suco cítrico; à influência da luz; à presença do oxigênio e, principalmente, às temperaturas de estocagem, distribuição e comercialização destes sucos, poderão aumentar enormemente a perda da vitamina C. Alguns autores relatam perdas do ácido ascórbico durante o processamento térmico de sucos de frutas, seja na concentração, pasteurização ou esterilização (FARNWORTH et al., 2001; KEBEDE et al., 1996; POLYDERA et al., 2003; SANCHO et al.,1999; VAILLANT et al., 2001; VERNIN et al., 1998; VIEIRA et al., 2000). Não há referências bibliográficas que estabeleçam as perdas da vitamina C nas variadas etapas de processamento de sucos de laranjas, em escala industrial, tais como extração, despolpamento, centrifugação, concentração dos sólidos solúveis e homogeneização, e principalmente, para a estocagem dos sucos concentrados congelados. Poucas referências bibliográficas estabelecem comparações com outras tecnologias, como a concentração osmótica para suco de maracujá (VAILLANT et al., 2001), por exemplo. As investigações sobre sucos de frutas, especificamente para laranjas, de diversas modalidades de preparo (suco não pasteurizado, suco pasteurizado, suco reconstituído, suco concentrado, suco irradiado), sucos 29 embalados em latas, em vidros, em polietileno, em embalagens cartonadas, assepticamente ou não, em várias tensões de oxigênio; aditivados ou não, reside na análise do conteúdo da vitamina C destes sucos nas mais variadas temperaturas, com o objetivo de estabelecer, pelo menos, modelações matemáticas que permitam, com certa margem de segurança, prever as melhores condições para a conservação das propriedades sensoriais e nutritivas destes produtos (AHRNÉ et al., 1996; ARENA et al., 2001; BISSET e BERRY, 1975; FARNWORTH et al., 2001; FELLERS, 1988; IEMMA et al., 1999; KABASAKALIS et al., 2000; KANNER et al., 1982; LEE e COATES, 1999; ROBERTSON e SAMANIEGO, 1986; ROIG et al., 1999; SADLER et al., 1992; SQUIRES e HANNA, 1979). Diversos trabalhos científicos têm sido elaborados no sentido de avaliar as causas e conseqüências da degradação do ácido L-ascórbico, procurando identificar mecanismos que possam prever, diminuir ou eliminar resultados danosos à vitamina C (AHRNÉ et al., 1996; BISSET e BERRY, 1975; FELLERS, 1988; KABASAKALIS et al., 2000; KANNER et al.,1982; KIMBALL, 1991; LEE e COATES, 1999; ROBERTSON e SAMANIEGO, 1986; ROBISON, 2000; SADLER et al., 1992; SQUIRES e HANNA, 1979; TRAMMELL et al., 1986; VIEIRA et al., 2000; YUAN e CHEN, 1999). As perdas da vitamina C estão relacionadas à oxidação irreversível do ácido L-ascórbico, principalmente durante a armazenagem, dando origem a diversas substâncias que, além de diminuir ou eliminar a atividade da vitamina C (ROJAS e GERSCHENSON, 1997) alteram, também, as características sensoriais, provocando cor e sabor indesejáveis, diminuindo a aceitação destes sucos e levando, eventualmente, a perdas econômicas consideráveis. A maioria dos trabalhos citados anteriormente relata as perdas de ácido Lascórbico; o aumento dos teores de furfural; a deterioração microbiológica e a diminuição das características sensoriais ao longo do tempo (dias ou meses), tendo como referência as temperaturas de estocagem, em geral baixas, de – 1,7ºC a 25ºC e, em alguns casos, à temperatura ambiente; as variadas concentrações de oxigênio; os diversos processos de envasamento, utilizandose ou não de tratamento térmico, como meio de preservação inicial do produto. Alguns sucos utilizados nos trabalhos de pesquisa são sucos reconstituídos a 12 ou a 13 ºBrix, a partir de sucos concentrados congelados, 30 mas de concentração inicial não especificada, na maioria das vezes. Em geral, estes trabalhos relativos à determinação da degradação da vitamina C estão relacionados mais aos sucos diretamente postos à disposição do consumidor final. Referências aos sucos não pasteurizados, conservados nas temperaturas de congelamento, ao redor de -20ºC, indicam não haver, praticamente, perdas de vitamina C ou alterações em suas características químicas e sensoriais em, até, pelo menos, 30 meses de estocagem (LEE e COATES, 1999). Outro trabalho, para suco de laranja reconstituído de concentrado, pasteurizado e acondicionado em embalagens Tetra Brik (ROIG et al., 1999), procura estabelecer a cinética da degradação do ácido L-ascórbico, quando as amostras são estocadas às temperaturas de 4; 20; 37; 76 e 105º C, ao longo do tempo. As retenções do conteúdo original da vitamina C foram determinadas: 60,4% a 4ºC; 48,6% a 20ºC e 11,9% a 37ºC, após 64 dias de estocagem; 2,0% após 6 dias a 76ºC e apenas 3,6% após 3 dias a 105ºC. Além da temperatura, outros fatores poderão estar atuantes na degradação do ácido L-ascórbico, como, por exemplo, os teores de ácidos orgânicos, considerados como ácido cítrico, e a concentração dos sólidos solúveis totais, expressa como ºBrix (KANNER et al., 1982; KIMBALL, 1991, ROIG et al., 1999). Para se manter a cadeia de frio do suco de laranja concentrado congelado, desde a sua produção, armazenamento, transporte terrestre, estocagem e transporte marítimo, até à distribuição e entrega aos processadores finais, elevados custos de implantação, operação, manutenção e logística são necessários. Assim, é de interesse estudar-se outros valores de temperatura mais elevados de estocagem do suco de laranja concentrado, que possam reduzir os custos totais de armazenagem e movimentação, mas que não alterem, significativamente, as características de qualidade do produto. Uma destas características de qualidade é o teor de vitamina C ou de ácido Lascórbico do suco concentrado, que após diluído (±11,8ºBrix), deve fornecer, numa porção de 177mL, o equivalente a, pelo menos, 120% da RDA (cota dietética recomendada), segundo Food and Drug Administration (FDA) (KIMBALL, 1991). Entretanto, como não foram encontradas referências sobre a 31 degradação do ácido ascórbico em sucos de laranja na concentração, pelo menos próxima de 65 ºBrix, estocados ou expostos a temperaturas acima das consideradas de frigorificação (apenas referências de KIMBALL, 1991, sobre a grande estabilidade do ácido ascórbico em sucos concentrados estocados à temperatura de –1,1ºC, que apresentaram validade de 5 meses; quando estocados a –4,4ºC, tiveram prazo de vida útil de 9 meses e quando a –6,6ºC, puderam ser armazenados por 12 meses, mas sem a apresentação dos resultados referentes à cinética da degradação do teor do ácido ascórbico destes sucos), há a impossibilidade da comparação dos resultados do presente trabalho com estudos similares. 32 4 – MATERIAL E MÉTODOS _______________________________________________________________ 4.1 – MATERIAL Duas amostras (5kg cada) de suco de laranja (Pêra) concentrado congelado (FCOJ), foram obtidas em uma indústria processadora de sucos cítricos da região de Araraquara – SP, uma de ratio considerado baixo e outra de ratio considerado alto. As amostras foram trazidas à temperatura ambiente e homogeneizadas cuidadosamente. Posteriormente, foram colocadas em frascos de vidro, de cor âmbar e capacidade de 25 mL, até o completo preenchimento, evitando-se a formação de bolhas de ar, Em seguida, os frascos receberam batoques de plástico, foram limpos e firmemente fechados com tampas plásticas. Identificados individualmente (número, código de ratio e temperatura de estocagem), os frascos foram armazenados em freezer. O refrigerador doméstico foi ajustado para a temperatura de 10 ºC e as estufas foram reguladas, individualmente, para as temperaturas de 30, 50 e 70 ºC. Após a estabilização das temperaturas previstas para os ensaios, os frascos foram retirados do freezer e colocados nos referidos equipamentos. Amostras de suco de laranja concentrado, tanto as de ratio baixo (de 11,00 a 12,00), como as de ratio alto (de 15,00 a 16,00), foram estocadas nas mesmas condições, nas temperaturas de 10, 30, 50 e 70 ºC. Para referência, foram utilizadas as médias dos cálculos dos ratios, em cada temperatura, cujos valores estão na Tabela 1. Na temperatura de 10 ºC, foram estocadas 15 amostras de suco de laranja concentrado, de cada ratio, sendo periodicamente retiradas para as determinações analíticas, até o limite de 70 dias de estocagem. Procedimento semelhante foi utilizado para as 14 amostras, de cada ratio, armazenadas a 30 ºC, durante 34 dias. A 50 ºC, as 15 amostras, de cada ratio, foram armazenadas durante 14 dias. 33 Das 15 amostras, de cada ratio, armazenadas a 70 ºC, apenas 7, até o limite de 7 dias, puderam ser analisadas, pois as restantes ficaram carbonizadas. As amostras referentes ao tempo “zero dia” foram imediatamente analisadas antes das referidas estocagens. Tabela 1 – Temperaturas de estocagem e ratios das amostras de suco de laranja concentrado. TEMPERATURA ratio baixo ratio alto 10 ºC 11,41 15,56 30 ºC 11,44 15,62 50 ºC 11,59 15,70 70 ºC 11,51 15,74 As amostras de suco de laranja concentrado, de ambos os ratios, periodicamente retiradas das estufas ou do refrigerador, foram trazidas à temperatura ambiente, para a realização das determinações físico-químicas 34 4.2 – MÉTODOS 4.2.1 –DETERMINAÇÃO DO TEOR DE SÓLIDOS SOLÚVEIS TOTAIS O teor de sólidos solúveis totais (SST) foi determinado em refratômetro de bancada, tipo ABBE, modelo Q1107B, marca Quimis®; os valores obtidos foram corrigidos pela temperatura e pelo teor de acidez, de acordo com KIMBALL (1991), como resultado de única determinação até completa estabilização da leitura. 4.2.2 –DETERMINAÇÃO DO TEOR DE ACIDEZ TOTAL TITULÁVEL O teor de acidez total titulável (ATT) expresso em g de ácido cítrico/100g de suco de laranja concentrado, foi determinado de acordo com KIMBALL (1991), mas utilizando-se solução de NaOH 0,1 N. O suco de laranja concentrado, cerca de 4 a 5 g, era diluído a 100 mL, com água destilada, e uma alíquota de 25 mL era usada para titulação. Os resultados são expressos como média e desvio padrão de três determinações. 4.2.3 –DETERMINAÇÃO DO pH A determinação do pH das amostras dos sucos de laranja concentrados foi realizada diretamente nas amostras, sem diluição, utilizando-se potenciômetro modelo 320, marca Corning®, com compensação automática da temperatura, como único resultado até a estabilização da leitura. 35 4.2.4 –DETERMINAÇÃO DO TEOR DE ÁCIDO ASCÓRBICO O teor de ácido ascórbico (AA) das amostras, expresso mg ácido ascórbico/100g de suco de laranja concentrado, foi determinado pelo método oficial da AOAC (1990), modificado por BENASSI (1991). Amostras, de 4 a 5 g do suco de laranja concentrado, foram diluídas a 100 mL com solução de ácido oxálico 2% e uma alíquota de 25 mL era titulada com solução de 2,6 – diclorofenolindofenol 0,025%. A solução de 2,6-diclorofenolindofenol 0,025% foi padronizada com solução de ácido L-ascórbico (0,2mg ácido ascórbico/100mL em solução de ácido oxálico 2%, preparada e mantida ao abrigo da luz), imediatamente antes das determinações do teor de ácido ascórbico das amostras dos sucos de laranja concentrados. Em análises preliminares aos ensaios, o método utilizado para a determinação do teor de ácido ascórbico apresentou 95,43% de recuperação. Os resultados são expressos como média e desvio padrão de três determinações. A retenção do ácido ascórbico (%) é calculada como (C/C0)x100, onde C é a concentração do ácido ascórbico (AA) da amostra no tempo considerado e C0 é a concentração inicial do ácido ascórbico (AA), no tempo zero, na temperatura e ratio especificados para o suco de laranja concentrado. 4.2.5 –CÁLCULO DOS ratios Os ratios foram calculados como a relação do teor de sólidos solúveis totais (SST) com o teor de acidez total titulável (ATT). 36 4.2.6 –TRATAMENTOS MATEMÁTICOS E ESTATÍSTICOS Foi utilizado o programa Microsoft Excell® 2000 para os tratamentos matemáticos e estatísticos dos dados, para a apresentação dos resultados e para a geração das Figuras. 37 5 – RESULTADOS E DISCUSSÃO _______________________________________________________________ 5.1 – SUCOS DE LARANJA CONCENTRADOS ESTOCADOS A 70 ºC Na Tabela 2 estão os resultados das determinações analíticas do suco de laranja concentrado de ratio 11,51 estocado a 70 ºC. Em razão do gradativo escurecimento das amostras, não foi possível determinar o teor dos sólidos solúveis totais a partir do 3º dia de estocagem, assim como não foi possível realizar a determinação do teor da acidez titulável e do pH, a partir do 6º dia de estocagem. Conseqüentemente, não foi possível realizar o cálculo dos ratios a partir do 3º de estocagem, como se observa na Tabela 2. A determinação do teor de ácido ascórbico só foi possível até o 7º dia de estocagem. Após este tempo, todas as demais amostras ficaram carbonizadas e foram descartadas. Na Tabela 2, observa-se que a degradação do ácido ascórbico do suco de laranja concentrado de ratio 11,51, estocado a 70 ºC foi rápida, pois ao final de 7 dias, a retenção foi de apenas 25%. A dispersão dos teores do ácido ascórbico, durante a estocagem a 70ºC, permitiu a aplicação de uma equação 38 -0,1892x exponencial de ajuste, na forma C= 279,2e , com coeficiente de 2 determinação r = 0,96, evidenciando a cinética da degradação do ácido -1 ascórbico de 1ª ordem, com taxa de degradação k= 0,1892 dias , e tempo de meia vida x1/2= 3,7 dias. O perfil da degradação do teor de ácido ascórbico do suco de laranja concentrado de ratio 11,51, estocado a 70 ºC, durante 7 dias, pode ser observado na Figura 1. Na Tabela 3 estão as determinações analíticas referentes ao suco de laranja concentrado de ratio 15,74, estocado a 70 ºC, durante 7 dias. São válidas as observações feitas para o suco de ratio 11,51, estocado nas mesmas condições, excetuando-se: a retenção final do teor de ácido ascórbico foi de 30,8% e a equação exponencial de ajuste da dispersão dos teores de ácido ascórbico tem a forma C= 260,3e -0,1663x , com coeficiente de determinação 2 r = 0,91 (Figura 2). O tempo de meia vida calculado para o teor de ácido ascórbico foi de x1/2= 4,2 dias, com a taxa de degradação do ácido ascórbico k= 0,1663 -1 dias . Novamente, ficou evidente a cinética da degradação do teor de ácido ascórbico como de 1ª ordem. 39 Comparando-se as Figuras 1 e 2, observa-se que ambos os sucos de laranja concentrados, estocados a 70 ºC, apresentaram, praticamente, o mesmo perfil da degradação do teor do ácido ascórbico. No entanto, pequenas diferenças são melhor observadas na Figura 3, onde os perfis da degradação do teor do acido ascórbico dos sucos de laranja concentrados de ratio 11,51 e ratio 15,74 estão representados, extrapolando-se o período experimental de estocagem a 70 ºC. Mesmo com o teor inicial do ácido ascórbico do suco de laranja concentrado de ratio 11,51 um pouco superior ao do suco de ratio -1 15,74, em razão da sua taxa de degradação (k= 0,1894 dias ) ser também -1 pouco superior à do suco de ratio 15,74 (k= 0,1663 dias ), a cinética da degradação do ácido ascórbico do suco de ratio 11,51 apresentou perfil “mais inclinado”, denotando maior velocidade na degradação do ácido ascórbico. 40 41 5.2 – SUCOS DE LARANJA CONCENTRADOS ESTOCADOS A 50 ºC Na Tabela 4 estão os resultados das determinações analíticas do suco de laranja: Na Tabela 4, observou-se que as variações do teor de sólidos solúveis totais e do pH do suco de laranja de ratio 11,59, estocado durante 14 dias, foram pequenas e que as variações do teor de acidez total titulável não alteraram significativamente o cálculo dos ratios, que permaneceram na faixa 42 de 11,00 a 12,00. Após 14 dias de estocagem, observou-se apenas 25% de retenção do conteúdo original do ácido ascórbico. As variações do teor de ácido ascórbico, durante o período de estocagem, permitiram a aplicação direta de uma equação exponencial de ajuste (Figura 4), da forma C= 343,4e -0,0905x , com coeficiente de determinação 2 r = 0,93, configurando a cinética da degradação do ácido ascórbico como de 1ª -1 ordem. A taxa de degradação k= 0,0905 dias permitiu determinar o tempo de meia vida de apenas 7,7 dias, para o suco de laranja concentrado de ratio 11,59 estocado a 50 ºC. Na Tabela 5 estão os resultados das determinações analíticas do suco de laranja concentrado de ratio 15,70, estocado a 50 ºC, por 14 dias. As variações do teor de sólidos solúveis totais e do pH, do suco de laranja concentrado de ratio 15,70, estocado a 50 ºC, durante 14 dias, foram pequenas, e as variações do teor de acidez total titulável não alteraram os cálculos dos ratios, que permaneceram na faixa de 15,00 a 16,00. A retenção do teor de ácido ascórbico, ao final do período de 14 dias foi de 28,6% (Figura 5). A dispersão dos valores do teor de ácido ascórbico permitiu a utilização de 43 -0,0824x uma equação exponencial de ajuste, da forma C= 320,0e , com 2 coeficiente de determinação r = 0,93 (Figura 5), configurando uma relação exponencial da concentração do ácido ascórbico com o tempo, denotando a cinética da degradação como de 1ª ordem. O tempo de meia vida do teor do ácido ascórbico do suco de laranja concentrado de ratio 15,70, estocado a 50 ºC, calculado com a taxa de 44 -1 degradação k= 0,0824 dias , foi x1/2= 8,4 dias, pouco superior ao encontrado para o suco de laranja concentrado de ratio 11,59, estocado nas mesmas condições. Extrapolando-se os valores ajustados do teor de ácido ascórbico dos sucos de laranja concentrados, para além do período experimental de 14 dias a 50 ºC, pôde-se comparar os perfis da degradação dos sucos de ratio baixo e ratio alto (Figura 6), observando-se que a velocidade da degradação do ácido ascórbico do suco de ratio 15,59 é pouco maior que a do suco de ratio 15,70, em razão das taxas de degradação de 0,0905 dias respectivamente. -1 -1 e de 0,0824 dias , 45 46 5.3 – SUCOS DE LARANJA CONCENTRADOS ESTOCADOS A 30 ºC Os resultados das determinações analíticas realizadas para o suco de laranja concentrado de ratio 11,44, estocado a 30 ºC, estão na Tabela 6. Observa-se, na Tabela 6, que os valores dos sólidos solúveis totais e pH apresentaram pequenas variações, durante o período de 34 dias de estocagem, a 30 ºC, do suco de laranja concentrado de ratio 11,44. As variações do teor de acidez total titulável também não alteraram marcadamente os cálculos dos ratios, que permaneceram na faixa de 11,00 a 12,00. A retenção do teor de ácido ascórbico foi de 90%, ao final de 34 dias de estocagem, mas as variações dos teores de ácido ascórbico dificultaram o emprego direto de uma equação matemática para descrever a cinética de sua degradação. Considerando-se que a cinética da degradação do ácido ascórbico seja de 1ª ordem, como nos casos anteriores, nos quais os sucos de laranja concentrados foram estocados a 70 º e a 50º C, adotou-se um modelo matemático (MARTINS et al., 2001) para o ajuste dos valores experimentais 47 (CASTELLAN, 1964; PISKUNOV, 1969). Utilizando-se a equação k= -ln (C/C0)/x, onde k é a taxa de degradação -1 do ácido ascórbico, em dia ; C é a concentração do ácido ascórbico, em mg/100g suco de laranja concentrado, no tempo x (dias) considerado e C0 é a concentração inicial do ácido ascórbico, em mg AA/100g suco de laranja concentrado, no tempo zero, calculou-se o valor de k em cada tempo de -1 estocagem. Tomando-se o valor médio de k como (0,0047±0,0020) dias , -0,0047x através da equação C= C0 e , ajustou-se o valor da concentração do ácido ascórbico (AA), em cada tempo de estocagem. Comparando-se os valores experimentais com os valores ajustados, verificou-se que os “erros de predição” (AHRNÉ et al., 1996), calculados como % erro= [(valor experimental – valor calculado)/valor experimental] x 100, não ultrapassam o valor absoluto de 6,3%, demonstrando o acerto da modelação matemática adotada, conforme a Tabela 7. Na Figura 7, pode-se observar os teores experimentais e os calculados do ácido ascórbico do suco de laranja concentrado de ratio 11,44, estocado a 30 ºC, bem como a linha de tendência gerada pela equação C= 299,1e -0,0047x . 48 Na Tabela 8, estão os resultados das determinações analíticas referentes ao suco de laranja concentrado ratio 15,62, estocado a 30 ºC, durante 34 dias. Novamente, observa-se que as variações do teor de sólidos solúveis totais e do pH foram pequenas e que as variações do teor de acidez total titulável não chegaram a alterar os cálculos dos ratios, que permaneceram na faixa de 15,00 a 16,00. Ao final de 34 dias de estocagem a 30 ºC, o teor de ácido ascórbico correspondeu a, praticamente, 88% do conteúdo original. Como as variações dos teores de ácido ascórbico do suco de laranja concentrado de laranja ratio 15,62, ao longo dos 34 dias de estocagem a 30 ºC, apresentaram dificuldades para a aplicação direta de uma equação matemática para descrever a cinética da degradação do ácido ascórbico, optou-se pelo mesmo modelo utilizado anteriormente. O valor médio da taxa de degradação -1 encontrado foi de (0,0044±0,0018) dias e a equação de ajuste C= 283,0e 0,0044x - . O valor absoluto dos erros de predição não ultrapassou 5,9%, configurando um bom ajuste (Tabela 9). 49 Na Figura 8, observam-se os teores experimentais e os calculados de ácido ascórbico do suco de laranja concentrado de ratio 15,62, estocado a 10 -0,0044x ºC, por 34 dias e a linha de tendência C= 283,0e . 50 O perfil da degradação do ácido ascórbico do suco de laranja concentrado de ratio 11,44 (Figura 7) é pouco mais inclinado que o perfil do suco de ratio 15,62 (Figura 8), em razão de sua taxa de degradação (0,0047 -1 -1 dias ) ser levemente superior a deste (0,0044 dias ). Calculando-se os tempos de meia vida, verificou-se a pequena diferença na degradação do ácido ascórbico dos sucos de laranja estocados a 30 ºC, pois x1/2= 147,5 dias para o suco de ratio 11,44, e x1/2= 157,5 dias para o suco de ratio 15,62. Extrapolando-se os teores calculados do ácido ascórbico para os sucos de laranja concentrados para além do período experimental de 34 dias a 30 ºC, verificou-se a quase superposição dos perfis da degradação, em razão da pequena diferença entre as taxas de degradação, e que as respectivas curvas demonstraram a relação exponencial da concentração do ácido ascórbico com 51 o tempo de estocagem, evidenciando novamente a cinética da degradação como de 1ª ordem (Figura 9). 52 5.4 – SUCOS DE LARANJA CONCENTRADOS ESTOCADOS A 10 ºC Os resultados das determinações analíticas realizadas para o suco de laranja concentrado de ratio 11,41, estocado a 10 ºC, estão na Tabela 10. Observa-se, na Tabela 10, que não houve variações expressivas nos valores dos sólidos solúveis totais e do pH. Embora tenha havido oscilações nas determinações do teor de acidez, estas não influenciaram os cálculos dos ratios, que permaneceram na faixa de 11,00 a 12,00. Observa-se, também, que a degradação do ácido ascórbico, ao longo de 70 dias de estocagem a 10 ºC, foi pequena, pois o valor final de 295,0 mg AA/100g de suco de laranja concentrado, corresponde à retenção de 95,9%. Utilizou-se o mesmo modelo matemático empregado para expressar a cinética da degradação do ácido ascórbico dos sucos de laranja concentrados estocados a 30º C. A equação de ajuste é C= 307,7 e-0,0006, onde C é expresso 53 em mg AA/100g suco, x em dias e o valor da taxa de degradação é 0,0006 -1 dias , e o erro máximo absoluto não ultrapassou 3,1%, conforme Tabela 11. Na Figura 10 estão os valores experimentais e os ajustados do teor de ácido ascórbico (AA) do suco de laranja concentrado de ratio 11,41 estocado a -0,0006x 10 ºC, bem como a linha de tendência, pela equação C= 307,7 e . 54 Os resultados das determinações analíticas realizadas para o suco de laranja concentrado de ratio 15,56, estocado a 10 ºC, estão na Tabela 12. Nesta Tabela, observa-se que as variações do teor de sólidos solúveis totais e do pH foram pequenas, e que as do teor de acidez titulável não alteraram significativamente os cálculos dos ratios, que permaneceram na faixa de 15,00 a 16,00. A degradação do teor do ácido ascórbico do suco de laranja concentrado de ratio 15,56, estocado a 10 ºC, ao final de 70 dias, foi pequena, pois a retenção corresponde a 95,6% do teor inicial. Como as variações dos teores de ácido ascórbico, ao longo do período de estocagem, também dificultaram a análise direta da cinética da degradação do ácido ascórbico, optou-se pela aplicação do mesmo modelo matemático utilizado para o suco de laranja concentrado de ratio 11,41. Assim, o valor médio da taxa de degradação do ácido ascórbico para o suco de laranja concentrado de ratio 15,56, quando estocado a 10ºC, durante 55 -1 70 dias, é k= (0,0001±0,0061) dias , e os valores experimentais são ajustados -0,0001x pela equação C= C0e . Na Tabela 13 estão os valores experimentais e os valores ajustados do teor de ácido ascórbico, e os “erros de predição” do suco de laranja concentrado de ratio 15,56, estocado a 10 ºC, durante 70 dias, onde se observa que o erro absoluto máximo de predição não passou de 4,5%, configurando um bom acerto do modelo matemático. Na Figura 11 estão os valores experimentais e os ajustados do teor de ácido ascórbico (AA) do suco de laranja concentrado de ratio 15,56 estocado a -0,0001x 10 ºC, bem como a linha de tendência, pela equação C= 295,1e . 56 Observando-se as Figuras 10 e 11, nota-se que o perfil da degradação do teor de ácido ascórbico do suco de laranja concentrado de ratio 11,41, estocado a 10 ºC, durante 70 dias, é mais inclinado que o perfil do suco de 57 laranja concentrado de ratio 15,56, estocado nas mesmas condições, denotando maior velocidade de degradação. Este fato é evidenciado pela taxa -4 -1 de degradação do ácido ascórbico, sendo de 6,0*10 dias , para o suco de -4 -1 ratio baixo e de 1,0*10 dias , para o suco de ratio alto. Calculando-se o tempo de meia vida, ou seja, no qual o teor inicial do ácido ascórbico se reduz à metade, para ambos os sucos, através da equação x1/2= ln 2 / k ou x1/2= 0,6931 / k, encontra-se o valor de 1155 dias, para o suco de laranja de ratio 11,41, e o valor de 6931 dias, para o suco de laranja de ratio 15,56, o que demonstra a maior velocidade da degradação do ácido ascórbico do suco de ratio baixo. Extrapolando-se os teores calculados do ácido ascórbico dos sucos de laranja de ratios 11, 41 e 15,56, para além do período experimental de 70 dias de estocagem a 10 ºC, confirma-se que a cinética de degradação é de 1ª ordem, pois existe a relação exponencial da concentração do ácido ascórbico em relação ao tempo, e que a velocidade de degradação do ácido ascórbico do suco de laranja de ratio baixo (11,41) é muito superior à relativa ao suco de laranja de ratio alto (15,56), conforme observado na Figura 12. Nas Figuras 3, 6, 9 e 12, onde se comparam os perfis da degradação do teor de ácido ascórbico dos sucos de laranja concentrados estocados nas temperaturas de 10, 30, 50 e 70 ºC, respectivamente, observa-se a cinética de degradação de 1ª ordem e a quase superposição dos referidos perfis, mas com leve predominância das taxas da degradação do ácido ascórbico dos sucos de ratio baixo. Como o teor de acidez total titulável (ATT), em g de ácido cítrico/100g de suco dos sucos de laranja concentrados de ratio baixo é, em média, 34,8% maior que o equivalente para os sucos de laranja concentrado de ratio alto, há a suposição que o teor de acidez total titulável influencia a degradação do ácido ascórbico (KIMBALL, 1991), principalmente para os sucos de laranja concentrados estocados a 10 ºC (Figura 12), onde há uma grande diferença entre os perfis da degradação do ácido ascórbico, pois a taxa de degradação do ácido ascórbico do suco de ratio 11,41 apresentou-se (k= -1 -1 0,0006 dias ) muito superior à do suco de ratio 15,56 (k= 0,0001 dias ). No entanto, para as outras condições de estocagem (30, 50 e 70 ºC), o efeito do aumento da temperatura de estocagem sobre a degradação do ácido ascórbico torna-se muito maior que o efeito do teor de acidez total titulável, de maneira a 58 tornar quase idênticos os perfis da degradação do ácido ascórbico, tanto dos sucos de ratios baixos, como os de ratios altos, com pequenas diferenças entre as suas respectivas taxas de degradação (k). O efeito da temperatura sobre o perfil da degradação do ácido ascórbico dos sucos de laranja concentrados dos sucos de laranja concentrados fica muito mais evidente nas estocagens a 50 e 70 ºC. Na Figura 13 estão representados, para comparação, todos os perfis de degradação do teor de ácido ascórbico dos sucos de laranja concentrados de todos os ratios e em todos os períodos de estocagem expandidos nas temperaturas de 10, 30, 50 e 70 ºC. Na Tabela 14 estão, também para comparação, os valores das taxas de degradação do ácido ascórbico, os tempos de meia vida, os teores de acidez total titulável, os teores de sólidos solúveis totais e o pH dos sucos de laranja 59 concentrados, de ratios baixos e de ratios altos, estocados nas temperaturas de 10, 30, 50 e 70 ºC, onde se observa o aumento gradativo, com a temperatura, das taxas de degradação e a diminuição correspondente dos tempos de meia vida. Além disso, observa-se a pequena variação dos valores dos sólidos solúveis totais, do pH e da acidez total titulável, para ratio considerado. 60 61 5.5 – ENERGIA DE ATIVAÇÃO PARA A DEGRADAÇÃO DO ÁCIDO ASCÓRBICO DOS SUCOS DE LARANJA CONCENTRADOS ESTOCADOS NAS TEMPERATURAS DE 10, 30, 50 E 70 ºC -1 Na Tabela 14, observa-se que as taxas de degradação (k= dias ) do ácido ascórbico dos sucos de laranja concentrados aumentam com o aumento da temperatura de estocagem, tanto para os sucos de ratio baixo, como para os sucos de ratio alto. A dependência da taxa de degradação do ácido ascórbico com a temperatura pode ser calculada pela equação de Arrhenius: k= k0 e-(E0/RT), onde k é a taxa de degradação do teor de ácido ascórbico, em -1 -1 dias ; k0 é o fator de freqüência; E0 é a energia de ativação, em cal mol ; R é a -1 -1 constante universal dos gases= 1,987 cal mol K e K é a temperatura absoluta. Os parâmetros da equação de Arrhenius foram calculados pela regressão linear dos valores de ln k em relação aos inversos das temperaturas absolutas de estocagem consideradas (Tabela 15 e Figura 14). Para os sucos de laranja concentrados de ratio baixo, compreendidos na faixa de 11,00 a 12,00, estocados nas temperaturas de 10, 30, 50 e 70 ºC, da Figura 14 obteve-se a equação linear ln k= -9870 + 27,48, com coeficiente de 2 11 determinação r = 0,97, de onde se calcula k0= 8,60*10 -1 e E0= 19,43 kcal mol . 62 Para os sucos de laranja concentrados de ratio alto, compreendidos na faixa de 15,00 a 16,00, estocados nas temperaturas de 10, 30, 50 e 70 ºC, da Figura 14 obteve-se a equação linear ln k= -12380 + 35,02, com coeficiente de 2 15 determinação r = 0,95, de onde se calcula k0= 1,62*10 -1 e E0= 24,60 kcal mol . Considerando-se que a energia de ativação da degradação do ácido ascórbico dos sucos de laranjas concentrados, estocados nas temperaturas de 10 a 70 ºC, é a mínima necessária para que tal degradação aconteça, observase que, ao comparar os resultados obtidos pela equação de Arrhenius, a degradação do teor de ácido ascórbico dos sucos de laranja concentrados de ratio baixo, em qualquer temperatura, é mais rápida que a relativa a dos sucos de laranja concentrados de ratio alto, pois sua energia de ativação (E0= 19,43 kcal mol-1) é mais baixa que a energia de ativação dos suco de ratio alto (E0= -1 24,60 kcal mol ). Tal fato é evidenciado em todos os itens discutidos anteriormente (5.1 a 5.4), comprovado nas Figuras 3, 6, 9, 12 e 13. 63 Na Figura 14 podem ser observados os bons alinhamentos dos pontos 3 relativos a ln k e (1/T)*10 , para cada faixa de ratio considerada, dando origem 2 a retas com bons coeficientes de determinação (r = 0,97 para os sucos de 2 laranja concentrados de ratio baixo, e r = 0,95 para os de ratio alto). Como, para as estocagens a 10 e a 30 ºC, foi utilizada modelagem matemática diferenciada da tradicionalmente aplicada para as estocagens a 50 e a 70 ºC, confirma-se o acerto do modelo matemático, pelo bom alinhamento geral dos pontos e pelos coeficientes de determinação das regressões lineares obtidas. 64 6 – CONCLUSÕES _______________________________________________________________ -A cinética da degradação do teor de ácido ascórbico dos sucos de laranja concentrados de ratio baixo (11,00 a 12,00), durante os períodos de estocagem a 10, 30, 50 e 70 ºC, foi sempre superior à degradação do teor de ácido ascórbico dos sucos de laranja concentrados de ratio alto (15,00 a 16,00), estocados nas mesmas condições. -Na temperatura de 10 ºC, a cinética da degradação do teor de ácido ascórbico do suco de laranja concentrado de ratio baixo foi mais intensa que a correspondente ao suco de laranja de ratio alto. Tal comportamento foi encontrado, mas em menor intensidade, nos sucos de laranja concentrados estocados a 30 ºC. -O efeito da temperatura na degradação do ácido ascórbico dos sucos de laranja concentrados é muito mais intenso durante as estocagens a 50 e a 70 ºC. Nestas, os perfis de degradação do teor de ácido ascórbico dos sucos de laranja concentrados praticamente se sobrepõem, em razão das pequenas diferenças entre as taxas de degradação (k) e tempo de meia vida (x1/2) dos sucos de ratios baixo e alto. -A cinética da degradação do teor de ácido ascórbico foi de 1ª ordem, independentemente do ratio ou da temperatura empregados nos experimentos. -A determinação das energias de ativação de ambas as faixas de ratio foi efetuada com boa aproximação, pois as regressões lineares apresentaram bons coeficientes de determinação. -Os sucos de laranja concentrados, nas faixas de ratios estudadas, podem ser estocados, transportados e, eventualmente, manipulados, por vários dias, na temperatura de 10 ºC, pois as retenções do teor de ácido ascórbico são extremamente altas. Na temperatura de 30 ºC, tais procedimentos podem ser adotados, por alguns dias, pois as retenções do teor de ácido ascórbico também são muito elevadas. 65 7 – REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS AHRNÉ, L.M.; MANSO, M. C.; SHAH, E.; OLIVEIRA, F. A. R.; OSTE, R. E. Shelf-life prediction of aseptically packaged orange juice. In: Chemical markers for processed and stored foods, 1996, cap. 10, p. 107-117. ARENA, E.; FALLICO, B.; MACCARONE, E. Evaluation of antioxidant capacity of blood orange juices as influenced by constituents, concentration process an storage. Food Chem. v. 74, p. 423-427, 2001. ARROQUI, C.; RUMSEY, T. R.; LOPEZ, A.; VIRSEDA, P. Effect of different soluble solids in water on the ascorbic acid during water blanching of potato tissue. J. Food Eng. v. 47, p. 123-126, 2001. BENASSI, M. de T. Análise dos efeitos dos diferentes parâmetros na estabilidade da vitamina C em vegetais processados. 159f. 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