A desindustrialização no Brasil: um processo positivo ou

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Segunda-feira, 23 de janeiro de 2012 / Website Zwela Angola
A desindustrialização no Brasil: um
processo positivo ou negativo para
a economia do país?
Sergio Dias Teixeira Junior
O tema desindustrialização no Brasil tem sido alvo de diversas opiniões e críticas de
especialistas e economistas na mídia escrita e falada bem como provocado um debate
acalorado nos meios acadêmico e político.
O fato é que por se tratar de um assunto polêmico e controverso onde os pontos de vista
nem sempre são os mesmos, não é tarefa fácil se chegar a um determinado consenso que
finalize as discussões.
Pode-se afirmar que existem alguns indícios que pressupõe uma possível
desindustrialização mas a questão principal é analisar se esta se revela de maneira positiva
ou negativa para a economia brasileira.
A desindustrialização ocorre quando há uma diminuição da participação do segmento
industrial na economia de um país, mais assertivamente em relação ao PIB.
Segundo estudos feitos pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos
Socioeconômicos (DIEESE) em 2009 a indústria manufatureira participou com 15,5% do
PIB caracterizando assim uma diminuição da sua representatividade econômica se
comparada com os 27,2% em 1985.
Em 2010 a participação ficou em torno de 15,8% conforme dados divulgados pela
Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (FUNCEX), porém inferior
aos 19,2% em 2004.
Outro dado que pode corroborar com um possível sinal de desindustrialização é a queda do
emprego na indústria.
De acordo com o DIEESE entre 1985 e setembro de 2010 o emprego no setor industrial
obteve queda de 28%.
Ao se avaliar a participação dos manufaturados na pauta das exportações brasileiras
observa-se uma redução aproximada de 28,36% no prazo de três anos, ou seja de 55% em
2005 para 39,4% em 2010 segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (MDIC).
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O consumo interno de bens de média e alta tecnologia cresceu 76% enquanto a produção
somente 40% entre 2004 e 2010 conforme levantamento feito pela Associação Brasileira
de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ).
Pelos dados apresentados acima pode-se chegar a conclusão que o país vive um processo
de desindustrialização entretanto alguns economistas encaram essa situação com
naturalidade já que parcela significativa desta atividade está sendo transferida para o setor
de serviços.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre 1985 e setembro de
2010 o setor de serviços obteve um crescimento acumulado de 17,49% no PIB brasileiro. A
empregabilidade no referido setor cresceu 11% no mesmo período.
Se há transferência da atividade de um setor para outro, mesmo se tratando de uma
desindustrialização, ela não representa necessariamente um processo negativo para a
economia brasileira.
Tal afirmação pode estar embasada no fato de que nos últimos 30 anos o setor de serviços
cresceu em vários países industrializados gerando mais renda e emprego para as suas
populações e nesse sentido a desindustrializa&¸ão foi positiva para eles.
Não se pode atribuir semelhante situação para o Brasil por diversas razões apontadas a
seguir.
Os países que obtiveram uma desindustrialização positiva possuem renda per capita acima
dos US$ 30 mil ou seja, são considerados ricos.
A redução da participação da indústria nas economias dos países ricos está inserida dentro
de uma diversificação dinâmica das atividades econômicas resultante da condição natural
do desenvolvimento desses países.
O crescimento do segmento de serviços no Brasil que em 2009 teve participação de 68,5%
sobre o PIB segundo o IBGE e representou 71,1% da empregabilidade de acordo com o
Ministério do Trabalho e Emprego, pode causar a falsa impressão que as atividades
econômicas nacionais também estão passando por um processo de transformação
semelhante ao acontecido nos países ricos.
É prudente avaliar se elas não são fruto de uma mudança da atividade profissional em
função da redução da empregabilidade no setor industrial com características específicas
da economia brasileira.
A mudança do perfil das atividades econômicas dos países ricos não provocou uma
diminuição da qualidade de vida das suas respectivas populações.
A atividade industrial desses países atingiu patamares de produtividade e competitividade
maiores que os do Brasil por conta das indústrias mais desenvolvidas.
A qualificação da mão de obra nesses países é melhor do que aquela observada no Brasil.
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Os países considerados ricos possuem resultados nas suas balanças comerciais mais
expressivos que os registrados na balança comercial brasileira.
Não há como deixar de se mencionar que a atual crise econômica internacional também
contribui para a diminuição do crescimento das economias das diversas nações e por
consequência acarreta um processo de desindustrialização, entretanto a proposta deste
artigo é comentar a situação do ponto de vista da realidade brasileira.
É fato que a renda per capita no Brasil está crescendo e atingiu o valor de US$ 10.9 mil em
2010 segundo dados do IBGE além de uma expectativa de US$ 20 mil para 2025 conforme
projeções feitas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), contudo ainda está muito
aquém dos patamares atingidos pelos países ricos.
Pode-se afirmar que a desindustrialização no Brasil não está ocasionando a perda da
qualidade de vida da população uma vez que na última década 39 milhões de brasileiros
ascenderam a classe média. O resultado desta mudança social provocou um aquecimento
da demanda doméstica, todavia se o consumo interno aumentou por que a indústria não
está conseguindo atendê-lo?
A resposta está no fato de que boa parte dessa nova demanda é atendida pelo produto
estrangeiro já que a importação de produtos de média e alta tecnologia cresceu 177% entre
2004 e 2010 segundo dados da ABIMAQ.
Alguns economistas alegam que a desindustrialização no Brasil tem como pressupostos a
valorização cambial aliada as exportações de bens primários, contudo ela é resultante de
diversos outros fatores.
A desindustrialização no Brasil também pode estar ligada a falta de uma política industrial
formulada a longo prazo que forneça as diretrizes necessárias a sua implementação
garantindo ao empresariado uma fonte segura de investimentos.
Exceção deve ser feita ao Plano de Metas (1956/60) e do II Plano Nacional de
Desenvolvimento (1975/79) que produziram resultados satisfatórios no desenvolvimento
da indústria nacional, porém a médio prazo.
A descontinuidade das políticas industriais no Brasil que denotam uma total
incompetência do governo em planejar a longo prazo, a falta de consenso e de
compromisso fez com que o segmento perdesse muito em inovação tecnológica,
produtividade e competitividade fatores estes que também contribuíram para uma possível
desindustrialização.
O país ainda não atingiu um modelo industrial altamente desenvolvido, provido de
tecnologia de ponta e diferencial competitivo que permita uma mudança das suas
atividades econômicas, exceção feita a poucas áreas.
O Brasil emergente com um alto potencial de crescimento necessita muito do segmento
industrial como fator propulsor do desenvolvimento da sua economia.
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A realidade econômica brasileira permite afirmar que o processo de desindustrialização no
país, além das considerações acima mencionadas, também advém de fatores tais como a
alta taxa de juros, problemas de infraestrutura, carga tributária excessiva, burocracia, nível
de poupança e custo trabalhista. Todo esse cenário não fornece a segurança necessária ao
empresariado que quer investir para melhorar os níveis de produtividade e
competitividade no país.
O recém lançado Plano Brasil Maior pela presidente Dilma Rousseff e que visa defender e
tornar a indústria nacional mais competitiva em relação ao mercado internacional se
alicerça basicamente na desoneração dos investimentos e das exportações, aumento dos
recursos para a inovação tecnológica, fortalecimento da defesa comercial e estímulo ao
crescimento dos micros e pequenos negócios.
Ao que tudo indica parece revelar uma certa continuidade da Política Industrial,
Tecnológica e de Comércio Exterior − PITCE (2003-2007) e da Política de
Desenvolvimento Produtivo − PDP (2008-2010) ambas do governo Lula.
Isso pode representar algo novo do ponto de vista da política industrial já que demonstra
certa coerência de ações dos governos anterior e atual, entretanto ainda é cedo para avaliar
se os resultados advindos do referido plano serão promissores para a indústria e a
economia do país.
Outro fato que merece destaque é que a nova política industrial servirá como um projeto
piloto até dezembro de 2012 supervisionado por uma comissão tripartite formada pelo
governo, setor produtivo e sociedade civil.
Com base em todas as considerações feitas é recomendável perceber que a
desindustrialização no Brasil parece estar tomando um rumo negativo para a indústria e a
economia do país.
Para que ela tenha uma conotação positiva caberá ao governo elaborar um projeto de
desenvolvimento nacional a longo prazo que garanta a melhoria da produtividade e
competitividade das indústrias. Dessa forma conseguirá dinamizar a economia do país
fazendo com que ela naturalmente crie demandas de crescimento em outras áreas.
Sergio Dias Teixeira Junior é especialista e docente de comércio exterior e logística
internacional do UNIFIEO e da UMC - Universidade Mogi das Cruzes e membro do
Grupo de Estudos de Comércio Exterior – GECEU (UNIFIEO). Autor do Coluna
"Comércio Externo" no Zwela Angola. Sergio Dias Teixeira Junior também escreve para
outros jornais internacionais.
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