O problema da desindustrialização Atualmente, existe um grande debate na academia e na impressa sobre a existência ou não de um processo de desindustrialização precoce no Brasil. Pesquisadores de renome debatem sobre o tema argumentando tanto pela existência quanto pela ausência desse processo. Mas qual seria a importância desse debate? Existem argumentos que defendem a manutenção da participação do setor industrial no PIB da economia devido à sua importância na geração de produtividade e do seu papel na geração e difusão de tecnologia para o conjunto da economia. Alguns economistas argumentam que a indústria é o setor mais dinâmico devido ao seu maior potencial para: 1) gerar efeitos de encademento sobre o conjunto da economia; 2) realizar inovação de produtos e processos, estimulando o avanço de tecnologia; 3) gerar economias de escalas dinâmica; e 4) alavancar o crescimento da produtividade. Desse modo, a evolução desse setor é chave para determinar o desempenho de toda economia. Ele seria uma espécie de locomotiva do crescimento econômico. Analisando os dados econômicos, podemos observar que ocorreu, de fato, um importante processo de desindustrialização (perda de participação da indústria no emprego e no PIB) nos anos 80, refletindo o fraco desempenho da economia brasileira no período. A partir de meados dos anos 90, a indústria apresentou uma tendência mais estável em relação à sua participação no PIB com leve queda na participação do emprego total. Ou seja, os dados indicam que passamos por um processo de desindutrialização nos anos 80 e início dos ano 90, mas ele se tornou mais brando ou mesmo nulo a partir de então. Na verdade, a indústria até começou a reagir (ganhar participação) a partir da segunda metade dos anos 2000. Então qual é a relevância do debate na atualidade? Hoje, a parte fundamental do debate não é se está ocorrendo uma desindustrialização ou não, mas como o processo de mudança estrutural está afetando os setores mais e menos dinâmicos. A indústria não é homogênea, ou seja, ela é composta por vários segmentos e uma manutenção de sua participação não indica que a sua importância tenha permanecido constante no sentido de dinamizar a economia como um todo. O mesmo racíocio serve para a indústria de transformação, que é o seu segmento mais dinâmico. Em um estudo realizado pelos professores do Departamento de Economia da UFPR, Márcio Cruz, Gabriel Porcile, Fábio Scatolin e Luciano Nakabashi, eles mostraram que apesar da estabilidade da participação da indústria de transformação no emprego e no produto nos últimos anos, ela vem passando por mudanças em sua estrutura de modo que seus segmentos baseados em recursos naturais vêm ganhando participação, enquanto segmentos mais intensivos em tecnologia vêm perdendo. Adicionalmente, os segmentos do setor de serviço que estão ganhando participação se concentram no comércio, sendo que este é pouco dinâmico e não possui grande potencial para gerar inovações ou para sustentar o crescimento da renda per capita. Desse modo, apesar da aparente retenção do processo de desindustrialização da economia brasileira, o processo de transformação estrutural pela qual ela vem passando não parece ser favorável para estimular seu crescimento no longo prazo, visto que alguns de seus segmentos mais dinâmicos vêm perdendo participação no PIB e no emprego total, sendo estes substituidos por segmentos com reduzido dinamismo. Luciano Nakabashi** Os artigos de economistas divulgados pelo CORECON-PR são da inteira responsabilidade dos seus autores, não significando que o Conselho esteja de acordo com as opiniões expostas. É reservado ao CORECON-PR o direito de recusar textos que considere inadequados. ** Doutor em Economia, coordenador do boletim Economia & Tecnologia e professor do Departamento de Economia (DEPECON-UFPR). Endereço eletrônico: [email protected] 1