ANEMIA FALCIFORME ¹Marcial de Vete Lima ²Letícia da Conceição Braga RESUMO A anemia falciforme é uma doença genética de maior incidência no Brasil. Dados da triagem neonatal mostram que no Brasil nascem cerca de 3500 crianças por ano com anemia falciforme, sendo um bebê a cada 1000 nascimentos. Salvador, Rio de Janeiro e Minas Gerais tem os maiores índices de incidência no país. É uma doença grave, ainda sem cura, que pode trazer implicações sérias e até mesmo levar a morte, caso não tenha assistência adequada. O diagnóstico precoce, acompanhamento regular com equipe de saúde, além de suporte social podem reduzir e até evitar os agravos e complicações da doença. Levando em consideração que escola é um espaço muito importante para o desenvolvimento das crianças em geral, inclusive aquelas acometidas da doença e que é na escola que as crianças passam boa parte do dia, este trabalho tem como objetivo produzir um material informativo sobre a anemia falciforme que viabilize o processo comunicação em saúde nas escolas difundindo mais sobre essa realidade que afeta tantas crianças no Brasil. Foi produzido um folheto informativo destinado aos alunos, professores e funcionários. O material possibilitará a compreensão das limitações e problemas que afetam as crianças com essa doença, para que conscientes da questão possam buscar uma melhor qualidade de vida, bem como, orientações sobre o risco de recorrência da doença nas famílias, o poderá facilitar processo de tomada de decisões e permitir que os envolvidos façam suas escolhas reprodutivas livremente. Palavras - chave: anemia falciforme, aconselhamento genético, escola. ____________ Este artigo é parte do trabalho de conclusão de curso apresentado junto ao curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix como requisito parcial para aprovação na disciplina Práticas Pedagógicas III- Projeto TCC. ¹Aluno do curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, Centro Universitário Metodista 37 Izabela Hendrix de Belo Horizonte. E-mail: [email protected] ²professora do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix de Belo Horizonte. E-mail: [email protected] 1- INTRODUÇÃO Anemia Falciforme A doença falciforme trata-se de um grupo de anemias hemolíticas hereditárias que se caracterizam pela presença de hemoglobina S nos indivíduos afetados. Representa a doença hereditária com maior prevalência no mundo (YOONG, 2002). No Brasil, a anemia falciforme é considerada uma das doenças genéticas mais importantes no cenário epidemiológico brasileiro, por ser a mais prevalente dentre as doenças genéticas, principalmente em decorrência da grande população de negros e do processo de miscigenação. Em um estudo realizado entre doadores de sangue observou-se que a prevalência do traço falciforme é maior nos Estados da Região Nordeste, como a da Bahia, onde a população negra é maior, 5,5% desta população é portadora do traço falcêmico. Enquanto que, cidades das regiões Sul e Sudeste do país, onde a população de negros é menor, há baixa prevalência do traço falciforme (DINIZ; GUEDES, 2005). De acordo com Guimarães e colaboradores (2009), o gene pode ser encontrado em frequências de 2% a 6% nas regiões do país, aumentando para 6% a 10% na população afrodescendente brasileira. Nesta população, há em média uma frequência de 60 700 a mil casos novos, por ano, de alguma forma da doença. A presença da anemia falciforme é caracterizada por uma quantidade elevada de hemácias deformadas, em forma de foice, devido à presença da hemoglobina S ao invés a hemoglobina A. As moléculas de hemoglobina anormal (S) conseguem transportar o oxigênio, mas, quando ocorre desoxigenação nos tecidos, as moléculas que compõem a estrutura da hemoglobina se organizam em polímeros, formando feixes, também conhecidos como tactóides. Dessa forma, as hemácias, além de perderem sua elasticidade natural, acabam por distorcer e tornar-se duras e quebradiças devido às mudanças na sua membrana (GUIMARÃES et al, 2009). A formação dessa hemoglobina é determinada por um alelo no cromossomo 11, cuja substituição de um único nucleotídeo (SNP) no códon (GAG->GTG) do sexto aminoácido da cadeia B – Globina provoca a mudança do aminoácido ácido glutâmico para valina, o que leva a modificação fisioquímica da molécula de hemoglobina. A homozigosidade para esta mutação leva à anemia falciforme (GUIMARÃES; et.al., 2009). Também, leva-se em consideração que o gene da HBS associa-se com outros tipos de hemoglobinopatias como a (HbC), (HbD) e Beta-talassemia e resultado em associações sintomáticas. Quando ocorrem de maneira isolada denomina-se respectivamente de hemoglobinopatia SC, hemoglobinopatia SD e S/beta-talassemia.Entretanto,o gene HbS em homozigose ou em associação com hemoglobinopatias denomina-se doenças falciformes.Contudo cada uma dessas conjugações tem suas particularidades próprias no contexto epidemiológico (MANFREDINI, 2007). O defeito molecular liga às manifestações clínicas nos pacientes com doenças falciformes devem ser consideradas em três níveis: o primeiro, molecular e celular; o segundo, em nível de tecidos e órgãos e o terceiro nível, sistêmico. Molecularmente ocorre a mutação da hemoglobina, que leva a polimerização da hemoglobina desoxigenada, falcização e alterações de membrana. Nos tecidos e órgãos ocorre adesão celular ao endotélio, hipóxia local, isquemia, 99 inflamação, lesão microvascular, ativação da coagulação, depleção de no que em nível sistêmico culmina na dor, anemia hemolítica, insuficiência de múltiplos órgãos. A principal consequência da anemia nos pacientes é a menor sobrevida das hemácias; trata-se, pois, de anemia hemolítica, com aumento da bilirrubina indireta, hiperplasia eritróide da medula óssea e elevação dos reticulócitos. No entanto, além da hemólise, outros fatores podem contribuir para o agravamento do quadro, carência de fosfato, insuficiência renal, crises aplásticas e esplenomegalia (NOBREGA, 2003). Cada um desses níveis da doença falciforme implica em vias preferenciais que juntamente com numerosos fatores condicionantes que podem intensificar ou diminuir os efeitos, gerando uma impressionante variabilidade clínica. Os principais fatores que podem influenciar o fenótipo das doenças falciformes são: o genótipo da doença; homozigose para HbS (anemia falciforme) ou genótipos compostos do tipo HbS/HbC, HbS/beta-talassemia, HbS/HbD, outros fatores que podem influenciar no processo de polimerização da HbS, no fenômeno de falcização e na hemólise, são os fatores ambientais; como o local onde vive o paciente, prevalência de doenças infectocontagiosas, condições socioeconômicas e acesso à assistência médica. Assim, um distúrbio monogênico no nível molecular, causado por uma mutação única, produz uma doença multifatorial quando considerado no contexto clínico, que se expressa por uma grande diversidade de fenótipos (ZAGO, 2001; MANFREDINI, 2007; DINIZ ; GUEDES, 2005). As alterações nos glóbulos vermelhos, causados pela doença, podem levar à obstrução dos vasos sanguíneos e, consequentemente, a danos nos órgãos irrigados por estes vasos, estado inflamatório crônico que ocorre nos pacientes com anemia falciforme é decorrente de diversos fatores que se interligam, formando um ciclo inflamatório permanente, a pessoa também apresenta um quadro clínico de anemia crônica, febre, crises de dor e hemolíticas e ocorrências de acidente vascular cerebral (CASTRO, 2011; DINIZ, 2005; LOBO, 2003). A crise dolorosa é a manifestação mais comum da anemia falciforme e a principal causa de morbidade em todos os portadores, portanto, o motivo mais frequente de procura aos serviços de emergência e internações hospitalares. Por ser extremamente prejudicial para o organismo, tanto no ambiente escolar e familiar deve-se conhecer a extensão e a natureza desta complicação para que seja realizada a conduta adequada (TOSTES, 2008). Comunicação em Saúde A partir dos anos 80 observa uma crescente demanda acerca da necessidade da educação popular em saúde aplicada no âmbito de entender a patologia para saber cuidar (ALVIM; FERREIRA, 2007). Neste contexto, nasce a comunicação em saúde como um processo de compreender e compartilhar conhecimentos entre profissionais e usuários dos serviços de saúde. Na prática, esse processo visa esclarecer e informar a população quanto aos mecanismos determinantes da saúde e qualidade de vida dos afetados (OLIVEIRA et al., 2007). A pedagogia aplicada à saúde estimula todos os participantes, tornando princípio de dialogicidade que é um exercício de diálogo mútuo e necessário para a transição da consciência, de ingênua à crítica e reflexiva (ALVIM; FERREIRA, 2007). Entretanto, num contexto sócio – cultural, o universo do serviço de saúde é diferente para profissionais e usuários. Cada usuário apresenta um entendimento de forma diferente sobre um determinado assunto, bem como os profissionais de saúde divergem ao apresentarem uma questão ao usuário. O que é extremamente salutar, considerando que a diversidade presente na maneira das pessoas aprenderem (OLIVEIRA et al., 2007). Desta forma, trabalhar com comunicação em saúde visando informar e influenciar pessoas em suas decisões individuais e coletivas para melhoria da sua saúde e qualidade de vida é algo que sempre necessita destreza, sendo que dependendo do grupo alvo neste contexto isto é particularmente mais importante (MOREIRA et al.,2003). Assim, ao optar-se pelo material informativo, seja ele panfleto, cartaz, cartilha ou folheto, é importante que as informações não sejam desconfortáveis para o indivíduo receptor para possibilitar que elas não sejam ignoradas. Muito pelo contrário, quando a informação é agradável, o indivíduo irá incorporá-la (OLIVEIRA et al.,2007). A comunicação em saúde dependerá de sua mensagem para alcançar êxito e melhorar a saúde, atingindo as pessoas individualmente ou coletivamente para que elas tomem decisões mais acertadas (MOREIRA et al., 2003). . Diante deste contexto e considerado a prevalência da doença falciforme no Estado de Minas Gerais, o presente estudo tem como objetivo produzir um material informativo sobre a anemia falciforme que viabilize o processo comunicação em saúde nas escolas difundindo mais sobre essa realidade que afeta tantas crianças no Brasil. 2- METODOLOGIA Foi realizada uma revisão não sistemática baseada em artigos científicos, livros e teses publicados, no período de 2000 a 2012, disponíveis em sites de revistas científicas, bibliotecas eletrônicas, dentre eles Scielo e Pubmed. Como estratégia de busca dos artigos foram usados os seguintes descritores: anemia falciforme, doença genética, doença crônica. Os métodos de exclusão foram artigos que não retratasse do tema. Em seguida, foi elaborado um folheto informativo sobre o tema usando o programa Microsoft Publisher (ANEXO I). Procurou-se usar uma linguagem de fácil entendimento e imagens para facilitar a compreensão do mesmo, tendo em vista a heterogeneidade do público alvo composto de alunos, pais, professores e funcionários de escola pública. 3- CONSIDERAÇÕES FINAIS A escolha do tema anemia falciforme deu-se a partir da própria vivência profissional do autor no laboratório de Análises Clínicas do Hospital João XXIII, Belo Horizonte/MG, ao observar o grande número de exames para o diagnóstico de anemia falciforme realizados no hospital, incluindo os pacientes que são crianças. Para atingir o objetivo de fazer comunicação em saúde sobre o tema anemia falciforme num ambiente estudantil, é preciso apresentar tanto os aspectos genéticos e fenotípicos da doença com uma linguagem simples, a fim de que o material realmente possibilite a comunidade escolar compreender as características da doença sua origem, sintomas, cuidados, o diagnóstico, tratamento, limitações dos afetados e orientações sobre a reprodução, enfatizando-se o risco de nascimento de futuras crianças afetadas. O que facilitará no processo de tomada de decisões e permitirá que os envolvidos façam suas escolhas livremente. Além disso, o material deve servir para orientação e direcionamento de alunos e familiares a estarem cadastrados em seus centros de saúde para terem assistência médica. REFERÊNCIAS ALVIM, N.A.T.; Ferreira, M.A. Perspectiva problematizadora da educação popular em saúde e a enfermagem. In: Texto contexto enfermagem,; 16(2): 315-9. Abril/junho; 2007. 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