Comer bactérias pode ser o futuro da medicina

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Comer bactérias pode ser o futuro da medicina
Cientistas do Instituto de Tecnologia da Califórnia descobriram que ingerir o tipo certo
de bactéria pode ter uma influência positiva sobre doenças tão diversas como a
obesidade ou autismo
Eis algo para pensar enquanto estiver comendo e bebendo além da conta na
véspera de Ano Novo: seu intestino grosso é anfitrião de cerca de 100 trilhões
de bactérias, pesando alguns quilos. Elas podem ter um efeito surpreendente
sobre a sua saúde e talvez até sobre o seu comportamento.
Em dezembro de 2013, um estudo do Instituto de Tecnologia da Califórnia
demonstrou que ratos com comportamento social alterado, comportamento
obsessivo e problemas intestinais - traços associados ao autismo em seres
humanos - podem ser curados se ingerem o tipo certo de bactérias.
Esse é um resultado bastante surpreendente, e apenas o mais recente de uma
área de pesquisa em expansão. Geralmente temos centenas de espécies
diferentes de micróbios vivendo em nosso intestino, o que é conhecido como o
microbioma intestinal. Um estudo publicado no segundo trimestre de 2013,
mostrou que quem não tem uma população bacteriana suficientemente
diversificada pode desenvolver resistência à insulina, o que pode ser um
precursor para a diabetes tipo 2 e pode torná-lo propenso a engordar. E de
acordo com outro estudo recente, isso é reversível: seguir uma dieta
equilibrada de baixa caloria aumenta a diversidade microbiana intestinal.
Ou você pode fazer um transplante de microbiano. Ratos magros se tornaram
obesos ao receberem células da microbiota intestinal de ratos obesos. E, num
estudo notável publicado em setembro, células da microbiota intestinal tiradas
de gêmeos humanos onde um é obeso e o outro é magro, afetaram o volume
corporal dos ratos que os receberam. Aqueles que receberam a microbiota do
gêmeo gordo engordaram, e os que receberam a do gêmeo magro
emagreceram. Portanto, a forma do corpo é, até certo ponto, transmissível.
Os estudos da microbiologia estão se tornando mais baratos, e o
processamento de informações está acontecendo cada vez mais rápido. Hoje,
existe até mesmo o crowdsourcing (contribuições de um grande grupo de
pessoas especialmente através de uma comunidade on-line), que são estudos
de acesso aberto, como o American Gut Project (Projeto “Intestino americano”).
Em setembro, seus cientistas lançaram a primeira análise do microbioma
intestinal da América do Norte, com base em 1.000 amostras de fezes.
Isso é apenas o começo: 4.000 pessoas inscreveram para o projeto (você pode
se inscrever em qualquer lugar do mundo, mas os pesquisadores estão tendo
problemas com a alfândega dos EUA por conta da importação de matéria fecal).
As conclusões do American Gut Project estão coordenandas com informações de
projetos genéticos e mapeamento corporal em grande escala, começando a
construir um tipo de banco de dados que pode revolucionar a medicina.
Ainda não sabemos o suficiente para prescrever bactérias como remédio. O
estado parcial de nosso conhecimento é claro quando se trata do autismo - e
ainda assim há boas perspectiva. Em 2012 uma equipe diferente de cientistas
criou ratos com sintomas de autismo - injetando nas fêmeas prenhes um vírus
que estimulou o sistema imunológico. Suas proles eram significativamente mais
ansiosas e menos sociáveis do que o normal. Esses comportamentos ocorreram
em ratos com baixos níveis de uma determinada bactéria. Quando os
pesquisadores compensaram a deficiência, o comportamento voltou ao normal.
Os sinais químicos entre o intestino e cérebro também desempenham um papel.
A análise do sangue dos ratos com sintomas de autismo mostrou níveis
elevados de uma substancia química conhecida como 4EPS (4ethylphenylsulphate tem uma estrutura semelhante à de uma molécula
encontrada em níveis mais elevados do que o normal no sangue de seres
humanos autistas). Ao injetar o 4EPS, que é produzido por bactérias do
intestino, em camundongos normais é possível induzir comportamentos
autistas.
O autismo abrange um espectro de sintomas e não podemos achar que uma
mudança química ou bacteriana será a cura para tudo. Porém é o suficiente
para estimular novas investigações.
Michael Brooks – NewStatesman.com
Tradução livre de matéria publicada em 20 de dezembro de 2013 no site
http://www.newstatesman.com/2013/12/benefits-eating-bacteria
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