XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis A ECONOMIA DO RIO GRANDE DO SUL VEM PASSANDO POR UMA DESINDUSTRIALIZAÇÃO? UMA ANÁLISE DE 2003-2012 Lucas Roberto de Souza Bacharel em Ciências Econômicas Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul [email protected] Resumo: O fenômeno da desindustrialização tem a sua relevância no resultado tanto de crescimento quanto de desenvolvimento de uma determinada economia. Para constatar a sua ocorrência, é preciso ter conhecimento prévio acerca da composição do produto total em relação aos seus principais setores (em especial a indústria) na capacidade destes para alocação de mão de obra e na variação dos seus índices. Dentre os tipos de desindustrialização conhecidos estão a natural e a precoce, tendo está segunda uma variação chamada de Doença Holandesa, sendo que nos três existem premissas semelhantes em relação aos seus efeitos e desencadeamentos. O presente estudo aplica as principais teorias relacionadas a ocorrência deste fenômeno na economia do estado do Rio Grande do Sul analisando a composição do produto interno e seus respectivos setores (agrícola, industrial e serviços) durante o período de 2003 até 2012. Através da mensuração dos principais indicadores destes setores e uma normalização destes resultados, é então elaborado um índice de desindustrialização, no qual é demonstrada a ocorrência de uma desindustrialização precoce, com sintomas ainda não tão graves a continuidade e evolução da indústria gaúc ha. 1 Introdução O fenômeno da desindustrialização tem sua relevância no resultado tanto de crescimento quanto de desenvolvimento de uma economia. Para constatar sua ocorrência, é preciso ter conhecimento acerca de alguns indicadores, como a composição do produto total em relação aos seus setores, a capacidade que estes apresentam para alocação de mão de obra, na variação dos seus índices de crescimento, no volume de exportações da indústria e no PIB per capita da economia em análise. Devido a isso, esse estudo tem como enfoque analisar o cenário da Economia do Rio Grande do Sul e constatar a ocorrência, ou não, deste fenômeno no período de 2003 a 2012. Para tanto, será necessário também compreender a trajetória da economia do estado, bem como os conceitos teóricos sobre esse fenômeno aplicados para análise do tema deste trabalho. Portanto, torna-se necessário uma análise mais completa quanto à economia gaúcha, como foco no setor da indústria, e os respectivos indicadores de desenvolvimento ao longo do período em questão. XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015 XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis Para isso é apresentada uma breve revisão teórica acerca do tema desindustrialização, bem como uma análise da trajetória da indústria do Rio Grande do Sul ao longo das décadas de 1980, 1990 e anos 2000. E por fim, responder, através da análise dos indicadores da indústria gaúcha, a ocorrência ou não do fenômeno da desindustrialização nos anos de 2003-2012 através de um índice de desindustrialização. 2 Desindustrialização: Revisão teórica A desindustrialização, pelo seu conceito mais clássico, é o resultado do recuo contínuo da participação do emprego industrial no emprego total de uma determinada economia. Todavia, tal processo não representa necessariamente uma indústria estagnada ou em crise, bem como uma expansão do setor industrial também não indica um sintoma de fortalecimento do setor em termos gerais. Nesse caso, serão as variações que a produção e a participação de mão de obra da indústria apresentam frente aos demais setores da economia que demonstrarão a real situação da mesma (OREIRO; FEIJÓ, 2010). A ocorrência de desindustrialização em economias mais desenvolvidas é tida como “uma fase normal do desenvolvimento econômico, quando aumenta a produtividade da indústria de transformação e cresce o nível de emprego nos serviços” (SOUZA, 2009, p.25). Sendo esta uma desindustrialização natural. O fato de uma economia ter sua renda per capita em ascensão não significa que sua população deixa de consumir produtos manufaturados, mas sim que passa a consumir mais serviços. Aplica-se a linha de pensamento clássica, na qual os bens são classificados de acordo com a sua importância por básicos, intermediários e supérfluos, que seriam respectivamente os produzidos pelos setores agropecuário, industrial e de serviços. Portanto, de acordo com Morceiro (2012) com o aumento da renda, o consumo pelos bens supérfluos (serviços) tende a acompanhar este crescimento. É preciso lembrar que o grau de progresso técnico e o volume da produtividade presentes no setor industrial possuem taxas de crescimento mais elevadas que o do setor da agricultura, o que resulta em um crescimento no padrão de vida da população por meio de mais rendimentos (originados de aumento nos salários e nos lucros) e da elevação nos investimentos de produtividade. Em virtude do fenômeno da desindustrialização não ser um processo inerente a economias mais desenvolvidas, esse pode vir a ocorrer em países cujas plantas industriais ou índices de produção, bem como renda per capita, ainda não tenham atingido um patamar mais elevado. Podendo causar uma reprimarização da sua indústria para a produção de bens menos intensivos em tecnologia ou provenientes de recursos naturais (MARCONI e ROCHA, 2011). XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015 XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis Tida como uma “conotação negativa” a desindustrialização precoce gera transformações profundas sem que as economias estejam preparadas para tal. Isso ocorre quando os índices de tecnologia e diversificação por parte da produção, aliados ao crescimento da renda per capita das economias emergentes não atingiram patamares semelhantes ao de economias desenvolvidas. (SILVA, 2014). De acordo com esse autor: Essa desindustrialização pode ser identificada a partir de dois conceitos difundidos na literatura. Rowthorn e Wells (1987) definemna como sendo a queda persistente da participação do emprego industrial no emprego total de um país (ou região). Tregenna (2009) define a desindustrialização como a redução consistente tanto da participação do emprego como do Valor Adicionado da indústria no emprego total e no PIB, respectivamente (SILVA, 2014, p. 68). Desta forma, a desindustrialização precoce é a soma de vários acontecimentos, como a nova divisão internacional do trabalho, que se expressa através de produtos importados a preços inferiores e mais competitivos do que os produzidos internamente, fruto de uma mão de obra mais barata nestes países. A terceirização de serviços também surte reflexos diretos nos indicadores, uma vez que atividades anteriormente contabilizadas ao setor industrial após serem terceirizadas passam a somar ao setor de serviços. O setor de serviços tende a ser o mais beneficiado com o crescimento na renda per capita, uma vez que este movimento tende a reduzir a elasticidade de demanda por artigos industriais, e realocando esta procura nos demais setores, especialmente no de serviços. Uma vez nesta situação, a economia acaba vendo a sua planta industrial em um estágio de reprimarização, devido à presença abundante de recursos naturais ou frente a políticas comerciais e de câmbio mais liberais. Nesse ponto, a melhor alternativa é a reindustrialização. Uma marca importante da desindustrialização precoce é o fato de que essa pode ser acompanhada por uma especialização em bens que agregam baixo valor tecnológico (como recursos naturais) e, consequentemente, retração da planta industrial da economia. Nesse caso, configura-se uma desindustrialização via “Dutch Disease” (Doença Holandesa), embora nem sempre ambas as formas sejam concomitantes. No caso da Doença Holandesa, de modo geral, sua ocorrência se origina basicamente pela sobrevalorização constante da taxa de câmbio, devido à economia em questão deter recursos naturais em quantidades abundantes, além da cotação de mercado ser mais apreciadas que as de equilíbrio industrial. Por ser uma falha de mercado, ela atinge economia com capacidade para investimentos em produção de bens com maior grau de XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015 XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis tecnologia, porém não é capaz de fazer isso não ocorre devido às condições cambiais em vigor que desfavorecem o setor em relação ao mercado internacional. Dentre os seus principais “sintomas”, encontram-se pontos como apreciação cambial, estagnação do setor industrial associada a um crescimento do setor de serviços e desemprego (BRESSER-PEREIRA, 2007). 2.1 Desindustrialização no Brasil Muito se discute a ocorrência do fenômeno da desindustrialização na economia brasileira no período de 1986-1999. E de fato, o Brasil é um país com características que corroboram bastante para a existência de desindustrialização via doença holandesa, uma vez que é abundante em recursos naturais e tem nas commodities uma importante parcela da sua pauta exportadora. Porém, muito do que é questionado a cerca deste período devese ao elevado grau de inflação da época. Após uma queda da participação da indústria no PIB na segunda metade da década de 1980, a uma conjuntura de estagnação da economia nacional, associada a uma elevada retração no volume de produtividade do setor. Já nos anos de 1990 o cenário foi de leve recuperação, em termos de produtividade e participação no PIB, junto à redução na taxa de formação bruta de capital. Isto se deve aos baixos níveis de investimento e a instabilidade do setor. Por isso torna-se inviável constatar a ocorrência de desindustrialização, uma vez que o grau de participação da industrial doméstica brasileira no PIB se manteve estável (NASSIF, 2008). A balança comercial brasileira tem estado cada vez mais dependente dos preços e do volume de commodities, situação que – a História brasileira e de toda a América Latina também ensinam – pode se reverter em pouco tempo, embora ainda não pareça estar no horizonte temporal imediato. Ademais, é forçoso lembrar que, com o aumento da renda interna, é possível imaginar que a demanda por produtos industrializados cresça mais que a renda média, pois justamente a elasticidade-renda da demanda por produtos manufaturados é maior do que a por produtos primários (MATTOS, 2013, p. 18). Desta forma é possível perceber que embora o Brasil venha apresentando sintomas de um processo de desindustrialização, os efeitos oriundos das mudanças na pauta de exportação podem ser explicados também por uma sazonalidade do mercado. A crescente demanda por commodities nos últimos anos pode ser explicada como momentânea, e que por si só não tende a resultar em um processo de desindustrialização mais severo para a economia XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015 XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis brasileira. Ainda segundo Mattos (2013), quem tem maior poder de definição a respeito disso é o governo que estabelece as políticas cambiais da economia. 3 Análise da trajetória da economia do Rio Grande do Sul, de 1985 a 2012 O gráfico 1 explana de forma objetiva a composição do PIB gaúcho, distribuído pelos seus três setores, bem como das variações apresentadas pelos mesmos ao longo do período. Gráfico 1 - Composição do Produto Interno Bruto, PIB, do Rio Grande do Sul 1985-2012 (em %) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 Agropecuária Indústria Serviços Fonte: Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (FEE -RS) Dentre as variações apresentadas é importante ressaltar que a partir de 1994 surgem os reflexos da implementação do Plano Real. 3.1 A indústria gaúcha A estrutura da indústria gaúcha apresenta especial concentração em atividades voltadas à agroindústria. Também ocorre uma relação estreita com o segmento exportador, responsável por impulsioná-la em diversos momentos. Essa relação também pode ser explicada através do fato de que muito do dinamismo da indústria gaúcha é ligado a segmentos que destinam grandes parcelas das suas produções para o mercado externo. Uma característica importante da indústria gaúcha é a forte sensibilidade do seu comportamento frente às variações da taxa de cambio, no sentido em que períodos de XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 1987 1986 1985 0 XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis desvalorização do real, a mesma tende a apresentar variações positivas. Enquanto em períodos de apreciação da moeda local, esta situação inibe os índices industriais do estado (CALANDRO; CAMPOS; STEIN, 2012). A abertura comercial ocorrida nos anos 1990 surtiu reflexos em todo o território nacional, resultando em grandes implicações para o setor industrial gaúcho e brasileiro. A queda apresentada pelo setor ao longo dos anos 1990 pode ser explicada por estes efeitos desencadeados pela abertura comercial, e igualmente do processo de privatizações e desnacionalização. Na região metropolitana de Porto Alegre, isso se deve também ao deslocamento das indústrias para regiões periféricas, como o interior. Esta descentralização da indústria, dita anteriormente foi incentivada pelo governo através do programa PROINTERIOR de 1996, tendo como principais agentes os setores coureiro/calçadistas e de confecções. Observando a trajetória da participação da indústria sobre o PIB sul-riograndense (Gráfico 1), ocorreu uma redução bastante acentuada na representatividade desse setor ao longo da década de 1990. A explicação para este movimento reside igualmente nas mudanças estruturais da economia brasileira, mencionadas anteriormente. A situação não foi ainda mais grave em função da participação de mão de obra não ter acompanhando na mesma intensidade a queda na produção. Mas apesar das consequências negativas da abertura de mercado em termos de perda de participação da indústria, é justamente a partir dela que surgem novos empreendimentos importantes, como os realizados pelos grupos Brahma, Schincariol, Ipiranga, entre outros, o que balizou para que o nível de emprego na indústria não caísse tão fortemente quanto a produção desse setor. Embora os anos 2000 tenham trazido à consolidação da liderança do setor de serviços em termos de participação no PIB frente aos demais setores, é importante ressaltar que os setores de agropecuária e indústria seguem tendo participações diferenciadas para a economia do estado do Rio Grande do Sul. Isso se deve, em especial, ao fato de que os problemas sentidos nestes dois setores acabam gerando reflexos diretos no de serviços, impactando a economia do estado como um todo. É imprescindível ressaltar que nos últimos anos a pauta exportadora do Rio Grande do Sul vem sofrendo mudanças, em virtude do seu principal parceiro comercial na atualidade, a China. O crescimento na exportação de commodities é cada vez mais relevante, com destaque para a soja, carnes e derivados, fumo e arroz. Já a indústria absorveu esta mudança, em especial no declínio dos seus arranjos produtivos calçadistas. Entre os principais destaques XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015 XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis exportadores estão máquinas e equipamentos agrícolas e carrocerias de veículos pesados (IPEA, 2012). Tabela 1: Volume de Exportações por Setor – Rio Grande do Sul Ano Setor Primário Indústria de Transformação Outros 2003 11,57% 87,25% 1,18% 2004 9,34% 89,64% 1,02% 2005 1,84% 96,85% 1,30% 2006 7,20% 91,05% 1,75% 2007 12,06% 86,81% 1,13% 2008 11,52% 87,27% 1,21% 2009 14,24% 77,94% 7,82% 2010 13,52% 85,12% 1,35% 2011 18,81% 80,15% 1,04% 2012 15,69% 82,75% 1,56% Fonte: Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (FEE-RS) O que foi dito antes em relação às mudanças sofridas na pauta de exportação da economia gaúcha é claramente perceptível na tabela, 1, ao analisar o declínio das exportações da indústria frente ao avanço dos bens oriundos do setor primário. Embora ainda discreta, é uma mudança importante, embora este comportamento apresentado por ambos não tenha sido constante. É importante ressaltar que os principais parceiros econômicos do Rio Grande do Sul ao longo do período analisado são Argentina, China, Estados Unidos e Holanda, como é possível visualizar na tabela presente no anexo. A economia do Rio Grande do Sul demonstra uma grande dependência com o seu volume de exportações, maior inclusive do que a registrada pela economia brasileira como um todo. E esta dependência só tem aumentando com o passar dos anos, chegando a registrar uma participação superior a 16% das exportações sobre o PIB total da economia gaúcha, nos primeiros anos 2000, até a eclosão da crise financeira de 2008 (BELLO; TERUCHKIN, 2010). Em um aspecto geral, a economia gaúcha como um todo obteve um desempenho inferior à média apresentada pela brasileira nestas últimas décadas, devido ao fato de ter obtido baixos índices de crescimento do seu PIB e PIB per capita. Deve-se levar em consideração que muito desse baixo crescimento é atribuído ao desempenho da indústria, que sofreu quedas significativas ao longo deste período. XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015 XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis 4 Análise de indicadores para medir a ocorrência de desindustrialização na economia gaúcha – 2003-2012 A escolha de 2003 como o ano inicial da análise dar-se-á pela perspectiva de visualizar os diferentes dados em um mesmo período. Como os dados relativos ao volume de exportações tem origem no banco de dados da FEE/RS, os mesmos partem de 2003, e os voltados à mão de obra distribuída por setor em 2012, este foi escolhido como o período para análise. 4.1 Técnica de análise de dados Os recursos utilizados em um primeiro momento foram simplesmente a transposição de gráficos e tabelas sobre os dados previamente coletados nos institutos referidos anteriormente. Feito isto, e após analisá-los no capítulo anterior, estes dados novamente foram traspassados para uma tabela, na qual foi aplicado um processo de normalização nestes indicadores. Com o objetivo de mensurar de forma mais eficaz uma série de dados com diferentes indicadores, um dos métodos mais indicados é a normalização destes dados. Seu foco consiste em sobrepor os dados em um único índice de valor, evitando disparidade ou sobreposição de determinados dados em relação a outros. Dentro os diversos métodos de normalização, o que é aplicado a seguir é o chamado Max-Min Equalizado. Um dos motivos para a escolha do método é o fato de que ele também é empregado pelo IBGE em alguns de seus índices. Como o próprio nome sugere, sua aplicação dar-se-á através da utilização dos valores máximos e mínimos para obter uma normalização linear com valores entre 0 e 1, sendo que em via de regra quanto mais elevado o número, melhor (CERÍCOLA, 1991). 4.2 Índice de desindustrialização Para responder o problema de pesquisa central desta análise, foram utilizados os dados registrados no capítulo anterior e colocados em uma nova tabela, separados pelo mesmo período de tempo: de 2003 até 2012. Os dados utilizados foram selecionados tendo em vista o que foi levantado nas teorias abordadas ainda no capítulo dois. Portanto, utilizam-se como indicadores para mensurar a ocorrência de desindustrialização a participação da indústria no PIB, o seu grau de ocupação no mercado de trabalho e o seu volume de exportações. Estes três indicadores foram confrontados aos seus respectivos índices gerais da economia gaúcha, para que assim pudessem ser calculados os seus índices de normalizados. XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015 XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis O resultado desta metodologia e o índice de desindustrialização podem ser observados na tabela abaixo: Tabela 3: Índice de desindustrialização para o setor industrial do RS Ano PIB Ind/PIB Total Índice Normalizado Ocup Índice Ind/Ocup Total Normalizado 2003 28,1% 0,47 32,1% 0,65 2004 31,5% 1,00 32,9% 1,00 2005 30,3% 0,81 31,4% 0,35 2006 28,1% 0,47 31,1% 0,22 2007 Ano 26,6% PIB Ind/PIB Total 0,22 Índice Normalizado 2008 26,5% 0,21 31,5% 0,39 2009 29,2% 0,64 30,6% 0,00 2010 29,2% 0,64 31,3% 0,30 2011 26,9% 0,26 31,3% 0,30 2012 25,2% 0,00 31,4% 0,35 Máx 31,5% Mín 25,2% 31,5% 0,39 Ocup Índice Ind/Ocup Total Normalizado 32,9% 30,6% Média Aritmética Ano X-Ind/X-Total Índice Normalizado 2003 87,2% 0,49 0,54 2004 89,6% 0,62 0,87 2005 96,9% 1,00 0,72 2006 91,1% 0,69 0,46 2007 86,8% 0,47 0,36 2008 87,3% 0,49 0,37 2009 77,9% 0,00 0,21 2010 85,1% 0,38 0,44 2011 80,2% 0,12 0,23 2012 82,8% 0,25 0,20 Máx 96,9% 0,44 Mín 77,9% Fonte: Elaboração própria através de dados disponibilizados pela FEE XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015 XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis Os valores máximos e mínimos foram usados como parâmetro para a normalização dos seus respectivos indicadores, o resultado foi submetido a uma proporção de valor igualitário entre as três variáveis. Através desta metodologia, chegou-se a um índice de desindustrialização no valor de 0,44, indicando assim um valor de retração para o setor industrial, tendo em vista que quanto mais próximo de 1, mais positiva seria a variável. O gráfico 2 é composto pela mesma trajetória por meio de média aritmética vista antes, e também com outra composta pela média ponderada em que a participação da indústria sobre o PIB total possui valor de 0,5, frente aos 0,25 dos outros dois indicadores selecionados. Gráfico 3: Participação da Indústria (proporção 0,5) x Média aritmética 1,00 0,80 0,60 0,40 0,20 0,00 2003 2004 2005 2006 2007 Média Aritmética 2008 2009 2010 2011 2012 Parcipação do PIB (proporção 0,5) Fonte: Elaboração própria Nele é possível perceber que o caminho traçado pelas duas é muito semelhante. Embora a média possua os menores picos de elevação, é a que melhor encerra o período em análise. Nesta proporção o índice de desindustrialização encontrado também foi 0,45. Citado por Kaldor como um dos pontos iniciais para análise da ocorrência de desindustrialização na economia, outro importante indicador a ser considerado é a ocupação da indústria no mercado de trabalho. Levandose em consideração também o fato de que, como visto no capítulo anterior, este é um dos índices mais favoráveis em prol da indústria, também é apresentada uma média na qual este indicador recebe proporção de 0,5 frente aos demais. Neste caso o resultado do índice de desindustrialização é no valor de 0,43. O que demonstra novamente uma pequena diferença em relação ao obtido pela média aritmética. Já o volume de exportações se apresenta como o XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015 XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis mais positivo destes em número gerais. Contudo, a variação apresentada pelo mesmo tendo uma proporção de 0,5 também pouco difere da trajetória vista por meio de média aritmética. Esta também foi à média que resultou em um índice de desindustrialização idêntico ao do valor da média aritmética, de 0,44. 4 Considerações finais Foi possível observar que, em um índice de desindustrialização composto por indicadores de participação da indústria no produto total, na ocupação da mão de obra e no volume de exportações, a indústria realmente vem passando por um processo de desindustrialização. Contudo, uma vez que a pauta exportadora não tem sofrido alterações drásticas, apenas um crescimento ainda controlável do setor primário com a indústria mantendo-se com larga diferença de participação, ou apresentado alguma apreciação elevada por um determinado bem de origem primária é possível registrar que a economia gaúcha não manifesta à ocorrência de Doença Holandesa. Tendo descartado esta hipótese, é importante analisar o indicador de crescimento do PIB per capita, no qual é constatado que mesmo não chegando a índices de economias desenvolvidas, o cenário é de calamidade. Uma vez que o crescimento da renda é positivo, pode se considerar que mesmo sendo uma economia subdesenvolvida atravessando uma desindustrialização precoce, os índices de renda e ocupação de mão de obra ainda se mantêm favoráveis, bem como o grau de exportação do setor. Portanto é possível observar que o Rio Grande do Sul vem apresentando sintomas da ocorrência de um processo de desindustrialização da sua economia. De forma precoce, com redução da participação do setor industrial na composição do seu PIB. No contexto atual, embora desfavorável para a indústria gaúcha, não é possível prever com clareza o que acontecerá no futuro, uma vez que muitos destes resultados estão relacionados à demanda do mercado internacional por bens de origem primários. Associada essa fragilidade da economia do estado frente ao mercado externo e a descontinuidade das políticas governamentais, o prospecto do setor industrial gaúcho para os próximos anos tende a não ser dos mais favoráveis. Referências BELLO, T. S.; TERUCHKIN, S. U.; GARCIA, A. A. Alterações no perfil das exportações gaúchas. In: CONCEIÇÃO, Octávio A. C. et al. (Org.). O movimento da produção. Porto Alegre: FEE, 2010. XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015 XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis BENETTI, M.D. O agronegócio gaúcho entre os anos 1980 e 2008. In: CONCEIÇÃO, Octávio A. C.; GRANDO, Marinês Zandavali; TERUCHKIN, Sônia Unikowsky; FARIA, Luiz Augusto Estrella (Org.). O movimento da produção. Porto Alegre: FEE, 2010. BRESSER-PEREIRA, L. C. Doença holandesa e sua neutralização: uma abordagem ricardiana. 15 de dezembro, 2007. CALANDRO, M. L.; CAMPOS, S. H.; STEIN, N. B. 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