FACULDADE DE ESTUDOS ADMINISTRATIVOS EM MINAS GERAIS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO NAIARA VIEIRA SILVA IVO MARKETING VIRAL: A RELAÇÃO ENTRE AUTOEXPRESSÃO E O COMPARTILHAMENTO DE MENSAGENS PUBLICITÁRIAS ONLINE Belo Horizonte 2014 NAIARA VIEIRA SILVA IVO MARKETING VIRAL: A RELAÇÃO ENTRE AUTOEXPRESSÃO E O COMPARTILHAMENTO DE MENSAGENS PUBLICITÁRIAS ONLINE Dissertação de Mestrado apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação e Pesquisa do Centro de Gestão Empreendedora da Faculdade de Estudos Administrativos de Minas Gerais (FEAD), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Administração. Linha de pesquisa: Estratégia, Competitividade e Inovação. Orientadora: Prof. Dra. Juliana Maria Magalhães Christino Belo Horizonte 2014 FACULDADE DE ESTUDOS ADMINISTRATIVOS EM MINAS GERAIS NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO Qualificação intitulada “MARKETING VIRAL: a relação entre autoexpressão e o compartilhamento de mensagens publicitárias online” da mestranda Naiara Vieira Silva Ivo, aprovada pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores: _______________________________________________ Profª. Dra. Juliana Maria Magalhães – ORIENTADORA _______________________________________________ Profª. Dra. Josmária de Oliveira - FEAD _______________________________________________ Prof. Dr. Fabrício Ziviani - FEAD _______________________________________________ Prof. Dr.Caio Cesar Giannini Oliveira – PUC-MG Belo Horizonte 2014 AGRADECIMENTOS A cada passo, palavra e atitude confirmo minha aliança de amor com Deus. Assim, sob a intercessão de Nossa Senhora agradeço fervorosamente, por mais essa vitória alcançada. À Prof.ª Dr.ª Juliana Maria Magalhães Christino, pelas orientações partilhadas, pela particular atenção às dificuldades enfrentadas na condução deste trabalho e pela confiança ao propor novos desafios. Ao corpo docente da FEAD pelos valiosos ensinamentos, que certamente, serão aplicados em minha trajetória profissional. À equipe de colaboradores da FEAD pela dedicação e presteza. Aos meus colegas de mestrado, que já estão guardados junto às minhas melhores memórias. Às Faculdades Santo Agostinho pelo incentivo para realização desse curso reafirmando seu compromisso com a qualidade do corpo docente da Instituição. Aos meus pais, por me ensinarem a nunca desistir daquilo que me faz bem, em especial minha mãe Elbir, meu porto seguro, meu exemplo de amor, fé, doação e alegria. Ao meu querido esposo Leandro Ivo pela compreensão, incentivo e cumplicidade. E à pequenina Júlia Maria, motivo maior de minha vida e por quem quero dias melhores. Por fim, a todos os meus amigos e familiares que torceram por mim e, que, de alguma maneira, colaboraram para a realização deste mestrado e, que, definitivamente, fazem parte da minha história. RESUMO Este estudo foi baseado na pesquisa de Taylor et al (2012) cuja discussão trata-se dos motivos preditores sobre a propensão a compartilhar mensagens publicitárias online. Apesar de estudos anteriores afirmarem que a probabilidade dos consumidores compartilharem um anúncio publicitário online nas redes sociais fomentando a comunicação eWON depende da medida em que este anúncio expressa seu autoconconceito. No cenário brasileiro, essa relação não foi constatada, ou seja, não foi comprovada a relação entre a autoexpressividade e propensão ao compartilhamento das mensagens publicitárias online, portanto, a conclui-se que autoexpressão não é variável moderadora da comunicação eWON. Sob o modelo teórico proposto, cinco construtos foram avaliados em 4 vídeos distintos, selecionados a partir de um ranking de visualizações e compartilhamentos, por 321 universitários na cidade de Montes Claros/MG em abril/2014. Para tratamento dos dados utilizou-se o software SPSS (versão 18) com emprego de métodos estatísticos multivariados, sendo aplicados Análise Fatorial Exploratória; Análise Fatorial Confirmatória e, por fim, Modelagem de Equações Estruturais, cujo resultado diverge do estudo norteador deste trabalho ao mesmo tempo em que revela sua fragilidade. Palavras-chave: publicidade online, compartilhamento de mensagens virais, motivação, identidade. ABSTRACT This study was based on research by Taylor et al (2012) whose discussion these are the reasons predictors of the propensity to share online advertising. Although previous studies claiming that the likelihood of consumers share an advertising online advertising on social networks fostering communication EWON depends on the extent to which this ad expresses his autoconconceito. In the Brazilian context, this relationship was not found, or was not proven relationship between the propensity to autoexpressividade and sharing of online advertising, therefore, self-expression is not moderating variable communication EWON. Under the proposed theoretical model, five constructs were evaluated in 4 different videos, selected from a rank views and shares, for 321 students in the city of Montes Claros / MG abril/2014. For data processing we used the SPSS software (version 18) with the use of multivariate statistical methods being applied Exploratory Factor Analysis; Confirmatory Factor Analysis and finally, Structural Equation Modeling, the result differs from the study guiding this work at the same time reveals its fragility. Keywords: online advertising, viral sharing messages, motivation, identity LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Esquema de integração entre Marketing Viral e Buzz Marketing...................... 30 Figura 2 – Modelo teórico proposto para o estudo............................................................... 48 Figura 3 – Vídeo YouTube Metamorfose Ambulante – Raul está vivo............................... 58 Figura 4 – Vídeo YouTube “Inspirar com a arte #issomudaomundo”................................. 58 Figura 5 – Vídeo YouTube Campanha Golfinho – VISA.................................................... 59 Figura 6 – Vídeo YouTube “Cumpadi Washington” Bom Negócio.................................... 60 Figura 7 – Representação do modelo estrutural proposto.................................................... 88 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Conceituação de Marketing Viral..................................................................... 26 Quadro 2 – Similaridades e diferenças entre o boca a boca tradicional e o boca a boca eletrônico............................................................................................................................... 28 Quadro 3 – Família de emoções............................................................................................ 33 Quadro 4 – Variáveis constitutivas de construtos................................................................. 56 LISTA DE TERMOS E ABREVIATURAS AVE - Variância Média Extraída: Indica o percentual médio de variância compartilhada entre o construto latente e seus indicadores. AC - Alfa de Cronbach: Indicador que representa a proporção da variância total da escala que é atribuída ao verdadeiro escore do construto latente que está sendo mensurado. 1ºQ – Primeiro Quartil: O primeiro quartil é uma medida de posição que indica que pelo menos 25% das respostas são menores que ele. 2ºQ – Segundo Quartil: O segundo quartil, também conhecido como mediana é uma medida de posição que indica que pelo menos 50% das respostas são menores que ele. 3ºQ – Terceiro Quartil: O terceiro quartil é uma medida de posição que indica que pelo menos 75% das respostas são menores que ele. CFI: Índice de Ajuste Comparativo. CF - Cargas fatoriais: Correlação entre as variáveis originais e os fatores (variáveis latentes). Comunalidade: Quantia total de variância que uma variável medida tem em comum com os constructos sobre os quais ele tem carga fatorial. CC - Confiabilidade Composta: Medida do grau em que um conjunto itens de um constructo é internamente consistente em suas mensurações. D.P. - Desvio Padrão. É uma das principais medidas de dispersão dos dados. Pode ser definida como a raiz quadrada da variância. Sua medida representa o quanto os dados se afastam da média. G.L.: Graus de Liberdade. GoF: Medida de qualidade de ajuste do modelo estrutural. P-valor: É uma estatística utilizada para sintetizar o resultado de um teste de hipóteses. Formalmente, o p-valor é definido como a probabilidade de se obter uma estatística de teste igual ou mais extrema que aquela observada em uma amostra, assumindo como verdadeira a hipótese nula. Como geralmente define-se o nível de significância em 5%, uma p-valor menor que 0,05, gera evidências para rejeição da hipótese nula do teste. Mín - Mínimo: Se refere ao menor valor observado em uma variável quantitativa. Máx - Máximo: Se refere ao maior valor observado em uma variável quantitativa. Variância compartilhada: Evidencia o quanto um constructo consegue explicar da variabilidade do outro. RMSEA: Raiz do erro quadrático médio de aproximação. R²: Medida de qualidade de ajuste do modelo estrutural. LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Estatísticas Descritivas da Idade dos Entrevistados......................................... 66 Tabela 2 - Frequência para as variáveis Sexo, Estado Civil e Renda Familiar................. 67 Tabela 3 - Frequência de acesso relacionada às questões sobre o acesso ao YouTube..... 68 Tabela 4 - Frequência de acesso relacionado ao conteúdo................................................ 69 Tabela 5 - Estatísticas descritivas da escala de concordância com as questões sobre o perfil de usuário no YouTube........................................................................................... 71 Tabela 6 - Média, desvio-padrão e intervalo de confiança para a escala padronizada com as afirmativas que formam o constructo “Valor de Entretenimento” para cada vídeo................................................................................................................................... 73 Tabela 7 - Média, desvio-padrão e intervalo de confiança para a escala padronizada com as afirmativas que formam o constructo “Auto Expressão” para cada vídeo............ 74 Tabela 8 - Média, desvio-padrão e intervalo de confiança para a escala padronizada com as afirmativas que formam o constructo “Envolvimento” para cada vídeo.............. 76 Tabela 9 - Média, desvio-padrão e intervalo de confiança para a escala padronizada com as afirmativas que formam o constructo “Congruência Self e Marca” para cada vídeo.................................................................................................................................. 77 Tabela 10 - Média, desvio-padrão e intervalo de confiança para a escala padronizada com as afirmativas que formam o constructo “Propensão a Compartilhar” para cada vídeo................................................................................................................................... 78 Tabela 11 - Adequação da solução fatorial........................................................................ 80 Tabela 12 - Comunalidade, Cargas Fatoriais e Variâncias Extraídas................................ 81 Tabela 13 - Análise Fatorial Confirmatória....................................................................... 83 Tabela 14 - Alfa de Cronbach, Confiabilidade Composta e Validação Discriminante..... 84 Tabela 15 - Ajuste do Modelo Estrutural........................................................................... 85 Tabela 16 - Parâmetros de qualidade de ajuste do modelo estrutural................................ 87 Tabela 17 - Hipóteses testadas........................................................................................... 88 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Boxplot e Histograma com a Distribuição da Idade dos Entrevistados....... 66 Gráfico 2 - Barras das frequências relativas dos Sexos.................................................. 67 Gráfico 3 - Barras das frequências relativas das categorias de Estado Civil.................. 67 Gráfico 4 - Barras das frequências relativas das faixas de Renda Familiar.................... 68 Gráfico 5 - Barras empilhadas com a frequência de acesso relacionada às questões sobre o acesso ao YouTube............................................................................................. 69 Gráfico 6 - Barras empilhadas da frequência de acesso relacionado ao conteúdo.......... 71 Gráfico 7 - Barras com intervalo de confiança para a média da escala de concordância com o perfil de usuário no YouTube........................................................ 72 Gráfico 8 - Média da escala padronizada e intervalo de confiança para as afirmativas que formam o constructo “Valor de Entretenimento” em cada vídeo............................ 73 Gráfico 9 - Média da escala padronizada e intervalo de confiança para as afirmativas que formam o constructo “Auto Expressão” em cada vídeo........................................... 75 Gráfico 10 - Média da escala padronizada e intervalo de confiança para as afirmativas que formam o constructo “Envolvimento” em cada vídeo.......................... 76 Gráfico 11 - Média da escala padronizada e intervalo de confiança para as afirmativas que formam o constructo “Congruência Selg e Marca” em cada vídeo...... 78 Gráfico 12 - Média da escala padronizada e intervalo de confiança para as afirmativas que formam o constructo “Propensão a Compartilhar” em cada vídeo....... 79 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 14 1.1 Contextualização e caracterização do projeto........................................................ 14 1.2 Problema................................................................................................................ 19 1.3 Objetivos................................................................................................................ 19 1.3.1 Objetivo geral..................................................................................................... 20 1.3.2 Objetivos específicos.......................................................................................... 20 1.4 Justificativa e relevância da pesquisa.................................................................... 20 1.5 Estruturação da dissertação.................................................................................... 21 2 COMUNICAÇÃO E AUTOEXPRESSIVIDADE............................................... 23 2.1 Comunicação eWON: a tendência de marketing da década.................................. 23 2.1.1 Buzz marketing.................................................................................................... 29 2.2 Relação entre emoções e Ewon............................................................................. 31 2.3 Relações entre envolvimento com a categoria de produto e eWON..................... 35 2.4 Autoexpressão e consumo..................................................................................... 37 2.5 Congruência entre autoimagem e o consumo de marcas....................................... 39 2.5.1 A relação entre autocongruência e congruência funcional................................. 40 2.6 O significado da marca.......................................................................................... 44 3 PROPOSIÇÃO DE MODELO TEÓRICO......................................................... 48 3.1 Desenvolvimento e apresentação das hipóteses.................................................... 49 3.1.1 Autoexpressão..................................................................................................... 49 3.1.2 Valor de entretenimento...................................................................................... 50 3.1.3 Envolvimento com a categoria do produto......................................................... 51 3.1.4 Congruência self e marca.................................................................................... 51 4 PERCURSO METODOLÓGIO........................................................................... 53 4.1 Caracterização do objeto de pesquisa.................................................................... 53 4.2 Tipo de pesquisa.................................................................................................... 53 4.3 Técnica de pesquisa............................................................................................... 54 4.4 Concepção de instrumento de coleta de dados...................................................... 55 4.5 Fases de execução.................................................................................................. 57 4.5.1 Planejamento....................................................................................................... 57 4.5.2 Execução............................................................................................................. 57 4.5.3 Fechamento......................................................................................................... 60 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS....................................... 61 5.1 Análise de dados faltantes e outliers..................................................................... 61 5.2 Normalidade e linearidade dos dados da pesquisa................................................ 62 5.3 Descrição dos métodos e técnicas utilizados........................................................ 63 5.4 Análise descritiva do perfil dos entrevistados...................................................... 65 5.5 Análise descritiva das variáveis dos construtos.................................................... 72 5.6 Análise Fatorial Exploratória – dimensionalidade dos construtos........................ 79 5.7 Análise Fatorial Confirmatória............................................................................. 82 5.8 Modelo de Equações Estruturais........................................................................... 84 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 89 6.1 Contribuições acadêmicas...................................................................................... 92 6.2 Contribuições gerenciais........................................................................................ 92 6.3 Limitações.............................................................................................................. 92 6.4 Sugestões de pesquisas futuras.............................................................................. 92 REFERÊNCIAS......................................................................................................... 94 APÊNDICE................................................................................................................. 101 14 1 INTRODUÇÃO 1.1 Contextualização e caracterização do projeto A era moderna do marketing viral tem deixado especialistas e profissionais de marketing intrigados quanto ao seu resultado. Afinal, por que algumas campanhas de publicidade online se tornam virais, enquanto outras fracassam? Alguns autores atribuem o sucesso da viralização aos altos níveis de engajamento do consumidor (HARVEY et al., 2011), à intensidade dos laços sociais entre os indivíduos (BENTIVEGNA, 2002; RECUERO, 2009), à quantidade de comunicação através do laço (HARVEY et al. 2011), ao apelo persuasivo do remetente (KIRBY, 2005), ao design, criatividade e conteúdo, dos incentivos financeiros (ULER et al 2010) às conexões emocionais, do gênero, da cultura (DOBELE et al., 2007). E a combinação desses fatores afeta o comportamento do encaminhamento (HARVEY et al. 2011). Este estudo, porém, sugere outra vertente postulada por Taylor et al (2012), em que a motivação adicional para a partilha de mensagens está associada a um sentido de identidade, pois, conforme acredita o autor, a probabilidade de os consumidores compartilharem um anúncio publicitário online nas redes sociais depende da medida em que esse anúncio exprime seus autoconconceito. No ambiente virtual, pela horizontalização da comunicação eWON (AGUIAR, 2007; ULER et al 2010), esta se multiplica de forma exponencial (AGUIAR, 2007; ACIOLI, 2007; RECUERO, 2009), literalmente, na velocidade da luz. Como um vírus, as informações sobre a empresa, mensagens sobre o produto/marca podem ser espalhadas ao potencial comprador, que, em seguida, passa a informação para outros compradores potenciais formando rapidamente uma grande rede (DOBELE, et al, 2007) fato que só é possível, desde que expressem um sentido de identidade para os atores dessa rede (TAYLOR, et al 2012). De acordo com Telles (2011), o conteúdo criado assume uma proporção muitas vezes não esperada ou planejada, alcançando rapidamente um alto número de visualizações e reproduções. 15 Para Sundaram, Mitra e Webster (2004), a comunicação eWON adquiriu importância devido a sua alta taxa de incidência no mercado, bem como ao papel persuasivo que desempenha em influenciar as atitudes dos consumidores e suas decisões de compra. Tubenchlak (2013) acrescenta que a comunicação eWON passou a acontecer através de diferentes formatos: sites de opinião de consumidores (DELLAROCAS, 2003; HENNING-THURAU ET AL., 2004), sites de varejistas (CHEVALIER e MAYZLIN, 2006), sites de boicote a empresas criados pelos próprios consumidores (WARD e OSTROM, 2006), sites de marcas (LEE e YOUN, 2009), blogs (KOZINETS, 2001), comunidades virtuais de interesse (PURSIAINEN, 2010) e sites de redes sociais (LEE e YOUN, 2009; CHU e KIM, 2011). Em meio a tantas possibilidades de atuação, os consumidores percebem que, ao compartilhar uma mensagem publicitária via eWOM, acontece, além do endosso ao conteúdo da mensagem, o ato da partilha que denota a autoexpressão da sua identidade para os outros (HARVEY et al 2012). Algumas marcas mundiais, como Budweiser, Coca-cola, eBay, Levis, Nestlé, Honda, entre outras, perceberam com mais brevidade esse movimento e utilizam as ferramentas da Web 2.0 para relacionar-se com o consumidor de maneira mais dinâmica, criativa e menos incômoda, a fim de gerar não apenas a propensão à compra, mas também a propensão de defender em nome da produto/marca (FERGUSSON, 2008). Perceberam também que as comunicações positivas e negativas na web, especialmente, nas redes sociais, podem ter forte influência sobre o comportamento dos consumidores e sobre o desempenho dos negócios, afirmam Sundaram, Mitra e Webster (2004). A Procter e Gamble (P&G), com o serviço Tremor, atua com mais de 225 mil pessoas interconectadas para auxiliar a comercializar produtos para os adolescentes, utilizando as técnicas eWON. Na mesma linha, 600 mil mães inscritas na rede Vocalpoint compartilham suas experiências de consumo com mais 25-30 outras mulheres por dia. Ambos serviços se baseiam na premissa de que algumas pessoas querem saber mais sobre os produtos, receber amostras e cupons, compartilhar suas opiniões com as empresas e comentar suas experiências com os outros (FERGUSSON, 2008). Nesse sentido, explorar a comunicação horizontal se revela uma boa estratégia. Segundo Fergusson (2008), as pessoas gostam de falar sobre as marcas e produtos. O desafio das empresas está em levar as pessoas falarem sobre seu negócio. Na tentativa de garantir o 16 sucesso da ação viral, Taylor et al (2012) pontuam que as empresas devem considerar o valor simbólico das marcas e/ou produtos e as propriedades de autoexpressão de seus anúncios online e combiná-los ao autoconconceito dos consumidores–alvo. As empresas inteligentes apostam nessa combinação para gerar a eWON positiva nas redes sociais. A campanha Dove pela Real Beleza, desenvolvida a partir das tendências do comportamento de consumidoras de todo o mundo, exemplifica essa combinação sugerida pelo autor. Através dessa campanha, a Dove pretendia modificar os padrões estabelecidos pelos paradigmas de beleza vigentes nas sociedades, e iniciou sua tentativa de redefinir o termo “beleza”. O filme foi postado no site de compartilhamento de vídeos YouTube e foi visto mais de 40.000 vezes em seu primeiro dia e 1 milhão e 700 mil vezes em um mês (YOUTUBE, 2006). Atualmente, a nova campanha Dove “Dove Real Beauty Sketches”, da Ogilvy Brasil, é o viral publicitário mais assistido da história, com 114 milhões de views. O experimento recrutou mulheres que deveriam descrever a si própria a um artista forense, que fez um retrato falado. E elas tinham que descrever alguma das outras participantes. Ao final, o artista mostrava a cada mulher o retrato que ela própria descreveu e também um outro retrato, construído a partir das opiniões de outra pessoa. As diferenças são gritantes e mostram o quanto as pessoas têm uma imagem muito pior de si próprias. O fato de o anúncio fazer as pessoas se questionarem a respeito de sua própria condição de beleza, traduzindo uma imagem projetada para ela e para os outros na cultura do consumo (Batey, 2010) pode ter sido o “start” no interesse pelo compartilhamento do vídeo, pois, no entendimento de Taylor et al (2012) a publicidade que os consumidores percebem como capaz de expressar sua auto-percepção é mais provável de ser encaminhada. O autor reforça que, na medida em que o anúncio expressa autoconconceito dos consumidores, que existe semelhança entre a imagem da marca e a auto-imagem, ocorre com maior intensidade, o compartilhamento das mensagens entre as pessoas. Baseado na teoria da identidade, cujo conceito será mais detalhado adiante, Taylor et al (2012) afirmam que a interação social inerente às formas de comunicação eWOM (a partilha e recomendação das mensagens publicitárias para os outros) expressa a identidade do 17 consumidor. Por outro lado, a interação social do consumidor (a propensão para compartilhar mensagens eWOM com os outros) é moldada pelo seu senso de auto- expressão da identidade. As interações sociais são importantes instrumentos na formação da identidade, pois o indivíduo, entendido como ator desempenhando papéis, pode decidir racionalmente que imagem, figurino e cenário quer expressar, de acordo com as diferentes situações vivenciadas (MIRANDA, 1998). Assim, Christino (2010) acredita que o construto da identidade se posiciona mediante a interface da personalidade individual, das relações sociais e do contexto externo. Christino (2010) afirma que a identidade é compreendida por meio da ideia de consumo, ou seja, a construção da identidade perpassa pelo consumo de objetos que funcionam como signos que classificam e diferenciam o indivíduo socialmente (BAUDRILLARD, 1991), sendo este, muitas vezes, compreendido a partir do exame de suas posses (BELK, 1998). Para o autor, uma pessoa pode representar o seu eu por meio de diversos fatores, como suas ideias, coleções, dinheiro, animais de estimação, outras pessoas e parte do corpo, já que os indivíduos constroem e comunicam sua identidade em contexto social, por meio de posses e relacionamentos (WRIGTH, CLAIBORNE, SIRGY, et al 1992). Devido ao fato de a identidade se apresentar de forma abstrata, alguns aspectos parciais podem ser agrupados como maneira de identificá-la. Antes, porém, faz-se necessário introduzir o conceito do self. De acordo com Sirgy (1982), o self é responsável pela manutenção da identidade do indivíduo, sendo esse um órgão mental de consecução da existência e um pela qual ela se efetiva. Muitas definições tradicionais de autoconceito consideram o self com sendo unitário, no entanto, literaturas mais recentes da psicologia sobre autoconceito apontam a possibilidade de múltiplos selves, ou seja, o self é considerado uma coleção de máscaras relacionadas com cenários particulares de circunstâncias sociais. Assim, cada domínio de autoconconceito representa as esperanças e medos persistentes dos indivíduos, indicando o que deve ser realizado em certas situações (SIRGY, 1982). De acordo com Batey (2010), a autoimagem de um indivíduo por ser considerada um amalgama de várias dimensões: o self que acredito que sou, o self que eu gostaria de ser (o 18 self ideal) e o self como eu creio que os outros me veem (social ideal). No mesmo viés, Belk (1998) acrescenta o self estendido (exame de posses). Diante desta perspectiva, a representação do eu na vida cotidiana tende a assumir algum lugar entre a apresentação da autoimagem e uma que se orienta para as identidades desejadas (BATEY, 2010). Assim como as interações sociais, o consumo se apresenta como um fator crítico no processo de construção da identidade. Na medida em que o autoconconceito é criado e compreendido através de atos simbólicos de consumo, as mudanças no autoconconceito que acompanham o desenvolvimento humano podem ser percebidas, mesmo que parcialmente, através da alienação e aquisição de bens de consumo (SCHOUTEN, 1991). O autoconconceito pode ser definido como a maneira segundo a qual o indivíduo vê a si mesmo (SIRGY, 1982) é aquilo que o indivíduo pensa de si, é a totalidade de pensamentos e sentimentos do indivíduo a respeito de si mesmo como um objeto, que pode se auto-descrever e se perceber da forma como descreveria um produto (CAVALLET-MENGARELLI, 2008). Retomando os motivos preditos por Taylor et al (2012) sobre a propensão em compartilhar anúncios publicitários online, outra relação importante a essa condição diz respeito à categoria do produto para o consumidor e ao valor de entretenimento que o consumidor encontra no anúncio. Sobre o envolvimento do consumidor quanto à categoria do produto, Engel, Blackwell e Miniard (1993) acreditam que o nível de interesse em um produto ou na categoria de produto faz com que os consumidores sejam fortemente envolvidos e, consequentemente, mais propensos a conversar com outras pessoas sobre esse produto. Já o valor de entretenimento de uma mensagem publicitária online depende do seu significado, o qual é determinado pela identidade, ou seja, o que as pessoas acham divertido reflete quem elas são, como elas veem a si mesmas, e como elas são percebidas pelos outros. (TAYLOR et al., 2012). Contudo, vale pontuar que os motivos para se envolver na comunicação eWON estão, significativamente, relacionados com as experiências de consumo e seus efeitos (sentimentos subjetivos), afirmam Sundaram, Mitra e Webster (2004). 19 1.2 Problema Mesmo diante de tamanha interatividade e flexibilidade da internet, especialmente quanto às ferramentas da Web 2.0, acredita-se que o sucesso do marketing viral está diretamente condicionado ao fator humano, aos “nós” que fazem a trama da rede. E, que, consequentemente, depende não só do engajamento e envolvimento de cada elo dessa rede para a disseminação das mensagens publicitárias, mas também, da congruência percebida entre a imagem do produto/marca e a autoimagem do consumidor. Tal relação favorece o efeito positivo sobre a probabilidade de compartilhar de uma mensagem eWOM, e também ajuda a aumentar a autoexpressividade da mensagem eWOM. Surpreendentemente, uma das maneiras como as pessoas tentam expor sua identidade é por meio dos padrões de consumo. Batey (2010) comenta que esse fato é “uma espécie de processo autossimbolizante, uma pessoa é capaz de comprar e usar certa marca para firmar seu autoconceito ou para mostrar que chegou a uma identidade idealizada ou desejada, chamada por autorrealização simbólica. Mas o que, de fato, propicia o compartilhamento das mensagens publicitárias em redes sociais? Por que algumas campanhas de publicidade online se tornam virais, enquanto outras fracassam? Pesquisas anteriores indicam que os consumidores tendem a encaminhar mensagens publicitárias que sejam percebidas como divertidas, informativas, estimulantes, chocantes, em suma, mensagens que evocam fortes respostas emocionais. Este estudo pretende investigar se o fato de expressar um sentido de identidade funciona como uma motivação adicional para a partilha de mensagens, em outras palavras, pergunta-se: a autoexpressão é moderadora do compartilhamento de publicidade online? 1.3 Objetivos Apresentam-se a seguir os objetivos propostos neste estudo: 20 1.3.1 Objetivo geral Analisar a relação entre autoexpressão e propensão ao compartilhamento de mensagens publicitárias online. 1.3.2 Objetivos específicos . Investigar como a autocongruência com a marca pode influenciar a propensão ao compartilhamento de mensagens publicitárias online. . Verificar as possíveis relações entre as emoções percebidas e a propensão ao compartilhamento de mensagens publicitárias online. . Relacionar o papel do envolvimento com a categoria de produto anunciada e a propensão ao compartilhamento de mensagens publicitárias online. 1.4 Justificativa e relevância da pesquisa O homem pós-moderno passa um bom tempo envolvido no trabalho contínuo de negociar significados de experiências vividas por si mesmas ou pelos outros, na tentativa de criar e manter uma identidade (BATEY, 2010). Ele se constrói ao redor de uma imagem que ele projeta, uma vez que faz suas escolhas não apenas pelos ganhos de utilidade, mas, também, pelo significado simbólico dessas escolhas (TAYLOR et al., 2012). Embora a comunicação eWON e o marketing viral terem recebido considerável atenção na literatura, ainda são poucos os estudos científicos que examinam as motivações para se envolver na disseminação das mensagens virais e o comportamento da partilha de mensagens virais a partir da relação entre simbolismo do produto/marca e autoimagem do consumidor. Normalmente, as pesquisas abordam a fundamentação teórica sobre a formação das redes sociais de comunicação, os diferentes papéis dos agentes envolvidos no processo da comunicação viral a colaboração do consumidor e sua disposição em explorar os laços sociais (HARVEY, STEWART E EWING, 2011). No uso do marketing viral como ferramenta de comunicação de marketing, destacam-se as pesquisas de Bertivegna (2002), Phelps et al. (2004); Silva (2008); Cruz e Fill (2008); Mazzon, Andrade, Katz (2011), Acioli (2007); Tete; Almeida e Coelho (2011). 21 Noutra linha de pesquisa sobre a teoria da autocongruência, cujo assunto norteia este estudo, Taylor et al (2012) ponderam que o sucesso ou o fracasso da viralização das mensagens publicitárias online depende da construção da autoimagem de cada envolvido relacionada às suas experiências de consumo. Samli, Kelly e Hunt (1998) mapearam estudos que verificaram autocongruência com relação a diversos bens de consumo: (1) automóveis (BIRDWELL, 1968; GRUBB E HUPP, 1968; GRUBB E STERN, 1971; HUGHES E GUERRERO, 1971; KARANDE, ZINKHAN E LUM, 1997; ROSS, 1971); (2) produtos de uso doméstico (DOLICH, 1969; LANDON, 1974); (3) cigarros (DOLICH, 1969). (4) cerveja e bebidas (GRAEFF, 1997; HOGG, COX E KEELING, 2000); (5) casas (MALHOTRA, 1988; SIRGY, GRZESKOWIAK E SU, 2005); (6) supermercados (MARTINEAU, 1958; SIRGY E SHĀMILĪ, 1985; STERN, BUSH E HAIR, 1977); (7) revistas (ROSS, 1971). Adicionalmente ao levantamento de Samli et al (1998), foram encontrados, até o momento, os seguintes trabalhos que investigaram autocongruência: (1) automóveis (KRESSMANN et al 2006); (2) restaurantes e hotéis (EKINCI E RILEY, 2003; BACK, 2005); (3) casas (SIRGY, GRZESKOWIAK E CHENTING-SU, 2005), (4) destino turístico (BEERLI, MENESES E GIL, 2007, HUNG E PETRICK, 2010), (5) artigos esportivos (KUAK E KANG, 2009). Trata-se, portanto, de um assunto de grande relevância no entendimento do comportamento de consumo. Diante da escassez de produções científicas nacionais produzidas a respeito do assunto, espera-se que este estudo elucide a possível relação entre a autoexpressão e a propensão em compartilhar mensagens publicitárias, em especial, no mercado brasileiro. Assim, a fim de preencher essa lacuna, faz-se necessário o estudo deste tema para o aprofundamento científico, o que contribuirá para a formação acadêmica não somente da pesquisadora quanto os que compartilharem da leitura e troca de experiências ofertadas por este estudo. 1.5 Estruturação da dissertação Este estudo está organizado em quatro capítulos, sendo o primeiro deles reservado à introdução, problema, objetivos geral e específicos, justificativa e relevância da presente pesquisa e, por fim, a estrutura da dissertação. O segundo capítulo apresenta uma revisão de literatura com o objetivo de melhor compreender a comunicação eWon e sua implicação na 22 interação com o marketing viral, os fatores motivacionais para propensão ao encaminhamento das mensagens virais por parte dos consumidores, a relação entre autoexpressão e consumo e a congruência entre autoimagem e imagem do produto/marca. No capítulo três, apresentam-se as hipóteses, explicadas por meio da proposição de modelo teórico. A metodologia utilizada no processo de estruturação da pesquisa, bem como dos instrumentos nela utilizados compõem o capítulo quatro. No capítulo cinco foram apresentados e analisados os resultados da pesquisa. Por fim, são apresentados as considerações finais, referências e os anexos. 23 2 COMUNICAÇÃO E AUTOEXPRESSIVIDADE O referencial teórico foi desenvolvido, de maneira preliminar, abordando a visão de diferentes autores sobre a fundamentação teórica do marketing viral a partir da integração dos conceitos da teoria da formação das redes sociais de comunicação e as motivações para a transmissão das mensagens virtuais pautadas pelo envolvimento e engajamento dos indivíduos em seus diferentes níveis e papeis a partir da congruência entre a imagem da marca e a autoimagem do consumidor. 2.1 Comunicação eWON: a tendência de marketing da década Em se tratando de comunicação no ambiente virtual, diferentemente das mídias tradicionais, a internet possibilita a comunicação de muitos para muitos, numa capacidade igualitária dos participantes (emissor, mídia e receptor) pontuam Bordia (1997); Urdan, Urdan (2006) possibilitando uma interatividade em tempo real para trocar informações e/ou trocar experiências. Silva (2008) acrescenta que a Internet é responsável por interferir na relação entre empresa e cliente, transformando o último em agente de divulgação de produtos/marcas ao oferecer multiplicidade de mecanismos para que indivíduos manifestem suas opiniões e experiências de consumo. De acordo com Mazzon; Andrade; Katz (2006), a comunicação assume lugar central na disseminação da informação e na construção simbólica das marcas. Na antiga propaganda, o consumidor era o ponto final de uma comunicação baseada numa relação emissor versus receptor, ou seja, as preocupações se encerravam com a assimilação da mensagem pelo consumidor (Figueira, 2006; Barichello e Oliveira, 2010). Agora, na propaganda moderna, os papéis exercidos pelos interagentes se mesclam e se confundem em meio à interatividade possibilitada pela internet (BARICHELLO e OLIVEIRA, 2010), tornando o consumidor o principal potencializador e propagador da mensagem para outros grupos de pessoas, pois estes deixaram de ser receptores passivos e se tornaram criadores ativos de informações de consumo KOZINETS (2001). 24 A comunicação publicitária desempenha um esforço fundamental na influência do comportamento de consumo. Ao moldar, construir e modificar as associações de produtos/marcas, o êxito para a aceitação da mensagem pelo consumidor depende não só da criatividade do publicitário, mas das interpretações à luz das motivações, valores e aspirações simbólicas do consumidor (BATEY, 2010). De acordo com Taylor et al (2012) a publicidade que os consumidores percebem como capaz de expressar sua autopercepção é mais provável de ser encaminhada. O autor reforça, que na medida em que o anúncio expressa autoconconceito dos consumidores, que existe semelhança entre a imagem da marca e a autoimagem ocorre, com maior intensidade, o compartilhamento das mensagens entre as pessoas. Esse novo ambiente online é propício para uma nova forma de comunicação, o marketing viral, que, na visão de Fergusson (2008), tornou-se a tendência de marketing que define essa década. Pouco se conhece sobre a seara do marketing viral, talvez porque esse assunto sempre tenha sido tratado como alternativas periféricas de comunicação nos estudos sobre marketing. Diante das transformações provocadas pelas novas tecnologias de transporte e comunicação e pelo fortalecimento do consumidor como agente do processo de troca, percebeu-se a necessidade de buscar academicamente as teorias necessárias para a composição genealógica do marketing viral, termo adotado para a milenar forma de comunicação, boca a boca. De acordo com Kotler e Keller (2006), o processo boca a boca é a forma mais antiga de comunicação de marketing existente, pois se vale da troca de informações, positivas ou negativas, face a face, sem a necessidade de suporte dos meios. No entanto, essa antiga estratégia de comunicação ganhou novos contornos, especificações e designações (SILVA, 2008), sendo tratada como marketing viral, que, na concepção de Kirby (2005), é a versão contemporânea do fenômeno, word-of-mouth ou word-of-mouse. O termo “viral” faz um paralelo entre o processo biológico de transmissão de um vírus de uma pessoa a outra no contexto real e o processo de transmissão de uma mensagem de um internauta a outro no contexto digital. Graham (1999) também compara o alastramento do fluxo de comunicação a uma epidemia, na qual cada indivíduo desempenha determinado 25 papel numa cadeia de transmissão de um “vírus” simbólico, seja este conotado como uma novidade, ideia, informação, modo, opinião, postura e ou sentimentos. O fato de a mensagem poder tomar proporções gigantescas na rede, num processo semelhante à lógica de uma epidemia viral, foi o que deu origem à expressão, conclui Bertivegna (2002). De acordo com Tete; Almeida e Coelho (2011), o termo marketing viral foi mencionado pela primeira vez por Rayport (1996) e popularizou-se a partir de um caso descrito por Jurvetson e Draper (1997) sobre como ações baseadas na internet aumentaram a base de clientes de uma empresa de serviço de correio eletrônico. Ao buscar traçar a cronologia do marketing como campo do conhecimento, Santos et al. (2009) identificam que a prática do marketing viral se localiza em período classificado como pós-industrial, marcado pela democratização dos meios de comunicação e redução da representatividade da propaganda tradicional, em virtude da emergência de novos canais de comunicação. Tete; Almeida e Coelho (2011) afirmam que o marketing viral se diferencia da comunicação boca a boca tradicional mediante três características: em primeiro lugar, pressupõe a disseminação de conteúdos exclusivamente eletrônicos, que não envolvem interações face a face. Em segundo lugar, como as mensagens não são solicitadas pelos destinatários podem ser ignoradas. Consequentemente, conteúdos provenientes de fontes próximas e confiáveis têm maiores chances de serem aceitos que outros, oriundos de estranhos. Outra distinção entre o boca a boca tradicional e o marketing viral, pontuada por Modzelewski (2000), refere-se à amplitude da rede. Para o autor, “o valor do vírus para o consumidor original está relacionado com o número de outros usuários que ele atrai. Ou seja, o originador de cada ramificação do vírus tem interesse exclusivo e dedicado em recrutar novas pessoas para a rede”. O marketing viral é gratuito, pessoal e individualizado. Para Goldenberg, Libai e Muller, (2011) representa uma tática da comunicação de marketing ao mesmo tempo em que “[...] relaciona-se com o esforço de promover o boca a boca eletrônico por meio da Internet” . Embora seja delimitado claramente como anúncio, o conteúdo disseminado produz efeito 26 semelhante ao de uma bola de neve por meio da aceitação voluntária dos destinatários, que passam adiante informações sobre produtos, serviços ou entretenimento para outras pessoas (CRUZ; FILL, 2008). Para Stanbouli (2003), o marketing viral é mais um método de marketing, conexo à propaganda clássica e definido como “uma readaptação dos dispositivos e materiais simbólicos utilizados pela propaganda, integrando-os aos códigos e especificidades da internet para distribuir dada mensagem com o máximo de eficácia”. Trata-se, portanto, do planejamento e a execução de ações que têm como objetivo principal estimular o marketing boca a boca da empresa pela Internet (STERNE, 2011), aproveitando-se das redes virtuais de contato, criando mensagens virtuais que contenham conceitos absorvidos por pessoas e que sejam interessantes o bastante para incentivarem os consumidores a passá-las adiante. (GRAHAM, 1999, p. 1). A fim de promover melhor compreensão desse conceito, o Quadro 1, elaborado por Mazzon; Andrade; Katz (2006), apresenta diferentes definições para o termo marketing viral: Quadro 1 – Conceituação de Marketing Viral AUTORIA Jurvetson (1997) DEFINIÇÃO e Draper Comunicação boca a boca virtual entre consumidores cuja mensagem patrocinada por determinada empresa se espalha virtualmente. Graham (1999) Criação de mensagens virtuais que contenham conceitos absorvidos por indivíduos que entram em contato com a mensagem original, via internet. Wilson (2000) Estratégia que encoraja indivíduos a encaminhar mensagens de marketing para outros, criando potencial para crescimento exponencial na influência e exposição da mensagem. Morris, Schindehutte e LaForge (2002) Promoção individualizada e repetitiva em comunidades virtuais que se espalha como um vírus, como potencial de multiplicação e modificação conforme indivíduos interagem uns com os outros. Phelps et al. (2004) Processo que encoraja comunicação honesta em redes de consumidores. Dobele, Toleman Beverland (2005) Litte (2005) e Processo que encoraja indivíduos a encaminhar informações de marketing em ambientes hipermídia. Trata-se da estratégia que encoraja indivíduos da sociedade a repassar uma mensagem de marketing para outros, criando potencial de crescimento exponencial tanto na exposição quanto na influência da mensagem. 27 AUTORIA DEFINIÇÃO Porter e Golan (2006) Formato de comunicação consumidor-consumidor, gratuito, de conteúdo provocativo e patrocinado por empresas, com objetivo de persuadir determinada audiência a encaminhar os conteúdos a outros, via internet. Vilpponen, Winter Sundqvist (2006) e Comunicação boca a boca em situações em que efeitos positivos de rede prevalecem e o influenciador possui posição ativa e positiva sobre o efeito. Cruz e Fill (2008) Troca consumidor-consumidor informal, eletrônica e direta de informações sobre determinado produto ou serviço. Silva (2008) Trata-se de um modelo de comunicação com públicos da internet, que pressupõe que a mensagem irá se disseminar por contágio de pessoas próximas ao público inicialmente alcançado, num espiral de crescimento constante. Fonte: Mazzon; Andrade; Katz (2006) Apesar das diversas contribuições recebidas nos últimos anos, ainda não é possível, consensualmente, elaborar conceito único sobre o que seja marketing viral, situação que condiciona uma compreensão limitada sobre o assunto. Para Tete; Almeida e Coelho (2011), as divergências existem desde a atuação característica de uma ação mercadológica ou um mero processo informal de disseminação e repetição de conteúdos promovidos por indivíduos e, ainda, se essa ação é restrita ao ambiente on-line. Diante de tanta competitividade e da disputa acirrada pela atenção dos consumidores, Andrade; Mazzon; Katz (2006, p. 8) apontam o sentido estratégico do marketing viral. Capturar a atenção do consumidor e de fazê-lo, ao mesmo tempo, um agente de venda, ou dito de outra forma, possibilitar a um receptor (passivo) a se tornar num emissor (ativo), buscando influenciar sua rede de convivência social online pode ser essencial no mundo dos negócios. De Bruyn e Lilien (2004) também defendem o cunho estratégico do marketing viral, apesar de reconhecerem a dificuldade de entender esse processo. “É difícil explicar como e por que o marketing viral funciona, o que sabemos é que essas campanhas podem resultar em recomendações peer-to-peer, aumentar vendas, reduzir custos e alcançar novos segmentos.” Jurvetson (2000) acrescenta que os efeitos provenientes de ações de marketing viral são mais poderosos que os exercidos pela propaganda tradicional, por conter endosso implícito de 28 indivíduos próximos em redes de relacionamentos. Mazzon; Andrade; Katz (2006) acrescentam que a questão chave na abordagem das estratégias de marketing viral é “capturar a atenção do consumidor e de fazê-lo um agente ativo na influência da sua rede social online”. Dando sequência à contemporaneidade desse novo termo, Barret (2001) considera que o marketing viral pode ser entendido como a “disseminação deliberada de mensagens por meio boca a boca eletrônico” ou “word of mouse” algo que estimula os consumidores a passarem adiante pela internet informações sobre bens e serviços desenvolvidos por uma empresa ou arquivos de áudio, vídeo e texto, uma vez que, em ambientes virtuais, indivíduos trocam informações por uma série de razões, entre elas prestígio e status (CRUZ; FILL, 2008) ou a necessidade de revelar impressões de compra, de modo a contribuir com os demais integrantes da rede ao apresentar suas impressões sobre determinado produto/marca. (DE BRUYN; LILIEN, 2008). O quadro 2 apresenta um resumo com as principais similaridades e diferenças entre o boca a boca tradicional e o boca a boca eletrônico, discutido anteriormente. Quadro 2 – Similaridades e diferenças entre o boca a boca tradicional e boca a boca eletrônico Boca a boca tradicional Similaridades Diferenças Boca a boca eletrônico Comunicação interpessoal, Influencia a tomada de decisão Bidirecional e interativa Forma Usualmente falado Através de vários formatos pessoa a pessoa. online, Fontes tanto Fontes identificadas. identificáveis quanto não Menor controle dos identificáveis, Consumidores consumidores sobre a possuem maior poder sobre a comunicação comunicação, Histórico Efêmero. acessível e rastreável. Escopo Restrições geográficas Sem restrições geográficas e e de tempo; de tempo; Um para um ou em Um para um, um para muitos pequenos grupos. ou muito para muitos. Fonte: adaptado de Chu (2009) apud Tubenchlak (2013) 29 2.1.1 Buzz marketing Ainda dentro do contexto de boca a boca eletrônico, cabe explorar o conceito de buzz marketing e como esse conceito se integra ao marketing viral (ver figura 1). Rosen (2000) define buzz marketing como “todo o boca a boca a respeito de uma marca, tratando de toda comunicação pessoa a pessoa a respeito de um particular produto, serviço ou marca a qualquer tempo”. Já Kirby (2005) apresenta uma visão voltada para as relações, sendo “uma iniciativa produzida pelo marketing com a intenção de capturar a atenção das pessoas e criar boca a boca”, sendo assim considerado um processo e não um evento. Metaforicamente, Fergusson (2006) diz que a maneira como os consumidores falam de uma marca pode ser vista como uma conta bancária emocional. Todos os dias, esses consumidores fazem depósitos e saques emocionais através do que eles dizem a seus amigos sobre as marcas. Esses depósitos e saques emocionais são um reflexo do sucesso financeiro de uma empresa da mesma forma que são os saques e depósitos na sua conta bancária verdadeira. O efeito buzz pode ser traduzido como o resultado dos comentários boca a boca entre agentes receptores, que se tornam emissores, num fluxo de comunicação que pode alcançar escala exponencial afirmam Mazzon; Andrade; Katz (2006). O ambiente virtual favorece esse efeito por sua “habilidade de amplificar e acelerar a transmissão da mensagem e de transcender a geografia” (WHITE, 2005 apud MAZZON; ANDRADE; KATZ, 2006). Aparentemente, marketing viral e buzz marketing revelam conceitos similares, apesar de serem distintos. De maneira bastante simples, Kirby (2005) expõe essa diferença ao pontuar que o marketing viral consiste na ação e o buzz marketing no efeito resultante das ações de marketing, que tiveram ou não o controle do praticante, pois, segundo o autor, trata-se de “usar algum gancho, evento ou promoção para fazer com que consumidores e mídia falem sobre uma campanha”. O buzz marketing é um processo de comunicação multi-dimensional, que envia mensagens persuasivas aos consumidores na forma de boca a boca, tanto online quanto offline. (AHUJA et.al., 2007). A Figura 1, a seguir, representa bem a afirmativa anterior, pois articula o 30 processo do boca a boca eletrônico, como ferramenta para a disseminação da informação promocional com o uso do suporte da internet. Figura 1 – Esquema de Integração do Marketing Viral e do Buzz Marketing Fonte: Mazzon; Andrade; Katz (2006) Independentemente das diversas definições dadas ao buzz marketing, todas convergem em um ponto: o buzz tem um caráter intencional de gerar boca a boca, e, dessa forma, ele acaba por comercializar e pretende controlar o boca a boca, que, em sua natureza, é espontâneo e aleatório. (ANDRADE e MARINHO, 2011). Contudo, o desafio maior está em despertar o interesse do usuário e influenciá-lo ao compartilhamento. O que leva os consumidores a encaminharem uma mensagem? Zenone (2011) diz que o consumidor, no ambiente virtual, é acionado constantemente por três fatores de influência: o primeiro é a funcionalidade, o segundo fator é o psicológico e, por fim, o conteúdo. 31 Segundo o autor, a funcionalidade diz respeito ao uso e à interatividade, bem como está relacionada com questões de velocidade, arquitetura da informação, customização do site e os efeitos da rede. Já os fatores psicológicos estão associados à confiança, pois o risco percebido em uma transação pode ser viável ou não para a decisão do consumidor. Por fim, o conteúdo que pode ser administrado e dividido em mix de marketing e atributos sensoriais do conteúdo. A seguir será exposta a visão sobre as emoções e sua relação com a comunicação eWON. 2.2 Relação entre emoções e eWON As emoções são motivações por natureza, na medida em que despertam certas respostas e padrões comportamentais (BATEY, 2010). O autor ressalta não ser por acaso que as palavras “emoção e motivação” têm suas raízes latinas movere, que significa “mover”. Para ele, esse movimento chamado emoção pode ser descrito como uma experiência interna e subjetiva de um indivíduo com um padrão complexo de mudanças corporais e mentais em reação a determinada situação. As campanhas de marketing viral fomentam a comunicação eWON, geram buzz e desencadeiam diversas respostas emocionais nos receptores. Dobele et al. (2007) acreditam que a mensagem viral precisa conter elementos que possam conectar emocionalmente o emissor ao receptor, “as mensagens devem construir uma ligação emocional entre a campanha e o destinatário, para assegurar que o vírus se espalhe.” Para Ho e Dempsey (2010), compreender o processo de transmissão de informação online de pessoa a pessoa é crucial, já que esse novo ambiente online é propício à comunicação eWON. Os autores apresentam quatro motivações possíveis de influência ao ato do compartilhamento das mensagens: (1) a necessidade de fazer parte de um grupo, (2) a necessidade de ser individualista, (3) a necessidade de ser altruísta, e (4) a necessidade de crescimento pessoal. Além disso, os autores recorrem ao modelo conceitual proposto por Schutz (1996) para tentar explicar por que o indivíduos se envolvem com a comunicação eWON, uma vez que integra as diversas motivações, que, potencialmente, estão na base da transmissão de conteúdo online. A proposta de Schutz (1996) é uma teoria tridimensional, que expressa três necessidades 32 interpessoais: inclusão (precisa ser parte de um grupo/necessidade de atenção), afeto (mostrar apreço e preocupação com os outros) e controle (necessidade de exercer poder em seu ambiente social). Tais motivações, tanto as apresentadas por Ho e Dempsey quanto às propostas por Schutz, são especificamente relacionadas ao envio de mensagens no contexto online. Segundo Ho e Dempsey (2010), o motivo inclusão - denota pertencimento, junção, união - relaciona-se à necessidade do indivíduo de ser reconhecido como participante ativo de interações sociais, representa o desejo de se conectar e compartilhar com os outros (PHELPS et al, 2004). Por outro lado, existe a necessidade de ser diferente dos outros, enquanto uma direciona as afiliações sociais, a outra nos conduz à independência e ao individualismo (BATEY, 2010). A necessidade de ser altruísta está intimamente relacionada ao afeto, que, consequentemente, relaciona-se ao contexto eWON. Para Ho e Dempsey (2010), os indivíduos têm a necessidade de estabelecer relações de carinho, a fim de expressar amor, amizade e preocupação com o bem-estar dos outros. O controle ou a necessidade de crescimento pessoal relaciona-se com sentimentos de competência, realização e influência. Nesse viés, Ho e Dempsey (2010) afirmam que o encaminhamento de informações online pode proporcionar ao remetente a capacidade de desenvolver independência e capacidade de liderança. Mesmo que as necessidades direcionem para caminhos opostos, Batey (2010) acredita que a coexistência desses conflitos - “expressão” e a “repressão” - não se configura como nenhum distúrbio, está explícito nas hipóteses motivacionais que são condizentes à complexidade da psique humana. Sundaram, Mitra e Webster (2004) apresentaram outros motivos subjacentes da comunicação eWON, complementando aqueles apresentados anteriormente. De acordo com eles, essas motivações explicam o boca a boca positivo (altru ísmo, auto-valorização e ajuda à empresa), e o boca a boca negativo (altruísmo, redução da ansiedade, vingança e busca de aconselhamento). 33 Godes et al (2009) acrescentam que as motivações são também classificadas em intrínsecas e extrínsecas, sendo que as primeiras podem ser acionadas pelo conteúdo da mensagem e as motivações extrínsecas referem-se aos prêmios e incentivos financeiros. Retomando a visão de Dobele et al. (2007) sobre a partilha social das emoções como moderadora entre a experiência de consumo, autoimagem e simbolismo do produto/ marca, buscam-se fundamentos a esse respeito. Em 1650, René Descartes declarou que havia seis paixões primárias: amor, ódio, desejo, alegria tristeza e admiração. Recentemente, Robert Plutchik (1980) expôs um sistema baseado em oito emoções primárias, cada uma ligada a alguma forma de comportamento ou processo corporal, conforme revela o quadro 3 a seguir: Quadro 3 – Família de emoções Raiva Aborrecimento, irritabilidade, animosidade, afronta, ressentimento, indignação, ira, hostilidade, fúria, ultraje, ódio e violência; Tristeza Falta de alegria, melancolia, autopiedade, lamentações, morbidez, sofrimento, depressão, desespero; Medo Apreensão, nervosismo, preocupação, desconfiança, receio, dúvida, temor, ansiedade, consternação, pavor, terror; Diversão Contentamento, entretenimento, alívio, orgulho, satisfação, alegria, emoção, euforia, êxtase; Amor Aceitação, gentileza, amizade, confiança, afinidade, paixão, devoção, adoração; Surpresa Espanto, choque, estupefação, admiração; Nojo Desgosto, aversão, desdém, desprezo, aborrecimento; Vergonha Culpa, remorso, arrependimento, humilhação, mortificação. Fonte: Batey (2010) Phelps et al (2004) destacam que as mensagens com emoção, humor, medo, tristeza ou inspiração são mais susceptíveis de serem encaminhadas, desde que essas sejam elaboradas com a devida atenção ao design e conteúdo (ULER et al 2010) de maneira criativa para atrair a atenção e estimular a comunicação entre os consumidores que participam do processo. Dobele et al (2007) recorrem a seis emoções - surpresa, alegria, tristeza, raiva, medo e desgosto - das apresentadas por Plutchik (1980), para provar, empiricamente, que as emoções 34 atuam no marketing viral e, consequentemente, na comunicação eWON, porque se relacionam com o fenômeno da partilha social das emoções, definido “um fenômeno que envolve a evocação da emoção em uma linguagem socialmente partilhada e com nível simbólico para algum destinatário.” Assim como Dobele et al (2007), Batey (2010) acredita que as emoções, sejam elas surpresa, alegria, tristeza, raiva, medo e desgosto e/ou experiências emocionais são determinadas pela cultura. Os negócios e empresas online não estão confinados em um único país, a natureza global da comunicação eWON deve ser tratada antes do lançamento da campanha para que aconteça a publicidade inovadora positiva (NWON) e não ofensiva, negativa (NWON). Dobele et al. (2007) exemplificam essa situação, ao expor a emoção tristeza: apesar de as pessoas considerarem a tristeza como um sentimento indesejado, nos países asiáticos a tristeza é considerada como um passo no caminho da salvação, portanto, desejada. Entende-se, portanto, que a cultura pode ser determinante no contexto online. Segundo o autor, a cultura proveniente da Internet é uma cultura construída sobre a crença tecnocrática no processo humano, por meio da tecnologia praticada por comunidade que prospera num ambiente de criatividade tecnológica livre e aberta, apoiada em redes virtuais dedicadas a reinventar a sociedade (CASTELLS, 2009). Outro fator crítico de sucesso no compartilhamento das mensagens via internet, é o gênero. Dobele et al. (2007) revelam que o gênero exerce certa influência sobre o comportamento do encaminhamento, especialmente no que se refere às emoções de medo e de desgosto. Acrescentam, ainda, que se as mensagens de marketing viral construídas sobre a base de nojo são mais eficazes voltadas para jovens do sexo masculino, com a devida atenção à aceitabilidade e concepções bem-humoradas e surpreendentes no momento certo. Destaca-se, no entanto, mais predisposição das mulheres para encaminhar as mensagens (ULER et al 2010). Além dos fatores motivacionais para a propensão ao encaminhamento das mensagens virais, Ho e Dempsey (2010) apresentam a curiosidade. Os autores afirmam que a curiosidade vai afetar positivamente no consumo do conteúdo online, sendo considerada motivação adicional no engajamento do consumidor no que diz respeito à comunicação eWON. Para eles, os 35 indivíduos estão mais abertos a novas experiências, possuem o desejo de conhecer ou aprender e, por isso, muitas vezes, são relacionados aos líderes de opinião. Ao apresentar as possíveis motivações que desencadeiam a comunicação eWON, passa-se ao processo de transmissão das mensagens online. Phelps et al (2004) acreditam que o processo de transmissão viral consiste em quatro fases: (a) a recepção da mensagem, (b) a decisão de se abrir ou não a mensagem, (c) a compreensão da mensagem e (d) a decisão de encaminhar ou não a mensagem. Vale lembrar que no ato de encaminhar uma mensagem há um endosso implícito do conteúdo, fato que reforça a credibilidade da mensagem (WILSON, 2000; PHELPS et al 2004; DOBELE et al., 2007; HARVEY et al. 2011), então, monitorar como os laços sociais entre os indivíduos afetam o comportamento do encaminhamento se torna muito importante no entendimento da comunicação eWON e do marketing viral, o que reforça a visão de kroker (1996) ao enfatizar que o foco principal está nos “nós”, nas relações interpessoais. 2.3 Relações entre envolvimento com a categoria de produto e eWON Nas últimas décadas, estudiosos apresentaram contribuições significativas a respeito do envolvimento do consumidor com a categoria do produto. Lastovicka (1979) acredita que o conceito de envolvimento é considerado variável fundamental para explicar o comportamento de compra dos consumidores entre as diferentes classes de produtos e também serve como base para orientar a segmentação de mercado (POUPADIUK, 1993). No ambiente virtual, o envolvimento dos indivíduos também se apresenta como conceito central para a compreensão do comportamento eWON na difusão da mensagem viral.(HARVEY et al, 2011). Day (1970) define o envolvimento como "o nível geral de interesse no objeto ou a centralidade do objeto em relação da autoimagem do consumidor." Kapferer e Laurent (1985) contribuem ao apresentar este conceito como a “relevância percebida pelas pessoas por um objeto, seja este, um produto, propaganda ou decisão de compra, com base em suas necessidades, valores e interesses.” 36 Bloch (1981) considera o envolvimento como um estado não observável de motivação, excitação ou interesse que pode ser evocado por um estímulo ou situação. Os autores acrescentam que o envolvimento deve ser pensado como um perfil das dimensões de interesse, percepção de risco, o valor do prazer e valor simbólico, sendo essas categorias motivacionais encontradas, frequentemente, sobrepostas ou combinadas. (LASTOVICKA, 1979). Pode-se inferir, a partir das considerações dos autores, que “envolvimento” é uma variável mediadora importante no que tange ao comportamento do consumidor. Bloch (1981) ressalta que essa é uma variável hipotética que não pode ser medida diretamente, pois é inferida a partir da presença ou ausência de seus supostos determinantes ou antecedentes apresentados. O envolvimento pode ser transitório ou duradouro (HARVEY et al, 2011). Transitório, quando relacionado às experiências pessoais do consumidor. Duradouro, quando o envolvimento é motivado pelo grau de associação do produto/marca com a autoimagem do indivíduo e ao prazer proporcionado por seu uso. (SIRGY, 1982) Lastovicka (1979) apresenta nova característica para o envolvimento mediante a categoria dos produtos: baixo envolvimento, alto envolvimento de produtos e produtos de interesse especial (relacionado com passatempo do consumidor). Embora o grau de envolvimento seja basicamente uma característica individual, alguns autores como Keller (2006); Schiffiman e Kanuk (2009) referem-se a produtos de alto e de baixo envolvimento, supondo condição semelhante aos níveis de envolvimento para cada categoria de produto, pois, de acordo com Bloch (1981), para cada categoria de produto existem diferentes tipos de comportamento. Kapferer e Laurent (1985) comentam que numa categoria de "baixo envolvimento com o produto" existe pouca ligação com os valores considerados importantes pelo consumidor e é uma classe de produtos em que há pouco comprometimento do consumidor com as marcas. Para Bloch (1981), os indivíduos altamente envolvidos, da categoria “alto envolvimento com o produto” são mais leais à marca, são mais propensos a serem líderes de opinião e são mais susceptíveis a gerar respostas cognitivas negativas às mensagens relacionadas com o produto do que pessoas com baixo envolvimento. 37 Kapferer e Laurent (1985) reforçam que um consumidor em alto envolvido em uma categoria de produto, ele deve, entre outras consequências, se envolver em um processo de decisão demorado, com maior o compromisso da marca exposição (ROBERTSON, 1976; ASSAEL, 1981), prestar atenção às informações relacionadas com a classe do produto, etc. De acordo com Bolch (1981), existe evidência empírica de que algumas categorias de produto podem apresentar maior nível de envolvimento em relação a outras, a saber: produtos que expressam estilos de vida (LASTOVICKA; GARDNER, 1979, p. 53), produtos que atuam de forma instrumental para reforço da autoexpressão ou do autoconconceito (BLOCH, 1983, p. 413-417; BLOCH; RICHINS, 1983, p. 69), produtos ligados a hobbies ou interesses especiais (LASTOVICKA; GARDNER, 1979, p. 53), produtos que oferecem prazer ou hedonismo (LAURENT; KAPFERER, 1985, p. 41; KAPFERER; LAURENT, 1986, p. 48; ZAICHKOWSKY, 1987, p. 349-350), e produtos com alto grau de diferenciação de marca (ROBERTSON, 1976, p. 19-24; KAPFERER E LAURENT, 1986, p. 48). Por fim, Bolch (1981) considera que o envolvimento não é um fenômeno unidimensional ou apenas dicotômico. Na realidade, o indivíduo pode transitar entre o alto e baixo envolvimento de acordo com as situações de compra, interesse gerado e implicações simbólicas entre a categoria de produto e a expressão de sua auto-imagem. Nesse sentido, Taylor et al (2011) afirma que a congruência auto-marca e o valor de entretenimento do produto podem aumentar a auto-expressividade de anúncios on-line, e, em seguida, aumentar a probabilidade de compartilhar esses anúncios. 2.4 Autoexpressão e consumo Surpreendentemente, uma das maneiras como as pessoas tentam expor sua identidade é por meio dos padrões de consumo. Batey (2010) comenta que esse fato é “uma espécie de processo autossimbolizante, uma pessoa é capaz de comprar e usar certo produto/marca para firmar seu autoconceito ou para mostrar que chegou a uma identidade idealizada ou desejada, chamada por autorrealização simbólica”. Para o autor, o autossimbolismo se preocupa com a construção de uma autoidentidade individual e deriva em parte do significado pessoal e particular dos produtos. Ele acredita que 38 “somos um produto das estruturas socioculturais e das circunstâncias, ora influenciamos os produtos que consumimos e ora somos influenciados por eles”. O homem pós-moderno passa um bom tempo envolvido no trabalho contínuo de negociar significados de experiências vividas por si mesmo ou pelos outros, na tentativa de criar e manter uma identidade (BATEY, 2010). Essa identidade está condicionada às suas escolhas, muitas vezes determinada pelo significado simbólico e não pelos ganhos de utilidade. Essas escolhas predizem a construção da imagem projetada pelo indivíduo e moldada pelo seu senso de autoexpressão da identidade. (TAYLOR et al, 2012). Batey (2010) recorre a Teoria da Hierarquia das Necessidades de Abrahan Masloy para transpor a realidade da construção da autoimagem a partir do consumo de marca / produtos, uma vez que as pessoas, conscientes ou não, se tornam mais influenciáveis pelo significado subjetivo e sociocultural atribuído aos produtos. “Embora a satisfação das necessidades básicas tenha sido garantida materialmente, o aspecto cultural ou significativo do consumo passa a predominar e as pessoas se tornam mais preocupadas com o significado do produto do que com seu uso funcional para preencher uma necessidade básica ou real”. Os autores acreditam que os consumidores compram produtos não apenas por seus benefícios práticos ou utilitários, mas também por seu valor simbólico. Para Batey (2010), o consumo simbólico é o processo pelo qual as pessoas atribuem significados aos produtos e objetos, além dos que são inerentes a ele. O entendimento desse processo – e da maneira pela qual os objetos podem obter significados simbólicos – permite a conexão entre o self, a cultura e o comportamento do consumidor, o que permite uma autoexpressão mais individualizada, mesmo que imbuída de influências subjacentes. De acordo com Taylor et al (2012), quando os consumidores percebem esses significados como consistente com seus autoconconceito transferem o sentido de sua própria identidade (LEVY, 1959), usando rituais. McCracken (1986) identifica quatro rituais de consumo para a transferência de significado: de posse, de troca, de higiene e de desinvestimento. Neste estudo, o foco se concentra em rituais de posse, afinal “as coisas que as pessoas compram têm um significado pessoal e social, além de suas funções básicas” (MCCRACKEN, 1990) 39 “desenvolvemos ligações com as nossas posses e elas se tornam parte material de nossa existência” (BATEY, 2010). Dessa forma, Schouten (1991) destaca a importância das atividades de consumo para a construção e manutenção da identidade, o que reforça o pensamento de Levy e tendência para a exibição da identidade dos indivíduos para os outros, numa relação direta entre autoexpressão e consumo. 2.5 Congruência entre autoimagem e o consumo de marcas Pesquisas de consumo vêm demonstrando que a atitude do consumidor em relação a um produto/marca, e sua respectiva compra, é influenciada pela ligação da imagem do usuário do produto com o autoconconceito do consumidor (SIRGY, 1982). Sirgy, Grewal e Mangleburg (2000) ressaltam a tradição de pesquisas na área de comportamento do consumidor, dirigidas ao entendimento do autoconconceito, as quais são geralmente usadas como um referente cognitivo na avaliação dos aspectos simbólicos dos produtos. Os aspectos simbólicos dos produtos se referem a imagens estereotipadas de usuários de um produto ou loja (ex: sensual, chique, jovem, fashion etc.). Quanto maior a ligação entre a imagem do produto/marca e o autoconconceito dos consumidores, maior a probabilidade de o consumidor desenvolver uma atitude em relação ao produto/marca, o que significa a probabilidade de falar positivamente para outras pessoas. Este processo de ligação é nomeado pelos autores de autocongruência (termo resumido cunhado para se referir ao processo de congruência de auto-imagem) (SIRGY, GREWAL E MANGLEBURG, 2000). Outro ponto importante a ser considerado se refere ao fato de o autoconconceito ser multidimensional por natureza (ex.: self atual versus self ideal), ou seja, nestas questões projetivas, o aspecto mais saliente da identidade (self atual, ideal, social ou social ideal) é o responsável pela cognição da congruência (SIRGY, GREWAL E MANGLEBURG, 2000; KRESSMANN, 2006). 40 Um dos problemas ligados às pesquisas de autoconconceito nas ciências sociais e comportamentais é a pletora de definições existentes sobre autoconconceito derivadas da variedade de maneiras como o conceito de self é visto na literatura de psicologia. Muitas definições tradicionais de autoconconceito consideram o self como sendo unitário, no entanto, literaturas mais recentes da psicologia sobre autoconconceito apontam a possibilidade de múltiplos selves, ou seja, o self é considerado uma coleção de máscaras relacionadas com cenários particulares de circunstâncias sociais. Sendo que cada domínio de autoconconceito representa as esperanças e medos persistentes dos indivíduos, indicando o que deve ser realizado em certas situações (SIRGY, 1982). Segundo Sirgy, Grewal e Mangleburg (2000), os pesquisadores de comportamento de consumo têm usado tradicionalmente quatro aspectos de autoconconceito no processo de explicar e predizer o comportamento do consumidor, que são: imagem atual do self – definida pela maneira como as pessoas veem elas mesmas; a imagem ideal do self – definida pela maneira como as pessoas gostariam de ver a si próprias; a imagem social do self – definida pela maneira como as pessoas acreditam que são vistas por outros considerados importantes; e a imagem social ideal do self – definida pela maneira como as pessoas gostariam de ser vistas por outros considerados importantes. Portanto, a autocongruência envolve o processo de conexão com alguma dimensão do autoconconceito do indivíduo com a imagem do produto/marca. Quanto maior o grau de conexão entre esses dois aspectos, maior a probabilidade de que os consumidores desenvolvam algum tipo de relação com uma categoria de produto/marca específica (SIRGY, GREWAL E MANGLEBURG, 2000). 2.5.1 A relação entre autocongruência e congruência funcional Como descrito anteriormente, autocongruência consiste na comparação do consumidor entre a imagem do produto/marca com sua própria auto-imagem. A congruência funcional, por sua vez, é baseada nos aspectos utilitários percebidos no produtos/marcas com referência a alguns aspectos ideais (SIRGY, JOHAR E CLAIBORNE, 1991). 41 De acordo com Kressmann et al. (2006), tanto a congruência funcional quanto a autocongruência têm sido demonstradas como sendo motivadores que afetam o comportamento de consumo, porém o peso relativo dado a cada um depende do número de características situacionais relacionadas ao consumidor. Sirgy, Johar e Claiborne (1991) demonstraram em seu estudo que a congruência funcional é um preditor mais forte do comportamento do consumidor que a autocongruência. No entanto, essa evidência também sugere que a autocongruência influencia a congruência funcional. Ou seja, consumidores que experimentam níveis elevados de autocongruência tendem a avaliar positivamente os atributos utilitários dos produtos e vice-versa. Adicionalmente, Sirgy, Grewal e Mangleburg (2000) propõe que autocongruência influencia a congruência funcional e que os efeitos preditivos da auto congruência versus congruência funcional são moderados por quatro fatores relacionados aos consumidores: conhecimento, experiências prévias, envolvimento e pressão de tempo. Com relação a esses quatro fatores moderadores, os autores fazem as seguintes proposições: • O relacionamento entre autocongruência e compra é moderado pelo nível de conhecimento dos consumidores. Especificamente, os efeitos da autocongruência na compra são mais prováveis de serem positivos para consumidores com menos conhecimento do que por consumidores com mais conhecimento. • A relação entre autocongruência e compra é moderada pelo nível de experiências anteriores dos consumidores. Especificamente, os efeitos da autocongruência na compra são mais prováveis para compradores com menos experiências anteriores do que para consumidores com mais experiências anteriores. • A relação entre autocongruência e compra é moderada pelo envolvimento com o produto/marca e com a compra. Os efeitos de autocongruência na compra são mais prováveis para consumidores que não são muito envolvidos com a compra do que para aqueles que são muito envolvidos. 42 • A relação entre autocongruência e compra é moderada pela pressão de tempo sofrida pelo consumidor. Os efeitos de autocongruência são mais prováveis de serem maiores para consumidores que experimentam maior pressão de tempo do que para aqueles que experimentam menor pressão de tempo. Sendo assim, Sirgy (1982) e Sirgy e Samli (1985) propuseram um modelo de congruência de autoconconceito que combina os componentes do autoconconceito com a imagem do produto/marca. A imagem do autoconconceito e do produto/marca é descrita por meio de construtos compartilhados e, como tal, pode haver um grau de congruência entre autoconconceito e conceito do produto/marca. A ideia de que a imagem do autoconconceito por si só pode ter variações importantes vem de Landon (1974). O autor argumenta que a relação entre autoconconceito e a preferência de produto pode variar de acordo com diferentes categorias de produto e também devido às diferentes formas de autoconconceito, tais como self atual e ideal envolvidos na avaliação. Por exemplo, a congruência entre o conceito atual do self e o conceito do produto pode não ser significante porque geralmente consumidores não querem descrever a si mesmos como tal e, por sua vez, impõem seu conceito ideal de self em situações de compra, particularmente quando a dimensão do conceito de self atual é considerada negativa. Malhotra (1988) dá suporte à ideia de papéis diferenciados para o self atual, ideal e social do autoconconceito quando isto se refere à avaliação de um produto. Basicamente seu estudo sugere que o conceito de self ideal é mais influente nas preferências de casas do que o conceito de self atual. Portanto, acredita-se que é preciso levar em consideração não somente o self atual, mas também o self ideal e social, quando se pretende investigar a relação entre a congruência do autoconconceito e o comportamento do consumidor. Adicionalmente, Malhotra (1981, 1988) adverte sobre cinco fatores que podem produzir efeitos negativos nas mensurações de autocongruência. São eles: (1) definição inadequada de autoconconceito; (2) um instrumento de medida fraco; (3) metodologia fraca; (4) falha em considerar a influência dos atributos específicos do objeto de estudo; e (5) falha em considerar o efeito mediador de outras variáveis de personalidade. 43 Por exemplo, alguns estudos tentam estabelecer a relação entre autoconconceito e conceito de produto usando instrumentos de personalidade padronizados que foram desenvolvidos para atividades diferentes das de compra ou desenvolvidas por populações anormais, ou seja, discrepantes daquelas que serão pesquisados especificamente. Além do mais, deveria ser reconhecido que os atributos relacionados ao conceito de um produto/marca, podem ser muito abrangentes (gerando ambiguidade) e ainda diferentes dos atributos de autoconconceito. Portanto, pode ser inapropriado definir o autoconconceito em termos de atributos de produtos/lojas. Em suma, a origem da avaliação deve ser do indivíduo para o produto e não do produto para o individuo. Dessa forma, defende-se que é preciso levar em consideração o desenvolvimento de uma escala de mensuração que seja específica para medir imagem do produto/marca e autoimagem, para a consequente mensuração de autocongruência. Por sua vez, alguns debates envolvidos na mensuração da congruência do autoconconceito/autoimagemdizem respeito à utilização da fórmula de “resultado por intervalo” ou a fórmula de “resultado direto” (SIRGY E SU, 2000). A prática mais usual para medir autocongruência, no entanto, têm sido a primeira. Essa medida indica o grau de combinação entre o conceito de produto/marca e o autoconconceito de cada respondente. Ressalta-se que, quanto mais baixo o resultado, maior a congruência com o self atual, desde que o modelo de diferença absoluta seja empregado (ERICSEN E SIRGY, 1992). Por sua vez, a fórmula de “resultado direto” não requer a avaliação numérica nem do self (atual, ideal ou social) nem do produto. O que se faz necessário é uma escala numérica para medir o nível de congruência, o qual é facilitado pelo direcionamento de um cenário específico e pelo uso de declarações. Dessa forma, não há necessidade de se ajustar o resultado de congruência usando os índices de autoconconceito atual e conceito do produto/marca. A escala de likert junto das declarações de autocongruência capturam diretamente os resultados de congruência dos respondentes (EKINCI E RILEY, 2003). 44 2.6 O significado da marca Desde o início dos tempos, nas antigas sociedades, as marcas eram criadas para firmar a reputação do fabricante, objetivando a criação de valor, responsabilidades e relacionamento entre o vendedor e o comprador (GIULIANI & OLIVEIRA, 2006), sendo utilizadas artisticamente com a intenção de diferenciar, marcar e garantir a identidade de seus criadores, transformando-se em um dos mais importantes instrumentos do marketing, afirma Souza (1993). A partir da Revolução Industrial (1760), o uso de técnicas de promoção e vendas deu notoriedade às marcas, mas foi a partir do século XX, com o amadurecimento da sociedade de consumo e a revolução da comunicação, que as marcas ganharam o conceito e significado atualmente utilizado, tornando-se um meio de expressão social e cultural (CIMATTI, 2000). Em inglês, o termo marca significa brand que, de acordo com Schweriner (2010), teve origem no nórdico antigo, deriva de brandr, que significa “queimar”, usada como forma de marcar o gado com fogo para identificação dos animais. Nos Estados Unidos, em 1960, a American Marketing Association (AMA) definiu marca como “um nome, um termo, um sinal, um desenho, ou uma combinação destes elementos, com vistas a identificar os produtos e serviços de um vendedor, ou de um grupo de vendedores, e a diferenciá-los dos concorrentes” e, desde então, muitas definições do termo ao redor do mundo se basearam no conceito definido pela AMA. Anos mais tarde – em 1994, a União Europeia, com o objetivo de estabelecer uma ordem jurídica comum a todos os Estados-membros, por meio do regulamento nº 40/94 do Conselho da Comunidade Europeia, apresenta uma definição mais restritiva de marca: [...] todos os sinais que possam ser objeto de uma representação gráfica, nomeadamente palavras, incluindo nomes de pessoas, desenhos, letras, números, a forma do produto ou a sua embalagem, desde que tenham capacidade de distinguir os produtos e serviços de uma empresa dos de outras empresas. 45 No entanto, autores como, Levy (1959); Sirgy (1982); Belk (1988), vão além das propostas conceituais da AMA e do Conselho da Comunidade Europeia. Eles acreditam que o conceito de marca seja muito mais amplo, seja multidimensional. Grande parte da força da marca não está em sua representação, mas na mente dos consumidores, nas associações e impressões feitas a ela. O estudo das marcas conquistou mais importância na medida em que foram agregados elementos do consumo simbólico adaptados à imagem do produto/marca aos autoconconceito dos consumidores, à sua análise. Assim, os objetos passaram a ser vistos não apenas no sentido daquilo que são ou fazem, mas do que eles podem significar ou comunicar. Segundo Louro (2000), o significado de marca como sinal de propriedade e proteção patrimonial, o caráter distintivo da marca – fonte de diferenciação da oferta da empresa – evoluiu para uma combinação holística no nível do produto/marca ou das suas associações e identificação. Nesse sentido, Aaker (2012) interpreta a marca não só como um ativo estratégico, mas também como vantagem competitiva de uma empresa. Os autores Souza (1993), Aaker (2012) e Sampaio (2002) sugerem a marca como a associação de fatos, sentimentos, atitudes, crenças e valores que se relacionam àquele conjunto de nome(s) e símbolo(s), diretamente e em relação às outras marcas da mesma categoria. Bem como Aaker (2012), os autores Gobé (2002) e Kapferer (2003) defendem como ideal a criação de um relacionamento de emoção entre a marca e seu público-alvo, visando proporcionar uma série de vantagens competitivas, podendo a marca ser considerada um diferencial competitivo frente aos concorrentes e o seu valor financeiro formalmente reconhecido. Segundo Giuliani & Oliveira (2006), além dos benefícios funcionais, o objetivo da marca é criar benefícios emocionais, que podem levar à fidelização. Giuliani (2003) afirma que a marca faz parte de um conjunto de impressões e opiniões subjetivas, atributos psicológicos, aspectos da cultura da empresa, do seu posicionamento no mercado e da qualidade dos seus produtos e serviços. Ainda, segundo Schweriner (2010, p.75): [...] as marcas nomeiam produtos e serviços continuamente lançados no mercado, propondo-se a resolver necessidades e carências humanas, assim como propiciar gratificação. Estabelecem ou reforçam a identidade e o amorpróprio dos consumidores, que nelas procuram âncoras funcionais/racionais 46 (praticidade, performance, qualidade, rendimento, durabilidade), e simbólica/emocionais (conferir status, visibilidade, alavancar autoestima e encorajar auto expressão). De acordo com Porter (2010), para estabelecer uma conexão com o consumidor, as marcas precisam desenvolver uma personalidade, o DNA autêntico, o núcleo de sua verdadeira diferenciação construída ao longo de sua vida. Keller (1993) afirma que se diferencia uma marca forte pela força de suas conexões e grau com que elas são avaliadas como sendo desejáveis pelos consumidores. De acordo com Batey (2010), as empresas criam a identidade da marca, mas o significado é criado pelas pessoas por meio de associações, percepções e expectativas. O autor conceitua o significado principal da marca como aquele que explicita as principais associações feitas pelo consumidor e significado implícito como aquele que se refere às últimas implicações emocionais e psicológicas do produto/serviço; é altamente simbólico e psicossocial, ou seja, influenciado por normas e valores sociais. Observa-se uma verdadeira revolução quanto ao entendimento da marca, ao longo dos últimos 50 anos até o momento atual. A marca passou de um simples rótulo, produto ou cliente para um conceito muito mais complexo, em que a compreensão da identidade de marca funciona a partir do entendimento dos modelos mentais, que capturam, interpretam e organizam informações (AAKER, 2012; KAPFERER, 2003; MUNIZ, 2005). Essa identidade proporciona sentido e significados únicos à marca, assim como a identidade de uma pessoa. Aaker (2012) coloca a identidade como uma das dimensões da equidade de marca: As “associações que compõem o coração e o espírito da marca”. De acordo com Keller (1993) e Kapferer (1992), a identidade da marca é um conceito de emissão, sendo a imagem da marca a apreensão cognitiva e a afetiva que as pessoas têm da marca. Uma marca pode evocar interesse no indivíduo por apresentar similaridades com a sua personalidade ou pode contribuir para um reajuste no seu autoconceito. Nesse sentido, uma marca pode ser considerada uma extensão do self dos indivíduos (BELK, 1988). 47 Contudo, Keller (1993), Aaker (2012), acreditam que não há como se fazer “gestão da imagem da marca”, até porque não é possível gerenciar as mentes das pessoas. A imagem da marca é a resultante de um processo cognitivo e afetivo que leva a um comportamento de adesão, indiferença ou rejeição, mediante a construção da autoimagem do indivíduo. 48 3 PROPOSIÇÃO DE MODELO TEÓRICO Para composição da proposta do modelo teórico, apresentado na Figura 3, fez-se necessário recorrer à Teoria da Identidade e associá-la à interação social inerentes à comunicação eWOM. Ou seja, a partilha e recomendação das mensagens publicitárias para os outros, expressa a identidade do consumidor, e, por outro lado, a interação social do consumidor refere-se à propensão para compartilhar mensagens eWOM com os outros, atitude que é moldada pelo seu senso de autoexpressão da identidade revelam Taylor et al (2012). Com base no estudo de Taylor et al (2012), quatro construtos foram delimitados, sendo estes: propensão a compartilhar, valor do entretenimento da mensagem, autoexpressão, envolvimento e congruência self e marca. Essas construções serão apresentadas a seguir, bem como, cada um deles se relaciona com o modelo proposto. Figura 2 - Modelo Teórico proposto para o estudo Fonte: Adaptado de Taylor et al (2012) 49 3.1 Desenvolvimento e apresentação das hipóteses Partindo da premissa principal onde “a percepção dos consumidores ao compartilhar a eWOM expressa sua identidade e funciona como uma motivação adicional para a partilha de mensagens” foram elaboradas as hipóteses. De acordo com Taylor et al (2012) o valor percebido da mensagem eWON como uma expressão da identidade do consumidor é influenciado pelo valor de entretenimento, congruência entre a marca e o self, o nível de envolvimento com a categoria do produto e, que, consequentemente desencadeia na atitude, ou seja, são variáveis que influenciam o compartilhamento das mensagens eWON. De acordo com Martins e Theófilo (2009) atitude é uma predisposição apreendida pelo indivíduo para responder consistentemente, de maneira favorável ou desfavorável, a respeito de um objeto ou representação simbólica. Ainda de acordo com os autores, a atitude está relacionada com o comportamento do indivíduo em relação ao objeto, símbolo ou situação que lhe é exposta, sendo entendida por propriedade como direção (positiva ou negativa) e intensidade (alta e baixa). Dessa forma, o construto propensão a compartilhar se caracteriza com condição dependente das demais variáveis acima mencionadas. 3.1.1 Autoexpressão A autoexpressividade, de acordo com Taylor et al (2012), é definida na medida que os consumidores percebem que uma mensagem publicitária eWON apoia e revela seu autoconceito e, que, a partir do compartilhamento serão reconhecidos publicamente. Dessa forma, os autores acreditam que, quando os consumidores percebem que uma mensagem eWOM é consistente com a imagem que eles vêem a si mesmos, maior a motivação para a partilha das mensagens online. Baseado nesse argumento propôs-se a seguinte hipótese: H1: A autoexpressividade de uma mensagem eWON tem efeito positivo sobre a propensão em compartilhar mensagens publicitárias online. 50 3.1.2 Valor do entretenimento Para construção da hipótese 2 relacionada às motivações e emoções que constituem o valor do entretenimento na comunicação eWon, recorreu-se às contribuições de Ho e Dempsey (2010); Phelps et al, (2004); Dobele et al (2007); e Sundaram, Mitra e Webstwer (2004). Acredita -se que tanto as motivações que desencadeiam a comunicação eWON quanto às emoções experimentadas a cada partilha são condições adicionais ao engajamento do consumidor no que diz respeito ao envio de mensagens no contexto online, além de enfatizarem a importância das relações interpessoais atribuindo devido valor aos laços sociais. Para Taylor et al (2012) o valor do entretenimento de uma mensagem depende do seu significado para o consumidor, o qual é determinado pela identidade. Os autores acreditam que o prazer e diversão são atenuantes à partilha de mensagens, quer dizer, que o que as pessoas acham divertido reflete quem elas são, como elas vêem a si mesmos e como são percebidas pelos outros. Dobele et al (2007) apresentam outras reações emocionais (surpresa, alegria, raiva, tristeza, medo) fundamentais ao compartamento de partilha, assim como Phelps et al (2004) que indicam outras duas variáveis, a curiosidade e o humor. Contudo, pode-se inferir que as mensagens publicitárias online com maior valor de entretenimento são mais propensas a serem compartilhadas, ou seja: H2a: O valor do entretenimento da mensagem tem efeito positivo direto sobre a propensão ao compartilhamento de mensagem publicitária online. H2b: O valor do entretenimento da mensagem tem efeito positivo direto sobre a autoexpressividade da mensagem. Além da força do entretenimento da mensagem sobre a atitude da partilha, Taylor et al (2012) acreditam que a probabilidade de partilha de mensagens eWOM deve aumentar quando o envolvimento com a categoria do produto é mais elevada. 51 3.1.3 Envolvimento com a categoria do produto Outra variável trabalhada neste estudo refere-se ao envolvimento do consumidor com a categoria do produto. Especialistas em comportamento de consumo revelam que o nível de envolvimento do usuário reflete nas suas atitudes e decisões, por isso, Lastovicka (1979) considera fundamental estudar o envolvimento do consumidor a fim de que sirva como base para orientar e segmentar o mercado. Condição que não se difere do ambiente virtual. Segundo Harvey et al (2011), o envolvimento dos consumidores torna-se conceito central para compreensão do comportamento eWon na difusão da mensagem viral. Lastovicka (1979) acrescenta que o envolvimento deve ser pensado como um perfil das dimensões de interesse, sobrepostas ou combinadas e, que, está diretamente relacionado à autoexpressão. (TAYLOR et al, 2012). Portanto, o que os consumidores consideram importante está intrinsecamente relacionada ao seu autoconceito (TAYLOR et al, 2012). Dessa forma, pondera-se: H3a: O nível de envolvimento com a categoria de produto tem efeito positivo direto sobre a probabilidade de compartilhamento de mensagens publicitárias online. H3b: O nível de envolvimento com a categoria de produto tem efeito positivo direto sobre a autoexpressividade da mensagem. 3.1.4 Congruência self e marca Segundo Sirgy (1982), congruência trata-se da similaridade e pertinência em comparar duas variáveis distintas. Dessa forma, em se tratando de autocongruência, - conexão entre os dois aspectos, dimensão do auto-conceito do indivíduo com a imagem do produto/marca (SIRGY, 1982; SIRGY; GREWAL; MANGLEBURG, 2000) Lima e Baptista (2013), Taylor et al (2012) revelam que essa variável pode ter dupla influência sobre a probabilidade de compartilhar mensagem eWOM, seja pelo o elo entre o consumidor e a marca ou pela associação da marca e intenção de compra, demonstrando uma relação entre atitude e comportamento (KELLER, 1993). 52 No entanto, neste estudo, propôs-se uma relação direta entre a autocongruência com a marca e a probabilidade de compartilhar mensagens eWOM, pois conforme afirmam Taylor et al (2012) os consumidores comparam a imagem de uma marca à sua autoimagem; sendo que, quanto maior for a congruência, mais positiva será a atitude em relação à marca e à partilha das mensagens. H4a: O nível de autocongruência com a marca tem efeito positivo sobre a propensão ao compartilhamento de mensagens publicitárias online. Ainda nessa vertente, pretende-se analisar se a congruência percebida de uma marca com um autoconceito tem efeito positivo sobre a probabilidade de compartilhar uma mensagem eWON. H4b: O nível de autocongruência com a marca tem efeito positivo sobre a autoexpressividade da mensagem. 53 4 PERCURSO METODOLÓGICO O interesse e a curiosidade do homem pelo saber levam-no a investigar a realidade sob os mais diversificados aspectos e dimensões. Cada abordagem ou busca admite níveis diferentes de aprofundamento e enfoques específicos conforme o objeto do estudo (CERVO e BERVIAN, 2004). 4.1 Caracterização do objeto de pesquisa Este estudo centra-se em investigar a possível relação entre a autoexpressão e o compartilhamento de mensagens publicitárias online. Para tanto, investigou-se 321 estudantes do ensino superior, de ambos os sexos, com idade entre 17 a 47 anos, na cidade de Montes Claros (MG). 4.2 Tipo de pesquisa Adotou-se a pesquisa bibliográfica com o intuito de recolher informações e conhecimentos prévios acerca do referido assunto. De acordo com Cervo e Bervian (2004), o levantamento bibliográfico procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos que trazem contribuições culturais e científicas existentes sobre um determinado assunto. Sendo assim, destacam-se as contribuições de autores, como Sirgy(1982); McCraken (1986); Belk(1998); Juvertson (2000); Rosen (2000); Kapferer(2003) Dobele et al (2007); Ho e Dempsey (2010); Batey (2010); Fergussom (2010); Harvey et al (2011); Taylor et al (2012) entre outros. Neste estudo, optou-se pela pesquisa descritiva – exploratória por ser considerada mais adequada para alcançar os objetivos propostos, especialmente no que se refere à análise da relação entre autoexpressão e propensão ao compartilhamento de mensagens publicitárias online. Vergara (2003, p. 47) revela que a pesquisa descritiva observa, analisa e correlaciona as características de determinada população ou de determinado fenômeno, sem manipulá-las, na 54 tentativa de descobrir a frequência com que um fenômeno ocorre, sua relação com os outros, sua natureza e características. Os estudos descritivos, assim como os exploratórios, segundo Gil (2007), proporcionam uma visão geral acerca de determinado fato. Dessa forma, busca-se evidenciar a compilação crítica e retrospectiva de outras publicações, para o desenvolvimento do tema proposto, a fim de gerar maior familiaridade quanto à compreensão dos motivos que configuram o “efeito repasse” na comunicação eWon e sua relação com a autoexpressão. Associada ao caráter descritivo-exploratório deste estudo revela-se a abordagem qualiquantitativa configurada por Cervo e Bervian (2004) como um estudo que envolve a obtenção de dados sobre pessoas, lugares e processos interativos, pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada. Quanto aos meios, adotou-se a pesquisa de campo, pois a coleta de dados primários foi realizada junto aos universitários. 4.3 Técnica de pesquisa Dentre diversas maneiras para coletar dados, a amostragem é a mais frequente, especialmente nas pesquisas sobre fenômenos sociais e econômicos, afirmam Martins e Theóphilo (2009). Neste estudo, adotou-se o processo mais comum para a condução das investigações: seleção de uma amostra aleatória simples. Na amostragem aleatória simples, todos os elementos da população têm igual probabilidade de compor a amostra, e a seleção de um indivíduo, ou objeto, não afeta a probabilidade de qualquer outro ser escolhido, ponderam Martins e Theóphilo (2009). Do universo de 333 universitários respondentes, 11 apresentaram mais de 10% de dados faltantes e foram excluídos da amostra, restando na base de dados 322 universitários respondentes. Se por um lado, a seleção do público universitário é questionada por alguns autores, para outros como exemplo, Taylor et al (2012), eles são apropriados para este tipo de estudo, uma vez que são altamente representativos em uma população de grande interesse, ou 55 seja, àqueles mais propensos a se envolverem numa comunicação eWON e, ainda, por ser considerada relativamente homogênea. Embora as taxas de adoção da internet tenham aumentado em todos os grupos demográficos, Ho e Dempsey (2010) pontuam que há maior incidência entre os jovens e adultos de 17 a 29 anos, justamente porque cresceram com essa tecnologia, sendo a comunicação via internet um modo de vida para esse grupo. Além disso, nessa faixa etária estão concentrados os maiores índices de consumo via internet (Anuário da Propaganda, 2010). Nesse estudo, observou-se que os entrevistados apresentaram uma idade média de 23,2 anos, sendo que a menor idade observada foi de 17 anos e a maior de 47. Do ponto de vista comportamental, Ho e Dempsey (2010) sugerem que nesse grupo estão os indivíduos mais propensos a usar a internet para compartilhar informações com sua família e amigos. Mazzon; Andrade; Katz (2006) contribuem ao afirmarem que essas pessoas, predominantemente da Geração Y têm seus hábitos de consumo fortemente influenciados, devido a seu alto nível de envolvimento com a comunicação mediada pela internet, tornandoa um dos principais segmentos visados pelo comércio on-line. 4.4 Concepção de Instrumento de coleta de dados Uma vez definida a amostra e de acordo com os objetivos da pesquisa, passa-se à coleta de dados realizada por meio de questionário, definido por Marconi e Lakatos (2008) como uma técnica de investigação composta por um número de questões apresentadas às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, situações vivenciadas etc. Optou-se pela realização de coleta de dados de fonte primária, disponibilizando um questionário contendo questões de qualificação (sexo, idade, estado civil e renda), questões sobre o perfil dos internautas com relação ao uso do YouTube e a avaliação dos vídeos exibidos. Para tanto, quatro construtos foram delimitados, sendo estes: propensão a compartilhar, valor do entretenimento da mensagem, autoexpressão, envolvimento e congruência self e marca. 56 Em cada construto do instrumento de pesquisa, podem ser conferidas as variáveis constitutivas, conforme apresenta o Quadro 4. Quadro 4 – Variáveis constitutivas de construtos CONSTRUTOS PROPENSÃO A COMPARTILHAR Provavelmente não enviaria Provavelmente enviaria Definitivamente não enviaria Definitivamente enviaria VALOR DE ENTRETENIMENTO Esta mensagem foi divertida Esta mensagem foi interessante Eu gostei desta mensagem Esta mensagem foi agradável AUTO EXPRESSÃO Esta mensagem reflete, de alguma forma, quem eu sou. Repassando esta mensagem seria possível comunicar quem eu sou para outras pessoas. Esta mensagem é consistente com a forma como eu quero me apresentar para os outros. Me identifico com essa mensagem Minha reação a essa mensagem iria dizer aos outros algo importante sobre mim ENVOLVIMENTO Em geral, (produto) é muito importante para mim Em geral , eu tenho um grande interesse em (produto). Em geral, (produto) é muito relevante para mim. Eu fico entediado, quando outras pessoas falam comigo sobre (produto) Eu fico entediado, quando outras pessoas falam comigo sobre (produto) CONGRUÊNCIA SELF E MARCA As pessoas que usam esta marca são como eu Eu sou muito parecido com a típica pessoa que usa esta marca. A imagem de usuários desta marca é consistente com a forma como eu me vejo Me identifico com as pessoas que usam esta marca AUTORES Dobele et al (2007), Harvey et al. (2012), Cruz e Fill (2008), Kirby (2005) , Mazzon; Andrade; Katz (2006) Ho e Dempsey (2010), Sundaram, Mitra e Webster (2004), Phelps et al. (2004) Batey (2010), Taylor et al (2012), Schouten (1991) Lastoviscka (1979), Poupadiuk (1993), Harvey et al. (2011), Kapferer e Laurent (1985), Bolch (1981), Sirgy (1982), Sirgy, Grewal e Magleburg (2000), Kressman et al (2006) Fonte: Adaptado de Taylor et al (2012) Em cada questão, no grupo de variáveis dos construtos, os respondentes atribuiram notas numa escala semântica e do tipo Likert. De acordo com Cervo e Bervian (2004), a escala tipo Likert consiste em um conjunto de itens apresentados em forma de afirmações, ante os quais se pede ao entrevistado que externe sua reação, escolhendo um dos cinco pontos de uma 57 escala. A cada ponto, atribui-se um valor numérico. O somatório desses pontos indicará uma atitude favorável ou desfavorável, em relação ao objeto ou representação simbólica que está sendo medido (MARTINS e THEÓFILO, 2009). 4.5 Fases de execução Os trabalhos referentes à pesquisa foram realizados da seguinte maneira: 4.5.1 Planejamento Nesta etapa, realizou-se a revisão bibliográfica acerca do tema entre outros planejamentos relativos à aplicação do instrumento e método mais adequado para análise dos resultados. 4.5.2 Execução Nesta etapa, foram identificados quatro vídeos de campanhas publicitárias brasileiras, selecionados sob o critério de visualização, ou seja, os vídeos mais visualizados no YouTube, no primeiro trimestre de 2014, conforme ranking publicado pelo site Meio & Mensagem em março/2014. Vídeo 1 - Campanha “Metamorfose Ambulante - Raul está vivo” (20.146.701 views) Na categoria de produto de tecnologia, a campanha “Metamorfose Ambulante - Raul está vivo” desenvolvida pela Agência África, para as empresas Vivo e Samsung. No vídeo, um homem das cavernas descobre produtos Samsung turbinados pela internet da Vivo em um disco-voador. Tudo isso ao som de Metamorfose Ambulante na voz de Raul Seixas. No final, o homem das cavernas que é o “próprio Raulzito”, entra em uma cápsula e viaja no tempo para 1976, onde está no palco para cantar “Eu nasci há 10 mil anos atrás”. Com a ação, Vivo e Samsung relembram o roqueiro brasileiro, morto há 25 anos, ao mesmo tempo em que divulgam suas marcas corporativas, atrelando-as ao desenvolvimento que a internet trouxe para a sociedade. 58 Figura 3 - Vídeo YouTube Metamorfose Ambulante – Raul está vivo Fonte: Google, 2014 Vídeo 2 - Campanha “Inspirar com a arte #issomudaomundo” (6.879.043 views) A campanha “Inspirar com a arte #issomudaomundo” do Banco Itaú desenvolvida também pela Agência de Publicidade África retrata a simplicidade e imaginação infantil. Quer saber o que acontece quando dez crianças descobrem uma obra de arte? Infinitas interpretações. Figura 4 - Vídeo YouTube “Inspirar com a arte #issomudaomundo” Fonte: Google, 2014 59 Vídeo 3 – Campanha Golfinho – VISA (6.032.171 views) O terceiro vídeo selecionado, desenvolvido pela AlmapBBDO para a VISA, refere-se à campanha do Golfinho, na qual, revela as aventuras de um homem, que usa 100% do cérebro, e seu amigo golfinho. Figura 5 - Vídeo YouTube Campanha Golfinho – VISA Fonte: Google, 2014 Vídeo 4 - Campanha do Bom Negócio com o cantor de axé “Cumpadi Washington” (5.565.201 views) O cantor de axé “Cumpadi Washington” na campanha do Bom Negócio é o quarto vídeo selecionado para esta pesquisa. No comercial, um micro system, vivido por Cumpadi Washington, está encostado na área da piscina, onde está um casal. Quando a mulher se prepara para entrar na piscina, o rádio ganha vida e dá início a uma série de reclamações por não ser mais utilizado há tempos. Como num passe de mágica, o rádio desaparece após o marido ter anunciado no site através de seu notebook. O vídeo oficial no YouTube já tem mais de 5,4 milhões de visualizações. 60 Figura 6 - Vídeo YouTube “Cumpadi Washington” Bom Negócio Fonte: Google, 2014 Os participantes receberam o instrumento de pesquisa, conforme descrição apresentada no item 4.4. Vale pontuar que, o entrevistado teve acesso a um questionário para cada avaliação de vídeo, ou seja, quatro formulários de avaliação referente aos quatro vídeos apresentados e, então, solicitadas atribuições de valores numa escala (de 0 a 5) relativas às variáveis experimentadas a cada vídeo assistido. A coleta de dados aconteceu em abril de 2014. A fim de aumentar a confiabilidade e validade do instrumento de pesquisa, aplicou-se o pré-teste. Segundo Martins e Theóphilo (2009) a análise desses dados coletados em uma pequena amostra, evidencia possíveis falhas, inconsistências, complexidade das questões, ambiguidades, linguagem inacessível etc. O préteste foi aplicado para 23 participantes. A partir das considerações e estudo das respostas, foram realizadas adaptações no que se referente aos quantificadores. Não houve considerações e modificações a respeito do instrumento. A partir disso, foi possível continuar o processo de coleta de dados. 4.5.3 Fechamento Para tratamento dos dados utilizou-se o software SPSS (versão 18) com emprego de métodos estatísticos multivariados, sendo aplicados a) Análise Fatorial Exploratória; b) Análise Fatorial Confirmatória e, por fim, c) Modelagem de Equações Estruturais. As informações foram consolidadas e serão apresentadas a seguir. 61 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS Nesse capítulo serão apresentados e discutidos os dados da pesquisa com o objetivo de confirmar ou rejeitar a(s) hipóteses elencadas neste estudo, os dados e informações obtidos estão expostos em tabelas, quadros e gráficos. 5.1 Análise de dados faltantes e outliers Inicialmente, apresenta-se a descrição da base de dados analisada no que se refere à análise de dados faltantes e outliers. Segundo Hair et al. (2009) deve-se avaliar a quantidade de dados ausentes que apareceram nas variáveis presentes na análise multivariada. Foram encontradas na base de dados 317 células em branco no total de 25.308, correspondendo a 1,25%. Observando os dados ausentes existentes por respondente constatou-se que, de um total de 333 respondentes, 52 apresentaram pelo menos um dado ausente. Desses, 11 apresentaram mais de 10% de dados faltantes e foram excluídos da amostra, restando na base de dados 322 respondentes e 84 dados faltantes (0,33%). Nessa nova base de dados foi verificado que os dados ausentes não apresentavam padrão de ocorrência e optou-se por substituí-los pela média da variável, por ser um dos métodos mais adequado e amplamente empregado completa Hair et al.(2009). Foi realizado também a avaliação dos outliers, que são observações que apresentam um padrão de resposta diferente daquele das demais. Pode-se, classificar de acordo Hair et al. (2009) quatro tipos de outliers: (1) erros na tabulação dos dados ou falhas na codificação; (2) observações decorrentes de algum evento extraordinário; (3) observações extraordinárias para as quais o pesquisador não tem uma explicação; e (4) observações que estão no intervalo usual de valores para cada variável, mas são únicas em sua combinação de valores entre as variáveis. Neste estudo, não foram encontrados valores fora do intervalo definido pela escala do questionário e, por isso, foi descartada a presença de outlier relacionado a erro na tabulação dos dados. Buscou-se também verificar a existência de outliers univariados, que consiste na 62 verificação de alguma resposta divergente com base em cada uma das variáveis do modelo, e os multivariados, que apresentam um padrão de resposta diferente considerando todas as variáveis ao mesmo tempo (HAIR et al., 2009). Os outliers univariados foram diagnosticados por meio da padronização dos resultados, de forma que a média da variável seja 0 e o desvio padrão 1. Para tanto, observações com escores padronizados fora do intervalo de |3,29| são consideradas outliers quando as amostras são maiores que 300 entrevistados (Hair et al., 2009). No entanto, neste estudo não foram encontradas observações com escores fora da faixa de -3,29 a 3,29. Já os outliers multivariados foram diagnosticados com base na medida D² de Mahalanobis. De acordo com Hair et al. (2009), tal medida verifica a posição de cada observação comparada com o centro de todas as observações em um conjunto de variáveis, sendo que, ao final, é realizado um teste qui-quadrado. Os indivíduos que apresentam uma significância da medida inferior a 0,001 foram considerados outliers multivariados. Com base neste método, foram encontrados 6 casos de observações atípicas, de forma multivariada. Por acreditar-se que as observações sejam casos válidos da população e que, caso fossem eliminadas, poderiam limitar a generalidade da análise multivariada, apesar de possivelmente melhorar seus resultados (HAIR et. al.; 2009), optou-se por não excluir nenhum dos casos. 5.2 Normalidade e linearidade dos dados da pesquisa Por definição, as variáveis do conjunto de dados utilizadas na análise multivariada não apresentam distribuição normal univariada e nem mesmo multivariada, uma vez que estão limitados em uma escala discreta de 1 a 5. Dessa forma, foram utilizados estimadores robustos para estrutura de covariância do modelo estrutural com a estatística de teste reescalada pelo método de Santorra e Bentler (Satorra, et al., 1994), possibilitando estimativas consistentes e eficientes para os parâmetros. Para verificar a linearidade dos dados, inicialmente foram analisadas as correlações das variáveis par a par, uma vez que um coeficiente de correlação significativo ao nível de 5% é indicativo da existência de linearidade. Através da matriz de correlação de Spearman 63 (HOLLANDER et al., 1999), foram observadas 304 de 342 relações significativas ao nível de 5%, o que representa 88,9% das correlações possíveis. Além disso, foi realizado o teste de Bartlett (Mingoti, 2007) para verificar a linearidade em cada constructo. Para todos os constructos foram observados p-valores menores que 0,001, indicando que existem evidências significativas de linearidade dentro dos constructos. Acredita-se ser de suma importância apresentar a descrição dos processos metodológicos aplicados em cada análise, para que elucide todas as ferramentas e técnicas estatísticas utilizadas para desenvolvimento deste estudo. 5.3 Descrição dos métodos e técnicas utilizados Para descrever as variáveis relacionadas ao perfil dos entrevistados foram calculadas as frequências absolutas e relativas das variáveis qualitativas e estatísticas descritivas (média, desvio-padrão (D.P), mínimo (min.), máximo (max) e primeiro(1ºQ), segundo(2ºQ) e terceiro quartis 3ºQ) para a variável quantitativa. As afirmativas relacionadas ao perfil que foram medidas em escala likert foram avaliadas com a média da escala, o desvio-padrão e o intervalo percentílico bootstrap. Para apresentar e comparar os indicadores de cada constructo foram utilizadas as médias, os desvios-padrão e os intervalos percentílicos bootstrap de 95% de confiança. O método bootstrap (EFRON E TIBSHIRANI, 1993) é muito utilizado na realização de inferências quando não se conhece a distribuição de probabilidade da variável de interesse. Posteriormente à análise exploratória dos dados, foi verificada a dimensionalidade dos construtos da pesquisa, por meio de uma Análise Fatorial Exploratória (HAIR et al., 2009). Isso porque cada construto teórico trata-se de dimensões distintas do fenômeno estudado. Para tanto, foi utilizado o critério da análise paralela elaborado por Horn (1965), que retorna o número de fatores que devem ser retidos na Análise Fatorial Exploratória, ou seja, a quantidade de dimensões do constructo. A Análise Fatorial Exploratória foi ajustada utilizando a análise de componentes principais como método de extração e para o método de rotação foi utilizado o varimax. (MINGOTI, 2007). 64 Para verificar a validade da teoria de mensuração, ou seja, da capacidade do conjunto de indicadores de cada constructo representar com precisão seu respectivo conceito, foram avaliadas as validades convergente e discriminante a partir da Análise Fatorial Confirmatória. Segundo Hair et al. (2009), o critério da avaliação convergente avalia o grau em que duas medidas do mesmo conceito estão correlacionadas, enquanto que a avaliação discriminante mede o grau em que um constructo é verdadeiramente diferente dos demais. Para verificar a validade convergente foi utilizado o critério proposto por de Fornell et al. (1981). Ele garante tal validade caso a Variância Média Extraída - AVE, que indica o percentual médio de variância compartilhada entre o construto latente e seus indicadores, seja superior a 50% (HENSELER, et al., 2009), ou 40% no caso de pesquisas exploratórias (NUNNALY, et al., 1994). Para validade discriminante também foi utilizado o critério de Fornell et al. (1981) que garante a validade discriminante quando a variância extraída (AVE) de um constructo não for menor que a variância compartilhada desse constructo com os demais. Para mensurar a confiabilidade dos constructos foi utilizado o Alfa de Cronbach (AC) e a Confiabilidade Composta (CC). O CC indica quanto da variância dos construtos é livre de erros aleatórios, enquanto que o AC representa a proporção da variância total da escala que é atribuída ao verdadeiro escore do construto latente que está sendo mensurado. Vale ressaltar também que a CC é mais fidedigna do que o AC, pois considera que as variáveis possuem pesos diferentes (HENSELER et al., 2009). De acordo com Hair et al. (2009), os indicadores AC e CC devem ser maiores que 0,70 para uma indicação de confiabilidade do constructo, porém valores até 0,60 também são aceitos em pesquisas exploratórias. Após os testes de validade do modelo de mensuração, foi realizada a modelagem das equações estruturais (HAIR et al., 2009) para verificar a capacidade do modelo de mensuração se ajustar a teoria proposta. Como se observou que os indicadores não eram normalmente distribuídos foram utilizados estimadores robustos para estrutura de covariância do modelo estrutural com a estatística de teste reescalada pelo método de Santorra e Bentler (SATORRA et al., 1994). 65 Para verificar a qualidade do ajuste foram utilizados o R2 (medida da qualidade de ajuste do modelo estrutural) e o GoF (medida da qualidade de ajuste do modelo estrutural) revela Amato et al. (2004). O R2 representa em uma escala de 0% a 100% o quanto os constructos independentes explicam os dependentes, sendo que quanto mais próximo de 100% melhor. Já o GoF é uma média geométrica da média das AVEs dos construtos e a média dos R² do modelo e também varia de 0% a 100%. Ainda não existe na literatura valores de corte para considerar um ajuste como bom ou ruim, mas sabe-se que quanto maior o valor melhor o ajuste. Também foram utilizados os indicadores χ2/G.L., CFI e o RMSEA. De acordo com Hair et al. (2009), para um bom ajuste espera-se que χ2/G.L. seja menor que 3, que o CFI seja maior que 0,90 e que o RMSEA(raiz do erro quadrático de aproximação) seja menor que 0,07. Para o ajuste da Analise Fatorial Confirmatória e os Modelos de Equações Estruturais foi utilizado respectivamente as funções cfa() e sem() do pacote lavaan (ROSSEEL, 2012) do software R (versão 3.0.2). 5.4 Análise descritiva do perfil dos entrevistados Após exposição dos métodos e técnicas utilizados, inicia-se a apresentação dos dados, sendo exposto, num primeiro momento, o perfil dos entrevistados e o perfil dos internautas respondentes com relação ao uso do YouTube. Para descrever as variáveis relacionadas ao perfil dos entrevistados foram calculadas as frequências absolutas e relativas das variáveis qualitativas e estatísticas descritivas (média, desvio-padrão (D.P), mínimo (min.), máximo (max) e primeiro(1ºQ), segundo(2ºQ) e terceiro quartis 3ºQ) para a variável quantitativa. As afirmativas relacionadas ao perfil que foram medidas em escala likert foram avaliadas com a média da escala, o desvio-padrão e o intervalo percentílico bootstrap. Os entrevistados apresentaram uma idade média de 23,2 anos, sendo que a menor idade observada foi de 17 anos e a maior de 47. Avaliando os quartis, pode-se notar que pelo menos 75% dos entrevistados tinha até 25 anos e pelo menos 50% deles estavam na faixa entre 20 e 66 25 anos. Essa distribuição pode ser visualizada no gráfico 1 por meio do boxplot e histograma apresentados. Conforme mencionado anteriormente, apesar da limitação geográfica, a amostra universitária se destaca como seleção principal da população de interesse desse estudo cuja faixa etária se alinha com o comportamento online desses consumidores. Tabela 1 - Estatísticas Descritivas da Idade dos Entrevistados Variável Idade Válidos Média D.P. Mín 1ºQ 2ºQ 3ºQ Máx 321 23,215 5,039 17 20 22 25 47 Gráfico 1 - Boxplot e Histograma com a Distribuição da Idade dos Entrevistados Fonte: pesquisa direta, 2014. As mulheres representaram 61,7% dos entrevistados, como pode ser observado na tabela 2, a seguir. A maioria dos entrevistados foi formada por solteiros, representando 83,8% do total. Na faixa de renda familiar entre R$ 1.501,00 e R$ 3.000,00 encontram-se 42,1% dos entrevistados e apenas 3,4% possuíam renda familiar acima de R$ 10.001,00. A distribuição dos entrevistados em relação ao sexo, estado civil e renda familiar pode também ser visualizada nos gráficos a seguir. 67 Tabela 2 - Frequência para as variáveis Sexo, Estado Civil e Renda Familiar Variável Categoria Sexo Estado Civil Renda Familiar Feminino Masculino Total Válidos Casado Solteiro Separado/Divorciado Outros Total Válidos Menos de R$ 1.500,00 Frequência 198 (61,7%) 123 (38,3%) 321 40 (12,5%) 269 (83,8%) 3 (0,9%) 9 (2,8%) 321 96 (29,9%) Entre R$ 1.501,00 a R$ 3.000,00 Entre R$ 3.001,00 a R$ 5.000,00 Entre R$ 5.001,00 e R$ 10.000,00 135 (42,1%) 60 (18,7%) 19 (5,9%) Mais de R$ 10.001,00 Total Válidos Fonte: pesquisa direta, 2014. Gráfico 2 – Barras das frequências relativas dos Sexos Fonte: pesquisa direta, 2014. Gráfico 3 - Barras das frequências relativas das categorias de Estado Civil Fonte: pesquisa direta, 2014. 11 (3,4%) 321 68 Gráfico 4 – Barras das frequências relativas das faixas de Renda Familiar Fonte: pesquisa direta, 2014. Em relação à frequência de acesso ao YouTube por smartphone ou tablet, 24,8% afirmaram não acessar e 22,3% disseram acessar diariamente. Enquanto 23,7% dos entrevistados afirmaram não compartilhar vídeos do YouTube nas redes sociais, 18,2% o fazem uma vez por semana, 9,7% três vezes por semana e 13% disseram compartilhar todos os dias. No local de trabalho, a maioria dos entrevistados, formada por 51%, não acessam o YouTube e 23,1% afirmaram acessá-lo uma vez por mês. Já em casa, 20,6% afirmaram acessar três vezes por semana e 33,4% acessam todos os dias. Já na escola, 48,1% não acessam e 28,2% acessam mensalmente. Tabela 3 - Frequência de acesso relacionada às questões sobre o acesso ao YouTube Sobre o Acesso Não acesso Acesso mensalmente Acesso quinzenalmente Acesso 1 vez por semana Acesso 3 vezes por semana Acesso todos os dias Total Válidos Frequência de acesso por smartphone/tablet 78 (24,8%) 63 (20,1%) 32 (10,2%) 52 (16,6%) 19 (6,1%) 70 (22,3%) 314 Sei compartilhar vídeos do YouTube nas redes sociais 54 (17,5%) 55 (17,8%) 32 (10,4%) 32 (10,4%) 35 (11,3%) 101 (32,7%) 309 Compartilho vídeos do YouTube nas redes sociais 73 (23,7%) 73 (23,7%) 36 (11,7%) 56 (18,2%) 30 (9,7%) 40 (13%) 308 Acesso o YouTube no trabalho 157 (51%) 71 (23,1%) 20 (6,5%) 21 (6,8%) 19 (6,2%) 20 (6,5%) 308 Acesso o YouTube em casa 20 (6,4%) 44 (14,1%) 29 (9,3%) 50 (16,1%) 64 (20,6%) 104 (33,4%) 311 Acesso o YouTube na escola 148 (48,1%) 87 (28,2%) 27 (8,8%) 22 (7,1%) 12 (3,9%) 12 (3,9%) 308 Fonte: pesquisa direta, 2014. 69 A distribuição dos entrevistados em relação ao acesso ao YouTube está apresentada na tabela acima e pode ser visualizada no gráfico a seguir. Gráfico 5 - Gráfico de barras empilhadas da frequência de acesso relacionada às questões sobre o acesso ao You Tube Fonte: pesquisa direta, 2014. Tabela 4 - Frequência de acesso relacionado ao conteúdo Não acesso Acesso mensalmente Acesso quinzenalmente Acesso 1 vez por semana Acesso 3 vezes por semana Acesso todos os dias Total Válidos Documentários 43 (13,7%) 92 (29,2%) 54 (17,1%) 54 (17,1%) 42 (13,3%) 30 (9,5%) 315 Esportes 106 (34%) 82 (26,3%) 30 (9,6%) 38 (12,2%) 18 (5,8%) 38 (12,2%) 312 Filmes 41 (13,3%) 62 (20,1%) 50 (16,2%) 47 (15,2%) 53 (17,2%) 56 (18,1%) 309 Notícias 35 (11,4%) 67 (21,8%) 40 (13%) 64 (20,8%) 47 (15,3%) 54 (17,6%) 307 Conteúdo adulto 171 (57%) 84 (28%) 17 (5,7%) 13 (4,3%) 10 (3,3%) 5 (1,7%) 300 Programas de TV 70 (22,3%) 71 (22,6%) 52 (16,6%) 52 (16,6%) 43 (13,7%) 26 (8,3%) 314 Publicidade 60 (19,4%) 70 (22,7%) 52 (16,8%) 64 (20,7%) 37 (12%) 26 (8,4%) 309 Vídeos virais 119 (39,1%) 59 (19,4%) 29 (9,5%) 35 (11,5%) 33 (10,9%) 29 (9,5%) 304 28 (8,9%) 34 (10,9%) 25 (8%) 42 (13,4%) 70 (22,4%) 114 (36,4%) 313 Sobre o Conteúdo Humor Fonte: pesquisa direta, 2014. Em relação ao conteúdo acessado no YouTube, 29,2% dos entrevistados afirmaram assistir documentários mensalmente e 34% disseram não acessar vídeos de esportes. Em relação aos 70 filmes, 66,7% afirmaram assistir pelo menos uma vez a cada 15 dias e 13,3% disseram não acessar. As notícias são acessadas diariamente por 17,6% dos entrevistados e 11,4% afirmaram não assisti-las no YouTube. A maioria dos entrevistados, formada por 57%, afirmou não assistir a conteúdo adulto no YouTube. Pelo menos uma vez ao mês, 77,7% dos entrevistados afirmaram acessar conteúdo de programas de TV. Vídeos de publicidade são vistos por 80,6% dos entrevistados e 39,1% disseram não assistir vídeos virais. O humor é o conteúdo mais acessado diariamente pelos entrevistados e 72,2% acessam pelo menos uma vez por semana. Este dado pode reforçar o estudo de Phelps et al (2004) e Dobele et al (2007) que destacam que as mensagens com emoção (humor) são mais susceptíveis de serem encaminhadas na comunicação eWON. As experiências emocionais são determinadas pela cultura (BATEY, 2010), que por sua vez, pode ser determinante no contexto online (CASTELLS, 2009), levando-se em consideração a natureza global da comunicação eWon (DOBELE et al (2007). Além do apelo humorístico, outro fator que influencia a comunicação eWON, diz respeito ao gênero (DOBELE et al, 2007). Apenas como reforço, retomamos os dados do gráfico 2, onde a maioria dos respondentes são do sexo feminino (61,7%), justamente o público que Uler et al (2010) acredita ter mais predisposição para encaminhar as mensagens, em especial àquelas distantes dos sentimentos de medo, desgosto e nojo, mais propensas ao público masculino(38,3%) afirma o autor. A distribuição dos entrevistados em relação ao conteúdo acessado no YouTube está apresentada na tabela acima e pode ser visualizada no gráfico a seguir. 71 Gráfico 6 - Barras empilhadas da frequência de acesso relacionado ao conteúdo Fonte: pesquisa direta, 2014. Sobre o perfil relacionado a espectador, participante e criador, pode-se notar que os entrevistados tenderam a concordar possuir perfil de espectador no YouTube, uma vez que a média das respostas e seu intervalo de confiança estão acima do valor central. Foi também observada tendência significativa de discordância em ter perfil de participante e criador, sendo que a discordância com perfil de criador foi maior que o de participante. Diante do exposto, o desafio está em “capturar a atenção do consumidor e de fazê-lo um agente ativo na influência da sua rede social online” (MAZZON; ANDRADE; KARTZ, 2006), pois, de acordo com Fergunsson (2008), as pessoas gostam de falar sobre as marcas e produtos, no entanto, a fim de que as empresas consigam atingir o sucesso da ação viral, Taylor et al (2012) acrescenta que o valor simbólico das marcas e/ou produtos deve ser considerado e combinado ao autoconceito do público-alvo. Tabela 5 - Estatísticas descritivas da escala de concordância com as questões sobre o perfil de usuário no YouTube Perfil Espectador Participante Criador Fonte: pesquisa direta, 2014. Média 3,278 2,311 1,48 D.P. 1,464 1,328 1,045 I.C.[95%] [3,120 ; 3,434] [2,162 ; 2,457] [1,372 ; 1,607] 72 Gráfico 7 - Gráfico de barras com intervalo de confiança para a média da escala de concordância com o perfil de usuário no YouTube Fonte: pesquisa direta, 2014. 5.5 Análise descritiva das variáveis dos construtos Passe-se a partir de agora, a apresentação da análise descritiva das variáveis dos construtos. Com o objetivo de descrever de forma prática e facilitar a interpretação foi realizada uma padronização das escalas no intervalo de 0 a 1 das respostas relativas aos itens dos constructos. Sendo assim, 0 representa o conceito “pouco” e 1 o conceito “muito”. Dessa maneira, para verificar se existe diferença significativa na avaliação entre os vídeos, basta avaliar o intervalo de confiança. Ou seja, quando os intervalos de confiança de dois vídeos se sobrepõem para o mesmo item, não se pode afirmar que existem evidências significativas de diferença na avaliação dos entrevistados. Em relação ao constructo Valor de Entretenimento, pode-se afirmar que os entrevistados consideraram o vídeo 3 o menos divertido, o que despertou menos interesse e cuja mensagem foi menos agradável. Também foi o vídeo que eles menos gostaram. Nota-se também que o vídeo 4 se destacou dos demais em relação ao aspecto da diversão. Conforme mencionado anteriormente, o valor do entretenimento de uma mensagem é a variável mais subjetiva, pois depende do seu significado para o consumidor, o qual é determinado pela identidade (TAYLOR et al, 201). Para eles, o prazer e a diversão são atenuantes à partilha de mensagens, quer dizer, que o que as pessoas acham divertido reflete quem elas são, como elas vêem a si mesmos e como são percebidas pelos outros. Nesse sentido, o vídeo 3, de todos os anúncios experimentados, não alcançou conectividade à 73 história do consumidor, às suas interpretações e pontos de vistas pautados pelo meio sociocultural e pelos múltiplos selves (SIRGY, 1982). Na tabela 6 e gráfico 8, a seguir, estão apresentadas, as médias da escala padronizada de cada item para cada vídeo pertinente ao construto Valor do Entretenimento. Tabela 6 - Média, desvio-padrão e intervalo de confiança para a escala padronizada com as afirmativas que formam o constructo “Valor de Entretenimento” para cada vídeo Item Esta mensagem foi divertida Esta mensagem foi interessante Eu gostei desta mensagem Esta mensagem foi agradável Vídeo Vídeo 1 Vídeo 2 Vídeo 3 Vídeo 4 Vídeo 1 Vídeo 2 Vídeo 3 Vídeo 4 Vídeo 1 Vídeo 2 Vídeo 3 Vídeo 4 Vídeo 1 Média 0,671 0,712 0,461 0,851 0,835 0,766 0,508 0,787 0,802 0,764 0,477 0,799 0,793 D.P. 0,321 0,316 0,349 0,262 0,236 0,289 0,334 0,290 0,275 0,301 0,338 0,299 0,275 I.C.[95%] [0,634 ; 0,707] [0,677 ; 0,746] [0,424 ; 0,498] [0,821 ; 0,878] [0,807 ; 0,859] [0,735 ; 0,797] [0,472 ; 0,545] [0,754 ; 0,818] [0,773 ; 0,831] [0,731 ; 0,797] [0,438 ; 0,512] [0,765 ; 0,830] [0,762 ; 0,821] Vídeo 2 0,786 0,277 [0,756 ; 0,814] Vídeo 3 0,499 0,333 [0,466 ; 0,531] Vídeo 4 0,780 0,302 [0,745 ; 0,815] Fonte: pesquisa direta, 2014. Gráfico 8 - Média da escala padronizada e intervalo de confiança para as afirmativas que formam o constructo “Valor de Entretenimento” em cada vídeo Fonte: pesquisa direta, 2014. 74 Antes de apresentar os relacionados ao constructo Autoexpressão, vale lembrar a afirmação de Taylor et al (2012): quando os consumidores percebem que uma mensagem eWOM é consistente com a imagem que eles vêem a si mesmos, maior a motivação para a partilha das mensagens online. Assim, de acordo com os dados da Tabela 7, pode-se afirmar que o vídeo 1 seria o que mais comunicaria quem eles são para os demais e o vídeo 3 o que menos comunicaria. Consequentemente, o vídeo 1, cuja mensagem refletia, de alguma forma, quem eles são tem mais probabilidade de se compartilhado, seguido do vídeo 2 e do vídeo 4; diferentemente do que o vídeo 3. Sobre consistência da mensagem em relação à forma como querem se apresentar para os outros, os vídeos 1 e 2 foram melhor avaliados que os vídeos 3 e 4, mesma classificação em relação à sua identificação com a mensagem e sua reação à ela. As médias da escala padronizada de cada item para cada vídeo estão apresentadas na tabela 7 e podem ser visualizadas no gráfico 9. Tabela 7 - Média, desvio-padrão e intervalo de confiança para a escala padronizada com as afirmativas que formam o constructo “Auto Expressão” para cada vídeo Item Mensagem reflete, de alguma forma, quem eu sou Repassando esta mensagem seria possível comunicar quem eu sou para outras pessoas Esta mensagem é consistente com a forma como eu quero me apresentar para os outros Me identifico com essa mensagem Minha reação a essa mensagem iria dizer aos outros algo importante sobre mim Fonte: pesquisa direta, 2014. Vídeo Vídeo 1 Vídeo 2 Vídeo 3 Vídeo 4 Vídeo 1 Vídeo 2 Vídeo 3 Vídeo 4 Vídeo 1 Vídeo 2 Vídeo 3 Vídeo 4 Vídeo 1 Vídeo 2 Vídeo 3 Vídeo 4 Vídeo 1 Vídeo 2 Vídeo 3 Vídeo 4 Média 0,468 0,400 0,250 0,310 0,404 0,354 0,234 0,279 0,335 0,337 0,210 0,234 0,392 0,399 0,241 0,276 0,391 0,390 0,231 0,255 D.P. 0,328 0,320 0,293 0,322 0,324 0,310 0,280 0,310 0,317 0,300 0,274 0,285 0,328 0,332 0,275 0,316 0,334 0,338 0,277 0,311 I.C.[95%] [0,433 ; 0,502] [0,367 ; 0,434] [0,216 ; 0,283] [0,275 ; 0,345] [0,366 ; 0,436] [0,318 ; 0,388] [0,203 ; 0,263] [0,245 ; 0,313] [0,301 ; 0,370] [0,306 ; 0,372] [0,182 ; 0,241] [0,203 ; 0,265] [0,357 ; 0,429] [0,364 ; 0,438] [0,210 ; 0,272] [0,244 ; 0,313] [0,356 ; 0,426] [0,355 ; 0,426] [0,200 ; 0,262] [0,221 ; 0,288] 75 Gráfico 9 - Média da escala padronizada e intervalo de confiança para as afirmativas que formam o constructo “Auto Expressão” em cada vídeo Fonte: pesquisa direta, 2014. Em relação ao constructo Envolvimento, nota-se que o item do vídeo 1 se destaca dos demais no que diz respeito à sua importância, relevância e interesse. Sendo assim, pode-se inferir que este anúncio foi criado de maneira coerente ao pensamento de Lastovicka (1979) e Taylor et al (2012) uma vez que, o que os consumidores consideram impor tante está intrinsecamente relacionada ao seu autoconceito e às dimensões de interesse (sobrepostas ou combinadas) que estão relacionadas à autoexpressividade. Para Harvey et al (2011), este construto, ou melhor, a compreensão do envolvimento dos consumi dores é fundamental para entender o comportamento eWON, questão essa, traduzida em hipótese neste estudo. Vale ressaltar que nenhum vídeo se destacou ou apresentou diferença significativa dos demais no que tange a ficar entediado quando outras pessoas falam sobre o tema. As médias da escala padronizada de cada item para cada vídeo estão apresentadas na tabela 8 e gráfico 10 a seguir. 76 Tabela 8 - Média, desvio-padrão e intervalo de confiança para a escala padronizada com as afirmativas que formam o constructo “Envolvimento” para cada vídeo Item Em geral é muito importante para mim Em geral, eu tenho um grande interesse Em geral, é muito relevante para mim Eu fico entendiado quando outras pessoas falam comigo sobre Vídeo Vídeo 1 Vídeo 2 Vídeo 3 Vídeo 4 Vídeo 1 Vídeo 2 Vídeo 3 Vídeo 4 Vídeo 1 Vídeo 2 Vídeo 3 Vídeo 4 Vídeo 1 Média 0,836 0,588 0,541 0,585 0,812 0,569 0,507 0,569 0,658 0,472 0,451 0,474 0,254 D.P. 0,229 0,305 0,373 0,352 0,245 0,316 0,369 0,346 0,329 0,325 0,356 0,345 0,309 I.C.[95%] [0,807 ; 0,858] [0,552 ; 0,620] [0,501 ; 0,579] [0,549 ; 0,624] [0,786 ; 0,838] [0,536 ; 0,606] [0,465 ; 0,547] [0,532 ; 0,604] [0,623 ; 0,693] [0,436 ; 0,507] [0,413 ; 0,491] [0,439 ; 0,512] [0,222 ; 0,289] Vídeo 2 Vídeo 3 Vídeo 4 0,256 0,311 0,245 0,285 0,326 0,289 [0,227 ; 0,289] [0,276 ; 0,346] [0,210 ; 0,277] Fonte: pesquisa direta, 2014. Gráfico 10 - Média da escala padronizada e intervalo de confiança para as afirmativas que formam o constructo “Envolvimento” em cada vídeo Fonte: pesquisa direta, 2014. O próximo construto a ser apresentado, refere-se à Congruência Self e Marca. Acredita-se que este construto possa ter dupla influência sobre a probabilidade de compartilhar mensagem eWOM (KELLER, 1993). No entanto, neste estudo, propôs-se uma relação 77 direta entre a autocongruência com a marca e a probabilidade de compartilhar mensagens eWOM. Conforme dados da Tabela 9, na variável que revela a identificação dos entrevistados com pessoas que usam a marca, pode-se observar uma pequena diferença apenas entre os vídeos 1 e 4, sendo que se identificaram mais com a marca do vídeo 1 que do vídeo 4. Este processo de ligação, como exemplificado no dado anterior, é denominado segundo Sirgy, Grewal e Mangleburg (2000) como autoconguência. Então, empiricamente, pode-se afirmar que quanto maior a ligação entre a imagem do produto/marca com o autoconceito dos consumidores (SIRGY, 1982), maior a probabilidade de o consumidor se envolver em uma comunicação eWON. Tabela 9 - Média, desvio-padrão e intervalo de confiança para a escala padronizada com as afirmativas que formam o constructo “Congruência Self e Marca” para cada vídeo Item As pessoas que usam esta marca são como eu Eu sou muito parecido com a típica pessoa que usa esta marca A imagem de usuários desta marca é consistente com a forma como eu me vejo Me identifico com as pessoas que usam esta marca Fonte: pesquisa direta, 2014. Vídeo Vídeo 1 Vídeo 2 Vídeo 3 Vídeo 4 Vídeo 1 Vídeo 2 Vídeo 3 Vídeo 4 Vídeo 1 Vídeo 2 Vídeo 3 Vídeo 4 Vídeo 1 Média 0,352 0,310 0,298 0,275 0,326 0,289 0,298 0,266 0,321 0,293 0,273 0,267 0,366 D.P. 0,306 0,296 0,315 0,293 0,297 0,284 0,307 0,297 0,294 0,289 0,290 0,288 0,316 I.C.[95%] [0,322 ; 0,387] [0,277 ; 0,344] [0,266 ; 0,331] [0,244 ; 0,305] [0,294 ; 0,358] [0,258 ; 0,321] [0,265 ; 0,332] [0,235 ; 0,299] [0,290 ; 0,352] [0,265 ; 0,326] [0,243 ; 0,304] [0,235 ; 0,300] [0,335 ; 0,401] Vídeo 2 Vídeo 3 0,314 0,295 0,305 0,304 [0,281 ; 0,344] [0,262 ; 0,330] Vídeo 4 0,280 0,305 [0,248 ; 0,314] 78 Gráfico 11 - Média da escala padronizada e intervalo de confiança para as afirmativas que formam o constructo “Congruência Selg e Marca” em cada vídeo Fonte: pesquisa direta, 2014. O construto Propensão a Compartilhar se caracteriza com condição dependente das demais variáveis acima mencionadas. Ao avaliá-lo o constructo a padronização dos valores foi feita na escala de -1 a 1, de modo que valores negativos representassem discordância e valores positivos concordância. Nota-se que os entrevistados apresentaram tendências significativas a concordar com ambas as afirmativas “Provavelmente enviaria” e “Definitivamente enviaria”. Tabela 10 - Média, desvio-padrão e intervalo de confiança para a escala padronizada com as afirmativas que formam o constructo “Propensão a Compartilhar” para cada vídeo Item Provavelmente enviaria Definitivamente enviaria Fonte: pesquisa direta, 2014. Vídeo Média D.P. I.C.[95%] Vídeo 1 0,284 0,720 [0,203 ; 0,356] Vídeo 2 0,317 0,736 [0,233 ; 0,396] Vídeo 3 0,182 0,749 [0,098 ; 0,258] Vídeo 4 0,467 0,704 [0,390 ; 0,540] Vídeo 1 0,551 0,642 [0,484 ; 0,624] Vídeo 2 0,449 0,689 [0,373 ; 0,523] Vídeo 3 0,301 0,743 [0,216 ; 0,380] Vídeo 4 0,519 0,675 [0,441 ; 0,589] 79 Conforme se observa na Tabel 10, a tendência a concordar com a primeira afirmativa é mais forte no vídeo 4 e mais fraca no vídeo 3 e a concordância com a segunda afirmativa é mais forte nos vídeos 1 e 4 e mais fraca no vídeo 3. Gráfico 12 - Média da escala padronizada e intervalo de confiança para as afirmativas que formam o constructo “Propensão a Compartilhar” em cada vídeo Fonte: pesquisa direta, 2014. 5.6 Análise Fatorial Exploratória – dimensionalidade dos construtos De acordo com Martins e Theófilo (2009) o construto busca representar o verdadeiro significado teórico de um conceito uma vez que são conceitos abstratos que não podem ser adequadamente mensurados por apenas uma variável. Neste estudo, conforme apresentado anteriormente, foram delimitados cinco construtos (valor de entretenimento, autoexpressão, envolvimento, congruência self e marca e propensão a compartilhar) e, a fim de se operacionalizá-lo foram elencadas dezenove variáveis distribuídas entre eles, sendo que elas devem ser medidas válidas e confiáveis do conceito que pretendem mensurar. Em primeiro lugar, verificou-se a dimensionalidade dos construtos, por meio da Análise Fatorial Exploratória - AFE. Isso porque cada construto teórico deve tratar de dimensões distintas do fenômeno estudado. Para tanto, foi utilizado o critério da análise paralela, elaborado por Horn (1965). Esse critério retoma o número de fatores que devem ser retidos na Análise Fatorial Exploratória, ou seja, a quantidade de dimensões do constructo. A Análise 80 Fatorial Exploratória foi ajustada utilizando a análise de componentes principais como método de extração e para o método de rotação foi utilizado o varimax (Mingoti, 2007). Antes de analisar a solução fatorial, foi utilizada a medida de adequação da amostra de Kaiser-Meyer-Olkin – KMO, que indica a proporção da variância dos dados, e que pode ser considerada comum a todas as variáveis. É uma medida que varia de 0,0 a 1,0, sendo que quanto mais próximo de 1,0 (unidade), mais apropriada será a amostra à aplicação da análise fatorial. É adequado aplicar a AFE ao conjunto de variáveis quando o KMO for maior que 0,5. A tabela 11 apresenta uma visão geral da adequação da solução fatorial dos construtos, apresentando os valores observados de KMO, o número de fatores (dimensões) e o total de itens que o formam. Tabela 11 - Adequação da solução fatorial Constructo KMO VE Valor do entretenimento Autoexpressão Envolvimento Congruência self e marca Propensão a compartilhar Fonte: pesquisa direta, 2014. 0,850 0,886 0,659 0,839 0,500 85% 79% 59% 82% 83% Número de Fatores 1 1 1 1 1 Total de Itens 4 5 4 4 2 Nota-se que todos os constructos se apresentaram adequados à utilização da solução fatorial pela medida KMO e por sua variância extraída. Além disso, através do critério da análise paralela (Horn, 1965), todos eles apresentaram unidimensionalidade. Após garantir a adequação da aplicação da AFE ao conjunto de dados, a qualidade da solução fatorial foi verificada por meio de outras três medidas: a variância explicada - VE, a comunalidade e a carga fatorial - CF. De acordo com Hair et al. (2009) a variância explicada (VE), já apresentada nas tabelas anteriores, indica o percentual que o fator consegue explicar do construto por meio da redução dos dados e seu valor mínimo adequado é de 50%. A comunalidade mensura o quanto 81 determinada variável compartilha de significado com as outras variáveis do construto. Para essa medida, variáveis com comunalidades superiores a 0,40 são consideradas adequadas. Por fim, as cargas fatoriais representam o quanto cada variável compartilha de significado com o seu respectivo fator. Nesse caso o valor mínimo adequado é de 0,50. Na tabela seguinte (12), podem ser verificadas as cargas fatoriais, comunalidades e variâncias extraídas. Pode-se notar que apenas o último item do constructo Envolvimento apresentou carga fatorial abaixo de 0,50. Por esse motivo, o item foi retirado da próxima etapa – a Análise Fatorial Confirmatória (AFC). Tabela 12 - Comunalidade, Cargas Fatoriais e Variâncias Extraídas Constructo Valor do entretenimento Autoexpressão Envolvimento Congruência self e marca Propensão a compartilhar Carga Fatorial Comunalidade Esta mensagem foi divertida 0,86 0,74 Esta mensagem foi interessante 0,93 0,86 Eu gostei desta mensagem 0,95 0,91 Esta mensagem foi agradável 0,94 0,88 Mensagem reflete, de alguma forma, quem eu sou 0,86 0,74 0,91 0,83 0,90 0,81 Me identifico com essa mensagem 0,89 0,80 Minha reação a essa mensagem iria dizer aos outros algo importante sobre mim 0,87 0,76 Em geral,o tema é muito importante para mim 0,92 0,84 Em geral, eu tenho um grande interesse pelo tema 0,93 0,87 Em geral, o tema é muito relevante para mim 0,80 0,64 Eu fico entediado quando outras pessoas falam comigo sobre o tema 0,02 0,00 As pessoas que usam esta marca são como eu 0,89 0,80 0,93 0,87 0,90 0,82 Me identifico com as pessoas que usam esta marca 0,89 0,80 Provavelmente enviaria 0,91 0,83 Definitivamente enviaria 0,91 0,83 Itens Variância Extraída 85% Repassando esta mensagem seria possível comunicar quem eu sou para outras pessoas Esta mensagem é consistente com a forma como eu quero me apresntar para os outros Eu sou muito parecido com a típica pessoa que usa esta marca A imagem de usuários desta marca é consistente com a forma como eu me vejo Fonte: pesquisa direta, 2014. 79% 59% 82% 83% 82 5.7 Análise Fatorial Confirmatória Na análise fatorial confirmatória são verificadas a validade convergente, a validade discriminante e a confiabilidade dos construtos. A validade convergente garante que os indicadores de um construto sejam correlacionados o suficiente para medir o conceito latente. A validade discriminante verifica se os construtos medem efetivamente diferentes aspectos do fenômeno de interesse, e por fim, a confiabilidade revela a consistência das medidas em mensurar o conceito que pretendem medir. A fim de testar a validade convergente dos construtos, foi utilizado o critério proposto por de Fornell, et al.(1981). Ele garante tal validade caso a Variância Média Extraída - AVE, que indica o percentual médio de variância compartilhada entre o construto latente e seus indicadores e varia de 0% a 100% (HAIR, et al., 2009), seja superior a 50% (Henseler, Ringle, Sinkovics, 2009), ou 40% no caso de pesquisas exploratórias (Nunnaly e Bernstein, 1994). Para validade discriminante foi utilizado o critério de Fornell, et al. (1981), que garante a validade discriminante quando a variância extraída (AVE) de um constructo não for menor que a variância compartilhada desse constructo com os demais. Para mensurar a confiabilidade dos constructos foi utilizado o Alfa de Cronbach (AC) e a Confiabilidade Composta (CC). O CC indica quanto da variância dos construtos é livre de erros aleatórios, enquanto que o AC representa a proporção da variância total da escala que é atribuída ao verdadeiro escore do construto latente que está sendo mensurado. Vale ressaltar também que a CC é mais fidedigna do que o AC, pois considera que as variáveis possuem pesos diferentes (Henseler, Ringle, Sinkovics, 2009). De acordo com Hair et al (2009), ambos valores devem ser maior que 0,70 e deve-se considerar o valor crítico de 0,60 em pesquisas exploratórias. Na tabela a seguir, pode-se verificar que todas as variâncias médias extraídas (AVE) estão acima de 0,5, o que garante a validade convergente dos constructos. 83 Tabela 13 - Análise Fatorial Confirmatória Β E.P. (β) P-Valor CF Comunalidade Definitivamente enviaria 1,000 0,000 NA 0,782 0,612 Esta mensagem foi interessante 1,061 0,028 0,000 0,901 0,812 Eu gostei desta mensagem 1,192 0,029 0,000 0,962 0,925 Esta mensagem foi agradável 1,111 0,029 0,000 0,925 0,855 1,000 0,000 NA 0,821 0,674 1,039 0,026 0,000 0,890 0,792 0,981 0,025 0,000 0,878 0,771 1,034 0,027 0,000 0,865 0,748 1,010 0,028 0,000 0,836 0,698 1,000 0,000 NA 0,891 0,795 1,067 0,026 0,000 0,943 0,889 0,735 0,028 0,000 0,638 0,407 1,000 0,000 NA 0,857 0,735 1,053 0,023 0,000 0,923 0,852 0,967 0,024 0,000 0,865 0,749 1,008 0,026 0,000 0,849 0,720 Provavelmente enviaria 1,000 0,000 NA 0,614 0,377 Definitivamente enviaria 1,642 0,320 0,000 0,999 0,998 Fator Valor do entretenimento Autoexpressão Envolvimento Congruência self e marca Propensão a compartilhar Var AVE 0,801 Mensagem reflete, de alguma forma, quem eu sou Repassando esta mensagem seria possível comunicar quem eu sou para outras pessoas Esta mensagem é consistente com a forma como eu quero me apresentar para os outros Me identifico com essa mensagem Minha reação a essa mensagem iria dizer aos outros algo importante sobre mim Em geral é muito importante para mim Em geral, eu tenho um grande interesse Em geral, é muito relevante para mim As pessoas que usam esta marca são como eu Eu sou muito parecido com a típica pessoa que usa esta marca A imagem de usuários desta marca é consistente com a forma como eu me vejo Me identifico com as pessoas que usam esta marca 0,737 0,697 0,764 0,688 Fonte: pesquisa direta, 2014. Pode-se notar através da tabela 14 que todas as variâncias compartilhadas, de todos os pares de construtos do modelo proposto, foram inferiores às variâncias médias extraídas dos construtos comparados, o que garante a validação discriminante. Também nessa mesma tabela pode-se observar que os valores do Alfa de Cronbach (AC) e do indicador de Confiabilidade Composta (CC) para todos os constructos, indicaram a confiabilidade. 84 Tabela 14 - Alfa de Cronbach, Confiabilidade Composta e Validação Discriminante Constructo Variáveis AC CC Valor do entretenimento Autoexpressão Envolvimento Congruência Propensão a self e marca compartilhar Valor do entretenimento 4 0,939 0,941 0,801 Autoexpressão 5 0,932 0,933 0,234 0,737 Envolvimento 3 0,857 0,870 0,053 0,101 0,697 Congruência self e marca 4 0,927 0,928 0,071 0,349 0,213 0,764 Propensão a compartilhar 2 0,790 0,806 0,032 0,009 0,001 0,003 0,688 Fonte: pesquisa direta, 2014. 5.8 Modelo de Equações Estruturais De acordo com Hair et al (2009), a Structural Equations Modeling - SEM é uma continuidade de algumas técnicas de análise multivariadas, principalmente da análise de regressão múltipla e análise fatorial. Segundo os autores, o que a difere das demais técnicas multivariadas é que a SEM permite examinar diversas relações de dependência ao mesmo tempo, enquanto que as demais técnicas são capazes de verificar e examinar um único relacionamento entre as variáveis de cada vez. Para estimar os parâmetros dos modelos de equações estruturais foi utilizado o método da verossimilhança. Como a suposição de normalidade foi violada, foram utilizados estimadores robustos para estrutura de covariância do modelo estrutural com a estatística de teste reescalada pelo método de Satorra et al. (1994). Para verificar a qualidade do ajuste foi utilizado o R2 e o GoF. O R2 representa em uma escala de 0% a 100% o quanto os constructos independentes – propensão a compartilhar e autoexpressão - explicam os dependentes - valor do entretenimento, envolvimento e congruência self e marca - sendo que quanto mais próximo de 100% melhor. Já o GoF é uma média geométrica da média das AVEs dos construtos com a média dos R² do modelo. Ele varia de 0% a 100%, não havendo ainda valores de corte para considerar um ajuste como bom ou ruim, mas sabe-se que quanto mais próximo de 100% melhor o ajuste. Também foram utilizados os indicadores χ2/G.L., CFI e o RMSEA. De acordo com Hair et al ( 2009), para um bom ajuste espera-se que χ2/G.L. seja menor que 3, CFI seja maior que 0,90 e que o RMSEA seja menor que 0,07. 85 Conforme apresentado anteriormente representado na Figura 3, o modelo estrutural proposto visa testar as seguintes hipóteses: H1: A autoexpressividade de uma mensagem eWON tem efeito positivo sobre a propensão em compartilhar mensagens publicitárias online. H2: O valor do entretenimento da mensagem tem efeito positivo direto sobre a propensão ao compartilhamento de mensagem publicitária online. H3: O nível de envolvimento com a categoria de produto tem efeito positivo direto sobre a probabilidade de compartilhamento de mensagens publicitárias online. H4: O nível de autocongruência com a marca tem efeito positivo sobre a propensão ao compartilhamento de mensagens publicitárias online. H2b: O valor do entretenimento da mensagem tem efeito positivo direto sobre a autoexpressividade da mensagem. H3b: O nível de envolvimento com a categoria de produto tem efeito positivo direto sobre a autoexpressividade da mensagem. H4b: O nível de autocongruência com a marca tem efeito positivo sobre a autoexpressividade da mensagem. Tanto na tabela 15 quanto no Modelo Estrutural (Fig. 4) podem ser identificados os resultados das hipóteses testadas. Tabela 15 - Ajuste do Modelo Estrutural Respostas β S.E.(β) P-Valor 0,149 0,044 0,001 Autoexpressão 0,005 0,033 0,891 Envolvimento -0,011 0,024 0,632 Congruência self e marca 0,011 0,033 0,738 Valor do entretenimento 0,350 0,024 0,000 Envolvimento 0,010 0,025 0,699 Congruência self e marca 0,507 0,034 0,000 Explicativas Valor do entretenimento Propensão a compartilhar Autoexpressão Fonte: pesquisa direta, 2014. R² 0,033 0,464 86 De acordo com os resultados apresentados, tem-se que: Em relação à propensão a compartilhar foi verificada influência significativa (p-valor=0,001) e positiva (β=0,149) do Valor do Entretenimento sobre a Propensão a compartilhar. Esses dados coincidem com o estudo de Taylor et al (2012) uma vez que os autores acreditam que o prazer e diversão são atenuantes à partilha de mensagens, quer dizer que, o que as pessoas acham divertido reflete quem elas são, como elas vêem a si mesmos e como são percebidas pelos outros. Dessa forma, pode-se considerar que as mensagens publicitárias online com maior valor de entretenimento são mais propensas a serem compartilhadas, como no caso dos vídeos 4, 1 e 2 respectivamente. No entanto, não foi observada influência significativa da Autoexpressão (p-valor=0,891), Envolvimento (p-valor=0,632) e Congruência self e marca (p-valor=0,738) sobre a Propensão a compartilhar; situação que se difere do estudo norteador desse trabalho e que leva a descartar as hipóteses 1,3 e 4. Ao analisar cada relação distintamente, levando-se em consideração a realidade brasileira, pode-se questionar a fragilidade dos estudos de Taylor et al (2012). No estudo dos autores, a autoexpressividade foi considerada antecedente substancial e significativo sobre a propensão a compartilhar, no entanto, de acordo com os dados apresentados na Tabela 15 essa hipótese não foi comprovada. Vale ressaltar a uniformidade da amostra nos dois estudos, bem como as variáveis do instrumento de pesquisa. Talvez, essa dissonância possa se justificar por atenuantes culturais e influências dos vídeos escolhidos e, não simplesmente, pela mitificação dessa relação “autoexpressidade e compartilhamento de mensagens online”. O mesmo ocorreu com o construto envolvimento com a categoria de produtos e congruência self e marca. Apesar de essas relações serem descritas no estudo dos autores acima referidos, especificamente, nessa pesquisa não foi comprovada. Outra discordância entre essa pesquisa e o estudo de Taylor et al (2012) diz respeito à influência do valor do entretenimento e congruência self e marca sobre a autoexpressão. Por mais que, teoricamente, os autores afirmem que os consumidores comparam a imagem de uma marca à sua autoimagem, essa relação não foi comprovada por eles. Já, neste estudo, pode-se afirmar que existe influência significativa (p-valor=0,000) e positiva (β=0,350) do 87 Valor do Entretenimento sobre a Autoexpressão. portanto, quanto maior o valor do Entretenimento, maior tende a ser a Autoexpressão, o que confirma a hipótese 2b. Por outro lado, diferentemente deste estudo, não foi observada influência significativa do Envolvimento (p-valor=0,699) sobre a Autoexpressão, dessa forma rejeita-se a hipótese 3b. Ainda que Taylor et al (2012) acreditem que quanto maior for a congruência, mais positiva será a atitude em relação à marca e à partilha das mensagens, essa afirmação também não foi comprovada por eles. No entanto, de acordo com dados da Tabela 15, existe influência significativa (p-valor=0,000) e positiva (β=0,507) da Congruência Self e Marca sobre a Autoexpressão, o que valida a hipótese 4b. Na tabela 16 estão apresentadas as medidas de qualidade do ajuste, sendo possível verificar que os indicadores CFI e RMSEA apresentaram resultados satisfatórios de qualidade do ajuste. O GoF observado foi de 42,8%. Já o indicador χ²/g.l. ficou acima do desejado, mas considerando o impacto que o alto tamanho amostral (deve-se ter em conta que o tamanho amostral do conjunto de dados utilizados para a elaboração e teste do modelo foi de 1288 unidades amostrais, uma vez que a avaliação de um entrevistado originou quatro informações sobre os constructos) causa no indicador, pode-se concluir que o modelo apresentou resultados satisfatórios de qualidade de ajuste. Tabela 16 - Parâmetros de qualidade de ajuste do modelo estrutural Parâmetros de Qualidade de Ajuste Modelo χ² 523,513 g.l. 125 χ²/g.l. 4,188 CFI 0,979 RMSEA 0,050 GoF 42,8% Fonte: pesquisa direta, 2014. A seguir pode-se visualizar a representação do modelo estrutural ajustado e na tabela seguinte estão apresentadas as decisões de cada hipótese avaliada pelo modelo. 88 Figura 7 - Representação do modelo estrutural proposto Fonte: pesquisa direta, 2014 Tabela 17 - Hipóteses testadas Hipóteses Decisão H1: A autoexpressividade de uma mensagem eWON tem efeito positivo sobre a propensão em compartilhar mensagens publicitárias online. Rejeita (P-valor = 0,891) H2: O valor do entretenimento da mensagem tem efeito positivo direto sobre a propensão ao compartilhamento de mensagem publicitária online. Aceita (P-valor = 0,001) H3: O nível de envolvimento com a categoria de produto tem efeito positivo direto sobre a probabilidade de compartilhamento de mensagens publicitárias online. Rejeita (P-valor = 0,632) H4: O nível de autocongruência com a marca tem efeito positivo sobre a propensão ao compartilhamento de mensagens publicitárias online. Rejeita (P-valor = 0,738) H2b: O valor do entretenimento da mensagem tem efeito positivo direto sobre a autoexpressividade da mensagem. Aceita (P-valor = 0,000) H3b: O nível de envolvimento com a categoria de produto tem efeito positivo direto sobre a autoexpressividade da mensagem. Rejeita (P-valor = 0,699) H4b: O nível de autocongruência com a marca tem efeito positivo sobre a autoexpressividade da mensagem. Aceita (P-valor = 0,000) Fonte: pesquisa direta, 2014. 89 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar da literatura e de outros estudos anteriores afirmarem existente e positiva a relação entre a autoexpressão e a comunicação eWON, neste estudo, essa relação não foi constatada, ou seja, os resultados dessa pesquisa negam a proposição de que o comportamento de compartilhamento de mensagens publicitárias online seja motivado pela relação com a autoexpressividade. Tal conclusão pode demonstrar a fragilidade da teoria trabalhada nos estudos de Taylor et al (2012). Por mais, que alguns dados, especificamente do vídeo 1 tendem a comprovação dessa relação (Tabela 6), ao analisar de maneira conjunta os quatro vídeos (Tabela 15), os valores de R² não são expressivos, ou melhor, não revelam relação consistente entre autoexpressão e comunicação eWON, pois a soma de todos os indicadores (autoexpressão, envolvimento, congruência self e marca) conseguem explicar apenas 3,3% da variabilidade da propensão a compartilhar. Ainda divergente aos autores acima referidos, a variável valor do entretenimento obteve pvalor igual a 0,001, o que significa estreita relação com a propensão à partilha das mensagens publicitárias online. Acredita-se que a escolha dos vídeos pode ter influenciado o resultado da pesquisa uma vez que, nos quatro vídeos apresentados o fator humor é bastante realçado. Pondera-se, entretanto, que foi respeitado um ranking de número de visualizações e compartilhamentos para definição dos vídeos conforme foi mencionado no item 4.5.2 deste estudo. Ressalta-se que a relação entre autoexpressão com o valor do entretenimento e congruência self e marca foi significativa, revelando que quanto maior o valor do entretenimento e da e congruência self e marca maior tende a ser a autoexpressividade. Essa constatação, conforme relatado anteriormente, também se difere do estudo de Taylor et al (2012), uma vez que nenhum dos construtos mencionados tem correlação com a autoexpressão. Neste estudo, a forte correlação entre congruência self e marca e a autoexpressão confirma, de maneira desafiadora aos profissionais de marketing, que a publicidade de uma marca deve ser 90 consistente com a autoimagem do consumidor. Para reforço, retoma-se o pensamento de Sirgy (1982). Segundo ele, na medida em que o anúncio expressa autoconconceito dos consumidores, que existe semelhança entre a imagem da marca e a auto-imagem, ocorre com maior intensidade, o compartilhamento das mensagens entre as pessoas, sendo assim, a autocongruência marca está inexoravelmente entrelaçada com a autoespressividade do consumidor. Ainda que comprovada a relação entre congruência self e marca e a autoexpressão, por mais influente que possa parecer, essa não foi capaz de influenciar a comunicação eWON, fato que confirma as considerações de Phelps et al (2004) e Dobele et al (2007) ao afirmarem que as motivações mais comuns para fomentar o efeito repasse das mensagens online se alinham ao entretenimento e ao nível das emoções percebidas em cada mensagem. Nesse contexto, destaca-se a analogia Taylor et al (2012) ao comparar a capacidade de criar e reproduzir as campanhas de publicidade viral de sucesso ao Santo Graal. Afinal, os profissionais de marketing e comunicação devem se perguntar a toda nova campanha viral: quais os atributos podem ser identificados nesse anúncio que possa torná-lo um sucesso viral? Alguns autores, como exemplo HARVEY et al., (2011), BENTIVEGNA (2002); RECUERO (2009), KIRBY (2005), ULER et al (2010), DOBELE et al., (2007), PHELPS et al (2004), HO e DEMPSEY (2010) apresentam argumentos mais consistentes daqueles apresentados por Taylor et al (2012) sobre o sucesso da viralização. No entanto, de maneira consensual, os autores afirmam que esses profissionais devem, conscientemente, desenvolver mensagens publicitárias que permitem aos consumidores estabelecer conexões sejam elas, situacionais, funcionais ou emocionais, para que seja possível transformá-las em verdadeiros virais, uma vez que, o sucesso ou fracasso da viralização das mensagens publicitárias online está intrinsecamente relacionado à experiência de consumo. (SIRGY, 1982). Talvez as campanhas da Dove estejam na linhagem sagrada, em especial a campanha “Dove Real Beauty Sketches”, da Ogilvy Brasil, é o viral publicitário mais assistido da história, com 114 milhões de views. O fato de o anúncio fazer as pessoas se questionarem a respeito de sua própria condição de beleza, traduzindo uma imagem projetada para ela e para os outros na cultura do consumo (BATEY, 2010) pode ter sido o “start” no interesse pelo compartilhamento do vídeo, pois, no entendimento de Sundaram, Mitra e Webster (2004) os 91 motivos para se envolver na comunicação eWON estão, siginificativamente, relacionados com as experiências de consumo e seus efeitos subjetivos. Sobre o valor do entretenimento, cujo p-valor é igual a 0,000 (Tab.15) percebeu-se efeito positivo sobre a autoexpresão, contrariando os argumentos de Taylor et al (2012). Os consumidores constroem significados para as comunicações com base em seus pontos de vista do mundo, como afirma McCrackern (1987) o significado de uma mensagem e o valor atribuído a ela depende do autoconceito do consumidor. Vale considerar, que as interpretações e reações aos apelos humorísticos, por exemplo, são afetados por gênero, etnia, nacionalidade, personalidade e atitudes sociais(DOBELE et al (2007). Sendo assim, acreditase, de acordo com os autores referenciados neste estudo, que o valor do entretenimento de uma mensagem publicitária depende de seu significado, o qual é determinada pela identidade. Por exemplo, no vídeo 1 e 4, os quais foram destacados o valor do entretenimento, pode de alguma maneira, expressar publicamente, quem eles são, como eles se veem e como eles são percebidos pelos outros. Assim, os entrevistados que se veem modernos e antenados às tecnologias e dispositivos móveis turbinados pela internet encontraram no anúncio que mescla o passado atrelado ao desenvolvimento possibilitado pela internet um cenário real que traduz sua identidade já que os anúncios estão condizentes com seu senso de autoconceito. Já no vídeo 2 e 3, o baixo valor do entretenimento indicado pelo entrevistados revela baixos níveis de autoexpressividade com a propaganda. Diante da exposição anterior, apresenta-se como reforço à explicação dos objetivos propostos, que a autoexpressão não é variável moderadora da comunicação eWON. Apesar de a literatura existente afirmar o contrário, neste estudo não foi comprovada a relação entre a autoexpressividade e propensão ao compartilhamento das mensagens publicitárias online. Quanto aos objetivos específicos pode-se concluir que todos eles foram trabalhados de forma satisfatória. Foi possível comprovar a relação entre autocongruência com a marca, as emoções percebidas e a propensão ao compartilhamento de mensagens publicitárias no ambiente virtual. No entanto, o envolvimento do consumidor com a categoria de produto apresentou pouca significância na partilha das mensagens virais. 92 6.1 Contribuições acadêmicas Acredita-se que este estudo traz relevantes insights sobre a comunicação eWON e o marketing viral, estabelecendo-se como um interessante fluxo de informações que pode nortear novas pesquisas acadêmicas, até porque, ainda há muito o que se descobrir no que se refere à seara da comunicação eWON. 6.2 Contribuições gerenciais Aos profissionais de marketing e comunicação pode-se recomendar atenção aos fatores de envolvimento do consumidor na comunicação eWON e no compartilhamento das mensagens publicitárias online. 6.3 Limitações Como em qualquer pesquisa, ressalvas se aplicam. Em primeiro lugar, tem-se como limitações: a amostra não probabilística e o público universitário. Alguns pesquisadores desprezam esse público, outros já os têm como população de interesse, justamente pelo comportamento online. Outra questão limitante refere-se à ciência dos pesquisados sobre sua participação na pesquisa e a forma de apresentação dos vídeos, ou seja, os entrevistados assistiram aos vídeos em um ambiente artificial, fato que pode contrariar o comportamento real desses consumidores. 6.4 Sugestões de pesquisas futuras Este estudo abre diversas possibilidades de investigações futuras, a primeira delas refere-se à possibilidade de reaplicar a pesquisa. A partir da escolha de vídeos diferentes que abordam contextos emocionais distintos em um ambiente real, sem limitação geográfica dos entrevistados, considerando consumidores reais com diferentes perfis demográficos, psicográficos e de usabilidade da internet e, em especial, o acesso ao repositório YouTube. A segunda oportunidade é o refinamento dos construtos propostos e/ou proposição de novas variáveis, em especial, no construto de autoexpressão. 93 Por fim, estudos adicionais podem testar se (e como) a comunicação eWON afeta o consumo, ou melhor, afeta a decisão de compra dos consumidores. Afinal, a publicidade, como qualquer outra ação de marketing tem por finalidade aumentar a lucratividade da empresa, de modo que, se os anúncios virais não conseguiram esse efeito, consequentemente, pode não tem validade para a empresa anunciante, mesmo que percebido reforço de imagem do produto/marca. 94 REFERÊNCIAS AAKER, D. A. Administração estratégica do mercado. 9. ed. – dados eletrônicos. Porto Alegre: Bookman, 2012. ACIOLI. S. Redes Sociais e Teoria Social: revendo os fundamentos do conceito. Inf. Inf., Londrina, v. 12, 2007. AGUIAR, S. Redes sociais na internet: desafios à pesquisa. XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Santos – ag/set 2007. AHUJA, R. et al. 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QUALIFICAÇÃO DO ENTEVISTADO 1) Sexo ( ) Masculino 2) Idade ( ) de 17 a 20 anos ( ) de 21 a 25 anos ( ) de 26 a 30 anos ( ) de 31 a 35 anos 3) Estado civil ( ) Casado ( ) Solteiro 4) Renda familiar aproximada ( ) Menos de R$ 1.500,00 ( ) Entre R$ 1.501,00 a R$ 3.000,00 ( ) Entre R$ 3.001,00 e R$ 5.000,00 ( ) Feminino ( ) de 36 a 45 anos ( ) de 46 a 50 anos ( ) de 51 a 60 anos ( ) acima de 60 anos ( ) Separado/divorciado ( ) Outros ( ) Entre R$ 5.001,00 e R$ 10.000,00 ( ) Mais de R$ 10.001,00 A) PERFIL DOS INTERNAUTAS COM RELAÇÃO AO USO DO YOUTUBE 1) SOBRE O MEU ACESSO AO YOUTUBE 0 Frequência de acesso por smartphone/tablet Nenhum Sei compartilhar vídeos do YouTube nas redes Nenhum sociais Compartilho vídeos do YouTube nas redes Nenhum sociais Acesso o YouTube no trabalho Nenhum Acesso o YouTube em casa Nenhum Acesso o YouTube na escola Nenhum 2) SOBRE O CONTEÚDO QUE ACESSO NO 0 YOUTUBE Documentários Nenhum Esportes Nenhum Filmes Nenhum Notícias Nenhum Conteúdo adulto (erótico) Nenhum Programas de TV Nenhum Publicidade Nenhum Vídeos virais Nenhum Humor Nenhum 3) MEU PERFIL NO YOUTUBE Espectador (Somente acompanha os Discordo totalmente acontecimentos) Participante (Interage e compartilha conteúdo) Discordo totalmente Criador (Cria e divulga seu próprio conteúdo) Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Muito Muito Muito Muito Muito Muito 1 2 3 4 5 Muito Muito Muito Muito Muito Muito Muito Muito Muito 1 2 3 4 5 Concordo totalmente Concordo totalmente Concordo totalmente 102 B) AVALIAÇÃO DO VÍDEO Após assistir ao vídeo, atribua valor de 1 a 5 para cada alternativa nos grupos de variáveis: VALOR DE ENTRETENIMENTO Esta mensagem foi divertida Esta mensagem foi interessante Eu gostei desta mensagem Esta mensagem foi agradável AUTO EXPRESSÃO Esta mensagem reflete, de alguma forma, quem eu sou. Repassando esta mensagem seria possível comunicar quem eu sou para outras pessoas. Esta mensagem é consistente com a forma como eu quero me apresentar para os outros. Me identifico com essa mensagem Minha reação a essa mensagem iria dizer aos outros algo importante sobre mim ENVOLVIMENTO Em geral, telefonia móvel/internet é muito importante para mim Em geral , eu tenho um grande interesse em telefonia móvel/internet Em geral, telefonia móvel/internet é muito relevante para mim. Eu fico entediado, quando outras pessoas falam comigo sobre telefonia móvel/internet CONGRUÊNCIA SELF E MARCA As pessoas que usam esta marca são como eu Eu sou muito parecido com a típica pessoa que usa esta marca. A imagem de usuários desta marca é consistente com a forma como eu me vejo Me identifico com as pessoas que usam esta marca PROPENSÃO A COMPARTILHAR Provavelmente não enviaria Definitivamente não enviaria 1 2 3 4 5 Pouco Pouco Pouco Pouco Muito Muito Muito Muito 1 2 3 4 5 Pouco Muito Pouco Muito Pouco Muito Pouco Muito Pouco Muito 1 2 3 4 5 Pouco Muito Pouco Muito Pouco Muito Pouco Muito 1 2 3 4 5 Pouco Muito Pouco Muito Pouco Muito Pouco Muito 1 Discordo totalmente Discordo totalmente 2 3 4 5 Concordo Totalmente Concordo Totalmente