A ECONOMIA BRASILEIRA, GLOBALIZAÇÃO E NOVAS PRÁTICAS DE ENSINO. JOSE EDUARDO AMATO BALIAN Fundação Armando Alvares Penteado – FAAP Faculdade de Administração de Empresas Rua Alagoas, 903 Prédio No. 5 Tel: 3662 - 1662, Ramal 1173, CEP – 01.242-902 [email protected] .br RESUMO O Brasil tem sofrido grandes transformações em sua economia desde 1990 com a administração conturbada do Presidente Fernando Collor de Mello. Os reflexos desta gestão são sentidos na performance de resultados dos setores público e privado até os dias de hoje. As Escolas de Administração de Empresas a partir do início da década de 90 se modificaram e assumiram um papel ainda mais relevante na formação de executivos se compararmos a períodos anteriores. Este artigo trata destas mudanças, ou seja, de como a administração do Brasil se transformou nestes 8 anos exigindo novas posturas do administrador, seja na gestão de recursos públicos ou na de fatores de produção privados. E, quais as novas exigências e dificuldades do ensino para capacitar profissionais a vencer o desafio de trabalhar em equipe, ser multifuncional e ao mesmo tempo obter resultados para suas organizações. Se não bastassem estas dificuldades, nossa economia está inserida num mundo globalizado, com mercados integrados e parceiros comerciais cada vez mais fortes. Este trabalho não discussão do mesmo. pretende esgotar o assunto e sim contribuir com idéias para a ABSTRACT Brazil has suffer great transformations on its economy since 1990 , with the disturbed administration of the President Collor. The reflections of his administration are seen in the performance of results of the public and private sections till nowadays. The Business Schools since the beguining of the nineties , has changed and assumed an expressive place in the formation of executives, if compared to previons periods. This article treats of this changings, or how the administration of Brazil has been transformed in the last 8 years, claiming for new atitudes of the administrator , in the management of the public and private resorts. And, so, there are new demandings and dificulties to teach to professionals to win the challenge of working in a group , be an multifunctional worker and , at the same time, have results for the organization. Also, our economy is globalized, it has integrated markets , and trading associations even more stronger. This work doesn’t mean to finish here , but open new ideas for move discussions abaut. ÁREA TEMÁTICA: COMPETENCIAS HUMANAS E MATERIAIS 1 - A TRANSFORMAÇÃO ECONÔMICA Na década de 80, convivíamos com altas taxas de inflação; baixo crescimento do PIB; indexação econômica através da correção monetária sobre preços públicos, privados e aplicações financeiras. Nossa economia era fechada a produtos estrangeiros e sofríamos com a forte atuação de oligopólios e monopólios controlando preços e salários. O sequestro monetário da administração Collor foi um marco na administração pública e privada do país. Somado ao início da abertura econômica e do processo de privatização de estatais, o cenário brasileiro começa a se modificar. TABELA 1 - Variações percentuais de Preços (IGP) e do Nível de Atividade Industrial (INA) nas décadas de 80 e 90. Anos IGP – IBGE INA – FIESP 1980 110,2 6,1 1981 95,2 -8,8 1982 99,7 0,6 1983 211,0 - 2,7 1984 223,8 7,5 1985 235,1 11,4 1986 65,0 12,3 1987 415,8 - 0,6 1988 1.037,6 - 0,2 1989 1.782,9 1,4 1990 1.476,6 -11,3 1991 480,2 -1,2 1992 1.158,0 - 4,7 1993 2.708,6 11,7 1994 1.093,8 7,9 1995 14,78 3,6 1996 9,34 7,5 1997 7,48 7,3 Fonte: conjuntura econômica. Na primeira metade da década de 90, a inflação começa a declinar; elimina-se a indexação e a correção monetária; a partir do setor automobilístico o Brasil abre sua economia ao mercado externo; inicia-se o processo de privatização de estatais e com mais produtos importados aumenta-se a concorrência interna. Apresentamos abaixo um resumo dos principais ítens economia brasileira nas décadas de 80 e 90. conjunturais que mudaram a TABELA 2 - Conjuntura Econômica. REALIDADE DA DÉCADA DE 80 Alta inflação Pequeno crescimento econômico Indexação e correção monetária Economia fechada Estatais fortes Concorrência interna fraca REALIDADE DA DÉCADA DE 90 Baixa inflação Pequeno crescimento econômico Fim da indexação e correção monetária Economia aberta Início do processo de privatizações Concorrência interna forte Da conjuntura econômica do país à política de negócios da empresa muita coisa se alterou e o primeiro agente a mudar sua postura administrativa foi a empresa. VOCÊ RECORDA OS PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS DA DÉCADA DE 80? As empresas não tinham preocupação com preços dos produtos e serviços pois, mensalmente alteravam a tabela com percentuais iguais ou até maiores aos da inflação o que permitia incobrir problemas gerenciais de todos os tipos. CUSTOS ? Que bobagem ! Para que se preocupar ? Reajustar a tabela de preços é mais fácil. CONTABILIDADE ? Se não fosse o fisco e as exigências legais era um departamento que poderia ser extinto em nossas organizações. As empresas auferiam LUCROS FINANCEIROS em volume maior do que LUCROS OPERACIONAIS. Na primeira metade da década de 90, o contexto se modifica, a redução do lucro financeiro associado à queda da inflação e a baixa liquidez da economia fazem com que as empresas a partir de então, tivessem que sobreviver obtendo lucros operacionais, isto é, do seu negócio. Programas de Produtividade e Qualidade ganham força, escritórios, sedes, fábricas são fechadas, negócios concentrados, o comércio sofre muito. Vimos grandes magazines cresceram velozmente na década de 80 baseados na correção monetária e no lucro financeiro. Infelizmente, com a mesma velocidade de crescimento estas organizações tem diminuido de tamanho, faliram ou foram vendidas (o processo não terminou). O setor privado se ajustou, encolheu, obteve lucro operacional, melhorou a produtividade e sofreu com a concorrência dos produtos importados. Setores como o textil e de calçados são duramente atingidos e outros como o automobilístico reagem melhor à competitividade externa num primeiro momento. Contabilidade, custos e preços, que estavam fora ‘de moda’ nos anos 80, agora mais do que nunca tem papel fundamental na gerência dos negócios, na medida em que fornecem (sempre forneceram) informações gerenciais para tomada de decisões. Nos anos 90, a tônica não é aumentar preços mas sim reduzi-los. Nossas empresas passaram 10 anos sem se preocupar com custos e reajustando preços mensalmente sem dificuldade, porém, desde 94 com o Plano Real , o fim da inflação, da indexação e da correção monetária , os preços passam a ser uma arma competitiva. TABELA. 3 - Princípios Administrativos NA DÉCADA DE 80 Reajuste mensal de preços Sem preocupação com custos Lucros financ.> Lucros operacionais Preços com enfoque secundário Contabilidade com fins fiscais NA DÉCADA DE 90 Reajuste de preços para baixo Alta preocupação com custos Lucros operac. > Lucros financeiros Preços como arma competitiva Contabilidade com fins gerenciais Podemos fazer uma analogia entre a administração pública e privada, pois os preços das tarifas se estabilizaram; o imposto inflacionário junto com o ‘lucro’ das aplicações financeiras cessou e não resta outra alternativa aos dirigentes senão ‘sobreviver do lucro do seu negócio’, isto é , melhorar a qualidade de vida da população investindo em saúde, educação e transporte. Parece fácil, mas não é, as reformas administrativa, fiscal e da previdência são fundamentais para equacionar as contas públicas e permitir aos nosso representantes eleitos investir adequadamente os impostos arrecadados. 2 - GLOBALIZAÇÃO E INTEGRAÇÃO DE MERCADOS COMO VOCÊ REAGE FRENTE A UMA CRISE DE VENDAS ? Culpa a conjuntura econômica do país ?, os concorrentes ?, a crise asiática ?, ou a quem mais ? O fato é que nem sempre nos responsabilizamos pelas dificuldades. Em muitos casos falta-nos humildade ou a percepção de nossas deficiências como executivos. O administrador deve ter tido a oportunidade de adiquirir o conhecimento e ter sido treinado em relacionar a conjuntura econômica com ambiente de negócios da organização, de modo a estabelecer estratégias para a mesma. Com este enfoque, uma crise seja ela de vendas ou de origem administrativa pode ser encarada como uma oportunidade de crescimento ou uma ameaça a sua sobrevivência. É importante levar em conta os ‘dois lados da moeda’. A Escola de Administração de vanguarda é o ambiente propício para a formação do indivíduo com essa excelência profissional. A globalização e integração de mercados em blocos econômicos é uma realidade que não tem volta e pode ser encarada como uma ameaça às organizações ou uma oportunidade de novos negócios para as mesmas. Entre as ameaças podemos destacar, o acirramento da competitividade no mercado local; o curto espaço de tempo para se tornar competitivo; a falta de recursos para investimentos; a rápida mobilidade de capital (dinheiro, mão de obra, máquinas e equipamentos) e a diferença tecnológica que prejudica os países em desenvolvimento (maiores taxas de desemprego e redução do número de empresas). Por outro lado, surgem novas oportunidades dentre as quais a ampliação dos mercados; a troca de know-how administrativo, tecnológico e fabril; a contratação de tecnologia de ponta mais fácil; a mobilidade de capital e o aumento da qualidade dos produtos e serviços oferecidos aos mercados. A tabela abaixo resume as ameaças e oportunidades das organizações frente o processo de globalização e integração de mercados. TABELA 4 – Ameaças e Oportunidades da Globalização e Integração de Mercados AMEAÇAS Maior competitividade no mercado local Curto espaço de tempo para competitividade Falta de recursos para investimento Diferença tecnológica entre países Baixa qualidade e produtividade Mobilidade de capital OPORTUNIDADES Ampliação dos mercados Troca de know-how Contratação de tecnologia mais fácil Menor diferença tecnológica entre os países Alta qualidade e produtividade Mobilidade de capital 3 – AS NOVAS POSTURAS DE ENSINO No contexto de mudanças e alta competitividade em que vivemos a melhor contribuição que a Escola pode proporcionar aos seus estudantes é ensina-los a aprender, a estudar, a ser tornarem quase que auto-didatas. A partir de um conhecimento básico sobre o assunto o estudante, ou melhor, o profissional competitivo precisa ter a capacidade de se auto desenvolver. Isto implica em ler regularmente, saber interpretar um texto, ter desenvolvimento crítico e criatividade. Relacionamos a seguir alguns fatores que acreditamos que a Escola de Vanguarda deva possuir para transformar o estudante num profissional vencedor. TABELA 5 – A Escola tradicional e de Vanguarda ESCOLA TRADICIONAL REPRODUZ CONHECIMENTO ESCOLA DE VANGUARDA REPRODUZ CONHECIMENTO E DESENVOLVE PESQUISAS. CURSO EMINENTEMENTE TEÓRICO CURSO TEÓRICO E PRÁTICO - agregado a escritórios de atendimento de casos reais, por ex. empresa junior PROFISSIONAIS LECIONANDO – ênfase PROFISSIONAIS EDUCANDO – ênfase no nos conhecimentos práticos conhecimento prático somado ao pedagógico. PROFESSORES HORISTAS – envolvidos PROFESSORES DEDICADOS - com carga exclusivamente em sala de aula. horária diferenciada, por ex, pesquisa, desenvolvimento e de avaliação. AULA TRADICIONAL – somente no AULA DE VANGUARDA - no campus e campus escolar em laboratórios externos, por ex. bibliotecas, empresas e bolsas. AULAS EXPOSITIVAS AULAS INTERATIVAS baseadas em estudos de casos. SALAS CHEIAS DE ESTUDANTES SALAS COM POUCOS ESTUDANTES. A Escola de ponta deve além de reproduzir conhecimento desenvolver pesquisas de modo a criar um ambiente que envolva as pessoas na produção do mesmo. O ambiente em si é quase mais importante que a produção científica, ou ele leva à produção mais fácil. A Escola deve ter um vínculo de ligação com o mercado de trabalho como se fosse um termômetro para sentir a objetividade de seus ensinamentos e permitir que o estudante antes de se formar adiquira experiência prática. Dentre as novas práticas de casos e que sejam laboratório externo com visitas a empresas, a bolsa de ensino devemos ter aulas interativas com base em estudo ministradas até fora do campus escolar, ou seja, num o envolvimento no processo de ensino de bibliotecas, de valores, incubadoras, etc... O professor, o elo de ligação entre o mercado e o estudante deve equilibrar seus conhecimentos práticos com os fundamentos pedagógicos e didáticos de ensino. Nem sempre um professor-doutor atende este requisito e o grande desafio dos diretores de cursos será de montar e manter uma equipe equilibrada entre a teoria e a prática da administração de empresas. Finalmente, para que o profissional tenha capacidade de relacionar a conjuntura econômica com o política de negócios da empresa seja pensando na sua estratégia, em questões da área financeira, mercadológica, de produção ou de recursos humanos necessita ter passado por um curso que efetivamente lhe desenvolveu pessoal e profissionamente. A Escola Tradicional não tem esta habilidade , daí a necessidade das Escolas brasileiras de Administração de Empresas se transformarem e atingirem o nível de um centro pensante que somente a Escola de Vanguarda possui. Este objetivo só será atingido quando houver professores, estudantes, dirigente e funcionários. harmonia entre o trabalho de 4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS A idéia de que o homem primeiro estuda, depois trabalha para posteriormente se aposentar está ultrapassada. Formação e desenvolvimento profissional caminham juntos, num só processo exigindo uma educação permanente. A Escola de Vanguarda que imaginamos no presente valoriza a auto aprendizagem, o knwledge worker, o empowerment, as learning organization, a educação continuada. 0Para transformar informação em conhecimento, o estudante deverá desenvolver sua capacidade em aprender a aprender e a Escola de Vanguarda deverá além de estimula-lo criar condições para isto. Dentre as habilidades exigidas pelos administradores atuais destacamos o Trabalho em Equipe , através do qual deverá ser capaz de atuar de forma interativa em prol dos objetivos comuns e compreender a importância da complementariedade das ações coletivas. Habilidade na Tomada de Decisão, na medida em que deverá ser capaz de ordenar atividades e programas , assumir riscos e decidir entre alternativas. Por fim, a Visão Sistêmica e Estratégica para que possa demonstrar a compreensão do todo, de modo integrado e sitêmico , bem como suas relações com o ambiente. BIBLIOGRAFIA Brigges, Willian. As empresas também precisam de terapia. - São Paulo: Editora Gente, 1998. Mayers, Isabel Bridgis. Ser humano é ser diferente. - São Paulo: Editora Gente, 1997. Frezatti, Fabio. Gestão de fluxo de caixa diário. - São Paulo: Editora Atlas, 1997. Di Augustini, Carlos Alberto. Capital de Giro. - São Paulo: Editora Atlas, 1996. Maital, Shomo. Economia para executivos. - Rio de Janeiro.: Editora Campus, 1996. Clark,K; Clark, M. e Campbell, P. (edotors). Impact of leadership. - Greensboro, North Carolina: Center for creative leadership, 1992.